28 de junho de 2024

A Barca da Igreja e a Evangelização

Navegando em Águas Profundas: A Igreja e a Evangelização nos Dias Atuais

As águas, os rios e os mares sempre provocaram a humanidade. Ao mesmo tempo que são fonte de vida e alimento, meio de transporte e comunicação entre as pessoas, impressionam pela sua força também destrutiva, como testemunham enchentes recentes em nosso país e outras partes do mundo.

A Arquidiocese de Belém e a Convivência com as Águas

Nossa Arquidiocese de Belém, com seus vários núcleos insulares de assistência pastoral, convive com embarcações de todo porte, desde os grandes navios e balsas, passando pelos barcos, lanchas, rabetas e simples "casquinhas" que transportam pessoas e gêneros alimentícios. Nossos portos e trapiches, de todo tipo e tamanho, podem servir para o bem e, infelizmente, muitas vezes servem para o terrível tráfico humano e de drogas.

Convivemos com as águas, ouvimos tantas vezes as pessoas dizerem que o rio é nossa rua, assumimos juntos o desafio de conservar as imensas riquezas de nossas águas, educando as novas gerações ao trato mais respeitoso com os dons que Deus nos prodigalizou em abundância.

Há poucos dias, com Dom Antônio e Dom Paulo, participamos de uma magnífica peregrinação e convivência com outros Bispos brasileiros a convite das Comunidades Neocatecumenais, um imenso e reconhecido serviço de Evangelização presente em muitas de nossas Paróquias. Uma das propostas de meditação e oração foi motivada pelo Evangelho do Décimo Segundo Domingo do Tempo Comum, Palavra proclamada neste final de semana e que ouvimos proclamado onde Jesus o anunciou. Numa boa parte do tempo, estivemos em torno do Mar da Galileia.

Em nossas Missas desse final de semana, com a semente parecida com o grão de mostarda do Evangelho do Domingo anterior, cujos frutos certamente aparecerão, na hora e na medida de Deus, desejamos ajudar-nos mutuamente a superar os desafios e os medos das águas do mar da vida, tantas vezes revoltas e ameaçadoras.

Visão da proa de um barco, tendo o horizonte infinito do oceano.

Créditos: Francis ODonohue / GettyImagens

O Mar da Galileia e os Ensinamentos de Jesus

Jesus, em tempos de Galileia, atravessou muitas vezes o Lago, que de tão grande era chamado de Mar, percorrendo as vilas e cidades. Quem está no cimo do Monte das Bem-aventuranças, lugar em que os Bispos se hospedaram durante alguns dias, onde também o Senhor pronunciou o Sermão da Montanha, tem uma visão privilegiada.

Foi ali, à beira do Lago, que Jesus determinou que os discípulos de ontem e de hoje se aventurassem por águas mais profundas (Cf. Lc 5,1-11). Ali, Tabgha, lugar do primado de Pedro, às margens do Lago, onde Jesus, não uma sombra ou um fantasma, mas o próprio Senhor, os mandou lançar as redes e preparou-lhes uma refeição mais do que simbólica, ou Cafarnaum, quem sabe, Magdala, Tiberíades e outros tantos lugares.

É possível ver, do outro lado do Lago, áreas que pertencem hoje à Síria. Por aquelas bandas Jesus foi à região da Decápole, onde mostrou também sua força, poder e missão. Foi também pelo Lago que Jesus foi a Gérasa (Cf. Mc 5,1-20), onde expulsou demônios e foi rejeitado pelos moradores. Muitos os fatos, todos eles carregados de ensinamentos, que não estamos diante de um livro de histórias edificantes, mas do Evangelho! Foi a nossa experiência nesta peregrinação à Terra Santa.

Rito Significativo em Tabgha e a Renovação dos Compromissos Episcopais

Em Tabgha, os Bispos participaram de um rito significativo, respondendo "Tu sabes tudo, tudo sabes que te amo", depois da pergunta feita por Jesus a Pedro: "Tu me amas?". Foi uma graça especial presidir a este rito, assim como à renovação dos compromissos Episcopais, feita em Jerusalém, na Domus Mambré, no mesmo dia em que visitamos o Cenáculo. Deus nos fez experimentar a beleza e a responsabilidade da Comunhão para nos comprometermos com a oração sacerdotal de Jesus: "Que todos sejam um, para que o mundo creia" (Jo 17,21).

Entretanto, a Liturgia do décimo segundo Domingo do Tempo Comum (Jó 38,1-8.11; 1 Cor 5,14-17; Mc 4, 35-41) oferece-nos também oportunidade privilegiada para uma reflexão a partir do receio provocado pelas águas e a força de Deus Criador e Senhor, que aliás se manifesta diante dos discípulos, acostumados ao medo das águas e das tempestades, por muitos dos antigos consideradas habitações de monstros e sinal de morte!

A Palavra de Deus em Jó e o Domínio de Deus

Provavelmente, não lhes era claro o que já se encontrava no livro de Jó, pronunciado pelo Senhor: "Quem fechou com portas o mar, quando ele irrompeu, como se saísse das entranhas, quando eu lhe dava a nuvem por vestido e o envolvia de escuridão como de fralda? Eu o demarquei com meus limites e lhe pus ferrolho e portas, dizendo: 'Até aqui chegarás, e não além; aqui dominarás as tuas ondas encapeladas!'" (Jó 38,8-11).

Jesus determina aos discípulos a viagem para outra margem (Mc 4,35-41). Noutra ocasião, mandou-os à frente, para depois caminhar sobre as águas (Jo 6,16-20), quando podemos imaginá-lo "cavalgando sobre as águas" (Cf. Sl 46,1-12; Sl 68,1-5). Agora, Jesus está placidamente dormindo dentro da barca, e o vento e a chuva se enfurecem. Pensam estar perecendo por não terem tomado consciência daquele que os acompanhava, cujo poder faz as águas se acalmarem.

Os Desafios da Igreja no Tempo Presente

Agora, os discípulos de hoje. Não basta repetir o que temos feito até hoje! Os desafios são novos e diferentes. O apelo do Papa Francisco ressoa a atitude de Jesus, lançando-nos a descobrir caminhos novos, sair missionariamente ao encontro dos mais afastados. Aceitar a provocação positiva que nos lança a buscar águas mais profundas (Cf. Lc 5,1-11), mesmo quando nos sentimos frágeis e pecadores, pois o Senhor vai além de nossos pecados e fraquezas, fazendo de todos nós pescadores de homens, como aconteceu com os primeiros discípulos.
A atitude a ser assumida é a coragem vinda da fé, lançando-nos a buscar caminhos novos, criatividade e ousadia.

Em meu primeiro encontro com o Papa Francisco, na Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro, em 2013, ao apresentar-me como Arcebispo de Belém, ouvi palavras fortes, à época transmitidas ao povo de Belém: "Sejam corajosos, sejam ousados. Se não forem ousados, já estarão errando de princípio". E nossa Igreja há de retomar esta proposta. Temos abertas algumas estradas e tantas portas, para ajudarmos nosso mundo e nosso tempo a se encherem de alegria!

