30 de novembro de 2024

Inteligência artificial: inteligente e ética?

A busca pela consciência artificial: uma análise filosófica

O desenvolvimento da área de estudo sobre a natureza dos estados mentais recorre, com frequência, à analogia entre computadores e cérebros, para traçar semelhanças e diferenças e compreender o que é o pensamento.

Na área da filosofia da mente, um debate relevante que tem sido travado, nas últimas décadas, é a respeito da distinção entre "inteligência artificial" no sentido forte e no sentido fraco. Por um lado, em sentido forte, diz-se que máquinas, como computadores, adequadamente programados, têm estados cognitivos e, portanto, pensam do mesmo modo como fazem os seres humanos. Por outro, em sentido fraco, assevera-se que os computadores apenas simulam o ato de pensar.

Inteligência artificial inteligente e ética

Crédito: BlackJack3D / GettyImages

No âmbito filosófico, essa é, pois, uma questão ontológica, termo usado para a investigação das coisas que realmente são como elas são (e não como se imagina que são) e sobre qual a essência delas. Isso significa perguntar sobre a ontologia dos estados mentais, ou seja, entender no que eles realmente consistem. Basicamente, os filósofos da mente se dividem em dualistas e unionistas.

Dualismo vs. Unionismo: a questão da natureza da mente

René Descartes é dualista. Para ele, o pensamento é substância, ou seja, é algo que existe por si, independente da realidade corpórea, vale dizer, o corpo é constituído pela res extensa (coisa extensa), que não passa de um autômato ou máquina (sangue vai do coração ao cérebro, passa para os nervos, para os músculos e se estende aos membros), ao passo que a alma (mente) é constituída pela res cogitans/substantia cogitans (coisa pensante/substância pensante), que pode pensar, de maneira independente, tanto de qualquer coisa material, quanto do tempo e do espaço.

Aristóteles é unionista. Já para ele, o intelecto surge da relação entre alma e corpo e ambos não são substâncias separadas. A alma é causa e princípio do corpo vivo. E o que caracteriza a alma é que ela exerce a função vegetativa (conservação do corpo), a função sensitiva (sentidos externos, sentidos internos = sentido comum, memória e fantasia; e, apetite = vontade) e a função intelectiva (exercida de três modos: abstração, juízo e argumentação). Para a abstração, o intelecto agente (ativo) ilumina os dados sensíveis recebidos das coisas particulares, produzindo conceitos ou ideias, e o intelecto paciente (passivo) recolhe e conserva esses conceitos ou ideias.

Inteligência Artificial: simulação ou verdadeira cognição?

Não por outro motivo que uns dizem que algoritmos jamais poderão tomar decisões importantes pelos seres humanos, porquanto, decisões assim, inevitavelmente, envolvem uma dimensão ética, e algoritmos não entendem de ética. Outros já começam a dizer, contudo, que não há razão para supor que algoritmos não sejam capazes de enfrentar os dilemas éticos, na medida em que aparelhos celulares inteligentes e veículos autônomos, por exemplo, já se deparam com problemas éticos que atormentam a consciência humana há muito tempo.

A ficção científica, porém, tende a confundir consciência com inteligência, e supõe que a chamada "inteligência artificial", aquela dos computadores, dos robôs e artefatos análogos, poderá se equiparar ou até mesmo suplantar a inteligência humana, o que exigirá dela desenvolvimento de consciência.

Inteligência artificial e a natureza humana

O enredo básico dos filmes e livros sobre "inteligência artificial", geralmente, tem como ápice o momento apoteótico em que uma "máquina-homem" adquire consciência. Entretanto, na realidade, não é tão simples assim dizer que a "inteligência artificial" irá desenvolver consciência, haja vista que inteligência e consciência são bastante diferentes entre si. Por isso, é inevitável discutir os muitos desafios éticos na implementação da "inteligência artificial".

Contudo, essa discussão pressupõe, ao menos, percorrer três linhas psicológico-antropológicas e seus reflexos éticos a respeito da própria natureza humana, com seus desdobramentos nas múltiplas interações sociais, na era da tecnologia da informação e da comunicação, todas elas confrontáveis com as "máquinas-homens" – computadores, robôs e outras análogas – já identificadas na sociedade contemporânea.

Inteligência vs. Consciência: uma distinção crucial

A filosofia não tem nenhuma especialidade, a não ser a capacidade de elaboração de conceitos, sem os quais faltaram, invariavelmente, ideias mais claras e distintas sobre as coisas em qualquer tempo e espaço. Dois deles, muito importantes, entre tantos outros, são inteligência e consciência, os quais não podem e não devem ser confundidos. Inteligência é capacidade para a resolução de problemas com eficiência (Harari, 2018, p 98). Por sua vez, consciência é aptidão para discernir e avaliar condutas como boas ou más, justas ou injustas, certas ou erradas, virtuosas ou viciosas, generosas ou egoísticas e, até mesmo, prazerosas ou dolorosas, tais como, "[…] sentir coisas como dor, alegria, amor e raiva" (Harari, 2018, p. 98).

Os limites da inteligência artificial

Alan Mathison Turing teve papel ímpar na história da inteligência artificial. Já em 1950, ele publicou um artigo em que discutiu se uma máquina podia pensar e tomar decisões de forma tão racional e inteligente quanto um ser humano (Turing, 2024).

Segundo Aristóteles, como todos os seres dotados de matéria, o homem é constituído de matéria e forma. No homem, a matéria chama-se corpo e a forma denomina-se alma. Com essa teoria, Aristóteles marcou, desde a antiguidade e por longo tempo, uma noção psicológico-antropológica fundamental, qual seja, a união substancial entre corpo e alma (Aristóteles, 2011, p. 31-33).

Trata-se, pois, de uma concepção de profundo caráter unionista. Para Aristóteles, o homem é um ser racional, capaz de aprender e apreender virtudes. A virtude é uma disposição da alma racional para escolher entre o bem e o mal. A medida da liberdade consiste, pois, em conhecer o bem e agir segundo o bem que decorre desse conhecimento repleto de discernimento (Aristóteles, 2018, p. 21-23).

O problema mente-corpo: uma perspectiva histórica

Com René Descartes, já na filosofia moderna, é introduzida a noção fundamental do cogito, ergo sum, o que significa uma realidade pensante (res cogitans), uma realidade não distinta do pensamento. Ao dizer que o pensamento é substância, ele afirma que o pensamento é algo que existe por si, independentemente da realidade corpórea. De fato, esse existir por si é a substancialidade. Assim, as expressões cogito (penso) e cogitatio (pensamento) são substituídas por substantia cogitans (substância pensante) ou res cogitans (coisa pensante), que é contraposta à substância corpórea ou coisa corpórea (res extensa).

Na ótica cartesiana, não há aquela união substancial entre a alma e o corpo (Descartes, 2005, p. 51-53). São duas realidades distintas e separadas. Existe uma alma imaterial e um corpo material. O corpo humano não passaria, pois, de um enorme maquinismo que deveria ser controlado pela alma, ou seja, ela deveria guiar as suas ações.


Para René Descartes, o problema era suscitar a refundação racional de todo o sistema do saber, que transmite a articulação entre a lógica, o real e a ética. No projeto cartesiano, busca-se uma moral como sabedoria plenamente racional na ordem do bem a ser realizado pela ação.

Nesse projeto, a razão manifesta-se como liberdade na constituição de um ethos pensado e, portanto, plenamente inteligível, que pode e deve ser vivido com sabedoria, o que significa a busca ideal da perfeição entre o saber e o agir. Essa gradação exige que se percorra os planos fisiológico, psicológico e propriamente racional, culminando com a paixão mais elevada da alma, qual seja, a perfeita generosidade (Descartes, 1987, p.45-47). A generosidade cartesiana é a expressão acabada do preceito do bem julgar para o bem agir, aplicado a si mesmo e aos outros. O generoso é a manifestação concreta da mais alta moral, vale dizer, a moral de uma razão que é, indissoluvelmente, bem pensar e bem agir.

Corpo e Alma: um debate filosófico clássico

Como se pode perceber, ainda que com concepções bastante distintas, tanto para um unionista como Aristóteles, quanto para um dualista como René Descartes, a preocupação com uma alma racional (aristotélica) ou uma alma pensante (cartesiana) para bem agir está sempre presente na própria natureza humana.

Por sua vez, Julien Offray de La Mettrie entende que as teorias acerca do homem constituído de duas substâncias, alma e corpo, são impossíveis de comprovação empírica. Mais afinado com a filosofia cartesiana, mas sem lhe render adesão, ele transfere o postulado da sua fundamentação da res extensa para uma reflexão filosófica em conexão com a análise médica, o que implica dizer que o homem não seria mais do que uma máquina, isto é, todas as operações mentais são entendidas sob o ponto de vista físico-orgânico.

Não é nem Aristóteles, com sua teoria da união substancial alma e corpo, nem Descartes, com sua teoria da separação alma e corpo, que apresentam a melhor resposta sobre o homem (La Mettrie, 1982, p.125). O homem é o seu corpo e o corpo humano encerra uma mecanicidade, pois não passa de um complexo orgânico que se estrutura e funciona como uma máquina.

