26 de julho de 2024

A virtude da fortaleza exige decisão, coragem, generosidade e constância

Iniciamos os comentários da terceira virtude cardeal dessa série

Essa virtude, que se chama força de alma, força de caráter ou virilidade cristã é uma virtude moral, sobrenatural, que robustece a alma na conquista do bem árduo sem se deixar abalar pelo medo nem sequer pelo temor da morte.

O seu objeto é trabalhar especificamente na constância e na firmeza de prática do bem, transformar o temor em audácia e força contra a temeridade e a tibieza.

Créditos: sdominick / GettyImagens

Os seus atos se reduzem a dois princípios: empreender e tolerar coisas difíceis. Permanecer firme contra os obstáculos que, constantemente, surgem no caminho da perfeição. Não os temer e avançar contra eles exige decisão, coragem, generosidade e constância. É preciso também saber tolerar, por Deus, as numerosas e árduas provações que Ele nos envia, os sofrimentos, as doenças e zombarias, as calúnias de que somos vítimas. Quem aguenta costuma ser mais forte do que quem ataca.

Graus da virtude da fortaleza

Primeiramente, é preciso lutar, corajosamente, contra os diversos temores que se opõem ao cumprimento do dever, o temor da fadiga e perigo. Todos os bens celestes devem nos ser preferíveis aos bens terrenos. Donde é preciso sacrificar generosamente as fortunas, a saúde, a reputação e a vida em troca da graça! Portanto, o pecado deve ser evitado a todo custo, mesmo que todos os males temporais desabem sobre nós.

O temor das críticas e zombarias ou o respeito humano nos levam a descuidar do nosso dever por medo dos juízos desfavoráveis que se farão de nós, das ameaças contra nós, das injúrias e injustiças de que seremos vítimas.

O temor de desagradar aos amigos seria uma vã popularidade. A aprovação de Deus deve ser maior que a aprovação dos homens.

Mais para frente, é preciso procurar exercitar a parte positiva da virtude da fortaleza, esmerando-se por imitar a força de alma de que Jesus Cristo nos deu exemplo durante a vida.


Virtude que vai além das aparências

Essa virtude aparece na sua vida oculta: abraça a pobreza, a mortificação e a obediência no exílio, ficando em silêncio por trinta anos, ensinando-nos a santificar as ações mais ordinárias e de nos inspirar o amor da humildade.

Na sua vida pública: nos longos jejuns, nas vitórias constantes contra o demônio, na sua pregação firme contra os preconceitos judaicos, no sacrifício e abnegação, nas denúncias contra os doutores da lei, por fugir da popularidade, na formação dos apóstolos, na decisão de subir para Jerusalém sabendo do sofrimento e dor, humilhação e morte.

Na Sua Paixão: na agonia dolorosa, onde ainda ora pelos seus inimigos, na serenidade, silêncio diante das injustiças e nos julgamentos, na paciência durante os suplícios e as zombarias. Na serena expiação onde se entrega nas mãos do Pai. Uma
paciência imperturbável nas mais duras provações.

Aqui, há o suficiente para muita meditação. Modelos para nos fazer viver seu exemplo nas menores situações de nossa vida.

Existe, assim como nas demais virtudes cardeais já comentadas, virtudes anexas à da fortaleza, que a detalham e a compõem. As veremos nos próximos artigos, assim como também os meios de os aperfeiçoar. Permaneça conosco e atente-se às publicações.

Equipe Formação Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/series/virtudes-morais-cardeais/a-virtude-da-fortaleza-exige-decisao-coragem-generosidade-e-constancia/

23 de julho de 2024

Consagre-se ao Preciosíssimo Sangue de Jesus

Reze em família a consagração ao Preciosíssimo Sangue de Jesus

Senhor Jesus Cristo, em Vosso nome e com o poder de Vosso Sangue Precioso, selamos cada pessoa, fato ou acontecimento por meio dos quais o inimigo nos queira prejudicar.