Os Três Desafios da Igreja: Missão, Evangelização da Juventude e Unidade

O desafio atual tem três nomes: Primeiro, assumir como próprio de todas as instâncias da vida da Igreja o compromisso Missionário. O segundo é a Evangelização da Juventude, que tem um sinal expressivo do Acampamento Arquidiocesano da Juventude, no primeiro final de semana de julho. Terceiro desafio, mas não menos importante, é que todos acolhamos a belíssima diversidade de métodos pastorais, serviços e iniciativas que o Espírito Santo suscita em nossa Arquidiocese, o desafio da unidade e da comunhão. O diferente não é inimigo ou adversário, mas conduzido pelo Espírito a atingir pessoas e grupos sedentos do Evangelho com o Testemunho e a Palavra. É um tempo novo e positivamente provocante, com outras margens e águas mais profundas.

E concluímos com o grande anúncio ressoado a partir da pedra do Santo Sepulcro, onde celebramos a Eucaristia no encerramento da Peregrinação: "Aquele que venceu as ondas da morte está vivo no meio de nós. Ele é o Senhor e Salvador. Com ele e nele somos anunciadores e realizadores da esperança para o nosso tempo". Beijei a pedra do Santo Sepulcro em nome de todos os nossos fiéis da Igreja de Belém. Todos estavam ali conosco!

 

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/barca-da-igreja-e-evangelizacao/

27 de junho de 2024

A juventude e o sentido para a vida

Auxiliar a juventude na busca de um sentido na era neoliberal, um desafio para pais e educadores

Nessa sociedade dita Neoliberal em que vivemos, atuar como pais e/ou mestres traz várias questões à tona, entre elas o sentido da vida.

E dar sentido ao viver é uma tarefa que nos coloca diante de perdas e ganhos, onde é imperativo seguir em frente e orientar os esforços com o que temos. Isso, para os adolescentes e jovens, está permeado de agitação e insegurança, crises de valores, rupturas, apreciação ou não das colocações e posicionamentos dos mais velhos, na tentativa de construir os seus próprios.

Nesse sentido, o conhecido filósofo Platão, inclusive, colocava-se contra o uso de bebidas alcoólicas pelos mais jovens, pois, em seu entender, tal coisa era como colocar fogo no fogo. Ademais, nós pais devemos tomar cuidado em querer evitar que nossos filhos sofram, pois o sofrimento é inerente ao ser humano, e se não temos como escapar dele, é preciso entender o que a vida quer dizer a cada um.

Jovens de diferente etnias, tirando uma selfie com o que parece ser uma tela de celular, eles sorriem, tendo ao fundo campos verdes, levemente desfocados

Créditos: doidam10 / GettyImagens

A busca pela identidade e autoconhecimento na adolescência

Assim, nessa fase de mudanças biológicas importantíssimas, esses rapazes e moças precisam de apoio para lidar com as suas questões psicoemocionais, pois, ao mesmo tempo em que isso acontece, há uma busca pelo autoconhecimento, pela autonomia e, sobretudo, pela realização como indivíduo.

Nessa perspectiva, é preciso destacar a importância do autoconceito e da autoestima, que são traços individuais que testificam a relação dos adolescentes com os demais, e é claro, consigo mesmos.

O papel do grupo social na formação de valores

Vemos aí a relevância da participação destes em grupos sociais para assumirem responsabilidade e aprenderem a tomar decisões que resultem em valores que atinjam a todos. Afinal, indivíduos sadios mobilizam as suas riquezas interiores em vista dos outros, dedicando-se a uma tarefa, a uma causa maior ou ao amor por outrem.

"É como o olho que só pode cumprir a sua função de ver o mundo enquanto ele não vê a si próprio" (Frankl, V.E. (1991): A psicoterapia na prática. Campinas: Papirus, p. 18.)

E aí vem a grande questão para os mais novos: Quem eu sou neste mundo? O que a sociedade me oferece?

Guiando os jovens na escalada rumo ao sucesso

Diante dela, nós, como adultos, temos que os ajudar para que tenham sucesso em sua escalada. Pois assim terão condições de significar a sua vida, partindo de suas vivências sociais, de como têm sido lembrados, tratados e amados. As pessoas precisam de afeto, comunicação e sentimentos. Afetamos e nos deixamos afetar pelos outros no encontro com a família, com o outro e com Deus.

Desafios da juventude: separação, solidão e influência das telas

Nessa jornada, muitos são os problemas vivenciados pelos jovens, como separação dos pais, distanciamento, evasão dos lares e ainda serem educados pelas telas.

Avançar para a maturidade é trilhar o caminho do perdão, superar os desafios das relações humanas, valorizando os que os cercam, respeitando-os e superando as mágoas.

Sem isso, nós os acompanhamos como meros telespectadores, pois há uma corrida para a busca de sentido que não acontece, frustrando e gerando ansiedade, irritabilidade e até o vazio existencial.

Superando a utopia e encontrando propósito na realidade

Os rapazes e moças deverão ser encaminhados a passarem a ser objetivos em suas escolhas, haja vista que os mesmos, no período de maturação, tendem a ser utópicos.

Há aqueles, dentro desse grupo, que tendem ao isolamento, por isso enfrentam a solidão. A melhor direção é ensiná-los como ocupar o seu espaço, tanto na sociedade quanto na família.

Liberdade interior e responsabilidade: pilares para uma vida significativa

Outra questão importante é a da liberdade. No livro 'Em busca de sentido', Viktor Frankl aborda o conceito de liberdade interior, trazendo uma importante pergunta, que é bem pertinente a ser feita ao nosso público alvo, os jovens: "Onde fica a liberdade humana?" (Frankl, 2008, p. 88)

Na visão do autor citado, o ser humano é dotado de espiritualidade e responsabilidade junto às quais caminha a liberdade.

Liberdade é a capacidade de realizar escolhas e tomar decisões; dar respostas ao que a vida lhe propõe. E ser responsável diz do comprometimento com a vida, pois nela há sempre sentido. Mesmo diante das frustrações, não devemos perder a vitalidade, mas agir com boa educação, fortes conceitos e virtudes.

Consumismo e perda da dignidade humana: desafios da sociedade moderna

Aliás, seja dito de passagem, hoje em dia, o mundo carece de tradições e há crise de valores, conflitos familiares, problemas sexuais, distúrbios físicos e psicossomáticos, problemas financeiros e orientações rotineiras.

A regra da sociedade é a busca pelo prazer em todos os momentos, tentando desenfreadamente fugir da dor, o que nem sempre é possível. A fama, as riquezas, a tecnologia, a disposição e, por vezes, relacionamentos nada profundos, são a resposta para uma vida sem projetos importantes.

E os jovens são atraídos a isso, por não terem a percepção de que por trás das facilidades algo está sendo perdido: a dignidade humana.

Quem vende esses produtos só se importa em comercializá-los, sem valorizar o ser humano que existe em cada um.

Encontrando sentido na solidariedade e no serviço ao próximo

Nessa mesma sociedade também existem caminhos saudáveis para uma vida cheia de sentido.

O jovem é voltado para a solidariedade. Qual é, portanto, o papel dos adultos para que os jovens possam escolher bons rumos? Direcioná-los ao serviço e à comunhão com o próximo para criarem vínculos afetivos fortes com a família, amigos e com Deus.

Ou seja, dar significado à vida é utilizar-se de suas potencialidades para além de si, e questionar quando desrespeitamos os outros, a nós mesmos, a natureza e a Deus em primeiro lugar.

A importância da fé e da espiritualidade na vida dos jovens

Contudo, é também importante lembrar que a repressão cultural da fé é responsável por sujeitos doentes; e, assim sendo, é preciso liberar o seu potencial religioso, pois não há nada de vergonhoso nisso.

