28 de novembro de 2012

Evangelizar pela arte

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Diante do que é belo nos resta a contemplação


Por vezes, nem mesmo a carência de necessidades básicas, como a falta de alimento, é capaz de extrair da pessoa a total capacidade de se atentar, ainda que por meros segundos, ao atrativo da beleza plástica, pois existe algo no núcleo dessa beleza que responde a um anseio do coração humano.

Afirma o Catecismo da Igreja Católica (27): "Somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar". Nisso existe a evidência de que a grande busca do ser humano não está na possibilidade de dominar as coisas existentes neste mundo, nem mesmo na saciedade de nossas necessidades primeiras, mas em algo que venha revelar a verdadeira grandeza e essência de nós próprios, também revelando assim nossa sede do transcendente.

Felizmente, no íntimo e no significado de uma obra artística podemos vislumbrar, de alguma forma, O Ser Altíssimo, o Criador que tanto ansiamos, "pois é a partir da grandeza e da beleza das criaturas que, por analogia, se conhece o seu autor" (Sb 13,5).

O ápice da beleza está no amor de Deus por nós. Ainda que, nem tudo tenha cunho religioso e possamos apreciar coisas bonitas em todas as áreas, todo belo acaba por indicar O Seu Autor. Por isso devemos, mais do que nunca, nesse tempo de tanta modernidade e tantos meios que podem ser empregados, evangelizar por meio de algo que tanto fala ao coração das pessoas.
 
A arte é capaz de emocionar e, em seguida, atravessar as nuvens dos sentimentos e aterrizar na terra firme da razão. Pela arte pode-se introduzir nos corações, os valores, a bondade, a misericórdia e nos ensinar como amar sempre mais, pois ela é o veículo que transporta um significado a mais que o simples entretenimento. Quem aprecia a arte aprende com prazer, adquire instrução no momento de descanso. 

Davi era um homem de guerra (cf. I Rs 5,3), empenhado em lutas e conquistas sangrentas. Poucas vezes, pensamos nesse personagem como um guerreiro, como um general de exército, conhecedor de técnicas de batalha. Imaginamos um menino que, quase numa travessura, deu uma pedrada na cabeça de seu inimigo.

Talvez, numa primeira lembrança, tenhamos até uma imagem amenizada do homem Davi, esquecendo-nos da sua capacidade de dominar e submeter adversários, devido às obras que ele deixou. Ele tocava arpa e era compositor. Grande parte dos Salmos, foi Davi quem nos deixou, ainda orações e cânticos inspirados.

Há um ditado celta que diz: "Nunca dê uma espada a um homem que não sabe dançar". Ou seja, o homem deve ter motivações nobres dentro de si, antes de, se lhe for preciso, empunhar um objeto assim para lutar pela sua defesa e dos seus. E a arte ajuda a alimentar tal sentido.

Quantas vezes, nas coisas de Deus, Ele próprio pediu trabalhos artísticos? "Vede, o Senhor nomeou especialmente Beseleel. Encheu-o do Espírito de Deus, de sabedoria, habilidade e conhecimento para qualquer trabalho como fazer projetos, trabalhar com ouro, prata e bronze, lapidar pedras e engastá-las, entalhar madeira e executar qualquer tipo de obra de arte" (Ex 35,30-33).

O significado do esplendor da obra é que "estes estão a serviço daquilo que é a representação e sombra das realidades celestes, como foi dito a Moisés, quando estava para executar a construção da Tenda: 'Vê, faze tudo segundo o modelo que te foi mostrado' (Ex 25, 40)" (Hb 8, 5). Diante de toda mudança, nestes últimos tempos em que o ser humano tem necessidade da verdade, a evangelização pela arte se faz mais que necessária, ela é urgente!

Devemos desenvolver nossa criatividade, cada um com seu talento, sua habilidade, pois há muita coisa que já foi feita para roubar a verdadeira 'imagem e semelhança' do homem e da mulher através do que pode encantá-los. "Os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz" (Lc 16, 8).

Como são belos os pés do mensageiro! O Evangelho é belo por sua essência.

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Sandro Ap. Arquejada
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26 de novembro de 2012

A felicidade pela fé

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Ela nos oferece uma nova forma de ver o mundo

Todos os milagres que Cristo fez, nos corpos ou nos elementos materiais, simbolizam os que Ele faz nas almas mediante a graça do Espírito Santo. Por isso, São João chama sinais os milagres de Jesus.


Dentre eles, as curas dos cegos simbolizam a luz da fé que Cristo traz aos olhos da alma. Assim o lembrava Bento XVI na homilia de encerramento do Sínodo dos Bispos, em 28 de outubro de 2012: «Sabemos que a condição de cegueira tem um significado denso nos Evangelhos. Representa o homem com necessidade da luz de Deus – a luz da fé – para conhecer, verdadeiramente, a realidade e caminhar pela estrada da vida».

Vejamos, brevemente, o "sinal" da cura do cego de Jericó, a que o Papa se referiu nessa homilia. Estava Jesus de passagem pela cidade de Jericó, à porta da cidade achava-se um mendigo cego chamado Bartimeu, pedindo esmola. Ouvindo a multidão que passava – acompanhando Jesus –, perguntou o que havia. Responderam-lhe: "É Jesus de Nazaré que passa". Ele então exclamou: "Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim" (Lc 18,36-38).

Quando os olhos da alma estão cegos e não vemos a luz de Deus, somos semelhantes a Bartimeu. Só temos noções imperfeitas das coisas do Senhor, da vida e do mundo: somos cegos, ainda que pensemos enxergar bem; ficamos parados, ainda que creiamos avançar; não conseguimos usufruir os verdadeiros bens da vida, por mais que procuremos espremer os prazeres até a última gota; e não percebemos que, aquilo conquistado, não passa de migalhas de «mendigo do sentido da vida», como diz o Papa.