Com o poder do Sangue de Jesus, selamos toda potência destruidora no ar, na terra, na água, no fogo, abaixo da terra, nos abismos do inferno e no mundo no qual hoje nos movemos.

Consagre-se ao Preciosíssimo Sangue de Jesus

Créditos: cançãonova.com

Poderosíssimo Sangue de Jesus

Com o poder do Sangue de Jesus, rompemos toda interferência e ação do maligno. Nós Vos pedimos, Senhor, que envieis ao nosso lar e local de trabalho a Santíssima Virgem Maria acompanhada de São Miguel, São Gabriel, São Rafael e toda sua corte de santos anjos.

Com o poder do Sangue de Jesus, lacramos nossa casa, todos os que nela habitam (nomear cada um), as pessoas que o Senhor a ela enviará, assim como todos os alimentos e bens que, generosamente, concede para nosso sustento.

Com o poder do Sangue de Jesus, lacramos terras, portas, janelas, objetos, paredes e pisos, o ar que respiramos, e na fé colocamos um círculo de Seu Sangue ao redor de toda nossa família.

Com o poder do Sangue de Jesus, lacramos os lugares onde vamos estar, neste dia, e as pessoas, empresas e instituições com quem vamos tratar.

Com o poder do Sangue de Jesus, lacramos nosso trabalho material e espiritual, os negócios de nossa família, os veículos, estradas, ares, ruas e qualquer meio de transporte que haveremos de utilizar.

Com Vosso Preciosíssimo Sangue, lacramos atos, mentes e corações de nossa Pátria, a fim de que Vossa paz e Vosso Coração nela reinem.

Nós Vos agradecemos, Senhor, pelo Vosso Preciosíssimo Sangue, pelo qual nós fomos salvos e preservados de todo mal. Amém.



Alexandre Oliveira

Membro da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Alexandre é natural da cidade de Santos (SP). Casado, ele é pai de dois filhos. O missionário também é pregador, apresentador e produtor de conteúdo no canal 'Formação' do Portal Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/oracao/consagre-se-ao-preciosissimo-sangue-de-jesus/

22 de julho de 2024

Pilar do relacionamento

Relacionamento humano: o elo perdido da sociedade moderna

A sociedade contemporânea, brindada por tantos especializados saberes, padece pela carência de uma sabedoria fundamental: o pilar do relacionamento humano. Sabe-se da importância de diferentes estratégias, mas, para se alcançar êxito, não se pode descurar da qualidade do relacionamento humano. Propósitos são alcançados graças à eficiência técnica, logística, ao monitoramento de resultados. Ainda mais determinante no cumprimento de objetivos é o campo relacional, inerente a todas as atividades humanas. Muitas iniciativas naufragam por causa de inabilidades relacionais. Até mesmo ações que apontam para um horizonte inovador podem nem "sair do papel", pela falta de competência relacional, especialmente na condução de equipes, no cumprimento da tarefa de estimular o envolvimento de seus integrantes. 

Créditos: MesquitaFMS / GettyImagens

O desafio da liderança relacional

Aos doutos, em qualquer área, não é difícil conceber projetos com engenharias inteligentes e contemporâneas. O desafio maior é impulsionar a realização desses projetos com o vetor do relacionamento qualificado, o que exige habilidade para lidar com dilemas existenciais e humanos. A falta de qualificação de líderes na administração do relacionamento interpessoal gera acentuadas perdas nos mais diversos campos – da política à religião, da economia à cultura, da educação às artes. Exercer a liderança significa também tornar-se ponto de apoio para liderados e parceiros na realização compartilhada de projetos. Para isso, é preciso superar circunstâncias que enjaulam o ser humano, a exemplo da mesquinhez e a tendência muito comum de se buscar aproximar apenas daqueles com quem se partilha das mesmas opiniões e convicções. Deve-se alargar a própria interioridade, capacitando-a para gerar agregação entre pessoas com diferentes modos de pensar, mas que estão envolvidas na busca de uma mesma meta.