Dualismo Cartesiano: a separação entre res cogitans e res extensa

Para ele, o corpo do ser humano se organiza por meio de reações químicas e físicas através estímulos no cérebro e no sistema nervoso. O corpo é um relógio, mas um relógio imenso, construído com tanto artifício e habilidade que se parar a roda que serve para marcar os segundos, a dos minutos continua a girar e segue seu curso, assim como a dos quartos continuará a mover-se (La Mettrie, 1982, p. 94). O corpo é uma organização química e física que cumpre seu papel para o qual foi determinado de maneira mecânica, de tal forma que todas as ações são explicadas apenas pelo corpo. O próprio pensar é extensão corporal e suprime a alma como uma substância pensante.

O desenvolvimento da inteligência ocorre de forma evolutiva, na medida em que os homens utilizaram, primeiramente, os instintos e as sensações para adquirir inteligência e, dessa maneira, chegar ao conhecimento das coisas. A alma, se é dela que ainda se pretende falar, não escapa de ser afetada pelas sensações manifestadas no cérebro e, se houver algum desarranjo em alguma parte do corpo, isso terá repercussões, alterando o organismo, tal como ocorre, por exemplo, no caso da vertigem (La Mettrie, 1987, p. 22).

La Mettrie e o Homem-Máquina: uma perspectiva materialista

Significa uma concepção antropológico-psicológica monista, posto que alma, cérebro e corpo constituem uma coisa só, e as ações e reações se organizam sempre a partir da mecânica corpórea, chamada de "máquina-homem". Julien Offray de La Mettrie entende que a ética a ser seguida é, portanto, a do mais prazeroso para si mesmo e para os outros, por se tratar uma sensação corpórea, que é uma espécie de combustível da própria vida. Assim, não seria demasiado dizer que virtude, generosidade e prazer ainda permanecem como reivindicações éticas sublimes, no mundo contemporâneo, na era das tecnologias da informação e da comunicação, e as "máquinas-homens" não dão sinais de que já tenham alguma consciência disso.

Uma "máquina-homem", chamada de "inteligência artificial", está distante de ser uma alma unida substancialmente a um corpo, capaz de agir de maneira virtuosa, porque consegue discernir e deliberar sobre o bem ou o mal que realiza ao executar suas tarefas.

O conceito de "Máquina-Homem" na filosofia

Essa "máquina-homem", do mesmo modo, também não pode ser identificada como uma alma separada de um corpo, capaz de alcançar a generosidade, entendida como preceito do julgar e do agir com elevada e perfeita moral, ou seja, movida por uma racionalidade comprometida com o melhor alinhamento possível entre o bem pensar e o bem agir. E, se essa "máquina-homem" estiver mais próxima do homem-máquina, mesmo assim não há nada que ateste que ela é capaz de avaliar o que é e não é prazeroso a ela e aos outros em suas operações.

Nesse sentido, uma "máquina-homem", por mais que possa atuar com certa autonomia, depois de processar e filtrar inúmeras informações, ainda está bem distante de enviar uma mensagem, ao término de uma tarefa, de que procurou agir de maneira virtuosa, generosa ou prazerosa.

Por mais que se queira denominá-la de "máquina-homem", continua sendo somente uma máquina, para a qual a ética ainda é bastante estranha, como se fosse uma miragem, por ser incapaz de um juízo de valor sobre a virtude, a generosidade ou mesmo o prazer, para si e para os outros, de suas operações "finalizadas com sucesso", como costumam ser emitidas suas mensagens ao término de um procedimento realizado.

O homem e a máquina

Mensagem essa de mero resultado alcançado obviamente, e não de uma ação ética. Uma "máquina-homem", como por exemplo, a "inteligência artificial" do ChatGPT, a partir de suas buscas em várias fontes diretas ou indiretas, pode preparar e apresentar um texto, como uma produção própria, sem deixar qualquer sinal, porém, se o trabalho efetivado, na realidade, se caracteriza como um plágio de uma ou mais dessas fontes. Concluir um trabalho escolar por meio de plágio não é e jamais poderá ser considerado pela ética virtuoso, generoso ou mesmo prazeroso.

É certo que homem e máquina podem plagiar. A diferença é que o homem pode começar a desenvolver consciência ética desse malfeito, enquanto a máquina, pelo que se percebe, nem mesmo sinaliza que está em busca essa consciência. Assim, virtuoso, generoso ou prazeroso é quem programa essa "máquina-homem" ou quem se utiliza dela de maneira virtuosa, generosa ou prazeroso; logo, quem não se ocupa com nenhum desses critérios está distante de uma ação ética.

E uma "máquina-homem", vale dizer, uma inteligência artificial – computador, robô ou outra análoga – ainda não parece sequer estar perto de ter iniciado um processo de desenvolvimento da consciência do que é virtuoso, generoso ou mesmo prazeroso para si e para os outros. Portanto, os desafios éticos não pertencem a universo dessa "máquina-homem", com sua sofisticada inteligência artificial, e sim do homem consciente, com sua espantosa inteligência natural.


Marcius Tadeu Maciel Nahur

Natural de Lorena (SP), Coordenador do Curso de Filosofia da Faculdade Canção Nova. Formado em Direito, História e Filosofia. Mestrado em Direito com ênfase na Filosofia de Henrique Cláudio de Lima Vaz. Delegado de Polícia Aposentado.


Referências

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de Edson Bini. 4. ed. São Paulo: Edipro, 2018. 392 p.
ARISTÓTELES. Da Alma. Tradução de Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2011. 144 p.
DESCARTES, René. Discurso do Método. Tradução de Paulo Neves. São Paulo: L&PM, 2005. 128 p.
DESCARTES, René. As Paixões da Alma. Tradução de Jacob Guinsberg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Nova Cultural, 1987. 223 p.
HARARI, Yuval Noah. 21 lições para o século 21. Tradução de Paulo Geiger. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. 441 p.
LA METTRIE, Julien Offray de. Traité de l'âme. Paris: Fayard, 1987. 129 p.
LA METTRIE, Julien Offray de. O Homem-Máquina. Tradução de Antônio Carvalho. Lisboa: Estampa, 1982. 200 p.
TURING, Alan Mathison. Computing Machinery and Intelligence. Disponível em: chrome- extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://redirect.cs.umbc.edu/courses/471/papers/turing.pdf. Acesso em: 20 nov. 2024.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/inteligencia-artificial-inteligente-e-etica/

O exemplo dos pastorinhos: simplicidade e santidade

A espiritualidade de Fátima: um caminho de santidade

O exemplo dos três pastorinhos permanece pertinente, pois a espiritualidade de Fátima nos faz refletir sobre os acontecimentos atuais. Quantas guerras ocorreram desde a primeira aparição! Quantas famílias foram destruídas por ideologias! Contudo, a mensagem de Fátima persiste.

O exemplo dos pastorinhos simplicidade e santidade

Crédito: pedro emanuel pereira / GettyImages

Os três pastorinhos eram crianças simples, de origem humilde, que viviam em Aljustrel, Portugal. Lúcia, a mais velha, prima de Francisco e Jacinta, nasceu em 28 de março de 1907 e tinha dez anos na época das aparições. Francisco, irmão de Jacinta, nasceu em 11 de junho de 1908 e tinha nove anos. Jacinta, a mais nova, nasceu em 11 de março de 1910 e tinha sete anos. Nossa Senhora concedeu-lhes dons para perceber as aparições: Lúcia podia ver, ouvir e falar; Francisco, apenas ver; e Jacinta ver e ouvir. Cada uma das crianças tinham um dom, que fora dado por Nossa Senhora para elas conseguirem perceber as aparições.

Francisco: a humildade e a oração

Francisco faleceu em 4 de abril de 1919, vítima da gripe espanhola. Antes, porém, sofreu intensamente com a doença, oferecendo a Deus seus padecimentos. Segundo relatos de Lúcia, Francisco era o mais religioso dos três. Certa vez, Lúcia perguntou a Nossa Senhora se Francisco iria para o céu, e Ela respondeu que sim, mas que ele precisava rezar muitos terços. A incapacidade de ouvir a voz de Nossa Senhora demonstra a humildade de Francisco, que não o impediu de trilhar o caminho da santidade. Alguns especialistas afirmam que sua fé se fortaleceu pela purificação do olhar, intensificada após a visão do inferno. Francisco passou a dedicar-se à oração, constantemente rezando o terço, sozinho ou com as primas. Purificado pela doença, afirmava que o sofrimento não importava, pois desejava o céu.

Em 3 de abril de 1919, após receber a Sagrada Comunhão, disse a Jacinta: "Hoje, sou mais feliz que tu, porque tenho dentro do meu peito Jesus escondido. Eu vou para o Céu; mas lá vou pedir muito a Nosso Senhor e a Nossa Senhora que vos levem também para lá depressa". No dia seguinte, Francisco faleceu.

Jacinta: o sofrimento oferecido por amor

Jacinta, a mais nova, teve uma vida breve e sofrida. Assim como Francisco, praticava penitências e, em seus últimos dias, experimentou um verdadeiro martírio. Submetida a uma cirurgia sem anestesia para a retirada de duas costelas, dizia, segundo o médico, que oferecia sua dor para consolar o coração de Jesus. Jacinta morreu longe da família, que não possuía recursos para permanecer na cidade grande. Sozinha no hospital, sentia muita saudade da sua família, principalmente da sua mãe, mas oferecia diariamente seus sofrimentos pela conversão dos pecadores e de seus familiares. Apesar da pouca idade, demonstrava a maturidade espiritual de grandes santos. Faleceu em 20 de fevereiro de 1920.


