17 de junho de 2025

Sagrado Coração: mais que uma devoção, uma espiritualidade

A dedicação ao Sagrado Coração de Jesus, desenvolvida ao longo da vida da Igreja, é mais que uma devoção, é uma espiritualidade.

Na Bíblia, há uma dedicação do povo às coisas do coração. "Tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne" (Ezequiel 11,19). "Vinde a mim vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas" (Mateus 11,28-29).

O coração de Jesus é o coração manso e humilde de Deus colocado dentro do nosso peito. O Senhor não é só uma inteligência suprema, Ele é coração, e o coração de Jesus é a manifestação visível do amor do Pai.

Ao longo desses dois mil anos de história da Igreja, os santos padres desenvolveram a espiritualidade do coração de Jesus. Mais tarde, Santa Maria Margarida, no século XVII, teve a imagem do coração de Cristo para fora do peito, coroado de espinhos e inflamado de amor. Essa imagem acabou fazendo história e aprofundando essa espiritualidade. A Festa do Sagrado Coração de Jesus foi oficializada pela Igreja; a primeira sexta do mês é dedicada a Ele.

Os efeitos da consagração ao Sagrado Coração

Os efeitos da consagração ao Sagrado Coração de Jesus estão diretamente ligados às promessas de Jesus feitas a Santa Maria Margarida, as quais foram propagadas doze, porém são inúmeras. O primeiro grande efeito é a experiência do amor de Deus, de quem somos filhos amados. E esse amor não nos abandona; pelo contrário, acompanha-nos sempre. Jesus, quando voltou para o Pai, deixou-nos uma grande promessa: "Estarei convosco todos os dias até o fim". Essa é a certeza: Deus está conosco.

O Senhor é um colo, o Sagrado Coração de Jesus é um refúgio, uma rocha protetora, diz uma das promessas. Ele não é legislador, mas Pastor que pega Sua ovelha no colo e cuida de suas feridas.

As experiências de um padre do coração de Jesus são muitas, em minha vida não é diferente. Há uma promessa do Sagrado Coração que diz: "Darei aos sacerdotes consagrados ao meu Sagrado Coração a graça de alcançar até os corações mais endurecidos". Certa época, eu pregava muito da cabeça, da inteligência, da teologia, e as pessoas se convenciam intelectualmente, mas não no coração, não se convertiam. Até que Deus tocou meu coração e percebi que precisava falar afetivamente do coração de Deus, pois Ele não é só inteligência, é também coração.


O Sagrado Coração de Jesus é mais que uma devoção, é uma espiritualidade. É a espiritualidade da ternura, do coração, é a mística do afeto. É reconhecer que Deus é mais que Pai, Ele é Pai e Mãe, e tem um colo para nós. A grande dica para aproveitarmos bem toda essa espiritualidade é nos deixarmos adormecer no coração d'Ele. Há momentos em que precisamos repousar no coração do Senhor, seguir o conselho de Jesus que nos diz: "Vinde a mim vós todos que estais cansados e eu vos aliviarei". Deixe-se repousar no coração de Deus.



Padre Joãozinho, SCJ

Padre da Congregação do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos), doutor em Teologia, diretor da Faculdade Dehoniana em Taubaté (SP), músíco e autor de vários livros. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.

http://blog.cancaonova.com/padrejoaozinho/


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/devocao/sagrado-coracao-mais-que-uma-devocao-uma-espiritualidade/

16 de junho de 2025

Invoca a minha misericórdia, pois desejo a salvação do pecador

As nossas orações ao Pai das Misericórdias devem ser precedidas pelo conhecimento do coração do Pai. São Paulo disse: "Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das Misericórdias e Deus de toda consolação. Ele nos consola em todas as nossas aflições para que, com a consolação que nós mesmos recebemos de Deus, possamos consolar os que se acham em toda e qualquer aflição. Pois à medida que os sofrimentos de Cristo crescem para nós, cresce também a nossa consolação por Cristo" (2Cor 1,3-5).

