31 de maio de 2010

Santíssima Trindade

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Só existe um Deus, mas n'Ele há três Pessoas divinas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo
O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. Deus se revelou como Pai, Filho e Espírito Santo. Foi Nosso Senhor Jesus Cristo quem nos revelou este mistério. Ele falou do Pai, do Espírito Santo e d'Ele mesmo como Deus. Logo, não é uma verdade inventada pela Igreja, mas revelada por Jesus. Não a podemos compreender, porque o Mistério de Deus não cabe em nossa cabeça, mas é a verdade revelada.

Santo Agostinho (†430) dizia que: "O Espírito Santo procede do Pai enquanto fonte primeira e, pela doação eterna deste último ao Filho, do Pai e do Filho em comunhão" (A Trindade, 15,26,47).

Só existe um Deus, mas n'Ele há três Pessoas divinas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. Não pode haver mais que um Deus, pois este é absoluto. Se houvesse dois deuses, um deles seria menor que o outro, e Deus não pode ser menor que outro, pois não seria Deus.

A Trindade é Una. "Não professamos três deuses, mas um só Deus em três pessoas: "a Trindade consubstancial" (II Conc. Constantinopla, DS 421). "O Pai é aquilo que é o Filho, o Filho é aquilo que é o Pai, o Espírito Santo é aquilo que são o Pai e o Filho, isto é, um só Deus por natureza" (XI Conc. Toledo, em 675, DS 530). "Cada uma das três pessoas é esta realidade, isto é, a substância, a essência ou a natureza divina" (IV Conc. Latrão, em 1215, DS 804).

A Profissão de Fé do Papa Dâmaso, diz: "Deus é único, mas não solitário" (Fides Damasi, DS 71). "Pai", "Filho", "Espírito Santo" não são simplesmente nomes que designam modalidades do ser divino, pois são realmente distintos entre si: "Aquele que é Pai não é o Filho, e aquele que é o Filho não é o Pai, nem o Espírito Santo é aquele que é o Pai ou o Filho" (XI Conc. Toledo, em 675, DS 530). São distintos entre si por suas relações de origem: "É o Pai que gera, o Filho que é gerado, o Espírito Santo que procede" (IV Conc. Latrão, e, 1215, DS 804).

A Igreja ensina que as pessoas divinas são relativas umas às outras. Por não dividir a unidade divina, a distinção real das pessoas entre si reside unicamente nas relações que as referem umas às outras:

"Nos nomes relativos das pessoas, o Pai é referido ao Filho, o Filho ao Pai, o Espírito Santo aos dois; quando se fala destas três pessoas considerando as relações, crê-se todavia em uma só natureza ou substância" (XI Conc. Toledo, DS 675). "Tudo é uno [neles] lá onde não se encontra a oposição de relação" (Conc. Florença, em 1442, DS 1330). "Por causa desta unidade, o Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo; o Filho está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo, todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho" (Conc. Florença, em 1442, DS 1331).

Aos Catecúmenos de Constantinopla, S. Gregório Nazianzeno (330-379), "o Teólogo", explicava:

"Antes de todas as coisas, conservai-me este bem depósito, pelo qual vivo e combato, com o qual quero morrer, que me faz suportar todos os males e desprezar todos os prazeres: refiro-me à profissão de fé no Pai e no Filho e no Espírito Santo. Eu vo-la confio hoje. É por ela que daqui a pouco vou mergulhar-vos na água e vos tirar dela. Eu vo-la dou como companheira e dona de toda a vossa vida. Dou-vos uma só Divindade e Poder, que existe Una nos Três, e que contém os três de maneira distinta. Divindade sem diferença de substância ou de natureza, sem grau superior que eleve ou grau inferior que rebaixe... A infinita conaturalidade é de três infinitos. Cada um considerado em si mesmo é Deus todo inteiro... Deus os Três considerados juntos. Nem comecei a pensar na Unidade, e a Trindade me banha em seu esplendor. Nem comecei a pensar na Trindade, e a unidade toma conta de mim (Or. 40,41).

O primeiro catecismo chamado Didaqué, do ano 90 dizia:

"No que diz respeito ao Batismo, batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo em água corrente. Se não houver água corrente, batizai em outra água; se não puder batizar em água fria, façais com água quente. Na falta de uma ou outra, derramai três vezes água sobre a cabeça, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Didaqué 7,1-3).

São Clemente de Roma, papa no ano 96, ensinava: "Um Deus, um Cristo, um Espírito de graça" (Carta aos Coríntios 46,6). "Como Deus vive, assim vive o Senhor e o Espírito Santo" (Carta aos Coríntios 58,2).

Santo Inácio, bispo de Antioquia (†107), mártir em Roma, dizia: "Vós sois as pedras do templo do Pai, elevado para o alto pelo guindaste de Jesus Cristo, que é a sua cruz, com o Espírito Santo como corda" (Carta aos Efésios 9,1).

"Procurai manter-vos firmes nos ensinamentos do Senhor e dos Apóstolos, para que prospere tudo o que fizerdes na carne e no espírito, na fé e no amor, no Filho, no Pai e no Espírito, no princípio e no fim, unidos ao vosso digníssimo bispo e à preciosa coroa espiritual formada pelos vossos presbíteros e diáconos segundo Deus. Sejam submissos ao bispo e também uns aos outros, assim como Jesus Cristo se submeteu, na carne, ao Pai, e os apóstolos se submeteram a Cristo, ao Pai e ao Espírito, a fim de que haja união, tanto física como espiritual" (Carta aos Magnésios 13,1-2).

São Justino, mártir no ano 151, escreveu essas palavras ao imperador romano Antonino Pio: "Os que são batizados por nós são levados para um lugar onde haja água e são regenerados da mesma forma como nós o fomos. É em nome do Pai de todos e Senhor Deus, e de Nosso Senhor Jesus Cristo, e do Espírito Santo que recebem a loção na água. Este rito foi-nos entregue pelos apóstolos" (I Apologia 61).

São Policarpo de Esmirna, que foi discípulo de S. João evangelista, mártir no ano 156, disse: "Eu te louvo, Deus da Verdade, te bendigo, te glorifico por teu Filho Jesus Cristo, nosso eterno e Sumo Sacerdote no céu; por Ele, com Ele e o Espírito Santo, glória seja dada a ti, agora e nos séculos futuros! Amém." ( Martírio de Policarpo 14,1-3).

