30 de maio de 2018

Como Deus pode nos ajudar na construção da vida espiritual?

Deus investe na nossa santidade, através dos Sacramentos

Nestes próximos artigos da série Caminho Espiritual e as Moradas veremos como Deus, além de não nos deixar sozinhos na construção da vida espiritual, investe enormemente na nossa santidade fornecendo os meios necessários para a santificação.

Lembremo-nos que nas primeiras moradas que já refletimos, a Igreja ensina: "só quando os germes estranhos forem tirados do campo do nosso coração, as sementes da virtude podem ser convenientemente alimentadas em nós". Essa verdade, aqui registrada nas palavras do Papa São Leão Magno (Sermão XXXIX), nos lembra de que as primeiras moradas são o território em que nos defrontamos com nossas próprias falhas, vícios e paixões. Elas, via de regra, impedem nosso avanço espiritual e constroem aquela imensa fatia de cristãos que, embora fiéis à Igreja e professando uma fé verdadeira, não são tão exemplos de conduta e santidade.

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Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Ressaltamos que, Aquele que nos chama à santidade, não nos abandona no caminho, nem nos deixa sucumbir sobre um pesado fardo (Sl 54,23). Ele também não age com prepotência esperando que tenhamos corrigido plenamente nossa humanidade para depois nos presentear com dons e virtudes espirituais (Rom 5,6). Assim, estar em "estado de graça", após uma confissão válida, significa que Deus derrama sobre o batizado a Graça Santificante, ou seja, um organismo sobrenatural que nos torna capazes de ouvi-Lo e acatar a Sua vontade para nós. Claro que, como vimos nos artigos anteriores, nossas tendências desregradas e paixões cultivadas por muitos anos, acabam criando uma barreira à ação plena de Deus em nós. Somente com o avanço nas moradas e a retirada dos "germes estranhos" é que as "sementes da virtude" infundidas por Deus em nós, através da Graça Santificante, podem germinar e desenvolver-se com força.

Os Sacramentos que nos impulsionam

Um meio altamente eficaz de aumentar a Graça Santificante e, consequentemente, a recepção de virtudes e dons, é por meio dos Sacramentos. Para a vida espiritual, dois deles colaboram durante todo o percurso rumo à santidade e, também, fornecem um grande impulso para atravessar as primeiras moradas.

O Sacramento da Eucaristia é o mais sublime de todos os sacramentos. É o próprio Cristo em presença real. Chama-se presença real porque além da alma e divindade de Jesus, entramos em contato com o Seu Corpo e Sangue materiais. Temos plenamente Jesus em Sua divindade e humanidade. Isso não quer dizer que a presença de Cristo na comunidade, na oração particular ou na Palavra seja menos verdadeira, somente não tem essa conotação também material e, dessa forma, atua poderosamente no nosso corpo e materialidade.

Para o caminho de perfeição precisamos nos convencer cada vez mais desta certeza: ao comungar, temos um contato direto com Deus e, Ele mesmo, vem habitar em nós. Essa presença real aumenta enormemente a graça santificante e, quanto mais estivermos preparados, abertos e ansiosos por recebê-Lo, mais essa presença real será aumentada. É por essa disposição interior mais perfeita que duas pessoas recebem o mesmo Cristo e uma delas colhe frutos melhores e mais profundos. Assim, quanto melhor é a participação na Santa Missa, quanto melhor está preparado o coração de quem comunga, maior e melhor será a aquisição de graças.

Infelizmente é necessário lembrar aqui que, quem comunga em estado de pecado mortal, não só não recebe nenhuma dessas graças, como se condena acrescentando um novo e mais grave pecado: participar indignamente do Corpo e Sangue de Cristo (1Cor 11,29). Usando uma metáfora, aquele que comunga sem se confessar, atua como Judas Iscariotes e, sob a aparência de um gesto de amor, esconde uma traição.

A importância da Eucaristia

A Eucaristia repercute em nós como a oração; quanto mais, melhor. Mas, exatamente como a oração, a Eucaristia não pode ser um gesto mecânico, sob o risco de perder a eficácia. Assim, ir à Missa diariamente e comungar frequentemente por puro "hábito", sem atenção e reverência ao que se está fazendo, é um caminho certo para lugar nenhum. Pior, podemos desenvolver uma impermeabilidade à e uma insensibilidade aos nossos próprios pecados. Comungar, portanto, precisa ser sempre um ato consciente de fé e amor. Sendo assim, se for diário e bem feito, é melhor.

Outro ponto importante para o crescimento da vida espiritual com a Eucaristia é nos lembrarmos de sempre realizarmos uma completa e eficiente ação de graças após a comunhão. Durante o tempo em que as espécies ainda não se dissolveram no nosso organismo, temos em nós o Cristo, em uma união tão íntima como jamais poderíamos tê-Lo se Ele estivesse andando entre nós, como fez com o discípulos d'Ele. É o momento de amá-Lo e treinar esse contato com Ele. Sim, isso mesmo, treinar. Precisamos ter cada vez mais consciência desse contato e mantê-lo ativo em nós. É um treinamento porque, mais tarde, quando tivermos em adoração ou simples oração, precisamos nos lembrar de que estamos estabelecendo um verdadeiro contato com o Senhor e nesse novo contato, precisamos amá-Lo da mesma forma que O amamos na ação de graças após a comunhão.


Como relatado no artigo anterior, precisamos crescer e evoluir nos nove graus de oração até a santidade perfeita e, este artigo é uma espécie de caminho, equivalente o das Moradas, mas com outra divisão. É o contato com o Senhor na Eucaristia e o treino em amá-Lo durante essa presença real em nós, que nos prepara para o terceiro grau de oração: a oração afetiva. Nesse tipo de oração, mais do que falar com Deus (primeiro grau ou oração vocal), mais do que pensar em Deus (segundo grau de oração, oração mental ou meditação), precisamos amar a Deus cada vez mais e nos afeiçoar a Ele (oração afetiva). Esse grau de oração só é alcançado plenamente, nas segundas moradas. Mas é necessário uma prévia aqui, para que possa ficar claro a importância do Sacramento da Eucaristia nesse treinamento para um grau mais elevado de oração.

O padre Antonio Royo Marín, OP, lembra que, nunca expulsamos uma visita que recebemos na nossa casa. Esperamos que ela vá embora sozinha. E, se a amamos, se ela é importante para nós, se for uma alta autoridade, pedimos para que fique o máximo de tempo possível em nossa companhia. Do mesmo modo, ao receber Jesus na comunhão, não devemos sair correndo, começar a conversar ou nos distrair com qualquer coisa. A hora é de acolhê-Lo e amá-Lo o máximo de tempo que nos for permitido.

Os sacramentos que fortalecem a alma contra o pecado

O outro Sacramento que serve de impulso nas primeiras moradas é o sacramento da Reconciliação, da Penitência ou da Confissão. Já tratamos dele como condição fundamental para habitar o Castelo Interior da própria alma e avançar nas moradas rumo à santificação pessoal. No entanto, além de nos restituir a graça santificante com o perdão dos pecados mortais, ele tem uma outra ação eficaz na santificação: fortalecer a alma contra o pecado.

É fato que, mesmo com grande esforço para levar a vida espiritual com seriedade e desejo sincero de não errar, acabamos caindo e cometendo um pecado mortal. O Sacramento da Reconciliação, nesse caso, não só restabelece em nós a Graça Santificante, como também infunde uma fortaleza especial contra aquele pecado em particular. Assim, se ao cair, existir um arrependimento imediato e sincero; e, o mais breve possível, realizamos uma confissão válida, com verdadeiro desejo de conversão, também recebemos uma virtude infusa para nos tornarmos mais fortes diante daquele tipo de pecado.