Crédito: Bruno Marques/cancaonova.com

Para mostrar a nós a imensidão da Sua misericórdia para com os pecadores, Jesus contou aos fariseus a parábola do filho pródigo. Um pai nunca quer perder um filho, e Deus, principalmente, Pai de todos nós, não quer perder nenhum deles. Aquele filho ingrato gastou os bens do Pai com uma vida dissoluta, e depois passou fome; então, lembrou-se do seu pai, criou coragem e voltou a ele, querendo apenas ser recebido como um empregado e não como filho. E sabemos como ele foi recebido: com festa, churrasco, roupa nova e anel nos dedos. É assim que Jesus nos ensina a misericórdia do Pai.

Jesus disse que o Pai não quer que Ele perca nenhum daqueles que lhe deu. Assim, Jesus, que é a "imagem do Deus invisível' (Col 1,14) e o "esplendor da glória de Deus" (Hb 1,3), revelou-nos a profunda misericórdia do Pai ao contar a parábola do bom pastor, que é capaz de deixar 99 ovelhas seguras no aprisco e ir em busca da ovelha perdida. E que alegria quando a encontra!

Terá mais alegria no céu por um pecador que se converter

"E, depois de encontrá-la, a põe nos ombros, cheio de júbilo, e, voltando para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: 'Regozijai-vos comigo, achei a minha ovelha que se havia perdido. Digo-vos que assim haverá maior júbilo no céu por um só pecador que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento."


Assim, o Pai está de braços abertos a acolher qualquer um que venha a Ele de coração arrependido. Independente dos seus pecados, o Pai abraça todo aquele que vem a Ele confiante, pois Jesus já pagou na Cruz o preço do nosso perdão. Confiar na misericórdia do Pai é confiar no mistério da Redenção pela qual Jesus nos salvou. Agora, basta confiar, arrepender-se dos pecados e cair nos braços do Pai das misericórdias. São Paulo nos lembra:

Deus é pura Misericórdia

"Deus, que é rico em misericórdia, impulsionado pelo grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos em consequência de nossos pecados, deu-nos a vida juntamente com Cristo – é por graça que fostes salvos!"(Ef 2,4-5).

O Salmo 50,19, diz: "Meu sacrifício, ó Senhor, é um espírito contrito, um coração arrependido e humilhado, ó Deus, não haveis de desprezar". A decisão é de cada um: São Pedro negou Jesus, arrependeu-se e continuou sendo o escolhido de Jesus para chefe da Igreja; Judas se desesperou, não confiou, e se matou. Às vezes, um orgulho refinado nos impede de nos lançarmos nos braços do Pai.

Vale a pena aprender com os santos doutores da Igreja o que eles nos ensinaram sobre a misericórdia do Pai. Santo Agostinho disse: "Não há maior miséria que a de um miserável que não tem misericórdia de si mesmo. Minha única esperança, minha única confiança, minha única firmeza é a misericórdia de Deus". Santo Afonso de Ligório, doutor, disse: "Agrada sumamente a Deus a nossa confiança em sua misericórdia, porque assim honramos e exaltamos aquela sua infinita bondade que Ele quis manifestar ao mundo nos criando".

Devemos confiar na Misericórdia de Deus

São Francisco de Sales nos ensina algo consolador: "Quanto mais nos sentimos miseráveis, tanto mais devemos confiar na misericórdia de Deus. Porque entre a misericórdia e a miséria há uma ligação tão grande que uma não pode se exercer sem a outra".

E Santo Tomás nos ensina que nunca devemos desanimar da salvação eterna, confiados no poder e na misericórdia divina.
Jesus insiste para que os homens se acheguem a Seu coração misericordioso, que espelha o coração do Pai.

Ele pediu a Santa Margarida Maria Alacoque, no século XVII, que difundisse, no mundo, toda a devoção a seu Sagrado Coração misericordioso. Em nosso tempo, pediu a Santa Faustina Kowalska que difundisse a devoção a Divina Misericórdia, pedindo ao Papa que instituísse a sua festa, o que foi feito pelo Papa São João Paulo II. Em seus diálogos com Deus, Ele insiste com ela na necessidade de nos atirarmos no oceano infinito de Sua misericórdia, que é a do Pai.