Podemos dizer que estamos satisfeitos? Não é verdade que, muitas vezes, na solidão e no silêncio, temos vontade de chorar sem saber por que, pois sentimos um estranho vazio, uma pobreza, uma escuridão inexplicável? Santo Agostinho pode projetar luz sobre a nossa cegueira: «Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração estará inquieto enquanto não descansar em ti».

O Catecismo da Igreja Católica, que Bento XVI aconselha como chave-de-luz para este Ano da Fé, diz uma grande verdade: «O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar» (n. 27).


O Papa, glosando esse texto do Catecismo, na audiência de 7 de novembro de 2012, comentava que, em inúmeras pessoas, esse desejo é inconsciente, mas a graça de Deus pode se servir dele para que as pessoas percebam que só na fé está a verdadeira resposta para a felicidade que seu coração anseia: «Mesmo quando esse desejo caminha por rumos extraviados – dizia o Papa –, quando segue paraísos artificiais e parece perder a capacidade de ansiar pelo verdadeiro bem, mesmo no abismo do pecado, não se apaga no homem aquela faísca que lhe permite reconhecer o bem autêntico, saboreá-lo e começar assim um percurso de subida, no qual Deus, com o dom da sua graça, não deixa nunca faltar a sua ajuda… 


Não se trata, portanto, de sufocar o desejo que está no coração do homem, mas de libertá-lo para que ele possa alcançar a sua verdadeira altura». O primeiro passo para sairmos da cegueira ou da miopia consiste em termos a humildade de reconhecer a nossa indigência: «Condição essencial – dizia o Papa na homilia citada acima – é reconhecer-se cego, necessitado dessa luz; caso contrário, permanece-se cego para sempre (cf. Jo 9,34-41)».

Bartimeu sentia a dor da sua condição de mendigo e desejava ardentemente ver, por isso pediu, insistiu, e não parou até conseguir que Jesus o atendesse. "Que queres que te faça?" –  Respondeu-lhe: "Senhor, que eu veja". Jesus lhe disse: "Vê; a tua fé te salvou". E, imediatamente, ficou vendo, e seguia Jesus, glorificando a Deus (Lc 18,41-43).

Você quer pedir: "Senhor, faz com que eu veja"? Então, creia, pois não há ninguém que O tenha pedido com sinceridade e tenha ficado sem uma resposta. Santo Agostinho, antes da conversão, rezava assim: «A ti, meu Deus, se elevam meus suspiros, e peço-te uma e outra vez asas para subir até ti. Se tu me abandonares, logo a morte se abaterá sobre mim…» (Solilóquios, n.6).

Pedia, porque reconhecia sua necessidade de Deus, ainda que não tivesse a coragem de abraçar a fé e de seguir-lhe o caminho. Da mesma forma, São Clemente de Alexandria, citado pelo Papa, fazia a seguinte oração: «Até agora andei errante na esperança de encontrar Deus, mas porque tu me iluminas, ó Senhor Jesus, encontro Deus por meio de ti, e de ti recebo o Pai, torno-me herdeiro contigo, porque não te envergonhaste de me ter por irmão. Cancelemos, portanto, cancelemos o esquecimento da verdade, a ignorância…» (Protréptico, 113 ss.)

Nos tempos modernos, vale a pena evocar a conversão do Beato Charles de Foucauld. Esse aristocrata ateu foi um devasso esbanjador; estudou a carreira militar na Academia de Saint Cyr, e foi oficial, explorador científico e aventureiro no norte da África. Após anos de vida intensa e de toda a sorte de experiências, o vazio da sua alma revelou-se-lhe de maneira aguda e o derrubou (Deus agia na noite do seu coração). Voltou à França e, estando em Paris, em 1886, sentiu um tremendo puxão interior que o impelia, mesmo descrente, a ir a uma igreja. «Comecei a ir à igreja sem ter fé, Experimentei que só me sentia bem lá, ficando longas horas a repetir essa estranha prece: "Meu Deus, se tu existes, faz com que eu te conheça"».

A graça da fé o invadiu um dia e, com a ajuda do padre Huvelin – o qual teve a coragem de lhe dizer que, para receber o dom da fé, precisava antes confessar-se –, converteu-se e entregou-se totalmente a Deus. Viveu bastantes anos, pobre, paupérrimo, desprendido de tudo, como monge eremita, exercendo a caridade no meio das tribos tuaregs do Saara. Ninguém o acompanhou. Hoje, milhares de cristãos em todo o mundo o têm como mestre e padroeiro.

Agradecido pelo dom recebido, fazia esta oração: «Como és bom, meu Deus, como me guardaste, como me agasalhaste à sombra das tuas asas quando eu nem acreditava na tua existência! … Como estou feliz! Meu Senhor Jesus, tu puseste em mim esse amor por ti, tão terno e crescente, esse gosto pela oração, essa fé na tua Palavra, esse sentimento profundo do dever da caridade, esse desejo de imitar-te, essa sede de oferecer-te em sacrifício o melhor que eu puder dar-te… Como tens sido bom! Como sou feliz!


Padre Francisco Faus
http://www.padrefaus.org/

20 de novembro de 2012

O Filho do Homem virá!

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Nossa esperança está na vinda do Senhor

Estamos no penúltimo semana do Ano Litúrgico. No Domingo próximo, a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo encerrará este ano da Igreja. Pois bem, neste Domingo a Palavra de Deus, nos recordou que, como o ano, também a nossa vida passa, e passa veloz… Assim, o Senhor nos convida à vigilância e nos exorta a que não percamos de vista o nosso caminho neste mundo e o destino que nos espera. Nossa vida tem um rumo, caríssimos; o mundo e a história humana têm uma direção, meus irmãos!