Isso também é verdadeiro para os pecados veniais. Assim, embora não seja necessário confessar os pecados veniais, se mesmo assim os confessarmos com o sacerdote, o Sacramento da Reconciliação nos ajuda a nos livrarmos mais rapidamente do risco de voltar a cair nesses mesmos pecados. Os que se confessam regularmente, experimentam esta eficácia: as quedas (no mesmo tipo de pecado) tornam-se cada vez mais espaçadas, até que tornam-se raras e desaparecem.

Nas primeiras moradas vimos que devemos combater os dois vícios principais: a ira e a concupiscência. A utilização frequente do Sacramento da Reconciliação, focando principalmente em todos os pecados dessas áreas, mesmo os veniais, ajuda a rapidamente vencê-los e a desenvolver solidamente a virtude da paciência e a virtude da temperança.

Na via ascética, embora pareça que todo o esforço para sermos santos parte de nós, fica evidente que Deus atua com todos os meios possíveis para nos santificar e nos renovar segundo a imagem daquele que Ele enviou (Cl 3,9). Aqui vimos, detalhadamente, os dois sacramentos: a Eucaristia e a Reconciliação. Nos próximos artigos desta série "Caminho Espiritual e as Moradas", veremos como as três virtudes teologais devem ser vividas e aumentadas nas primeiras moradas. Logo depois, veremos como os dons do Espírito Santo se apresentam e se desenvolvem em nós, um após o outro, seguindo uma ordem bem clara e sucessiva, para nos levar até as segundas moradas.



Flávio Crepaldi

Flavio Crepaldi é casado e pai de 3 filhas. Especialista em Gestão Estratégica de Negócios, graduado em Produção Publicitária e com formação em Artes Cênicas. É colaborador na TV Canção Nova desde 2006 e atualmente cursa uma nova graduação em Teologia com ênfase em Doutrina Católica.

28 de maio de 2018

Um compromisso para toda a vida

Conseguiremos levar a cabo a fidelidade de um compromisso por toda nossa vida quando nos empenharmos em ser melhores

A ideia do compromisso eterno pode nos provocar calafrios. Como poderíamos medir o infindável se nossa percepção de tempo está compreendida dentro de um calendário, montado e definido por homens, com 365 dias e formatados em 24 horas?

Foto ilustrativa: Paula Dizaró / cancaonova.com

Ficamos surpresos em conhecer casais que, numa idade em que a vitalidade de suas vidas esteja apoiada por muletas, ainda celebram suas bodas. Acreditar que nossos relacionamentos durarão por toda uma vida pode até nos trazer um sentimento de impossibilidade ao seu cumprimento, quando deparamos com a vulnerabilidade de nossa natureza humana. Conscientes de nossa fragilidade, entendemos que jamais poderíamos por nós mesmos atingir este objetivo, ainda que fosse por um período pré-determinado por homens e regido por um contrato.

Muitas pessoas se casam na expectativa de nunca viverem crises conjugais ou acreditam que jamais terão problemas com filhos ou amigos. Atritos, nem sempre leves, acontecerão na vida em família e em todas as outras esferas de nossos relacionamentos. E o desejo de rescindir o compromisso assumido não passará longe de nossas considerações quando emergirem as tensas dificuldades.

Dar um novo sabor à relação

Defrontamos com algumas situações de convivência que exigem de nós empenho e coragem para continuarmos a viver o propósito assumido, especialmente quando parecem estar sem sabor ou impossíveis de serem sustentadas. Nessas ocasiões, poderíamos apenas tolerar o outro para manter uma aparência favorável, mas estaríamos longe de um vínculo verdadeiro, digno daqueles que realmente se esforçam para ser melhores.

Uma cozinheira, como se não estivesse contente com aquilo que comumente faz, não hesita em acrescentar um condimento especial, seguindo sua intuição em querer fazer melhor uma determinada receita. Em nossas vidas, de maneira semelhante, devemos estar sempre prontos a realizar algo diferente do que a maioria normalmente tenderia a fazer. Acreditar que poderá surgir um novo sabor na relação vivida, mesmo depois de atritos, seria o "condimento especial" da eterna reconciliação à qual deveríamos acrescentar na receita da boa convivência.


Alguns poetas, lançando mão da liberdade da escrita e na tentativa de escapar do compromisso exigido por um relacionamento dinâmico e vivo, enquadram o sentido do eterno à fragilidade dos sentimentos fugazes, como justificaria Vinicius de Moraes: "Que seja eterno enquanto dure…"

Entretanto, diante da convidativa proposta de nossa fragilidade, precisamos lembrar que somente poderia nos propor a condição de um compromisso eterno Aquele que por natureza o é; e que tem o domínio de todas as coisas, inclusive de nossa limitada e débil natureza. Portanto, conseguiremos levar a cabo a fidelidade de um compromisso por toda nossa vida, quando nos empenharmos em querer ser melhores e depositarmos a confiança em Deus que nos capacitará para assimilarmos e ultrapassarmos os golpes contrários que surgirão com relação a esse propósito.

Deus abençoe.



Dado Moura

Dado Moura trabalha atualmente na  Editora Canção Nova, autor de 4 livros, todos direcionados a boa vivência em nossos relacionamentos. Outros temas do autor estão disponíveis em www.meurelacionamento.net twitter: @dadomoura facebook: www.facebook.com/reflexoes

25 de maio de 2018

Confie, sempre existe uma Palavra para cada momento

'Não só de pão é que se vive, mas de toda palavra que sai da boca de Deus'. (Mt 4,4)

Essa é a resposta de Jesus à primeira das três tentações que ele sofreu no deserto, depois de ter jejuado "quarenta dias e quarenta noites". E é a mais elementar das tentações, a fome. Justamente por isso, o tentador aproveita a ocasião para propor a Jesus que se utilize de seus próprios poderes para transformar as pedras em pão. Que mal existiria no fato de satisfazer uma necessidade própria da condição humana? Jesus, porém, percebe a armadilha que está por trás daquela proposta: a sugestão de instrumentalizar Deus, pretendendo que Ele se coloque somente a serviço das nossas necessidades materiais. No fundo, o tentador quer levar Jesus a uma atitude de autonomia e não de abandono filial ao Pai. Eis, portanto, a resposta de Jesus, que é também uma resposta a todos os nossos porquês diante da fome no mundo, e também à reivindicação cada vez mais dramática de milhões de seres humanos que necessitam de alimento, de casa, de roupas. Ele, que alimentará as multidões com o milagre da multiplicação dos pães, e que fundamentará o juízo final também no ato de dar de comer aos que têm fome, nos diz que Deus é maior que a nossa fome e que a sua Palavra é o nosso principal e essencial alimento.

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Foto ilustrativa: 4maksym by Getty Images

"Está escrito: 'Não só de pão é que se vive, mas de toda palavra que sai da boca de Deus'."

Jesus apresenta a Palavra de Deus como pão, como alimento. Este pensamento, esta comparação de Jesus nos ajuda a entender como deve ser o nosso relacionamento com a Palavra. Mas, afinal, como podemos nos alimentar da Palavra? Se, antes de ser o que é, o grão é semente, depois se torna espiga e finalmente pão, assim a Palavra é como uma semente plantada em nós que deve germinar; é como um pedaço de pão que é comido, assimilado, transformado em vida da nossa vida.

A Palavra de Deus, o Verbo pronunciado pelo Pai e que se encarnou em Jesus, é uma presença de Deus entre nós. Cada vez que acolhemos e procuramos colocar a Palavra em prática é como se nós nos alimentássemos de Jesus. Se o pão nos alimenta e nos faz crescer, a Palavra nos nutre e faz crescer o Cristo em nós, nossa verdadeira personalidade. Uma vez que Jesus veio à Terra e se fez nosso alimento, não pode ser mais suficiente um alimento natural como o pão. Precisamos do alimento sobrenatural que é a Palavra para crescer como filhos de Deus.

"Está escrito: 'Não só de pão é que se vive, mas de toda palavra que sai da boca de Deus'."