A importância da competência relacional

A habilidade para se constituir uma referência que alimenta agregação entre as pessoas não pode ser confundida com a capacidade para dar ordens. As equipes demandam de seus líderes uma desenvoltura relacional capaz de torná-los presença cativante, com palavras que iluminam, inflamam e impulsionam. Não basta, pois, "ocupar uma cadeira" no exercício do poder, da autoridade ou das mais diferentes responsabilidades. Sem competência relacional, prevalece a mediocridade. As instituições padecem com a falta de clareza e de investimentos na competência relacional. Não conseguem transformar seu potencial em realizações, desperdiçando-o. "Times" que confiam no seu líder, reconhecendo-o com importante retaguarda, "jogam" melhor, com mais chance de alcançar seus propósitos.  Por isso mesmo, em sintonia com as demais aptidões que são vetores de conquistas, deve-se investir na essencial competência relacional. 

Cultivando a Reciprocidade

O cultivo da competência relacional, desenvolvendo habilidades essenciais ao exercício da liderança, contempla reconhecer o valor da reciprocidade, estimular diálogos, motivações e mobilizações que levem às metas almejadas. Trata-se de caminho eficaz para governanças corporativas e para a vivência da dimensão missionária, constituindo uma força para tecer vínculos de pertencimento essenciais ao viver com alegria, com disponibilidade para se dedicar ao semelhante, promovendo o bem. Especializar-se na habilidade para bem gerir relacionamentos é, pois, primordial. Uma habilidade que se conquista a partir de um itinerário bem diferente de outras especializações que, não raramente, fazem perder a "visão de conjunto", do todo. E sem essa compreensão mais global das situações, abandona-se o princípio de que tudo está interligado. No campo relacional, deve-se alimentar a "visão de conjunto", sem privilegiar uma parte, dedicando atenção a diferentes temas, abordagens e modos de compreender a realidade. Seguir na direção oposta pode levar a uma parcialidade que se desdobra no empobrecimento das possibilidades. 

Espiritualidade e relacionamento

Investir na dimensão relacional não significa buscar simplesmente a execução de técnicas. Contempla abraçar uma dimensão espiritual determinante e insubstituível, com propriedades para reconhecer que a vida é dom e um instrumento de transformação do mundo. Qualificar-se na competência para bem se relacionar – e tecer bons relacionamentos – pede, especialmente, profundo cultivo da espiritualidade, revestindo-se da capacidade para viver a reciprocidade, que é uma alavanca de inclusão relacional. A reciprocidade também semeia engajamento essencial à realização de diferentes projetos, fecundando a fonte de convicções que refinam os discursos e garantem desempenhos relevantes.  Descompassos institucionais, nas instâncias do poder e em outros segmentos da sociedade, apontam também para a falta de competência relacional. Perde-se muito tempo e energia quando há pouca efetividade em razão da falta de especialidade para tecer relacionamentos. Convive-se com superficialidades e diferentes descompassos, perpetuando exclusões e disputas. O viver preenche-se de sentido e de alegria espiritual quando se prioriza o pilar do relacionamento. 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte (MG)


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/importancia-relacionamento/

17 de julho de 2024

Cabeça dura e coração de pedra

Desafiando corações endurecidos: a relevância da mensagem de Jesus em um mundo relativista

Jesus visita Nazaré, onde se tinha criado (Mc 6,1-6), e encontra, naquele ambiente, reações contraditórias. De um lado, pessoas admiradas com a sabedoria que brotava de suas palavras, por saberem que não vinha de classes propriamente eruditas da sociedade do tempo, mas homem de uma família simples, carpinteiro como José, numa pequena localidade, parente de muitas pessoas que circulavam por toda parte, com as observações parecidas com as que ouvimos quando um jovem do interior volta à sua terra e todos se impressionam com quem foi estudar ou trabalhar em centros mais importantes! Todo mundo o conhecia, e uma fonte cujo nome veio a ser "Fonte de Nossa Senhora" devia ser ponto de encontro e dos comentários circulantes!

