26 de julho de 2024

A virtude da fortaleza exige decisão, coragem, generosidade e constância

Iniciamos os comentários da terceira virtude cardeal dessa série

Essa virtude, que se chama força de alma, força de caráter ou virilidade cristã é uma virtude moral, sobrenatural, que robustece a alma na conquista do bem árduo sem se deixar abalar pelo medo nem sequer pelo temor da morte.

O seu objeto é trabalhar especificamente na constância e na firmeza de prática do bem, transformar o temor em audácia e força contra a temeridade e a tibieza.

Créditos: sdominick / GettyImagens

Os seus atos se reduzem a dois princípios: empreender e tolerar coisas difíceis. Permanecer firme contra os obstáculos que, constantemente, surgem no caminho da perfeição. Não os temer e avançar contra eles exige decisão, coragem, generosidade e constância. É preciso também saber tolerar, por Deus, as numerosas e árduas provações que Ele nos envia, os sofrimentos, as doenças e zombarias, as calúnias de que somos vítimas. Quem aguenta costuma ser mais forte do que quem ataca.

Graus da virtude da fortaleza

Primeiramente, é preciso lutar, corajosamente, contra os diversos temores que se opõem ao cumprimento do dever, o temor da fadiga e perigo. Todos os bens celestes devem nos ser preferíveis aos bens terrenos. Donde é preciso sacrificar generosamente as fortunas, a saúde, a reputação e a vida em troca da graça! Portanto, o pecado deve ser evitado a todo custo, mesmo que todos os males temporais desabem sobre nós.

O temor das críticas e zombarias ou o respeito humano nos levam a descuidar do nosso dever por medo dos juízos desfavoráveis que se farão de nós, das ameaças contra nós, das injúrias e injustiças de que seremos vítimas.

O temor de desagradar aos amigos seria uma vã popularidade. A aprovação de Deus deve ser maior que a aprovação dos homens.

Mais para frente, é preciso procurar exercitar a parte positiva da virtude da fortaleza, esmerando-se por imitar a força de alma de que Jesus Cristo nos deu exemplo durante a vida.


Virtude que vai além das aparências

Essa virtude aparece na sua vida oculta: abraça a pobreza, a mortificação e a obediência no exílio, ficando em silêncio por trinta anos, ensinando-nos a santificar as ações mais ordinárias e de nos inspirar o amor da humildade.

Na sua vida pública: nos longos jejuns, nas vitórias constantes contra o demônio, na sua pregação firme contra os preconceitos judaicos, no sacrifício e abnegação, nas denúncias contra os doutores da lei, por fugir da popularidade, na formação dos apóstolos, na decisão de subir para Jerusalém sabendo do sofrimento e dor, humilhação e morte.

Na Sua Paixão: na agonia dolorosa, onde ainda ora pelos seus inimigos, na serenidade, silêncio diante das injustiças e nos julgamentos, na paciência durante os suplícios e as zombarias. Na serena expiação onde se entrega nas mãos do Pai. Uma
paciência imperturbável nas mais duras provações.

Aqui, há o suficiente para muita meditação. Modelos para nos fazer viver seu exemplo nas menores situações de nossa vida.

Existe, assim como nas demais virtudes cardeais já comentadas, virtudes anexas à da fortaleza, que a detalham e a compõem. As veremos nos próximos artigos, assim como também os meios de os aperfeiçoar. Permaneça conosco e atente-se às publicações.

Equipe Formação Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/series/virtudes-morais-cardeais/a-virtude-da-fortaleza-exige-decisao-coragem-generosidade-e-constancia/

23 de julho de 2024

Consagre-se ao Preciosíssimo Sangue de Jesus

Reze em família a consagração ao Preciosíssimo Sangue de Jesus

Senhor Jesus Cristo, em Vosso nome e com o poder de Vosso Sangue Precioso, selamos cada pessoa, fato ou acontecimento por meio dos quais o inimigo nos queira prejudicar.

Com o poder do Sangue de Jesus, selamos toda potência destruidora no ar, na terra, na água, no fogo, abaixo da terra, nos abismos do inferno e no mundo no qual hoje nos movemos.

Consagre-se ao Preciosíssimo Sangue de Jesus

Créditos: cançãonova.com

Poderosíssimo Sangue de Jesus

Com o poder do Sangue de Jesus, rompemos toda interferência e ação do maligno. Nós Vos pedimos, Senhor, que envieis ao nosso lar e local de trabalho a Santíssima Virgem Maria acompanhada de São Miguel, São Gabriel, São Rafael e toda sua corte de santos anjos.

Com o poder do Sangue de Jesus, lacramos nossa casa, todos os que nela habitam (nomear cada um), as pessoas que o Senhor a ela enviará, assim como todos os alimentos e bens que, generosamente, concede para nosso sustento.

Com o poder do Sangue de Jesus, lacramos terras, portas, janelas, objetos, paredes e pisos, o ar que respiramos, e na fé colocamos um círculo de Seu Sangue ao redor de toda nossa família.

Com o poder do Sangue de Jesus, lacramos os lugares onde vamos estar, neste dia, e as pessoas, empresas e instituições com quem vamos tratar.

Com o poder do Sangue de Jesus, lacramos nosso trabalho material e espiritual, os negócios de nossa família, os veículos, estradas, ares, ruas e qualquer meio de transporte que haveremos de utilizar.

Com Vosso Preciosíssimo Sangue, lacramos atos, mentes e corações de nossa Pátria, a fim de que Vossa paz e Vosso Coração nela reinem.

Nós Vos agradecemos, Senhor, pelo Vosso Preciosíssimo Sangue, pelo qual nós fomos salvos e preservados de todo mal. Amém.



Alexandre Oliveira

Membro da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Alexandre é natural da cidade de Santos (SP). Casado, ele é pai de dois filhos. O missionário também é pregador, apresentador e produtor de conteúdo no canal 'Formação' do Portal Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/oracao/consagre-se-ao-preciosissimo-sangue-de-jesus/

22 de julho de 2024

Pilar do relacionamento

Relacionamento humano: o elo perdido da sociedade moderna

A sociedade contemporânea, brindada por tantos especializados saberes, padece pela carência de uma sabedoria fundamental: o pilar do relacionamento humano. Sabe-se da importância de diferentes estratégias, mas, para se alcançar êxito, não se pode descurar da qualidade do relacionamento humano. Propósitos são alcançados graças à eficiência técnica, logística, ao monitoramento de resultados. Ainda mais determinante no cumprimento de objetivos é o campo relacional, inerente a todas as atividades humanas. Muitas iniciativas naufragam por causa de inabilidades relacionais. Até mesmo ações que apontam para um horizonte inovador podem nem "sair do papel", pela falta de competência relacional, especialmente na condução de equipes, no cumprimento da tarefa de estimular o envolvimento de seus integrantes. 

Créditos: MesquitaFMS / GettyImagens

O desafio da liderança relacional

Aos doutos, em qualquer área, não é difícil conceber projetos com engenharias inteligentes e contemporâneas. O desafio maior é impulsionar a realização desses projetos com o vetor do relacionamento qualificado, o que exige habilidade para lidar com dilemas existenciais e humanos. A falta de qualificação de líderes na administração do relacionamento interpessoal gera acentuadas perdas nos mais diversos campos – da política à religião, da economia à cultura, da educação às artes. Exercer a liderança significa também tornar-se ponto de apoio para liderados e parceiros na realização compartilhada de projetos. Para isso, é preciso superar circunstâncias que enjaulam o ser humano, a exemplo da mesquinhez e a tendência muito comum de se buscar aproximar apenas daqueles com quem se partilha das mesmas opiniões e convicções. Deve-se alargar a própria interioridade, capacitando-a para gerar agregação entre pessoas com diferentes modos de pensar, mas que estão envolvidas na busca de uma mesma meta.

A importância da competência relacional

A habilidade para se constituir uma referência que alimenta agregação entre as pessoas não pode ser confundida com a capacidade para dar ordens. As equipes demandam de seus líderes uma desenvoltura relacional capaz de torná-los presença cativante, com palavras que iluminam, inflamam e impulsionam. Não basta, pois, "ocupar uma cadeira" no exercício do poder, da autoridade ou das mais diferentes responsabilidades. Sem competência relacional, prevalece a mediocridade. As instituições padecem com a falta de clareza e de investimentos na competência relacional. Não conseguem transformar seu potencial em realizações, desperdiçando-o. "Times" que confiam no seu líder, reconhecendo-o com importante retaguarda, "jogam" melhor, com mais chance de alcançar seus propósitos.  Por isso mesmo, em sintonia com as demais aptidões que são vetores de conquistas, deve-se investir na essencial competência relacional. 

Cultivando a Reciprocidade

O cultivo da competência relacional, desenvolvendo habilidades essenciais ao exercício da liderança, contempla reconhecer o valor da reciprocidade, estimular diálogos, motivações e mobilizações que levem às metas almejadas. Trata-se de caminho eficaz para governanças corporativas e para a vivência da dimensão missionária, constituindo uma força para tecer vínculos de pertencimento essenciais ao viver com alegria, com disponibilidade para se dedicar ao semelhante, promovendo o bem. Especializar-se na habilidade para bem gerir relacionamentos é, pois, primordial. Uma habilidade que se conquista a partir de um itinerário bem diferente de outras especializações que, não raramente, fazem perder a "visão de conjunto", do todo. E sem essa compreensão mais global das situações, abandona-se o princípio de que tudo está interligado. No campo relacional, deve-se alimentar a "visão de conjunto", sem privilegiar uma parte, dedicando atenção a diferentes temas, abordagens e modos de compreender a realidade. Seguir na direção oposta pode levar a uma parcialidade que se desdobra no empobrecimento das possibilidades. 