Teófilo de Antioquia, ano 181: "Igualmente os três dias que precedem a criação dos luzeiros são símbolo da Trindade: de Deus [=Pai], de seu Verbo [=Filho] e de sua Sabedoria [=Espírito Santo]" (Segundo Livro a Autólico 15,3).

S. Irineu de Lião, ano 189: "Com efeito, a Igreja espalhada pelo mundo inteiro até os confins da terra recebeu dos apóstolos e seus discípulos a fé em um só Deus, Pai onipotente, que fez o céu e a terra, o mar e tudo quanto nele existe; em um só Jesus Cristo, Filho de Deus, encarnado para nossa salvação; e no Espírito Santo que, pelos profetas, anunciou a economia de Deus..." (Contra as Heresias I,10,1).

"Já temos mostrado que o Verbo, isto é, o Filho esteve sempre com o Pai. Mas também a Sabedoria, o Espírito estava igualmente junto dele antes de toda a criação" (Contra as Heresias IV,20,4).

Tertuliano, escritor romano cristão, no ano 210: "Foi estabelecida a lei de batizar e prescrita a fórmula: 'Ide, ensinai os povos batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo'" (Do Batismo 13).

E o Concílio de Nicéia, ano 325, confirmou toda essa verdade:

"Cremos... em um só Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, nascido do Pai como Unigênito, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não feito, consubstancial com o Pai, por quem foi feito tudo que há no céu e na terra. [...] Cremos no Espírito Santo, Senhor e fonte de vida, que procede do Pai, com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, o qual falou pelos Profetas" (Credo de Nicéia).

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

26 de maio de 2010

Um amor eterno

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A capacidade de ver o outro de forma diferente
O amor só pode ser eterno à medida que vivermos a conquista do outro todos os dias. E isso só a partir do momento em que o amor de Deus incendiar a nossa vida. Nós só podemos ser livres quando temos dono, mas um dono que nos administre para o amor e para a liberdade. O meu Dono [Deus] me ama, tem apreço por mim! Não vai me sugerir nada que vá me fazer mal, porque Seu dom é amor. Ele não escraviza ninguém.

Para ter fogo é preciso ter lenha. Deus é o fogo. Nós precisamos ser essa lenha onde o Senhor queime. O Todo-poderoso não faz milagres para mostrar o Seu poder apenas, mas todas as manifestações do Senhor são para conquistar o coração que está ali. Ele assim fez com Moisés. A conquista vem por intermédio de coisas bonitas. Se você vai receber amigos, você oferece o melhor. Busca um jeito de manifestar o amor. É isso que Deus fez com esse profeta.

O "bonito" não se limita a um atrativo estético, interior. É você perceber algo a mais. É descobrir que alguma coisa daquela beleza supera as suas formas. É algo maior que me chama, que fala de mim, como se aquela beleza fosse algo que me faltasse. O amor é essa capacidade de ver o outro de forma diferente. No meio de tanta gente, alguém se torna especial para você e você se aproxima. O amor é essa capacidade de retirar alguém da multidão, tirá-lo do lugar comum para um lugar dedicado, especial. Alguém descobriu uma sacralidade em você.

Amar é você começar a descobrir que, numa multidão, alguém não é multidão. Quando alguém se aproximou de você foi porque você gerou um encanto nessa pessoa. O outro se sentiu melhor quando se aproximou de você. A beleza da totalidade que você tem faz o outro melhor. A primeira coisa que o amor esponsal e conjugal cura são as orfandades que a vida nos colocou.

Não acredito em um casamento que não tem Deus na sua história. Como o seu marido vai reconhecer a sacralidade do seu coração se ele não traz a consciência de todo o sagrado que você é? O amor, quando não é amor, vira competição, disputa. Por isso o amor que é iniciado e mantido em Deus será sempre um amor de promoção do outro.

O casamento é um encantamento pelo outro, o qual vai ganhando sentido quando o vou conhecendo. Assim, todos os dias você precisa se aproximar do outro e descobrir o motivo para continuar o respeito e a alegria de estar diante daquela, que é sua ajuda adequada.

Casamento em que o outro é opressão, não é amor. O amor leva para o alto! Se vocês não se promovem mais significa que vocês estão esquecendo a vocação primeira do matrimônio: o de acender o fogo do amor, da dignidade e da felicidade do outro.

Foto Padre Fábio de Melo

24 de maio de 2010

Como evangelizar os meus filhos?

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Os pais não devem apenas mandar os filhos para a igreja, mas levá-los
A Igreja ensina que os primeiros catequistas são os pais. É no colo deles que toda criança deve aprender a conhecer a Deus, aprender a rezar e dar os primeiros passos na fé; conhecer os Mandamentos e os Sacramentos.

Os pais são educadores naturais, e os filhos assimilam seus ensinamentos sem restrições. Será difícil levar alguém para Deus se isso não for feito, em primeiro lugar, pelos pais. É com o pai e a mãe que a criança tem de ouvir em primeiro lugar o nome de Jesus Cristo, Sua vida, Seus milagres, Seu amor por nós, Sua divindade, Sua doutrina... Eles são os responsáveis a dar-lhes o batismo, a primeira comunhão, a crisma e a catequese.

Quando fala aos pais sobre a educação dos filhos, São Paulo recomenda: "Pais, não exaspereis os vossos filhos. Pelo contrário, criai-os na educação e na doutrina do Senhor" (Ef 6, 4). Aqui está uma orientação muito segura para os pais. Sem a "doutrina do Senhor", não será possível educar. Dom Bosco, grande "pai e mestre da juventude", ensinava que não é possível educar sem a religião. Seu método seguro de educar estava na trilogia: amor - estudo - religião.

Nunca esqueci o terço que aprendi a rezar aos cinco anos de idade, no colo de minha mãe. Pobre filho que não tiver uma mãe que o ensine a rezar! Passei a vida toda estudando, cheguei ao doutorado e pós-doutorado em Física e nunca consegui esquecer a fé que herdei de meus pais; é a melhor herança que deles recebi. Não é verdade que a ciência e a fé são antagônicas; essa luta só existe no coração do cientista que não foi educado na fé, desde o berço.

Os pais não devem apenas mandar os seus filhos à igreja, mas, devem levá-los. É vendo o pai e a mãe se ajoelharem que um filho se torna religioso, mais do que ouvindo muitos sermões. A melhor maneira de educar, também na fé, é pelo exemplo. Se os pais rezam, os filhos aprender a rezar; se os pais vivem conforme a lei de Deus, os filhos também vão viver assim, e isso se desdobra em outros exemplos. Os genitores precisam rezar com os filhos desde pequenos, cultivar em casa um lar católico, com imagens de santos em um oratório, o crucifixo nas paredes, etc.; tudo isso vai educando os filhos na fé. Alguém disse, um dia, que "quando Deus tem seu altar no coração da mãe, a casa toda se transforma em um templo."