Créditos: DMP / GettyImagens

De outra parte, ajudados também pela narrativa de São Lucas (cf. Lc 4,14-30), quando fala da visita a Nazaré, sabemos como foi rejeitado pelos seus conhecidos e parentes. Ali, chegava como profeta na própria terra, pagando o preço das críticas, o que lhe impedia de operar milagres e anunciar com toda força o Reino de Deus. No entanto, Jesus não se detinha, e percorria os povoados anunciando a Boa Nova do Evangelho. Em outras ocasiões e lugares, o mesmo Senhor encontrou resistências muito fortes, de forma especial das autoridades religiosas da época. Nada o impedia de realizar a própria missão, olhando para a realização do plano do Pai, sempre a caminho de Jerusalém, sabendo o que deveria viver, formando os discípulos para as provações que necessariamente chegariam para eles e a Igreja.

Obstáculos à evangelização: a ascensão do relativismo e a crise de valores

Aliás, não faltaram dificuldades e desafios no correr da história da Igreja, e nosso tempo não é diferente. O texto do Profeta Ezequiel, proclamado neste final de semana (Ez 2,2-5), mostra com clareza o que viria pela frente, em sua época, no tempo do ministério público de Jesus e na história da Igreja: "Eu te envio aos israelitas, nação de rebeldes que se revoltaram contra mim. Eles e seus pais se rebelaram contra mim até o dia de hoje. É a estes filhos de face dura e coração obstinado que eu te envio. Tu lhes dirás: Assim diz o Senhor Deus. Quer te escutem, quer não – pois são um bando de rebeldes – saibam que houve um profeta entre eles. Quanto a ti, filho do homem, não os temas nem tenhas receio de suas palavras".

Há obstáculos para a Evangelização e a atividade pastoral da Igreja. Dentre tantos, observamos alguns pontos que exigem nossa reflexão e ação coordenada. Em torno a nós implantou-se um relativismo desafiador e provocante. A crise de valores nivelou tudo, quando as pessoas defendem o que chamam de "sua verdade", onde impera um nivelamento em que se pode fazer, falar e viver de tudo o que a imaginação humana seja capaz de engendrar. A falta de referências impera e pede, de nossa parte, firmeza, aliada ao bom senso. Cabe à Igreja ir ao encontro do mistério que é a vida de cada pessoa, ouvir e suscitar interrogações sobre o sentido da existência. Proclamações altissonantes de cunho conservador, ou progressista, ou fanático, só provocam isolamento e fechamento das pessoas. Não se vence o jogo no grito!

Consumismo religioso e a dissociação entre fé e vida

O mundo se transformou numa espécie de hipermercado em todos os sentidos, também religioso, no qual as pessoas podem escolher o que mais lhes agrada, especialmente se não exige compromissos de vida moral e de retidão. Na realidade, o "religioso" vem a ser, para muitos, o que me traz um consolo ou compensação imediata. E as portas de templos começam a parecer "postos de combustíveis", que não criam qualquer relação de compromisso, pois as pessoas passam a ser consumidoras e não membros fiéis de uma Comunidade Eclesial, na Fé, no Culto, e na Caridade.

Na mesma vertente, ocorre-me um comentário ouvido num meio de comunicação, onde o uso dos celulares pelas crianças era o assunto. Pareceu-me proposital quando se referiam aos eventuais limites de tais meios pela criançada, entrou uma observação que parece até verdadeira, dizendo que os valores espirituais ficam por conta de cada pessoa ou grupo. Esconde-se assim uma separação radical entre aquilo que a pessoa professa como fé e a incidência na sociedade. É como dizer que a vivência da fé não tem nada a ver com o resto da vida!
Outro desafio é a redução da experiência religiosa aos sentimentos, enquanto o seguimento de Jesus implica coerência de vida inclusive e de modo especial nas ocasiões em que nada oferece compensação emocional, pois o núcleo da fé cristã se encontra no Mistério e Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. Digam os mártires da fé, que se mantiveram fiéis diante da tortura e da eliminação de sua vida física, sabendo ser maior e definitiva a recompensa que os esperava. Fidelidade a Deus em qualquer circunstância é a proposta da vida cristã, malgrado nossas fraquezas pessoais, com a certeza de que a graça de Deus vem em nosso auxílio e nos sustenta!