Inclusive, São João Paulo II lembra aos jovens, em seu discurso em Caracas, que a relação com Deus deve estar em primeiro lugar. Afinal, com Ele presente na vida dos jovens, com certeza, atingirão metas, terão direcionamento e uma vida de oração, com profunda intimidade com Deus.


Educação para o trabalho: desenvolvendo potencialidades e resiliência

Dentre os mais variados direcionamentos aos mais jovens está a educação para o trabalho, uma vez que é uma das ocupações que mais demandarão tempo em sua vida.

O trabalho é importante, pois é uma forma de dar-se ao mundo, vai além de apenas ganhar dinheiro. Principalmente para os mais jovens, esse é o tempo de conhecer e trabalhar as potencialidades. É preciso coragem e resiliência para esperar que a Providência Santíssima que rege todas as coisas complete a sua obra. As restrições de possibilidades podem ensiná-los muito.

Pais não devem projetar nos filhos o que não conseguiram realizar profissionalmente, pois os filhos são seres singulares, livres e precisam ser apoiados nessa liberdade. Precisam construir o seu próprio caminho.

Incentivando o protagonismo e o compromisso com o trabalho

Essa formação pode começar com o incentivo ao voluntariado, trabalhos interdisciplinares, seriedade nos estudos e empenho nas tarefas da casa.

Nós adultos precisamos e devemos ser exemplos de bons trabalhadores, que entendem que é no trabalho que as respostas com compromisso e responsabilidade são dadas.

Entretanto, aqui é importante lembrar que o que nos torna felizes não é a atribuição em si, mas a forma como podemos exercer as atividades diárias.

Em tudo o que realizarmos, não busquemos o prazer, mas encontremos o sentido.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/a-juventude-e-o-sentido-para-a-vida/

18 de junho de 2024

A Igreja Católica e o aborto

A Igreja Católica é categoricamente contra o aborto provocado em qualquer circunstância.

Este artigo pretende apresentar a doutrina da Igreja acerca da defesa da vida em seus mais diversos documentos, discursos dos Santos Padres, santos e grandes personalidades católicas.

Antes de mais nada, é necessário entender que a defesa do aborto não apenas não é espontâneamente, como também é parte de um nefasto ecossistema acertadamente entitulado por São João Paulo II de cultura de morte.

A cultura de morte e suas faces

Na Solenidade da Anunciação do Senhor — e não haveria festa litúrgica mais oportuna — de 1995, São João Paulo II nos dava aquela que seria uma de suas mais importantes e proféticas encíclicas, a Evangelium vitae  (Evangelho da Vida — EV). Tratava-se de uma reafirmação precisa e firme do valor da vida humana e de sua inviolabilidade1.

As palavras do Santo Padre assumem um tom profético especialmente quando escancara a luta dramática do nosso tempo entre a cultura da morte e a cultura da vida 2. Aborto, eutanásia, contracepção, controle de natalidade, estão todos debaixo de um mesmo guarda-chuva, de uma mesma mentalidade, de uma mesma cultura que relativiza o valor da vida humana, sob disfarces de progresso científico, reforma social e direitos humanos.

Essa mesma cultura foi chamada pelo Papa Francisco de Cultura do Descarte: o descarte dos idosos, o descarte dos pobres, o descarte das crianças, em especial das crianças por nascer. Novas vidas são vistas como impedimentos, vidas antigas são obstáculos.

Controle de natalidade

Vende-se a ideia do controle de natalidade como uma reforma social, ideia que Chesterton genialmente comparou ao dizer que seria como afirmar que a decapitação é um avanço para a odontologia — é inútil praticar a odontologia em cadáveres ou a filantropia com os não nascidos 3.

Contracepção

Por meio da contracepção, contradiz-se a verdade integral do ato sexual enquanto expressão própria do amor conjugal 4, dissociando-o de uma de suas duas características — a procriativa — ou, nas palavras do famoso polemista britânico3, pretende-se gozar do prazer que advém de um processo natural, ao mesmo tempo em que se frustra esse processo de forma violenta e antinatural.

Aborto e eutanásia

Aborto e eutanásia opõe-se à virtude da justiça e violam diretamente o preceito divino "Não matarás"5. A vida que requereria mais acolhimento, amor e cuidado, é reputada inútil ou considerada como um peso insuportável, e, consequentemente, rejeitada sob múltiplas formas6. Nessa cultura do descarte, doentes terminais têm sua morte antecipada e veem tolhido seu direito a uma morte digna; bebês ainda no ventre materno diagnosticados com síndromes são abortados de forma eugênica, fruto de uma mentalidade que acolhe a vida apenas sob certas condições, e que recusa a limitação, a deficiência, a enfermidade7.

Sobre a face específica do aborto, em virtude da tramitação da ADPF 442 que visa descriminalizar o aborto até 12 semanas, gostaríamos de reafirmar o posição da Igreja Católica.

A Igreja Católica é contra o aborto

A Igreja Católica sempre foi contra o aborto

A tradição da Igreja sempre considerou a vida humana como algo que deve ser protegido e favorecido, desde o seu início, do mesmo modo que durante as diversas fases do seu desenvolvimento8.

O primeiro catecismo da Igreja, escrito por volta do ano 150 d.C., a Didaqué, já trazia em seus primeiros capítulos: Não mate a criança no seio de sua mãe e nem depois que ela tenha nascido9.

mãe segurando o pé de seu recém nascido, significando a posição da igreja católica contra o aborto

Em 197 d.C., Tertuliano escreveu em sua obra mais famosa: "Impedir um nascimento é simplesmente uma forma mais rápida de matar um homem, não importando se mata a vida de quem já nasceu, ou põe fim a de quem está para nascer. Esse é um homem que está se formando, pois tendes o fruto já em sua semente10.

A Congregação para Doutrina da Fé, na sua Declaração sobre o aborto provocado, remonta a um breve histórico de condenações ao aborto ao longo da história da Igreja11:

  • O primeiro Concílio de Mogúncia, em 847 d.C., confirma as penas estabelecidas por Concílios precedentes contra o aborto; e determina que seja imposta a penitência mais rigorosa às mulheres "que matarem as suas crianças ou que provocarem a eliminação do fruto concebido no próprio seio"
  • O Decreto de Graciano (1140 d.C.) refere estas palavras do Papa Estêvão V: "É homicida aquele que fizer perecer, mediante o aborto, o que tinha sido concebido"
  • Santo Tomás, Doutor comum da Igreja, ensina no seu Comentário sobre as Sentenças que o aborto é um pecado grave contrário à lei natural por volta de 1252 d.C.
  • Nos tempos da Renascença, o Papa Sisto V condena o aborto com a maior severidade na bula Effraenatam (1588).
  • Um século mais tarde, Inocêncio XI reprova as proposições de alguns canonistas « laxistas », que pretendiam desculpar o aborto provocado antes do momento em que certos autores fixavam dar-se a animação espiritual do novo ser.

A Igreja Católica ainda é contra o aborto

O ensinamento da Igreja Católica a respeito do aborto permanece o mesmo. E a prova cabal disso são os documentos e pronunciamentos dos Santos Padres e do Concílio Vaticano II.