A natureza deste alimento – a Palavra – é tal que se pode dizer dele o que se diz de Jesus na Eucaristia que, quando dele nos alimentamos, ele não se transforma em nós, mas somos nós que nos transformamos nele, porque somos, de certo modo, assimilados por ele. Portanto, o Evangelho não é um livro de consolação onde nos refugiamos unicamente nos momentos dolorosos, mas sim o código que contém as leis da vida, leis que não devem ser apenas lidas, mas assimiladas, "comidas" com a alma e, assim, elas nos fazem semelhantes a Cristo em cada momento da vida. Podemos nos tornar outros Jesus atuando plenamente e ao pé da letra a sua doutrina. As suas Palavras são Palavras de um Deus, cheias de uma força revolucionária, inimaginável.

Logo, devemos nos alimentar da Palavra de Deus. E, assim como hoje o alimento necessário para o corpo pode ser concentrado numa única pílula, também nós podemos nos alimentar de Cristo vivendo a cada momento uma única Palavra do Evangelho, porque em cada uma de suas Palavras Jesus está presente. Existe uma Palavra para cada momento, para cada situação da nossa vida. E é a leitura do Evangelho que poderá nos revelar cada uma delas. Então, por amor a Deus, vivamos agora o amor ao próximo que é um concentrado de todas as Palavras.

Fonte: www.focolares.org.br


23 de maio de 2018

Qual é a natureza da virtude da religião para nós cristãos?

Essa virtude nos aproxima do encontro pessoal com Deus

A natureza da virtude da religião é sobrenatural: é uma virtude moral, que nos inclina à vontade de prestar a Deus o culto que lhe é devido, por causa da sua excelência infinita e do seu supremo domínio sobre nós.

Foto ilustrativa: Wesley Almeida

É uma virtude anexa à virtude da justiça, por nos fazer prestar a Deus o culto que lhe é devido. É justo, tanto quanto possível à nossa natureza, prestar o culto mais perfeito a Deus.

É uma virtude distinta das três teologais, cujo objeto direto é Deus, ao passo que o objeto próprio da religião é o culto de Deus, tanto interno como externo. No entanto, ela precisa da virtude da fé, que nos ajuda iluminando acerca dos direitos de Deus. Quando é informada pela caridade, a virtude da religião acaba por ser uma manifestação das três virtudes teologais. Seu objeto formal ou motivo é reconhecer a excelência infinita de Deus, nosso primeiro princípio e último fim, o Ser perfeito, o Criador de que tudo depende e para o qual tudo deve gravitar.

Como praticar a virtude da religião?

Pelos ​atos internos, submetemos a Deus a nossa alma, em todas as nossas potências, sobretudo a inteligência e a vontade.

Um desses atos internos é a ​adoração​, que prostra inteiramente todo nosso ser diante daquele que dá o ser a todas as coisas. Na adoração, cultivamos a admiração respeitosa diante de Suas infinitas perfeições. Outro ato interno é a nossa ​gratidão​ Àquele que é a fonte de todos os bens que possuímos. Outro ato interno é a penitência​ que repara a ofensa cometida. Por fim a ​oração​, onde buscamos Seu auxílio para fazer o bem.

Veja que é preciso vigiar, para que o nosso relacionamento com Deus não seja somente uma pedição sem fim, por curas, milagres, graças e libertações. A virtude da religião, para crescer em nós e nos ajudar a crescer em uma intimidade com Deus, precisa ser, antes, uma vivência de amor a Deus, e não de pedições, onde a maioria de nós se afasta de Deus tão logo alcançada a graça pedida.

Os ​atos externos se manifestam a partir dos internos, onde podemos atingir expressões mais perfeitas.

Incontestavelmente, o maior de todos os atos externos é o santo sacrifício da Missa. Ato externo e social, pelo qual o sacerdote oferece a Deus, em nome da Igreja, uma vítima imolada, para reconhecer o seu supremo domínio, reparar a ofensa feita a sua Majestade e entrar em comunhão com Ele. Juntamente à Missa, as preces públicas em nome da Igreja por seus representantes.
Outros atos externos são o Ofício Divino;, as bênçãos do Santíssimo Sacramento, as orações em particular, os juramentos e votos feitos com discrição em honra a Deus, dentro das condições dos tratados de teologia moral.

De tudo isso, pode-se concluir que a virtude da religião é a mais excelente das virtudes morais.


Necessidades da virtude da religião

Estamos numa completa e inteira dependência de Deus. Uma vez que Ele criou todas as coisas do nada, para elas permanecerem existindo, é necessário que Ele as mantenha existindo. Sem Ele, nossa existência termina imediatamente. Ele nos conserva e ajuda com Sua graça. Por causa disso, devemos dar-lhe glória todo o tempo! É dever do homem, e tão somente dele, capacitado de intelecto e de razão, louvar o Criador em nome de toda a criação. É dever do sacerdote, justamente por sua posição e missão entre os homens, dar a Deus aquilo que nós, envolvidos e perdidos no meio secular, fazemos de modo imperfeito: glória e adoração a Deus.

Meios para a prática da virtude da religião

O primeiro passo para a vivência da virtude da religião, para alcançar um avanço espiritual, é pedir a fé a Deus insistentemente, de manhã, de tarde e de noite. "Senhor, aumenta a minha fé!" É graça dada tão logo é pedida. Outro passo é permanecer em estado de graça. Para isso, é preciso evitar ao máximo os pecados graves. E se caso venha a cometê-los, buscar a confissão sacramental imediatamente.

É preciso cultivar a devoção. É a disposição habitual da vontade que faz com que nos entreguemos pronta e generosamente a tudo quanto é do serviço de Deus. Em última análise, uma manifestação do amor de Deus. É assim que a religião se liga à caridade. Para exercitar bem a virtude da religião, é fundamental observar as leis de Deus e da Igreja. Evitar as distrações e perdas de tempo nos divertimentos mundanos, dos devaneios inúteis (TV, internet). Eles causam em nós a distração na oração e a falta de atenção em Deus. Devemos buscar o recolhimento antes e durante a oração.

Cultivar um sentimento profundo, misto de respeito e temor, onde reconhecemos Deus como nosso Criador e Mantenedor, supremo Senhor, do qual em tudo dependemos d'Ele. Amar em tudo ao Pai amabilíssimo e amantíssimo, que nos adotou por filhos e não cessa de nos envolver em Sua ternura paternal. Daí, brotam a admiração, ação de graças, o louvor. Procurar glorificar o Pai com a nossa vida, mesmo em meio aos sofrimentos e em tudo contentar a Deus. Procurar atrai-Lo e dar-nos a Ele, para que, em nós, conosco e por nós a virtude da religião seja praticada.

Deve-se viver em espírito de sacrifício, crucificando prontamente as tendências da natureza corrompida e obediência prontamente às inspirações da graça. Para isso, importante nos é pedir a Deus a graça de saber mortificar as nossas más inclinações: jejuns, abstinências, sofrimento com confiante alegria, caridade para os necessitados, esmola e perdão. Então, todas as nossas ações agradarão a Deus e serão outras tantas hóstias, outros tantos atos de religião, louvando e glorificando a Deus, nosso Criador e nosso Pai. Por esse meio, proclamamos praticamente o tudo de Deus e o nada da criatura, já que imolamos até as últimas parcelas todo o nosso ser, todas as nossas ações à glória do nosso supremo Senhor.

21 de maio de 2018

Síndrome espiritual da macrocefalia e microcardia

Você sabe o que é a síndrome espiritual da macrocefalia e microcardia?

Macrocefalia e microcardia espiritual, a doença do século XXI. As pessoas têm crescido em conhecimento, porém pouco em sabedoria. Possui uma mente grande para armazenar conhecimento e informações. Porém, um coração pequeno e insensível às necessidades dos outros. Descreve o Evangelista São Lucas que "Jesus ia crescendo em sabedoria, tamanho e graça diante de Deus e dos homens" (Lc 2,52).  Sendo Jesus o modelo por excelência para todos os homens, podemos nele nos inspirar e seguir.