Um aspecto importante da educação religiosa de nossos filhos está ligado à escola. Infelizmente, hoje, se ensina muita coisa errada em termos de moral nas escolas; então, os pais precisam saber e fiscalizar o que os filhos aprendem ali. Infelizmente, hoje, o Governo está colocando até máquinas para distribuir "camisinhas" nesses locais. Os filhos precisam em casa receber uma orientação muito séria sobre a péssima "educação sexual" que hoje é dada em muitas escolas, a fim de que não aprendam uma moral anticristã.

Outro cuidado que os pais precisam ter é com a televisão; saber selecionar os programas que os filhos podem ver, sem violência, sem sexo, sem massificação de consumo, entre outros. Hoje temos boas emissoras religiosas. A televisão tem o seu lado bom e o seu lado mau. Cabe a nós saber usá-la. Uma criança pode ficar até cerca de 700 horas por ano na frente de um televisor ligado. Mais uma vez aqui, é a família que será a única guardiã da liberdade e da boa formação dessa criança. Os pais precisam saber criar programas alternativos para tirá-las da frente do televisor, oferecendo-lhes brinquedos, jogos, contando-lhes histórias, etc.. Da mesma forma, ocorre com a internet: os pais não podem descuidar dela.

Mas, para levar os filhos para Deus é preciso também saber conquistá-los. O que quer dizer isso? Dar a eles tudo o que querem, a roupa da moda, a camisa de marca, o tênis caro? Não! Você os conquista com aquilo que você é para o seu filho, não com aquilo que você dá a ele. Você o conquista dando-se a ele; dando o seu tempo, o seu carinho, a sua atenção, ajudando-o sempre que ele precisa de você. Saint-Exupéry disse no livro "O Pequeno Príncipe": "Foi o tempo que você gastou com sua rosa que a fez ser tão importante para você".

Diante de um mundo tão adverso, que quer arrancar os filhos de nossas mãos, temos de conquistá-los por aquilo que "somos" para eles. É preciso que o filho tenha orgulho dos pais. Assim será fácil você levá-lo para Deus. Muitos filhos não seguem os pais até a igreja porque não foram conquistados por estes.

Conquistar o filho é respeitá-lo; é não o ofender com palavras pesadas e humilhantes quando você o corrige; é ser amigo dos seus amigos; é saber acolhê-los em sua casa; é fazer programas com ele, é ser amigo dele. Enfim, antes de dizer a seu filho "Jesus te ama", diga-lhe: "eu te amo".

Foto www.cleofas.com.brFelipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

21 de maio de 2010

O papel da Virgem Maria na Igreja

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A Igreja experimenta continuamente a eficácia da ação de Mãe
São Bernardo, doutor da Igreja, disse que "Deus quis que recebêssemos tudo por Maria". De fato, por ela nos veio o Salvador e tudo o mais. Sem dúvida, o papel preponderante da Santíssima Virgem na vida da Igreja é o de Mãe.

A Igreja, como o Cristo, nasce no seu regaço:

"Todos unidos pelo mesmo sentimento, entregavam-se assiduamente à oração, em companhia de algumas mulheres, entre as quais Maria, a Mãe de Jesus e de Seus irmãos" (At 1,14).

Neste quadro de Pentecostes São Lucas destaca a pessoa de Nossa Senhora, a única que é recordada com o próprio nome, além dos apóstolos. Ela promove, na Igreja nascente, a perseverança na oração e a concórdia no amor. É o papel de mulher e de Mãe. São Lucas também faz questão de apresentá-la explicitamente como "a mãe de Jesus" (cf. At 1,14), de forma a dizer que algo da presença do Filho, que subiu ao céu, permanece na presença da Mãe. Ela, que cuidou de Jesus, passa agora a cuidar da Igreja, o Corpo Místico do Seu Filho. Desde o começo a Virgem Maria exerce o seu papel de "Mãe da Igreja".

Com essas palavras pronunciadas na Cruz: "Mulher, eis aí o teu filho" (Jo 19, 26), Cristo lhe dá a função de Mãe universal dos crentes. Entregando-a ao discípulo amado como Mãe, Nosso Senhor Jesus Cristo quis também indicar-nos o exemplo de vida cristã a ser imitado. Se Cristo no-la deu aos pés da Cruz, é porque precisamos dela para a nossa salvação. Não foi à toa que o Resssuscitado nos deu a Sua Mãe...

Esta missão materna e universal da Santíssima Virgem Maria aparece na sua preocupação para com todos os cristãos, de todos os tempos. Sem cessar ela socorre a Igreja e os seus filhos. Os cristãos a invocam como "Auxiliadora", reconhecendo-lhe o amor materno que socorre os seus filhos, sobretudo quando está em jogo a salvação eterna. A convicção de que Nossa Senhora está próxima dos que sofrem ou se encontram em perigo levou os fiéis a invocá-la como "Socorro". Nossa Senhora do Perpétuo Socorro!

A mesma confiante certeza é expressa pela mais antiga oração mariana, do século II, na época das perseguições romanas, com as palavras: "Sob a vossa proteção recorremos a vós, Santa Mãe de Deus: não desprezeis as súplicas de nós que estamos na prova, e livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita!" (Do Breviário Romano).

Na sua peregrinação terrena, a Igreja experimenta continuamente a eficácia da ação da "Mãe na ordem da graça". Ela tem um lugar especial no coração de cada filho. Não é um sentimento superficial, mas afetivo, real, consciente, vivo, arraigado e que impele os cristãos de ontem e de hoje a recorrerem sempre a ela, para entrarem em comunhão mais íntima com Cristo.

Nossa Senhora une não só os cristãos atuantes, mas também o povo simples e até os que estão afastados. Para esses, muitas vezes, a Virgem Maria é o único vínculo com a vida da Igreja. Ela nos educa a viver na fé em todas as situações da vida, com audácia e perseverança constante. A sua maternal presença na Igreja ensina os cristãos a se colocarem na escuta da Palavra do Senhor. O exemplo da Virgem Maria faz com que a Igreja aprenda o valor do silêncio. O silêncio de Maria é, sobretudo, sabedoria e acolhimento da Palavra.

A Igreja aprende a imitá-la no seu caminho cotidiano. E assim, unida com a Mãe, conforma-se cada vez mais com seu Esposo.