Lúcia: a voz  que ecoa a mensagem de Nossa Senhora

Lúcia, a única que podia ver, ouvir e falar com Nossa Senhora, seguiu a vida religiosa. A conselho do bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva foi para o Asilo de Vilar, no Porto, e depois para o postulantado das Irmãs Doroteias, na Espanha, aos 15 anos. Posteriormente, ingressou na clausura do Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, onde permaneceu de 17 de maio de 1946 até seu falecimento em 13 de fevereiro de 2005. Já como Irmã Lúcia, relatou suas visões e conversas com Nossa Senhora, tornando-se a principal fonte de informações sobre Francisco e Jacinta. Revelou os três segredos de Fátima e escreveu livros sobre suas experiências, falecendo no Carmelo.

Ela foi escolhida para transmitir as mensagens de Nossa Senhora, que exortava à conversão, penitência, jejum, oração diária do terço e devoção ao Imaculado Coração de Maria.

O legado dos pastorinhos de Fátima

Francisco e Jacinta Marto foram canonizados em 13 de maio de 2017, na missa celebrada pelo Papa Francisco em homenagem ao Centenário das Aparições. O processo de canonização da Irmã Lúcia está em andamento. A fase diocesana foi aberta em 30 de abril de 2008 por D. Albino Cleto e concluída em 13 de janeiro de 2017. A sessão solene de encerramento ocorreu em 13 de fevereiro de 2017.

Que santidade de vida dessas crianças! Apesar da brevidade da vida de Francisco e Jacinta, experimentaram profunda intimidade com Deus e Nossa Senhora, vivenciando a espiritualidade de Fátima: conversão, penitência, jejum, oração e devoção ao Imaculado Coração de Maria. Somos chamados a vivenciar essa mesma experiência, transformando nossas dores e sofrimentos em degraus para o céu, a exemplo dos pastorinhos.

Wesley Paulo Santos Moreira


Referência:

https://www.papa2017.fatima.pt/pt/pages/pastorinhos


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/nossa-senhora/o-exemplo-dos-pastorinhos-simplicidade-e-santidade/

28 de novembro de 2024

Jesus ora pelos discípulos

Jesus ora para permanecermos na fé

No capítulo 17 do Evangelho de São João, Jesus ora para permanecermos na fé. "Já não estou no mundo, mas eles estão ainda no mundo; eu, porém, vou para junto de ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, que me encarregaste de fazer conhecer, a fim de que sejam um como nós… Não peço que os tires do mundo, mas sim que os preserves do mal…Santifica-os pela verdade." (Jo. 17,11.15.17)

 

Jesus ora pelos discípulos

Crédito: Denis-Art / GettyImages

Jesus ora pelos discípulos

"Guarda-os em teu nome" "os preserve do mal" "santifica-os". Estas palavras fazem parte da oração de Jesus, na última ceia, narrada no Evangelho de São João. O Senhor lembra ao Pai que, os que Ele lhe deu são seus, porém estão no mundo, e por isso precisam ser protegidos e fortalecidos para vencerem o mal, que age não somente em nós, mas contra nós. Cristo pede, ainda, que o Pai os santifique, ou seja, os consagre.

Vejo que, nesta oração, o Senhor, desejando que os seus permaneçam fiéis, nos dá três elementos importantes para a constância.
O primeiro é a guarda do Pai, ou seja, que ele nos proteja dos perigos deste mundo que nos seduz e, muitas vezes, chega a nos tirar do essencial com suas ofertas de poder, fama e riquezas, que tanto atraem nossa concupiscência. Quantos não se perderam da vida em Deus, em busca destas ofertas baratas? Que o Senhor convença o nosso coração de que não somos do mundo, para que não nos deixemos enganar. Aqui é uma questão de luta contra as nossas tendências e paixões desordenadas com o auxílio de Deus.

O segundo elemento que chama a atenção nesta oração de Jesus é a preservação do mal. É a batalha contra o Mal propriamente dito. O Inimigo tem ódio de nós e fará tudo para nos afastar de Cristo. Deste modo, Jesus mesmo já pediu ao Pai que nos livre do mal, que armará ciladas a fim de que abandonemos a fé. Só se vence o mal com o auxílio do Senhor.

O terceiro ponto da oração de Jesus que me salta aos olhos é a santificação na verdade da Palavra, ou seja, vivendo o Evangelho em nossa vida, estaremos na luz e longe do pecado, coerentes com o que acreditamos e pregamos; caindo talvez, mas não ficando no chão. Se dissermos que somos de Deus, mas não vivermos na verdade, estaremos na mentira. O viver "na verdade" amadurece a nossa fé, a fim de não nos deixarmos vencer pelas incoerências e hipocrisias. E é Deus quem nos dá a graça para isso.

Jesus nos ajuda a perseverar

O próprio Jesus, que já orou pela nossa fidelidade, é quem nos ajuda a sermos constantes na fé. Permanecer em Deus é possível porque Cristo nos põe de pé com a sua salvação e nos levanta quando caímos. Se algumas vezes encontramos pessoas derrotadas porque voltaram atrás, certamente, foram as que quiserem se erguer sozinhas. Por nós mesmos não conseguimos nos levantar após uma queda, mas Nosso Salvador, que já orou por nós, quer e virá nos dar a força capaz de nos sustentar até o fim. Nossa perseverança é do tamanho da nossa confiança em Deus. Depende do abandono em suas mãos e do reconhecimento de nossa incapacidade de salvar a nós mesmos.

Deixe-se salvar por Deus hoje. Ele, que já orou para que sua fé não se enfraqueça, agora, estende a mão para erguê-lo! Apenas reconheça que precisa d'Ele!

Elane Gomes
Comunidade Canção Nova


Fonte: https://mensagem.cancaonova.com/mensagem-do-dia/jesus-ora-pelos-discipulos/

25 de novembro de 2024

Venha a nós o vosso reino

Um novo ano litúrgico, um novo Jubileu

Estamos chegando ao final do ano civil, que se conclui no último dia do mês de dezembro. Para a Igreja, o ano litúrgico começa no primeiro Domingo do Advento e se encerra com a Solenidade de Cristo Rei, que celebramos neste final de semana, desdobrando-se nos dias que se seguem, para abrir a temporada da Esperança, característica do Tempo do Advento. Tudo isso reforça nossa expectativa da abertura solene do Jubileu de 2025, no dia vinte e nove de dezembro, em todas as Catedrais do mundo, com o tema proposto pelo Papa Francisco, "Peregrinos da Esperança", que vai iluminar toda a nossa vida cristã durante os próximos meses. E em todo o ano novo, serão muitas as peregrinações à Catedral e aos oito Santuários Arquidiocesanos de nossa Igreja de Belém, aos quais acorrerão em peregrinação os fiéis, com a disposição renovada para serem sinais de esperança para o mundo.

Crédito: artplus / GettyImages

Construindo o Reino de Deus no tempo presente: um chamado à esperança e à ação

Não é novidade afirmar e reconhecer que estamos vivendo a chamada "mudança de época", com verdadeira revolução nos princípios que deveriam alicerçar as decisões de pessoas, grupos e nações. As famílias experimentam a dificuldade para comunicar às novas gerações os valores que todos reconheciam como sólidos, tanto do ponto de vista ético e moral quanto à dimensão religiosa. Olhamos para o mundo e muitas pessoas até afirmam estar próximo fim do mesmo mundo, tamanhas as transformações e desafios que se apresentam.

A resposta da fé em tempos de crise

Tal realidade pode e deve provocar uma sadia e honesta revisão de nossa vida, conduzindo-nos ao apego corajoso àquilo que é essencial, e a nossa fé oferece os elementos necessários. O conteúdo de nossa profissão de fé é sempre o mesmo, mas a forma de apresentá-lo pode e deve buscar caminhos novos, uma linguagem adequada e a coragem para aproximar-nos das pessoas e situações que chegam a causar medo!

Jesus, o Rei que serve e cura

Jesus é verdadeiramente Deus e Homem, e veio a este mundo, nas circunstâncias encontradas à época em que se fez igual a nós em tudo, exceto no pecado. Convocou discípulos vindos de um ambiente desafiador, com expectativas messiânicas cultivadas ao longo de séculos, muitas delas decepcionadas com seu jeito de ser, que veio realizar a figura do Servo, aquele mesmo Servo sofredor anunciado nas profecias. Os machucados existentes na vida das pessoas foram por ele tocados, sem rejeitar nenhum deles. O Senhor veio ao encontro de todas as situações, passando pelo mundo como aquele que faz bem todas as coisas, sem que ninguém se sentisse alheio à sua presença e seu amor corajoso e mais desafiador do que os problemas existentes. E como Jesus continua presente, pois não abandonou seus discípulos e sua Igreja, ele mesmo oferece os instrumentos para fermentar, em qualquer tempo, a realidade que o apaixonava e perpassou toda a sua pregação e seus gestos, o Reino de Deus! Ao celebrá-lo como Rei do Universo, Solenidade instituída para toda a Igreja nos primeiros anos do século XX, quando os primeiros sinais de uma mudança profunda se faziam presentes, nós desejamos proclamar o valor de seu Reino e comprometer-nos com ele!

A construção do Reino: pequenos gestos, grandes mudanças

Pode existir no coração de muitos cristãos e pessoas de boa vontade o desejo de um retorno a um clima de cristandade, no qual a palavra da Igreja e a prática da vida cristã influenciava todas as realidades humanas. Sabemos que em nosso modo de espalhar o Reino de Deus hoje há de se redescobrir a pequenez da semente de mostarda, a força do fermento no meio da massa, a humildade do sal que se perde para dar sabor à vida e a intensidade da luz, não desejosa de ofuscar, mas pronta a iluminar e realçar o bem existente nas pessoas e em todas as realidades humanas.