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Foto ilustrativa: kaelhser by Getty Images

São Lucas é categórico, afirma que Jesus crescia em sabedoria, tamanho e graça diante de Deus. A sequência das palavras são significativas. O crescimento em sabedoria antecede os demais, vem por primeiro. Isso para expressar que o homem deve ser cheio de sabedoria antes de qualquer coisa. Crescer em estatura, mas não em sabedoria, isto consiste em um desajuste, em uma deformação.

Jesus é o modelo do crescimento completo e integral de todos os homens. Na sequência das palavras, o ultimo crescimento é em graça diante de Deus. Ou seja, quem cresce em sabedoria e em estatura, cresce de forma harmônica, consequentemente será cheio da graça de Deus.

Em nenhum outro tempo o mundo teve acesso a tantas informações e conteúdos diversos. Assuntos de religião, política ou economia. Livros impressos ou digitais. São inúmeras as facilidades para obter conhecimento. Desta forma, o ser humano tem se tornado conhecedor de quase tudo. Através da técnica tem buscado explorar a natureza e tornar a vida humana menos pesada. Por outro lado, também é verdade que as pessoas têm perdido a sensibilidade com o próximo e pensado somente em si. Isso significa que elas têm crescido em conhecimento mediante as informações recebidas, mas não têm crescido em sabedoria, fruto do Espírito Santo. A sabedoria está ligada às necessidades do coração. O amor ao próximo, a  solidariedade, o perdão… Todos esses são atributos do coração.


É por isso que nossa sociedade tem adoecido e se deformado pela síndrome da macrocefalia e da microcardia, isto é, cabeça grande e coração pequeno. Meus irmãos é preciso sim, crescermos em conhecimento. Porém, não podemos esquecer que é preciso também, crescer em sabedoria e Graça diante de Deus. Não seja uma pessoa deformada. Se crescer a cabeça, não esqueça de aumentar da mesma forma o coração.



Elenildo Pereira

Candidato às Ordens Sacras na Comunidade Canção Nova. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP).  Bacharelando em Teologia pela Faculdade Dehoniana, Taubaté (SP) e pós-graduando em Bioética pela Faculdade Canção Nova. Atua no Departamento de TV da Canção Nova, no Santuário Pai das Misericórdias e Confessionários.

18 de maio de 2018

Coloque o pecado para escanteio

Nossa vida de fé também precisa passar por todo o processo de condicionamento espiritual

Em um jogo de futebol, o escanteio é utilizado para reiniciar uma partida. Durante um jogo de futebol, muitos são os momentos em que é preciso reiniciar a partida. E, em nossa vida espiritual? Quando é preciso reiniciar a caminhada? Quando é preciso recomeçar? Quando precisamos romper com o pecado?

Foto ilustrativa: Wesley Almeida / cancaonova.com

No jogo da vida, buscamos a vitória sobre o pecado. Corremos, suamos, driblamos o adversário e queremos, junto com nossos irmãos, ser os campeões no time da santidade. Mas, nem sempre conseguimos alcançar o troféu da vida sobre a morte. Muitas vezes, encontramo-nos despreparados. Falta-nos um treinamento mais intensivo para que possamos entrar em campo e vencer as forças do mal. Todo jogador passa por esse processo: antes de entrar em campo para uma partida de futebol, ele passa por um rigoroso treinamento: estuda as táticas do adversário, ensaia jogadas e busca um condicionamento físico que lhe seja favorável em campo. Sem esse treinamento rigoroso, a vitória é praticamente impossível de ser alcançada.

Algumas regras para vencer

Nossa vida de fé também precisa passar por todo o processo de condicionamento espiritual para colocarmos o pecado de escanteio e reiniciarmos uma nova jogada a favor da santidade. Para que o nosso desempenho no campo da vida seja favorável, algumas regras para vencer são fundamentais:

1) Vida de oração: drible a preguiça com sua força de vontade e disciplina, invista em momentos diários de oração. Faça deles sua vitória contra o desânimo. Seja o artilheiro do campeonato da vida e marque muitos gols contra o pecado!

2) Cultive a paciência: se você errou a jogada ou algo lhe roubou a paz, se marcou um gol a favor do pecado, não desanime! Vença o jogo pela luta da santidade com fé! Seja persistente ao buscar a vitória e ganhe de virada. Olhe sempre para o objetivo principal de sua vida em campo. Sua meta é ser santo, mas tenha a plena certeza de que para sê-lo é, antes, preciso aprender a ser humano. Por isso mesmo, faça um gol de placa contra a falta de paciência com si mesmo.

3) Tenha amigos que busquem os mesmos objetivos que você. A união faz a força, e os amigos verdadeiros nos levam para os caminhos de Deus. No campo da vida, somente será vitorioso o time que aprender a partilhar os lances e jogar em união. Junte-se aos seus amigos e faça uma barreira contra o pecado. Sozinhos, nada conseguimos; mas quando partilhamos as dificuldades, nenhuma jogada do pecado consegue ultrapassar nossas barreiras.

4) Aproveite bem o seu tempo: evite fazer faltas, pois muitas delas podem ocasionar um pênalti. Assim, você fica mais propenso a levar um gol sem necessidade! Jogue com sabedoria e confiança, mas sem ser agressivo. Faça do tempo seu amigo para alcançar a vitória. Quem vence um jogo somente com faltas, arrisca sua vida; e suas jogadas contra o pecado não têm força, ao contrário, alimentam-no ainda mais.

5) Coloque o pecado de escanteio: reinicie uma nova partida no campo da fé sempre que precisar. No jogo da santidade contra o pecado, sempre temos a oportunidade de recomeçar. Não há necessidade de amarelar diante do adversário. Seja o artilheiro do amor, o goleiro da esperança e o técnico da sabedoria na vitória contra o pecado!




Padre Flávio Sobreiro

Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP e Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre (MG), padre Flávio Sobreiro é vigário paroquial da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Santa Rita do Sapucaí (MG), e padre da Arquidiocese de Pouso Alegre (MG). É autor do livro "Amor Sem Fronteiras" pela Editora Canção Nova. Para saber mais sobre o sacerdote e acompanhar outras reflexões, acesse: facebook.com/peflaviosobreiro

16 de maio de 2018

A família foi criada por Deus para ser a base da sociedade

A família é a base de tudo

O Dia Internacional da Família, 15 de maio, é uma boa oportunidade para lembrarmos da importância fundamental da família para a vida de cada pessoa e da sociedade. A família é sagrada, porque foi criada por Deus para ser a base de toda a sociedade. Ninguém jamais destruirá sua força, por ser ela uma instituição divina.

Créditos: LuckyBusiness by Getty Images

O Concílio Vaticano II chamou a família de "Igreja doméstica" (LG, 11), onde Deus reside e é reconhecido, amado, adorado e servido; e ensinou que "a salvação da pessoa e da sociedade humana estão intimamente ligadas à condição feliz da comunidade conjugal e familiar" (GS,47).

São João Paulo II chamou a família de "Santuário da vida" (Carta às Famílias,11) e "patrimônio da humanidade" (LG,11). Ele disse: "A família é uma comunidade insubstituível por qualquer outra". Jesus habita com a família cristã, nascida no Sacramento do Matrimônio; Sua presença, nas Bodas de Caná da Galileia, significa que o Senhor quer estar no meio da família, ajudando-a a vencer todos os seus desafios.

Imagem e semelhança

Desde que Deus desejou criar o homem e a mulher à Sua imagem e semelhança (Gen 1,26), Ele os quis em família. Tal qual o próprio Deus, que é uma família em três Pessoas Divinas, assim também, o homem, criado à imagem do seu Criador, deveria viver em uma família,  em uma comunidade de amor, já que 'Deus é amor' (1 Jo 4,8) e o homem lhe é semelhante.

A família é o eixo da humanidade, a sua célula mater, é a sua pedra angular. O futuro da sociedade e da Igreja passam inexoravelmente por ela. É ali que os filhos e os pais devem ser felizes. Quem não experimentou o amor no seio do lar terá dificuldade para conhecê-lo fora dele.

