9 de julho de 2025

Como conciliar fé e razão?

A relação entre fé e razão vem tomando destaque nos discursos do Magistério Católico1. Assim escreve São João Paulo II: "A fé e a razão (Fides et Ratio) constituem como que duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou, no coração do homem, o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de conhecê-Lo, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio".2

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O cristão busca a verdade na relação dialógica fé e razão, o que exige maior diálogo interdisciplinar. Como afirma São João Paulo II: "é ilusório pensar que a fé teria mais penetração se se defrontasse apenas com uma razão débil; pelo contrário, nesse caso cairia no grave perigo de se ver reduzida a um mito ou superstição. Da mesma maneira, uma razão que não se deparasse com uma fé adulta não seria estimulada a fixar o olhar sobre a novidade e a
radicalidade do ser".3

A Igreja nos ensina que, embora a fé supere a razão, "não poderá nunca existir contradição entre a fé e a ciência, porque ambas têm origem em Deus".4 É o mesmo Deus que dá ao homem seja a luz da razão seja a luz da fé. "Crê para compreender; compreender para crer" (Santo Agostinho). São João Paulo II se referiu à contribuição que uma poderia oferecer à outra: "A ciência pode purificar a religião do erro e da superstição; a religião pode purificar a ciência da idolatria e dos falsos absolutos. Cada uma delas pode introduzir a outra num mundo mais vasto, num mundo em que ambas podem florescer".5

Ainda, "a verdade não contradiz a verdade". O fim último da existência humana é objeto de estudo quer da filosofia (razão), quer da teologia (fé). Embora com métodos e epistemologias diversos, ambas apontam para o "caminho da vida" (Sl 16, 11)6  que, conforme professamos pela fé, tem o seu fim último na alegria plena e duradoura da contemplação de Deus Uno e Trino.

Fé e razão são campos contrários?

Não podemos considerar a fé e a razão como dois campos contrários, deverá haver humildade de ambas em reconhecer seus limites e saber de onde cada uma deve partir e até onde podem ir. Significa que há uma passagem de nível entre o teórico (dados da razão) e o da fé propriamente dito. Diante disso, já se percebe que a razão pode ser um subsídio precioso, mas jamais uma substituição do discurso teológico. Na realidade, a fé e a razão são campos em que a Verdade (Deus) se manifesta, revela-se.

Consideremos dois aspectos do homem: um ser que busca a verdade e, ao mesmo tempo, um ser que busca o transcendente. Todo homem busca a verdade, uma verdade definitiva, que dê sentido a sua vida e, ao mesmo tempo, busca o sentido último de sua existência na abertura ao transcendente. "À luz dessas exigências profundas, inscritas por Deus na natureza humana, aparece mais claro também o significado humano e humanizante da palavra de Deus. Graças à mediação de uma filosofia que se tornou também verdadeira sabedoria, o homem contemporâneo chegará a reconhecer que será tanto mais homem quanto mais se abrir a Cristo, acreditando no Evangelho". 7

Fé e razão juntas

Durante muitos séculos, a Igreja tomou a liderança nas pesquisas científicas. Vários monges e clérigos se dedicaram também às diversas ciências. A busca de conquistas científicas sempre foi para a Igreja uma forma de chegar à verdade de Deus. No século XIII, Alberto Magno incentivou a pesquisa mineralógica. Em 1543, o clérigo Nicolau Copérnico, em seu De revolutionibus orbium coelestium (Sobre as revoluções das esferas celestes), redescobriu o heliocentrismo. Em pleno século XIX, o monge Gregor Mendel formulou as leis da herança genética.

Grandes sábios como Pascal, Ampère, Pasteur e Eduardo Branly professavam a fé católica. Albert Einstein, autor da teoria da relatividade, afirmava que "a religião sem a ciência estaria cega, e a ciência sem a religião estaria coxa". Newton afirmava que "há um ser inteligente e poderoso, que governa todas as coisas não como a alma do mundo, mas como Senhor do Universo, e, por causa do seu domínio, é chamado Senhor Deus, Pantocrator".