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

19 de maio de 2010

A lei do amor no matrimônio cristão

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Quando os casais estão em crise, outros problemas surgem
A ética do sacramento do matrimônio se fundamenta na lei do amor. Os cônjuges se casam para se dar um ao outro, para exercer a lei do amor incutida no coração de cada pessoa humana por Deus. Se o amor é o princípio de tudo, no relacionamento conjugal isso é plenificado pela possibilidade dessa doação de vida acontecer não somente pelo ato sexual, como também pela convivência harmoniosa, pela presença dos filhos, que deverão ser educados no amor. O problema ético principal do sacramento do matrimônio são os desvios provocados pelo esfriamento do amor, fruto do isolamento, da busca frenética pelo prazer sexual, tudo isso em meio às vicissitudes normais da vida, que a cada momento se tornam mais difíceis por conta de todas as dificuldades sociais e econômicas, assim como por todas as exigências que o mundo impõe sobre os casais e sobre todas as liberalidades apresentadas pela sociedade como alternativas "possíveis", mas que acabam destruindo o amor.

Quando os casais estão em crise de amor, as outras questões éticas começam a aparecer, como que de uma semente má (o desamor) frutificasse ramos de infidelidade, adultério, divórcio, entre outros. O casal deveria ter consciência quanto à necessidade de um consentimento no matrimônio baseado num amor maduro, vivido a partir de um conhecimento mútuo, por meio do qual os namorados e noivos pudessem tocar nas realidades humanas totais dos seus parceiros e, mesmo assim, verificar que persiste o amor. Nós vemos hoje que, por qualquer dificuldade, os casais já pensam em se divorciar, em buscar outro relacionamento. Aqueles que estavam apaixonados acabam se frustrando mutuamente por não terem refletido mais profundamente sobre o ato que estariam assumindo diante de si mesmos e diante da Igreja, e da comunidade e da sociedade como um todo.

O Catecismo da Igreja Católica afirma que o consentimento é um ato humano pelo qual os cônjuges se doam e se recebem mutuamente. Será que existe consistência na maioria dos consentimentos dados nos matrimônios de hoje? Eu vejo que uma das principais fontes de problemas éticos no matrimônio é a falta de maturidade para o consentimento, o amor que está configurado nas aparências e naquilo que é humanamente compreendido. Todo amor vem de Deus, pois Deus é amor. Um matrimônio no qual o centro é a presença de Deus, para que os dois, embebidos nesse amor divino, coroem o seu amor humano pela graça do sacramento do matrimônio, terá a possibilidade de ser na sociedade um sinal da presença do Senhor no nosso meio.

Os casos em que não há mais soluções humanas possíveis, nos quais o divórcio poderia ser até recomendado, precisam ser encarados como exceções; a regra é que o amor prevaleça, que os matrimônios possam ser reconstruídos a partir do amor. Porque o amor se renova, se redescobre, "se reencanta". É nessa linha pastoral que eu acredito que possamos caminhar no sentido de ajustar os casos que parecem insolúveis.

Nós ficamos muito tempo discutindo sobre o divórcio, eu vejo que precisamos ensinar os nossos filhos a amar de verdade e a melhor forma para alcançar essa graça é sendo testemunho do amor de Deus, um amor que reconstrói e está sempre disposto a recomeçar.

Diácono Paulo
http://blog.cancaonova.com/diaconopaulo/

17 de maio de 2010

O rosto da santidade

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Ser santo é ser discípulo
Nós fomos feitos para Deus e a finalidade de nosso coração deve ser chegar até Ele. Você só poderá se realizar à medida que descobrir que é uma criatura do Senhor.

Não queremos a sujeira, não queremos a imperfeição, pois o Todo-poderoso não nos fez para o pecado. Podemos dizer muito do Senhor, mas basta dizer que Ele é amor. É nesse mistério que compreendemos que Ele é Pai, Filho e Espírito Santo.

Você é atraído por Ele não só porque você queira o melhor, mas porque você quer comunhão. Para chegar a professar a fé em Jesus, você precisa fazer antes a experiência do seguimento. Não dá para descrever quem é Cristo, sem antes se pôr a segui-Lo.

Todos nós temos de renegar a nós mesmos, ou seja, vencer nosso convencimento. Todos (ninguém deve ficar de fora!) devem tomar sua cruz. Todos devem amar Aquele que não decepciona ninguém. Diz Santo Agostinho: "Sê constante, paciente, sofre as demoras e terás enfrentado a cruz". A estrada da vida, da plenitude, passa pelo seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ser santo é ser discípulo.

Guardem estas duas palavras: eleitos e santos. A santidade vem primeiro do Alto, pois é graça, é Deus quem no-la dá. Se você não fizer uma escolha, você será como aquele homem que constrói sua casa na areia. Aqueles a quem Deus escolhe para serem santos são aqueles que são pecadores.

Santa Maria Gorete, considerada a santa da castidade, morreu em defesa da sua pureza. Quando ela perdoou o seu agressor, ela chegou ao cume da santidade. Na sua canonização estava, ali presente, aquele que a havia assassinado. Naquela ocasião, Pio XII disse assim: "Nem todos são chamados ao martírio, mas todos são chamados a praticar as virtudes cristãs". Santidade exige atenção contínua até o fim da vida. Cada um, em sua condição de vida, siga os passos desta santa, com generosidade, com vontade firme.

Tenho encontrado em muitos lugares, tanto na Renovação Carismática Católica [RCC] como nas Novas Comunidades, verdadeiras "fábricas" de santos, pessoas que se dedicam plenamente ao Senhor. Todo o corpo da Igreja deve seguir a Cristo, que é o Santo de Deus. Essa é uma proposta para todos nós.

Quem é o rosto da santidade? O rosto, quem sabe, da mãe de família? Ou dos jovens? Temos de olhar para Virgem Maria, ela é o rosto da santidade! Ela tem o perfil da santidade, pelo qual constantemente precisamos buscar.

Meu irmão e minha irmã, prestem este serviço para o mundo de hoje: o rosto da santidade para este tempo tem de ser o seu. As pessoas têm direito de vê-lo na oração, sorrindo, com bom humor.

Dom Alberto Taveira
Arcebispo de Belém - PA

14 de maio de 2010

A amizade que não nos decepciona

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Muitas vezes, tememos a quem nós não deveríamos
Quando estamos cheios do Espírito Santo estamos, na realidade, recebendo o abraço de Deus. Quando temos uma experiência com este Senhor tudo em nossa vida muda. É impossível receber o Espírito do Senhor sem que aconteça uma mudança radical dentro de nós.

