30 de junho de 2025

Mãe e Rainha da Criação

A terra nos foi dada para cultivá-la e para guardá-la

O Círio de Nazaré cultua Maria como "Mãe e Rainha de Toda a Criação". Qual é o sentido desse nome? Inspirado em Laudato Sì, 241, Dom Alberto Taveira, em 20 de outubro de 2024, já explicou o sentido dessa invocação com a qual nos dirigimos a Nossa Senhora de Nazaré. Nesse sentido, é muito o oportuno revisitar o texto disponível em https://www.ciriodenazare.com.br/noticias/tema-do-cirio-de-nazare-2025.

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT.

O Círio de Nazaré é uma celebração importante para a evangelização dos católicos e deseja ser também um apelo aos não católicos. O Círio de Nazaré convida as pessoas de boa vontade para o cuidado com a vida no planeta. Como tudo se relaciona com tudo, defender a criação significa cuidar da natureza e da humanidade, principalmente das pessoas mais pobres; significa também rever e mudar o nosso modo de viver e de professar a fé cristã.

A terra existe antes de nós e nos foi dada por Deus para "cultivá-la e para guardá-la" (cf. Gn 2,15). Na Revelação bíblica, "cultivar" quer dizer lavrar ou trabalhar um terreno, e "guardar" significa proteger, cuidar, preservar. Concretamente "cultivar e guardar a terra" implica uma relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e a criação. Com efeito, todos nós podemos tomar da bondade da terra aquilo de que necessitamos para a sobrevivência, mas temos também o dever de protegê-la e garantir a continuidade da sua fertilidade para as gerações futuras. Não queremos entregar para as próximas gerações uma criação esgotada e destruída. Assim a reciprocidade responsável se desdobra em uma solidariedade inter-geracional.

Os cristãos defendem uma espiritualidade fundada no Deus criador: "ao Senhor pertence a terra" (Sl 24/23,1); a Ele pertence "a terra e tudo o que nela existe" (Dt 10, 14). A conversão ecológica se concretiza na vivência de uma fraternidade que inclui a nossa casa comum e nos faz tomar consciência de que não somos Deus. Por isso Ele nos proíbe toda a pretensão de posse absoluta da criação. A melhor maneira de colocar o ser humano no seu lugar e acabar com a sua pretensão de ser dominador absoluto da terra é voltar a propor a figura de um Pai criador e único dono do mundo; caso contrário, o ser humano tenderá sempre a querer impor à realidade as suas próprias leis e
interesses.

A necessidade de defender a criação de Deus

A criação é muito mais do que a simples natureza, por isso não é suficiente a mera preservação dela. É preciso defender a criação de Deus. Cuidamos da nossa casa comum e temos zelo pela criação porque ela é projeto do amor de Deus. Professar a fé no Criador inclui considerar que, na criação, cada criatura tem um valor e um significado em si mesma. O conceito de natureza se entende habitualmente como um sistema que se analisa e se administra, mas a criação só pode ser concebida como um dom que vem das mãos abertas do Pai, como uma realidade iluminada pelo amor que nos chama a uma comunhão universal.

Como se pode notar, o próprio nome "criação" exprime uma realidade que supera a mera concepção de "natureza". A criação indica o solo, a água, a luz e todos os seres vivos, de modo especial os humanos, na sua relação de amor com Deus. Todos os elementos da criação não estão simplesmente presentes em um único lugar, mas se relacionam e interagem vitalmente: tudo está relacionado com tudo, e tudo está relacionado com Deus, ou seja, são suas criaturas. A cosmovisão cristã se relaciona com o mundo como uma realidade que está repleta de "palavras de amor do Criador".


Nós cremos que a criação pertence à ordem do amor e não somente à ordem econômica dos recursos a serem explorados e consumidos. O amor de Deus é a razão fundamental de toda a criação: "Tu amas tudo quanto existe e não detestas nada do que fizeste; pois, se odiasses alguma coisa, não a terias criado" (Sb 11,24). Assim, cada criatura é objeto da ternura do Pai que lhe atribui um lugar no mundo. Até a vida efêmera do ser mais insignificante é objeto do Seu amor e, naqueles poucos segundos de existência, Ele a envolve com o seu carinho.

Invocamos Nossa Senhora de Nazaré como Mãe e Rainha de toda Criação, porque desejamos ser como ela. Com efeito, "parte da criação alcançou toda a plenitude da sua beleza, no corpo glorificado de Nossa Senhora, junto com Cristo ressuscitado. Maria não só conserva no seu coração toda a vida de Jesus, que "guardava" cuidadosamente (Lc 2,51), mas agora compreende também o sentido de todas as coisas. Por isso podemos pedir a Maria que nos ajude a contemplar este mundo com um olhar mais sapiente" (LS 241).

Dom Julio Endi Akamine, SAC
Arcebispo Coadjutor da Arquidiocese Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/nossa-senhora/mae-e-rainha-da-criacao/

28 de junho de 2025

Imaculado Coração de Maria, escola de amor e pureza

Entre as mais belas expressões da piedade cristã está a devoção ao Imaculado Coração de Maria. Celebrada no sábado seguinte à Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, essa memória nos convida a contemplar o coração da Mãe de Deus como fonte de virtudes, modelo de fé e reflexo do amor divino.

Créditos: Arquivo CN

O que significa dizer que o coração de Maria é imaculado?

Desde o início, a Igreja reconheceu a pureza singular de Maria preservada do pecado original por graça de Deus em vista da missão única de ser Mãe do Salvador. Como proclamou o anjo: "Alegra-te, cheia de graça!" (Lc 1,28). Essa plenitude de graça não se refere apenas ao início de sua existência, mas a toda a sua vida marcada por um amor indiviso a Deus.

O Evangelho nos revela algo profundo sobre o coração de Maria: "Maria guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração" (Lc 2,19). Este coração é o lugar onde a Palavra de Deus é acolhida, amadurecida e compreendida na fé.  São Beda, o Venerável, ensinava que "Maria meditava essas palavras no coração, não por simples curiosidade, mas para compreender com mais profundidade os mistérios que nela se realizavam."

Um coração que amou a Deus com perfeição 

O coração de Maria é também um coração que sofre. No templo, Simeão profetiza: "Uma espada transpassará tua alma" (Lc 2,35). Ela participa intimamente da Paixão do Filho, unida a Ele na dor redentora. Como disse São Bernardo: "No martírio da cruz, foi a alma de Maria que foi traspassada pela lança, não o corpo".

Contemplar o Imaculado Coração de Maria é, portanto, olhar para um coração que amou a Deus com perfeição e aos homens com ternura. Ele é símbolo da maternidade espiritual de Maria, pois, como Mãe da Igreja, ela continua a interceder, amar e cuidar.

Na Liturgia, o prefácio da missa destaca: "No coração da Virgem Maria, habitou o Espírito Santo com a plenitude dos seus dons; nele, Vós plasmastes um templo novo e puro, e dele fizestes resplandecer a glória de Cristo." O coração de Maria é a morada onde Deus repousou.


O coração de Maria é inseparável do Coração de Jesus

E mais ainda: o coração de Maria é inseparável do Coração de Jesus.

Podemos dizer, com os santos e místicos da Igreja, que o Coração de Maria é o próprio Jesus, pois tudo nela vive em função d'Ele, tudo nela foi moldado por Ele, tudo nela aponta para Ele. "Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração" (Mt 6,21). E o tesouro de Maria é o seu Filho.

Essa devoção foi especialmente promovida nas aparições de Fátima, onde Nossa Senhora pediu a consagração ao seu Imaculado Coração como caminho de conversão e paz. "Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará", disse ela aos pastorinhos. Essa promessa não é apenas profética, mas um chamado: quando acolhemos Maria em nossa vida, ela nos conduz a Cristo e nos forma no amor.

Neste tempo em que tantos corações se fecham ou se endurecem, o Coração Imaculado de Maria é um refúgio seguro. Nele aprendemos a escutar, a confiar, a amar sem reservas. Que Maria nos ensine a guardar a Palavra no coração, a viver na graça e a oferecer nossa vida como ela: com pureza, coragem e total entrega a Deus.

Pe. Diogo Shishito
Especialista em Liturgia, Diocese de Mogi das Cruzes. 


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/nossa-senhora/imaculado-coracao-de-maria-escola-de-amor-e-pureza/

27 de junho de 2025

O Sagrado Coração de Jesus

A densidade espiritual dessa devoção 

Na tradição espiritual católica, o mês de junho é dedicado ao Coração de Jesus. Neste ano, a solenidade do Sagrado Coração de Jesus ganha um sentido ainda mais especial porque comemora o aniversário da conclusão da experiência mística com a qual a monja visitandina Margarida Maria Alacoque (1647-1690), hoje santa, foi agraciada. Qual é a densidade espiritual dessa devoção exclusiva da Igreja Católica Apostólica Romana?