A família é a comunidade, na qual, desde a infância, os filhos podem assimilar os valores morais, em que pode começar a honrar a Deus e usar corretamente da liberdade. A vida em família é iniciação para a vida em sociedade (cf. CIC 2207). Depois de ter criado a mulher da costela do homem (Gen 1, 21), Deus a levou para ele. Este, ao vê-la, suspirou de alegria: "Eis agora aqui, disse o homem, o osso dos meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher" (Gen 1,23). Após essa declaração de amor tão profunda – a primeira na história da humanidade – Deus, então, mostra-lhes toda a profundidade da vida conjugal: "Por isso, o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne" (Gen 1,24).

A família é sagrada

Deus lhes disse: "Crescei e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a" (Gen 1,28). Por isso, a única e verdadeira família, segundo a vontade de Deus, é aquela fruto da união matrimonial de um homem com uma mulher. Não existe outro tipo de família no plano de Deus.

Este é o desígnio de Deus para o homem e para a mulher, juntos, em família: crescer, multiplicar, encher a terra, submetê-la. E, para isso, Deus deu ao homem a inteligência para projetar e as mãos para construir o seu projeto. O Senhor vive no lar nascido de um matrimônio. Nessas palavras de Deus – "crescei e multiplicai-vos" – encerra-se todo o sentido da vida conjugal e familiar. Dessa forma, Deus constituiu a família humana a partir do casal, para durar para sempre, por isso, A FAMÍLIA É SAGRADA!

Vemos aí, também, a dignidade baseada no amor mútuo, que leva o homem e a mulher a deixarem a própria casa paterna, para se dedicarem um ao outro totalmente. Esse amor é tão profundo, que dos dois faz-se uma só carne, para que possam juntos realizar um grande projeto comum: a família.

União

Daí, podemos ver que sem o matrimônio, forte e santo, indissolúvel e fiel, não é possível termos uma família forte e santa, segundo o desejo do coração de Deus. Tudo isso mostra como o Senhor está implicado nesta união absoluta do homem com a mulher, de onde surgirá, então, a família. Por isso, não há poder humano que possa eliminar a presença de Deus no matrimônio e na família. Deus vive no lar nascido de um matrimônio, e a Virgem Maria também.

Isso nos faz entender que, a celebração do sacramento do matrimônio, é a garantia da presença de Jesus no lar ali nascente. Como é doloroso perceber, hoje, que muitos jovens, nascidos em famílias católicas, já não valorizam mais esse sacramento e acham, por ignorância religiosa, que já não é importante subir ao altar para começar uma família!

Toda essa reflexão nos leva a concluir que, cada homem e cada mulher, que deixam o pai e a mãe, para se unirem em matrimônio e constituir uma nova família, não o podem fazer levianamente, mas devem o fazer somente por um autêntico amor, que não é uma entrega passageira, mas uma doação definitiva, absoluta, total, até a morte.


Marcada pelo sinete divino, a família, em todos os povos, atravessou todos os tempos e chegou inteira até nós, no século XXI. Só uma instituição de Deus tem essa força. Cristo entrou na nossa história pela família; fez o primeiro milagre numa festa de casamento e viveu 30 anos numa família. O Concilio Vaticano II disse: "Se é certo que Cristo 'revela plenamente o homem a si mesmo', faz através da família onde escolheu nascer e crescer" (GS,2). "Desta maneira, a família constitui o fundamento da sociedade" (GS,52). "A salvação da pessoa e da sociedade humana está intimamente ligada à condição feliz da comunidade conjugal e familiar" (GS,47).

Papa João Paulo II

O Papa São João Paulo II dizia: "A família é o âmbito privilegiado para fazer crescer todas as potencialidades pessoais e sociais que o homem leva inscritas no seu ser".

São João Paulo II disse: "Em torno da família se trava hoje o combate fundamental da dignidade do homem" (FC,18). Há uma ameaça tremenda contra a família: aborto, ideologia de gênero, divórcios, casamentos de pessoas do mesmo sexo, drogas, adultérios, inseminação artificial, e toda uma campanha internacional contra a família, o casamento e a maternidade.

Quando a família é destruída, os filhos sofrem, e muitos deles se encaminham para a criminalidade. Por isso, se a família – segundo a vontade de Deus – for destruída, então, a sociedade sofrerá suas consequências. Todos os cristãos são obrigados a lutar pela preservação da família segundo o coração de Deus.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino

14 de maio de 2018

Enquanto esperamos a vinda do Senhor

Vivendo a esperança, aguardamos a vinda de Cristo Salvador

O Senhor Jesus se manifestou de várias formas aos Seus discípulos após a Ressurreição, confirmando-os para a missão que lhes seria confiada. Cerca de quarenta dias após o evento fundamental para a fé cristã, a Ressurreição, reuniu o Senhor os Seus discípulos e confiou-lhes a responsabilidade de levar a todos a Boa Notícia:

"Disse-lhes: 'Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. Eis os sinais que acompanharão aqueles que crerem: expulsarão demônios em meu nome; falarão novas línguas; se pegarem em serpentes e beberem veneno mortal, não lhes fará mal algum; e quando impuserem as mãos sobre os doentes, estes ficarão curados'. Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi elevado ao céu e sentou-se à direita de Deus. Então, os discípulos foram anunciar a Boa Nova por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra pelos sinais que a acompanhavam" (Mc 16,15-20).

Crédito: beerphotographer / by Getty Images

Na narrativa do mesmo fato, nos Atos dos Apóstolos (At 1,1-11), aqueles que tinham caminhado com Jesus olham para o alto, enquanto Jesus subia, e lhes é feita uma revelação: "Apresentaram-se então a eles dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: 'Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que, do meio de vós, foi elevado ao céu, virá assim, do mesmo modo como o vistes partir para o céu'". Dali para frente, começa um novo tempo, que vai da Ascensão e do Pentecostes até a prometida vinda do Senhor. Trata-se do tempo da Igreja, em que a visibilidade da presença de Jesus Cristo é entregue à nossa responsabilidade, sabendo que Ele, o Senhor, continua presente misteriosa e realmente entre nós, oferecendo a sua graça para todos os passos a serem dados.

Não vivemos o tempo da saudade, mas da esperança. Assim, a Igreja reza em todas as Missas após o Pai Nosso: "Ajudados pela vossa misericórdia, sejamos sempre livres do pecado e protegidos de todos os perigos, enquanto, vivendo a esperança, aguardamos a vinda de Cristo Salvador. Vosso é o Reino, o poder e a glória para sempre!". Somos homens e mulheres da esperança. "A esperança é a virtude pela qual desejamos o Reino dos céus e a vida eterna como nossa felicidade, pondo toda a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos, não nas nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo. 'Conservemos firmemente a esperança que professamos, pois Aquele que fez a promessa é fiel'" (Hb 10, 23).

A virtude da esperança corresponde ao desejo de felicidade que Deus colocou no coração de todo o homem; assume as esperanças que inspiram as atividades dos homens, purifica-as e ordena-as para o Reino dos céus; protege contra o desânimo; sustenta no abatimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna. O ânimo que a esperança dá preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade (cf. Catecismo da Igreja Católica 1817-1818).

Como viver o tempo da esperança?

Como viver neste misterioso e maravilhoso tempo, clamando a cada dia "Vem, Senhor Jesus"? Não perder de vista a meta, olhar para o horizonte aberto por Deus, saber que nossa esperança não se limita a esta terra. Acreditar na eternidade e sonhar os sonhos de Deus. Só que não nos cabe ficar assentados, vendo o tempo passar. Quem vive na esperança e da esperança abraça suas responsabilidades vive bem cada momento presente, amando a Deus e ao próximo.