O famoso prêmio Nobel alemão Werner K. Heisenberg, um dos principais criadores da Mecânica Quântica, em Madrid (1969), afirmou: "Creio que Deus existe e que d'Ele procede tudo. A ordem e a harmonia das partículas atômicas têm que ter sido impostas por alguém".

Incentivo da Igreja

Pontifícia Academia das Ciências, sediada no Vaticano, promove o progresso em matemática, física e ciências e testemunha a complementaridade entre fé e razão quando existe honestidade intelectual de ambas. A razão está a serviço da fé, uma vez que a fé está para a Razão divina e não pode ser açambarcada ou submetida pela razão humana em sua inteireza. A não é somente questionada pela razão, mas também questiona, incorpora e mede a razão humana a partir duma Razão superior. (…) a razão possui o seu espaço peculiar que lhe permite investigar e compreender, sem ser limitada por nada mais que a sua finitude ante o mistério infinito de Deus.8

Consideramos também os trabalhos do Observatório Astronômico do Vaticano, que têm autoridade mundial. A Igreja incentiva e até financia pesquisas filológicas, arqueológica das fontes bíblicas e científicas; com isso, valoriza a verdade conhecida por meio da razão.


Preconceito

A Igreja, que sempre acolheu cientistas e pensadores, é, muitas vezes, apresentada como uma das primeiras adversárias da ciência moderna. Não negamos que a Igreja, em sua história, teve dificuldades de aceitar certas conquistas científicas em nome da fé até então professada e, por isso, muitos pesquisadores foram perseguidos. No entanto, o que existe, hoje, são certos preconceitos de algumas pessoas de fé com relação à razão e de algumas pessoas de ciência com relação à fé. A Igreja não é contra na busca da verdade. O questionamento está quando, para chegar à verdade, usa-se de meios contrários à vida, e quando os fins conquistados não sejam usados para a promoção da vida humana.

Portanto, a vida cristã, se corretamente desenvolvida a partir de fontes teológicas com fundamentação racional, é capaz de dar contribuições seguras aos questionamentos de fé que surgem em nossos dias. Uma razão sem fé empobrece-se, estreita-se e, finalmente, a Igreja continua profundamente convencida de que fé e razão se ajudam mutuamente, exercendo, uma em prol da outra, a função tanto de discernimento crítico e purificador, como de estímulo para progredir na investigação no aprofundamento9. A vida cristã é a possibilidade que tem a fé de se fazer coerente, concreta e comprometida com a pessoa humana.

Diálogo entre fé e razão

Na relação de diálogo entre a razão e a fé é que se levantam argumentos válidos para responder às necessidades do mundo atual. É importante entender que postura dialogante da fé com a razão não contraria os princípios religiosos.

A fé e a razão não são grandezas contraditórias, pois, como afirma Tomás de Aquino, tanto a luz da razão quanto a luz da fé provêm de Deus. Se houvesse contradição, o próprio Deus, compreendido como Razão criadora, também seria contraditório. "A mente do homem dispõe o seu caminho, mas é o Senhor quem dirige seus passos" (Provérbios 16,9).

Equipe de Formação da Canção Nova

Referências:

1 Cf. JOÃO PAULO II, Carta encíclica Fides et Ratio, Paulinas, São Paulo 2010.
2 JOÃO PAULO II, Carta encíclica Fides et Ratio, Paulinas, São Paulo 2010, (Introdução).
3 JOÃO PAULO II, Carta encíclica Fides et Ratio, Paulinas, São Paulo 2010, n 48.
4 CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n. 159.
5 CARTA A GEORGE COYNE, M13. Citado por JÓZEF MIROSLAW ZYCINSKI em 19 de Maio de 2005
http://www.vatican.va/roman_curia/secretariat_state/2005/documents/rc_seg-st_20050519_bologna-process_po.html
6 JOÃO PAULO II, Carta encíclica Fides et Ratio, Paulinas, São Paulo 2010, n. 15.
7 JOÃO PAULO II, Carta encíclica Fides et Ratio, Paulinas, São Paulo 2010, n. 102.
8 Cf. JOÃO PAULO II, Carta encíclica Fides et Ratio, Paulinas, São Paulo 2010, n 14.
9 Cf. JOÃO PAULO II, Carta encíclica Fides et Ratio, Paulinas, São Paulo 2010.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/biblia/como-conciliar-fe-e-razao/

7 de julho de 2025

Como é viver a santidade na vida cotidiana?

A santidade é possível para todos

A santidade é a vocação de todo cristão batizado, independentemente do seu estado de vida e da realidade em que esteja inserido. Em sua Encíclica Gaudete et Exsultate sobre o chamado à santidade no mundo atual, Papa Francisco nos diz que a santidade é, sem dúvida, o rosto mais belo de Deus, e que "O Espírito Santo derrama a santidade por toda a parte no santo povo fiel de Deus, porque aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e O servisse santamente".

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Os santos foram homens e mulheres que se deixaram transformar pela graça de Deus e corresponderam a essa graça numa vida honesta, virtuosa e, acima de tudo, uma vida de vivência da Palavra de Deus. Em outras palavras, poderíamos dizer que ser santo é viver o Evangelho, é fazer a vontade de Deus onde se está inserido. Por muito tempo, achávamos que a santidade era algo só para quem vivia nos mosteiros, para os padres e as freiras, mas isso é um pensamento errôneo, pois a santidade é possível para todos – para o estudante, para a mãe de família, para o pai trabalhador, para o jovem universitário –, independentemente da profissão ou do cargo que ocupe.

Uma devoção à santidade

São Francisco de Sales, em seu livro intitulado de 'Filoteia' ou 'Introdução à vida devota', aponta-nos que a vida de devoção e santidade é possível, que ela não é para uma elite separada; a santidade é para todo homem de boa vontade. Outra grande verdade é que a santidade não é fruto de nossos esforços humanos nem de nossos méritos, ou seja, não somos nós que nos transformamos em santos; a santidade é, acima de tudo, um dom da graça de Deus, e é Ele quem nos transforma em santos. Da nossa parte, temos a obrigação de corresponder ao tamanho dom que nos foi dado no dia do nosso batismo, pois todos os dons já nos foram dados no nosso batismo.

O batizado é um vocacionado à santidade, ou seja, é alguém que deve ter consciência da vida nova que lhe foi infundida e, por isso, vive como pessoa salva em Cristo, vivendo fiel e honestamente o seu batismo.

Ser santo não é não pecar ou não ser gente, ser santo é corresponder à graça de Deus, amar a Deus acima de tudo e o próximo com amor verdadeiro que sai de si. É viver o Evangelho, a ternura, a bondade, a conversão nas pequenas e grandes coisas do cotidiano da vida.

São Bento, em sua regra, aponta-nos um meio tão eficaz chamado de "a conversão dos costumes", ou seja, auxiliados pela força de Deus, devemos nos converter, mudar aquelas atitudes que não edificam ou não ajudam o próximo no seguimento a Cristo. Os grandes santos eram profundamente homens e totalmente de Deus, não viviam uma santidade destacada da realidade, ou algo longe de se alcançar, mas algo no concreto do dia a dia, vivido com paciência e amor. Não viviam nas alturas só preocupados consigo mesmos, ao contrário, os santos eram homens e mulheres à frente do seu tempo, eram, como nos diz Jesus no Evangelho, o fermento de Deus no meio do mundo.