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Bem na metade do ano civil, dá-se a celebração do Coração de Jesus. Essa devoção tem contribuído para a santificação de muitos membros da Igreja! Há mais de três séculos, homens e mulheres têm percorrido o itinerário da vida cristã ajudados por essa via devocional que situa o batizado numa atitude de contemplação do amor infinito de Deus em si mesmo e do transbordamento desse amor sobre a humanidade. O amor contemplado é traduzido em palavras e ações que refletem assim a dimensão encarnada do amor divino na Igreja e no mundo.

Um forte apelo à reparação

Entre os anos de 1673 e 1675, Santa Margarida Maria Alacoque foi agraciada com a experiência mística que deu origem à devoção ao Sagrado Coração de Jesus como se conhece hoje. Nas aparições de Jesus, Ele pediu a prática da Hora Santa reparadora (adoração eucarística) às quintas-feiras, a comunhão eucarística às primeiras sextas-feiras de cada mês e a celebração de uma solenidade dedicada ao seu Coração na conclusão da oitava de Corpus Christi. Neste ano, a Igreja celebra, com júbilo, os 350 anos da conclusão dessas aparições ocorridas em Paray-le-Monial na França.

É importante elucidar que no conteúdo místico das aparições há um forte apelo à reparação. O homem pecador é ingrato em relação a Deus. Na Bíblia, o pecado de ingratidão para com Deus está na origem da murmuração (cf. Sl 95, 8-11) que, quando não vencida, leva à idolatria. Os homens ofendem a Deus por causa dos seus pecados. A maioria dos pecadores não têm consciência disso e, ademais, não vive de modo agradecido ao seu Criador e Senhor. Os praticantes da devoção ao Coração de Jesus assumem o compromisso de fazer o ato de reparação, mostrando assim a solidariedade na culpa, ou seja, todos compartilham a mesma condição pecadora e quem tem consciência disso tem o dever amoroso de realizar o ato de reparação para o benefício espiritual dos que ainda não tem essa consciência, fazendo valer as palavras do próprio Jesus: "Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!" (Lc 23, 34).


Essa devoção exclusivamente católica possui uma robusta densidade espiritual porque situa a pessoa que a pratica diante do mistério da Encarnação. Papa Francisco presenteou a Igreja com a encíclica Dilexit nos, sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus. No número 48, ele estabelece a relação entre a devoção e o mistério encarnatório: "A devoção ao Coração de Cristo não é o culto a um órgão separado da Pessoa de Jesus. O que contemplamos e adoramos é a Jesus Cristo por inteiro, o Filho de Deus feito homem, representado numa imagem sua em que se destaca o seu coração."

A necessidade de reparação e o espírito de adoração 

Considerando tudo o que foi exposto acima, conclui-se que essa prática devocional conduz à adoração da Pessoa divina que – sendo amor infinito em si, em comunhão com o Pai e o Espírito Santo – se encarnou para comunicar esse amor e chamar os homens a entrar nessa relação de amor. No mistério da divino-humanidade do Filho de Deus, é possível fazer a grande descoberta de que "Deus é Deus e nos ama com um Coração de carne" (São Francisco de Sales).

Que a Solenidade do Coração de Jesus reacenda, no coração dos católicos, a chama ardente do amor, a consciência da necessidade de reparação e o espírito de adoração ao mistério da divino-humanidade do Filho de Deus!

Pe Robison Inácio de Souza Santos
Diocese de Guaxupé-MG, doutorando em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/o-sagrado-coracao-de-jesus-3/

Por que o alcoolismo é pecado?

Tudo que atenta contra a vida humana está contra a vontade de Deus. Jesus disse que veio "para que tenhamos vida e a tenhamos em abundância" (Jo 10,10). Nosso corpo é templo da Santíssima Trindade. São Paulo disse: "Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito Santo habita em vós. Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é sagrado – e isto sois vós" (1 Cor 3,16-17).

Há muitas maneiras de destruir o corpo e a vida: a violência, os esportes perigosos e absurdos, e as drogas, como a maconha, cocaína, crack, LSD, alcoolismo…

Alcoolismo

Tudo isso é pecado porque ofende o Autor da vida, que nos deu a vida como um grande dom e presente para ser vivida para os outros. A vida não é nossa, é de Deus; não sabíamos o dia do nascimento e não sabemos o dia da morte. Ela está em nós, mas não nos pertence. Somos administrador dela e teremos de prestar contas ao Criador.

Créditos: Imagem Gerada por Inteligência Artificial / Gemini

Como lidar com o vício do meu cônjuge?

O alcoolismo destrói a pessoa radicalmente. Seu cérebro vai sendo "cozido" pelo álcool e todo o organismo vai morrendo, especialmente o fígado. Dá pena ver quantos homens e mulheres jovens dominados pelo álcool! Além disso, a família sofre as terríveis consequências de um pai ou de uma mãe embriagados; o casamento perece, os filhos sofrem… "O salário do pecado é a morte" (Rom 6,13).


Todo cristão tem de lutar contra a bebida

As razões pelas quais a pessoa mergulha no álcool, compulsivamente, são muitos. A música "O Ébrio", de Vicente Celestino, retrata bem isso. Em muitos se torna uma doença, e isso diminui, de certa forma, a culpa. Mas todo cristão tem de lutar contra a bebida. Não se deixar buscar nela uma fuga para os problemas da vida. É uma atitude de fraqueza e covardia. São Paulo diz: "Não vos embriagueis com vinho, que é uma fonte de devassidão, mas enchei-vos do Espírito" (Ef 5, 18). O Apóstolo não está proibindo beber vinho moderadamente, mas se embriagar. Ele recomendava a Timóteo "tomar também um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes indisposições" (I Tm 5, 23).

Vigilância e oração

O cristão pauta a sua vida pela "vigilância e oração" e coloca todas as suas preocupações nos braços do Pai e confia nele, sem buscar nas fugas a solução errada para seus males. É na oração, na Palavra de Deus, na Eucaristia e na Confissão, no santo Terço, que vamos buscar forças para vencer nossas mazelas, mas jamais no álcool.

Aqueles que, porventura, se entregaram ao vicio, devem lutar com as armas da fé, citadas acima, e as armas da terapia: acompanhamento médico, podendo participar dos Alcoólicos Anônimos, buscar uma boa Casa de Recuperação, como as de Bethânia, fundadas por padre Léo etc.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/por-que-o-alcoolismo-e-pecado/

25 de junho de 2025

A guerra tem algum sentido?

Certamente uma das maiores derrotas da humanidade é o fato da guerra. Derrota, porque na guerra ninguém sai vitorioso. Ela nunca terá sentido ou justificativa plausível. Por isso, precisamos observar cuidadosamente a forma como comentamos sobre esta realidade. Principalmente quando tentamos justificar partindo de uma visão simplória. Mas, é interessante que meditemos sobre este tema. A fim de que entendamos os fundamentos que levam os homens a travar batalhas contra seus semelhantes. 

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / Krea.

Rápida visão histórica do modo de fazer guerra

O modo de fazer guerra foi modificado ao longo dos séculos. Começou-se de forma muito rudimentar e limitada. Com as primeiras colônias humanas com o intuito de defender seus recursos primários, ou de buscar os mesmos. Mas, com o passar do tempo e o evoluir das técnicas, o modo de fazer guerra mudou. E em pouco espaço de tempo transformou drasticamente. O que não mudou ao longo dos séculos são as mortes, sofrimentos psicológicos e humano-afetivos. Estas feridas continuam a ser sentidas em todas as eras. 

Quando pensamos em guerra, muitas vezes pensamos naquele combate corpo a corpo. Soldado contra soldado. Que medem forças em combates diretos. Ou, como vemos em filmes ambientados na primeira ou segunda grande guerra, com trincheiras cavadas num campo aberto, onde os dois exércitos atiram uns contra os outros.

O modelo de fazer guerra

Hoje o modelo de fazer guerra, diz muito mais sobre controles remotos e botões do que propriamente e diretamente no combate entre os soldados. Isto leva a um desastre ainda maior. Porque colocou todos os lugares do mundo em completa insegurança. Anteriormente os campos de batalha eram os lugares mais tensos num combate, existiam locais estabelecidos previamente para o combate. Normalmente eram estrategicamente montados como forma de proteger regiões importantes como fábricas, e cidades inteiras. Agora nenhum desses lugares está seguro. 

Mísseis podem ser lançados do outro lado do globo terrestre em um local tão preciso. Tais artefatos podem viajar em velocidades impressionantes, e carregar um poderio destrutivo que chega a assustar até os mais entendidos nestas técnicas. 

Atualmente, instrumentos, artigos, tecnologias e armamentos para o combate têm tomado o cenário da crise geopolítica. Diversas nações buscam desenvolver armas com capacidade cada vez maior de destruição, a fim de intimidar outras nações consideradas inimigas.

Alguns dados sobre as guerras

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) cerca de 30 países estiveram envolvidos no conflito. Durante a Segunda Guerra Mundial, considerado o maior conflito da história, mais de 72 países estiveram envolvidos no conflito. 