Pio XI escreveu em sua encíclica Casti connubii:

Aqueles, enfim, que têm o supremo governo das nações e o poder legislativo não podem licitamente esquecer-se de que é dever da autoridade pública defender a vida dos inocentes com leis oportunas e sanções penais, tanto mais quanto menos se podem defender aqueles cuja vida está em perigo e é atacada, entre os quais ocupam, sem dúvida, o primeiro lugar as crianças ainda escondidas no seio materno12

Pio XII excluiu toda possibilidade de aborto direto, ou seja, aquele que é intentado como um fim ou como um meio para o fim:

Até ao momento em que um homem não se tornar culpado, a sua vida é intocável; e por isso é ilícito todo e qualquer acto que tenda directamente para destruí-la, quer essa destruição seja intentada como fim, ou somente como meio para o fim, quer se trate de uma vida no seu estado embrionário ou já no seu desenvolvimento pleno ou, ainda, prestes a chegar ao seu termo 13

João XXIII, na encíclica Mater et Magistra, reforçou o caráter inviolável da vida:

A vida humana é sagrada: mesmo a partir da sua origem, ela exige a intervenção direta da ação criadora de Deus. Quem viola as leis da vida, ofende a Divina Majestade, degrada-se a si e ao gênero humano, e enfraquece a comunidade de que é membro. 14

Paulo VI, na Constituição Pastoral Gaudium et Spes:

São João Paulo II, Papa, segurando uma criança; Na Igreja Católica, ele foi um grane baluarte na luta contra o aborto.

O aborto e o infanticídio são crimes abomináveis15

Dentre todos os crimes que o homem pode realizar contra a vida, o aborto provocado apresenta características que o tornam particularmente grave e abjurável16

João Paulo II discorre extensamente sobre o aborto na Evangelium Vitae já citada neste artigo:

Bento XVI, em especial, aos Bispos do Quênia, em visita Ad limina, disse que o aborto nunca pode ser justificado.

O Papa Francisco, por sua vez, sempre foi claramente contrário ao aborto. Poucos dias depois da legalização do aborto na Argentina, ele declarou:

"No século passado, o mundo todo se escandalizou com o que faziam os nazistas para cuidar da pureza da raça. Hoje fazemos o mesmo, mas com luvas brancas de ferro".

A legalização do aborto e o fracasso da nossa sociedade

Zilda Arns, médica sanitarista, fundadora da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa, ferrenha combatente na luta pela redução da mortalidade infantil e, por sua atuação, indicada diversas vezes ao Nobel da Paz, deu uma entrevista contundente, apontando que considerar o aborto como solução significava o fracasso da nossa sociedade:

Tentar solucionar problemas, como a gravidez indesejada na adolescência, ou atos violentos, como estupros e os milhares de abortos clandestinos realizados a cada ano no País, com a legalização do aborto, é uma ação paliativa, que apontaria o fracasso da sociedade nas áreas da saúde, da educação e da cidadania e, em especial, daqueles que são responsáveis pela legislação no país. Não se pode consertar um crime com outro ainda maior, tirando a vida de um ser humano indefeso17.

Uma oração em defesa da vida para todos os católicos

Em momentos como esse, além de ação política de pressionar os parlamentares que votamos, para que representem nossa posição, e nos posicionar publicamente como contrários ao aborto, devemos também — e em primeiro lugar — suplicar a Deus pelas almas das crianças inocentes e pedir para que não permita que manobras como a ADPF 442 sejam feitas. 

Nestes dias, Santa Gianna Beretta Molla é um grande luzeiro humano e espiritual. A santa italiana decidiu continuar com a gravidez de seu quarto filho, em vez submeter-se a um aborto, como lhe sugeriam os médicos para salvar sua vida de um câncer.  Foi canonizada em  2004 pelo então Papa João Paulo II, que a tornou padroeira da defesa da vida.
Por isso, convidamos todos a se unirem a nós rezando a Novena a Santa Gianna, disponível no nosso blog.

Referências

  1. EV, n. 5[]
  2. EV, n. 50[]
  3. G.K. Chesterton, Reforma social versus controle de natalidade, disponível em A Superstição do Divórcio e outros ensaios sobre a família, a mulher e a sociedade[][]
  4. EV, n. 3[]
  5. EV, n. 13[]
  6. EV, n. 12[]
  7. EV, n. 14[]
  8. Declaração sobre o aborto provado, n. 6[]
  9. Didaqué, Cap II, 2[]
  10. Apologia, IX[]
  11. Declaração sobre o aborto provado, n. 7[]
  12. Casti connubii, 67, disponível em Rumo a Santidade[]
  13. Discorsi e radiomessaggi, VI, p. 191, citado em Declaração sobre o aborto provado, n. 15[]
  14. Mater et Magistra, 193[]
  15. Gaudium et Spes, 51[]
  16. Evangelium Vitae, 58[]
  17. IHU Online – "Sou absolutamente contra o aborto" – Unisinos[]

12 de junho de 2024

Possessão demoníaca: discernimento e sinais

Como discernir quais são os sintomas de uma possessão demoníaca?

Essa pergunta não é tão difícil de ser respondida, uma vez que é somente necessário entender do que se trata uma possessão demoníaca.

A primeira realidade que precisa estar clara é que uma possessão demoníaca é possível, e que o próprio Jesus, nos Evangelhos, demonstra essa verdade expulsando o demônio, como por exemplo, no Evangelho de Marcos, capítulo 5; em Mateus, nos capítulos 8, 9, 12, e em outros… Os apóstolos, no capítulo 10 do Evangelho de Lucas, atestam o poder do Nome de Jesus quando dizem:

"Senhor, até os demônios nos obedecem por causa do Teu nome" (Lc 10,17).

Na tradição da Igreja, nos relatos e na vida dos santos, também é possível ver claramente essa realidade da ação demoníaca direta sobre uma pessoa.

Ação direta do demônio sobre uma pessoa

Quando nós falamos de uma ação direta do demônio sobre uma pessoa, a Igreja, com o passar do tempo e com a experiência, pôde pontuar algumas realidades que, se observadas e somadas, nos levam a um tipo maior de discernimento para concluirmos se se trata ou não de uma ação extraordinária do Mal sobre aquela pessoa.

Em geral, os sintomas de uma possessão diabólica são tão claros, e de certa forma até extraordinários, que, chegar a um discernimento não é difícil. É claro que aqui estou falando de um discernimento feito por pessoas preparadas para isso, que estão acostumadas com as realidades espirituais.

Podemos dizer que, quando falamos de uma possessão diabólica, estamos falando de uma ação do demônio diretamente sobre uma pessoa, na qual o demônio começa a ter um certo domínio sobre o corpo da pessoa, sobre os seus movimentos, sobre a sua fala e ações. A pessoa que sofre tal ação do Maligno não tem, de certo modo, responsabilidades sobre os seus atos, uma vez que não está em posse de sua plena liberdade de fazer escolhas. Só por isso já poderíamos ter, de inicio, um bom discernimento; porém, é verdade que existem certos tipos de doenças mentais que podem chegar muito próximas aos "traços" de uma possessão diabólica, por isso a Igreja nos ensina, dentro do próprio ritual dos exorcismos, mais alguns critérios que podem nos servir como ajuda no discernimento.

Em geral, uma pessoa que está sofrendo uma ação direta do demônio ficará muito incomodada em estar presente em momentos fortes de oração, seja em momentos de orações comunitárias, na oração do Santo Terço, em momentos de louvores, no Grupo de Oração e, de modo muito acentuado, na Santa Missa.