A nossa fé nos ensina, amados no Senhor, que toda a criação e toda a história humana caminham para um ponto final. Este fim não será simplesmente o término do caminho, mas a sua plenitude, a sua finalidade, sua bendita consumação. O universo vai evoluindo, a história vai caminhando… Onde o caminho vai dar? Com palavras e idéias figuradas, a Escritura Sagrada nos ensina que tudo terminará em Jesus, o Cristo glorioso que, por sua morte e ressurreição, tornou-se Senhor e Juiz de todas as coisas. Vede bem: a criação não vai para o nada; a história humana não caminha para o absurdo! Eis aqui o essencial, que o evangelho de hoje nos coloca com palavras impressionantes:

"Então verão o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória!" Ou seja: tudo quanto existe caminha para Cristo, aquele que vem sobre as nuvens como Deus, aquele que é nosso Juiz porque, como Filho do Homem, experimentou nossa fraqueza e se ofereceu uma vez por todas em sacrifício por nós! Vede, irmãos: o nosso Salvador será também o nosso Juiz! Aquele que está à Direita do Pai e de lá virá em glória para levar à consumação todas as coisas é o mesmo que se ofereceu todo ao Pai por nós para nos santificar e nos levar à perfeição! Repito: nosso Juiz é o nosso Salvador! Quanta esperança isso nos causa, mas também quanta responsabilidade! Que faremos diante do seu amor? Que diremos àquele que por nós deu tudo, até entregar a própria vida para nossa salvação? Que amor apresentaremos a quem tanto e tanto nos amou? Pensai bem!

As leituras deste Domingo advertiu: tudo estará debaixo do senhorio de Cristo! Por isso, numa linguagem de cores fortes e figuras impressionantes, Jesus diz que a criação será abalada pela sua Vinda: "O sol vai escurecer e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas". Que significa isso? Que toda a criação será palco dessa Revelação da glória do Senhor, toda a criação será transfigurada e alcançará a plenitude no parto de um novo céu e uma nova terra onde a glória de Deus brilhará para sempre! O Senhor afirma ainda que também a história chegará ao fim e será passada a limpo. Cristo fala disso usando a imagem da grande tribulação, isto é, as dores e contradições do tempo presente, que vão, em certo sentido se intensificando neste mundo. Por isso mesmo, a primeira leitura, do Profeta Daniel, fala em combate e em tempo de angústia… É o nosso tempo, este tempo presente, que se chama "hoje".

Amados em Cristo, estas leituras são muito atuais e consoladoras, sobretudo nos dias atuais, quando vemos o Cristo enxovalhado, o cristianismo perseguido e desprezado, a santa Igreja católica caluniada… Pensem no Código da Vinci, pensem nas obras de arte blasfemas e sacrílegas frequentemente expostas sem nome de uma pérfida liberdade, pensem nas freiras das porcas novelas da Globo, pensem no ridículo a que os cristãos são expostos aqui e ali, com cínicas desculpas e camufladas intenções, pensem nos valores cristãos que vão sendo destruídos, nas famílias destruídas pelo divórcio, pela infidelidade, pela imoralidade, pensem nos jovens desorientados pela falta de Deus, pela negação de todas as certezas e o desprezo de todos os valores, pensem, por fim, na vida humana desrespeitada pelo aborto, pela manipulação genética, pelas imorais e inaceitáveis experiências com células-tronco embrionárias com pretextos e desculpas absolutamente imorais… Não é de hoje, caríssimos, que a Igreja sofre e que os cristãos são perseguidos, ora aberta, ora veladamente… Já no longínquo século V, Santo Agostinho afirmava que a Igreja peregrina neste tempo, avançando entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus… O perigo é a gente perder de vista o caminho, perder o sentido do nosso destino, esfriar na vigilância, perder a esperança, abandonar a fé…

Caminhamos para o Senhor, caríssimos – tende certeza disto! O mudo vai terminar no Cristo, como um rio termina no mar; a história vai encontrar o Cristo, tão certo quanto a noite encontra o dia; nossa vida estará diante do Senhor, tão garantido quanto o vigia cada manhã está diante da aurora! Por isso mesmo, é indispensável vigiar e trazer sempre no coração a bendita memória do Salvador, a firme esperança nas suas promessas, a segura certeza da sua salvação! Vede bem: na Manifestação do nosso Senhor, ele nos julgará! Na sua luz, tudo será posto às claras: se é verdade que sua Vinda é para a salvação, também é verdade que todos quantos se fecharam para ele, perderão essa salvação.

Caríssimos, nosso destino é o céu, mas estejamos atentos: o inferno, a condenação eterna, a danação sem fim, o fogo que devora para sempre, são uma real possibilidade para todos nós! Haverá um Juízo de Deus em Jesus Cristo, meus amados no Senhor: "Muitos dos que dormem no pó a terra despertarão, uns para a vida eterna, outros para o opróbrio eterno. Nesse tempo, teu povo será salvo, todos os que se acharem escritos no Livro". Caríssimos, não brinquemos de viver, não vivamos em vão, não sejamos fúteis e levianos, não corramos a toa a corrida da vida! É o nosso modo de viver agora que decidirá nosso destino para sempre!

Por isso mesmo, Jesus nos previne: "Em verdade vos digo: esta geração não passará até que tudo isto aconteça!" Em outras palavras: não importa quando ele virá – ele mesmo diz: "Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai" -; importa, sim, que estejamos atentos, importa que vivamos de tal modo que, quando ele vier no momento de nossa morte, estejamos prontos para comparecer diante dele e diante dele estar no último Dia, quando tudo for julgado! O juízo que nos espera é um processo: começa logo após a nossa morte, quando, em nossa alma, estaremos diante do Cristo e receberemos nossa recompensa: o céu ou o inferno! E no final dos tempos, quando Cristo se manifestar em sua glória, nosso destino também será manifestado com toda a criação e o nosso corpo, ressuscitado no fim de tudo, receberá também a mesma recompensa de nossa alma: o céu ou o inferno, de acordo com o nosso procedimento nesta vida!