Durante a vida de cada cristão, são-lhe atribuídas responsabilidades e os dons correspondentes. Colocar em prática os dons e carismas que recebemos é caminho de realização e contribuição para a construção do Reino de Deus, uma batalha a ser empreendida em comunhão uns com os outros. E aqui haveremos de estar atentos e pacientes, sem nos apavorarmos com as eventuais demoras e os defeitos das pessoas, inclusive porque nós também os temos! Lutar dia a dia para superá-los, estender as mãos para ajudar os que são mais fracos, mostrar-lhes o horizonte da vida, sem derrotismo e pessimismo.


Comprometer-se com o bem, preenchendo cada espaço com o que é digno da vida das pessoas humanas, criadas por Deus para a felicidade. Isso significa vencer a preguiça, superar as tentações de omissão, que rondam nossos passos, especialmente nos momentos mais críticos da vida. E cada pessoa pode e deve anunciar o Evangelho, pelo testemunho, pela palavra, pelo exemplo. Como sabemos que a Palavra de Deus é a verdade (Sl 18,8), nosso compromisso com a integridade do Evangelho deve resplandecer e iluminar os nossos passos.

Dia Mundial das Comunicações Sociais

A cada ano, a Igreja propõe, na Festa da Ascensão do Senhor, a realização do Dia Mundial das Comunicações Sociais, com os quais somos responsáveis, até a vinda do Senhor, por anunciar a Boa Nova até os confins da terra. Neste ano, a Mensagem do Papa Francisco para a ocasião tem como tema "A verdade vos tornará livres" (Jo 8, 32), ajudando-nos a enfrentar o desafio das "fake news", as notícias falsas que revelam a presença de atitudes simultaneamente intolerantes e hipersensíveis, cujo único resultado é o risco de se dilatar a arrogância e o ódio. É a isto que leva, em última análise, a falsidade. Além disso, propõe o "Jornalismo de paz". Ensina o Papa: "A verdade é aquilo sobre o qual nos podemos apoiar para não cair. Neste sentido, o único verdadeiramente fiável e digno de confiança sobre o qual se pode contar, ou seja, o único 'verdadeiro' é o Deus vivo. Eis a afirmação de Jesus: 'Eu sou a verdade' (Jo 14, 6). Sendo assim, o homem descobre sempre mais a verdade, quando a experimenta em si mesmo como fidelidade e fiabilidade de quem o ama. Só isto liberta o homem: 'A verdade vos tornará livres' (Jo 8, 32). Libertação da falsidade e busca do relacionamento: eis aqui os dois ingredientes que não podem faltar, para que as nossas palavras e os nossos gestos sejam verdadeiros, autênticos e fiáveis". Propostas desafiadoras que nos acompanham em busca da plenitude que vem de Deus, enquanto esperamos a vinda do Senhor!



Dom Alberto Taveira Corrêa

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.

11 de maio de 2018

A capacidade de seguir em frente

Nossa capacidade de seguir em frente está ligada à esperança e ao  pensamento de superação que temos diante de um fato

Diante das mais variadas e possíveis situações de nossa vida, muitas vezes, vemos-nos movidos pelo mesmo questionamento: "Cada pensamento produz uma emoção diferente" (Freeman, A.). À luz da psicologia cognitiva, pensamentos geram formas de ver os fatos e reagir diante desses fatos, seguindo, então, uma cascata de interpretações que podem agir diretamente em nossos relacionamentos e nossa visão de mundo.

Créditos: Wesley Almeida / cancaonova.com

Se aquilo que você tem diante de si é um evento que o atrapalha nas relações em seu trabalho, nos seus contatos de amizade, no seu relacionamento afetivo, seu amor-próprio ou qualquer outro tipo de pensamento leva ao seguinte: "É o que você pensa acerca daquela situação que determina, em grande parte, se você vai sentir algo a respeito e o que você fará". Imagine uma pessoa que precisa falar em público e comece a ter pensamentos, tais como: "Ninguém vai gostar do que eu vou falar, vou me atrapalhar e fazer tudo errado, se eu errar será horrível e eu posso até desmaiar", e tantos outros pensamentos nessa linha. Ao pensar assim, poderá ter emoções negativas tais como medo, culpa, tristeza; assim, poderá ficar ainda mais ansioso, agravando seus pensamentos negativos acerca daquela apresentação em público que fará, muitas vezes, impedindo com que a faça e trazendo ainda mais insatisfação. Esse é um pequeno exemplo de como nossos pensamentos podem gerar emoções e comportamento.

Caso você tenha se identificado com esse relato, convido-o a pensar em como o modo que pensamos pode contribuir para moldar e influenciar diretamente nossos comportamentos, inclusive nossa capacidade de seguir em frente e superar limites que possuímos no trabalho, nos relacionamentos afetivos, em nossa vida escolar, na forma de nos percebermos.


Nossa capacidade de seguir em frente está ligada ainda à esperança e ao pensamento de superação e positividade temos diante de um fato. Se, por exemplo, temos um medo, quais atitudes você tem tomado para superar esse medo? Tenho apenas fugido ou tenho encarado os fatos mesmo que eles tragam certo desconforto?

O que acontece, muitas vezes, é que essa interpretação do fato pode estar comprometendo diretamente sua forma de agir, não apenas nesta situação, mas em outras, nas quais aplicamos o mesmo medo e a interpretação semelhante. Se algum tipo de comportamento se repete em você, é bem interessante que possa parar, analisar e perceber de que forma essas situações são enfrentadas.

Distinguir pensamentos, sentimentos e realidade

Vale ainda aprimorar sua capacidade de distinguir pensamentos, sentimentos e a realidade em si, pois, muitas vezes, fazemos uma confusão. Na frase: "Eu sinto que não deveria ir nesta festa", este "sentir" é um pensamento, não um sentimento. O que vem depois desse pensamento, ou seja, o sentimento de ser rejeitado ou ficar de lado, pode gerar um comportamento de evitar festas. Quando nos tornamos mais conscientes desse fato, vamos analisando nossas experiências.

O grande esforço de vida é a capacidade de seguir em frente, mesmo com todos os acontecimentos, avançando e sendo capaz de refletir naquilo que pode ser feito, nas tentativas e nas possibilidades existentes, e não apenas no que não deu certo. É certo que nem tudo sai como planejamos e que as decepções sempre existirão, mas tolerar a frustração e lançar-se ao desafio é essencial. Quando alteramos nossa forma negativa de interpretar, e ajustamos esta percepção sobre os fatos, vamos tendo maior clareza da forma como pensamos e agimos e assim nossa capacidade de seguir em frente se amplia.



Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro, Psicóloga Clínica e Organizacional, colaboradora da Comunidade Canção Nova.
Blog: temasempsicologia.wordpress.com
Facebook: elaine.ribeiropsicologia Twitter: @elaineribeirosp

9 de maio de 2018

Ser de Deus. O que eu ganho com isso?

Vale a pena ser de Deus

Hoje, vivemos a era do Marketing. Desde pequena, uma criança já sabe manusear um tablet, e, por todos os lados, vemos propagandas de produtos que oferecem prazer. É fato que as propagandas não vendem produtos, mas "convites à felicidade", que será alcançada por meio deles. Com isso, vemos uma geração que, a todo momento, se questiona: "O que eu ganho com isso?", "Quanto eu lucro ao buscar esse ou aquele meio?". E quando se fala em religião, vemos que esta não está numa realidade tão diferente da comercial. Em muros e cartazes, até mesmo em "carros de som", anuncia-se, pela cidade, determinada igreja que nos trará benefícios e soluções de forma cada vez mais fácil, descomprometida e acessível ao fiel… Ou poderia dizer ao cliente?