É importante frisar que uma pessoa que sofre de uma possessão diabólica não está constantemente em "transe", por isso pode levar uma vida normal, tendo, em alguns momentos, certos tipos de manifestações específicas. Por isso que frisei, em primeiro lugar, os momentos de oração, pois isso incomoda muito o demônio. Também é comum que pessoas que sofrem essa ação extraordinária do demônio, que é a possessão, acabam por experimentar outros tipos de ações do demônio, como por exemplo, obsessões diabólicas ou vexações diabólicas.

O que diz o Ritual Romano

O Ritual Romano indica alguns outros sinais que podem nos ajudar no discernimento e diagnóstico. É bom reforçar que sinais isolados precisam ser bem averiguados para se discernir com precisão, mas que, quanto mais sinais destes que serão apresentados forem possíveis confirmar, maior se torna a possibilidade de uma real possessão diabólica.

Assim descreve o Ritual Romano:

"Segundo a prática comprovada, consideram-se como sinais de possessão do demônio: dizer muitas palavras de língua desconhecida ou entender quem assim fala; revelar coisas distantes e ocultas; manifestar forças acima da sua idade ou condição natural. estes sinais podem fornecer algum indício. Como, porém, os sinais deste gênero não são necessariamente atribuíveis à intervenção do diabo, convém também atender a outros, sobretudo de ordem moral e espiritual, que manifestem de outro modo a intervenção diabólica, como por exemplo a aversão veemente a deus, ao santíssimo Nome de Jesus, à Bem-aventurada virgem Maria e aos santos, à igreja, à Palavra de deus, a objetos e ritos, especialmente sacramentais, e às imagens sagradas. Finalmente, por vezes é preciso ponderar bem a relação de todos os sinais com a fé e o combate espiritual na vida cristã, porque o Maligno é principalmente inimigo de deus e de tudo o que relaciona os fiéis com a ação salvífica". (Ritual Romano, Prel. 16)

Em síntese, esse são os sinais:

Falar ou compreender línguas desconhecidas:

Durante a manifestação diabólica, o possesso pode falar perfeitamente ou compreender línguas que nunca aprendeu e com as quais nem mesmo teve algum tipo de contato.

Estas línguas podem ser línguas atuais, modernas, e até mesmo línguas mortas. Consideram-se línguas mortas o idioma que não possui mais falantes nativos, e somente há registros de sua escrita. Por exemplo o Latim, o Fenício, sânscrito, e outras mais.

– Revelação de coisas ocultas ou distantes:

Durante a manifestação diabólica, o demônio pode, através do possesso, revelar realidades e acontecimentos escondidos e esquecidos das pessoas que estiverem presentes durante o ritual do exorcismo ou oração de libertação.

É possível também que o possesso revele um segredo ou um pecado escondido que não foi confessado ou que não houve verdadeiro arrependimento.

O demônio pode saber o nome de pessoas, sem que o possesso nem mesmo conheça essas pessoas. Pode dizer fatos que estão acontecendo em outros lugares naquele exato momento.

– Força física além do natural e outros sinais corporais:

Durante a ação diabólica, o possesso pode manifestar uma força que é desproporcional em relação à sua idade ou até mesmo em relação às suas condições físicas. Por exemplo, uma jovem franzina precisar de quatro homens fortes para segurá-la durante a possessão, ou ainda, uma pessoa de idade e até mesmo debilitada fisicamente ganhar agilidade e força desproporcional em relação à sua condição física atual.


– Aversão ao Sagrado:

Tudo o que é sagrado ou remete ao sagrado gera um certo incômodo a pessoa. Se não estiverem possessas naquele momento, qualquer momento de oração gerará certa agitação na pessoa ou fará com que ela se sinta mal fisicamente, com mal estar, fraquezas, ânsias de vômito, ódio e raiva sem explicações.

Não conseguem usar com frequência sacramentais atados ao seu corpo, passam mal ao entrar em igrejas, quando dado água benta a estas pessoas, muitas reclamam do sabor amargo.

Portanto, esses são apenas alguns sinais que podem demonstrar uma real possessão diabólica numa pessoa, o que faz com que nada mais se veja no campo da  medicina ou no campo humano. Sendo assim possível, chegarmos a um discernimento mais apurado.

Mas faço questão de frisar mais uma vez: esse campo do discernimento e da oração por tais pessoas, só devem ser realizados por pessoas habilitadas e que saibam o que está sendo feito.

Danilo Gesualdo
Missionário da Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/possessao-demoniaca-discernimento-e-sinais/

10 de junho de 2024

Existe uma forma de curar a soberba e o orgulho?

Esse é um problema universal em todas as línguas, em todos os tempos. Desde o pecado original do orgulho de Adão e Eva, todos e cada um de nós nascemos dentre um mundo de natureza soberba, que é a natureza de se rebelar. Nós tendemos a pensar que nossa carne é capaz de todas as coisas e que podemos ser autônomos, temos o direito de fazer as coisas.

Aprendamos com os padres do deserto. Certa vez, um discípulo se aproximou desse velho padre do deserto e perguntou com reverência, chamando-o de pai: "Pai, que palavras de sabedoria, que herança o senhor poderia nos deixar?" O padre então, após um longo silêncio, respondeu: "Filhos, em todos os meus anos, eu tenho aprendido apenas duas coisas: uma como uma criança, e a outra eu batalhei duramente durante toda a minha vida com todas as minhas forças. O que eu aprendi como uma criança foi que verdadeiramente há um Deus! A segunda, que eu batalhei em toda a minha vida, é: eu verdadeiramente não sou Ele."

A raiz dessa doença

A causa raiz do orgulho é a nossa herança orgulhosa herdada de nossos antepassados, dos nossos pais. Deles nós temos herdado nosso próprio desejo carnal vazio, que anseia a presença do doce hóspede da alma, que é o Espírito Santo de Deus. Pela nossa natureza pecadora, nós caímos no que nós não somos capazes de fazer e também naquilo que não é para fazermos, mas fazemos. São Paulo aos romanos (7,24) nos adverte: "Quem me libertará desta minha carne que me leva direto para a morte?".

Existe uma forma de curar a soberba e o orgulho

Foto Ilustrativa: wasja by Getty Images / cancaonova.com

Outra causa é a falta de desejo de nos rendermos ao senhorio do Senhor Jesus Cristo. Nós nos acostumamos tanto a fazer as coisas do nosso jeito, que não vemos outro caminho — e é normal pensar assim —, e nos mantemos presos ao nosso próprio ego. Quando tomamos esse caminho, passamos a ser deus de nós mesmos. Como todo deus que se prese, tem que fazer de tudo para controlar as coisas para que tudo dê certo. Assim vêm as grandes derrotas, pois não conseguimos controlar as coisas e as pessoas, aí, ao primeiro dissabor, já experimentamos o grande fracasso do vazio espiritual e o espírito de culpa. Como pudemos errar se planejamos tudo do melhor jeito? Somente quando nos rendemos ao senhorio do Senhor Jesus podemos ser livres.

Mais uma causa é a falta de vida de fé e oração constante e de crer piamente em Deus. Somente numa vida no Espírito podemos derrotar a nós mesmos (ego) e o pecado.

Três motivos para a humildade

1. O primeiro motivo é que nos fortalecemos como seres humanos. Vemos isso nos anjos e em Jesus como Filho do homem, totalmente submisso à vontade de seu Pai (Jo 5,19).

2. O segundo motivo para se humilhar é que isso me convence como pecador. Nós somos chamados à vida nova pelo Espírito do Cristo Vivo dentro de nós, e nós não podemos fazer nada sem Ele.