A pequena via

Grande exemplo dessa santidade nas pequenas coisas e no cotidiano da vida é Santa Teresa do Menino Jesus, que viveu a chamada pequena via, uma santidade que se dava no dia a dia. Em tudo aquilo que ela fazia, colocava amor, fazia por amor, principalmente as coisas mais humilhantes, suportava tudo sem murmurar, mas por amor.

Nosso século está recheado de testemunhos autênticos de pessoas que, em diferentes realidades, viveram a santidade, foram se transformando pela graça de Cristo. Pessoas que, alcançadas pelo amor e misericórdia de Deus, não pararam em si mesmas, mas se lançaram em ajudar o próximo, pessoas essas que são para nós como luzeiros a iluminar nosso caminho nas noites escuras que, muitas vezes, vivemos.

Os santos não são apenas para ficar nos altares bonitinhos e rezarmos a eles, mas, antes e acima de tudo, são para nós modelos, modelos a serem imitados no dia a dia, adaptando a nossa vida a nossa realidade, buscando viver as virtudes nas situações que vamos vivendo na caminhada. Os santos são nossos irmãos mais velhos na fé. Olhemos para a vida deles e percebamos que é possível, podemos chegar lá, não sozinho, mas correspondendo à graça de Deus acima de tudo.


Por amor a Deus

O fundador do Opus Dei, São Josemaria Escrivá, tem uma frase belíssima e, ao mesmo tempo, muito forte, que nos leva a questionarmos a nossa vida: "Meu Deus, faz-me santo, nem que seja a pauladas". Portanto, meus irmãos, a santidade não é um presente de bom comportamento, mas uma graça dada por Deus, que consiste na vivência da Sua Palavra. O santo não se pertence, é alguém vazio de si e cheio de Deus.

Portanto, meus irmãos, vivamos a santidade em tudo aquilo que fizermos, seja na cozinha, no escritório, no campo, na escola, no hospital, na faculdade e em qualquer lugar que estejamos, suportando tudo por amor de Deus e pagando o mal com o bem sempre, pois o bem feito com amor nunca será esquecido.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/como-e-viver-a-santidade-na-vida-cotidiana/

Jovem, escolha o seu caminho

Todo jovem quer ser livre e feliz; e não aceita perder isso por nada. O Criador não quis para você uma felicidade pequena nem transitória, essa em que se encontra entre as coisas do mundo: o prazer dos sentidos, o delírio das riquezas ou o fascínio do poder, das drogas, do sexo. Isso tudo passa! É uma felicidade ilusória. Isso é muito pouco para você e não o satisfaz. Deus quis que a sua felicidade fosse muito maior!

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O Pai sempre quer o melhor para o filho. Você foi criado à imagem de Deus, então, a sua sede e fome de realização e de felicidade são infinitas, e não podem ser saciadas com as satisfações que se acabam. A sua fome de felicidade não pode ser saciada sem Deus, que é infinito. É fome de Deus. Sem acolhê-Lo de coração aberto, você jamais experimentará a autêntica felicidade e liberdade.

Isso não é uma mera conclusão religiosa, é um fato de vida. Se dermos a um jovem tudo o que ele quiser – dinheiro à vontade, prazer até não poder mais, "curtição" de toda espécie –, veremos que a sua fome de felicidade continuará insaciada, e ele sempre pedirá mais, sem limites. Se isso não fosse verdade, não teríamos tantos jovens ricos delinquentes, envolvidos com drogas, crimes etc.

O jovem Agostinho

Santo Agostinho (354-430), quando jovem, também buscou a felicidade nos prazeres do mundo, na retórica, na oratória e em tantas outras estrepolias, porém, somente saciou seu coração quando encontrou o Evangelho e Jesus Cristo. Sem Deus, não há autêntica liberdade e felicidade.

Mas, por favor, não pense que abraçar a Deus, viver uma vida e obediência às suas leis significam perder a liberdade e viver uma vida triste e mutilada. Não! Ao contrário, Deus é a verdadeira liberdade e verdade. Você precisa saber a diferença que há entre liberdade e libertinagem, entre ser livre e libertino.