Espiritualidade e relacionamento

Investir na dimensão relacional não significa buscar simplesmente a execução de técnicas. Contempla abraçar uma dimensão espiritual determinante e insubstituível, com propriedades para reconhecer que a vida é dom e um instrumento de transformação do mundo. Qualificar-se na competência para bem se relacionar – e tecer bons relacionamentos – pede, especialmente, profundo cultivo da espiritualidade, revestindo-se da capacidade para viver a reciprocidade, que é uma alavanca de inclusão relacional. A reciprocidade também semeia engajamento essencial à realização de diferentes projetos, fecundando a fonte de convicções que refinam os discursos e garantem desempenhos relevantes.  Descompassos institucionais, nas instâncias do poder e em outros segmentos da sociedade, apontam também para a falta de competência relacional. Perde-se muito tempo e energia quando há pouca efetividade em razão da falta de especialidade para tecer relacionamentos. Convive-se com superficialidades e diferentes descompassos, perpetuando exclusões e disputas. O viver preenche-se de sentido e de alegria espiritual quando se prioriza o pilar do relacionamento. 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte (MG)


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/importancia-relacionamento/

17 de julho de 2024

Cabeça dura e coração de pedra

Desafiando corações endurecidos: a relevância da mensagem de Jesus em um mundo relativista

Jesus visita Nazaré, onde se tinha criado (Mc 6,1-6), e encontra, naquele ambiente, reações contraditórias. De um lado, pessoas admiradas com a sabedoria que brotava de suas palavras, por saberem que não vinha de classes propriamente eruditas da sociedade do tempo, mas homem de uma família simples, carpinteiro como José, numa pequena localidade, parente de muitas pessoas que circulavam por toda parte, com as observações parecidas com as que ouvimos quando um jovem do interior volta à sua terra e todos se impressionam com quem foi estudar ou trabalhar em centros mais importantes! Todo mundo o conhecia, e uma fonte cujo nome veio a ser "Fonte de Nossa Senhora" devia ser ponto de encontro e dos comentários circulantes!

Créditos: DMP / GettyImagens

De outra parte, ajudados também pela narrativa de São Lucas (cf. Lc 4,14-30), quando fala da visita a Nazaré, sabemos como foi rejeitado pelos seus conhecidos e parentes. Ali, chegava como profeta na própria terra, pagando o preço das críticas, o que lhe impedia de operar milagres e anunciar com toda força o Reino de Deus. No entanto, Jesus não se detinha, e percorria os povoados anunciando a Boa Nova do Evangelho. Em outras ocasiões e lugares, o mesmo Senhor encontrou resistências muito fortes, de forma especial das autoridades religiosas da época. Nada o impedia de realizar a própria missão, olhando para a realização do plano do Pai, sempre a caminho de Jerusalém, sabendo o que deveria viver, formando os discípulos para as provações que necessariamente chegariam para eles e a Igreja.

Obstáculos à evangelização: a ascensão do relativismo e a crise de valores

Aliás, não faltaram dificuldades e desafios no correr da história da Igreja, e nosso tempo não é diferente. O texto do Profeta Ezequiel, proclamado neste final de semana (Ez 2,2-5), mostra com clareza o que viria pela frente, em sua época, no tempo do ministério público de Jesus e na história da Igreja: "Eu te envio aos israelitas, nação de rebeldes que se revoltaram contra mim. Eles e seus pais se rebelaram contra mim até o dia de hoje. É a estes filhos de face dura e coração obstinado que eu te envio. Tu lhes dirás: Assim diz o Senhor Deus. Quer te escutem, quer não – pois são um bando de rebeldes – saibam que houve um profeta entre eles. Quanto a ti, filho do homem, não os temas nem tenhas receio de suas palavras".

Há obstáculos para a Evangelização e a atividade pastoral da Igreja. Dentre tantos, observamos alguns pontos que exigem nossa reflexão e ação coordenada. Em torno a nós implantou-se um relativismo desafiador e provocante. A crise de valores nivelou tudo, quando as pessoas defendem o que chamam de "sua verdade", onde impera um nivelamento em que se pode fazer, falar e viver de tudo o que a imaginação humana seja capaz de engendrar. A falta de referências impera e pede, de nossa parte, firmeza, aliada ao bom senso. Cabe à Igreja ir ao encontro do mistério que é a vida de cada pessoa, ouvir e suscitar interrogações sobre o sentido da existência. Proclamações altissonantes de cunho conservador, ou progressista, ou fanático, só provocam isolamento e fechamento das pessoas. Não se vence o jogo no grito!

Consumismo religioso e a dissociação entre fé e vida

O mundo se transformou numa espécie de hipermercado em todos os sentidos, também religioso, no qual as pessoas podem escolher o que mais lhes agrada, especialmente se não exige compromissos de vida moral e de retidão. Na realidade, o "religioso" vem a ser, para muitos, o que me traz um consolo ou compensação imediata. E as portas de templos começam a parecer "postos de combustíveis", que não criam qualquer relação de compromisso, pois as pessoas passam a ser consumidoras e não membros fiéis de uma Comunidade Eclesial, na Fé, no Culto, e na Caridade.

Na mesma vertente, ocorre-me um comentário ouvido num meio de comunicação, onde o uso dos celulares pelas crianças era o assunto. Pareceu-me proposital quando se referiam aos eventuais limites de tais meios pela criançada, entrou uma observação que parece até verdadeira, dizendo que os valores espirituais ficam por conta de cada pessoa ou grupo. Esconde-se assim uma separação radical entre aquilo que a pessoa professa como fé e a incidência na sociedade. É como dizer que a vivência da fé não tem nada a ver com o resto da vida!
Outro desafio é a redução da experiência religiosa aos sentimentos, enquanto o seguimento de Jesus implica coerência de vida inclusive e de modo especial nas ocasiões em que nada oferece compensação emocional, pois o núcleo da fé cristã se encontra no Mistério e Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. Digam os mártires da fé, que se mantiveram fiéis diante da tortura e da eliminação de sua vida física, sabendo ser maior e definitiva a recompensa que os esperava. Fidelidade a Deus em qualquer circunstância é a proposta da vida cristã, malgrado nossas fraquezas pessoais, com a certeza de que a graça de Deus vem em nosso auxílio e nos sustenta!

Testemunhando a verdade em um mundo hostil

Os cristãos, não só os chamados a algum ministério específico, todos são chamados, consagrados e enviados. O mundo, mesmo feito de cabeças duras e coração de pedra, é o nosso campo de testemunho e ação, na certeza de que podemos sempre ouvir a voz do Senhor: "No mundo tereis aflições. Mas tende coragem! Eu venci o mundo" (Jo 16,33). Transformemos nossos medos e ameaças em desafios à nossa oração, criatividade e dedicação. As atividades profissionais, a convivência na sociedade e todas as eventuais provocações existentes são o nosso campo de presença qualificada e de testemunho. Nada de pessimismo ou derrotismo!


O Evangelho do presente Domingo nos leva ao encontro pessoal com Jesus Cristo, na acolhida a um convite precioso de São Paulo: "De fato, pela sabedoria de Deus, o mundo não foi capaz de reconhecer a Deus por meio da sabedoria, mas, pela loucura da pregação, Deus quis salvar os que creem. Pois tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria. Nós, porém, proclamamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder de Deus e sabedoria de Deus. Pois o que é loucura de Deus é mais sábio que os homens e o que é fraqueza de Deus é mais forte que os homens (1 Cor 1,21-24). Permitamos que Jesus percorra as redondezas de nosso coração, anunciando a Boa Nova!

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/mensagem-jesus-relevancia-mundo-relativista/

16 de julho de 2024

O que é a verdadeira caridade?

Muito além da esmola: desvendando a essência da caridade cristã

Quando me pediram para refletir sobre a VERDADEIRA CARIDADE, confesso que fiquei incomodada com a palavra VERDADEIRA.  Questionei-me várias vezes sobre a necessidade da palavra VERDADERA. Fui buscar, na Palavra de Deus a resposta, o sentido de viver a caridade.

A Bíblia nos revela, em suas páginas, que o princípio da caridade nasce de Deus, que é amor. Ela é verdadeira, porque emana do verdadeiro amor que é Deus. Torna-se concreta quando une a nossa própria vida à vida de outras pessoas. A caridade é um dos mais belos atos de doação que fazemos de nós mesmos. 

Doar-se para salvar

Engana-se quem pensa que fazer caridade é dar uma simples esmola. A palavra de Deus nos revela que a verdadeira caridade vai muito além do dar aquilo que temos, é dar de si, é partilhar a própria vida, é um doar-se para salvar. Podemos dizer, sem medo de errar, que é uma vida que sustenta outra vida nos momentos de dor, sofrimento, pobreza, miséria, invalidez, doenças e tantas outras realidades que assolam o nosso viver.

Crédito: Bartolomé Esteban Murillo

A pessoa que vive a caridade cristã se compadece, por isso doa mais que a si mesma, doa esperança, fé, amor, ensina a buscar a Deus quando as respostas humanas são insuficientes e somente Deus é a resposta. Gasta tempo, sacrifica-se quando divide a dor do outro, ajudando-o a carregar a cruz do sofrimento, sustentando-o nas horas mais difíceis, apaziguando situações e corações com palavras, gestos ou simplesmente com sua presença, mesmo que silenciosa. É um braço que se estende, é um abraço que acalenta, é um ombro para chorar.

Superando o cansaço, encontrando a alegria

Quem vive o verdadeiro sentido da caridade se cansa, aperta-se, chora junto, porque não é de ferro, sempre encontra forças para ajudar.  Mas também se enche de alegria e de paz pelo bem realizado, pela superação alcançada, pelo sorriso que, às vezes, custa a aparecer. Não devemos ter receio de acalentar um coração dilacerado pela dor, são nestas horas dolorosas, de separação, morte ou enfermidade que precisamos estar presentes. É quando acreditamos que não temos nada a doar que o Espírito Santo de Deus inunda nosso ser com palavras de sabedoria, gestos concretos de amor e acolhimento. São nestes momentos que a graça de Deus, que supera todo o nosso entendimento, passa por nós, para revigorar a pessoa necessitada e acaba por nos fortalecer também, porque primeiro a graça passa por nós para chegar a alguém. São João o apóstolo do amor nos diz:

"Nisto conhecemos o Amor: ele deu a sua vida por nós. E nós também devemos dar nossa vida pelos irmãos.  Se alguém, possuindo os bens deste mundo, vê seu irmão na necessidade e lhe fecha as entranhas, como permaneceria nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com ações e em verdade" (I João 3, 16-18).

São João dá à verdade um sentido muito maior que engloba fé e amor, por isso, em suas cartas, ele afirma que são da verdade aqueles que creem e amam. 