Atualmente, segundo dados na internet, cerca de 120 nações em todo o mundo estão vivendo algum tipo de conflito armado em curso, onde 60 dos 193 Estados ligados às Nações Unidas, estão em conflitos. Isso significa 31% dos países do mundo. Alguns destes, são de caráter local, como as chamadas "guerras civis", ou seja, não são conflitos com outras nações diretamente falando.  

Apesar do nosso país não estar diretamente ligado a algum conflito ou, oficialmente, não estar em guerra, nem mesmo interna, chamada guerra civil, vivemos um verdadeiro conflito armado cotidianamente contra facções criminosas ligadas ao tráfico de drogas. Isso coloca uma tensão sobre a vida comum das pessoas. Mas, sem minimizar o sofrimento de quem vive em lugares de conflito, não poderíamos comparar a angústia de quem vive o tempo inteiro sobre a tensão de uma possível bomba cair sobre sua cabeça ou, ter a liberdade de ir e vir cerceada por causa de um possível bombardeio. Pensando assim, acho importante que nós que vivemos em paz, devemos refletir um pouco sobre o tema das guerras.

Existe alguma justificativa para se fazer guerra?

A resposta a esta questão do ponto de vista cristão é muito simples: não existe justificativa. Mas do ponto de vista meramente mundano, porque não entendo este como sendo humano, ele poderia ser justificável sobre diversos modos, que vão desde interesses escusos, especulativos, até religiosos, o que nos assombra ainda mais. Por isso, diante destes números poderíamos questionar os reais motivos dessas guerras. Mas, como o cenário é bastante complexo, fica difícil dar uma única "justificativa" para o desenrolar deste ou daquele conflito. Usamos a palavra justificativa entre parênteses, porque não creio haver uma justificativa qualquer para o uso da força e da violência, pois para mim ela nunca será racionalmente justificável.

Mas apresentamos alguns argumentos comumente utilizados: 

  1. Segurança Nacional e Defesa, principalmente quando se fala de soberania da nação, prevenção de ataques dos outros, ou para proteger os cidadãos;
  2. Interesses Geopolíticos e Econômicos, este últimos têm sobressaído nos últimos tempos, pois tende a estabelecer disputas por recursos naturais importantes, como combustíveis, gás, água entre outros. Mas também controle de rotas comerciais, influência, investimentos financeiros. 
  3. Questões ideológicas e políticas. Promoção de sistemas de governo ou ideologias muitas vezes justificáveis como democracia, socialismo, liberalismo econômico. Outros conflitos estão no âmbito do combate ao terrorismo, ou por mudança de regime de governo, algumas vezes pressionados por países aliados. Apoio a sistemas separatistas ou de libertação e independência.
  4. Outros conflitos são de caráter histórico ou cultural. Também entram aqui questões de religião, reivindicações de territórios históricos, nacionalismos. 
  5. Também tem um ponto que tem sobressaído nos últimos tempos, que é o controle pela informação e pelas novas tecnologias, como a inteligência artificial. Alguns justificam que redes sociais podem ser causa de espionagem ou de implantação de espionagem velada. 

Enfim, diversas são as "justificativas" e argumentações para se desenvolver guerra, mas, repito, nenhuma delas poderiam verdadeiramente ser aceitas por quem segue o Deus da paz, Cristo Jesus. 


Paz na Terra

O Santo Padre o Papa São João XXIII, em 1963, publicou uma encíclica chamada "Pax in Terris". Esta foi a primeira Encíclica em que o Papa não se dirigiu diretamente aos católicos, mas a "todos os homens de boa vontade". Quando o Papa publicou esta Encíclica o mundo vivia a chamada "Guerra Fria". O Papa então utilizando do seu magistério convocou o mundo a urgente necessidade de promover a paz mundial baseada na verdade, justiça, caridade e liberdade. 

Esta mesma Encíclica agora é mais atual como nunca. Precisamos trazer em nossas mentes e em nossos corações que é urgente o estabelecimento da paz. Já alguns comentaristas, dizem de uma iminente Terceira Guerra Mundial, pelos números apresentados anteriormente penso que já estamos vivenciando o prelúdio desta guerra. Mas, penso ser ainda tempo de interromper esta sinfonia marcada pelo drama e por fortes movimentos. 

A paz na Terra, certamente só será construída diante destes quatro pilares apresentados pelo Papa. 

  1. A verdade deve prevalecer e não os interesses individuais transvestidos de caridade. 
  2. Deve manifestar a verdadeira caridade que provém do termo latino, muitas vezes traduzido por "amor". Amor que vem de Deus, que atravessa o coração humano e chega a todos os cantos do mundo. 
  3. Para que seja implantada a justiça, a fim de que aqueles que não desejam promover a paz, sejam removidos de seus postos e possam estes serem ocupados pelos verdadeiros promotores da paz e da liberdade dos povos. 
  4. A fim de que a ninguém seja imposto o julgo da escravidão, principalmente aquela do pecado, que já foi redimido pelo sangue de Cristo.

Por fim, rezemos, irmãos caríssimos, pela paz em nossas comunidades, em nosso País e no mundo inteiro.

Salmo 121 

 1.Cântico das peregrinações. De Davi. Que alegria quando me vieram dizer: "Vamos subir à casa do Senhor…".

2.Eis que nossos pés se estacam diante de tuas portas, ó Jerusalém!

3.Jerusalém, cidade tão bem edificada, que forma um tão belo conjunto!

4.Para lá sobem as tribos, as tribos do Senhor, segundo a Lei de Israel, para celebrar o nome do Senhor.

5.Lá se acham os tronos de justiça, os assentos da casa de Davi.

6.Pedi, vós todos, a paz para Jerusalém, e vivam em segurança os que te amam.

7.Reine a paz em teus muros, e a tranquilidade em teus palácios.

8.Por amor de meus irmãos e de meus amigos, pedirei a paz para ti.

9.Por amor da casa do Senhor, nosso Deus, pedirei para ti a felicidade.

 

Pe. Jaelson C. Santos

 

Referências

João XXIII, Pacem in Terris, 1963, em https://www.vatican.va/content/john-xxiii/pt/encyclicals/documents/hf_j-xxiii_enc_11041963_pacem.html [acesso: 16.6.2025].

«Feliz Ano Novo, com 120 guerras em andamento no mundo», em Nexo Jornal, em https://www.nexojornal.com.br/feliz-ano-novo-com-120-guerras-em-andamento-no-mundo [acesso: 16.6.2025].

«O que foi a Guerra Fria?», Brasil Escola, em https://brasilescola.uol.com.br/guerras/guerra-fria.htm [acesso: 23.6.2025].

«Primeira Guerra Mundial: resumo, estopim, consequências», Mundo Educação, em https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/primeira-guerra-mundial.htm [acesso: 23.6.2025].

«Primeira Guerra Mundial: tudo sobre essa guerra global», Brasil Escola, em https://brasilescola.uol.com.br/historiag/primeira-guerra.htm [acesso: 23.6.2025].


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/guerra-tem-algum-sentido/

Crianças na Igreja: um sinal de Igreja viva e em crescimento

Não desista de levar as crianças para Deus

Crescer na fé é um caminho que começa desde cedo: acolher as crianças na Igreja é garantir um futuro cheio de esperança para toda a comunidade. Levar as crianças à Missa é, muitas vezes, um desafio para pais e mães. Muitos compartilham relatos de desconforto diante de olhares de reprovação de outros fiéis, pouco acostumados com a presença e a energia dos pequenos durante as celebrações. Vivemos em uma sociedade que valoriza cada vez menos a natalidade e, por isso, a presença de crianças nos bancos da igreja pode causar estranhamento. No entanto, é justamente essa presença que revela uma Igreja viva, cheia de esperança e futuro.

Crédito: galitskaya / GettyImages

Recentemente, um episódio em Jundiaí (SP) chamou atenção:

uma celebração foi interrompida após uma mulher, incomodada com o barulho de uma criança, usar spray de pimenta contra a família. O ocorrido gerou tumulto, feriu pessoas e trouxe tristeza à comunidade. Em resposta, Dom Arnaldo Carvalheiro Neto, bispo de Jundiaí, manifestou solidariedade às vítimas e reafirmou o compromisso cristão com a paz, a dignidade humana e a não violência, valores inegociáveis para quem segue o Evangelho.

Diante de situações como essa, é fundamental lembrar o ensinamento de Jesus: "Deixem as crianças virem a mim" (Mt 19,14). O Papa Francisco reforça: "As crianças choram, fazem barulho em todos os lugares. Mas nunca podemos expulsar as crianças que choram na igreja". O choro de uma criança na Missa é sinal de uma comunidade viva, em missão, e não motivo para exclusão. Sobre esse tema, minha esposa Adelita Stoebel e eu escrevemos o livro Como Participar da Missa com Crianças, pela Editora Canção Nova.