Testemunhando a verdade em um mundo hostil

Os cristãos, não só os chamados a algum ministério específico, todos são chamados, consagrados e enviados. O mundo, mesmo feito de cabeças duras e coração de pedra, é o nosso campo de testemunho e ação, na certeza de que podemos sempre ouvir a voz do Senhor: "No mundo tereis aflições. Mas tende coragem! Eu venci o mundo" (Jo 16,33). Transformemos nossos medos e ameaças em desafios à nossa oração, criatividade e dedicação. As atividades profissionais, a convivência na sociedade e todas as eventuais provocações existentes são o nosso campo de presença qualificada e de testemunho. Nada de pessimismo ou derrotismo!


O Evangelho do presente Domingo nos leva ao encontro pessoal com Jesus Cristo, na acolhida a um convite precioso de São Paulo: "De fato, pela sabedoria de Deus, o mundo não foi capaz de reconhecer a Deus por meio da sabedoria, mas, pela loucura da pregação, Deus quis salvar os que creem. Pois tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria. Nós, porém, proclamamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder de Deus e sabedoria de Deus. Pois o que é loucura de Deus é mais sábio que os homens e o que é fraqueza de Deus é mais forte que os homens (1 Cor 1,21-24). Permitamos que Jesus percorra as redondezas de nosso coração, anunciando a Boa Nova!

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/mensagem-jesus-relevancia-mundo-relativista/

16 de julho de 2024

O que é a verdadeira caridade?

Muito além da esmola: desvendando a essência da caridade cristã

Quando me pediram para refletir sobre a VERDADEIRA CARIDADE, confesso que fiquei incomodada com a palavra VERDADEIRA.  Questionei-me várias vezes sobre a necessidade da palavra VERDADERA. Fui buscar, na Palavra de Deus a resposta, o sentido de viver a caridade.

A Bíblia nos revela, em suas páginas, que o princípio da caridade nasce de Deus, que é amor. Ela é verdadeira, porque emana do verdadeiro amor que é Deus. Torna-se concreta quando une a nossa própria vida à vida de outras pessoas. A caridade é um dos mais belos atos de doação que fazemos de nós mesmos. 

Doar-se para salvar

Engana-se quem pensa que fazer caridade é dar uma simples esmola. A palavra de Deus nos revela que a verdadeira caridade vai muito além do dar aquilo que temos, é dar de si, é partilhar a própria vida, é um doar-se para salvar. Podemos dizer, sem medo de errar, que é uma vida que sustenta outra vida nos momentos de dor, sofrimento, pobreza, miséria, invalidez, doenças e tantas outras realidades que assolam o nosso viver.

Crédito: Bartolomé Esteban Murillo

A pessoa que vive a caridade cristã se compadece, por isso doa mais que a si mesma, doa esperança, fé, amor, ensina a buscar a Deus quando as respostas humanas são insuficientes e somente Deus é a resposta. Gasta tempo, sacrifica-se quando divide a dor do outro, ajudando-o a carregar a cruz do sofrimento, sustentando-o nas horas mais difíceis, apaziguando situações e corações com palavras, gestos ou simplesmente com sua presença, mesmo que silenciosa. É um braço que se estende, é um abraço que acalenta, é um ombro para chorar.