Ser de Deus. O que eu ganho com isso-

Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Vemos que, na Bíblia, também havia pessoas interessadas em se beneficiar de Deus. Giezi é um exemplo. Ele é um dos servos do profeta Elizeu, que testemunha a cura de Naamã, chefe do exército de Israel. O profeta não aceita nenhum presente de Naamã, o que deixa seu servo contrariado. "Então, Giezi sai correndo para alcançar Naamã. Quando este vê que Giezi corre atrás dele, desce do carro, vai ao seu encontro e lhe pergunta: 'Está tudo bem?'. Giezi responde: 'Tudo bem. Só que meu senhor mandou dizer-lhe: Agora mesmo, acabam de chegar, da região montanhosa de Efraim, dois jovens irmãos profetas. Por favor, dê para eles trinta e cinco quilos de prata e duas roupas de festa'. Naamã respondeu: 'Aceite setenta quilos'. Insistiu para que Giezi aceitasse. Depois, Naamã colocou setenta quilos de prata e as roupas de festa em duas sacolas, e as entregou a dois de seus servos. Estes foram na frente de Giezi levando as sacolas" (cf. II Reis 5,21-25). Giezi mente dizendo que veio a mando do profeta pedir a prata e as roupas, mas o que o comandava, nessa ação, era seu desejo de ser beneficiado com o milagre que Deus operara em Naamã.

Deus não cede aos caprichos humanos

Na contramão, temos personagens bíblicos que nos mostram o caminho de uma real busca por Deus. O próprio profeta Elizeu, na passagem já citada, mostra-nos que não é o que ganhamos com o Senhor que conta, mas o próprio Deus. Naamã lhe ofereceu prata e bens, mas o profeta os recusou, pois queria mostrar àquele homem que não se pode comprar a graça do Senhor. Muitas vezes, vejo por aí mensagens e dizeres onde se exortam um Deus produtor de bênçãos e milagres. Coisas como: "Deus não deixará nada de ruim acontecer. A sua vitória está perto, Deus fará de seus sonhos realidade". Vamos construindo um "deus" condicionado ao que buscamos, ao que queremos.

Deus quer, sim, fazer-nos felizes e nos levar a uma realização. Precisamos, no entanto, desmascarar um deus que segue caprichos humanos, que é uma mentira. No fim, são palavras vazias que nos levam a uma fé imatura, e acreditamos que o Senhor existe sim, mas como nossos planos não acontecem, pensamos que Ele está longe de nós. As promessas de Deus se cumprem sempre, mas precisamos saber se elas vêm, realmente, do Pai.


O que ganho seguindo Cristo?

"Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças" (Dt 6,5). É na intimidade com Deus que encontramos Suas promessas, e assim elas se cumprem. O que ganho seguindo Cristo? Ganho Cristo! "Porque todos fomos criados para aquilo que o Evangelho nos propõe: a amizade com Jesus e o amor fraterno." (Papa Francisco EG. 265)

Jesus veio ao mundo para nos propor uma amizade verdadeira, sem interesses. Quando seu dia não for bom, você terá onde ir e com quem desabafar. E quando for ótimo? Ele estará junto de você, alegrando-se. 'Os verdadeiros adoradores' são aqueles que buscam Deus por quem Ele é, e assim recebem graças em sua vida. Mas quando vem a dificuldade, não renega o amigo, pois sabe que "se lhe formos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode renegar a si mesmo." (cf. II Timóteo 2,13)

Peçamos a Deus a graça de uma verdadeira conversão, de uma verdadeira disposição interior em buscar o Senhor e experimentar o amor d'Ele por nós. E que cresça, cada vez mais, o amor em nós por Ele. Que o amemos de graça, e o maior ganho que teremos com isso é Sua amizade.

 


Paulo Pereira

José Paulo Neves Pereira nasceu em Nossa Senhora do Livramento (BA). É missionário da Comunidade Canção Nova e atua no setor de Jornalismo da Canção Nova em Roma, Itália.

7 de maio de 2018

A língua: bênção ou maldição?

Utilizo minha língua para abençoar ou amaldiçoar?

Tudo o que Deus faz merece fé e tem um objetivo: ser graça para a vida do homem. A língua foi criada por Deus para ser capaz de louvá-lo e glorificá-lo.

Foto ilustrativa: Arquivo CN\cancaonova.com

A língua, embora seja um membro tão pequeno, é capaz de destruir o homem e até uma nação. Quando mal usada pode ser maldição, mas quando usada para o benefício do próximo é capaz de ser bênção. O primeiro objetivo dela precisa ser a bênção para nós mesmos e nossos irmãos. Será que da nossa boca não é capaz de sair louvor? O louvor precisa ser a primeira palavra a sair de nossos lábios. Porque temos mais motivos para bendizer e louvar o Senhor do que reclamar, murmurar e até atrair maldição sobre nossa vida "da mesma boca provêm bênção e maldição. Ora , tal não deve acontecer, meus irmãos" ( Tg 3, 10).

Paremos e observemos o que tem saído da nossa boca durante o dia. Será que temos a capacidade de enfrentar as situações e os problemas do dia sem reclamação ou murmuração? A bênção deve ser constante em nossa vida e lábios. Não queiramos atrair a discórdia e a maldição pelos nossos lábios. A língua é um instrumento fundamental para a evangelização e propagação do Reino de Deus, por isso, não podemos usá-la como instrumento do demônio e maldição para vida do próximo. "Assim também a língua, embora seja um pequeno membro do corpo, se orgulha de grandes feitos (…) ora a língua é um fogo" (Tg 3, 5-6).

Somos chamados a ser bênção e salvação para a vida dos nossos irmãos e não os destruir com a nossa língua. Muitos pecados nossos estão ligados a língua, pois ela foi ferida pelo pecado. "Como o mundo do mal, a língua está posta entre os nossos membros, maculando o corpo inteiro e pondo em chamas o ciclo da criação, inflamado como está pela geena" ( Tg 3, 6). Que nossa língua não se inflame com o poder do inferno, pois pode ser veneno de destruição. Muitos através da fofoca, piadas, conversas frívolas, murmuração, julgamento, falando mal dos outros, têm sido instrumento do inferno para a vida dos irmãos (…) "ela é um sinal irrequieto e está cheio de veneno mortífero" (Tg 3, 8).


Irmãos, não sejamos pedras de tropeço na vida dos outros. Não podemos nos perder por causa de um pequeno membro: a língua. Ela não pode controlar a nossa vida; é um membro de difícil domínio mas não é impossível, o domínio da língua revela um domínio total de si mesmo. Comecemos a falar bem uns dos outros; deixemos o pecado de lado.

"(…) aquele que ama a vida e deseja ver dias felizes, guarde a sua língua do mal e os seus lábios de proferir mentiras; afaste-se do mal e pratique o bem, busque a paz e siga-a; porque os olhos do Senhor estão sobre os justos e os seus ouvidos estão atentos à sua prece(…)" ( Sl 34, 13-17).



Padre Reinaldo Cazumbá

Sacerdote membro da Canção Nova, estudante de psicologia, atua no Instituto Teológico Bento XVI e também exerce a função de diretor espiritual dos futuros sacerdotes da comunidade. Autor do livro: "Onde está Deus?". Acesse: blog.cancaonova.com/padrereinaldo

4 de maio de 2018

Somente com o amor é possível construir uma vida a dois

"O amor só é lindo quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser" (Mário Quintana)

Amor é construção diária, é superação das dificuldades tendo como objetivo a felicidade que abraça, com misericórdia, duas histórias que decidiram construir uma nova história em comum.

O namoro é o momento do encontro de duas histórias, e todo encontro é sempre delicado. Não se começa a namorar sem uma história familiar, humana, afetiva, social, intelectual e espiritual. Quando homem e mulher se encontram, encontra-se também todo um histórico construído ao longo de muitas estações da vida. Por isso o namoro precisa de tempo, para que o conhecimento da história de cada um seja verdadeiro e profundo.

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Foto Ilustrativa: Martin Dimitrov by Getty Images

Deixe que o outro conheça você

Namorar não é queimar etapas de um processo. No tempo de namoro, é preciso ter a coragem de não esconder a história um do outro. Quem esconde sua origem esconde-se de si mesmo. É preciso coragem para deixar-se conhecer e ser conhecido. Onde o medo domina, o amor se esconde.