Liberdade sem compromisso com a verdade e com a responsabilidade torna-se libertinagem; quer dizer, abuso da liberdade. E isso não pode fazê-lo feliz! A verdadeira liberdade é fazer tudo o que é justo, legítimo e conforme a lei de Deus. Fora disso é escravidão.

Escolha o seu caminho!

Texto extraído do livro "Jovem, levanta-te", do professor Felipe Aquino.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/jovem-escolha-o-seu-caminho/

5 de julho de 2025

Três passos para viver a busca pela santidade

São Francisco de Assis, Santo Afonso Maria de Ligório, Santa Teresa de Jesus, São João da Cruz, Santa Teresinha do Menino Jesus, Santa Rita de Cássia… Santos canonizados e reconhecidos oficialmente pela Igreja devido às virtudes que iluminaram seus caminhos rumo ao coração de Deus.

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O caminho da santidade é construído no cotidiano da nossa vida. Os santos nos ensinam esta verdade: santo é quem faz da sua vida um altar do amor. Eles atingiram a santidade porque viveram a vida com todas as consequências da caminhada: erros e acertos; alegrias e tristezas; luzes e trevas.

Como construir um caminho de santidade?

O que é ser santo? Ser santo não é ser perfeito. Se fôssemos perfeitos, não era preciso buscar a santidade, pois já seríamos santos de fato. Os grandes santos nos ensinam que viver reconciliados com nossa humanidade é fundamental para quem se propõe buscar a santidade. São Francisco de Assis reconciliou seu lado humano com o mistério da morte, a ponto de chamá-la de irmã morte. Santa Terezinha do Menino Jesus trilhou seu caminho de santidade na obediência.

Hoje, vivemos um tempo em que a busca da santidade está em alta. Tal atitude não é errada. Porém, muitos a têm buscado sem se reconciliar com seu lado humano. E quando descobrem que enquanto não forem humanos não conseguirão chegar à santidade, entram em complexas crises de identidade.


O que fazer com as próprias imperfeições

O caminho da santidade passa essencialmente pelos territórios humanos que compõem nosso ser. Buscar a santidade e esquecer-se de reconciliar-se com o humano é fonte de problemas psicológicos sérios. Muitos têm trilhado esse caminho perigoso. Olham para os santos como se esses nunca tivessem pecado na vida, mas estes só conseguiram chegar à santidade porque, por meio de suas próprias imperfeições, buscaram ser melhores a cada dia. O caminho da santidade começa a ser trilhado quando o presente se torna um lugar de reconstrução. O passado nos ensina o erro cometido, o presente é lugar por excelência de recomeçar, e o futuro é morada da esperança.

Muitos querem ser santos, mas ainda não aprenderam a ser humanos. Desejariam ser robôs programados para fazer somente o bem, mas a realidade é permeada de imperfeições. Acordam com o olhar no ideal perfeito de uma vida sem erros, mas adentram a noite perdidos nas trevas do erro. Buscam a perfeição, mas se esquecem de reconciliar-se com o que ainda está em construção. Andam pelas margens da estrada da vida, e desviam-se das pedras necessárias para o amadurecimento. As pedras que se encontram no meio da estrada só serão prejudiciais se nada aprendermos com elas.

Primeiro passo

O primeiro passo para sermos santos é identificarmos as nossas imperfeições. É ainda preciso ter consciência de que nunca seremos 100% perfeitos. Nem mesmo São Francisco de Assis o foi. Ele só foi santo, porque buscava, a cada dia, refazer sua história. Nos erros da vida, São Francisco descobria, em cada nova manhã, a chance de recomeçar.