A verdadeira caridade está ao nosso alcance

Precisamos nos lembrar sempre que está ao nosso alcance viver a verdadeira caridade, porque acolher, abraçar, dar uma palavra de conforto, emprestar os ouvidos para escutar, fazer uma prece, um cuidado, ter paciência, ser presença, levar roupas, remédios e alimentos são gestos que nascem de um coração que ama. O esquecer de si para servir o outro sem esperar nada em troca é a maior riqueza que temos para doar. Às vezes, basta uma ideia simples, um chá, um bolo, uma sopa. Algo do nosso dia a dia, mas que contagia outras pessoas para que a solidariedade, tantas vezes esquecida, seja despertada em nosso viver.

Com as enchentes no Rio Grande do Sul, pudemos tocar nas mais diversas formas de solidariedade, foi comovente ver pessoas que perderam tudo ajudando outras tantas. Pessoas que não pararam em sua própria dor ou no cansaço, mas se mantiveram firmes para aliviar o sofrimento do próximo. Pessoas que deixaram o conforto de suas casas para se colocar em meio à lama e salvar vidas. Pessoas que doaram suas férias, seus conhecimentos para se colocarem a serviço do próximo que sequer conheciam, comunidades que se uniram para arrecadar roupas e alimentos. Pessoas que dividiram o que tinham para comer, dividiram o que tinham para vestir. Todos, que imbuídos pelo verdadeiro sentido da caridade, deram um grande exemplo de amor, solidariedade e respeito à vida. 

A essência do cristianismo: compaixão e caridade

A verdadeira caridade existe e é vivida dentro da dimensão da compaixão, pois é com o outro que passaremos pelo calvário desta vida colocando nossa confiança em Deus. Um cristão nunca está sozinho quando imbuído de compaixão, faz um gesto de caridade, tornando-se um portador da graça de Deus. A caridade, na concepção cristã, é a essência do cristianismo e nos mantêm abertos à vida e abertos e às pessoas a nossa volta. 

A caridade é a virtude de amar ao próximo como a si mesmo. Um agir que nasce da compaixão e não espera reconhecimento. A caridade é um princípio cristão que se mantém ao longo dos séculos, é atual e necessário. A caridade cobre uma multidão de pecados (conf. 1ª Pedro4,8).

 

Adriana Pereira é missionária da Comunidade Canção Nova há 30 anos, Jornalista e Mestre em Comunicação e Semiótica


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/o-verdadeiro-significado-da-caridade-crista/

15 de julho de 2024

Liberdade de pensamento: valores em conflito

Liberdade de pensamento: um direito a ser exercido com sabedoria e responsabilidade

A liberdade de pensamento é uma garantia fundamental, assegurada no inciso quarto do artigo quinto da Constituição Federal de 1988, é aspecto basilar do Estado Democrático de Direito e aspecto intrínseco da vida em sociedade.

Crédito: arquivo do autor/cancaonova.com

Uma conquista histórica

A data de 14 de julho foi instituída em memória do início da Revolução Francesa, iniciada em 14 de julho de 1789, a qual originou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que, por sua vez, foi base da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Esta última trata em seu XVIII da liberdade de pensamento: "todas as pessoas têm direito à liberdade de pensamento, consciência e religião".

Vivemos tempos em que a liberdade de pensamento é tão natural, e praticada de forma tão irrestrita, que nem nos damos conta de sua existência ou de sua importância. Ela é facilmente confundida com a liberdade de expressão, com a qual tem íntima relação. Entretanto, enquanto a liberdade de expressão diz respeito ao direito de manifestar opinião e se expressar a respeito daquilo que pensa e crê, a liberdade de pensamento é relacionada à liberdade de consciência, de credo, de poder adotar qualquer ideologia ou crença.

Em outro momento da história, em especial antes dos estados regidos por constituições, soberanos detinham o poder de ditar os princípios e valores pelos quais seus súditos deveriam viver. Isso é fácil de ser notado, por exemplo, no episódio narrado em Daniel 6.22, no qual o profeta é lançado na cova dos leões por recusar-se a contrariar seus princípios de fé para obedecer a um decreto.

Enxergando a mundo a partir de valores cristãos

Não há nas Sagradas Escrituras texto que melhor retrata essa liberdade do que o icônico ensinamento de São Paulo em 1ª Coríntios 6,12: "Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. Tudo me é permitido, mas eu não me deixarei dominar por coisa alguma". Temos a liberdade de pensar e dizer aquilo que quisermos, contudo, essa liberdade é balizada pelos valores que escolhemos.

Aquilo que é denominado pelos teóricos como cosmovisão ou a lente moral com a qual percebemos a existência e interpretamos os eventos que nela ocorrem, é baseada no conjunto de valores, enraizado em nossa fé e princípios. São Paulo trata a respeito disso na Epístola aos Romanos 12,2: "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito".

Os valores cristãos em conflito com o secularismo

Os valores íntimos à fé estarão sempre em conflito com o secularismo, pois este segundo não tem cuidado pelo bom ou o justo, mas, antes, quer aliviar a consciência daqueles que vivem distantes de Deus e não querem que seu pecado venha à luz. O Apóstolo Paulo exorta duramente a respeito disso em 2 Coríntios 4,4: "Para os incrédulos, cujas inteligências o deus deste mundo obcecou a tal ponto que não percebem a luz do Evangelho, onde resplandece a glória de Cristo, que é a imagem de Deus".

A responsabilidade no uso da liberdade

São Tiago, em sua epístola, no capítulo três, discorre sobre quão devastadora pode ser a inconsequência no uso dessa liberdade quando escolhemos, de maneira temerária, nossos valores, nossas palavras, pois elas se tornam fonte de destruição. O autor compara a língua, que é um membro pequeno do corpo, a uma pequena chama, que é capaz de causar um grande incêndio em um bosque.

Portanto, devemos ter consciência de que, hoje, podendo usufruir dessa liberdade, salvaguardados por garantias, e devemos fazê-lo com responsabilidade, escolhendo viver de acordo com a vontade de Deus e manifestando isso em nossos gestos e palavras.

 

Jonatas Passos –  natural de Cruzeiro (SP), marido, pai e colaborador da Fundação João Paulo II. Formado em Tecnologia, Informática e História. Pós-Graduado em Jornalismo e História do Brasil, com extensão em História da Religião.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/liberdade-pensamento-valores/

12 de julho de 2024

Tempo de férias: indo além do ócio e do entretenimento

Férias com propósito: mais que lazer, um tempo para crescer

Julho, mês de férias, passeio, viagem, estar junto, mas… será que é só isso? Tenho que seguir assim? Esse pensamento é único? É o melhor? Existem outras formas para viver as férias?

Questionando o propósito das férias

No tempo, o que vivemos aqui passa bem rápido e muitas vezes nos perdemos no "fazer as coisas", mas sem analisar se as mesmas estão valendo à pena, se nos fazem crescer. São Tomás de Aquino dizia que 3 coisas são necessárias para a salvação do homem: saber "o que deve crer?", "o que deve querer?" e "o que deve fazer?". Cabe aqui nos questionarmos, nessas férias, onde não teremos nenhuma obrigação de trabalho ou escola, se eu sei o que devo fazer… veja que a pergunta não se refere ao que gosto ou não, mas ao que devo! Se devo, é porque será melhor para mim, far-me-á crescer, ser melhor ou estar melhor. Isso, sim, importa! Isso sim é um investimento em mim, mesmo no lazer, mesmo nas férias.

 

Créditos: Daniel de la Hoz / GettyImagens

 

A vida não pode se tornar uma viagem aleatória, sem rumo e sem esteio, numa "selva escura" de desorientação existencial, tal como descrita no Inferno de Dante. Ela precisa ser uma viagem rumo Àquele que nos criou, sabendo que existe um fim último, e esse fim nos espera para um novo começo. Esse sim não mais terá fim. Para chegar lá, não posso desperdiçar o tempo, principalmente as férias, onde terei tempo de sobra para investir em mim mesmo e preparar mais e melhor o caminho para o Eterno.

Vivendo as férias com intenção e propósito

Sim, podemos sair, viajar, passear, mas nunca esquecendo as três perguntas de São Tomás de Aquino: "O que deve crer?", "O que deve querer?" e "O que deve fazer?". Essas devem ser as perguntas que direcionarão nas escolhas que faremos nas férias para buscarmos o CRESCIMENTO INTERIOR.

Não é fazer por fazer, viajar por viajar, ou sair por sair, mas, em tudo que fizer, ser uma atividade cujo fim último seja a busca pela salvação, que só é encontrada em Deus. Ao contrário do que se divulga na cultura atual de buscar um entretenimento imediato e numa distração ociosa para descanso domingueiro ou agitação sensível, os passeios, viagens, saídas das férias deveriam ter um senso de crescimento interior, uma diversão que nos auxilie num crescimento filosófico, moral, científico, teológico… Muitas vezes, passam desapercebidos itens da cultura clássica como música, livros e filmes que aprofundam a transcendência, aprofundando naquilo que efetivamente é permanente e essencial ao homem. São materiais que motivam o autoconhecimento, o encontro consigo mesmo, saindo de uma superficialidade e impessoalidade.

Rompendo o ciclo trabalho-entretenimento

Como ensina Sarrais, em 'Aprender a Descansar', para romper esse círculo vicioso e alienante de trabalho-entretenimento é preciso redimensionar o tempo livre, aproveitando-o de forma inteligente e produtiva, em atividades menos exigentes, mas não menos importantes: redescobrir o valor do esporte, como exercício físico de fortaleza e autossuperação; a beleza da leitura e da audição musical, como atividades silenciosas e reflexivas de autoconhecimento e observação da realidade; e a alegria da conversa espirituosa com um bom amigo ou familiar.

 


 

Veja, conforme diz Pascal, a diversão pode se tornar um grande mal para nós, já que pode nos impedir de pensar em nós mesmos. E como sermos melhores, fugindo de nós mesmos?

Aproveite suas férias. De verdade. Mas em atividades que o aproximarão mais de si mesmos, e assim, quanto mais próximo de você, mais facilmente entrarás Deus, como diz Santa Teresa d'Ávila: "Buscar-Te-ei em mim; buscar-me-ei em Ti".

Junior Alves
Missionário da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/ferias-com-proposito-tempo-livre-transformador/

10 de julho de 2024

Como aproveitar bem as férias?