O pecado me afasta de Deus

"Que o pecador não tenha medo de se aproximar de Mim. Queimam-me as chamas da misericórdia; quero derramá-las sobre as almas" (Diário n.50). "Antes de vir como justo Juiz, venho como Rei da misericórdia" (n. 83).

"Invoca a minha misericórdia para com os pecadores, pois desejo a salvação deles" (n. 186). "Oh como me fere a incredulidade da alma! Essa alma confessa que sou Santo e Justo e não crê que sou misericórdia, não acredita na minha bondade. Até os demônios respeitam a minha justiça, mas não creem na minha bondade" (n. 300).

"E ainda que os pecados das almas fossem negros como a noite, quando o pecador recorre a minha Misericórdia, presta-me a maior glória e é a honra da minha paixão. Quando a alma glorifica a minha bondade, então o demônio treme diante dela e foge até o fundo do inferno" (n. 378). "As almas que recorrerem a minha Misericórdia e aquelas que a glorificarem e anunciarem aos outros, na hora da morte Eu as tratarei de acordo com a minha infinita Misericórdia" (n. 379).

Jesus sofre por causa dos nossos pecados

"O meu coração sofre porque até as almas eleitas não compreendem como é grande a minha Misericórdia" (379).  É tão importante a devoção à misericórdia do Pai que Jesus mandou que ela difundisse o Terço da Misericórdia, que deve ser rezado sempre, e sobretudo diante dos moribundos para que alcancem a sua salvação. Toda esta reflexão deve se transformar em orações ao Pai da Misericórdia.

Leve, com toda confiança, ao Coração desse Pai, todas as suas angústias, aflições, tribulações, medos, traumas, dores, enfermidades e humilhações que a vida lhe proporciona e descanse nos braços d'Ele.

Equipe de Formação da Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/oracao/invoca-a-minha-misericordia-pois-desejo-a-salvacao-do-pecador/

15 de junho de 2025

Santíssima Trindade: Filho e Espírito Santo são um único Deus

O mistério da Santíssima Trindade é um dos dogmas centrais dentro da Igreja Católica. Por muitos anos, as civilizações acreditaram em uma diversidade de deuses, como, por exemplo, os gregos, bárbaros e celtas.

Por outro lado, os judeus avançaram essa compreensão apresentando o monoteísmo. Com fé em um único Deus, por muitas vezes citada pelos profetas como "Deus verdadeiro, os outros são apenas barro". Ou seja, a multiplicidade de deuses seriam apenas imagens criadas pelo homem, só existe um único Deus. Por fim, a Igreja católica, herdando a herança judaica, desenvolve a doutrina da Trindade.

A Trindade, revelada pelas Sagradas Escrituras e pelo testemunho de Jesus Cristo, torna-se um grande escândalo para os judeus e para muitos das primeiras comunidades cristãs.

Créditos: manx_in_the_world by GettyImages/cancaonova.com

Nos inícios da Igreja, de tempos em tempos, apareceram diversas heresias sobre essas realidades. Algumas delas são: o modalismo consistiu na opinião de alguns teólogos (Noeto e Praxéias, no século II e Sabélio, no século III) que reduziam as três Pessoas da Santíssima Trindade a simples modo de expressão do único e mesmo Deus; o subordinacionismo foi defendido pelo bispo Paulo de Samósata e pelo padre Ário de Alexandria.

Eles ensinavam que o Pai é o único Deus. Enquanto que o Filho e o Espírito Santo são criaturas subordinadas ao Pai. O triteísmo ensina que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três substâncias independentes e autônomas. Afirma, portanto, que a Trindade, na verdade, são três deuses.