Meus caros, quando a Escritura Sagrada nos fala do fim dos tempos não é para descrever como as coisas acontecerão. Isso seria impossível, pois aqui se tratam de realidades que nos ultrapassam e que já não pertencem a este nosso mundo. Portanto, palavras deste mundo não podem descrever o que pertence ao mundo que há de vir… O que a Escritura deseja é nos alertar a que vivamos na verdade, vivamos na fé, vivamos na fidelidade ao Senhor… vivamos de tal modo esta nossa vida, que possamos, de fé em fé, de esperança em esperança, alcançar a vida eterna que o Senhor nos prepara, vida que já experimentamos hoje, agora, nesta santíssima Eucaristia, sacrifício único e santo do nosso Salvador que, à Direita do Pai nos espera como Juiz e Santificador.

A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

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Dom Henrique Soares da Costa
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13 de novembro de 2012

Conheça mais sobre a Palavra de Deus

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Dei Verbum: Um documento sobre a Revelação

Um documento importantíssimo do Concílio Vaticano II é a Constituição Dogmática Dei Verbum sobre a Revelação. Nossa tentação é pensar logo que este documento fala sobre a Bíblia. Errado! Para o Cristianismo, a revelação não é a Bíblia, não é um livro, mas uma Pessoa: Jesus Cristo, rosto e Palavra de Deus para nós, cheio de graça e de verdade. E mais, não um Jesus qualquer, fruto simplesmente de uma pesquisa ou da opinião de algum erudito. O Jesus Cristo real, vivo e vivificante é aquele crido, adorado, vivido e testemunhado pela Igreja. É ele a Revelação! A Dei Verbum compõe-se de um proêmio, isto é, uma introdução e seis capítulos. Vamos a eles.

Já na sua introdução, o documento deixa claro que o Concílio (e a Igreja) coloca-se debaixo da Palavra de Deus, que é Jesus Cristo (cf. DV 1). Depois, no capítulo I, passa a tratar do que é a Revelação Divina: Deus, livremente no Seu amor e sabedoria, quis revelar-se aos homens por meio de Jesus Cristo para chamá-los a participar da vida divina. Então, o Senhor Deus não quer revelar coisas, mas deseja revelar Seu coração amoroso.

A Revelação é um diálogo de Deus com a humanidade por meio de Sua Palavra eterna feita carne: Jesus. Este diálogo é para nos levar à vida com Deus, à vida eterna, nossa plenitude (cf. DV 2). Depois, a Dei Verbum mostra como a Revelação foi sendo preparada ao longo da história, preparando para Jesus: na própria criação, o Senhor já se manifesta pela sua amorosa providência, na eleição de Abraão, nosso Pai na fé, na aliança com Israel e na palavra dos profetas. Assim, o Senhor foi preparando Israel e a humanidade para Jesus Cristo (cf. DV 3). Finalmente, chega Jesus, plenitude da revelação: Ele é a própria Palavra de Deus feita gente, feita carne. N'Ele, o Senhor se deu a nós totalmente (cf. DV 4).

Ainda neste capítulo, primeiro coloca-se a questão: como receber esta revelação de Deus? Qual a nossa atitude, a nossa resposta? A Dei Verbum responde: "A Deus revelador, é devida a obediência da fé!" (DV 5). Em outras palavras: a Revelação deve ser acolhida com fé, com aquela abertura amorosa e disponível que atinge e engloba a pessoa como um todo. A Revelação não é um conjunto de informações para a inteligência, mas Alguém que vem ao nosso encontro e a quem devemos acolher com todo o nosso ser. No entanto, a Revelação inclui também verdades reveladas que devem ser cridas, porque foram reveladas por Deus (cf. DV 6).

O capítulo II trata da transmissão da Revelação. Eis as ideias mais importantes: Cristo, Revelação do Pai, confiou-a aos apóstolos que pregaram, viveram e, por inspiração do Espírito Santo, colocaram por escrito a mensagem salvífica. Para que essa mensagem de salvação continuasse viva na Igreja, os apóstolos deixaram os bispos como seus sucessores e guardiões da verdade salvífica, contida na tradição oral e na Sagrada Escritura (cf. DV 7). Quanto à tradição apostólica, ela abrange tudo aquilo que coopera para a vida santa do povo de Deus e para o aumento da sua fé. Onde está a tradição? Na doutrina, na vida e no culto da Igreja, que é guiada pelo Espírito Santo.

Compete aos bispos, em comunhão com o Papa, o discernimento da tradição apostólica, a qual vai sempre progredindo na Igreja sob a inspiração do Santo Espírito (cf. DV 8). Ainda quanto à tradição, ela está intimamente unida à Sagrada Escritura, pois ambas dão testemunho do mesmo Cristo. Escritura e tradição devem ser recebidas e veneradas com igual reverência (DV 9). Compete aos bispos, em comunhão com o Papa, a interpretação última seja da Escritura seja da tradição: eles receberam autoridade de Cristo para isso e nesse discernimento são guiados pelo Espírito Santo (cf. DV 10).

O capítulo III afirma que a Escritura é toda ela inspirada por Deus, pois os seus autores escreveram por inspiração do Espírito Santo, de modo que, mesmo que cada autor dos livros bíblicos tenha seu estilo e sua visão, o autor final da Escritura é o próprio Deus e a Bíblia é realmente palavra d'Ele que nos transmite a verdade para a nossa salvação. Não se trata de verdade científica ou histórica, mas a verdade sobre o Senhor, sobre o homem e sobre o sentido da vida e do mundo (cf. DV 11).