3. O terceiro motivo é que isso me confirma como santo. Devemos viver pela graça e assim nos perdermos no amor de Cristo, um amor redentor.

Estratégia de aconselhamento

Como devemos aconselhar alguém sobre a quebra da soberba e do orgulho? São 13 passos que devemos percorrer e completar:

1. Fazer um exame de consciência bem feito, nas profundezas do coração, e reconhecer que sem Jesus Cristo nada podemos fazer.

2.Ladainha da humildade:

Jesus manso e humilde de coração, cura-me!
Do desejo de ser estimado, liberta-me, Ó Jesus!
Do desejo de ser amado, liberta-me, Ó Jesus!
Do desejo de ser exaltado, liberta-me, Ó Jesus!
Do desejo de ser honrado, liberta-me, Ó Jesus!
Do desejo de ser louvado, liberta-me, Ó Jesus!
Do desejo de ser preferido aos outros, liberta-me, Ó Jesus!
Do desejo de ser consultado, liberta-me, Ó Jesus!
Do desejo de ser aprovado, liberta-me, Ó Jesus!
Do medo de ser humilhado, liberta-me, Ó Jesus!
Do medo de ser desprezado, liberta-me, Ó Jesus!
Do medo de ser repreendido, liberta-me, Ó Jesus!
Do medo de ser caluniado, liberta-me, Ó Jesus!
Do medo de ser esquecido, liberta-me, Ó Jesus!
Do medo de ser ridicularizado, liberta-me, Ó Jesus!
Do medo de ser enganado, liberta-me, Ó Jesus!
Do medo de ser suspeito, liberta-me, Ó Jesus!
Que os outros podem ser mais amados do que eu
Jesus, dá-me a graça de desejar isso.
Que outros possam ser mais estimados do que eu
Jesus, dá-me a graça de desejar isso.
Que na opinião do mundo outros podem aumentar, e eu, diminuir
Jesus, dá-me a graça de desejar isso.
Que outros possam ser escolhidos, e eu, deixado de lado
Jesus, dá-me a graça de desejar isso.
Que outros possam ser aclamados, e eu, ignorado
Jesus, dá-me a graça de desejar isso.
Que outros possam ser preferidos a mim em tudo
Jesus, dá-me a graça de desejar isso.
Que outros possam se tornar mais santos do que eu; faça que eu possa me tornar tão santo quanto eu deveria
Jesus, dá-me a graça de desejar isso.
Amém!

Alegre-se pela alegria do próximo

3. Rejubilar na sua fraqueza: este exercício fará você se manter mais humilde, aberto à graça. Ajudará no caminho da verdadeira compaixão, e não da pena, tornando-lhe mais compassivo com os erros dos outros, fazendo-lhe menos julgador.

4. Alegre-se quando o outro está exaltado: essa exaltação faz com que você melhore, pois eles são seus irmãos e suas irmãs.

5. Aceite toda humilhação e provas; por todos seus pecados, você merece muito mais.


7. Torne-se um servo humilde: tenha sempre em seu caminho o exemplo de Jesus, que disse que não veio ao mundo para ser servido, e sim para servir.

8. Interceda diariamente por aqueles ao seu redor para que cresçam em sabedoria, santidade e graça.

9. Nunca condene, ao contrário, entenda que, pela graça de Deus, vou eu, faço eu!

10. Medite em frente à cruz de Cristo.

11. Receba a Eucaristia frequentemente. Entenda que cada vez que você O recebe, você se torna osso com Seu osso, santidade com Sua santidade e humildade com Sua humildade.

12. Humilhe-se indo à confissão mais frequentemente. Sempre comece dizendo: abençoe-me, padre, por eu ter pecado. E reze: Senhor, seja misericordioso comigo, pois sou pecador.

13. Entenda que nós somos chamados a grandes coisas, seguindo Maria, que disse: "O Senhor fez em mim maravilhas, santo é o seu nome!" Nós somos chamados a pensar e a amar como Jesus faz pelo poder do seu Espírito.

Palavras a serem proclamadas no momento dessa oração de poder:

• "Quem quiser ser o maior que seja o último, que seja o que serve" (Mt 23,11).
• "Aprenda comigo, que sou manso e humilde de coração"(Mt 11,29).
• "Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado" (Mt 23,12).
• "Os 24 anciãos davam glória, honra e ação de graças ao que estava sentado no trono e que vive para sempre. E cada vez que os seres vivos faziam isto, os 24 anciãos se prostravam diante daquele que estava sentado no trono, para adorar o que vive para todo o sempre. Depunham suas coroas diante do trono de Deus e diziam: 'Tu és digno, Senhor nosso Deus, de receber a glória, a honra e o poder, porque criaste todas as coisas. Por tua vontade é que elas existem e foram criadas.'" (Ap 4,8-11).
• "Haja entre vós o mesmo sentir e pensar que no Cristo Jesus. Ele, existindo em forma divina, não considerou como presa agarrar o ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano. E encontrado em aspecto humano, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz" (Fl 2,5-11).
• "Eu, porém, estou entre vocês com aquele que serve" (Lc 22,27).

Oração

Senhor, ajuda-me a compreender que a humildade em relação ao meu irmão é a única prova verdadeira de que eu sou humilde perante vós. Tornar-me um servo fiel ao Senhor é a única verdadeira prova de que a humildade preenche todo o meu coração. Desse modo, na tua presença, meu coração não será mais vazio, mas preenchido pelo teu Espírito Santo, que vivifica. Ajuda-me, como Santa Teresa de Calcutá e tantos outros santos, e que a insignificância de cada dia no serviço ao Senhor e aos outros me teste e me capacite para alcançar a vida eterna.

Que minha humildade possa me acompanhar diariamente. E permita-me te oferecer toda a glória, toda a honra, pois somente por tua graça conseguimos vencer a nós mesmos, pois sem ela nada podemos fazer. Amém!

Trecho extraído do livro "Tratado da cura interior", de José Augusto Nasser dos Santos


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/existe-uma-forma-de-curar-a-soberba-e-o-orgulho/

7 de junho de 2024

Os olhares para as faces de Jesus de Nazaré – Marcos 3,20-35

O evangelho de hoje apresenta uma cena que desperta múltiplos olhares para Jesus de Nazaré. Assim como na dinâmica do cotidiano, somos instados a ver a vida sob perspectivas diversas. O que vemos é fruto de vivências, saberes, ideologias, intencionalidades que nem sempre dialogam com a realidade.

Encontros acontecem, os abraços são possíveis quando as energias fluem com liberdade.  Quando o coração deseja algo mais, o melhor pode surgir. O texto apresenta como cenário a casa para onde Jesus volta. Os personagens: uma multidão que o segue, os parentes que o acusam de insanidade, os líderes religiosos que o descredibilizam. Por fim, a mãe e seus irmãos. O que acontece na narrativa diz das distintas formas de olhar para o Nazareno.

Sempre é tempo de pensarmos no modo como olhamos para as pessoas. Há olhares risonhos, distraídos, mas há um momento mágico, num instante de graça, quando a força dos olhos se cruzam numa sintonia fina, baixa a guarda para ser quem é. Olhar profundo de aceitação. Reciprocidade no mesmo tom.  Há de construir caminhos livres para que os afetos circulem e se multipliquem.

No texto, os olhares são diversos e emitem julgamentos contundentes sobre a pessoa de Jesus de Nazaré. Sua própria trajetória ensejou cada forma com que recebeu cada olhar. Viveu rodeado pelos empobrecidos e não poupou crítica às autoridades religiosas, pois identificava o quanto determinadas práticas eram danosas para os pequeninos e pequeninas.