Segundo passo

O segundo passo para o caminho da santidade é fazermos de cada novo dia uma oportunidade de recomeçar. Quem nunca encara os seus pecados dificilmente conseguirá encontrar meios para vencê-los. É mais fácil maquiarmos o erro do que olharmos no espelho de nossa alma e reconhecermos o seu verdadeiro rosto.

Às vezes, é mais fácil e bonito vivermos com um ideal de santidade do que nos esforçarmos para mudarmos atitudes que não contribuem em nada com nosso crescimento humano e cristão. Ser santo não é fácil, mas também não é impossível.

Terceiro passo

O terceiro passo é buscarmos a santidade no cotidiano da nossa vida. Amar mais aqueles que vivem ao nosso lado, exercitar a paciência quando estamos a ponto de descarregar nossa raiva em quem não tem culpa dos nossos fracassos. Ser solidário quando todos pensam apenas em si mesmos.

Ser santo é fazer a diferença no mundo! Cristão é aquele que transforma a realidade onde vive com gestos de amor e fraternidade.

Deus não quis robôs. Eles nos fez humanos para que descobríssemos a felicidade escondida nos mistérios mais simples e bonitos da vida. Seremos santos à medida que a santidade não for um peso ou uma imposição, mas sim um estilo de vida.



Padre Flávio Sobreiro

Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP e Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre (MG), padre Flávio Sobreiro é pároco da Paróquia São José, em Toledo (MG), e padre da Arquidiocese de Pouso Alegre (MG). É autor de livros publicados pela Editora Canção Nova, além disso, desde 2011,  é colunista do Portal Canção Nova. Para saber mais sobre o sacerdote e acompanhar outras reflexões, acesse: @peflaviosobreirodacosta.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/tres-passos-para-viver-busca-pela-santidade/

4 de julho de 2025

O sofrimento vai nos acompanhar para o resto da vida?

Todos os dias, o sofrimento bate à porta de milhares de pessoas. Todos os dias, soluções ou analgésicos são procurados para atenuar a dor. Todos os dias, certamente, nos questionamos sobre o sentido das aflições.

São João Paulo II, na Carta apostólica Salvifici Doloris, diz que 'o sofrimento desperta compaixão e também respeito e, a seu modo, intimida. De fato, nele está contida a grandeza de um mistério específico. À volta do tema do sofrimento, há dois motivos que parecem aproximar-se particularmente e unir-se: a necessidade do coração ordena-nos que vençamos o temor e o imperativo da fé fornece o conteúdo, em cujo nome e em cuja força ousamos tocar o que parece tão intangível em todos os homens; é que o homem, no seu sofrimento, continua a ser um mistério intangível' (nº 4).

Créditos: Imagem Gerada por Inteligência Artificial / Gemini

A verdade é que o sofrimento, seja ele físico, psíquico ou espiritual, é um companheiro de viagem para toda a vida, quer queiramos ou não. Mas, em caso de dúvida, o melhor é nos prevenirmos, de modo a nos conscientizar de que ele faz parte da nossa natureza humana.

O sofrimento nos aproxima de Deus

Sabemos que Deus não quer o sofrimento para os seus filhos. Mas, por vezes, permite a dor para que, por meio da sua pedagogia divina, tenhamos consciência da nossa condição frágil. Experimentemos a recordar: não será nos momentos de maior sofrimento que recorremos mais rapidamente a Ele e colocamos nas Suas mãos o nosso agir? Não será nesses momentos que nos aproximamos d'Ele e Lhe perguntamos o que quer que façamos?


Deus quer a nossa felicidade; e a nossa felicidade é fazer a vontade de Deus. O problema é que, por vezes, teimamos em ser senhores da nossa vida, colocando-nos no lugar de Deus. Perante o sofrimento é preciso agir. Na dor, temos de apostar na vida e sair da doença, da tristeza ou da opressão.