A ação começa agora

Ninguém pretenda aguardar um acontecimento cósmico e espetacular para espalhar o Reino de Deus. Decida-se antes a começar agora, imediatamente. Olhe ao seu redor e descubra os valores que o caracterizam, a verdade e a vida, a justiça, a santidade, o amor e a paz. Aceite estimular, em quem quer que seja, tais valores e atitudes, e no pequeno que possa parecer, estaremos todos contribuindo para o crescimento do Reino de Deus.

Paixão pela Igreja, compromisso com o Reino

Outro passo há de ser nosso compromisso com a Igreja, realidade visível do Reino de Deus, malgrado nossas limitações e pecados. É da grande Santa Catarina a proposta de uma "paixão pela Igreja", o que esta grande figura experimentou em tempos muito difíceis, questionando e apontando erros de personalidades de Igreja, mas tudo feito com um amor de dimensões impensáveis, nascidas de seu mergulho na vida da Santíssima Trindade e em seu amor pelo Sangue de Cristo, derramado pela salvação do mundo. Paixão pela salvação das pessoas, coração repleto de compaixão, pois lavado na misericórdia de Deus!

Unidade e fidelidade aos pastores

O amor à Igreja nos conduzirá à fidelidade aos pastores que a Providência Divina nos oferece a cada tempo, especialmente o amor ao Papa e aos Bispos, homens como todos os outros, mas revestidos de uma graça especial, que tem conservado a Igreja unida desde seus primórdios, preservada do ensino do erro e da mentira. Desejar um caminho "solo", da parte de pessoas ou grupos, é destinar-se ao fracasso e à multiplicação de divisões, entrando justamente no jogo do maligno, aquele que separa e divide!

Venha a nós o vosso Reino: uma oração que transforma

Tudo isso encontrará cotidianamente os cristãos que suplicam "Venha a nós o vosso Reino!" São milhares de corações, silenciosos ou em alta voz que, no mínimo três vezes por dia fazem este pedido. E se acrescentarmos as orações do Rosário, multiplicaremos esta súplica! Um dos frutos será a percepção de que Deus não fica dormindo, mas trabalha sempre. Infelizes seremos se não descobrirmos os sinais do Reino de Deus, a fé professada, a caridade vivida por pessoas de todas as classes sociais, o amor ao mais pobres e sofridos, a instituições de Igreja, as muitas iniciativas pastorais e o bem que acontece, bem ali, em nossa vizinhança, em nossa Paróquia ou Comunidade, os gestos de amor realizados por pessoas muitas vezes distantes da vida de Igreja, mas capazes de amar, corações que acolheram as sementes do bem e do Reino de Deus plantadas pelo Espírito Santo! Venha a nós o vosso Reino!

 

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/venha-nos-o-vosso-reino/

23 de novembro de 2024

Assumir um compromisso diante de Deus

Assumir um compromisso diante de Deus

Diante de tudo que meditamos sobre as Sagradas Escrituras, pergunto: Você está disposto a assumir um compromisso diante de Deus?

Assumir um compromisso diante de Deus

Crédito: artipipi / GettyImages

É muito importante tomar a firme decisão de saborear a Palavra de Deus todos os dias. Precisamos ter consciência de que nossa alma tem sede de Deus: "Como a corça deseja as águas correntes, assim a minha alma anseia por ti, ò Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo" ( Sl 42,2-3a). Em contrapartida, Deus quer saciar a nossa sede: "Jesus, de pé, exclamou: 'Se alguém tem sede, venha a mim, e beba quem crê em mim' – conforme diz a Escritura: 'Do seu interior correrão rios de água viva' " (Jo 7,37-38).

Acontece que o inimigo de Deus nos cega e não quer que façamos a experiência com a Palavra, pois, na Palavra, temos um encontro com Nosso Senhor Jesus Cristo: Ele, que veio para curar, libertar, trazer a salvação. Também  podemos estar cegos pelo pecado, por mágoas, feridas e decepções. Dessa forma, a tentação pode nos levar a buscar outros lugares para saciar a nossa sede, lugares fora de Deus. 

Assumir um compromisso diante de Deus

Independentemente do que você esteja vivendo, quero motivá-lo a assumir um compromisso com Deus. Ele espera por você todos os dias! Se quisermos dar frutos, precisaremos permanecer n'Ele: "Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira verdadeira e vós, os ramos. Aquele que permanece em mim, como eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim, nada podeis fazer" (Jo 15,4-5).

 Permaneça no Senhor, assuma um compromisso com Deus e você dará frutos de paz, amor e alegria. 

Deus o abençoe!  

Sua irmã,
Cássia Duarte Leal


Fonte: https://mensagem.cancaonova.com/mensagem-do-dia/assumir-um-compromisso-diante-de-deus/

22 de novembro de 2024

A Devoção ao Menino Jesus



As Origens

Historicamente, esta "devoção" propriamente dita foi precedida pela adoração: os primeiros adoradores de Jesus menino serão Maria, José, os pastores, Simeão e Ana, os magos etc, enquanto que dois Evangelistas -- Mateus cap. 1 e 2 e Lucas cap. 2 -- insistirão sobre esta infância.

Santa Catarina de Alexandria, São Jerônimo foram favorecidos por suas aparições: conhece-se também a familiaridade de Santo Antônio de Pádua com relação ao Divino Infante.

Santo Ambrósio insistirá sobre o vínculo pessoal do resgatado com o menino do presépio: "Sou eu que me aproveito dessas lágrimas de menino chorando".

Santo Agostinho retoma o tema do presépio, figura da Eucaristia, convidando os cristãos a meditar sobre o canto dos anjos em Belém.

São Leão, em suas pregações para o Natal e a Epifania, parece ser um dos primeiros a estabelecer um liame entre a infância de Jesus e o espírito de infância.

São Bernardo, que teria tido em sua juventude uma visão da Natividade, aproveitar-se-á de toda ocasião para celebrar, nas suas homilias, o Menino Jesus: ele trata com pormenores dos seus traços e lições: doçura, bondade, paciência, humildade, pobreza etc.

Na Itália, Francisco de Assis será uma das testemunhas mais ilustres desta devoção. São Boaventura, estendendo-se sobre os mistérios da Infância dá a respeito dela "uma interpretação alegórica que permite calcar sobre a infância de Cristo as atitudes de uma ascensão espiritual".

Desde os começos da ordem franciscana, místicos recebem seus favores: o Menino Jesus deixou-se tomar, levar, abraçar...

Nos séculos XIII e XIV os autores espirituais propõem obras populares baseadas nos relatos da Infância, e Meditações onde a Infância quer suscitar tanto fervor quanto a Paixão.

Santo Inácio, nos seus Exercícios espirituais, dará grande realce a este tema de meditação.

 

Desenvolvimento de uma Piedade Popular nos Séculos XV e XVI

Ela se manifesta por representações da Natividade, na Itália, e do Menino sozinho, principalmente nos países germânicos. Na Inglaterra, abre-se o colégio São Paulo sob a proteção de um "Menino Jesus docente", nos Paises Baixos, poemas e orações celebram, com muita ternura, "o meninozinho"

 



As Estatuetas do Menino Jesus

A piedade popular vai também se manifestar  em torno desta forma de representação do Menino Jesus: algumas destas se revelarão miraculosas, elas ocuparão em breve um lugar privilegiado na devoção à Infância.

O Jesus-kind de Altenhohenhau, o de Fismoos na Áustria, o Bambino de Ara Coeli de Roma, são objeto de veneração popular.

Santa Teresa d´Ávila que propaga o uso das estatuetas, segurava nos seus braços uma representação do Menino Jesus.

O venerável Francisco do Menino Jesus (+ 1604), carmelita, recorria "em tudo que fazia ao Menino" representado por uma pequena estátua.

 

Evolução da Devoção no Século XVII

O cardeal de Bérulle (+ 1629) desempenhará um papel importante no desenvolvimento desta devoção.

Tendo encontrado na Espanha, entre os protagonistas da devoção, Francisco do Menino Jesus, é depois da introdução na França da reforma teresiana, que Bérulle fará da Infância do Verbo Encarnado um tema freqüente de seu ensinamento. A difusão de sua influência é assegurada pelos Carmelos e pelo Oratório.

Formadas por suas mães espanholas, as carmelitas francesas vão dar à devoção o seu impulso definitivo.

Em Paris, desde 1605, se possui uma estátua do Menino Jesus enviada pelo Geral das carmelitas da Espanha à bem-aventurada Ana de São Bartolomeu, favorecida com visões de Jesus Infante.

O carmelo de Beaune dará um impulso decisivo à devoção com Margarida do Santo Sacramento (1619-1648). Ela viverá em "familiaridade" com o Menino Jesus que se manifesta a ela sob os traços de um menino de alguns meses, enfaixado segundo o costume da época.

Ela recebe do "Pequeno Rei" a missão de atrair sobre o reino da França a proteção do Menino Jesus, honrando-o com uma nova devoção e cria para este fim, em 1636, uma Associação cujo impulso será favorecido pelas circunstâncias: país ameaçado pela invasão (1636), nascimento de Luís XIV (1638) considerada como uma graça nacional devida ao poder do Menino Jesus.