Os parentes o olharam como "louco" (v.21). Logo, todo louco precisa ser contido. Assim é o olhar de muitos para quem leva a vida numa perspectiva diferente da maioria. Assim fizeram com o "endemoninhado gadareno" em Marcos 5, 4-5. O louco, sem filtros nem regras deve ser retirado do convívio social. É vergonha para a família. Por não se submeter aos ditames de uma sociedade excludente, passa a ser visto como louco, mesmo por aqueles que estão no círculo familiar. Esta é parte do preço a pagar ao trilhar pelos caminhos do reino.

Os líderes religiosos o demonizaram (v.22). Por que têm tanta pressa em demonizar o diferente? Por que o que incomoda e desafia é imputado como demoníaco? Esta acusação pesou sobre Jesus naqueles dias, mas continua sendo a tônica acusatória contra todos as pessoas que assumem posturas e valores que confrontam as bases tradicionais da religião hegemônica. Essa estratégia continua vitimando comunidades inteiras com suas legítimas bandeiras de fé e luta.

O outro olhar é lançado sobre a família de Jesus (v.33). Aqui há o alargamento da visão sobre ser família. Para além da núcleo primeiro, ser família passa pela compreensão de valores que unem e sedimentam as relações humanas. Tem a ver com a profundidade espiritual que norteia a experiência nos diferentes estágios da caminhada.

O cuidado de Jesus ao responder a alguns desses olhares é admirável. Ele não se deixou moldar pelo olhar de outros, mas foi pedagógico no falar. Aos religiosos, adverte da necessidade de aprender a ver o agir de Deus, onde a divina Ruah sopra com liberdade. Fechar os olhos para esta manifestação é se negar a ver o óbvio, não tem perdão. Aos que trilham os caminhos da vontade de Deus, declara-se filho, irmão e irmã (v.35).

Ante as declarações do evangelho, lancemos os olhares de quem senta para ouvir os ensinamentos e levanta para partilhar cada palavra de libertação e acolhida a todas as pessoas com quem cruzarmos na jornada existencial.

Waldir Martins Barbosa – CEBI-BA


Fonte: https://cebi.org.br/reflexao-do-evangelho/os-olhares-para-as-faces-de-jesus-de-nazare-marcos-320-35/

O Coração de Jesus: um refúgio para os tempos atuais

Sagrado Coração de Jesus: a devoção de que o mundo necessita

Junho é muito conhecido como mês das festas juninas. De fato, aqui no Brasil, essas celebrações são bem difundidas e têm sua importância, principalmente para a fé católica. Mas a grande solenidade deste mês é o Sagrado Coração de Jesus.

Sim, irmãos e irmãs na fé, é no Sagrado Coração de Nosso Senhor que enaltecemos o grande amor que Deus dispensa a cada um de nós. Desde o pecado de Adão e Eva descrito em Gênesis 3, que passamos a ter medo d'Aquele que tanto nos amou. Foi assim,que Jesus desceu a nossa miséria. O Verbo encarnado se fez presença no meio de nós, morreu numa cruz para nos aproximar definitivamente do Seu coração.

É isso que celebramos neste mês, o Deus que se apresenta a nós com um corpo humano, sem deixar de ser divino. Ademais, atinemos que, diante de tanto amor, ainda somos tão ingratos a Deus. Portanto, precisamos reparar todos os nossos pecados que causam sofrimentos a Ele e que transpassam com muitas lanças o seu venturoso coração. Amemos ao Senhor, vivamos por Ele e para Ele, como se cada dia fosse o último de nossa existência aqui na Terra.

Revelação privada de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque

O mundo carece de pessoas que queiram viver o espírito de sacrifício diante das paixões desordenadas, e façam penitências com retidão expiatória diante dessa urgente devoção.

"Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me" (Mt 16,24).
Sendo o Coração de Jesus o organizador de nossa vida, a paz que tanto procuramos se fará estabelecida, promessa feita a Santa Margarida Maria Alacoque a todos que a Ele se consagrarem.

Em 1673, a santa francesa Margarida Maria Alacoque teve uma revelação privada de Jesus, em que o próprio Cristo pediu a todos que honrassem o seu Sagrado Coração, e fez as 12 promessas específicas a todos os que venerassem e difundissem a devoção ao Sagrado Coração.

12 promessas a todos os que veneram e difundem a devoção ao Sagrado Coração

1.- "Darei às almas devotas todas as graças necessárias ao seu estado de vida".
Quantas são as nossas lutas diárias e quantas são as graças de que necessitamos! O próprio Deus vem em nossa ajuda, e não percamos tempo em confiar em Sua Providência que rege todas as coisas.

2.- "Vou estabelecer a paz em suas casas".
Como sempre cantou Eugênio Jorge, missionário católico, "A paz que é tão sonhada, cantada em canções tão lindas, só chegará até nós quando ouvirmos a voz do Senhor (Sonho de Paz – Mensagem Brasil). Que o Coração de Jesus nos conceda a paz que é Dom do Espírito Santo".

3.- "Eu te consolarei em todas as tuas aflições"
O Sagrado Coração de Jesus é o nosso consolador, assim como fez no caminho do calvário: "Jesus, porém, voltando-se para elas, disse: 'Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas, e por vossos filhos. (Lucas 23,28-29). Ele, que sabe o quanto assumir a nossa cruz vai expiar os nossos pecados, se coloca ao nosso lado. É nessa hora que a Igreja, corpo de Cristo nos aponta os sacramentos para que renovemos a nossa fé.

4.- "Eu serei seu porto seguro na vida, e especialmente na hora da morte." Lembremos sempre que, enquanto tivermos energia e compreensão da vida, devemos buscar a santidade, pois, somente assim, faremos parte do número dos Vossos eleitos.

5.- "Vou conceder bênçãos abundantes sobretudo aos vossos empreendimentos temporais e espirituais."  No seu infinito amor, Jesus age em sua Providência, pois sabe que, enquanto aqui nesta vida, temos necessidades temporais, mas que bom que Ele não age conforme a nossa vontade, mas conforme o que é Sua Lei, pois sabe o que é melhor para todos nós. Não nos entristeçamos, portanto, quando nossos pedidos não forem aceitos pois a prioridade de Deus sempre será em vista dos bens espirituais.

6.- "Os pecadores encontrarão em Meu Coração a fonte e o oceano infinito de misericórdia". Diante da nossa necessidade de redenção, o Senhor não poupa esforços para que todos se voltem para Ele. Assim, sejamos fiéis em todos os momentos para que alcancemos a libertação de todas as paixões desordenadas que nos afastam da salvação eterna.

7.- "As almas mornas se tornarão fervorosas"
"Conheço suas obras: você não é quente nem frio. Eu gostaria que você fosse quente ou frio! Portanto, porque você é morno, vou cuspir você da minha boca." (Ap 3,15-16) O remédio para nossa alma é vivermos unidos ao amoroso Coração de Jesus, para que o nosso seja aquecido em busca da  verdadeira conversão. Corramos ao encontro daquele que tanto nos ama.

8.- "As almas fervorosas alcançarão maior perfeição".
Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito (cf.Col 3,14). Que em sua vida Ele esteja em primeiro lugar, eleja a Palavra de Deus e a Sua vontade e tudo o mais virá, pela mais pura bondade de Cristo.