Fonte: Revista Família Cristã/Portugal

Padre José Carlos Nunes


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/o-sofrimento-vai-nos-acompanhar-para-o-resto-da-vida/

3 de julho de 2025

Deus deseja a salvação de todos

O projeto de Deus é a salvação de todos os homens. Essa afirmação nos é assegurada pelo Catecismo da Igreja Católica (CIC) quando, no número 851, além de esclarecer que a salvação é universal, também nos deixa entender que o meio para alcançar essa salvação é o conhecimento da verdade.

Conseguimos compreender isso quando, no primeiro livro de Timóteo 2,4, o apóstolo Paulo diz: "Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade". Com essa passagem bíblica, podemos ter a certeza da vontade de Deus sobre a nossa vida. Deus deseja alcançar a humanidade inteira e conduzir todos os povos à salvação. Não tenha dúvida de que o Senhor quer a todos, caso contrário, Deus estaria fazendo acepção de pessoas, sendo que, sabemos que isso Deus não faz.

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Podemos nos perguntar: "Onde posso encontrar essa verdade?". Antes mesmo de sabermos onde encontrarmos essa verdade que nos salva, precisaremos saber "que verdade é essa?". Essa resposta encontraremos na boca de Jesus quando Ele diz: "Eu sou o caminho. a verdade e a vida […]" (Jo 14,6).

O projeto de Deus para o Seu povo

Para entendermos a salvação do homem, faz-se necessário entendermos por quais meios isso acontece. A doutrina da Igreja atesta que, de forma sacramental, a Igreja é o instrumento de Redenção dos homens, a Igreja é o sacramento universal de salvação.

Encontramos na Bíblia duas passagens que apontam a nossa união íntima com Cristo, ao ponto de entendermos que, nós, somos Igreja como corpo místico de Cristo. Na parábola da videira está assim: "Eu sou a videira e vós, os ramos. Aquele que permanece em mim, como Eu nele, esse dá muito fruto, pois sem Mim nada podeis fazer" (Jo 15, 5). Nessa passagem, Jesus já diz que precisamos estar ligados a Ele.

A outra passagem está em Jo 6,56: "Quem se alimenta com a Minha carne e bebe o Meu sangue permanece em mim, e Eu nele". Com essas passagens bíblicas, podemos ver, claramente, que não estamos apenas reunidos em torno de Cristo ou da sua Igreja, mas estamos inseridos n'Ele.

Inseridos em Cristo, como seus membros, somos alcançados pelos Seus efeitos e não menos pelo efeito da Sua morte na Cruz, que é a salvação de toda a humanidade. Os sacramentos e o Espírito Santo são os meios que nos tornam corpo místico de Cristo, como lemos no CIC 804: "A Igreja é o Corpo de Cristo. Pelo Espírito e pela ação deste nos sacramentos, sobretudo na Eucaristia, Cristo morto e ressuscitado constitui a comunidade dos crentes como seu corpo".

Cristo Salvador e salvação são anunciados pela Igreja

O Mistério Pascal é o centro da Boa Nova anunciado pela Igreja. E a Igreja unida a Cristo é, ao mesmo tempo, Santa e santificante. Dessa forma, entendemos que, na Igreja, está a salvação.

A Congregação para a Doutrina da Fé escreveu uma carta aos bispos falando sobre a salvação cristã que diz: "O lugar onde recebemos a salvação trazida por Jesus é a Igreja, comunidade daqueles que, tendo sido incorporados à nova ordem de relações inaugurada por Cristo, podem receber a plenitude do Espírito de Cristo" (Cf. n.12). Nós, católicos, temos a graça de, na Igreja, recebermos os meios de santificação para a nossa vida, que são os sacramentos.

É por meio dos efeitos dos sacramentos que Deus quer santificar o seu povo, assim, concluímos, ao mesmo tempo, que Deus nos quer na Igreja, pois é nela que são administrados os sacramentos.