A participação das crianças na Eucaristia é uma oportunidade única de formação na fé

O Papa Bento XVI destacou que a presença dos pais com seus filhos na Missa dominical é uma poderosa pedagogia para transmitir a fé e fortalecer os laços familiares. O domingo, ao longo da história da Igreja, é o momento privilegiado de encontro com o Senhor ressuscitado em comunidade.

É natural que, em algum momento, a criança chore, se distraia ou até tropece no banco. Nessas horas, a acolhida da comunidade e o carinho dos sacerdotes fazem toda a diferença, mostrando que todos são bem-vindos na casa de Deus. O importante é não desistir: a Missa é espaço de aprendizado, crescimento e graça para todos, inclusive para os pequenos.

Transmitir a fé às novas gerações é missão de toda a Igreja. Nossos pais e avós nos deixaram esse tesouro; agora, cabe a nós passá-lo adiante, com paciência, amor e confiança de que Jesus vê e valoriza cada esforço. Respire fundo, leve seu filho para Deus e permita que ele cresça "em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e das pessoas" (Lc 2,52).

Rodrigo Luiz dos Santos – Missionário da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/criancas-na-igreja-um-sinal-de-igreja-viva-e-em-crescimento/

24 de junho de 2025

Por que preciso de direção espiritual?

Buscar uma direção espiritual é importante, porque, desde que nascemos, precisamos da ajuda do outro. No nascimento, precisamos dos cuidados de nossos pais, precisamos do alimento, do leite materno que não pode ser descartado ou substituído por outro, pois este tem sua riqueza em vitaminas. Para a criança recém-nascida, não tem jeito, ela precisa do leite humano.

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT.

Deve ser por isso que Deus quis criar o ser humano. O Senhor quis que as pessoas se relacionassem; então, criou a mulher, a fim de que ela fosse companheira, uma "auxiliar que correspondesse a ele" (Gn 2,20).

Isso também se aplica à vida espiritual. Por mais que já tenhamos um bom tempo de caminhada ao lado de Deus – sejam cinco, dez, vinte anos servindo num grupo, numa pastoral –, para que possamos dar algo precisamos também receber, precisamos de alguém que nos instrua, que nos ilumine nas decisões. Por isso há a necessidade não só de formação, mas de alguém que caminhe conosco e nos ajude a discernir quais passos devem ser dados.

Relação entre acompanhador e acompanhado

Vamos usar alguns termos para que essa reflexão fique clara: "acompanhador" e "acompanhado". Acompanhador é o diretor espiritual; acompanhado aquele que é dirigido.

No acompanhamento espiritual, pode haver um momento de "tirar as dúvidas"; contudo, nesse sentido, o acompanhado deve buscar formação, por isso o acompanhamento trata-se de um diálogo, uma partilha entre acompanhado e acompanhador, para que tal situação seja iluminada. Por essa razão, a vida de oração é imprescindível. Atenção! A vida de oração precisa ser vivida pelo acompanhador e pelo acompanhado; senão, fica muito fácil cobrar o acompanhador e jogar a responsabilidade sobre ele.


Por que preciso de um acompanhador espiritual? Porque preciso dos outros não só nas realidades básicas, humanas e profissionais, mas também na realidade espiritual. Muitas vezes, erramos, porque não temos alguém ao nosso lado para nos escutar, para dar uma luz sobre esse ou aquele assunto.

A direção espiritual é um caminho de humildade

Preciso de direção espiritual, porque necessito de ajuda, porque sou falho, porque não sou perfeito. A busca por um acompanhador espiritual é também uma atitude de humildade, um remédio contra a autossuficiência, contra o orgulho. Preciso de um acompanhador, porque nem sempre estou certo. Se precisei de alguém quando criança, quando adolescente e até adulto para realizar algumas tarefas, mesmo com alguma autonomia e autoridade, preciso do outro para continuar acertando ou para errar menos.

Por fim, o acompanhador é uma boa ajuda para que se viva bem a vida espiritual e, consequentemente, para que se viva bem as outras realidades da vida, pois estão estreitamente ligadas. Quando eu estiver bem com Deus, estarei bem com o outro, estarei bem com a vida profissional e todas as outras coisas deslancharão. E mesmo que as outras realidades não estejam bem, o fato de estar bem espiritualmente, de estar sendo acompanhado, faz com que eu tenha paciência, sobriedade e calma com as confusões ao meu redor, "mesmo que a figueira não renove seus brotos, a parreira deixe de produzir, se as ovelhas desapareçam dos pastos, estarei feliz no Senhor (Hab 3,17-18). Não significa ser passivo, mas, sendo acompanhado, terei calma para ver tal situação como um desafio a ser vencido à luz do Espírito Santo com diálogo e esperança.

Equipe do Formação Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/por-que-preciso-de-direcao-espiritual/

23 de junho de 2025

Todos na mesma barca

"Ninguém se salva sozinho. Todos estão na mesma barca." Mas muitos ainda remam sozinhos

Sempre forte e interpelante é o gesto poético-espiritual do Papa Francisco, na Praça São Pedro – a praça das multidões. Somente o Pontífice, trajando o branco da paz, em oração na praça vazia, naquele contexto de pandemia da COVID-19, que dizimou tantas vidas. Das palavras proféticas de Francisco ecoou a sabedoria do Evangelho inspirada na cena da tempestade que amedrontou os discípulos de Jesus: "Ninguém se salva sozinho. Todos estão na mesma barca". Essa convicção é uma sabedoria que se contrapõe ao orgulho pretensioso e à ingratidão, fundamentos da torre de Babel que é monumento à soberba humana. A consciência de que se está em travessia, partilhando o trajeto de toda a humanidade, assevera a verdade de que todos estão "na mesma barca" e só a humilde atitude de se reconhecer como membro de um mesmo "corpo", que é a "barca", pode levar ao cultivo do sentimento de pertencimento, desdobrado na sábia coragem para contribuir no enfrentamento da "tempestade" que leva perigo a todos.

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / Krea

Sabiamente, a Igreja Católica, na sua tradição e ensinamentos bimilenares, se reconhece como uma "barca", a "barca de Cristo", sob o leme comandado por Pedro, em uma travessia perigosa e exigente. A riqueza dessa metáfora, com força sapiencial e em tom de advertência, é aplicável à humanidade, à família de cada um, às instituições. Em todos os contextos, ninguém se salva sozinho.

Essa incontestável verdade, para alicerçar a corresponsabilidade de uns pelos outros, pede atitudes fundamentadas em adequada envergadura moral, espiritual e humanística, essencial a uma "travessia" vitoriosa. Essa adequada envergadura não pode ser confundida com capacidade intelectual.

O avanço de uma sociedade cada vez mais individualista

Aliás, causa perplexidade constatar que há cidadãos racional e intelectualmente muito capacitados, mas com sérios comprometimentos humanos e emocionais. Revelam essas lacunas na incompetência para superar mágoas, na inabilidade para exercer a gratidão pelo muito que receberam. Assim, julgam-se no direito de agir tiranicamente e tudo reduzir ao tamanho de suas emoções, ao seu modo de enxergar situações, pessoas.

Os que se deixam contaminar pela ingratidão não são capazes de perceber: nas suas próprias conquistas também estão inscritos aqueles com os quais se partilha a mesma "barca de travessia". A incapacidade para reconhecer a importância do semelhante na própria vida leva à perda de oportunidades, alimenta o ódio, desencadeando ataques.

Um caminho que pode até levar a conquistas efêmeras, pois são alcançadas com prejuízos à própria "barca". A falta de competência para enxergar que "ninguém se salva sozinho" explica a escassez de lideranças transformadoras. Ao invés de líderes, na sociedade surge cada vez mais pessoas enjauladas no cartório de seus interesses, situados no horizonte encurtado das convicções próprias.


Consequentemente, convive-se com prejuízos de todo tipo, das impositivas depredações ao meio ambiente, inflamando reações perigosas da natureza, até o desrespeito a direitos, desconsiderando a dignidade humana, justificando os preconceitos, a propagação de mentiras, autoritarismos e manipulações.

Respeito, gratidão, generosidade e humildade: Os alicerces fundamentais para um mundo mais empático

"Todos na mesma barca" deve ser interpelante princípio existencial para fecundar uma espiritualidade do respeito e da gratidão, da generosidade e da humildade, do compromisso com a vida de todos, para dissipar mágoas que multiplicam inimigos, ódios que justificam todo tipo de guerra. Esse princípio existencial e espiritual- "todos na mesma barca" – pode ter propriedades que alicerçam pertencimentos restauradores e promotores do bem comum. E, assim, qualificar a política, iluminar procedimentos profissionais e garantir legalidades a funcionamentos institucionais, articular melhor os poderes de uma república e amenizar as irritações que têm pautado relacionamentos nos lares, nas redes sociais e em tantos outros ambientes. A espiritualidade do pertencimento mútuo e fraterno é saída para a superação de naufrágios com perdas irreversíveis, alimentados pela guerra de palavras.