9.- "Abençoarei cada lugar onde for exposta e venerada uma imagem do meu sagrado coração".
A imagem do Coração de Jesus, nos demonstra o seu amor verdadeiro, que com o seu olhar divino, nos assume até o fim. Bendito Coração que sofre por nós e vem ao nosso encontro.

10.- "Darei aos sacerdotes e a todos os que se ocupam da salvação das almas, o dom de tocar os corações mais endurecidos".
O Coração de Jesus nos permite vivenciar o Seu amor divino que refina os nossos sentimentos, ao mesmo tempo que nos livra do nosso fechamento interior, e assim podemos levar essa experiência a tantos que ainda não conhecem Aquele que é "caminho, e a verdade, e a vida" (João 14,6).

11.- "Aqueles que propagarem esta devoção terão seus nomes escritos em Meu Coração, e jamais serão apagados". Aos devotos do Sagrado Coração de Jesus, seus fiéis amigos, é prometido o que é mais essencial, a vida eterna.

12.- "A quem comungar na primeira sexta-feira de cada mês, durante nove meses consecutivos, concederei a graça da perseverança final".
Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Filipenses 3,14 O Apóstolo Paulo com a sua vivência nos leva a descobrir sobre o esforço da perseverança, mas que junto a isso podemos desfrutar da alegria nos aproximar mais de Jesus.


Aqueles que perseverarem na Devoção ao Coração de Jesus, jamais o negará. Preparemo-nos pois os tempos urgem firmeza de fé.
Portanto, permitamos que o nosso coração, lugar do agir de Deus, chegue ao mais íntimo coração do nosso Deus.

Micheline Teixeira 
Missionária da Comunidade Canção Nova:: Enfatiza as 12 promessas do Sagrado Coração, um ponto atrativo para o público.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/devocao/o-coracao-de-jesus-um-refugio-para-os-tempos-atuais/

5 de junho de 2024

O ambiente humano e o ambiente natural se degradam em conjunto

Meio Ambiente e Dignidade Humana: Reflexões sobre Laudato Si' no Dia Mundial do Meio Ambiente

A celebração do Dia Mundial do Meio Ambiente começou, em 1974, com o tema "Uma Só Terra", refletindo a necessidade de proteger nossa casa comum, um conceito central na encíclica Laudato Si'. Estabelecida, em 1972, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, durante a Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano, essa data tem o objetivo de sensibilizar e mobilizar a população mundial para a proteção ambiental.

Em Laudato Si', publicada em maio de 2015, o Papa Francisco não apenas aborda o cuidado com o meio ambiente, mas enfatiza a dignidade e o valor intrínseco de cada ser humano. Ele critica a cultura do descarte, o qual, muitas vezes, ignora ou marginaliza os mais vulneráveis: imigrantes, os nascituros, os pobres entre outros.

Já na introdução do documento, Francisco destaca que tudo está interligado na casa comum:

A relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta, a convicção de que tudo está estreitamente interligado no mundo, a crítica do novo paradigma e das formas de poder que derivam da tecnologia, o convite a procurar outras maneiras de entender a economia e o progresso, o valor próprio de cada criatura, o sentido humano da ecologia, a necessidade de debates sinceros e honestos, a grave responsabilidade da política internacional e local, a cultura do descarte e a proposta dum novo estilo de vida. Esses temas nunca se dão por encerrados nem se abandonam, mas são constantemente retomados e enriquecidos.

Créditos: AvigatorPhotographer / GettyImagens

Como o Papa destaca em outro trecho da carta, uma vez que tudo está relacionado, também não é compatível a defesa da natureza com a justificação do aborto. Para o Papa, não parece viável um percurso educativo para acolher os seres frágeis que nos rodeiam e que, às vezes, são molestos e inoportunos, quando não se dá proteção a um embrião humano, ainda que a sua chegada seja causa de incômodos e dificuldades.

Soluções para a sociedade

No "Capítulo Quatro: Uma Ecologia Integral", o documento destaca a principal solução para os desafios sociais e ambientais contemporâneos. A ecologia integral reconhece que os seres humanos são parte integrante de um mundo mais amplo, e defende a necessidade de "soluções abrangentes que levem em conta as interações entre os sistemas naturais e sociais" (LS 139).
O que é uma encíclica?

Laudato Si' é uma encíclica do Papa Francisco, publicada em maio de 2015, que aborda o cuidado com o meio ambiente e todas as pessoas, além de explorar a relação entre Deus, os seres humanos e a Terra. Vale recordar que uma encíclica é uma carta pública do Papa que desenvolve a doutrina católica sobre um tópico, muitas vezes à luz de eventos atuais. Neste sentido, Laudato Si dá continuidade à Doutrina Social da Igreja.

No documento, Francisco aborda vários temas importantes sobre a dignidade humana, o cuidado da "Casa Comum" e reforça o ensinamento da Doutrina Social da Igreja, essa doutrina dá continuidade aos ensinamentos de outros pontífices como: São João Paulo II que escreveu a "Laborem Exercens" (1981), "Sollicitudo Rei Socialis" (1987), "Centesimus Annum" (1991), e Compêndio da Doutrina Social da Igreja (2004) teve sua assinatura apostólica, e o Papa Bento XVI escreveu a "Caritas in veritate" (2009). Portanto, uma infinidade de documentos que podem ser explorados e estudados, e complementam Laudato Si.


Últimos acontecimentos climáticos no Brasil

Com os últimos acontecimentos trágicos, devido às ações climáticas como: enchentes e chuvas no Sul do Brasil, o tema do meio ambiente ganhou mais espaço de discussão no meio acadêmico, nos jornais e debates políticos.

O Brasil e o mundo viram, pelas mídias sociais, o quanto o brasileiro é solidário diante das catástrofes no Rio Grande do Sul; a sociedade civil e poder público somaram forças para mitigar o sofrimento do povo gaúcho que continuam reconstruindo suas vidas.

Cabe ao poder público colocar todos os recursos e meios possíveis para solucionar os problemas causados pelas chuvas, além de realizar ações de prevenção e conscientização para futuros eventos climáticos. Especialistas afirmam que muito poderia ter sido evitado com medidas adequadas. À população, cabe fiscalizar o uso dos recursos públicos, evitar a corrupção e cobrar dos representantes políticos ações concretas sobre o tema.

Uma alerta para os comunicadores

Mais do que em outra época, a Lautado Si necessita ser estudada e explorada. Cabe aos comunicadores, principalmente os cristãos, não serem confundidos com os temas que norteiam o meio ambiente nas discussões públicas, que diversas vezes são utilizados como "Cortina de Fumaça" para favorecer interesses pessoais e egoístas.

Palestras, cursos, rodas de conversa e paralisações vão ganhar mais espaço sobre o tema neste Dia Mundial do Meio Ambiente, que é muito importante e urgente. Entretanto, usando as palavras do próprio Papa, não podemos encontrar soluções não só na técnica, mas também numa mudança do ser humano; caso contrário, estaríamos a enfrentar apenas os sintomas.

Por fim, o Papa convida a população atual a explorar os recursos naturais com consciência, visando o futuro das novas gerações: "Cada comunidade pode tomar da bondade da terra aquilo de que necessita para a sua sobrevivência, mas tem também o dever de protegê-la e garantir a continuidade da sua fertilidade para as gerações futuras." (LS 67).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/meio-ambiente/o-ambiente-humano-e-o-ambiente-natural-se-degradam-em-conjunto/