Superando o cansaço, encontrando a alegria

Quem vive o verdadeiro sentido da caridade se cansa, aperta-se, chora junto, porque não é de ferro, sempre encontra forças para ajudar.  Mas também se enche de alegria e de paz pelo bem realizado, pela superação alcançada, pelo sorriso que, às vezes, custa a aparecer. Não devemos ter receio de acalentar um coração dilacerado pela dor, são nestas horas dolorosas, de separação, morte ou enfermidade que precisamos estar presentes. É quando acreditamos que não temos nada a doar que o Espírito Santo de Deus inunda nosso ser com palavras de sabedoria, gestos concretos de amor e acolhimento. São nestes momentos que a graça de Deus, que supera todo o nosso entendimento, passa por nós, para revigorar a pessoa necessitada e acaba por nos fortalecer também, porque primeiro a graça passa por nós para chegar a alguém. São João o apóstolo do amor nos diz:

"Nisto conhecemos o Amor: ele deu a sua vida por nós. E nós também devemos dar nossa vida pelos irmãos.  Se alguém, possuindo os bens deste mundo, vê seu irmão na necessidade e lhe fecha as entranhas, como permaneceria nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com ações e em verdade" (I João 3, 16-18).

São João dá à verdade um sentido muito maior que engloba fé e amor, por isso, em suas cartas, ele afirma que são da verdade aqueles que creem e amam. 

A verdadeira caridade está ao nosso alcance

Precisamos nos lembrar sempre que está ao nosso alcance viver a verdadeira caridade, porque acolher, abraçar, dar uma palavra de conforto, emprestar os ouvidos para escutar, fazer uma prece, um cuidado, ter paciência, ser presença, levar roupas, remédios e alimentos são gestos que nascem de um coração que ama. O esquecer de si para servir o outro sem esperar nada em troca é a maior riqueza que temos para doar. Às vezes, basta uma ideia simples, um chá, um bolo, uma sopa. Algo do nosso dia a dia, mas que contagia outras pessoas para que a solidariedade, tantas vezes esquecida, seja despertada em nosso viver.

Com as enchentes no Rio Grande do Sul, pudemos tocar nas mais diversas formas de solidariedade, foi comovente ver pessoas que perderam tudo ajudando outras tantas. Pessoas que não pararam em sua própria dor ou no cansaço, mas se mantiveram firmes para aliviar o sofrimento do próximo. Pessoas que deixaram o conforto de suas casas para se colocar em meio à lama e salvar vidas. Pessoas que doaram suas férias, seus conhecimentos para se colocarem a serviço do próximo que sequer conheciam, comunidades que se uniram para arrecadar roupas e alimentos. Pessoas que dividiram o que tinham para comer, dividiram o que tinham para vestir. Todos, que imbuídos pelo verdadeiro sentido da caridade, deram um grande exemplo de amor, solidariedade e respeito à vida. 

A essência do cristianismo: compaixão e caridade

A verdadeira caridade existe e é vivida dentro da dimensão da compaixão, pois é com o outro que passaremos pelo calvário desta vida colocando nossa confiança em Deus. Um cristão nunca está sozinho quando imbuído de compaixão, faz um gesto de caridade, tornando-se um portador da graça de Deus. A caridade, na concepção cristã, é a essência do cristianismo e nos mantêm abertos à vida e abertos e às pessoas a nossa volta. 

A caridade é a virtude de amar ao próximo como a si mesmo. Um agir que nasce da compaixão e não espera reconhecimento. A caridade é um princípio cristão que se mantém ao longo dos séculos, é atual e necessário. A caridade cobre uma multidão de pecados (conf. 1ª Pedro4,8).

 

Adriana Pereira é missionária da Comunidade Canção Nova há 30 anos, Jornalista e Mestre em Comunicação e Semiótica


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/o-verdadeiro-significado-da-caridade-crista/

15 de julho de 2024

Liberdade de pensamento: valores em conflito

Liberdade de pensamento: um direito a ser exercido com sabedoria e responsabilidade

A liberdade de pensamento é uma garantia fundamental, assegurada no inciso quarto do artigo quinto da Constituição Federal de 1988, é aspecto basilar do Estado Democrático de Direito e aspecto intrínseco da vida em sociedade.