Em vez de guerrear por palavras, cultivar a espiritualidade do pertencimento mútuo e fraterno. Ajuda nesse exercício acolher o que diz Santo Antônio, hoje celebrado: "Cessem as palavras, falem as obras". Palavras sem obras podem estar na contramão da "barca", deixando-a à deriva. Vale adotar princípio evangélico que é regra de ouro: o outro é sempre mais importante porque todos estão na mesma "barca". Desconsiderar esse princípio é singrar rumo à tempestade, perecer por cultivar sentimentos e atitudes que levam às profundezas. Ainda há tempo de se salvar. O caminho é se pautar pela consciência de que todos estão na mesma barca.


 


Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. No Brasil, é bispo referencial para os fiéis católicos de Rito Oriental. http://www.arquidiocesebh.org.br


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/todos-na-mesma-barca/

20 de junho de 2025

Refugiados, Esperança e Resiliência em meio a guerra

A presença viva dos franciscanos na Terra Santa, em meio a conflitos, caos e desespero, revela histórias de resiliência e fé que brilham através da escuridão.
Dedicam suas vidas a servir o povo da Terra Santa e se esforçam para ser faróis inabaláveis de esperança que emanam da luz da gloriosa Ressurreição, mesmo em meio à guerra em curso em Gaza e à violência desenfreada atual envolvendo Israel e o Irã.
Conheceremos o testemunho de um Franciscano, o Pe. John Luke sobre a experiência pessoal de sua vida dedicada aos refugiados em meio a turbulência e o caos da Guerra na Terra Santa, com olhar à Luz dá Ressurreição.

Crédito: Naeblys / GettyImages

 

A experiência missionária

Embora o cenário político tumultuado possa ser avassalador, a minha experiência pessoal reflete um compromisso profundamente enraizado com os dons pentecostais do Espírito de amor, esperança e paz, todos incorporados na promessa da Ressurreição.
A minha jornada como guardião da esperança começou muito antes do início das hostilidades atuais. Cheguei à Terra Santa com o coração cheio de compaixão, inspirado pelos ensinamentos de Cristo e pelo compromisso franciscano de abraçar a pobreza, a humildade e o serviço. No entanto, como manter esse espírito diante da violência que permeia o cotidiano?
A resposta está em uma fé profunda e na compreensão da Ressurreição. Todos os dias, testemunhamos a fragilidade da vida. Os sons de sirenes, explosões e gritos daqueles que sofrem tornaram-se um pano de fundo constante para nossa missão, tanto na Terra Santa quanto nos territórios atendidos pela Custódia, que inclui Rodes.

A resiliência do espírito humano

No entanto, dentro desse exterior sombrio, vemos a resiliência do espírito humano. São as pessoas que nos cercam — famílias separadas, crianças assustadas com os sons da guerra e idosos sobrecarregados pela tristeza. Nessas interações, podemos encontrar a essência da esperança e do amor. Somos inspirados por indivíduos que, apesar de perderem tudo, continuam a ajudar uns aos outros, incorporando os próprios ensinamentos de Cristo.

A união e o amor podem vencer o ódio e a divisão

Nosso ministério se estende além do cuidado espiritual, envolve atos tangíveis de serviço, fazendo tudo o que podemos para unir pessoas de diferentes religiões em uma busca comum pela paz. Nossa crença é na dádiva do Espírito — a idéia de que o amor e a compaixão são os dons supremos uns aos outros — deve ser transparente em nossas ações concretas. Mesmo nos momentos mais sombrios, quando o desespero ameaça nos consumir, tentamos transmitir a mensagem de que a união e o amor podem vencer o ódio e a divisão. Além disso, como observação pessoal, digo que a minha compreensão da Ressurreição serve como pedra angular dessa esperança, ou seja, a promessa de vida além da morte não é meramente um conceito teológico, é, e deve ser, uma realidade vivida.

Vislumbrar um futuro de paz

A cada Páscoa, ao celebrarmos a Ressurreição, encorajamos nossas comunidades a enxergar além da tristeza do momento e a vislumbrar um futuro onde reine a paz.
A esperança da Ressurreição não é apenas um evento, mas um poderoso convite para ver cada momento de escuridão como um precursor da luz. Apegar-se ao dom do Espírito significa promover uma disposição interior de paz, independentemente das circunstâncias externas.
Durante nossas orações diárias, onde o silêncio se torna um refúgio, ouvir a voz de Deus se torna uma prática central, pois é nesses momentos sagrados que podemos vivenciar a transformação de nossos corações, à medida que o medo dá lugar à fé, e a desesperança é gentilmente substituída pela coragem de seguir em frente em meio à turbulência.

A esperança é uma ação poderosa que nasce da fé

Nesta última semana, presenciei na Terra Santa a guerra a todo vapor ao nosso redor, os mísseis voando sobre o telhado do mosteiro às centenas, e ainda assim, tornou-se um lembrete pungente de que a alegria pode florescer mesmo no desespero, e a paz pode ser firmemente plantada quando nutrida por atos de bondade, compreensão e amor.
De fato, enquanto as guerras continuam, as sementes de esperança que cultivamos florescerão onde houver crentes que se reúnem para buscar e fomentar o espírito resiliente de fé, que olha sempre para o horizonte com expectativa de que dias melhores virão.
Afinal, a esperança não é apenas um sentimento — é uma ação poderosa que nasce da fé, da verdade inabalável, na bondade da humanidade, e na promessa do amor divino encarnado no Espírito da verdade.

Pe. John Luke Gregory, ofm
Pároco Igreja Santa Maria – Rodes
Membro da Comissão Justiça e Paz e  Membro do Conselho Geral da Custódia da Terra Santa


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/dia-mundial-dos-migrantes-e-refugiados/

19 de junho de 2025

Conheça a história da Festa de Corpus Christi

Todas as quintas-feiras, depois da oitava de Pentecostes, a Igreja celebra a festa de Corpus Christi, mas nem sempre foi assim. Vejamos, então, como essa festa tomou a proporção que ela tem hoje.

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

Uma primeira coisa a saber é que não existe registro do culto ao Santíssimo Sacramento fora da Missa no primeiro milênio. Nesse período, a Eucaristia ministrada fora da Missa era somente para os doentes.

A partir do segundo milênio, no entanto, por meio de um movimento eucarístico, cujo centro foi a Abadia de Cornillon, fundada em 1124, pelo Bispo Albero em Liége, na Bélgica, podemos constatar costumes eucarísticos: exposição e bênção do Santíssimo Sacramento, o uso dos sinos durante sua elevação na Missa e, consequentemente, a festa do Corpus Christi.

Solenidade de Corpus Christi

A Solenidade em honra ao Corpo do Senhor – "Corpus Chisti" –, que hoje celebramos na quinta-feira após a oitava de Pentecostes, mais precisamente depois da festa da Santíssima Trindade, é oficializada somente em 1264 pelo Papa Urbano IV.

Como bem sabemos, Deus costuma se revelar aos humildes e pequenos, e Ele se utilizou de uma simples jovem para lhe revelar a festa de Corpus Christi. Segundo os registros da Igreja, Santa Juliana de Cornillon, em 1258, numa revelação particular, teria recebido de Jesus o pedido para que fosse introduzida, no Calendário Litúrgico da Igreja, a Festa de Corpus Domini.

Santa Juliana nasceu, em 1191, nos arredores de Liège, na Bélgica. Essa localidade é importante, e, naquele tempo, era conhecida como "cenáculo eucarístico". Nessa cidade, havia grupos femininos generosamente dedicados ao culto eucarístico e à comunhão fervorosa.

Tendo ficado órfã aos cinco anos de idade, Juliana, com a sua irmã Inês, foram confiadas aos cuidados das monjas agostinianas do convento-leprosário de Mont Cornillon. Mais tarde, ela também uma monja agostiniana, era dotada de um profundo sentido da presença de Cristo, que experimentava vivendo, de modo particular, o Sacramento da Eucaristia.

Começo da festa

Com a idade de 16 anos, teve a primeira visão. Via a lua no seu mais completo esplendor, com uma faixa escura que a atravessava diametralmente. Compreendeu que a lua simbolizava a vida da Igreja na Terra; a linha opaca representava a ausência de uma festa litúrgica, em que os fiéis pudessem adorar a Eucaristia para aumentar a , prosperar na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento.

Durante cerca de 20 anos, Juliana, que entretanto se tinha tornado priora do convento, conservou no segredo essa revelação. Depois, confiou o segredo a outras duas fervorosas adoradoras da Eucaristia: Eva e Isabel. Juliana comunicou essa imagem também a Dom Roberto de Thorete, bispo de Liége. Mais tarde, a Jacques Pantaleón, que, no futuro, se tornou o Papa Urbano IV. Quiseram envolver também um sacerdote muito estimado, João de Lausanne, pedindo-lhe que interpelasse teólogos e eclesiásticos sobre aquilo que elas estimavam.