Nessas duas histórias que se encontram, há todo um passado que precisa ser partilhado e compreendido. O casal que não compreender o passado um do outro irá, mais tarde, usá-lo como argumentos para ataques diante das primeiras dificuldades. Amar é também a arte da compreensão. Não há necessidade de concordar com possíveis erros acontecidos no passado na história de quem agora se está conhecendo, mas é necessária a misericórdia que abraça as fragilidades do outro e lhe dá a oportunidade de recomeçar.

Muitos começam o namoro apaixonados pela perfeição que enxergam naquele que dizem amar. Com o tempo, a perfeição vai dando lugar à realidade. Amor não é paixão, mas sim um estágio muito superior, construído entre dores e alegrias. Não existem pessoas perfeitas, mas seres humanos que desejam, juntos, construir uma história de felicidade, apesar de suas limitações, pecados e fragilidades. Somente o casal que se descobre imperfeito poderá buscar a santificação no amor partilhado.


Como aprender a amar?

Não há como exigir que o outro ame 100%. Será, no processo de conhecimento, que ambos vão descobrir quanto cada um aprendeu a amar. Alguns aprenderam a amar 30%, porque a sua história de vida lhe proporcionou somente esta porcentagem. Outros, irão amar 50%. Outros ainda apenas 10%. Como encarar e enfrentar essa realidade? Nem sempre será fácil. Exigirá paciência, compreensão, oração e muito amor para ser partilhado. Há disponibilidade interior para aceitar o que o outro pode lhe oferecer de amor no momento? Há misericórdia suficiente para acolher os 30% de amor que o outro pode oferecer? Há paciência para esperar que o amor cresça naquele coração que ainda está em fase de construção?

Há muitos casais de namorados perdidos em seus próprios relacionamentos, pois, quando estavam apaixonados, enxergavam que o outro o amava 100%, mas, com o passar do tempo, descobriram que só eram amados 20%. Amor é construção diária, é superação das dificuldades, tendo como objetivo a felicidade que abraça, com misericórdia, duas histórias que decidiram construir uma nova história em comum.

A paixão começa a mostrar os seus limites quando o amor começa a ser mais forte do que a perfeição antes vislumbrada. E somente com o amor será possível construir uma vida a dois.



Padre Flávio Sobreiro

Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP e Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre (MG), padre Flávio Sobreiro é vigário paroquial da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Santa Rita do Sapucaí (MG), e padre da Arquidiocese de Pouso Alegre (MG). É autor do livro "Amor Sem Fronteiras" pela Editora Canção Nova. Para saber mais sobre o sacerdote e acompanhar outras reflexões, acesse: facebook.com/peflaviosobreiro

2 de maio de 2018

Luz da Fé: Deus quer o meu bem

Deus se revela, porque Ele quer o nosso bem

Neste programa 'Luz da Fé', quero refletir com você sobre o número 50 do Catecismo da Igreja Católica, o qual ensina o seguinte:

Deus vem ao encontro do homem

50. Mediante a razão natural, o homem pode conhecer Deus, com certeza, a partir de Suas obras. Existe, no entanto, outra ordem de conhecimento que o homem, de modo nenhum, pode atingir por suas próprias forças: a da Revelação Divina (22). Por uma decisão totalmente livre, Deus se revela e doa-se ao homem. Ele o faz revelando Seu mistério, Seu projeto benevolente, que concebeu, desde toda a eternidade, em Cristo e em prol de todos os homens. Revela plenamente seu projeto ao enviar Seu Filho bem-amado, nosso Senhor Jesus Cristo, e o Espírito Santo.

Créditos: Wesley Almeida / cancaonova.com

Esse número 50 afirma algo maravilhoso: Deus se revela ao homem. Anteriormente, refletimos sobre as vias de conhecimento de Deus, que são a criação e a pessoa humana. Agora, o Catecismo nos ensina que "existe outra ordem de conhecimento que o homem, de modo nenhum, pode atingir por suas próprias forças, a da Revelação divina". 

Essa Revelação Divina é uma iniciativa livre por parte de Deus. Em João 3,16-17 está escrito: "Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele". Deus tomou a iniciativa para nossa salvação! E Ele faz isso unicamente por amor.

O Catecismo ensina que "Por uma decisão totalmente livre, Deus se revela e se doa ao homem". E como Ele faz isso? O Catecismo explica que Deus toma essa iniciativa revelando seu mistério, seu projeto benevolente. Essa palavra benevolente é muito importante. Essa palavra, em sua origem no latim, significa querer o bem do outro. Não se trata somente de fazer o bem, mas querer o bem do próximo. Portanto, a gente começa a compreender que Deus se revela, porque Ele quer o nosso bem.

Meu irmão, Deus quer o seu bem! A você, que hoje está sofrendo num leito de dor, enfrentando essa enfermidade, passando por um desgastante tratamento, eu afirmo: Deus quer o seu bem. A você que está endividado, eu afirmo: Deus quer o seu bem. A você que está sofrendo no seu casamento por causa de uma terrível traição, saiba: Deus quer o seu bem. A você que sofre a dor da perda de um ente querido, eu também afirmo: Ele quer o seu bem.

O Senhor tem um projeto para sua vida, e esse projeto é benevolente, pois tem como meta, como objetivo final, nossa felicidade, ou seja, nosso bem.


As três árvores

Conta-se que havia, no alto da montanha, três pequenas árvores que sonhavam o que seriam depois de grandes.

A primeira, olhando as estrelas disse:

– Eu quero ser o baú mais precioso do mundo, cheio de tesouros. Para tal, até me disponho a ser cortada.

A segunda olhou para o riacho e suspirou:

– Eu quero ser um grande navio para transportar reis e rainhas.

A terceira árvore olhou o vale e disse:

– Quero ficar aqui, no alto da montanha, e crescer tanto, que as pessoas, ao olharem para mim, levantem seus olhos e pensem em Deus.

Muitos anos se passaram e, certo dia, veio um lenhador e cortou as três árvores. Todas ansiosas em serem transformadas naquilo que sonhavam. Mas lenhadores não costumam ouvir nem entender sonhos.

A primeira árvore acabou sendo transformada num coxo de animais, coberto de feno.

A segunda, virou um simples e pequeno barco de pesca, carregando pessoas e peixes todos os dias.

A terceira, mesmo sonhando em ficar no alto da montanha, acabou cortada em grossas vigas e colocadas num depósito.

Todas as três se perguntavam desiludidas e tristes: "Para que isso?".

Numa certa noite, cheia de luz e estrelas, onde havia mil melodias no ar, uma jovem mulher colocou seu filho recém-nascido naquele coxo de animais. De repente, a primeira árvore percebeu que continha o maior tesouro que existe: o Filho de Deus, que se encarnou para nos salvar.

A segunda árvore, anos mais tarde, acabou transportando um homem que acabou dormindo no barco, mas, quando a tempestade quase afundou o pequeno barco, o homem se levantou e disse: "Paz!". Num relance, a segunda árvore entendeu que estava carregando o Rei dos Céus e da Terra.

Tempos mais tarde, numa sexta-feira, a terceira árvore espantou-se quando suas vigas foram unidas em forma de cruz e um homem todo ferido foi pregado nela. Logo, sentiu-se horrível e cruel. Mas, no Domingo, o mundo vibrou de alegria. E a terceira árvore entendeu que nela havia sido pregado o Salvador da humanidade, e que as pessoas sempre se lembrariam de Deus e de Seu filho Jesus Cristo ao olharem para ela.

Assim como essas três árvores da historinha, nós também trazemos sonhos. E é certo que Deus tem sonhos infinitamente maiores e melhores para nossa vida. É necessário percebermos que esses sonhos divinos fazem parte desse projeto benevolente que o Senhor tem para cada um de nós, afinal, Deus quer o nosso bem.

Um forte abraço!

Alexandre Oliveira
Missionário da Comunidade Canção Nova

(22) Cf. Conc. Vaticano I: DS 3015