A doutrina da Santíssima Trindade

No Ocidente, Tertuliano, que viveu no século II, foi o primeiro a usar a palavra "Trindade" para se referir a Deus em três Pessoas. No Oriente, esta tarefa coube a Teófilo de Antioquia, que também viveu no século II. A doutrina da Santíssima Trindade foi explicitada no decurso dos primeiros séculos e finalmente definida no Concílio de Nicéia (325 d.C.), onde ficou esclarecida a divindade de Jesus Cristo; e no Concílio de Constantinopla (381 d.C.), quando se defendeu a divindade do Espírito Santo. Cada um desses Concílios procurou responder as heresias de seu tempo, fixando a verdadeira fé católica.

A unidade e a igualdade das três pessoas da Trindade

Um dos principais comentadores da Trindade foi Santo Agostinho, que elaborou sua obra "De Trinitate" (Sobre a Trindade). Santo Agostinho enfatizou a unidade e a igualdade das três pessoas da Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo são um único Deus em essência. Ele usou analogias, como a mente que pensa, a palavra que é expressa e o amor que une para ilustrar a relação entre as pessoas divinas.

Também ressaltou a importância da analogia da imagem de Deus na humanidade. Argumentava que a capacidade humana de amar e se relacionar espelha, de certa forma, a natureza trinitária de Deus. Assim, Agostinho incentivava os cristãos a viver em comunhão e amor, refletindo a comunhão divina.

O fato é que a adesão ao catolicismo se dá no Batismo, e um Batismo Trinitário (Pai, Filho e Espírito Santo). A partir disso, somos introduzidos no seio da Trindade e entramos no mistério divino por adoção filial. Sendo o Batismo a porta de entrada, os outros sacramentos também são manifestação da obra Trinitária na alma do fiel, manifestação visível através do rito e uso das matérias.

Por isso, celebrar os sacramentos é celebrar a Trindade. Ser católico é viver essa mística profunda que nos leva à transformação e união com o próprio Deus Trindade! Que Deus, nosso Pai, nos inspire a pôr em prática esses ensinamentos.


 

 


Rafael Vitto

Rafael Vitto, seminarista CN. Graduado em Filosofia e estudante de Teologia. Atuante na paróquia São Sebastião em Cachoeira Paulista.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/santissima-trindade-filho-e-espirito-santo-sao-um-unico-deus/

13 de junho de 2025

Santo Antônio, um pregador popular

Santo Antônio, prodigioso em santidade

Santo Antônio é representado com o lírio, símbolo da sua pureza, ou com o Menino Jesus no colo, em recordação de uma milagrosa aparição mencionada por algumas fontes literárias. Santo Antônio foi prodigioso em santidade e dotado de rara inteligência e qualidades cristãs mais excelsas: equilíbrio, zelo apostolado e fervor místico.

Durante seus sermões, Antônio falava uma só língua, porém, frequentemente, era entendido por pessoas de outros países que falavam outros idiomas. Seu Provincial aproveitou-se desse fato miraculoso e o encarregou da ação apostólica contra os hereges na região da antiga Romagna e no norte da Itália. Ele se tornou, então, um extraordinário pregador popular.

Santo Antônio propõe um verdadeiro itinerário de vida cristã. É tanta riqueza de ensinamentos espirituais contida nos "Sermões", que o venerável Papa Pio XII, em 1946, proclamou Antônio como Doutor da Igreja, atribuindo-lhe o título de "Doutor evangélico". Desses escritos, sobressai o vigor e a beleza do Evangelho, os quais, ainda hoje, podemos ler com grande proveito espiritual. Observamos, nesses Sermões, que Santo Antônio fala da oração como uma relação de amor, a qual estimula o homem a dialogar docilmente com o Senhor, criando uma alegria inefável que, suavemente, envolve a alma em oração.

Santo Antônio, ensina-nos a rezar

Santo Antônio nos recorda que a oração precisa de uma atmosfera de silêncio que não coincide com o desapego do rumor externo, mas é experiência interior, cuja finalidade é remover as distrações causadas pelas preocupações da alma, criando o silêncio na própria alma.