Muitas vezes, a nossa própria consciência nos tortura por causa de nossos erros. Ter consciência deles, por vezes, chega a nos travar, mas com relação a essa situação a Palavra de Deus nos ensina que contra toda acusação o Senhor está conosco.

A primeira libertação que recebi de Deus foi a libertação de meus medos. Percebi que eu tinha medo do Único de quem eu não deveria ter: o Senhor. Ele sempre me amou. Não era a Deus a quem eu precisava temer.

Este é Deus: Alguém que tomou posse de meu coração, Alguém que foi capaz de me defender até de mim mesmo. Quando reconhecemos nossas fraquezas, o Senhor vem nos defender. Não tenhamos medo! O que você fez de errado importa? Sim, importa, mas não é o suficiente para afastá-lo do Senhor. Quando Davi compôs o Salmo 31, que é uma oração belíssima, ele tinha experimentado isso, pois ela nasceu de uma vivência desse tipo. Veja bem uma coisa: Deus não só perdoou o pecado, mas perdoou também a pena deste pecado. Pena é a consequência, fruto do mal que fizemos e que se levanta contra nós. Mas o Senhor nos tirou até mesmo esta pena, esta consequência.

É aos necessitados que o Todo-poderoso atende e acolhe. Ele está envolvendo-nos, hoje, na alegria de Sua salvação. Ponha para fora de sua vida toda tristeza! Que ela vá aos pés da cruz, pois o Deus que o ama também o chama a se envolver na alegria de Sua salvação.

Devemos invocar o Espírito Santo até que Ele venha e quando Ele vier precisamos parar de invocá-Lo. Quando O acolhemos, começamos a nos entusiasmar e a contemplar Sua presença junto de nós.

Quando falamos de contemplar, falamos de ser como uma criança que para, olha e observa e que, por isso, consegue ver as maravilhas que deixamos passar despercebidas em nossa vida.

Precisamos nos admirar da presença do Senhor, que está no meio de nós e dizer: "Nós Te admiramos, Senhor, pois Tu és o nosso Amigo!"

Bendito seja Deus por sua amizade com o Espírito Santo! Ele é o Paráclito, palavra grega que para ser entendida em nosso idioma, o português, é preciso que seja traduzida em três palavras: Intercessor, Defensor e Consolador.

O Espírito Santo se compromete conosco e nos consola. Ele é muito mais que um Advogado, é um grande Amigo, que sempre nos acompanha.

Qualquer amigo que você encontra neste mundo, um dia, irá decepcioná-lo. Talvez ele o engane, o traia, lhe negue socorro, mas o Espírito Santo nunca vai decepcioná-lo!

(*)artigo produzido a partir da pregação do autor em Jul/2006

Foto Márcio Mendes
marciomendes@cancaonova.com

12 de maio de 2010

Fazer o caminho

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Acreditar no potencial de cada pessoa
O tempo real nos coloca no contexto de uma via, de um caminho, tendo um ponto de partida e outro de chegada. É tempo de alegrias e tristezas, de hostilidades e rejeição, ou não. Importa caminhar com muita coragem, não se deixando abater pelos desânimos que vão sendo encontrados. Pelo caminho, as deficiências vão sendo aos poucos curadas, os sonhos, às vezes, sendo realizados. Importa não ficar estagnado por causa dos problemas, dos preconceitos e situações impostas pelo novo contexto cultural. Não podemos perder as nossas forças e princípios motivadores.

Não é fácil acreditar no potencial existente em cada pessoa humana. Pior ainda é aceitar os prodígios realizados pelos que são comuns a todos nós. Podemos aqui destacar a frase muito popular: "Santo de casa não faz milagre". Mas isso não é verdade.

O certo é que toda pessoa humana existe para cumprir uma missão. É por isso que existem os dons, quase como um destino, uma configuração de responsabilidade, que abarca toda a existência concreta na história da humanidade.

É muito grande a força da existência. Ela coincide com a vontade do Criador, num tempo determinado, em vista da salvação e da libertação. Existimos para edificar um caminho florido pelas maravilhas de uma vida que precisa ser feliz.

A marca referencial é o amor fraterno na comunidade, ou no corpo social, construindo solidariedade e unidade. As competições, os interesses particulares, as preferências egoístas e os desejos de publicidade dificultam o verdadeiro caminho.

O bem comum é fruto de práticas concretas de amor. É amor que vem de Deus e existe em nós pelo fato de que Ele nos tornou Seus filhos adotivos. Amando os irmãos, amamos a Deus. Assim conseguimos construir uma humanidade sem barreiras.

O caminho depende de tempo, não de passado ou de futuro propriamente dito, mas do hoje, da vida real e concreta. É o testemunho na qualidade de vida do agora. É o jeito da pessoa ser, de viver, de celebrar e de agir no mundo com responsabilidade.

Dom Paulo Mendes Peixoto
Bispo de São José do Rio Preto

11 de maio de 2010

O sentimento de culpa

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Pessoas que possuem dificuldade para lidar com seus limites
A culpa atormenta a muitos, muitas vezes de forma tão intensa que pode "travar" a vida da pessoa. Ela traz junto a si tristeza, o desconforto e a ansiedade. É um sentimento imediato, irracional, de angústia e de autocondenação que, às vezes, atormenta-nos e nos faz sentir dores de estômago.

Mas de onde nasce este sentimento? A culpa nasce do conceito que trazemos dentro de nós do que é certo ou errado, do que é nosso dever fazer ou do que não devemos fazer. Conceitos introjetados em nós de acordo com a cultura em que vivemos. Ele surge [sentimento de culpa] quando contrariamos esses conceitos.

Quando a pessoa possui uma noção distorcida do próprio poder ou traz dentro de si conceitos muito rígidos e inflexíveis, noções desumanas de certo ou errado, tende a se sentir excessivamente culpada. Às vezes a culpa se refere não ao seu pesar por ter perdido o ideal, mas ao desapontamento por não ver realizado o desejo de ser amada, reconhecida, valorizada.

Outras pessoas, por não conseguirem deparar com o próprio erro, tendem a sempre colocar a culpa nos outros. Por outro lado, a culpa é importante no nosso processo de crescimento pessoal e amadurecimento humano, e aqueles que são destituídos desse sentimento, vivem num mundo sem moral e sem lei, o que pode ser muito perigoso e até doentio.