A irradiação da devoção de Beaune será multiplicada pelos Oratorianos, que criam uma confraria em Paris, rapidamente propagada no interior e da qual um dos mais ativos auxiliares será o Barão de Penty (+ 1649) que, tendo conhecido Margarida de Beaune, dará ao mosteiro a célebre estatueta do "Rei da Graça" que aí se continua a venerar hoje.

A doçura e a graça do "Pequeno Rei" de Beaune são particularmente comoventes.

Tipicamente carmelitana em suas origens, esta devoção, entretanto não foi monopolizada por esta Ordem.

Entre os Dominicanos distingue-se o nome de dezenas de religiosas que têm uma devoção especial ao Menino Jesus e várias dentre elas, na Espanha, Itália e França, serão favorecidas com aparições.

Entre as Visitadinas -- cujo fundador, São Francisco de Sales, encontrava no Menino do Presépio um modelo de vida religiosa -- Ana Margarida Clemente (+ 1661) estabelece uma associação idêntica a de Beaune.

As diretivas espirituais da congregação das Ursulinas francesas recomendarão a união ao Menino Jesus...

Falta-nos espaço para citar todos os religiosos e religiosas em cuja biografia se fala de uma particular devoção ao Menino Jesus, ou que foram favorecidos com suas aparições.

 


O Menino Jesus de Praga

Quando o protestantismo devastava a Europa, os príncipes que tinham traído a causa do Santo Império se coligavam contra Fernando II e ameaçavam particularmente Praga e a Boêmia católica, cujo príncipe eleitor calvinista, Frederico do Palatinado, se havia feito coroar como rei.

O Imperador Fernando II, já gravemente atacado pelos príncipes protestantes da Alemanha e da Suécia, obteve em 1620, do Papa Paulo V, o envio do Padre Domingos de Jesus Maria, terceiro Geral dos Carmelitas descalços, instalados em Roma desde 1620.

A 20 de junho de 1620, o padre chegava à Alemanha com outros dois carmelitas. Sua presença fez renascer a confiança e a esperança nos exércitos católicos que ele acompanhava e cuja vitória sobre os hereges ele predisse desde 20 de julho.

Ao visitar na Boêmia o castelo de Starkonitz, devastado pelos protestantes, o Padre Domingos aí descobriu na lama de um subterrâneo um quadro no qual a Virgem e todos os personagens -- salvo o Menino Jesus -- tinham tido os olhos furados pelos profanadores heréticos.

Ele fez o voto de restabelecer o culto desta imagem, que levava consigo no domingo, 8 de novembro de 1620, durante a batalha da Montanha Branca, onde as tropas calvinistas, apesar de sua superioridade esmagadora em número, foram dispersas e vencidas pelo exército católico.

Este quadro se conservou depois em Roma, na igreja de Santa Maria da Vitória.

Em reconhecimento por esta vitória, o Imperador, de acordo com seu aliado, o Duque Maximiliano da Baviera, fundou em 1622 os conventos de Viena e depois os de Praga e de Gratz.

Em Praga, o Imperador e o conselho municipal adquirem um antigo templo protestante e suas dependências, que ofereceram ao Padre Domingos para aí fundar o convento; a 8 de setembro de 1624, consagrada com o título de Nossa Senhora da Vitória, esta igreja iria tornar-se o centro da irradiação da devoção ao "Menino Jesus de Praga".

 

Doação da Estátua aos Carmelitas de Praga

A situação material era todavia difícil para os Carmelitas de Praga, reduzidos às esmolas dos benfeitores; para aliviá-la, o Padre João Luís da Assunção, Prior, penetrado da devoção carmelitana ao Menino Jesus, recebeu do Senhor a inspiração de lhe desenvolver o culto e ordenou ao seu imediato, o Padre Cipriano de Santa Maria, procurar uma estatueta do Menino Jesus que seria instalada no oratório.

É então que a princesa Polyxèna de Lobkowitz, que Fernando II havia feito recuperar a posse de seus bens confiscados pelos protestantes, oferece em 1628 uma estatueta do Menino Jesus ao Prior. Segundo a tradição, é a mãe de Polyxèna, Maria Manriquez de Lara, nascida princesa Pignatelli, que havia trazido esta estatueta miraculosa da Espanha e lha tinha ofertado como presente de núpcias.

De cera, com 48 centímetros de altura, ela representa o Menino Jesus de pé, com a mão direita levantada para abençoar e com a esquerda trazendo um globo. A expressão do rosto é de uma comovente doçura.

Ao remetê-la ao Prior, Polyxèna lhe disse: "Eu vos confio o que tenho de mais caro. Honrai esta imagem e de nada tereis falta." Em breve seguiram-se numerosos benefícios materiais para os Carmelitas de Praga; um dos quais, o Padre Cirilo da Mão-de-Deus, se tinha tornado apóstolo da devoção ao Menino Jesus.

 

Profanação e Esquecimento

Alguns anos após, a Boêmia tornou a ser o teatro da guerra, e os Carmelitas transferiram o noviciado para Munique;  a devoção caiu no esquecimento e os Carmelitas foram oprimidos por provações.

Um exército protestante de 18.000 homens abateu-se sobre a Boêmia onde Praga, que não tinha senão 500 homens para se defender, recaiu sob o jugo dos hereges; 80 ministros protestantes instalaram-se nas igrejas e a de Santa Maria foi pilhada, a estatueta do Menino Jesus jogada entre os destroços, atrás do altar.

Todavia, em maio de 1632, Fernando II recrutou um novo exército que expulsou os saxões de Praga: os Carmelitas estabeleceram-se novamente em seu convento, mas ninguém se preocupou com a preciosa estátua.

 

Ao flagelo da guerra sucedeu o de uma terrível epidemia da qual o Padre Prior foi uma das vítimas, e a miséria reinava no Carmelo, enquanto que o inimigo de novo ameaçava Praga.

 



Reparação

Tal era a situação quando, em 1637, o Padre Cirilo foi chamado de volta a Praga. Ele encontrou a estatueta danificada, cujas mãos haviam desaparecido, e a expôs novamente no coro à veneração dos fiéis. O Menino Jesus, que tinha abandonado o convento enquanto era deixado no esquecimento, manifestou de novo o seu poder: o cerco de Praga foi levantado ao mesmo tempo que a comunidade dos Carmelitas se achava provida do mínimo necessário.

Ora, durante uma oração diante da estatueta mutilada, o Padre Cirilo ouviu distintamente estas palavras: "Tende piedade de mim e eu terei piedade de vós. Restitui-me as minhas mãos e eu vos restituirei a paz... quanto mais me honrardes, tanto mais eu vos favorecerei..."

Preocupado com reunir os fundos necessários à restauração da estatueta, Padre Cirilo se chocava com a indiferença de seu Prior até o momento em que o Menino Jesus lhe falou de novo: "Colocai-me à entrada da sacristia e encontrareis alguém que terá piedade de mim."

É então que um estrangeiro, Daniel Wolf, se apresentou e pediu aos Padres que lhe confiassem a estátua, que ele reparou às suas custas.

Seguiram-se várias peripécias verdadeiramente sobrenaturais: Daniel Wolf, que havia perdido a sua posição e a sua fortuna, recuperou uma e outra, e depois, atacado por uma grave doença, fez voto de mandar construir um altar para a estatueta e foi atendido com a sua cura.

 

Proteção Particular do Divino Infante

Por volta de 1642, ajudado por donativos e concursos providenciais, o Padre Cirilo viu chegar o momento de pedir ao seu Prior a construção, no recinto do mosteiro, de uma capela destinada ao Menino Jesus e cujo local precioso lhe havia sido indicado pela própria Santíssima Virgem.

A 14 de janeiro de 1644, na festa do Santo Nome de Jesus, o Prior celebrava aí a primeira Missa e a 3 de maio de 1648, o Cardeal Arcebispo de Praga a consagrava oficialmente.

A estátua miraculosa foi aí conservada até 1741: entrementes, a devoção popular tinha tomado um tal desenvolvimento que a capela se revelava demasiado pequena e, a 14 de janeiro de 1741, a estatueta foi instalada solenemente na própria igreja, à direita do altar central, no seu lugar atual.

Não nos é possível, no plano deste curto artigo, relatar mesmo sumariamente a longa crônica dos acontecimentos que se seguirão, caracterizada por uma alternância de favores particulares concedidos aos que conservaram esta devoção (seja a título individual: curas etc. ou coletivo: proteção de cidades por ocasião de conflitos ou epidemias) e de provações sofridas pelos que a abandonaram.

 

Declínio da Devoção em Praga no Fim do Século XVIII

Restauração da Igreja

O fiel que visita em 1993 a igreja de Santa Maria da Vitória se espanta por não ver aí mais que uma ou duas dezenas de ex-votos.

No fim do século passado, sob a influência das ordenações do Imperador da Alemanha José II -- o "déspota esclarecido" -- que quis reformar a igreja -- uma vaga de iconoclastia varreu das igrejas os quadros e imagens, enquanto que um grande número de casas religiosas e de conventos eram suspensos.

Em julho de 1794 os Carmelitas foram desapossados de Santa Maria da Vitória ao passo que os objetos de valor ou os ex-votos, que ornavam, foram confiscados, vendidos ou roubados.

A Igreja tornou-se paroquial, servida pelos sacerdotes da Ordem de Malta.

É em 1848 que ela foi restaurada, assim como o belíssimo altar do Menino Jesus que se vê hoje ali, na parte direita da nave.