Tempo de qualidade: fortalecendo laços familiares nas férias

O mês de julho é considerado, em muitas famílias, um mês de férias, pois os filhos têm pausa nas aulas da escola e dos cursos que fazem, e alguns pais conseguem conciliar suas férias do trabalho (ou parte das férias) para viver uma pausa nesse tempo; já alguns seguem sua rotina.

Mas como aproveitar bem as férias e ter, nesse tempo, um descanso propício para o bem-estar físico e mental?

Descansar não significa necessariamente viajar ou gastar muito dinheiro, mas propor um tempo de atividades diferentes e, especialmente, conviver em família ou fazer coisas que, na realidade diária, não são possíveis.

Créditos: champpixs / GettyImagens

Férias realistas: encontrando o equilíbrio entre diversão e orçamento

Acima de tudo, pense naquilo que é possível e viável para sua família e para sua realidade. Não adianta fazer viagens impossíveis para as finanças de sua vida e depois viver um estresse por ter adquirido dívidas. Portanto, vamos partir para algo possível, e, ao mesmo tempo, que seja diferente e possa ser um tempo de descanso para todos.

Vamos lá: o que pode ser feito nas férias? Quais sugestões você pode seguir aí na sua casa? Lembro que cada família observará sua realidade, e o que temos aqui são realmente sugestões que podem ser ou não viáveis para você:

  • organizar uma visita dos amigos do seu filho em casa: pode ser uma tarde para lanche compartilhado, onde cada um pode trazer alguma coisa para que seja feito depois de um filme ou de jogos, por exemplo;

  • andar de bicicleta no parque: seja emprestando uma bicicleta ou alugando algo que possa ser feito ao ar livre, traz lembranças muito positivas na vida dos filhos. As memórias afetivas são formadas das formas mais simples.

  • procurar atividades culturais gratuitas na sua cidade: observe a programação da cidade. Muitos lugares oferecem atividades para crianças e jovens, e pode ser uma ótima oportunidade para sua família.

  • cozinhar em família: uma ótima oportunidade para ensinar seu filho, mas também para conviverem juntos. Um simples macarrão com molho pode ser muito divertido.

  • fazer brincadeiras: brincar desperta a criatividade e as possibilidades nas crianças, além de ser um momento para estar afastados de telas. Jogos de tabuleiro, de adivinhação, de mímica. São muitas possibilidades que certamente alegrão o dia de vocês.

  • visitar um familiar ou amigo levando um bolo que vocês mesmo fizeram: mais uma vez, é reunir uma experiência prática com uma memória, além de ensinar a gentileza de um gesto ao seu filho.

  • promover jogos:  essa forma de diversão sempre é muito bacana, até mesmo nos videogames, para que os filhos ensinem o que jogam e os pais possam aprender novas formas de acessar a vida dos filhos.

O tempo livre e a importância do descanso real

Do ponto de vista psicológico, sempre que pudermos lidar com o descanso e o momento de recreação já conseguiremos proporcionar impactos positivos para crianças e adolescentes.

Você não necessita ocupar seu filho o tempo todo. Certamente, um pouco de tempo ocioso é bom. É nele também que haverá o descanso. Muitas crianças parecem que precisam estar o tempo todo ocupadas, mudam de jogos a todo tempo ou, sequer, finalizam algo. São preenchidas por um comportamento ansioso e incapaz de concluir uma tarefa. Observe se isso acontece com seus filhos e busque acompanhá-los.

Tempo de qualidade

Aos pais, lembrem-se: não se culpem, caso não possam estar com a família todo o tempo de férias. É importante sempre trabalharmos com a realidade e os limites de nossa vivência. Quando assim for, será mais fácil para também trabalharmos isso com os filhos. Você já deve ter visto o termo "tempo de qualidade" e é disso que precisamos. Mesmo que seja um tempo mais restrito, mas que seja com qualidade e dedicação ao que está sendo feito nesse tempo de férias.


Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro dos Santos é Psicóloga Clínica pela Universidade de São Paulo (USP). Colaboradora da Comunidade Canção Nova, reúne 20 anos de experiência profissional, atuando nas cidades de São Paulo, Lorena e Cachoeira Paulista, além do atendimento on-line para o Brasil e o Exterior. Dentre suas especializações estão Terapia Cognitivo-Comportamental, Neuropsicologia e Psicologia Organizacional. Instagram:  @elaineribeiro_psicologa 


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/como-aproveitar-ferias-em-familia/

8 de julho de 2024

Modéstia ou modismo?

A diferença entre a modéstia interior e exterior

"Uma pessoa modesta, antes de qualquer coisa, é humilde"( Santo Tomás de Aquino). Impressiona-me a frase do Beato Carlo Acutis: "Todos nascemos originais, mas muitos morrem fotocópias", e sempre me lembro dela quando vejo alguns sendo cópias, mesmo que copiem algo aparentemente bom, mas que se contentam apenas com a aparência.

Hoje, vemos a virtude da modéstia ganhando ares de moda, sendo que a modéstia externa (roupas, modos) deve ser a evidência da modéstia interior que nasce da humildade, do controle sobre o desejo imoderado de grandeza, de saber e aprender. É da luta contra esses vícios e a busca da humildade e castidade que nasce a modéstia externa, que se transforma em atos externos de vestir-se de tal forma ou comportar-se de determinada maneira.

Créditos: Deagreez / GettyImagens

A modéstia exterior como caminho para a interior

Penso que se você começou a mudar suas vestes por uma reta intenção de mudança, essa poderá ser uma via para cultivar também a modéstia interior, que é grande proteção contra vários perigos e inúmeros vícios. Mas é uma via que precisa de muita atenção, porque a modéstia exterior pode ser fingida, sendo assim um ato de hipocrisia. Já a modéstia interior é que dá vida à exterior, uma força inabalável que não se deixará atingir facilmente pelos ataques e armadilhas do mundo e do maligno. O importante então é que não devemos procurar a aparência da modéstia sem que nosso coração seja tomado de amor à simplicidade e humildade. Já na verdadeira modéstia, a interior e a exterior andam de mãos dadas e uma ajuda a outra, ou seja, o recato exterior deve nascer do interior ordenado, e alimenta esse interior, reforçando-o.

Encontrei, no site Garotada Católica, essa linda comparação de São Francisco Sales: "Como o fogo produz a cinza, e a cinza serve admiravelmente para manter e conservar o fogo, assim sucede com essas duas modéstias: que a interior produz a exterior, e esta mantém e conserva a interior de onde brotou".

A juventude é alimentada, cotidianamente, com estímulos para aparecer – fotos, vídeos, fama. Precisamos, o tempo todo, alimentá-los com estímulos ao interior, a questionar suas motivações. Volto a pensar no beato/santo Carlo Acutis, que será canonizado em 2025. Ele, além de boa aparência, tinha acesso a tudo o que um jovem dessa idade pode querer.

Conta-se que, certa vez, ele, passando de carro com a família em frente a uma boate em sua cidade, indignou-se com uma fila enorme de jovens que esperavam para entrar na balada. Ele dizia que devia ser uma fila para entrar na Igreja, e que aqueles jovens estavam trocando a preciosa vida pelo que é passageiro. Carlo encontrou o verdadeiro tesouro, aquilo que não passa, e pautou sua vida no fogo interior que o consumiu por inteiro. Ou seja, Carlo, apesar de bela aparência e boas condições de vida, soube olhar para seu interior e alimentar as motivações corretas.

A modéstia como necessidade humana

A modéstia é uma profunda necessidade humana, e você precisa dela para ter uma estima correta e equilibrada de si mesmo, com isso reafirmando sua originalidade e integridade. Esses são fundamentos importantes para a vida de qualquer um, é a casa construída sobre a rocha.

Pense em namoros, amizades e relacionamentos assim construídos. Todo mundo quer ser amado como pessoa, não como coisa; como um "quem", não como um "quê". A virtude da modéstia é uma proteção contra um sem número de perigos e uma garantia de relações duradouras e originais, únicas!

A Virgem Maria como exemplo de modéstia

A Virgem Maria é o grande exemplo dessa virtude. Quanto à modéstia, ninguém pode se comparar a ela, ninguém há com mais merecimentos, virtudes, santidade e dignidade divinas. No entanto, não posso supor alguém mais simples, afável, bondosa, pobre e humilde do que ela. E ainda, o que dizer do desprezo que fazia da importância da sua pessoa e da sua própria excelência? Maria nos dá a chave para a modéstia interior e exterior, ou seja, uma submissão mais perfeita de todos os seus pensamentos, sentimentos e afeições à regra da razão e, desta, à vontade de Deus.

Edvânia Duarte Eleutério
Missionária da Comunidade Canção Nova desde 1997, onde atuou como formadora e acompanhadora de namorados, noivos e casais da Comunidade. Além de outras funções, como gestora de TV, Edvânia tem especialização em gestão de pessoas, counseling e bioética. É autora do livro "Porque (não) eu?".


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/modestia-verdadeira/

6 de julho de 2024

Laços que santificam: o poder da amizade na vida cristã

Discernimento na amizade: escolhendo quem nos aproxima de Deus

"Me diga com quem tu andas que eu direi quem tu és", um ditado popular pronunciado tantas vezes pela boca de nossos pais e avós. Um ditado comum e sempre proferido para alertar cada filho sobre a escolha de suas companhias. O fato é que uma amizade pode salvar-nos assim como pode corromper-nos. Isso é bem sabido dentro da Igreja durante toda a sua história milenar.

Créditos: Cecilie_Arcurs / GettyImagens

Companheiros para sustentar-se na caminhada rumo ao Céu

Respeitar, amar e servir é uma prática voltada para todos. Devo viver dessa maneira para agradar a Deus. Mas quando se fala de amizade e intimidade, então as coisas funcionam no campo da minha escolha e do meu querer. São Francisco de Sales afirma no seu livro Filoteia: "No mundo, é necessário que aqueles que se entregam à prática da virtude se unam por uma santa amizade, para mutuamente se animarem e conservarem nesses santos exercícios. Os que vivem no século, onde há tantas dificuldades a vencer para ir a Deus, se parecem com os viajantes que andam por caminhos difíceis, escabrosos e escorregadios, precisando sustentar-se uns nos outros para caminhar com mais segurança".