A culpa, portanto, tem diversas nuances: pode ser um sentimento destrutivo e infantil, que nos fecha em nós mesmos e nos impede de amadurecer, e pode ser um sentimento construtivo, essencial para sermos pessoas responsáveis e capazes de crescer. A culpa positiva nasce da comparação entre o meu "eu" e os valores que me solicitam: a consciência de ter transgredido um estilo de vida livremente aceito, ou seja, nasce da consciência de ter transgredido um valor importante para mim (sinto-a, porque perdi o verdadeiro sentido de minha vida). Nasce da capacidade de julgarmos a nós mesmos em termos dos valores morais que trazemos interiorizados. Nesse caso, quando a pessoa depara com o sentimento de culpa, o que acontece é uma atitude de autocrítica, de percepção do próprio erro e a decisão de mudança de comportamento e de postura diante do próprio erro.

Aqueles que possuem dificuldade para lidar com os próprios limites, erros, fracassos, incapacidades, tendem a se martirizar e se culpar de forma excessiva. A causa da culpa destrutiva pode ser o medo do castigo (real ou imaginário) proveniente dos outros ou da própria pessoa que tem esse sentimento, ou seja, o medo de ser castigada pelos outros ao ser descoberta em seu erro, ou uma tendência à autopunição e à autocondenação, na qual a pessoa se martiriza pelo próprio erro, travando toda a sua vida futura.

Aprender a reconhecer a própria culpa é aprender a reconhecer que temos limites, que somos frágeis, que somos humanos e, portanto, erramos.

Existem pessoas que fazem um ideal de si mesmas tão alto que isso se torna algo inatingível e, com isso, elas nunca conseguem estar à altura dos próprios ideais, caindo numa autocobrança impiedosa. Não podemos nos esquecer de que todos nós, homens e mulheres, trazemos em nós virtudes e defeitos, riquezas notáveis e incoerências.

Reconhecer a nossa culpa exige coragem para reconhecermos nossas próprias limitações. Reconhecer a própria culpa é essencial para que brote uma nova postura diante de nós mesmos e do mundo, sem cobranças, sem acusações, sem autopiedade.

Precisamos aprender a ter uma justa estima de nós mesmos, uma autoimagem correta e normal, no reconhecimento de que somos dotados de muitos elementos positivos e, ao mesmo tempo, possuímos muitos contornos limitantes que dificultam o agir. Ter uma imagem realista de nós mesmos, reconhecendo que não somos a pessoa que fomos no passado, mas que ainda não somos a pessoa que seremos no futuro.

Que tipo de sentimento de culpa você traz dentro de si? Uma culpa destrutiva, por medo de ser castigado ou por não admitir seus próprios erros? Ou uma culpa positiva, que nasce da consciência de nossa possibilidade de errar e que o leva a buscar ser cada dia melhor?

Foto Manuela Melo
psicologia@cancaonova.com

8 de maio de 2010

Ser mãe, eterno aprendizado

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A experiência mais transformadora que uma pessoa pode viver
É um desafio escrever para mães, não sendo uma delas, mas é comum dizer que a mulher, pela sua natureza, traz em si o dom de acolher e o dom da maternagem, ou seja, de acolher o outro com o amor filial. Esta é a graça de saber que já somos amados mesmo antes de ser gerados, é graça e dom de Deus o amor maternal.

Não sendo uma delas, mas atendendo muitas mães, vamos aprendendo, lendo e convivendo com genitoras que nos trazem diversas histórias de vida, aprendizados, experiências e gostariam de trocar a experiência da formação e aprendizado dos filhos.

O vínculo materno é algo estabelecido muito antes do nascimento e é o primeiro evento de organização psíquica (embora, primitivo) de uma criança; neste sentido, a mãe se torna um elemento primordial no cuidado da criança, na observação dos seus sentimentos e emoções, na formação de sua identidade. É por meio da mãe, seja ela com vínculo sanguíneo ou não, que damos início ao desafio de ser seres humanos e conviver em sociedade.

É na relação mãe-bebê que também a mãe também se realiza, partindo do princípio de que tudo é troca, mãe-bebê crescem na interação e na maturidade, com formas de ganho vivenciadas desde o princípio da relação. Mais do que instinto, ser mãe é algo que prende nossa atenção pelo fato de envolvermos outros aspectos, como comportamentos aprendidos e experiências de vida que nos tornaram diferentes no contato com nossos filhos.

Acho importante tocar neste aspecto: por vezes, as mães estão insatisfeitas no modo como têm realizado seu papel. Aí é hora de aceitar suas dificuldades, aprender com outras mães, buscar em sua família bons exemplos de maternidade. O que devemos evitar é aquele rótulo de que, por nossos sofrimentos de vida, repassemos tudo isso para nossos filhos. Creio ser este o maior erro. Sabe aquela frase que começa assim: "Filho meu não faz isso..." E "Filha minha se engravidar fora do tempo vai ser botada pra fora de casa....". Ouvimos isso milhares de vezes. Mas, será o melhor caminho?

Ser mãe é cuidar, trazer para perto, conversar; chegamos então ao X da questão: nossa relação com os filhos não é apenas instintiva; é também intuitiva; perceber mais as reações do filho, as amizades, as vivências e os hábitos dele. Quebrar uma barreira que possa existir entre você e seu filho, que é muito mais uma barreira "mental" imposta por você, dizendo o que você deve ou não tratar com ele. A relação mãe-filho sofre influência marcante da cultura, do ambiente social, religioso, financeiro, da nossa saúde física e mental, do nosso acesso à educação, ao lazer, ao trabalho, ao descanso, à dignidade, ao reconhecimento.

Reciclar! Reciclamos nosso conhecimento no trabalho, na escola e por que não na forma de conduzir nossa relação com nossos filhos? A melhor educação não é a mais cara ou cheia de recursos, mas a que deixa lembranças emocionais positivas; esta vivência é muito especial para cada ser humano. Se você não viveu isso, procure trazer para seu filho o sentimento de pertencer, de ser acolhido, oferecendo-lhe segurança. A segurança oferecida é ponto-chave para que seu filho também se sinta seguro, mesmo quando não for bem na prova da escola, quando perder o jogo do time ou não possuir aquele tênis "da hora" que todo amigo tem.