Crédito: arquivo do autor/cancaonova.com

Uma conquista histórica

A data de 14 de julho foi instituída em memória do início da Revolução Francesa, iniciada em 14 de julho de 1789, a qual originou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que, por sua vez, foi base da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Esta última trata em seu XVIII da liberdade de pensamento: "todas as pessoas têm direito à liberdade de pensamento, consciência e religião".

Vivemos tempos em que a liberdade de pensamento é tão natural, e praticada de forma tão irrestrita, que nem nos damos conta de sua existência ou de sua importância. Ela é facilmente confundida com a liberdade de expressão, com a qual tem íntima relação. Entretanto, enquanto a liberdade de expressão diz respeito ao direito de manifestar opinião e se expressar a respeito daquilo que pensa e crê, a liberdade de pensamento é relacionada à liberdade de consciência, de credo, de poder adotar qualquer ideologia ou crença.

Em outro momento da história, em especial antes dos estados regidos por constituições, soberanos detinham o poder de ditar os princípios e valores pelos quais seus súditos deveriam viver. Isso é fácil de ser notado, por exemplo, no episódio narrado em Daniel 6.22, no qual o profeta é lançado na cova dos leões por recusar-se a contrariar seus princípios de fé para obedecer a um decreto.

Enxergando a mundo a partir de valores cristãos

Não há nas Sagradas Escrituras texto que melhor retrata essa liberdade do que o icônico ensinamento de São Paulo em 1ª Coríntios 6,12: "Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. Tudo me é permitido, mas eu não me deixarei dominar por coisa alguma". Temos a liberdade de pensar e dizer aquilo que quisermos, contudo, essa liberdade é balizada pelos valores que escolhemos.

Aquilo que é denominado pelos teóricos como cosmovisão ou a lente moral com a qual percebemos a existência e interpretamos os eventos que nela ocorrem, é baseada no conjunto de valores, enraizado em nossa fé e princípios. São Paulo trata a respeito disso na Epístola aos Romanos 12,2: "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito".

Os valores cristãos em conflito com o secularismo

Os valores íntimos à fé estarão sempre em conflito com o secularismo, pois este segundo não tem cuidado pelo bom ou o justo, mas, antes, quer aliviar a consciência daqueles que vivem distantes de Deus e não querem que seu pecado venha à luz. O Apóstolo Paulo exorta duramente a respeito disso em 2 Coríntios 4,4: "Para os incrédulos, cujas inteligências o deus deste mundo obcecou a tal ponto que não percebem a luz do Evangelho, onde resplandece a glória de Cristo, que é a imagem de Deus".

A responsabilidade no uso da liberdade

São Tiago, em sua epístola, no capítulo três, discorre sobre quão devastadora pode ser a inconsequência no uso dessa liberdade quando escolhemos, de maneira temerária, nossos valores, nossas palavras, pois elas se tornam fonte de destruição. O autor compara a língua, que é um membro pequeno do corpo, a uma pequena chama, que é capaz de causar um grande incêndio em um bosque.

Portanto, devemos ter consciência de que, hoje, podendo usufruir dessa liberdade, salvaguardados por garantias, e devemos fazê-lo com responsabilidade, escolhendo viver de acordo com a vontade de Deus e manifestando isso em nossos gestos e palavras.

 

Jonatas Passos –  natural de Cruzeiro (SP), marido, pai e colaborador da Fundação João Paulo II. Formado em Tecnologia, Informática e História. Pós-Graduado em Jornalismo e História do Brasil, com extensão em História da Religião.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/liberdade-pensamento-valores/

12 de julho de 2024

Tempo de férias: indo além do ócio e do entretenimento

Férias com propósito: mais que lazer, um tempo para crescer

Julho, mês de férias, passeio, viagem, estar junto, mas… será que é só isso? Tenho que seguir assim? Esse pensamento é único? É o melhor? Existem outras formas para viver as férias?