Para Antônio, a oração é articulada em quatro atitudes indispensáveis, como abrir, com confiança, o próprio coração a Deus. É esse o primeiro passo do rezar, não simplesmente colher uma palavra, mas abrir o coração à presença de Deus; depois, dialogar afetuosamente com Ele, vendo-O presente comigo; a seguir, muito naturalmente, apresentar-Lhe as nossas necessidades; por fim, louvá-Lo e agradecer-Lhe.

Quando Santo Antônio pregava, as multidões acorriam ao local em que seria a pregação. Até os comerciantes fechavam seus estabelecimentos e iam ouvi-Lo. As cidades onde ele pregava paravam; e a região em torno delas também parava. Houve caso de se juntar até 30 mil pessoas num só sermão! Os locais de culto tornavam-se pequenos para conter a multidão que vinha ao encontro de Santo Antônio. Então, ele ia falar nas praças públicas. E, quando terminava, "era necessário que alguns homens valentes e robustos o levantassem e o protegessem das pessoas que vinham beijar-lhe a mão e tocar-lhe o hábito". O número de sacerdotes que o acompanhavam era pequeno para ouvir as confissões daqueles que, tocados por seu sermão, queriam confessar-se e mudar de vida.

Ensina a historiografia católica que, praticamente, não havia coxo, cego nem paralítico que, depois de receber a sua bênção, não ficasse são. Foi grande o número de convertidos por ele. Em certa ocasião, converteu 22 ladrões que, apenas por curiosidade, tinham ido ouvi-lo.

Ensina-nos a crer

Num mundo secularizado como o nosso, vale relembrar o famoso milagre de Santo Antônio: para poder crer na presença real de Jesus na hóstia consagrada, quero um milagre, era o que dizia um ateu por todos os cantos onde andava. Para ele, o Santíssimo Sacramento era uma burla, uma chantagem.

Numa ocasião, diante de toda a cidade, fez a Santo Antônio uma proposta arrogante: "Deixo minha mula sem comer durante três dias. Depois disso, trago o animal até essa praça e ofereço feno e aveia. Enquanto isso, Frei Antônio, o senhor vai mostrar a ela a Hóstia Consagrada. Se a besta deixar a comida de lado e der atenção à hóstia, se ela a reverenciar como se a adorasse, aí eu passo a acreditar. Passo a crer na presença de Jesus na Eucaristia! Santo Antônio aceitou a proposta".

Três dias depois, na praça repleta, chega o homem puxando seu faminto animal. Santo Antônio também chegou. Respeitosamente, o Santo trazia uma custódia com o Santíssimo Sacramento. O incrédulo colocou o monte de feno e aveia próximos de onde estava Frei Antônio e, confiante, soltou o animal. Conforme haviam combinado, a mula deveria escolher sozinha entre o alimento e o respeito à Hóstia Consagrada. O suspense geral foi quebrado quando o animal, livre de seus cabrestos, calmamente dobrou seus joelhos diante da Custódia com o Santíssimo Sacramento. Um milagre suficiente para converter, até hoje, aqueles que repudiam a presença real de Jesus na Eucaristia.


Santo Antônio nos ensina o crer. Crer, mesmo num mundo secularizado como o nosso! Crer e testemunhar Jesus Cristo ressuscitado!

Neste mês, proponho que tenhamos em Santo Antônio, timoneiro da santidade, a graça de pregar aquilo que vivemos, testemunhando a santidade de Cristo que Antônio testemunhou a todos os homens e mulheres de boa vontade. Santo Antônio, dá-nos o exemplo da confiança em Deus. Pela sua palavra, ele nos conduz ao coração da Santíssima Trindade.

Santo Antônio, intercedei por nós!

Dom Orani João Tempesta, O. Cist.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/santos/santo-antonio-um-pregador-popular/

Amor e paixão são sentimentos diferentes ou a mesma coisa?

Como saber se amo verdadeiramente alguém? O que é amor?

Ama e faz o que quiseres. Essa frase belíssima e significativa de Santo Agostinho, infelizmente, é mal interpretada. Para compreendê-la, deve ser respondida uma pergunta básica: o que é o amor? Muitas pessoas julgam saber da resposta, mas, na verdade, estão enganadas. Como diz o ditado popular, "estão comprando gato por lebre".