São Gregório e São Basília: amigos unidos no propósito e na esperança

São Gregório Nazianzeno fala de sua amizade com São Basílio com muito prazer, descrevendo-a deste modo: "Parecia que em nós havia uma só alma, para animar os nossos corpos, e que não se devia mais crer nos que dizem que uma coisa é em si mesma tudo quanto é e não numa outra; estávamos, pois, ambos em um de nós e um no outro. Uma única e a mesma vontade nos unia em nossos propósitos de cultivar a virtude, de conformar toda a nossa vida com a esperança do céu, trabalhando ambos unidos como uma só pessoa, para sair, já antes de morrer, desta terra perecedora".

Portanto, escolha bem suas amizades. Procure pessoas que queiram viver a virtude e a religião, sempre buscando a santidade. Lembre-se que você pode escolher alguém que o levante, mas também pode se sujeitar a alguém que o derrube.


Rafael Vitto

Rafael Vitto, seminarista CN. Graduado em Filosofia e estudante de Teologia. Atuante na paróquia São Sebastião em Cachoeira Paulista.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/lacos-que-santificam/

Casa edificada sobre a rocha

Oração pelo Papa: um apelo à unidade e à fé

"Oremos pelo nosso Pontífice, o Papa Francisco! O Senhor o conserve, lhe dê vida e o torne feliz na terra, e não o entregue em poder dos seus inimigos. Ó Deus, que na vossa Providência quisestes edificar a vossa Igreja sobre São Pedro, chefe dos Apóstolos, fazei que o nosso Papa Francisco, que constituístes sucessor de Pedro, seja para o vosso povo o princípio e o fundamento visível da unidade da fé e da comunhão na caridade. Por Cristo nosso Senhor. Amém." Assim reza a Igreja numa das belas orações pelo Papa, e nós desejamos assumi-la de forma especial no Dia do Papa, comemorado na Solenidade de São Pedro e São Paulo.

A escolha de Pedro e a missão da Igreja

Jesus Cristo é a Pedra Angular, que sustenta todo o edifício da Igreja. Nele o Reino de Deus chegou para toda a humanidade e na sua Palavra está a vida eterna. Fomos chamados a ser discípulos fiéis de Jesus Cristo. Ninguém pode edificar solidamente senão em Jesus Cristo. 

A entrega das chaves a São Pedro.
Créditos: Pietro Perugino/Domínio Público

Na gratuidade do dom de Deus, que é Ele mesmo, Jesus chamou seus discípulos, que percorreram com ele um exigente caminho de formação. Com a liberdade que lhe é própria, escolheu os doze apóstolos, feitos colunas da Igreja. Três deles, Pedro, Tiago e João, foram testemunhas de alguns fatos muito significativos, como a Transfiguração e a Oração de Jesus no Horto das Oliveiras, e presenciaram milagres como volta à vida da filha de Jairo. Talvez não fossem os melhores, humanamente falando, como se vê em algumas referências a Tiago e João, assim como à fragilidade de Simão Pedro e a negação da qual se arrependeu amargamente! Mas foram os escolhidos, na infinita misericórdia do Senhor, e estiveram próximos do Senhor, recebendo depois as graças a eles destinadas para o crescimento da Igreja e do Reino de Deus.

A fortaleza na fragilidade: O legado de Pedro e a importância do Papa

Voltemo-nos para Simão Pedro! A seu nome Simão, o próprio Jesus acrescentou "Pedro", que quer dizer Pedra. Um homem de uma generosidade inigualável, aliada a um temperamento complicado, algumas vezes irascível, inseguro nos passos dados em sua fé, ao mesmo tempo humilde diante de seu Senhor. O Evangelho da Solenidade que celebramos no-lo mostra tomando a palavra em nome de seus companheiros: "E vós, quem dizeis que eu sou?" Simão Pedro respondeu: 'Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo'. Jesus então declarou: 'Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as forças do Inferno não poderão vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus'" (Mt 16,15-19). Sabemos que quem foi feito rocha não deixou de carregar suas próprias fraquezas, mas foi o escolhido. Mais tarde, já na Última Ceia, Jesus quer reforçar nela e fonte da força que lhe será concedida: "Simão, Simão! Satanás pediu permissão para peneirar-vos, como se faz com o trigo. Eu, porém, orei por ti, para que tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos". Simão disse: 'Senhor, eu estou pronto para ir contigo até mesmo à prisão e à morte!' Jesus, porém, respondeu: 'Pedro, eu te digo que hoje, antes que o galo cante, três vezes negarás que me conheces'" (Lc 22,31-34).

Após a Ressurreição, tendo chorado amargamente sua negação, três vezes professou o amor a Jesus, ouvindo depois a palavra forte, antes pronunciada no primeiro chamado: "Segue-me!" Anos mais tarde, foi como o Senhor até a morte, sendo crucificado numa colina, onde se encontram referências expressivas ao seu túmulo, sobre as quais foi edificada a Basílica de São Pedro. Tudo o que foi dito a respeito de Pedro aconteceu realmente em Roma, e ele foi fundamento do crescimento da Igreja, ao lado de Paulo, o Apóstolo das gentes. "Pedro, o primeiro a confessar a fé em Cristo, fundou a Igreja primitiva sobre a herança de Israel; Paulo, mestre e doutor da fé, iluminou as profundezas do mistério e anunciou o Evangelho a todas as nações. Assim, por diferentes meios, os dois congregaram a única família de Cristo e, unidos pela coroa do martírio, recebem por toda a terra a mesma veneração" (cf. Prefácio da Solenidade de São Pedro e São Paulo).

Na sucessão dos tempos, a Igreja nunca ficou sem um sucessor de Pedro, cujo nome hoje é Papa Francisco, ponto de unidade para todos. Se queremos ser cristãos católicos, havemos de reconhecer o significado da presença do Papa na Igreja. O Papa Francisco tem exercido, de forma corajosa e cheia de unção, o ministério que lhe foi confiado!

O Papa Francisco e o chamado à fidelidade

Como ser fiéis ao Papa? É bom saber que todos os Papas e em todos os séculos foram muitas vezes criticados e julgados pela opinião pública, o que se torna mais patente em tempos de comunicação tão intensa e variegada. É necessário e urgente, da parte de todos os cristãos católicos amar o Papa, reconhecê-lo como legítimo Sucessor de Pedro. Depois, como ele mesmo pede com insistência, rezar sempre e muito pelo Santo Padre, porque ele é homem como todos nós, com a fragilidade que é característica de todas as pessoas humanas. O Papa, ensina o Concílio Vaticano I, é infalível quando declara, consciente e claramente, verdades da fé correspondentes à revelação. Muitas pessoas já se surpreenderam ao verem o Papa ajoelhar-se num confessionário da Basílica de São Pedro, como qualquer outro penitente. E nestes últimos dias, faleceu um frade franciscano, confessor do Papa, que o atendia a cada quinze dias.

Fidelidade ao Papa exige nossa adesão aos ensinamentos dele emanados e disposição para colocá-los em prática, sabendo que todos eles são frutos de muita oração e abertura ao Espírito Santo, além da assessoria que lhe é oferecida por tantos estudiosos e pastores, que contribuem na elaboração dos Documentos. Estamos vivendo um tempo especial, entre duas partes do Sínodo dos Bispos, justamente a respeito da Sinodalidade, que significa caminhar juntos, urgência para o nosso tempo e para a nossa plena fidelidade ao Evangelho. Ao mesmo tempo, haveremos de responder aos seus apelos, como nesta Solenidade de São Pedro e São Paulo, para a Coleta do Óbolo de São Pedro, com a qual o Santo Padre vai ao encontro de muitas necessidades da Igreja no mundo inteiro. Vida longa, Saúde, Força e Inspiração ao Santo Padre o Papa Francisco!

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/igreja-catolica-missao-do-papa/

3 de julho de 2024

O poder do Sangue de Jesus contra os demônios

Sangue precioso: a força que nos liberta das garras do mal

O Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo é o selo da Nova Aliança, simbolizando o restabelecimento de nossa comunhão com Deus, rompida por Adão e Eva6. Na época de Jesus Cristo, um selo representava autenticidade e autoridade3. A autenticidade4 reside no fato de que essa comunhão é restaurada pelo próprio Deus encarnado, a segunda pessoa da Trindade Santa, e não por qualquer humano, garantindo sua veracidade. Já a autoridade5 decorre do poder de Deus em realizar tal restauração.

Créditos: jchizhe / GettyImagens

A rebelião e a queda

Satanás, o Diabo, e os demais demônios são anjos decaídos por terem livremente rejeitado servir a Deus e seu desígnio. Sua escolha contra Deus é irreversível, buscando sempre associar a humanidade à sua rebelião (CIC 414).

O homem, inicialmente estabelecido por Deus em santidade, foi seduzido pelo Maligno desde os primórdios da história, abusando de sua liberdade ao se rebelar contra Deus e buscar um destino à parte Dele (CIC 415).

Ao aceitarem a sedução de Satanás (a serpente) no paraíso, nossos primeiros pais romperam a antiga aliança. No entanto, o poder redentor do Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo nos resgatou das garras de Satanás e seus seguidores.

"Porque vós sabeis que não é por bens perecíveis, como a prata e o ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver, recebida por tradição de vossos pais, mas pelo Sangue Precioso de Cristo, o Cordeiro imaculado e sem defeito algum, aquele que foi predestinado antes da criação do mundo." (1 Pedro 1,18-19).

Independente de nossas vivências até hoje, é crucial lembrar que, ao nos arrependermos e voltarmos a buscar a Deus através da obediência aos Seus mandamentos, da aceitação de Sua vontade e do oferecimento de amor em todas as nossas ações, mesmo nas menores, seremos purificados por seu sangue, conforme Sua promessa:

"Se, porém, andarmos na luz, como Ele mesmo está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o Sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado." (1 João 1,7)

A firmeza da fé

Se o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo derramado na Cruz foi o preço pago para nos restaurar ao Paraíso, então devemos enfrentar cada tentação e situação que nos leve à desobediência aos mandamentos de Deus, ou mesmo ao menor pecado venial, com a mesma firmeza de São Gaspar Del Búfalo, apóstolo da devoção ao preciosíssimo Sangue de Jesus: "Non posso, non debbo, non voglio" (Não posso, não devo, não quero)7. Devemos repetir sempre, em cada situação de perigo para nossa alma, como na Ladainha em honra ao Preciosíssimo Sangue de Cristo: "Sangue de Cristo, força dos tentados, salvai-nos"8.