Mãe não é aquela que cede, que concede, que libera e facilita a vida; mãe também abraça, acolhe, esbraveja, chora, também precisa de colo e de proteção. Afinal, ser mãe não é ser "mulher maravilha" com um cinturão cheio de superpoderes e ter todas as respostas em mãos, mas ganhar um espaço com seu filho; sim, dar a ele um espaço de escuta, um espaço de amor, de acolhida. É a graça de vivenciar vários papéis ao mesmo tempo: ser mãe-mulher-cidadã-esposa-profissional! Muitos papéis para esta mãe, que vai moldando seu jeito de ser e atender todas as necessidades apresentadas; capacita sua forma de entender seus aspectos humanos e estando bem psicologicamente, também contribua no desenvolvimento saudável de seus filhos. Viver as alegrias e sofrimentos que ser mãe representa, unidas à fé, à esperança, ao amor-doação. É saber criar seus filhos e saber gerá-los para a vida.

Que lindo presente é ser mãe! Um papel que, na verdade, nunca acaba; ser mãe está e sempre estará em sua vida como a experiência mais transformadora que uma pessoa pode viver. Tudo isso faz com que você seja tão especial e importante na vida de seus filhos!

Foto Elaine Ribeiro
psicologia01@cancaonova.com

6 de maio de 2010

A sabedoria do silenciar

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Até os insensatos quando se calam passam por sábios
Sócrates, o sábio filósofo grego, dizia que a eloquência é, muitas vezes, uma maneira de exaltar falsamente o que é pequeno e de diminuir o que é, de fato, grande. A palavra pode ser mal-usada, mascarada e empregada para a dissimulação. É por isso que os sábios sempre ensinaram que só devemos falar alguma coisa "quando as nossas palavras forem mais valiosas que o nosso silêncio". A razão é simples: nossas palavras têm poder para construir ou para destruir. Elas podem gerar a paz, a concórdia, o conforto, o consolo, mas podem também gerar ódio, ressentimento, angústia, tristeza e muito mais. "Mesmo o estulto, quando se cala, passa por sábio, por inteligente, aquele que fecha os lábios" (Pr 17,28).

O silêncio é valioso, sobretudo quando estamos em uma situação difícil, quando é preciso mais ouvir do que falar, mais pensar do que agir, mais meditar do que correr. Tanto a palavra quanto o silêncio revelam o nosso ser, a nossa alma, aquilo que vai dentro de nós. Jesus disse que "a boca fala daquilo que está cheio o coração" (cf. Lc 6,45). Basta conversar por alguns minutos com uma pessoa que podemos conhecer o seu interior revelado em suas palavras; daí a importância de saber ouvir o outro com paciência para poder conhecer de verdade a sua alma. Sem isso, corremos o risco de rotular rapidamente a pessoa com adjetivos negativos.

Sabemos que as palavras são mais poderosas que os canhões; elas provocam revoluções, conversões e muitas outras mudanças. A Bíblia, muitas vezes, chama a nossa atenção para a força das nossas palavras. "Quem é atento à palavra encontra a felicidade" (Eclo 16,20). "O coração do sábio faz sua boca sensata, e seus lábios ricos em experiência" (Eclo 16, 23). "O homem pervertido semeia discórdias, e o difamador divide os amigos" (Eclo 16,28). "A alegria de um homem está na resposta de sua boca, que bom é uma resposta oportuna!" (Pr 15,23).

Quanta discórdia existe nas famílias e nas comunidades por causa da fofoca, das calúnias, injúrias, maledicências! É preciso aprender que quando errarmos por nossas palavras, quando elas ferirem injustamente o irmão, teremos de ter a coragem sagrada de ir até ele pedir perdão. Jesus ensina que seremos julgados por nossas palavras: "Eu vos digo: no dia do juízo os homens prestarão contas de toda palavra vã que tiverem proferido. É por tuas palavras que serás justificado ou condenado" (Mt 12, 36).

Nossas palavras devem sempre ser "boas", isto é, sempre gerar o bem-estar, a edificação da alma, o consolo do coração; a correção necessária com caridade. Se não for assim, é melhor se calar. São Paulo tem um ensinamento preciso sobre quando e como usar a preciosidade desse dom que Deus nos deu que é a palavra: "Nenhuma palavra má saia da vossa boca, mas só a que for útil para a edificação, sempre que for possível, e benfazeja aos que ouvem" (Ef 4, 29).

Erramos muito com nossas palavras; mas por quê?

Em primeiro lugar porque somos orgulhosos, queremos logo "ter a palavra" na frente dos outros; mal entendemos o problema ou o assunto e já queremos dar "a nossa opinião", que muitas vezes é vazia, insensata, porque imatura, irrefletida. Outras vezes, erramos porque as pronunciamos com o "sangue quente"; quando a alma está agitada. Nesta hora, a grandeza de alma está em se calar, em conter a fúria, em dominar o ego ferido e buscar a fortaleza no silêncio.

Fale com sinceridade, reaja com bom senso e sem exaltação e sem raiva e expresse sua opinião com cautela, depois que entender bem o que está em discussão. Muitas vezes, nos debates, estamos cansados de ver tanta gente falando e poucos dispostos a ouvir. Os grandes homens são aqueles que abrem a boca quando os outros já não têm mais o que dizer. Mas, para isso, é preciso muito exercício de vontade; é preciso da graça de Deus porque a nossa natureza sozinha não se contém.

Deus nos fala no silêncio, quando a agitação da alma cessou; quando a brisa suave substitui a tempestade; quando a Sua palavra cala fundo na nossa alma; porque ela é "eficaz e capaz de discernir os pensamentos de nosso coração" (cf Hb 4,12).

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

5 de maio de 2010

Nada pela força, tudo pelo amor!

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Só o amor cura, transforma e convence
A sabedoria contagia e se apresenta com doçura. Se você faz as coisas com doçura as pessoas vão amá-lo, pois você as terá conquistado.

Ninguém será capaz de trazer alguém para Deus por meio da exortação, mas através de gestos concretos de amor. Só o amor cura, só o amor transforma, só o amor convence. É ele, o amor, que nos leva a ultrapassar os nossos limites.

Quando nós nos colocamos a serviço de alguém – essa pessoa entende que o que estamos lhe dando é o amor. Existem coisas que são extremamente doces neste mundo, uma delas, por exemplo, é sermos tratados pelo nosso nome; coisas simples é que fazem diferença. São pequenos gestos de carinho que não pesam para ninguém. Como é bom quando alguém se lembra de nós, quando não só nos admira, mas nos ama.

"Meu filho, faze o que fazes com doçura, e mais do que a estima dos homens, ganharás o afeto deles.. Quanto mais fores elevado, mais te humilharás em tudo, e perante Deus encontrarás misericórdia, porque só a Deus pertence a onipotência, e é pelos humildes que Ele é verdadeiramente honrado" (Eclesiástico 3,19-21).