Fazendo-lhe exatamente face, à direita da nave, se eleva o altar da Virgem, sobre o qual está colocado um quadro da Virgem em oração, ilustrado por um fato miraculoso.

Por ocasião de perturbações, um velho soldado deu um tiro de arcabuz neste quadro, que o projétil furou no lugar do coração de Nossa Senhora: o sangue correu então pelo orifício, para espanto do soldado sacrílego, do qual a tradição diz que foi imediatamente confessar-se e se converteu...

Ulteriormente, o religioso encarregado da igreja declarou: "Convém que a Mãe se torne a unir com o seu Filho" e fez instalar este quadro no seu lugar atual.

Até uma data recente, dois quadros colocados de uma parte e de outra representavam o episódio do velho soldado. Infelizmente, eles foram roubados.

 

Extensão da Devoção do Menino Jesus de Praga na Europa

Limitar-nos-emos a evocar rapidamente esta extensão na França, Bélgica e Itália.

 

Na França

O Carmelo de Meaux parece ter desempenhado um grande papel na propagação desta devoção na França: Madre Gertrudes de Jesus, sub-priora, recebeu em 1885 -- segundo a tradição oral do Carmelo -- o favor de ver andar na sua cela "um pequeno Jesus que não era como os outros".

Ela procurou por muito tempo uma imagem ou estátua representando o Menino com os traços com que Ele lhe tinha aparecido, até 31 de janeiro de 1886, quando descobriu o histórico do "Pequeno Grande" de Praga e aí reconheceu o "seu pequeno Jesus"...

A estátua tão desejada chegou a Meaux, presente anônimo, a 13 de abril de 1886, e foi solenemente erigida na capela exterior do mosteiro, a 13 de setembro de 1888, pelo Bispo da diocese.

Até a morte (1 de janeiro de 1905), a Madre Gertrudes de Jesus dedicou-se ativamente a promover o culto do "Divino Pequeno-Grande" na França e no mundo.

 

Na Bélgica

O Carmelo de Audenarde ter-se-ia adiantado a todos os outros: desde 1886 o Menino Jesus miraculoso de Praga tem um trono na capela e as religiosas distribuíram os primeiros santinhos e medalhas.

Em 1891, uma bruxelense, Gabriela Fontaine, inspirada por sua mãe, vai consagra sua existência ao que será sua profissão de fé: "levar a todos o conhecimento e o amor de Jesus Menino".

Mulher de fé e de energia, dotada de um senso particular de organização, seus esforços verão a sua coroação a 18 de outubro de 1906, na consagração da igreja do Santo Menino de Jesus, edificada por sua iniciativa, em Bruxelas.

No intervalo, G. Fontaine terá suscitado a criação da confraria da Santa Infância de Jesus, fundado uma revista, mandado fazer uma cópia da estatueta de Praga difundida em milhares de exemplares que se encontram em numerosíssimas igrejas e casas religiosas na França e alhures.

A igreja de Bruxelas foi, desde a origem, confiada à ordem dos Barnabitas e as centenas de "ex-voto" que ornam suas paredes testemunham as graças ali obtidas.

A julgar por estes testemunhos --  freqüentemente muito comoventes -- da devoção ao Menino Jesus , verifica-se que esta devoção tem nascimento no fim do último século [Santa Teresinha do Menino Jesus em particular teve uma devoção muito grande ao Menino Jesus], viu o seu apogeu entre 1905 e 1925, para estiolar-se logo em seguida.

 

Na Itália: O Santuário de Arenzano

Os Carmelitas descalços estabeleceram-se em Arenzano, pequena cidade situada a alguns quilômetros de Gênova, em 1889. Nesta época, o Santo Menino Jesus de Praga era quase desconhecido na Itália.

Em 1895, os Carmelitas de Milão obtém de seu Cardeal a permissão de introduzir em seu santuário uma estatueta do Menino Jesus de Praga.

Será o ponto de partida de uma devoção que se espalhará rapidamente pelo povo italiano, através dos Carmelos, favorecendo sempre o desenvolvimento da espiritualidade carmelitana.

Em 1900, o Prior de Arenzano instala um pequeno quadro representando o Menino na capela do seu convento e, desde o ano seguinte, em conseqüência das graças recebidas pelos fiéis que ali vinham rezar, a afluência surpreende os Padres que decidem substituir o quadro por uma estatueta.

A marquesa Delfina Gavotti de Savona lhes oferece então uma cópia do original de Praga, a qual será substituída pela estátua (de madeira, um pouco maior que o original, mas que é sua exata reprodução) atualmente venerada.

A afluência aumenta -- assim como as graças obtidas, confirmando a promessa feita ao Padre Cirilo: "Tanto mais vós me honrardes, tanto mais eu vos favorecerei" -- e, patenteando-se demasiado pequena a capela, decidiu-se a construção de um santuário.

A primeira pedra da imponente basílica será posta a 16 de outubro de 1904 e a benção solene do edifício realizar-se-á quatro anos mais tarde. O local sobre o qual ele está construído torna esta visita particularmente atraente.

Uma confraria do Santo Menino Jesus de Praga, chamada "pia união", foi ali erigida: conta com um grande número de adeptos e publica um periódico.

A festa principal de Arenzano se realiza no primeiro domingo de setembro, aniversário da abertura do santuário.

 



Conclusão

A história desta devoção, cujas linhas gerais acabamos de traçar, mostra que ela é ao mesmo tempo teologicamente fundada, uma prática antiga e sobrenaturalmente fecunda.

Fecunda: insistiremos neste ponto. Como todas as orações de petição, as preces endereçadas ao Menino Jesus não obtém sempre -- na aparência e literalmente -- as graças pedidas.

Mas nossa curta vista nos dissimula freqüentemente esta realidade: Deus -- e aqui o Menino Jesus -- sabe melhor do que nós o que nos é necessário... E quantas vezes a alma, a princípio decepcionada, e até entristecida por não ter obtido a graça, a cura, o favor pedido, descobre com o tempo que, enfim, ela recebeu muito mais!

No caso particular da devoção e do recurso ao Menino Jesus serão os frutos do "espírito de infância": doçura, paciência, humildade, esquecimento de si...

Resta dizer que, se o Menino Jesus ainda é honrado em algumas casas religiosas e famílias, o é por exceção: é forçoso verificar que esta devoção é praticamente ignorada do maior número de católicos, mesmo os mais fiéis...

Basta visitar as capelas de Bruxelas, de Beaune ou de Praga -- quase permanentemente desertas -- para se dar conta disso! Mas retorquir-nos-ão, não acontece o mesmo com a maior parte das nossas igrejas onde, aí sim, a Presença Eucarística é bem Real?

Certamente. Mas se esta Presença é igualmente Real no tabernáculo de cada um de seus santuários, o coração de um cristão se ressente mais afetivamente desta solidão quando ela se manifesta -- além disso -- em torno da comovedora imagem do Menino Deus -- seja a da criancinha enfaixada de Beaune ou a do "Pequeno-Grande" de Praga...

Os que tiveram a graça de conduzir seus filhos ou netos a um destes santuários e de observar as reações deles, compreenderão melhor o que quereríamos dizer aqui.

Assim convém favorecer novamente esta devoção em nossas famílias, lembrando-nos da promessa do Menino Jesus: "Quanto mais me honrardes, tanto mais vos favorecerei".

 

(Revista SIM SIM NÃO NÃO n° 2 ― Fevereiro de 1993)

Fonte: https://permanencia.org.br/drupal/node/5315


21 de novembro de 2024

Por que Deus não me escuta?

Por que Deus não me escuta?

Por que Deus não me escuta? Todos nós nos fazemos essa pergunta mais cedo ou mais tarde, e teremos que passar pela experiência da provação, tanto a nível pessoal como com pessoas que nos são queridas. Há situações que, humanamente, são impossíveis resolver. Dentre elas, a mais dolorosa é ver uma pessoa que amamos em dificuldades e não podermos socorrê-la. A impotência diante dos sofrimentos da vida só tem um caminho de redenção, que é a em Jesus. No entanto, muitas vezes, ouvimos: "Eu tenho muita fé! Por que Deus não me escuta?".

Por que Deus não me escuta?

Créditos: FatCamera / GettyImagens

Por que Deus não me escuta?

Se tens fé, porque se lamenta por não ser atendido? Por que Deus não me escuta? O Catecismo nos diz que a nossa confiança filial é submetida à prova quando temos a sensação de não sermos atendidos. A Igreja, em sua sabedoria, nos ensina que a provação revela qual é a imagem que temos de Deus que motiva a nossa oração. Deus é um meio a utilizar alguém que tem obrigações em nos atender em tudo e de forma rápida ou é o Pai amoroso de nosso Senhor Jesus Cristo e nosso Pai? (CIC 2734-2756).

Quando se levanta a questão: Por que Deus não me escuta? Coloca-se Deus e seu amor providente em certa suspeição. Foi assim que, no princípio, a Serpente tentou nossos primeiros pais (cf. Gen 3). O Papa João Paulo II revela com perspicácia que, na história do homem, quando aparece pela primeira vez o "perverso gênio da suspeição", é falseada a verdade sobre a identidade de Deus, pois se procura falsear o próprio Bem absoluto, que se manifestou na criação como Amor criador (DeV, 37).

Bento XVI, sobre esta "suspeição" que acontece na atualidade, diz o seguinte:

"Para o homem de hoje, em relação (…) à perspectiva clássica da fé cristã, num certo sentido, as coisas se inverteram, ou seja, o homem já não pensa que precisa da justificação diante de Deus, mas o seu parecer é que Deus se deve justificar devido a quanto há de horrendo no mundo e a miséria do ser humano, tudo coisa que, em última análise, dependeriam dele". (BENTO XVI, apud TEMPESTA, 2016).