 

Almir Rivas
Missionário da Comunidade Canção Nova


Referências

[1] Mateus 22,20. Bíblia Católica Ave-Maria. 204ª edição. Edição Claretiana, 2014.

[2] Nota de rodapé da Bíblia Católica Ave-Maria, referente a Mateus 22,20. Bíblia Católica Ave-Maria. 204ª edição. Edição Claretiana, 2014.

[3] "Escrevei, portanto, vós mesmos em nome do rei em favor dos judeus, como bem vos parecer e selai com o selo real, porque toda ordem escrita em nome do rei e firmada com seu selo é irrevogável" – Ester 8,8. Bíblia Católica Ave-Maria. 204ª edição. Edição Claretiana, 2014.

[4] Qualidade ou caráter do que é autêntico, do que não é falso, forjado, nem sofreu adulteração (autenticidade da gravação/mensagem/foto); FIDEDIGNIDADE; VERACIDADE. DICIONÁRIO AULETE DIGITAL. Autenticidade. Disponível em: https://www.aulete.com.br/autenticidade. Acesso em: 26 jun. 2024.

[5] Pessoa que tem esse direito ou poder. DICIONÁRIO AULETE DIGITAL. Autoridade. Disponível em:https://www.aulete.com.br/autoridade.Acesso em: 26 jun. 2024.

[6] Gênesis 3, 6-23. Bíblia Católica Ave-Maria. 204ª edição. Edição Claretiana, 2014.

[7] Vatican News. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/santo-do-dia/10/21/s–gaspar-del-bufalo–presbitero–fundador-dos-missionarios-do-p.html. Acesso em: 26 jun. 2024.

[8] Padre Paulo Ricardo em: https://padrepauloricardo.org/blog/ladainha-em-honra-ao-preciosissimo-sangue-de-cristo. Acesso em: 26 jun. 2024.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/purificacao-sangue-cristo/

1 de julho de 2024

O sangue precioso de Jesus, um símbolo de amor e redenção

O sangue de Jesus, derramado em sacrifício na cruz, cura as feridas da alma

Cada gota desse sangue precioso convoca ao verdadeiro Amor, que transforma a morte em vida, o ódio em amor e a dor em esperança!

A festa do sangue de Jesus, derramado na cruz, é mais do que um evento histórico, ele representa um ato de amor e sacrifício incomparável, que trouxe esperança e redenção para toda a humanidade.

A dádiva por meio Eucaristia: perdão, purificação e vida

Ademais, em todas as Missas celebradas o ano inteiro e em todo lugar, esse sangue real se faz dádiva através da Eucaristia e podemos comungá-lo, sob as espécies do pão e do vinho.

Para os cristãos, representa o preço pago pela nossa salvação. Através dele, somos purificados de nossos pecados, recebendo perdão e a possibilidade de uma vida plena em Cristo.

Conheça a história da devoção ao Preciosíssimo Sangue de Jesus

Créditos: jchizhe by GettyImages/cancaonova.com

O Evangelho de Lucas 22,44 nos diz: "E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão". Nesse ato de amor de Jesus rompeu-se a barreira do pecado abrindo caminho para uma relação íntima com Deus.

A aliança que nos fez povo eleito

Por meio de Seu Filho único, Deus selou um pacto eterno conosco, seus filhos, povo eleito, garantindo o amor de Pai para sempre. Essa aliança nos garante a sua Misericórdia e Justiça mesmo diante das dificuldades da vida.

Além da redenção e da aliança, o sangue de Jesus nos direciona à vivência do amor incondicional, já que, mesmo sendo Filho de Deus, Deus feito homem que se encarnou no seio da Virgem Maria, não se poupou, mas se entregou por nós, mesmo que não merecêssemos. Esse ato de abnegação e sacrifício nos convoca a amarmos uns aos outros, a perdoarmos e a oferecermos o nosso melhor neste mundo para a honra e glória do Nome de Jesus.

Clamemos o poder do Sangue de Cristo

Para que bem celebremos esse mês de julho, convidamos a missionária Adriana Queirós para juntos clamarmos o poder que emana do Sangue de Nosso Senhor e rezarmos a Ladainha ao Preciosíssimo Sangue de Cristo.


Micheline Teixeira
Missionária da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/o-sangue-precioso-de-jesus-um-simbolo-de-amor-e-redencao/

28 de junho de 2024

A Barca da Igreja e a Evangelização

Navegando em Águas Profundas: A Igreja e a Evangelização nos Dias Atuais

As águas, os rios e os mares sempre provocaram a humanidade. Ao mesmo tempo que são fonte de vida e alimento, meio de transporte e comunicação entre as pessoas, impressionam pela sua força também destrutiva, como testemunham enchentes recentes em nosso país e outras partes do mundo.

A Arquidiocese de Belém e a Convivência com as Águas

Nossa Arquidiocese de Belém, com seus vários núcleos insulares de assistência pastoral, convive com embarcações de todo porte, desde os grandes navios e balsas, passando pelos barcos, lanchas, rabetas e simples "casquinhas" que transportam pessoas e gêneros alimentícios. Nossos portos e trapiches, de todo tipo e tamanho, podem servir para o bem e, infelizmente, muitas vezes servem para o terrível tráfico humano e de drogas.

Convivemos com as águas, ouvimos tantas vezes as pessoas dizerem que o rio é nossa rua, assumimos juntos o desafio de conservar as imensas riquezas de nossas águas, educando as novas gerações ao trato mais respeitoso com os dons que Deus nos prodigalizou em abundância.

Há poucos dias, com Dom Antônio e Dom Paulo, participamos de uma magnífica peregrinação e convivência com outros Bispos brasileiros a convite das Comunidades Neocatecumenais, um imenso e reconhecido serviço de Evangelização presente em muitas de nossas Paróquias. Uma das propostas de meditação e oração foi motivada pelo Evangelho do Décimo Segundo Domingo do Tempo Comum, Palavra proclamada neste final de semana e que ouvimos proclamado onde Jesus o anunciou. Numa boa parte do tempo, estivemos em torno do Mar da Galileia.

Em nossas Missas desse final de semana, com a semente parecida com o grão de mostarda do Evangelho do Domingo anterior, cujos frutos certamente aparecerão, na hora e na medida de Deus, desejamos ajudar-nos mutuamente a superar os desafios e os medos das águas do mar da vida, tantas vezes revoltas e ameaçadoras.

Visão da proa de um barco, tendo o horizonte infinito do oceano.

Créditos: Francis ODonohue / GettyImagens

O Mar da Galileia e os Ensinamentos de Jesus

Jesus, em tempos de Galileia, atravessou muitas vezes o Lago, que de tão grande era chamado de Mar, percorrendo as vilas e cidades. Quem está no cimo do Monte das Bem-aventuranças, lugar em que os Bispos se hospedaram durante alguns dias, onde também o Senhor pronunciou o Sermão da Montanha, tem uma visão privilegiada.

Foi ali, à beira do Lago, que Jesus determinou que os discípulos de ontem e de hoje se aventurassem por águas mais profundas (Cf. Lc 5,1-11). Ali, Tabgha, lugar do primado de Pedro, às margens do Lago, onde Jesus, não uma sombra ou um fantasma, mas o próprio Senhor, os mandou lançar as redes e preparou-lhes uma refeição mais do que simbólica, ou Cafarnaum, quem sabe, Magdala, Tiberíades e outros tantos lugares.

É possível ver, do outro lado do Lago, áreas que pertencem hoje à Síria. Por aquelas bandas Jesus foi à região da Decápole, onde mostrou também sua força, poder e missão. Foi também pelo Lago que Jesus foi a Gérasa (Cf. Mc 5,1-20), onde expulsou demônios e foi rejeitado pelos moradores. Muitos os fatos, todos eles carregados de ensinamentos, que não estamos diante de um livro de histórias edificantes, mas do Evangelho! Foi a nossa experiência nesta peregrinação à Terra Santa.

Rito Significativo em Tabgha e a Renovação dos Compromissos Episcopais

Em Tabgha, os Bispos participaram de um rito significativo, respondendo "Tu sabes tudo, tudo sabes que te amo", depois da pergunta feita por Jesus a Pedro: "Tu me amas?". Foi uma graça especial presidir a este rito, assim como à renovação dos compromissos Episcopais, feita em Jerusalém, na Domus Mambré, no mesmo dia em que visitamos o Cenáculo. Deus nos fez experimentar a beleza e a responsabilidade da Comunhão para nos comprometermos com a oração sacerdotal de Jesus: "Que todos sejam um, para que o mundo creia" (Jo 17,21).

Entretanto, a Liturgia do décimo segundo Domingo do Tempo Comum (Jó 38,1-8.11; 1 Cor 5,14-17; Mc 4, 35-41) oferece-nos também oportunidade privilegiada para uma reflexão a partir do receio provocado pelas águas e a força de Deus Criador e Senhor, que aliás se manifesta diante dos discípulos, acostumados ao medo das águas e das tempestades, por muitos dos antigos consideradas habitações de monstros e sinal de morte!

A Palavra de Deus em Jó e o Domínio de Deus

Provavelmente, não lhes era claro o que já se encontrava no livro de Jó, pronunciado pelo Senhor: "Quem fechou com portas o mar, quando ele irrompeu, como se saísse das entranhas, quando eu lhe dava a nuvem por vestido e o envolvia de escuridão como de fralda? Eu o demarquei com meus limites e lhe pus ferrolho e portas, dizendo: 'Até aqui chegarás, e não além; aqui dominarás as tuas ondas encapeladas!'" (Jó 38,8-11).

Jesus determina aos discípulos a viagem para outra margem (Mc 4,35-41). Noutra ocasião, mandou-os à frente, para depois caminhar sobre as águas (Jo 6,16-20), quando podemos imaginá-lo "cavalgando sobre as águas" (Cf. Sl 46,1-12; Sl 68,1-5). Agora, Jesus está placidamente dormindo dentro da barca, e o vento e a chuva se enfurecem. Pensam estar perecendo por não terem tomado consciência daquele que os acompanhava, cujo poder faz as águas se acalmarem.