Por isso mesmo, a interpretação correta da Palavra de Deus requer que se conheça a cultura do povo da Bíblia, a mentalidade e intenção do autor sagrado, bem como o gênero literário em que tal ou qual obra foi escrita. Sem contar que toda interpretação deve estar de acordo com o Magistério da Igreja (cf. DV 12). Uma coisa é certa: seja o simples crente, seja o estudioso erudito, deve procurar o sentido último da Escritura em Cristo e procurar interpretá-la no mesmo Espírito Santo que a inspirou e a entregou à Santa Igreja (cf. DV 21).

Depois, no capítulo IV, a Dei Verbum recorda que o Antigo Testamento é Palavra de Deus e prepara para o Cristo e, por isso, somente pode ser bem compreendido à luz de Cristo. No capítulo V, fala do Novo Testamento, mostrando que ele é mais excelente que o Antigo, porque é o cumprimento em Cristo daquilo que o Antigo anunciava. Ensina também que os evangelhos são de origem apostólica e contêm uma interpretação segundo a fé e inspirada pelo Espírito da vida, palavras e missão de Jesus Cristo.

Finalmente, o capítulo VI recorda a veneração que a Igreja tem pelas Sagradas Escrituras como Palavra de Deus e exorta os fiéis a que se alimentem dessa Santa Palavra para o bem de sua vida espiritual e da sua vida moral. Também recorda que a Sagrada Escritura deve ser a alma da Teologia. Exorta os ministros sagrados a que preguem a Palavra, sobretudo cuidando bem das homilias na Santa Missa. A celebração da Eucaristia é o lugar por excelência para se proclamar e escutar a Palavra de Deus, pois aí, a Palavra anunciada, que é Jesus Cristo, faz-se carne que alimenta e dá vida. A salvação anunciada na Escritura é celebrada na Páscoa Eucarística.

Eis, em linhas gerais, a belíssima Dei Verbum.

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Dom Henrique Soares da Costa
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10 de novembro de 2012

Radicalidade

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Não corremos atrás de ideias, mas seguimos uma pessoa

A experiência autêntica da fé, posta em luz pela convocação de um ano destinado a fazer crescer nos cristãos a consciência de suas convicções e a testemunhá-las corajosamente, traz consigo consequências a um tempo consoladoras e exigentes. Jesus Cristo não é um escritor de obras famosas, como muitos de todos os tempos, até porque a única vez que o vemos escrevendo foi na areia, no conhecido episódio da mulher adúltera (cf. Jo 8). 

O vento apagou logo seus poucos escritos, mas nada apaga o que ele é, tanto que muitos escreveram o que disse e fez para conhecermos a solidez dos ensinamentos (cf. Lc 1,4). Seria muito pouco considerá-lo apenas um mestre, ainda que tenha arrebanhado, atrás de si, discípulos, dentre os quais queremos também ser reconhecidos. Ele é Redentor, Salvador, Filho de Deus! Não corremos atrás de ideias, mas seguimos uma pessoa, nada menos do que o Verbo de Deus feito carne. Diante dele todo joelho se dobre e toda língua proclame que é "o" Senhor (cf. Fl 2,5-11).

Homens e mulheres de todas as raças, povos, línguas e nações (cf. Ap 7,9-10) o seguem e o reconhecem Deus verdadeiro, o Cordeiro que tira o pecado do mundo, aquele que tem a chave para abrir o livro da vida (cf. Ap 5,1-14) de todas as pessoas humanas e da história. Encontrá-lo e aderir a Ele, na fé, dá sentido à existência e possibilita entender os intrincados caminhos da aventura humana nesta terra.

Tudo isso é magnífico e ecoa altissonante pelos caminhos da história. No entanto, viver a fé cristã é algo que se expressa na simplicidade do dia a dia, com gestos que podem parecer prosaicos, mas são densos de sentido. Não se trata, em primeiro lugar, de fazer grandes coisas, mas de realizar com alma grande os pequenos gestos. A aventura cristã no mundo é marcada pela radicalidade no seguimento corajoso de Jesus Cristo. Aquele que não se apegou a si mesmo, mas deu tudo, tomando a forma de escravo, tornando-se semelhante ao ser humano (Fl 2,7), pede a resposta e a reciprocidade da entrega de vida de cada cristão. Dizer "eu creio" é povoar o horizonte da existência com gestos que revelem esta radicalidade.

No Evangelho de São Marcos, verdadeiro documento de identidade de Jesus Cristo (cf. Mc 1,1), o leitor é provocado a ir ao encontro do Senhor, para reconhecê-Lo como Filho de Deus. Mas os modelos oferecidos por Jesus surpreendem pela simplicidade e eloquência de seus gestos e atitudes. Um deles é apresentado pela palavra proclamada nas missas do presente final de semana (Mc 12, 38-44). A prática religiosa de muitos, aos quais havia sido confiada justamente a responsabilidade pela orientação do povo, tinha se reduzido à competição, carreirismo, exploração e exterioridades estéreis. 

A plebe ignara era relegada à margem, os pobres e tanta gente simples considerados massa sobrante diante dos privilegiados da sociedade e da religião. De repente, vem Jesus Cristo, depois de uma viagem pelas margens do Jordão, Jericó e o deserto de Judá, e entra em sua cidade de Jerusalém, acolhido com hosanas pelo povo. Radicaliza-se o confronto com as autoridades, vistas como figueira que não dá fruto (Mc 11,14), purifica o templo, enfrenta o bombardeio de perguntas que são verdadeiras armadilhas (Mc 12,13-34) e contempla, tranquilo, os gestos das pessoas que fazem suas ofertas.