Uma fé alicerçada em Deus 

Não podemos esquecer que, na oração, combatemos contra nós mesmos e contra as astúcias do Tentador que faz de tudo para nos desviar da oração e da união com nosso Senhor. Por isso temos que ter alicerçada uma fé autêntica em Deus. O nosso Pai sabe muito bem do que precisamos, ainda antes que Lho peçamos (cf. Mt 6, 8). Santo Agostinho diz: "Não te aflija se não recebes imediatamente de Deus, o que lhe pedes: pois Ele quer fazer-te um bem ainda maior", ensina o Catecismo (CIC 2725- 2737).

O método antigo e sempre novo para responder: Por que não me escuta? Enfim, passar pela provação e enfrentar o silêncio e as demoras de Deus (cf. Eclo 2,3) é crer e esperar que Ele, em Seu amor, fará tudo concorrer para o bem daqueles que O amam (cf. Rm 8,28). Que tenhamos viva nossa confiança filial no bom Deus como teve Santa Teresinha, que, relendo sua história, dias antes da sua morte, concluiu em meio aos seus maiores sofrimentos que "Tudo é graça".

Abraço fraterno, de sua irmã em Cristo

Rosa Cruvinel
Comunidade Canção Nova


Fonte: https://mensagem.cancaonova.com/mensagem-do-dia/por-que-deus-nao-me-escuta/

18 de novembro de 2024

O valor e a importância da tolerância no cotidiano

O mundo celebra, todos os anos, o Dia da Tolerância, oportunidade para que cada pessoa reconheça a necessidade de vivenciá-la no cotidiano. A tolerância é valor necessário para o equilíbrio da sociedade. Quando se desconsidera esse valor, na humanidade, crescem as inimizades, os revanchismos e muitas outras ameaças às relações pessoais, políticas e institucionais. Por isso, tolerância não pode ser compreendida apenas como uma questão governamental, relacionada ao tratamento das religiões que se diferem daquela que é partilhada pela maior parte de uma nação. O Ocidente inaugurou, a partir da Reforma Protestante e das guerras motivadas por disputas religiosas, uma grande modificação no entendimento desse conceito, tornando-o mais abrangente.

A evolução da tolerância, enquanto valor social, pode ser percebida a partir das reflexões de muitos filósofos que advertem a respeito da existência de uma prisão. Por muitas vezes, pessoas se enjaulam na própria opinião quando se encontram com alguém que pensa diferente. Uma rigidez alicerçada na desconsideração de conceitos morais, na estreiteza de horizontes, na mediocridade de intuições e inventividades. Essa dureza traz impactos na dimensão relacional e gera o malefício terrível da intolerância. Mata diálogos, tenta justificar autoritarismos, fomenta discriminações e permite que sejam erguidas as bandeiras da exclusão, da desconsideração de raças, culturas e povos. É, assim, base para preconceitos e abusos de poder.

O valor e a importância da tolerância no cotidiano

Foto ilustrativa: Larissa Ferreira/cancaonova.com

O valor e a importância da tolerância no cotidiano

A intolerância inviabiliza entendimentos e gera o caos por obscurecer princípios básicos e, consequentemente, dar lugar às tiranias e impiedades. Condutas que são alicerçadas nas razões afetivas contaminadas por desvios éticos e morais. Entre os desdobramentos, estão as concessões de todo tipo oferecidas aos próprios pares, enquanto se trata, impiedosamente, os diferentes. Antídoto para esse mal é a tolerância compreendida a partir de sua evolução conceitual, política e social, que se relaciona à compreensão mútua entre os que partilham perspectivas divergentes. Uma atitude indispensável para não inviabilizar o funcionamento social e político, como também as relações familiares e institucionais.

Da tolerância de governos, apontada pelo filósofo Locke, na sua Carta sobre a Tolerância, "escancaram-se as portas" para uma compreensão mais ampla e determinante na vida da sociedade: agir com tolerância evita um caos social e político que recai sobre a cabeça de todos.  É conduta imprescindível para se conquistar a paz, o bem, o respeito à dignidade humana e o progresso nas relações que tecem a cultura. Assim, quando a tolerância norteia atitudes, alcança-se um grau admirável de civilidade, com desdobramentos na organização social e política. Já a direção oposta a esse qualificado modo de agir leva ao crescimento das segregações, do ódio e das disputas que alimentam os focos de guerra, gerando xenofobias e massas de refugiados perseguidos. As consequências também são percebidas nos lares, nos escritórios e nas repartições públicas, frequentemente contaminados pela desarmonia.

No horizonte amplo e fundamental do conceito de tolerância, é urgente exercê-la, especialmente, trilhando os caminhos de uma espiritualidade que pode, com mais eficácia e rapidez, qualificar cada pessoa para conviver com quem é diferente. Essa espiritualidade sustenta a tolerância que fecunda projetos, respeita e promove dignidades, salva a sociedade da violência e de outras ameaças. Nesse sentido, oportunidade de ouro é conhecer o Evangelho da Tolerância, que reflete o jeito de uma pessoa: Jesus Cristo, o Mestre de Nazaré.


Evangelho da tolerância

A vida de Jesus é o Evangelho da Tolerância, escrito para nortear os gestos cotidianos de todos e, assim, sustentar grandes transformações. A luz desse Evangelho balizou a essencialidade das práticas do cristianismo em interface com outras religiões e escolhas confessionais. Encontros guiados por valores que superam a mesquinhez do egoísmo e permitem compreender que qualquer tipo de discriminação é inadmissível. Parâmetros a partir dos quais se reconhece que o mundo é de Deus e deve ser partilhado, igualmente, por todos.

Nesse rico Evangelho da Tolerância, há um núcleo fundamental, nascido no coração de Jesus e eternamente desenhado por suas palavras: o Sermão da Montanha, capítulos cinco a sete, apresentado pelo evangelista Mateus. Trata-se de uma leitura a ser adotada diariamente, fecundando a meditação que orienta as práticas do dia a dia. A preciosidade desse núcleo pode ser reconhecida a partir do comentário instigador e provocante de Mahatma Gandhi, ao dizer que se os cristãos levassem a sério o Sermão da Montanha, operariam uma radical revolução no mundo, nas relações e nos propósitos, desencadeando uma civilização fundamentada no amor e na paz.

O exercício diário de ler o Sermão da Montanha é simples e custa muito pouco, somente o tempo do silêncio restaurador, que também é fonte de sabedoria e saúde. Por isso, todos são convidados a praticá-lo, reservando um breve momento para, individualmente, em família, no trabalho ou mesmo na roda de amigos, ler um trecho, ainda que seja um só versículo. Assim é possível exercitar o coração e a vida no Evangelho da Tolerância.



Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. No Brasil, é bispo referencial para os fiéis católicos de Rito Oriental. http://www.arquidiocesebh.org.br


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/o-valor-e-importancia-da-tolerancia-no-cotidiano/

17 de novembro de 2024

Poder do terço e a devoção mariana em Fátima

O Santo Terço é um presente de Nossa Senhora para a humanidade

O Santo Terço possui grande relevância tanto para a vida da Igreja quanto para a vida individual de cada pessoa que o reza. Trata-se de uma prática e devoção pessoal, sendo a escolha de rezar ou não, livre e individual.

Poder do terço e a devoção mariana em Fátima

Crédito: Hiraman / GettyImages

É importante lembrar que, em todas as aparições de Nossa Senhora, ela solicita que seus filhos adotem o hábito de rezar o Terço diariamente com piedade. Em Medjugorje, Lourdes, La Salette, Fátima e em outras aparições, Nossa Senhora, independentemente do país ou do nome com que se apresenta, pede que seus filhos se preparem para rezar o Santo Terço, demonstrando a importância dessa oração. Além disso, o santo terço é uma poderosíssima arma contra todas as maldades e ciladas do inimigo de Deus.

Ao longo da história, a Igreja tem recorrido à oração do terço nos momentos de adversidade, como guerras e conflitos. A oração do Santo Terço, em particular, tem sido um instrumento de auxílio e proteção em tais ocasiões, desde os primórdios da Igreja Católica, passando pela Idade Média, até os dias atuais. Todas as vezes que precisamos do auxílio divino, recorremos à oração do santo terço.

A recitação do terço tem poder para transformar a história

A aparição de Nossa Senhora em Fátima, em 1917, reveste a recitação do Terço de um significado ainda mais profundo. Naquele momento, a Virgem Maria pediu aos três pastorinhos que rezassem diariamente, buscando a paz mundial, a conversão dos pecadores, o arrependimento dos homens por seus pecados e, por fim, a conversão pessoal de cada um.

O Terço, como devoção, tem sido um meio eficaz de agradar ao coração de Deus. A história registra inúmeros exemplos de guerras que se findaram, conflitos que se pacificaram e até mesmo a queda de muralhas, como a de Berlim em 1989, que dividia a Alemanha em duas partes ideologicamente opostas, graças à fervorosa recitação do Rosário em todo o mundo.

A união da fé e da oração, expressa no Terço, demonstra o poder da intercessão e sua capacidade de influenciar os rumos da história.