Créditos: Imagem criada por Inteligência Artificial / Krea

É muito comum ouvirmos da boca dos jovens a seguinte frase: "Estou perdidamente apaixonado por minha namorada. Tenho um sentimento imenso de amor por ela!". Façamos uma avaliação dessa frase, de modo a compreender como pensa um jovem sobre o significado do amor.

O que é paixão?

A primeira coisa a destacarmos aqui é quando o jovem diz: "Estou perdidamente apaixonado por você". A paixão é algo fascinante e belo do ponto de vista humano. Trata-se daquele momento em que predominam os sentimentos, as emoções. Existe até uma dito popular: "Quem se apaixona perde a razão". A partir disso, pode-se concluir que paixão não é amor. Tem seu valor em um relacionamento afetivo, pois é aquela primeira fase, é o encantamento, quando "o mundo gira em torno da pessoa amada". Não existe ninguém melhor, mais belo e inteligente. Porém, a paixão é como a flor que desabrocha, mas não dura mais que uma estação.

Segunda parte da frase: "Tenho um sentimento imenso de amor por ela". Nessa segunda parte, o engano é ainda maior. Muitos acham que amor é sentimento, mas amor não pode ser sentimento, pois estes podem nos trair. Hoje, sentimos algo que, inclusive, pode ser nobre, porém, amanhã, podemos deixar de sentir. É próprio do sentimento não ser duradouro, faz parte de sua essência ser passageiro.


O que é amor?

Se o amor não é paixão, muito menos sentimento, o que ele é afinal? Erich From diz o seguinte: "O amor será essencialmente um ato de vontade, de decisão de entregar minha vida completamente à de outra pessoa. […] Amar alguém não é apenas um sentimento forte: é uma decisão, um julgamento, uma promessa. Se o amor apenas fosse um sentimento, não haveria base para a promessa de amar-se um ao outro para sempre. O sentimento vem e pode ir-se!" (Erich From, A arte de amar, p. 71-72).

O "amor em contraste é a maratona do coração. Exige treinamento, disciplina, paciência e trabalho. Não é um esporte de espectadores nem um evento com o resul­tado decidido em segundos. É escalar montanhas, sofrer dores e resistir à tentação de se desligar. […] Quando o amor é considerado um ato da vontade […], sobrevive enquanto o coração bater. Em outras palavras, embora estar apaixonado, às vezes, leve o casal ao casamento, é o amor que faz o casamento durar. De modo mais específico, o compromisso deliberado e ativo que o amor faz supor está no centro do arrebatamento conjugal". (Genovesi, 142).

O amor é indispensável para o relacionamento

Sem o verdadeiro conceito de amor podemos ferir muita gente; além do mais, passaremos a vida inteira enganando nós mesmo e os outros. Quantos namoros acabaram, porque faltou amor! Viveram muito tempo junto somente apaixonados, não deram o próximo passo para chegar ao amor maduro e verdadeiro. Muitos casamentos também terminaram por motivos parecidos, pensavam que paixão, sentimento e amor eram a mesma coisa. Por não terem conhecimento, fatalmente o casamento acabou.

Ao tratar-se de um relacionamento, é indispensável o amor, pois ele não existe sem sacrifício. Quem não é capaz de se sacrificar é porque não ama de verdade. Aqui está a necessidade, já no namoro, de ambos abrirem mão de suas vontades em prol do outro, de modo a aprenderem a se sacrificar pelo bem do outro. Quem assim fizer, sem dúvida, terá um casamento feliz e duradouro, porque aprendeu que o verdadeiro amor exige sacrifício.

Equipe de Formação Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/namoro/amor-e-paixao-sao-sentimentos-diferentes-ou-a-mesma-coisa/

12 de junho de 2025

Relacionamento saudável: 10 dicas para um bom namoro

1° Só comece a namorar quando tiver a convicção de que quer, um dia, se casar. Sem um objetivo na vida, tudo o que fazemos fica vazio; o namoro também, se não tem uma meta, não tem sentido.