Uma pessoa chama a atenção e é escolhida como um dos modelos privilegiados, uma pobre viúva que versa no cofre das esmolas apenas duas moedinhas, tudo aquilo que tinha para viver (Mc 12,42-44). Deu mais, porque deu tudo! Jesus tem um modo radicalmente diferente para entender as pessoas e a vida. Acreditar nele é mudar a mentalidade e enxergar o sentido profundo de gestos semelhantes ao da viúva. Provavelmente, só no céu ela soube que sua atitude percorre os séculos e se torna referência para tantas gerações!

O convite da Palavra de Deus nos despoja de falsas pretensões, desejo de publicidade fácil e orgulho estéril. É necessário olhar ao redor para identificar quantas viúvas pobres ou tantas pessoas aparentemente insignificantes, para descobrir os imensos tesouros de generosidade que edificam a vida e a Igreja. Por outro lado, trata-se agora de converter-nos à simplicidade, olhar ao nosso redor para que ninguém passe em vão ao nosso lado, não desperdiçar qualquer oportunidade para fazer o bem. E em relação a Deus, o olhar quase furtivo para o Sacrário, o sinal da Cruz bem feito, as orações mais simples que sabemos, o desabafo da oração espontânea, a renovação espontânea da fé, tudo conta, pois o Senhor acolhe os gestos mais singelos, já que no Céu estão escritos os nossos nomes! (cf. Lc 10,20)

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

8 de novembro de 2012

O verdadeiro amor é eterno

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Não nos contentemos com os amores passageiros

Nos dias de hoje, o amor se apresenta a nós de forma cada vez mais distorcida, pois se apela cada vez mais para os sentimentos, as paixões, os sonhos, as fantasias. Esse falso amor se apresenta nas músicas, nos filmes, nos videoclips, na fotografia. Esse amor irreal também faz parte da vida de muitas pessoas, no "ficar", no namoro e até mesmo no casamento. Hoje em dia, muitas pessoas vivem anestesiadas pelas paixões, pelos falsos amores, pois desconhecem o verdadeiro amor.

O falso amor é convidativo, sedutor, pois explora as fantasias, as imagens, os sentimentos. Estes dão uma falsa impressão de amor, que se confunde com a paixão, o desejo, a luxúria. Essa caricatura de amor se faz presente principalmente nas novelas, nos filmes, nas séries e minisséries que assistimos. Isso faz com que, inconscientemente, façamos da nossa vida um prolongamento da vivência desse falso amor, movido somente pelo desejo, pelas paixões, pela fantasia.

Cada vez mais nos deparamos com pessoas feridas, machucadas por causa do engano desse "amor" que destrói amizades, relacionamentos, casamentos, famílias. Não podemos ficar indiferentes diante desse fenômeno, o qual, se não tomarmos consciência, fará parte de nossas vidas sem que o queiramos. Não deixemos que nossos relacionamentos sejam influenciados por um romantismo vazio, próprio de um amor falso e passageiro, pois fomos criados pelo amor de Deus, e somente Ele é capaz de nos realizar.

O verdadeiro amor se manifestou a nós em Jesus Cristo. "De fato, Deus amou tanto o mundo que deu o Seu Filho único para que todo o que n'Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3,16). O Pai enviou Seu Filho ao mundo pela Virgem Maria e é por ela que temos acesso ao verdadeiro amor de forma mais perfeita. Nossa Senhora nos ensina a acolher o amor de Deus encarnado, que é Jesus Cristo em nossas vidas. Consagremo-nos a Maria de todo o coração para que por ela conheçamos o amor que foi até as últimas consequências, no Calvário, no alto da cruz, por amor de nós.

Com a Virgem Santíssima, coloquemo-nos junto da cruz de Jesus, oferecendo nossas dores, nossos sofrimentos, mas também nossas alegrias e esperanças, unindo-nos ao único e eterno sacrifício de Cristo, pois, na cruz, conhecemos o amor verdadeiro, aquele não foge diante do desprezo, da humilhação, do sofrimento. Ao contrário, o verdadeiro amor, que se manifesta também em nós, assume a cruz da angústia e da dor, pois o sacrifício é próprio dele. Não nos enganemos, mas acolhamos o verdadeiro amor, Jesus Cristo Nosso Senhor, que veio ao mundo pelas mãos maternas da Virgem Maria. Por ela, Jesus vem a nós todos os dias até a consumação dos séculos e também no Reino dos Céus, pois o verdadeiro amor é eterno.

Natalino Ueda - Comunidade Canção Nova
http://blog.cancaonova.com/tododemaria

6 de novembro de 2012

O compromisso com a felicidade do outro

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No matrimônio aprendemos que somos o canal de felicidade

Muitas pessoas se sentem desacreditadas em seus relacionamentos, por não terem aquilo que os contos de fadas ou romances descrevem como a felicidade completa. Tanto para aqueles que vivem um relacionamento ou para outros que esperam vivenciar esse momento, todos têm em comum o desejo de serem felizes… Julgam merecedores da felicidade e, realmente, os são. Entretanto, algumas vezes, correm o risco de antecipar momentos, abreviar etapas ou romper valores, simplesmente, para não deixar vazar pelos dedos das mãos, aquilo que vemos como uma oportunidade de realização de um sonho.

Ouve-se muito dizer que o casamento tira a liberdade da pessoa, que são formalidades que geram custos e que não garantem a união estável do casal. Então, alguns casais de namorados, quando apaixonados – mesmo que o tempo de namoro seja apenas de alguns meses -, assumem morar juntos. Desse modo, aquelas disposições que foram assumidas por nossos pais ou avós – a respeito das fases do envolvimento – em razão da incredulidade dos casais mais "modernos", as classificam como algo não mais aplicável!