A mensagem de Fátima: um olhar sobre a história e a fé

Em 1917, Nossa Senhora revelou o Terceiro Segredo aos pastorinhos, confiando-o exclusivamente a Lúcia. O conteúdo do segredo, entretanto, só seria revelado ao mundo em 27 de abril de 2000, com a irmã Lúcia ainda viva e lúcida. A interpretação oficial, divulgada pelo então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger, indicava que o segredo se referia à luta da Igreja contra o comunismo, assim como a violência e o sofrimento generalizados que a Igreja enfrentaria no século XX.

A visão de um bispo vestido de branco sendo alvejado por um tiro, e posteriormente encontrado caído e sangrando, é frequentemente associada à tentativa de assassinato do Papa João Paulo II em 1981. No entanto, a Igreja não confirma oficialmente essa interpretação.


A irmã Lúcia afirmou que não cabia a ela interpretar as visões, mas sim ao Papa. Em relação ao atentado contra João Paulo II, ela mencionou que uma "mão materna" desviou a bala, impedindo que o Papa morresse. Lúcia acrescentou que "não existe destino que não possa ser mudado, pela vontade de Deus ou pela intercessão de Nossa Senhora".

É crucial ressaltar que as interpretações do Terceiro Segredo são diversas e, muitas vezes, divergentes. A Igreja Católica, por sua vez, não oferece uma interpretação definitiva, deixando espaço para a fé e a meditação individual. Para uma compreensão mais completa, recomenda-se consultar os documentos oficiais da Igreja Católica sobre o Terceiro Segredo de Fátima e outras fontes confiáveis.

 Entendendo a mensagem de Fátima e a oração do terço

Em cada local onde Nossa Senhora se manifestou, revelando um mistério singular a cada povo, em cada tempo e época. Em Fátima, a mensagem da Virgem Maria ressoa com particular intensidade, clamando por uma profunda conversão dos filhos de Deus, pela prática da penitência, pela reza do Santo Terço e pela busca incessante pela paz.

A reza do Santo Terço, além de ser um ato de devoção, é um poderoso instrumento de transformação. No lar, pode ser recitado, diariamente, com intenções específicas, como o fortalecimento dos laços familiares, a proteção dos filhos e a intercessão pelos pais. É possível, também, invocar a proteção divina para as necessidades da Igreja e rezar pelas intenções do Santo Padre, o Papa Francisco.

O terço é uma arma poderosíssima na luta espiritual

A recitação do terço já proporcionou inúmeros benefícios, restaurando famílias e conduzindo pessoas à conversão e à mudança de vida. Como a Irmã Lúcia atestou, "Não existe destino que não possa ser mudado, pela vontade de Deus ou pela intercessão de Nossa Senhora". Como dizemos aqui na comunidade Canção Nova " Tudo pode ser mudado pela força da oração".

A intercessão de Nossa Senhora nas Bodas de Caná e a vitória dos cristãos sobre o império Otomano, inimigos da Igreja, conquistada pela oração do terço, são exemplos históricos que corroboram essa verdade.

A importância da fé e da oração para construir um lar cheio de paz

Quais as batalhas que travamos em nossa vida familiar, financeira, ou em nossa saúde e na saúde de nossos entes queridos? Devemos confiar nossos problemas, sonhos e desejos à Mãe de Deus, pedindo-lhe que interceda para que nossa realidade seja transformada, mesmo quando as soluções humanas parecem impossíveis.

A conversão pessoal, além de impactar nossa vida, pode gerar frutos de paz e bem para nossa família, nosso entorno e para o mundo. A promessa de Nossa Senhora de que "No fim, meu imaculado coração triunfará" nos encoraja a acreditar que a vitória do bem sobre o mal é possível, através da conversão, da penitência e da oração.

Nossa Senhora deseja triunfar em todas as áreas que necessitam de sua intervenção, mas para isso é crucial que nos convertamos, pratiquemos a penitência e oremos com fervor.

Wesley Paulo Santos Moreira
Missionário Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/nossa-senhora/poder-do-terco-e-a-devocao-mariana-em-fatima/

14 de novembro de 2024

O papel da caridade como a maior das virtudes

O caminho da caridade: um percurso de crescimento espiritual

A virtude é um hábito adquirido por meio de um esforço contínuo e consciente. Esforço esse decidido após uma reflexão sobre determinada situação e perseverante, sendo retomada a cada falha ou quebra de continuidade. Por exemplo, você percebe que suas reações explosivas estão causando problemas, ofendendo pessoas, gerando discussões e fazendo você perder amigos.

O papel da caridade como a maior das virtudes

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Então, após refletir sobre todas essas consequências, você decide mudar e passa a se observar, tentando manter a calma nesses momentos, ou mesmo evitando situações que possam levá-lo a perder a paciência. Com o passar dos anos, embora caindo algumas vezes, você retoma o propósito e recomeça, até perceber que está se tornando mais paciente, mais calmo, e que as explosões emocionais praticamente desapareceram. Assim, você cultivou a virtude da paciência, uma virtude humana.

Porém existem virtudes chamadas teologais, onde as virtudes humanas têm o seu fundamento, a sua raiz se referem diretamente a Deus e são dadas por ele no momento do Batismo.

Virtudes Teologais: dons de Deus para a salvação

São 3 as virtudes teologais: fé, esperança e caridade. A fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus; a esperança é pela qual desejamos como nossa felicidade o Reino dos Céus e a Vida Eterna, pondo nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo e a caridade que é a virtude teologal pela qual nós amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus.

Ora, se a caridade consiste em amar a Deus sobre todas as coisas, a caridade consiste em obedecer aos mandamentos do Senhor, conforme nos fala o Evangelho de São João – "Se me amais, guardareis os meus mandamentos." (João 14, 15).


Mas como levar esse amor a Deus à perfeição, visto que a caridade é uma virtude dada por Ele? É necessário pedir: "Porque todo aquele que pede, recebe." (Mateus 7,8).

O momento mais propício para pedir é quando se recebe a Eucaristia. Receber a Eucaristia é ter o próprio Deus em você (corpo, sangue, alma e divindade) e poder dialogar com Ele — aquilo que, em condições normais, é um privilégio concedido apenas aos grandes santos, mas que, na Eucaristia, todos nós podemos realizar de forma concreta.

Por isso é importante ter um bom momento de silêncio após a Eucaristia. Por cerca de 15 minutos, o Senhor está presente com você, e esse é o momento para pedir todos os meios para lutar pela salvação, sendo a caridade o primeiro de todos.

Amar como Cristo é a essência da caridade

E por que a caridade é um dos pontos centrais de nossa vida espiritual? Porque ninguém consegue sustentar qualquer ação sem amor. Mesmo as pessoas mais materialistas amam realizar algo, nem que seja o prazer que essa ação é capaz de proporcionar.

E nesse ciclo de amar e pedir para amar mais, amar e pedir para amar mais, vamos crescendo de passo em passo na caridade para ser mais santos e para fazer cada vez mais a vontade de Deus em nossa vida.

Quando você ama alguém, você quer estar mais perto dela, impulsionado pela virtude da caridade, você vai querer estar mais perto de Deus, ou seja, você vai querer rezar mais e melhor, você vai querer estar mais perto d'Ele na Eucaristia, você vai querer estar mais com Deus na adoração. O amor vai impeli-lo a avançar na vida espiritual, vai, inevitavelmente, levá-lo para uma vida de intimidade com Deus.

Caridade: a fonte da compaixão e do amor

Essa vida de intimidade com Deus fará você se atentar para o irmão, para suas necessidades, e a desenvolver compaixão. E por que isso acontece? Porque, ao perceber Deus como Pai, inevitavelmente você perceberá não apenas a existência dos outros irmãos, mas também se tornará mais sensível às suas necessidades e sofrimentos, começando a se mover em um processo de aumentar a atenção às necessidades dos outros.

Inevitavelmente, o amante se torna parecido com o amado. Nesse processo de amar mais a Deus, aumentando a virtude teologal da caridade, você vai desejar — mesmo com suas limitações — amar seus inimigos, porque, assim como Jesus, você perceberá que eles precisam mais do seu amor do que, muitas vezes, aqueles irmãos pelos quais você tem mais empatia.

A caridade é a virtude que transforma a alma

E assim, pouco a pouco, toda a sua vida vai se transformando, vão se mudando não só os atos, mas vão se mudando a razão pela qual os atos bons são realizados, uma reta intenção de oferecer cada ato e de fazê-lo por amor a Deus.

Este é o caminho, meu irmão, que precisamos seguir o quanto antes. E não se iluda: o caminho é longo e exigirá paciência e perseverança. Fique atento também: se você não está mudando de hábitos e atitudes, é sinal de que não está amando a Deus como deveria. Nesse caso, peça — peça cada vez mais e com mais força — e o Senhor responderá às suas preces.

Rezemos para que, um dia, possamos amar a Deus face a face na eternidade.

Almir Rivas
Missionário da Comunidade Canção Nova


1 CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Edição típica vaticana. São Paulo: Edições Loyola, 2000, parágrafo 1810.
2 CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Edição típica vaticana. São Paulo: Edições Loyola, 2000, parágrafo 1266.
3 CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Edição típica vaticana. São Paulo: Edições Loyola, 2000, parágrafo 1813.
4 CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Edição típica vaticana. São Paulo: Edições Loyola, 2000, parágrafo 1812 em diante.
5 BÍBLIA CATÓLICA ONLINE
. São João, 14. Disponível em: https://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/sao-joao/14/. Acesso em: 12/11/2024.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/o-papel-da-caridade-como-maior-das-virtudes/