Questionando o propósito das férias

No tempo, o que vivemos aqui passa bem rápido e muitas vezes nos perdemos no "fazer as coisas", mas sem analisar se as mesmas estão valendo à pena, se nos fazem crescer. São Tomás de Aquino dizia que 3 coisas são necessárias para a salvação do homem: saber "o que deve crer?", "o que deve querer?" e "o que deve fazer?". Cabe aqui nos questionarmos, nessas férias, onde não teremos nenhuma obrigação de trabalho ou escola, se eu sei o que devo fazer… veja que a pergunta não se refere ao que gosto ou não, mas ao que devo! Se devo, é porque será melhor para mim, far-me-á crescer, ser melhor ou estar melhor. Isso, sim, importa! Isso sim é um investimento em mim, mesmo no lazer, mesmo nas férias.

 

Créditos: Daniel de la Hoz / GettyImagens

 

A vida não pode se tornar uma viagem aleatória, sem rumo e sem esteio, numa "selva escura" de desorientação existencial, tal como descrita no Inferno de Dante. Ela precisa ser uma viagem rumo Àquele que nos criou, sabendo que existe um fim último, e esse fim nos espera para um novo começo. Esse sim não mais terá fim. Para chegar lá, não posso desperdiçar o tempo, principalmente as férias, onde terei tempo de sobra para investir em mim mesmo e preparar mais e melhor o caminho para o Eterno.

Vivendo as férias com intenção e propósito

Sim, podemos sair, viajar, passear, mas nunca esquecendo as três perguntas de São Tomás de Aquino: "O que deve crer?", "O que deve querer?" e "O que deve fazer?". Essas devem ser as perguntas que direcionarão nas escolhas que faremos nas férias para buscarmos o CRESCIMENTO INTERIOR.

Não é fazer por fazer, viajar por viajar, ou sair por sair, mas, em tudo que fizer, ser uma atividade cujo fim último seja a busca pela salvação, que só é encontrada em Deus. Ao contrário do que se divulga na cultura atual de buscar um entretenimento imediato e numa distração ociosa para descanso domingueiro ou agitação sensível, os passeios, viagens, saídas das férias deveriam ter um senso de crescimento interior, uma diversão que nos auxilie num crescimento filosófico, moral, científico, teológico… Muitas vezes, passam desapercebidos itens da cultura clássica como música, livros e filmes que aprofundam a transcendência, aprofundando naquilo que efetivamente é permanente e essencial ao homem. São materiais que motivam o autoconhecimento, o encontro consigo mesmo, saindo de uma superficialidade e impessoalidade.

Rompendo o ciclo trabalho-entretenimento

Como ensina Sarrais, em 'Aprender a Descansar', para romper esse círculo vicioso e alienante de trabalho-entretenimento é preciso redimensionar o tempo livre, aproveitando-o de forma inteligente e produtiva, em atividades menos exigentes, mas não menos importantes: redescobrir o valor do esporte, como exercício físico de fortaleza e autossuperação; a beleza da leitura e da audição musical, como atividades silenciosas e reflexivas de autoconhecimento e observação da realidade; e a alegria da conversa espirituosa com um bom amigo ou familiar.

 


 

Veja, conforme diz Pascal, a diversão pode se tornar um grande mal para nós, já que pode nos impedir de pensar em nós mesmos. E como sermos melhores, fugindo de nós mesmos?

Aproveite suas férias. De verdade. Mas em atividades que o aproximarão mais de si mesmos, e assim, quanto mais próximo de você, mais facilmente entrarás Deus, como diz Santa Teresa d'Ávila: "Buscar-Te-ei em mim; buscar-me-ei em Ti".

Junior Alves
Missionário da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/ferias-com-proposito-tempo-livre-transformador/