As justificativas para defender a ideia de morar com a (o) namorada (o) são muitas. Dentre elas, existem aquelas que esperaram o favorecimento das condições para a oficialização do casamento. Outros casais acreditam que morar junto, possa ser uma forma, mais confortável, de identificar se vai dar certo a convivência com a (o) namorada (o), além de gozar dos privilégios da vida a dois.

Há também aquelas pessoas que após tal experiência, não têm intenção de repeti-la. Pois, dessas, acabaram saindo frustradas ao perceber que apesar de estar vivendo sob o mesmo teto, seu parceiro ainda se comportava como alguém "solteiro (a)". Não será difícil encontrar relatos de pessoas dizendo que foi um período no qual foram apenas um colega de quarto, com quem dividia as despesas, cuidava de suas roupas, alimentação etc…. E, aqueles momentos de uma felicidade avassaladora – que foi motivo para a tomada de decisão de viver juntos – , esvaziou-se, com a falta de comprometimento com aquilo que foi, anteriormente, objeto dos planos do casal.

A dúvida sobre o verdadeiro sentimento que sentia pelo outro ou a deterioração do mesmo, fizeram com que o relacionamento durasse apenas o período de uma estação ou enquanto ardia o fogo da paixão. Desses amores "doloridos", as pessoas reclamam de não ter vivido a sensação de sentir-se importante para a outra pessoa.

Por um lado, se os namorados conseguiam calar o clamor dos hormônios, que diziam ser a "química da relação", eles não conseguiam alimentar o desejo daquela pessoa que ansiava encontrar alguém que seria o seu complemento. Infelizmente, tal situação também é vivida com aqueles que assumiram o sacramento conjugal. Entretanto, percebe-se que a falta de interesse em retomar o relacionamento é maior entre aqueles que assumiram viver como "namoridos".

Na vivência do sacramento do matrimônio
vamos aprendendo que somos o canal que promove a felicidade do outro. Isto é, a maneira como nos comportamos e agimos nessa empreitada de vida comum, é que trará aos resultados daquilo que almejamos para o compromisso a dois. Assim, as atitudes no dia a dia, e as manobras para vencermos os obstáculos comum do desafio conjugal,  precisa ter como foco o bem estar da outra pessoa.

Contudo, muitos casais não querem seguir as primícias estabelecidas de um relacionamento a dois. Mesmo que tenham uma vaga idéia sobre a vida comum, insistem em viver seus caprichos, e o compromisso com a felicidade, muitas vezes, fica preso na condição do egoismo, da autorealização e muito longe do vínculo com a pessoa que se diz amar.

Um abraço

1 de novembro de 2012

Ressuscitou ao terceiro dia

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Esta é a grande certeza de nossa fé

"Se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia é também a vossa fé" (1Cor 15,14). A Ressurreição é a confirmação de tudo o que Ele fez e nos ensinou. Ao ressuscitar, Jesus deu a prova definitiva de sua autoridade divina.

A fé na Ressurreição tem como base um acontecimento historicamente atestado pelos discípulos que viram, muitas vezes, o Senhor Ressuscitado e transcendente e representa a entrada da humanidade de Cristo na glória de Deus por toda a humanidade. Jesus "ressuscitou dentre os mortos" (1Cor 15,20). Aquele sepulcro vazio e os panos de linho no chão mostraram aos apóstolos e às mulheres que o corpo d'Ele escapou da morte e da corrupção, e os preparou para vê-Lo vivo.

A Igreja não tem dúvida em afirmar que a Ressurreição de Jesus foi um evento histórico. No §639, o Catecismo afirma: "O mistério da Ressurreição de Cristo é um acontecimento real que teve manifestações historicamente constatadas, como atesta o Novo Testamento. Já São Paulo escrevia aos Coríntios pelo ano de 56: "Eu vos transmiti (...) o que eu mesmo recebi: 'Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitado ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Apareceu a Cefas e, depois, aos Doze'" (1Cor 15,3-4). O Apóstolo fala da viva tradição da Ressurreição.

A Ressurreição de Jesus foi a base de toda a ação e pregação dos apóstolos e foi muito bem registrada por eles. São João afirma: "O que vimos, ouvimos e as nossas mãos apalparam isto atestamos" (1 Jo1,1-2). Jesus ressuscitado apareceu a Madalena (Jo 20, 19-23), aos discípulos de Emaús (Lc 24,13-25), aos apóstolos no Cenáculo com Tomé ausente (Jo 20,19-23) e, depois, com Tomé presente (Jo 20,24-29); no Lago de Genezaré (Jo 21,1-24), no Monte na Galiléia (Mt 28,16-20). Segundo São Paulo "apareceu a mais de 500 pessoas" (1 Cor 15,6) e a Tiago (1 Cor 15,7).

"Deus ressuscitou esse Jesus e disto nós todos somos testemunhas" (At 2,32), disse São Pedro no dia de Pentecostes. "Saiba com certeza toda a Casa de Israel: Deus o constituiu Senhor (Kýrios) e Cristo, este Jesus a quem vós crucificastes" (At 2,36). "Cristo morreu e reviveu para ser o Senhor dos mortos e dos vivos" (Rm 14,9). No Apocalipse, São João arremata: "Eu sou o Primeiro e o Último, o Vivente; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos e tenho as chaves da morte e da região dos mortos" (Ap 1,17s).

Toda a pregação dos discípulos estava centrada na Ressurreição de Jesus. Diante do Sinédrio, Pedro dá testemunho da Ressurreição de Jesus (At 4,8-12). Em At 5,30-32 repete. Na casa do centurião romano Cornélio (At 10,34-43), Pedro faz uma síntese do plano de Deus, apresentando a morte e a ressurreição de Jesus como ponto central. São Paulo, em Antioquia da Pisídia, faz o mesmo (At 13,17-41).