2° Antes de começar a namorar alguém, conheça-o bem por meio de uma boa amizade. É na amizade que surge o namoro, e ela serve também como um pré-namoro. Não seja afoito, não comece a namorar só porque o outro tocou seu coração. Conheça-o primeiro.

Créditos: Imagem Gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

3° Faça do seu namoro um tempo de conhecimento do outro e um meio de ele conhecer você. Sem isso, não será possível saber se o namoro deve continuar ou não. Não se ama quem não se conhece. Então, cada um se revele ao outro com sinceridade.

Dicas para um bom namoro

4° Não tenha medo de mostrar ao outro a sua realidade e a de sua família. Se ele não o aceitar como você é, e também sua família, com todas as qualidades e defeitos, é porque não o ama de verdade.

5° Faça o outro crescer. Namoro é tempo de crescer a dois, pelo fermento do amor, da renúncia e do sacrifício pelo outro. Um relacionamento, no qual ambos não crescem humana e espiritualmente por estarem juntos é vazio e deve acabar.

6° Não deixe o egoísmo tomar conta do relacionamento, pois um casal egoísta é como duas bolas de bilhar, que só se encontram para se chocar e separar. O egoísmo mata o amor e destrói o relacionamento.

7° Não faça do seu namoro uma vida de casado, com vida sexual e intimidades conjugais. Amanhã, o namoro pode terminar e a marca ficará em você, sobretudo, na mulher. Só tem sentido entregar-se a alguém que, antes, colocou uma aliança em sua mão esquerda e lhe jurou amor e fidelidade até o último dia de sua vida. Não desvalorize suas decisões, seu corpo e sua vida.


8° Não prenda seu namorado pelo sexo, não faça dele uma "arma", porque a "vítima" pode ser você. Quantas ganharam uma barriga antes da hora, sem ter um berço e um teto para seu filho! Ele merece mais do que isso.

9° Não tenha medo de terminar um namoro, no qual só existe briga e reclamação; não empurre o problema com a barriga. Namoro é tempo de conhecer e escolher sem pressa e sem a paixão que cega a razão. É melhor chorar uma separação, hoje, do que depois de casados.

10° Não deixe Deus fora do seu namoro, pois foi Ele quem nos criou, foi Ele quem instituiu o casamento entre um homem e uma mulher, e será Ele quem os unirá para sempre. Deixe que a mão forte de Cristo esteja entre as suas mãos fracas.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/relacionamento-saudavel-10-dicas-para-um-bom-namoro/

11 de junho de 2025

Salvaguardar o ser humano

A necessidade de proteger a casa comum diante de um planeta adoecido e uma humanidade que se desequilibra

Apelos para salvaguardar o meio ambiente ecoam fortemente no mundo contemporâneo à luz das celebrações dos dez anos de publicação da Laudato Si' – Carta Encíclica do Papa Francisco, de 2015, que chamou a atenção para a urgência de se cuidar das feridas causadas pelo inadequado tratamento do planeta.

O mundo adoece com o atual estilo de vida que alimenta o consumo desmedido, o desperdício e modos de produção que levam ao extrativismo predatório dos recursos naturais. Com o planeta adoecido pelas inadequações no seu tratamento, a humanidade também adoece e se desequilibra em todos os sentidos. Torna-se, assim, sempre mais pertinente o apelo em torno da necessidade de proteger a casa comum, alcançando a irrefutável compreensão que salvaguardar o ambiente é salvaguardar o ser humano.

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

As dramáticas e ameaçadoras consequências da degradação ambiental

São dramáticas as consequências da degradação ambiental – evidentes e ameaçadoras sobretudo para a vida dos pobres, aumentando o sofrimento dos excluídos, mas sem deixar de atingir também os que equivocadamente exploram o meio ambiente para alavancar o próprio lucro. No fim, todos sofrem e, por isso mesmo, a sociedade precisa dialogar para avaliar, criteriosamente, como está sendo construído o futuro do planeta. Mas em vez de de avanços nesse necessário diálogo, constata-se que as análises ainda não expõem suficientemente as raízes humanas da crise ambiental.