Os Desafios da Igreja no Tempo Presente

Agora, os discípulos de hoje. Não basta repetir o que temos feito até hoje! Os desafios são novos e diferentes. O apelo do Papa Francisco ressoa a atitude de Jesus, lançando-nos a descobrir caminhos novos, sair missionariamente ao encontro dos mais afastados. Aceitar a provocação positiva que nos lança a buscar águas mais profundas (Cf. Lc 5,1-11), mesmo quando nos sentimos frágeis e pecadores, pois o Senhor vai além de nossos pecados e fraquezas, fazendo de todos nós pescadores de homens, como aconteceu com os primeiros discípulos.
A atitude a ser assumida é a coragem vinda da fé, lançando-nos a buscar caminhos novos, criatividade e ousadia.

Em meu primeiro encontro com o Papa Francisco, na Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro, em 2013, ao apresentar-me como Arcebispo de Belém, ouvi palavras fortes, à época transmitidas ao povo de Belém: "Sejam corajosos, sejam ousados. Se não forem ousados, já estarão errando de princípio". E nossa Igreja há de retomar esta proposta. Temos abertas algumas estradas e tantas portas, para ajudarmos nosso mundo e nosso tempo a se encherem de alegria!

Os Três Desafios da Igreja: Missão, Evangelização da Juventude e Unidade

O desafio atual tem três nomes: Primeiro, assumir como próprio de todas as instâncias da vida da Igreja o compromisso Missionário. O segundo é a Evangelização da Juventude, que tem um sinal expressivo do Acampamento Arquidiocesano da Juventude, no primeiro final de semana de julho. Terceiro desafio, mas não menos importante, é que todos acolhamos a belíssima diversidade de métodos pastorais, serviços e iniciativas que o Espírito Santo suscita em nossa Arquidiocese, o desafio da unidade e da comunhão. O diferente não é inimigo ou adversário, mas conduzido pelo Espírito a atingir pessoas e grupos sedentos do Evangelho com o Testemunho e a Palavra. É um tempo novo e positivamente provocante, com outras margens e águas mais profundas.

E concluímos com o grande anúncio ressoado a partir da pedra do Santo Sepulcro, onde celebramos a Eucaristia no encerramento da Peregrinação: "Aquele que venceu as ondas da morte está vivo no meio de nós. Ele é o Senhor e Salvador. Com ele e nele somos anunciadores e realizadores da esperança para o nosso tempo". Beijei a pedra do Santo Sepulcro em nome de todos os nossos fiéis da Igreja de Belém. Todos estavam ali conosco!

 

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/barca-da-igreja-e-evangelizacao/

27 de junho de 2024

A juventude e o sentido para a vida

Auxiliar a juventude na busca de um sentido na era neoliberal, um desafio para pais e educadores

Nessa sociedade dita Neoliberal em que vivemos, atuar como pais e/ou mestres traz várias questões à tona, entre elas o sentido da vida.

E dar sentido ao viver é uma tarefa que nos coloca diante de perdas e ganhos, onde é imperativo seguir em frente e orientar os esforços com o que temos. Isso, para os adolescentes e jovens, está permeado de agitação e insegurança, crises de valores, rupturas, apreciação ou não das colocações e posicionamentos dos mais velhos, na tentativa de construir os seus próprios.

Nesse sentido, o conhecido filósofo Platão, inclusive, colocava-se contra o uso de bebidas alcoólicas pelos mais jovens, pois, em seu entender, tal coisa era como colocar fogo no fogo. Ademais, nós pais devemos tomar cuidado em querer evitar que nossos filhos sofram, pois o sofrimento é inerente ao ser humano, e se não temos como escapar dele, é preciso entender o que a vida quer dizer a cada um.

Jovens de diferente etnias, tirando uma selfie com o que parece ser uma tela de celular, eles sorriem, tendo ao fundo campos verdes, levemente desfocados

Créditos: doidam10 / GettyImagens

A busca pela identidade e autoconhecimento na adolescência

Assim, nessa fase de mudanças biológicas importantíssimas, esses rapazes e moças precisam de apoio para lidar com as suas questões psicoemocionais, pois, ao mesmo tempo em que isso acontece, há uma busca pelo autoconhecimento, pela autonomia e, sobretudo, pela realização como indivíduo.

Nessa perspectiva, é preciso destacar a importância do autoconceito e da autoestima, que são traços individuais que testificam a relação dos adolescentes com os demais, e é claro, consigo mesmos.

O papel do grupo social na formação de valores

Vemos aí a relevância da participação destes em grupos sociais para assumirem responsabilidade e aprenderem a tomar decisões que resultem em valores que atinjam a todos. Afinal, indivíduos sadios mobilizam as suas riquezas interiores em vista dos outros, dedicando-se a uma tarefa, a uma causa maior ou ao amor por outrem.

"É como o olho que só pode cumprir a sua função de ver o mundo enquanto ele não vê a si próprio" (Frankl, V.E. (1991): A psicoterapia na prática. Campinas: Papirus, p. 18.)

E aí vem a grande questão para os mais novos: Quem eu sou neste mundo? O que a sociedade me oferece?

Guiando os jovens na escalada rumo ao sucesso

Diante dela, nós, como adultos, temos que os ajudar para que tenham sucesso em sua escalada. Pois assim terão condições de significar a sua vida, partindo de suas vivências sociais, de como têm sido lembrados, tratados e amados. As pessoas precisam de afeto, comunicação e sentimentos. Afetamos e nos deixamos afetar pelos outros no encontro com a família, com o outro e com Deus.

Desafios da juventude: separação, solidão e influência das telas

Nessa jornada, muitos são os problemas vivenciados pelos jovens, como separação dos pais, distanciamento, evasão dos lares e ainda serem educados pelas telas.

Avançar para a maturidade é trilhar o caminho do perdão, superar os desafios das relações humanas, valorizando os que os cercam, respeitando-os e superando as mágoas.

Sem isso, nós os acompanhamos como meros telespectadores, pois há uma corrida para a busca de sentido que não acontece, frustrando e gerando ansiedade, irritabilidade e até o vazio existencial.

Superando a utopia e encontrando propósito na realidade

Os rapazes e moças deverão ser encaminhados a passarem a ser objetivos em suas escolhas, haja vista que os mesmos, no período de maturação, tendem a ser utópicos.

Há aqueles, dentro desse grupo, que tendem ao isolamento, por isso enfrentam a solidão. A melhor direção é ensiná-los como ocupar o seu espaço, tanto na sociedade quanto na família.

Liberdade interior e responsabilidade: pilares para uma vida significativa

Outra questão importante é a da liberdade. No livro 'Em busca de sentido', Viktor Frankl aborda o conceito de liberdade interior, trazendo uma importante pergunta, que é bem pertinente a ser feita ao nosso público alvo, os jovens: "Onde fica a liberdade humana?" (Frankl, 2008, p. 88)

Na visão do autor citado, o ser humano é dotado de espiritualidade e responsabilidade junto às quais caminha a liberdade.

Liberdade é a capacidade de realizar escolhas e tomar decisões; dar respostas ao que a vida lhe propõe. E ser responsável diz do comprometimento com a vida, pois nela há sempre sentido. Mesmo diante das frustrações, não devemos perder a vitalidade, mas agir com boa educação, fortes conceitos e virtudes.

Consumismo e perda da dignidade humana: desafios da sociedade moderna

Aliás, seja dito de passagem, hoje em dia, o mundo carece de tradições e há crise de valores, conflitos familiares, problemas sexuais, distúrbios físicos e psicossomáticos, problemas financeiros e orientações rotineiras.

A regra da sociedade é a busca pelo prazer em todos os momentos, tentando desenfreadamente fugir da dor, o que nem sempre é possível. A fama, as riquezas, a tecnologia, a disposição e, por vezes, relacionamentos nada profundos, são a resposta para uma vida sem projetos importantes.

E os jovens são atraídos a isso, por não terem a percepção de que por trás das facilidades algo está sendo perdido: a dignidade humana.

Quem vende esses produtos só se importa em comercializá-los, sem valorizar o ser humano que existe em cada um.

Encontrando sentido na solidariedade e no serviço ao próximo

Nessa mesma sociedade também existem caminhos saudáveis para uma vida cheia de sentido.

O jovem é voltado para a solidariedade. Qual é, portanto, o papel dos adultos para que os jovens possam escolher bons rumos? Direcioná-los ao serviço e à comunhão com o próximo para criarem vínculos afetivos fortes com a família, amigos e com Deus.

Ou seja, dar significado à vida é utilizar-se de suas potencialidades para além de si, e questionar quando desrespeitamos os outros, a nós mesmos, a natureza e a Deus em primeiro lugar.

A importância da fé e da espiritualidade na vida dos jovens

Contudo, é também importante lembrar que a repressão cultural da fé é responsável por sujeitos doentes; e, assim sendo, é preciso liberar o seu potencial religioso, pois não há nada de vergonhoso nisso.

Inclusive, São João Paulo II lembra aos jovens, em seu discurso em Caracas, que a relação com Deus deve estar em primeiro lugar. Afinal, com Ele presente na vida dos jovens, com certeza, atingirão metas, terão direcionamento e uma vida de oração, com profunda intimidade com Deus.


Educação para o trabalho: desenvolvendo potencialidades e resiliência

Dentre os mais variados direcionamentos aos mais jovens está a educação para o trabalho, uma vez que é uma das ocupações que mais demandarão tempo em sua vida.

O trabalho é importante, pois é uma forma de dar-se ao mundo, vai além de apenas ganhar dinheiro. Principalmente para os mais jovens, esse é o tempo de conhecer e trabalhar as potencialidades. É preciso coragem e resiliência para esperar que a Providência Santíssima que rege todas as coisas complete a sua obra. As restrições de possibilidades podem ensiná-los muito.

Pais não devem projetar nos filhos o que não conseguiram realizar profissionalmente, pois os filhos são seres singulares, livres e precisam ser apoiados nessa liberdade. Precisam construir o seu próprio caminho.

Incentivando o protagonismo e o compromisso com o trabalho

Essa formação pode começar com o incentivo ao voluntariado, trabalhos interdisciplinares, seriedade nos estudos e empenho nas tarefas da casa.

Nós adultos precisamos e devemos ser exemplos de bons trabalhadores, que entendem que é no trabalho que as respostas com compromisso e responsabilidade são dadas.

Entretanto, aqui é importante lembrar que o que nos torna felizes não é a atribuição em si, mas a forma como podemos exercer as atividades diárias.