O humilde não tem ambições por grandezas. O interessante é que o homem sábio não quer apenas ser feliz, mas fazer o outro feliz. Dom Bosco diz que o jovem não precisa simplesmente saber que é amado, ele precisa de gestos concretos de amor. Muitas vezes, o que os seus familiares mais querem é a sua atenção. Se você quer atingi-los, deve antes descobrir do que eles estão precisando. O que você pode fazer é se colocar ao alcance das pessoas. Não existe amizade sem compromisso.

Dizia São Francisco de Sales: "Nada pela força, tudo pelo amor!". Nisso está o verdadeiro poder.

Eu estou lhe dando o caminho das pedras para que você encontre a Jesus. Cristo quer que todos experimentem da doçura d'Ele; precisamos determinar que não será pela força que levaremos as pessoas a ter uma experiência com o Senhor, mas sim, pelo amor.

O que mais me impressiona na passagem que conta o encontro da mulher pecadora com Jesus (cf. Jo 8,1-11) é a maneira doce como Nosso Senhor a trata. Eu tenho certeza de que você já teve a oportunidade de ter sido colocado numa roda onde o acusaram. É difícil quando as pessoas que consideramos amigas participam de tal acusação. Isso dói no mais profundo da alma. Mas Jesus não lançou nenhum olhar de acusação, nem para mulher nem para as pessoas que armaram aquela emboscada. Ele lhes faz um desafio. Não foi o Senhor quem as acusou, foram suas consciências.

Nessa passagem da mulher adúltera, Cristo presta o maior serviço que alguém poderia prestar ao próximo: Ele salvou a vida dela.

O Messias conversa com aquela mulher, e ao fazê-lo, a compreende. Não existe um forma de compreender as pessoas sem conversar com elas. Há quanto tempo você não pergunta às pessoas do seu círculo de amizade como elas estão? Existe uma colaboração que só você pode dar; escute as pessoas à sua volta. Só sabemos o quanto um sapato aperta quando o calçamos. Calce o sapato do seu irmão para saber onde está apertando, entre na vida dele.

Quando a gente ama, até o nosso silêncio fala. Muitas vezes pensamos que as pessoas à nossa volta são heroinas; outras vezes, queremos que elas voltem os olhos para nós, fazendo-nos o centro de suas atenções. Mas, entendamos que somente conseguiremos trazer as pessoas para Deus a partir da nossa experiência com Ele. A nossa missão é fazer com que as pessoas amem a Jesus, que se tornem sensíveis ao amor d'Ele. Para nós fica o compromisso de tudo fazermos com doçura.

(Texto adaptado a partir da pregação "Doçura e amor" de fevereiro de 2006)

Foto Márcio Mendes
marciomendes@cancaonova.com

3 de maio de 2010

Ressentimento: a chave para o adoecimento

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Atribuir ao outro a responsabilidade pelo que nos faz sofrer
Abrir-se ao novo também é deixar de lado os ressentimentos. Tantas vezes nos incomodamos por aquilo que passou, não é verdade? Parece que ficamos com várias caixas de arquivo morto, cheio de coisas velhas e sem valor, mas que ocupam espaço em nossas memórias e nossas emoções. Frente a todos estes sentimentos e tantos outros (dos sentimentos humanos que todos temos) o ressentimento, muitas vezes, não é sinônimo de raiva, arrependimento ou vingança, mas a impossibilidade de esquecer ou superar um acontecimento.

Não dá para negar que o relacionamento de qualquer tipo nos afeta, pois temos consequências conscientes e inconscientes. Vivemos de sentimentos de contrariedade: raiva, amor, ódio, agressividade, alegria, uma enorme tristeza, ambição, generosidade, vaidade, inveja, compaixão.

Lembro a você quanto da dor do ressentimento nos dá ainda as vivências de adoecimento, das doenças psicossomáticas, ou seja, aquelas que são causadas por questões emocionais. Ressentir-se é como dar a responsabilidade ao outro por coisas que nós mesmos guardamos em nosso interior. É atribuir a outras pessoas ou situações coisas que deveriam ser resolvidas por nós. É como não nos libertarmos de situações sufocantes e, ao mesmo tempo, conflituosas.

Destaco uma definição muito interessante: "Ressentir-se significa atribuir a um outro a responsabilidade pelo que nos faz sofrer. Um outro a quem delegamos, em um momento anterior, o poder de decidir por nós, de modo a poder culpá-lo do que venha a fracassar" (Kehl, 2008).

Entendo que nossa cultura, muitas vezes, nos ensinou o modelo de vítima como modelo mais utilizado e preferido pela sociedade. Pense nestas três situações:

1) Valorizamos o tirano (aquele pelo qual temos ressentimentimento).

2) Como não temos a reparação (esquecimento) vivemos nos colocando na posição de vítima e sempre temos uma "desculpa" pela situação.

3) Resistimos às situações, pois sempre é mais fácil prorrogar uma situação a agir de forma a extingui-la.

4) Esta relação é circular, ou seja, é cultivada com grande expressão das nossas emoções, alimentando mágoas, rancores e, consecutivamente, ressentimento, tornando-nos cada vez mais adoecidos.

No papel de pessoa ressentida você já deve ter notado que conseguimos uma forma de mostrar que estamos com razão na situação, desculpando-nos de forma tão verdadeira, atraindo, desta forma, muitos apoiadores, que "compram" nossa causa.

A pessoa ressentida e por conseguinte ofendida, agredida e machucada não diz abertamente o que sente, mas prolonga e "rumina" essas dores de forma repetitiva. Dá para imaginar o tamanho deste estrago? É manter sempre o papel da vítima, de submisso ao outro, desligando-se de qualquer culpa pessoal neste processo.

E como posso apreciar algo que foi uma experiência ruim para mim? Como apreciar a mágoa do namoro terminado, da amizade traída, da agressão sofrida? Procurando tirar exemplos e formas diferentes de olhar a vida. Você já foi a um museu que havia visitado quando criança, e agora adulto voltou a olhá-lo? Certamente, sim. E seguramente seu olhar deve ter sido diferente, olhou coisas que não havia percebido naquela época e agora você teve a oportunidade de fazer uma visita diferente.

É este convite que lhe faço com relação aos seus ressentimentos; tente olhar as vivências amargas de uma forma nova, procurando superar emoções negativas que apenas comprometem nossa vida saudável.

Foto Psicóloga Clínica e OrganizacionalElaine Ribeiro
psicologia01@cancaonova.com