Por um lado, há um grande movimento em busca de soluções concretas para se evitar a deterioração do planeta. Por outro, multiplicam-se as frustrações pela indiferença diante dessas soluções que, não raramente, afrontam interesses dos poderosos. Um sinal dessa indiferença é o Projeto de Lei 2.159/2021 que cria a Lei Geral do Licenciamento Ambiental, aprovado pelo Senado, tramitando na Câmara dos Deputados. Uma proposta que, se for aprovada, representará golpe na política ambiental brasileira, pela flexibilização do processo de licenciamento, enfraquecendo mecanismos de controle na batalha hercúlea para se evitar danos socioambientais.

A água, as florestas, a vida de povos originários, de comunidades tradicionais e o equilíbrio de ecossistemas estão ameaçados. A mesma Casa Legislativa que aprovou o Projeto de Lei 1.070/2021, instituindo o "Junho Verde" para ampliar programas e projetos educativos socioambientais, abre portas para riscos evidentes advindos da falta de limites. A dispensa de licenciamento para projetos considerados de baixo impacto facilita a impunidade e oferece riscos à sociedade.

O planeta demonstra sinais de esgotamento em um ambiente de negação e indiferença

E o debate para flexibilizar o licenciamento ambiental está em desarmonia com a preparação para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), encontro global que será realizado no Brasil. É urgente rever atitudes e escolhas para superar a tendência de negação diante do que é evidente: o planeta apresenta sinais de esgotamento. Essa atitude de negação e indiferença contamina até mesmo os que professam a fé em Deus, autor da Criação. É preciso ir além da acomodação e da hegemonia de interesses meramente pecuniários para conquistar nova dinâmica no tratamento do meio ambiente. É preciso emoldurar o horizonte de compreensão pelo sentido e alcance da ecologia integral, paradigma que permite salvaguardar o ser humano pela salvaguarda do meio ambiente, considerando a interdependência dos aspectos ambientais, econômicos e sociais.


A natureza é indissociável da condição humana. Nesse sentido, exige-se a sabedoria para perceber as interações entre os sistemas naturais e os sistemas sociais. A crise social não está separada da crise ambiental. Uma se compreende à luz da outra. Também por isso, licenciamentos ambientais, além de questões técnicas, devem considerar a ordem social, concedendo mais espaço ao humanismo. O humanismo ilumina as reflexões criando sensibilidade para contextos psicossociais, familiares, no mundo do trabalho, em vista de qualificar as relações entre pessoas. O ser humano precisa ser compreendido a partir de sua interligação com o conjunto da Criação.

Caminho seguro e insubstituível que leva à paz

Tem plena razão a Doutrina Social da Igreja Católica quando adverte sobre o equívoco de o homem se considerar não um colaborador, mas um substituto de Deus, em sua relação com a natureza. Assim, age tiranicamente na sua relação com o meio ambiente. Ao invés de tiranias, deve-se buscar os parâmetros de um humanismo fundamentado na espiritualidade que não permite desconsiderar o vínculo entre o ser humano e o meio ambiente. Para preservar o planeta, é preciso conjugar o avanço científico, a meta partilhada de se alcançar o desenvolvimento sustentável com uma profunda e eficaz dimensão ética.

Inscrita nesta dimensão ética, com força iluminadora e norteadora, está a compreensão desta verdade: os bens da Terra foram criados por Deus para serem sabiamente partilhados por todos, com equidade segundo a justiça e a caridade, afirma a Doutrina Social da Igreja. A salvaguarda do ser humano pela salvaguarda do meio ambiente é caminho seguro e insubstituível que leva à paz. Ecoem os apelos que balizam uma nova lógica ambiental, investimento capaz de inaugurar novas atitudes e hábitos, mais condizentes com os parâmetros de sustentabilidade
do planeta – pela salvaguarda do ambiente, salvaguardar o humano.



Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. No Brasil, é bispo referencial para os fiéis católicos de Rito Oriental. http://www.arquidiocesebh.org.br


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