Jesus ressuscitado caminhou com os apóstolos ainda quarenta dias; a fé no Ressuscitado não foi uma invenção fictícia dos discípulos do Senhor. A primeira experiência destes com Cristo Ressuscitado foi marcante e inesquecível: "Jesus se apresentou no meio dos apóstolos e disse: "A paz esteja convosco!" Tomados de espanto e temor, imaginavam ver um espírito, mas ele disse: "Por que estais perturbados e por que surgem tais dúvidas em vossos corações? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu! Apalpai-me e entendei que um espírito não tem carne nem ossos, como estais vendo que eu tenho". Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E, por causa da alegria, não podiam acreditar ainda e permaneciam surpresos, disse-lhes: "Tendes o que comer?". Apresentaram-lhe um pedaço de peixe assado. Tomou-o, então, e comeu-o diante deles". (Lc 24,34ss)

Os apóstolos não acreditavam a princípio na Ressurreição do Mestre. Amedrontados, julgavam ver um fantasma. Jesus, então, pede que O apalpem e verifiquem que tem carne e ossos. Nada disto foi uma alucinação nem miragem, nem delírio ou mentira, nem fraude dos apóstolos, pessoas muito realistas que duvidaram da Ressurreição do Mestre. A custo se convenceram, pois o próprio Cristo teve de falar a Tomé: "Apalpai e vede: os fantasmas não têm carne e osso como me vedes possuir" (Lc 24,39). Os discípulos de Emaús estavam decepcionados, porque "nós esperávamos que fosse Ele quem restaurasse Israel" (Lc 24,21). A fé na Ressurreição do Senhor não surgiu "mais tarde" como querem alguns na história das primeiras comunidades cristãs, mas é o resultado da missão de Cristo acompanhada dia a dia pelos apóstolos. Eles eram um grupo de pessoas abatidas, aterrorizadas após a morte de Jesus. Nunca chegariam por eles mesmos a um autoconvencimento da volta de Cristo. Na verdade, renderam-se a uma experiência concreta e inequívoca.

Impressiona também o fato de que os Evangelhos narram que as primeiras pessoas a verem Cristo são as mulheres que correram ao sepulcro. Isto é uma mostra clara da historicidade da Ressurreição; pois as mulheres, na sociedade judaica da época, eram consideradas testemunhas sem credibilidade, já que não podiam se apresentar ante um tribunal. Ora, se os apóstolos, como afirmam alguns, queriam inventar uma nova religião, por que, então, teriam escolhido testemunhas tão pouco confiáveis pelos judeus? Se os evangelistas estivessem preocupados em "provar" ao mundo a Ressurreição de Jesus, jamais teriam colocado mulheres como testemunhas.

Os chefes dos judeus tomaram consciência do significado da Ressurreição de Jesus e, por isso, resolveram apagá-la: "Deram aos soldados uma vultosa quantia de dinheiro..." (Mt 28,12-15). A ressurreição corporal de Jesus era professada tranquilamente pela Igreja nascente sem que os judeus ou outros adversários a pudessem apontar como fraude ou alucinação. Os apóstolos só podiam acreditar na Ressurreição de Jesus pela evidência dos fatos. Eles não tinham disposições psicológicas para "inventar" a notícia da ressurreição de Jesus ou para forjar tal evento.

A pregação dos apóstolos era severamente controlada pelos judeus, de tal modo que qualquer mentira deles seria imediatamente denunciada pelos membros do Sinédrio (tribunal dos judeus). Se a ressurreição de Jesus, pregada pelos apóstolos não fosse real, se fosse fraude, os judeus a teriam desmentido, mas eles nunca puderam fazer isto. Jesus morreu de verdade, inclusive com o lado perfurado pela lança do soldado. É ridícula a teoria de que Ele estivesse apenas adormecido na cruz. Os vinte longos séculos do Cristianismo, repletos de êxito e de glória, foram baseados na verdade da Ressurreição de Jesus. Afirmar que o Cristianismo nasceu e cresceu em cima de uma mentira e fraude seria supor um milagre ainda maior do que a própria Ressurreição do Senhor.

Será que em nome de uma fantasia, de um mito, de uma miragem, milhares de fiéis enfrentariam a morte diante da perseguição romana? Será que em nome de um mito, multidões iriam para o deserto para viver uma vida de penitência e oração? Será que em nome de um mito, durante já dois mil anos, multidões de homens e mulheres abdicaram de construir família para servir ao Senhor ressuscitado? Será que uma alucinação poderia transformar o mundo? Será que uma fantasia poderia fazer esta Igreja sobreviver por 2 mil anos, vencendo todas as perseguições (Império Romano, heresias, Nazismo, Comunismo, racionalismo, positivismo, iluminismo, ateísmo etc.)? Será que uma alucinação poderia ser a base da religião que, hoje, tem mais adeptos no mundo (2 bilhões de cristãos)? Será que uma alucinação poderia ter salvado e construído a civilização ocidental depois da queda de Roma?  Isto mostra que o testemunho dos apóstolos sobre a Ressurreição de Jesus era convincente e arrastava, como hoje o faz.

Na verdade, a grandeza do Cristianismo requer uma base mais sólida do que a fraude ou a debilidade mental. É muito mais lógico crer na Ressurreição de Jesus do que explicar a potência do Cristianismo por uma fantasia de gente desonesta ou alucinada. Como pode uma fantasia atravessar dois mil anos de história, com 266 Papas, 21 Concílios Ecumênicos e, hoje, com cerca de 4 mil bispos e 417 mil sacerdotes? E não se trata de gente ignorante ou alienada; muito ao contrário, são universitários, mestres, doutores.

Este é o quarto artigo de uma série de outros doze, explicando, resumidamente, cada um dos artigos do 'Credo'.

5 - Desceu à mansão dos mortos 
6 - Está sentado a Direita do Pai