Em tudo o que realizarmos, não busquemos o prazer, mas encontremos o sentido.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/a-juventude-e-o-sentido-para-a-vida/

18 de junho de 2024

A Igreja Católica e o aborto

A Igreja Católica é categoricamente contra o aborto provocado em qualquer circunstância.

Este artigo pretende apresentar a doutrina da Igreja acerca da defesa da vida em seus mais diversos documentos, discursos dos Santos Padres, santos e grandes personalidades católicas.

Antes de mais nada, é necessário entender que a defesa do aborto não apenas não é espontâneamente, como também é parte de um nefasto ecossistema acertadamente entitulado por São João Paulo II de cultura de morte.

A cultura de morte e suas faces

Na Solenidade da Anunciação do Senhor — e não haveria festa litúrgica mais oportuna — de 1995, São João Paulo II nos dava aquela que seria uma de suas mais importantes e proféticas encíclicas, a Evangelium vitae  (Evangelho da Vida — EV). Tratava-se de uma reafirmação precisa e firme do valor da vida humana e de sua inviolabilidade1.

As palavras do Santo Padre assumem um tom profético especialmente quando escancara a luta dramática do nosso tempo entre a cultura da morte e a cultura da vida 2. Aborto, eutanásia, contracepção, controle de natalidade, estão todos debaixo de um mesmo guarda-chuva, de uma mesma mentalidade, de uma mesma cultura que relativiza o valor da vida humana, sob disfarces de progresso científico, reforma social e direitos humanos.

Essa mesma cultura foi chamada pelo Papa Francisco de Cultura do Descarte: o descarte dos idosos, o descarte dos pobres, o descarte das crianças, em especial das crianças por nascer. Novas vidas são vistas como impedimentos, vidas antigas são obstáculos.

Controle de natalidade

Vende-se a ideia do controle de natalidade como uma reforma social, ideia que Chesterton genialmente comparou ao dizer que seria como afirmar que a decapitação é um avanço para a odontologia — é inútil praticar a odontologia em cadáveres ou a filantropia com os não nascidos 3.

Contracepção

Por meio da contracepção, contradiz-se a verdade integral do ato sexual enquanto expressão própria do amor conjugal 4, dissociando-o de uma de suas duas características — a procriativa — ou, nas palavras do famoso polemista britânico3, pretende-se gozar do prazer que advém de um processo natural, ao mesmo tempo em que se frustra esse processo de forma violenta e antinatural.

Aborto e eutanásia

Aborto e eutanásia opõe-se à virtude da justiça e violam diretamente o preceito divino "Não matarás"5. A vida que requereria mais acolhimento, amor e cuidado, é reputada inútil ou considerada como um peso insuportável, e, consequentemente, rejeitada sob múltiplas formas6. Nessa cultura do descarte, doentes terminais têm sua morte antecipada e veem tolhido seu direito a uma morte digna; bebês ainda no ventre materno diagnosticados com síndromes são abortados de forma eugênica, fruto de uma mentalidade que acolhe a vida apenas sob certas condições, e que recusa a limitação, a deficiência, a enfermidade7.

Sobre a face específica do aborto, em virtude da tramitação da ADPF 442 que visa descriminalizar o aborto até 12 semanas, gostaríamos de reafirmar o posição da Igreja Católica.

A Igreja Católica é contra o aborto

A Igreja Católica sempre foi contra o aborto

A tradição da Igreja sempre considerou a vida humana como algo que deve ser protegido e favorecido, desde o seu início, do mesmo modo que durante as diversas fases do seu desenvolvimento8.

O primeiro catecismo da Igreja, escrito por volta do ano 150 d.C., a Didaqué, já trazia em seus primeiros capítulos: Não mate a criança no seio de sua mãe e nem depois que ela tenha nascido9.

mãe segurando o pé de seu recém nascido, significando a posição da igreja católica contra o aborto

Em 197 d.C., Tertuliano escreveu em sua obra mais famosa: "Impedir um nascimento é simplesmente uma forma mais rápida de matar um homem, não importando se mata a vida de quem já nasceu, ou põe fim a de quem está para nascer. Esse é um homem que está se formando, pois tendes o fruto já em sua semente10.

A Congregação para Doutrina da Fé, na sua Declaração sobre o aborto provocado, remonta a um breve histórico de condenações ao aborto ao longo da história da Igreja11:

  • O primeiro Concílio de Mogúncia, em 847 d.C., confirma as penas estabelecidas por Concílios precedentes contra o aborto; e determina que seja imposta a penitência mais rigorosa às mulheres "que matarem as suas crianças ou que provocarem a eliminação do fruto concebido no próprio seio"
  • O Decreto de Graciano (1140 d.C.) refere estas palavras do Papa Estêvão V: "É homicida aquele que fizer perecer, mediante o aborto, o que tinha sido concebido"
  • Santo Tomás, Doutor comum da Igreja, ensina no seu Comentário sobre as Sentenças que o aborto é um pecado grave contrário à lei natural por volta de 1252 d.C.
  • Nos tempos da Renascença, o Papa Sisto V condena o aborto com a maior severidade na bula Effraenatam (1588).
  • Um século mais tarde, Inocêncio XI reprova as proposições de alguns canonistas « laxistas », que pretendiam desculpar o aborto provocado antes do momento em que certos autores fixavam dar-se a animação espiritual do novo ser.

A Igreja Católica ainda é contra o aborto

O ensinamento da Igreja Católica a respeito do aborto permanece o mesmo. E a prova cabal disso são os documentos e pronunciamentos dos Santos Padres e do Concílio Vaticano II.

Pio XI escreveu em sua encíclica Casti connubii:

Aqueles, enfim, que têm o supremo governo das nações e o poder legislativo não podem licitamente esquecer-se de que é dever da autoridade pública defender a vida dos inocentes com leis oportunas e sanções penais, tanto mais quanto menos se podem defender aqueles cuja vida está em perigo e é atacada, entre os quais ocupam, sem dúvida, o primeiro lugar as crianças ainda escondidas no seio materno12

Pio XII excluiu toda possibilidade de aborto direto, ou seja, aquele que é intentado como um fim ou como um meio para o fim:

Até ao momento em que um homem não se tornar culpado, a sua vida é intocável; e por isso é ilícito todo e qualquer acto que tenda directamente para destruí-la, quer essa destruição seja intentada como fim, ou somente como meio para o fim, quer se trate de uma vida no seu estado embrionário ou já no seu desenvolvimento pleno ou, ainda, prestes a chegar ao seu termo 13

João XXIII, na encíclica Mater et Magistra, reforçou o caráter inviolável da vida:

A vida humana é sagrada: mesmo a partir da sua origem, ela exige a intervenção direta da ação criadora de Deus. Quem viola as leis da vida, ofende a Divina Majestade, degrada-se a si e ao gênero humano, e enfraquece a comunidade de que é membro. 14

Paulo VI, na Constituição Pastoral Gaudium et Spes:

São João Paulo II, Papa, segurando uma criança; Na Igreja Católica, ele foi um grane baluarte na luta contra o aborto.

O aborto e o infanticídio são crimes abomináveis15

Dentre todos os crimes que o homem pode realizar contra a vida, o aborto provocado apresenta características que o tornam particularmente grave e abjurável16

João Paulo II discorre extensamente sobre o aborto na Evangelium Vitae já citada neste artigo:

Bento XVI, em especial, aos Bispos do Quênia, em visita Ad limina, disse que o aborto nunca pode ser justificado.

O Papa Francisco, por sua vez, sempre foi claramente contrário ao aborto. Poucos dias depois da legalização do aborto na Argentina, ele declarou:

"No século passado, o mundo todo se escandalizou com o que faziam os nazistas para cuidar da pureza da raça. Hoje fazemos o mesmo, mas com luvas brancas de ferro".

A legalização do aborto e o fracasso da nossa sociedade

Zilda Arns, médica sanitarista, fundadora da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa, ferrenha combatente na luta pela redução da mortalidade infantil e, por sua atuação, indicada diversas vezes ao Nobel da Paz, deu uma entrevista contundente, apontando que considerar o aborto como solução significava o fracasso da nossa sociedade:

Tentar solucionar problemas, como a gravidez indesejada na adolescência, ou atos violentos, como estupros e os milhares de abortos clandestinos realizados a cada ano no País, com a legalização do aborto, é uma ação paliativa, que apontaria o fracasso da sociedade nas áreas da saúde, da educação e da cidadania e, em especial, daqueles que são responsáveis pela legislação no país. Não se pode consertar um crime com outro ainda maior, tirando a vida de um ser humano indefeso17.

Uma oração em defesa da vida para todos os católicos

Em momentos como esse, além de ação política de pressionar os parlamentares que votamos, para que representem nossa posição, e nos posicionar publicamente como contrários ao aborto, devemos também — e em primeiro lugar — suplicar a Deus pelas almas das crianças inocentes e pedir para que não permita que manobras como a ADPF 442 sejam feitas. 

Nestes dias, Santa Gianna Beretta Molla é um grande luzeiro humano e espiritual. A santa italiana decidiu continuar com a gravidez de seu quarto filho, em vez submeter-se a um aborto, como lhe sugeriam os médicos para salvar sua vida de um câncer.  Foi canonizada em  2004 pelo então Papa João Paulo II, que a tornou padroeira da defesa da vida.
Por isso, convidamos todos a se unirem a nós rezando a Novena a Santa Gianna, disponível no nosso blog.

Referências

  1. EV, n. 5[]
  2. EV, n. 50[]
  3. G.K. Chesterton, Reforma social versus controle de natalidade, disponível em A Superstição do Divórcio e outros ensaios sobre a família, a mulher e a sociedade[][]
  4. EV, n. 3[]
  5. EV, n. 13[]
  6. EV, n. 12[]
  7. EV, n. 14[]
  8. Declaração sobre o aborto provado, n. 6[]
  9. Didaqué, Cap II, 2[]
  10. Apologia, IX[]
  11. Declaração sobre o aborto provado, n. 7[]
  12. Casti connubii, 67, disponível em Rumo a Santidade[]
  13. Discorsi e radiomessaggi, VI, p. 191, citado em Declaração sobre o aborto provado, n. 15[]
  14. Mater et Magistra, 193[]
  15. Gaudium et Spes, 51[]
  16. Evangelium Vitae, 58[]
  17. IHU Online – "Sou absolutamente contra o aborto" – Unisinos[]