Foi precisamente o Bispo de Liége, Dom Roberto de Thourotte, que, após hesitações iniciais, aceitou a proposta de Juliana e das suas companheiras, e instituiu, pela primeira vez, a solenidade do Corpus Christi na sua diocese, precisamente na paróquia de Sainte Martin. Mais tarde, também outros bispos o imitaram, estabelecendo a mesma festa nos territórios confiados aos seus cuidados pastorais. Depois, tornou-se festa nacional da Bélgica.


Festa de Corpus Christi

Dessa forma, a festa foi crescendo cada vez mais, e outros bispos faziam a mesma coisa em sua diocese. Tomou tal proporção, que veio a tornar-se não só uma festa do território da Bélgica, mas sim de todo o mundo. Sendo que, a festa mundial de Corpus Christi foi decretada oficialmente somente em 1264, seis anos após a morte de irmã Juliana, em 1258, com 66 anos.

Na cela onde jazia, foi exposto o Santíssimo Sacramento e, segundo as palavras do seu biógrafo, Juliana faleceu contemplando, com um ímpeto de amor, a Jesus Eucaristia, por ela sempre amado, honrado e adorado.

Santa Juliana de Mont Cornillon foi canonizada, em 1599, pelo Papa Clemente VIII.  Como vimos, ela morreu sem ver a procissão de forma mundial.

Milagre de Bolsena

Depois da morte do Papa Alexandre IV, foi eleito o novo Papa, o cardeal Jacques Panteleón. Naquela época, a corte papal era em Orvieto, um pouco ao norte de Roma. Muito perto dessa localidade fica a cidade de Bolsena, onde, em 1264, aconteceu o famoso Milagre de Bolsena.

Em que consiste esse milagre? Um padre da Boemia, Alemanha, que tinha dúvidas sobre a verdade da transubstanciação, presenciou um milagre. Durante uma viagem que fazia da cidade de Praga a Roma, ao celebrar a Santa Missa na tumba de Santa Cristina, na cidade de Bolsena, Itália, no momento da consagração, viu escorrer sangue da Hóstia Consagrada, banhando o corporal, os linhos litúrgicos e também a pedra do altar, que ficaram banhados de sangue.

O sacerdote, impressionado com o que viu, correu até a cidade de Orvieto, onde morava o Papa Urbano IV, que mandou a Bolsena o Bispo Giacomo, para ter a certeza do ocorrido e levar até ele o linho ensanguentado. A venerada relíquia foi levada em procissão a Orvieto em 19 junho de 1264. O Pontífice foi ao encontro do Bispo até a ponte do Rio Claro, hoje atual Ponte do Sol. O Papa pegou as relíquias e mostrou à população da cidade.

Começo da celebração mundial

O Santo Padre, movido pelo pelas visões de Santa Juliana, pelo prodígio e também a petição de vários bispos, fez com que a festa do Corpus Christi se estendesse por toda a Igreja por meio da bula Transiturus de hoc mundo, em 11 de agosto de 1264. Esses fatos foram marcantes para se estabelecer a festa de Corpus Christi.

A morte do Papa Urbano IV, em 2 de outubro de 1264, um pouco depois da publicação do decreto, prejudicou a difusão da festa. Mas o Papa Clemente V tomou o assunto em suas mãos e, no concílio geral de Viena, em 1311, ordenou, mais uma vez, a adoção dessa festa. Em 1317, foi promulgada uma recompilação das leis por João XXII e assim a festa foi estendida a toda a Igreja.

Foi assim que a festa de Corpus Chisti aconteceu, tendo como testemunho estes dois fatos: as visões de Santa Juliana e o milagre eucarístico de Bolsena.

 

Equipe Formação Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/historia-da-igreja/conheca-a-historia-da-festa-de-corpus-christi-para-bem-viver-esse-dia/

18 de junho de 2025

As 12 promessas do Sagrado Coração de Jesus

O Amor e a Dor do Sagrado Coração: Dois Momentos-Chave no Evangelho

A devoção ao Sagrado Coração, de um modo visível, aparece em dois acontecimentos fortes do Evangelho: no gesto de São João, discípulo amado, encostando a sua cabeça em Jesus durante a Última Ceia (cf. Jo 13,23); e, na cruz, onde o soldado abriu o lado de Jesus com uma lança (cf. Jo 19,34).

Créditos: Domínio Público

Num acontecimento, temos o consolo de Cristo pela dor na véspera de Sua morte. No outro, o sofrimento causado pelos pecados da humanidade. Esses dois exemplos do Evangelho nos ajudam a entender o apelo de Jesus feito, em 1675, a Santa Margarida Maria Alacoque:

"Eis este coração que tanto tem amado os homens. Não recebo da maior parte senão ingratidões, desprezos, ultrajes, sacrilégios e indiferenças. Eis que te peço que a primeira sexta-feira depois da oitava do Santíssimo Sacramento (Corpo de Deus) seja dedicada a uma festa especial para honrar o Meu coração, comungando, neste dia, e dando-lhe a devida reparação por meio de um ato de desagravo para reparar as indignidades que recebeu durante o tempo em que esteve exposto sobre os altares. Prometo-te que o Meu Coração se dilatará para derramar com abundância as influências de Seu divino amor sobre os que tributem essa divina honra e que procurem que ela lhe seja prestada."

São João Paulo II e a devoção ao Sagrado Coração de Jesus

São João Paulo II sempre cultivou essa devoção e sempre a incentivou a todos que desejam crescer na amizade com Jesus. Em 1980, no dia do Sagrado Coração, ele afirmou: "Na solenidade do Sagrado Coração de Jesus, a liturgia da Igreja concentra-se, com adoração e amor especial, em torno do mistério do Coração de Cristo. Quero, hoje, dirigir, juntamente convosco, o olhar dos nossos corações para o mistério desse coração. Ele falou-me desde a minha juventude. A cada ano, volto a esse mistério no ritmo litúrgico do tempo da Igreja".

Agora, conheça as 12 promessas do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque:

1° Promessa: "A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de Meu Sagrado Coração";
2° Promessa: "Eu darei aos devotos de Meu Coração todas as graças necessárias a seu estado";
3° Promessa: "Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias";
4° Promessa: "Eu os consolarei em todas as suas aflições";
5° Promessa: "Serei refúgio seguro na vida e principalmente na hora da morte";
6° Promessa: "Lançarei bênçãos abundantes sobre os seus trabalhos e empreendimentos";
7° Promessa: "Os pecadores encontrarão, em meu Coração, fonte inesgotável de misericórdias";

8° Promessa: "As almas tíbias tornar-se-ão fervorosas pela prática dessa devoção";
9° Promessa: "As almas fervorosas subirão, em pouco tempo, a uma alta perfeição";
10° Promessa: "Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais endurecidos";
11° Promessa: "As pessoas que propagarem esta devoção terão o seu nome inscrito para sempre no Meu Coração";
12° Promessa: "A todos os que comunguem, nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna".



Sônia Venâncio

Sônia Perpétua Venâncio Crozatto é Brasileira, nasceu no dia 13/03/1977, em Santa Barbara, MG. É Membro da Associação Internacional Privada de Fieis – Comunidade Canção Nova, desde 2003 no modo de compromisso do Núcleo.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/devocao/as-12-promessas-do-sagrado-coracao-de-jesus/

17 de junho de 2025

Sagrado Coração: mais que uma devoção, uma espiritualidade

A dedicação ao Sagrado Coração de Jesus, desenvolvida ao longo da vida da Igreja, é mais que uma devoção, é uma espiritualidade.

Na Bíblia, há uma dedicação do povo às coisas do coração. "Tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne" (Ezequiel 11,19). "Vinde a mim vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas" (Mateus 11,28-29).

O coração de Jesus é o coração manso e humilde de Deus colocado dentro do nosso peito. O Senhor não é só uma inteligência suprema, Ele é coração, e o coração de Jesus é a manifestação visível do amor do Pai.

Ao longo desses dois mil anos de história da Igreja, os santos padres desenvolveram a espiritualidade do coração de Jesus. Mais tarde, Santa Maria Margarida, no século XVII, teve a imagem do coração de Cristo para fora do peito, coroado de espinhos e inflamado de amor. Essa imagem acabou fazendo história e aprofundando essa espiritualidade. A Festa do Sagrado Coração de Jesus foi oficializada pela Igreja; a primeira sexta do mês é dedicada a Ele.

Os efeitos da consagração ao Sagrado Coração

Os efeitos da consagração ao Sagrado Coração de Jesus estão diretamente ligados às promessas de Jesus feitas a Santa Maria Margarida, as quais foram propagadas doze, porém são inúmeras. O primeiro grande efeito é a experiência do amor de Deus, de quem somos filhos amados. E esse amor não nos abandona; pelo contrário, acompanha-nos sempre. Jesus, quando voltou para o Pai, deixou-nos uma grande promessa: "Estarei convosco todos os dias até o fim". Essa é a certeza: Deus está conosco.