A nossa salvação não é autônoma, ninguém salva a si mesmo nem mesmo alcança a salvação sozinho. Por essa razão, entendemos que nós, como batizados e inseridos no corpo místico de Cristo, temos a missão de anunciar. Contudo, lembremos que não há anúncio sem fidelidade. A fidelidade dos batizados é condição para o anúncio, pois o testemunho credita o anúncio.


Comunicar a fé e a esperança em Cristo

Nós, que já experimentamos a salvação de Cristo em nossa vida (ainda que não em plenitude) somos impulsionados por Cristo para evangelizar e levar a outros essa mesma experiência. São Paulo, escrevendo aos romanos, nos diz: "Pois é na esperança que fomos salvos […]" (8, 24). A esperança que nos salvou é ainda a esperança que aguardamos para vivê-la em plenitude. Quantas pessoas ainda estão perdidas, desorientadas e sem esperanças, porque não descobriram o motivo real da sua esperança.

Meus amigos, o motivo da nossa esperança é Cristo, e Ele quis Se mostrar a nós. Deus, sabendo que somos como Tomé (precisamos ver para crer), desejou Se revelar e Se encarnou. Desse modo, mostrou o Seu rosto na pessoa de Cristo. Contudo, a fé que nos leva a crer é dom dado por Deus, é graça do Espírito Santo. Não acreditaremos pelos nossos esforços humanos, o único esforço será o de pedir a Deus o dom da fé.

Eis a nossa missão: anunciar a esperança que se encarnou e que, por meio dela, todos somos salvos. Cristo tem uma força de atração que suscita a adesão do ser humano, realizando, assim, o encontro do homem com Deus, preenchendo o vazio existente no homem.

Por esse motivo, precisamos levar a Boa Nova da salvação àqueles que não ouviram falar de Cristo. Meus amigos, sejamos verdadeiros arautos da salvação de Deus, anunciadores do Seu Reino. E, assim, configurados a Cristo, também assumamos a sua missão: "Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido" (Lc 19,10).

Equipe de Formação da Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/deus-deseja-salvacao-de-todos/

São Tomé foi atingido pela Misericórdia

No dia 3 de julho, festejamos a santidade de vida de São Tomé, apóstolo que não chegou até o Céu pelas suas limitações – como acostumamos firmar ao chamá-lo de incrédulo – mas sim por ter sido atingido pela ilimitada misericórdia do Senhor.

Créditos: ZU_09 / GettyImages

São Tomé pediu para ver, mas chegou aos céus pela sua misericórdia

São Tomé, apóstolo de Nosso Senhor Jesus Cristo, era o mais "teólogo" dos doze, pois, com suas perguntas, possibilitava a Revelação do Cristo e a Trindade: "Tomé lhe disse: 'Senhor, nós nem sabemos para onde vais, como poderíamos saber o caminho?' Jesus lhe disse: 'Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai a não ser por mim'" (Jo 14, 6).

Sobre aquele acontecimento em que o Cristo Ressuscitado "provoca" para fé São Tomé, pois somente acreditaria no testemunho dos irmãos se visse os sinais do martírio do Cristo de modo palpável, quanto a isso comentou São Gregório: "A incredulidade de Tomé não foi um acaso, mas prevista nos planos de Deus. O discípulo, que, duvidando da Ressurreição do Mestre, pôs as mãos nas chagas do mesmo, curou com isso a ferida da nossa incredulidade".


Diante de tantas providentes intervenções, São Tomé se despede das Sagradas Escrituras professando sua fé: "Meu Senhor e meu Deus"( Jo 20-28). Essa expressão não saiu da boca de Pedro, nem de João, mas de Tomé que, segundo a Tradição, teria depois de Pentecostes, ido para evangelizar pelo Oriente e Índia até tornar-se mártire, ou melhor, um exemplo de fé.

São Tomé, rogai por nós !

Equipe de Colunistas do Formação


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/biblia/estudo-biblico/sao-tome-foi-atingido-pela-misericordia/