Há diamantes querendo ser topázios
  			
"Há poucos homens capazes de prestar homenagem ao sucesso de um amigo, sem qualquer inveja." (Ésquilo)
Não posso garantir que a frase acima é do autor em questão, mas uma coisa sei: ela carrega consigo uma verdade. Muitos se alegram com as dores do outro. Contraditório? Não. Quando alguém não consegue uma vitória que havia buscado, há uma solidariedade, por vezes, camuflada. Nem todos se alegram, mas é verdade também que nem todos se compadecem. É mais fácil ser solidário na dor do que se alegrar com as conquistas dos amigos.
Um   sorriso que não nasce dos nossos próprios lábios sempre é mais difícil   de ser digerido. Bom mesmo é sorrir com nossas conquistas e ver o olhar   do outro querendo consumir, em prestações, a nossa felicidade. Triste   realidade de quem vive na dependência do consumismo alheio. Mais triste   ainda é ver a inveja destruir amizades.
Há   diamantes querendo ser topázios, no entanto, não compreenderam que o   rubi nunca será uma esmeralda. Cada um é um no projeto singular da   existência humana. Se Deus nos fez diamantes, ele irá, ao longo da vida,   nos lapidar para que sejamos um diamante mais bonito, mas nunca   deixaremos de ser diamante para nos tornarmos topázio. É preciso aceitar   as nossas belezas e deixar que o outro seja tão belo quanto ele foi   criado. Este processo leva tempo e requer maturidade e confiança na   graça de Deus, que nos fez únicos para sermos luz no mundo.
A   inveja, talvez, tenha sua raiz na incapacidade que uma pessoa carrega em   si de fazer a diferença a partir de suas próprias capacidades. Quando o   jardim do outro parece mais bonito do que o nosso próprio jardim,   deixamos o cuidado do nosso tempo ao descuido, passamos a vida a   contemplar as flores que não nos pertencem e deixamos as nossas morrerem   secas pela inveja que não nos permite cuidar de nossa própria vida.
Ser   invejoso deixa, sim, os olhos grandes de incapacidades, que poderiam se   transformar em lindos jardins. Não é o elogio que faz o outro feliz,   mas a capacidade que temos de cuidar de nossa própria vida e deixar que o   outro siga seus próprios caminhos. Quem se preocupa demais com a vida   alheia já não tem mais tempo de cuidar de suas próprias demandas   existenciais, transformou sua vida no mito de Narciso; mas, em vez de   contemplar sua própria face, enxerga sempre, no lago de seus   pensamentos, o rosto da felicidade alheia. Perdeu seus olhos em um mundo   que nunca será seu. O tempo usado para vigiar a vida do outro seria   muito mais bem aproveitado se cuidasse de suas próprias fragilidades   humanas.

Padre Flávio Sobreiro
Padre   Flávio Sobreiro Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP. Teólogo pela   Faculdade Católica de Pouso Alegre - MG. Vigário Paroquial da Paróquia   Nossa Senhora do Carmo (Cambuí-MG). Padre da Arquidiocese de Pouso   Alegre - MG.
www.facebook.com/oficialpadreflavio
www.padreflaviosobreiro.com
Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=13432#.UutqSkcuU4M

 
 
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