O Senhor é um colo, o Sagrado Coração de Jesus é um refúgio, uma rocha protetora, diz uma das promessas. Ele não é legislador, mas Pastor que pega Sua ovelha no colo e cuida de suas feridas.

As experiências de um padre do coração de Jesus são muitas, em minha vida não é diferente. Há uma promessa do Sagrado Coração que diz: "Darei aos sacerdotes consagrados ao meu Sagrado Coração a graça de alcançar até os corações mais endurecidos". Certa época, eu pregava muito da cabeça, da inteligência, da teologia, e as pessoas se convenciam intelectualmente, mas não no coração, não se convertiam. Até que Deus tocou meu coração e percebi que precisava falar afetivamente do coração de Deus, pois Ele não é só inteligência, é também coração.


O Sagrado Coração de Jesus é mais que uma devoção, é uma espiritualidade. É a espiritualidade da ternura, do coração, é a mística do afeto. É reconhecer que Deus é mais que Pai, Ele é Pai e Mãe, e tem um colo para nós. A grande dica para aproveitarmos bem toda essa espiritualidade é nos deixarmos adormecer no coração d'Ele. Há momentos em que precisamos repousar no coração do Senhor, seguir o conselho de Jesus que nos diz: "Vinde a mim vós todos que estais cansados e eu vos aliviarei". Deixe-se repousar no coração de Deus.



Padre Joãozinho, SCJ

Padre da Congregação do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos), doutor em Teologia, diretor da Faculdade Dehoniana em Taubaté (SP), músíco e autor de vários livros. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.

http://blog.cancaonova.com/padrejoaozinho/


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/devocao/sagrado-coracao-mais-que-uma-devocao-uma-espiritualidade/

16 de junho de 2025

Invoca a minha misericórdia, pois desejo a salvação do pecador

As nossas orações ao Pai das Misericórdias devem ser precedidas pelo conhecimento do coração do Pai. São Paulo disse: "Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das Misericórdias e Deus de toda consolação. Ele nos consola em todas as nossas aflições para que, com a consolação que nós mesmos recebemos de Deus, possamos consolar os que se acham em toda e qualquer aflição. Pois à medida que os sofrimentos de Cristo crescem para nós, cresce também a nossa consolação por Cristo" (2Cor 1,3-5).

Crédito: Bruno Marques/cancaonova.com

Para mostrar a nós a imensidão da Sua misericórdia para com os pecadores, Jesus contou aos fariseus a parábola do filho pródigo. Um pai nunca quer perder um filho, e Deus, principalmente, Pai de todos nós, não quer perder nenhum deles. Aquele filho ingrato gastou os bens do Pai com uma vida dissoluta, e depois passou fome; então, lembrou-se do seu pai, criou coragem e voltou a ele, querendo apenas ser recebido como um empregado e não como filho. E sabemos como ele foi recebido: com festa, churrasco, roupa nova e anel nos dedos. É assim que Jesus nos ensina a misericórdia do Pai.

Jesus disse que o Pai não quer que Ele perca nenhum daqueles que lhe deu. Assim, Jesus, que é a "imagem do Deus invisível' (Col 1,14) e o "esplendor da glória de Deus" (Hb 1,3), revelou-nos a profunda misericórdia do Pai ao contar a parábola do bom pastor, que é capaz de deixar 99 ovelhas seguras no aprisco e ir em busca da ovelha perdida. E que alegria quando a encontra!

Terá mais alegria no céu por um pecador que se converter

"E, depois de encontrá-la, a põe nos ombros, cheio de júbilo, e, voltando para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: 'Regozijai-vos comigo, achei a minha ovelha que se havia perdido. Digo-vos que assim haverá maior júbilo no céu por um só pecador que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento."


Assim, o Pai está de braços abertos a acolher qualquer um que venha a Ele de coração arrependido. Independente dos seus pecados, o Pai abraça todo aquele que vem a Ele confiante, pois Jesus já pagou na Cruz o preço do nosso perdão. Confiar na misericórdia do Pai é confiar no mistério da Redenção pela qual Jesus nos salvou. Agora, basta confiar, arrepender-se dos pecados e cair nos braços do Pai das misericórdias. São Paulo nos lembra:

Deus é pura Misericórdia

"Deus, que é rico em misericórdia, impulsionado pelo grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos em consequência de nossos pecados, deu-nos a vida juntamente com Cristo – é por graça que fostes salvos!"(Ef 2,4-5).

O Salmo 50,19, diz: "Meu sacrifício, ó Senhor, é um espírito contrito, um coração arrependido e humilhado, ó Deus, não haveis de desprezar". A decisão é de cada um: São Pedro negou Jesus, arrependeu-se e continuou sendo o escolhido de Jesus para chefe da Igreja; Judas se desesperou, não confiou, e se matou. Às vezes, um orgulho refinado nos impede de nos lançarmos nos braços do Pai.

Vale a pena aprender com os santos doutores da Igreja o que eles nos ensinaram sobre a misericórdia do Pai. Santo Agostinho disse: "Não há maior miséria que a de um miserável que não tem misericórdia de si mesmo. Minha única esperança, minha única confiança, minha única firmeza é a misericórdia de Deus". Santo Afonso de Ligório, doutor, disse: "Agrada sumamente a Deus a nossa confiança em sua misericórdia, porque assim honramos e exaltamos aquela sua infinita bondade que Ele quis manifestar ao mundo nos criando".

Devemos confiar na Misericórdia de Deus

São Francisco de Sales nos ensina algo consolador: "Quanto mais nos sentimos miseráveis, tanto mais devemos confiar na misericórdia de Deus. Porque entre a misericórdia e a miséria há uma ligação tão grande que uma não pode se exercer sem a outra".

E Santo Tomás nos ensina que nunca devemos desanimar da salvação eterna, confiados no poder e na misericórdia divina.
Jesus insiste para que os homens se acheguem a Seu coração misericordioso, que espelha o coração do Pai.

Ele pediu a Santa Margarida Maria Alacoque, no século XVII, que difundisse, no mundo, toda a devoção a seu Sagrado Coração misericordioso. Em nosso tempo, pediu a Santa Faustina Kowalska que difundisse a devoção a Divina Misericórdia, pedindo ao Papa que instituísse a sua festa, o que foi feito pelo Papa São João Paulo II. Em seus diálogos com Deus, Ele insiste com ela na necessidade de nos atirarmos no oceano infinito de Sua misericórdia, que é a do Pai.

O pecado me afasta de Deus

"Que o pecador não tenha medo de se aproximar de Mim. Queimam-me as chamas da misericórdia; quero derramá-las sobre as almas" (Diário n.50). "Antes de vir como justo Juiz, venho como Rei da misericórdia" (n. 83).

"Invoca a minha misericórdia para com os pecadores, pois desejo a salvação deles" (n. 186). "Oh como me fere a incredulidade da alma! Essa alma confessa que sou Santo e Justo e não crê que sou misericórdia, não acredita na minha bondade. Até os demônios respeitam a minha justiça, mas não creem na minha bondade" (n. 300).

"E ainda que os pecados das almas fossem negros como a noite, quando o pecador recorre a minha Misericórdia, presta-me a maior glória e é a honra da minha paixão. Quando a alma glorifica a minha bondade, então o demônio treme diante dela e foge até o fundo do inferno" (n. 378). "As almas que recorrerem a minha Misericórdia e aquelas que a glorificarem e anunciarem aos outros, na hora da morte Eu as tratarei de acordo com a minha infinita Misericórdia" (n. 379).

Jesus sofre por causa dos nossos pecados

"O meu coração sofre porque até as almas eleitas não compreendem como é grande a minha Misericórdia" (379).  É tão importante a devoção à misericórdia do Pai que Jesus mandou que ela difundisse o Terço da Misericórdia, que deve ser rezado sempre, e sobretudo diante dos moribundos para que alcancem a sua salvação. Toda esta reflexão deve se transformar em orações ao Pai da Misericórdia.

Leve, com toda confiança, ao Coração desse Pai, todas as suas angústias, aflições, tribulações, medos, traumas, dores, enfermidades e humilhações que a vida lhe proporciona e descanse nos braços d'Ele.

Equipe de Formação da Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/oracao/invoca-a-minha-misericordia-pois-desejo-a-salvacao-do-pecador/

15 de junho de 2025

Santíssima Trindade: Filho e Espírito Santo são um único Deus

O mistério da Santíssima Trindade é um dos dogmas centrais dentro da Igreja Católica. Por muitos anos, as civilizações acreditaram em uma diversidade de deuses, como, por exemplo, os gregos, bárbaros e celtas.

Por outro lado, os judeus avançaram essa compreensão apresentando o monoteísmo. Com fé em um único Deus, por muitas vezes citada pelos profetas como "Deus verdadeiro, os outros são apenas barro". Ou seja, a multiplicidade de deuses seriam apenas imagens criadas pelo homem, só existe um único Deus. Por fim, a Igreja católica, herdando a herança judaica, desenvolve a doutrina da Trindade.

A Trindade, revelada pelas Sagradas Escrituras e pelo testemunho de Jesus Cristo, torna-se um grande escândalo para os judeus e para muitos das primeiras comunidades cristãs.

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Nos inícios da Igreja, de tempos em tempos, apareceram diversas heresias sobre essas realidades. Algumas delas são: o modalismo consistiu na opinião de alguns teólogos (Noeto e Praxéias, no século II e Sabélio, no século III) que reduziam as três Pessoas da Santíssima Trindade a simples modo de expressão do único e mesmo Deus; o subordinacionismo foi defendido pelo bispo Paulo de Samósata e pelo padre Ário de Alexandria.

Eles ensinavam que o Pai é o único Deus. Enquanto que o Filho e o Espírito Santo são criaturas subordinadas ao Pai. O triteísmo ensina que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três substâncias independentes e autônomas. Afirma, portanto, que a Trindade, na verdade, são três deuses.


A doutrina da Santíssima Trindade

No Ocidente, Tertuliano, que viveu no século II, foi o primeiro a usar a palavra "Trindade" para se referir a Deus em três Pessoas. No Oriente, esta tarefa coube a Teófilo de Antioquia, que também viveu no século II. A doutrina da Santíssima Trindade foi explicitada no decurso dos primeiros séculos e finalmente definida no Concílio de Nicéia (325 d.C.), onde ficou esclarecida a divindade de Jesus Cristo; e no Concílio de Constantinopla (381 d.C.), quando se defendeu a divindade do Espírito Santo. Cada um desses Concílios procurou responder as heresias de seu tempo, fixando a verdadeira fé católica.

A unidade e a igualdade das três pessoas da Trindade

Um dos principais comentadores da Trindade foi Santo Agostinho, que elaborou sua obra "De Trinitate" (Sobre a Trindade). Santo Agostinho enfatizou a unidade e a igualdade das três pessoas da Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo são um único Deus em essência. Ele usou analogias, como a mente que pensa, a palavra que é expressa e o amor que une para ilustrar a relação entre as pessoas divinas.

Também ressaltou a importância da analogia da imagem de Deus na humanidade. Argumentava que a capacidade humana de amar e se relacionar espelha, de certa forma, a natureza trinitária de Deus. Assim, Agostinho incentivava os cristãos a viver em comunhão e amor, refletindo a comunhão divina.

O fato é que a adesão ao catolicismo se dá no Batismo, e um Batismo Trinitário (Pai, Filho e Espírito Santo). A partir disso, somos introduzidos no seio da Trindade e entramos no mistério divino por adoção filial. Sendo o Batismo a porta de entrada, os outros sacramentos também são manifestação da obra Trinitária na alma do fiel, manifestação visível através do rito e uso das matérias.

Por isso, celebrar os sacramentos é celebrar a Trindade. Ser católico é viver essa mística profunda que nos leva à transformação e união com o próprio Deus Trindade! Que Deus, nosso Pai, nos inspire a pôr em prática esses ensinamentos.


 

 


Rafael Vitto

Rafael Vitto, seminarista CN. Graduado em Filosofia e estudante de Teologia. Atuante na paróquia São Sebastião em Cachoeira Paulista.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/santissima-trindade-filho-e-espirito-santo-sao-um-unico-deus/

13 de junho de 2025

Santo Antônio, um pregador popular

Santo Antônio, prodigioso em santidade

Santo Antônio é representado com o lírio, símbolo da sua pureza, ou com o Menino Jesus no colo, em recordação de uma milagrosa aparição mencionada por algumas fontes literárias. Santo Antônio foi prodigioso em santidade e dotado de rara inteligência e qualidades cristãs mais excelsas: equilíbrio, zelo apostolado e fervor místico.

Durante seus sermões, Antônio falava uma só língua, porém, frequentemente, era entendido por pessoas de outros países que falavam outros idiomas. Seu Provincial aproveitou-se desse fato miraculoso e o encarregou da ação apostólica contra os hereges na região da antiga Romagna e no norte da Itália. Ele se tornou, então, um extraordinário pregador popular.

Santo Antônio propõe um verdadeiro itinerário de vida cristã. É tanta riqueza de ensinamentos espirituais contida nos "Sermões", que o venerável Papa Pio XII, em 1946, proclamou Antônio como Doutor da Igreja, atribuindo-lhe o título de "Doutor evangélico". Desses escritos, sobressai o vigor e a beleza do Evangelho, os quais, ainda hoje, podemos ler com grande proveito espiritual. Observamos, nesses Sermões, que Santo Antônio fala da oração como uma relação de amor, a qual estimula o homem a dialogar docilmente com o Senhor, criando uma alegria inefável que, suavemente, envolve a alma em oração.

Santo Antônio, ensina-nos a rezar

Santo Antônio nos recorda que a oração precisa de uma atmosfera de silêncio que não coincide com o desapego do rumor externo, mas é experiência interior, cuja finalidade é remover as distrações causadas pelas preocupações da alma, criando o silêncio na própria alma.

Para Antônio, a oração é articulada em quatro atitudes indispensáveis, como abrir, com confiança, o próprio coração a Deus. É esse o primeiro passo do rezar, não simplesmente colher uma palavra, mas abrir o coração à presença de Deus; depois, dialogar afetuosamente com Ele, vendo-O presente comigo; a seguir, muito naturalmente, apresentar-Lhe as nossas necessidades; por fim, louvá-Lo e agradecer-Lhe.

Quando Santo Antônio pregava, as multidões acorriam ao local em que seria a pregação. Até os comerciantes fechavam seus estabelecimentos e iam ouvi-Lo. As cidades onde ele pregava paravam; e a região em torno delas também parava. Houve caso de se juntar até 30 mil pessoas num só sermão! Os locais de culto tornavam-se pequenos para conter a multidão que vinha ao encontro de Santo Antônio. Então, ele ia falar nas praças públicas. E, quando terminava, "era necessário que alguns homens valentes e robustos o levantassem e o protegessem das pessoas que vinham beijar-lhe a mão e tocar-lhe o hábito". O número de sacerdotes que o acompanhavam era pequeno para ouvir as confissões daqueles que, tocados por seu sermão, queriam confessar-se e mudar de vida.

Ensina a historiografia católica que, praticamente, não havia coxo, cego nem paralítico que, depois de receber a sua bênção, não ficasse são. Foi grande o número de convertidos por ele. Em certa ocasião, converteu 22 ladrões que, apenas por curiosidade, tinham ido ouvi-lo.

Ensina-nos a crer

Num mundo secularizado como o nosso, vale relembrar o famoso milagre de Santo Antônio: para poder crer na presença real de Jesus na hóstia consagrada, quero um milagre, era o que dizia um ateu por todos os cantos onde andava. Para ele, o Santíssimo Sacramento era uma burla, uma chantagem.

Numa ocasião, diante de toda a cidade, fez a Santo Antônio uma proposta arrogante: "Deixo minha mula sem comer durante três dias. Depois disso, trago o animal até essa praça e ofereço feno e aveia. Enquanto isso, Frei Antônio, o senhor vai mostrar a ela a Hóstia Consagrada. Se a besta deixar a comida de lado e der atenção à hóstia, se ela a reverenciar como se a adorasse, aí eu passo a acreditar. Passo a crer na presença de Jesus na Eucaristia! Santo Antônio aceitou a proposta".

Três dias depois, na praça repleta, chega o homem puxando seu faminto animal. Santo Antônio também chegou. Respeitosamente, o Santo trazia uma custódia com o Santíssimo Sacramento. O incrédulo colocou o monte de feno e aveia próximos de onde estava Frei Antônio e, confiante, soltou o animal. Conforme haviam combinado, a mula deveria escolher sozinha entre o alimento e o respeito à Hóstia Consagrada. O suspense geral foi quebrado quando o animal, livre de seus cabrestos, calmamente dobrou seus joelhos diante da Custódia com o Santíssimo Sacramento. Um milagre suficiente para converter, até hoje, aqueles que repudiam a presença real de Jesus na Eucaristia.


Santo Antônio nos ensina o crer. Crer, mesmo num mundo secularizado como o nosso! Crer e testemunhar Jesus Cristo ressuscitado!

Neste mês, proponho que tenhamos em Santo Antônio, timoneiro da santidade, a graça de pregar aquilo que vivemos, testemunhando a santidade de Cristo que Antônio testemunhou a todos os homens e mulheres de boa vontade. Santo Antônio, dá-nos o exemplo da confiança em Deus. Pela sua palavra, ele nos conduz ao coração da Santíssima Trindade.

Santo Antônio, intercedei por nós!

Dom Orani João Tempesta, O. Cist.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/santos/santo-antonio-um-pregador-popular/