2 de junho de 2025

Enquanto esperamos a Sua vinda

Ascensão de Jesus e a Missão dos discípulos

"Jesus foi elevado, à vista deles, e uma nuvem o retirou aos seus olhos. Continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apresentaram-se a eles então dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: 'Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que, do meio de vós, foi elevado ao céu, virá assim, do mesmo modo como o vistes partir para o céu'" (At 1,9-11). Na narrativa de São Marcos, assim está escrito: "Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi elevado ao céu e sentou-se à direita de Deus. Então, eles foram anunciar a Boa Nova por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra pelos sinais que a acompanhavam" (Mc 16,19-20).

Créditos: Imagem Gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

Compromisso assumido! O mesmo Jesus vai manifestar-se como foi visto partir para o céu, mas permanece misteriosamente conosco: "Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos" (Mt 28,20). Inaugurou-se então um novo tempo, o Tempo do Espírito, entre a efusão do mesmo Espírito que celebraremos dentro de poucos dias no Pentecostes e a vinda gloriosa do Senhor. Este é também o Tempo da Igreja, no qual a visibilidade das ações do Senhor é entregue à nossa responsabilidade. De formas diversas, o Senhor continua presente, e até aqui o Senhor nos ajudou, dando-nos a certeza de que o fará sempre. Com essa disposição, continuamos clamando "Vem, Senhor Jesus!".

Quais são as tarefas confiadas à Igreja, enquanto esperamos a vinda do Senhor? Cabe-nos olhar para frente e para o alto (Cf. Cl 3,1), pois quem fica parado já está regredindo. Seremos, diante do mundo, homens e mulheres peregrinos de esperança, como nos propõem o tema e a espiritualidade do Jubileu em curso, na certeza do sentido da existência pessoal e da história, plantando esta força em todos os ambientes em que nos encontrarmos. Cabe-nos superar e ajudar a superar o desânimo e o esmorecimento.

A missão da Igreja na cultura urbana

E o tempo em que vivemos lança à Igreja o desafio significativo que são as cidades, a pastoral e a mentalidade urbana, que envolvem não só os que habitam a cidade, mas também as pessoas que bebem da mesma mentalidade, levando em conta a circulação de ideias e costumes, cujos limites se ampliaram e provocam os cristãos a dar uma resposta, e esta é a evangelização, missão irrecusável da Igreja e dos cristãos. Nossa Igreja assumiu o compromisso de ter suas portas abertas e contribuir para que a cidade seja repleta de alegria!

Avançando nesse processo, especialmente diante da cultura urbana, cada vez mais abrangente, cabe-nos fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão, se quisermos ser fiéis ao desígnio de Deus e corresponder às expectativas mais profundas do mundo (cf. São João PauloII, Novo Millenio ineunte 43). Para oferecer essa casa acolhedora aos homens e mulheres de nosso tempo, é fundamental que a Igreja aponte para a santidade e a busca da perfeição da caridade.


Ela deverá ser um apelo constante a uma vida melhor, sem nivelar pelo rodapé da existência os ideais a serem oferecidos. Cada vez que uma pessoa experimentar a vida da Igreja, sentir-se-á convocada a ser santa! E os cristãos precisam estimular-se reciprocamente nesta aventura, contando também com o estímulo das gerações de santos e santas que são hoje oferecidas como exemplo.

O alimento da santidade na Igreja está na vida sacramental. Aqui, resplandece de forma inequívoca, a Eucaristia, o tesouro mais precioso da Igreja. A Eucaristia é como o coração pulsante que dá vida a todo o corpo místico da Igreja: um organismo social totalmente baseado no vínculo espiritual, mas concreto com Cristo. Como afirma o apóstolo Paulo: 'Uma vez que há um só pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão' (1 Cor 10,17).

A força da Eucaristia na vida e missão da Igreja

Sem a Eucaristia, a Igreja simplesmente não existiria. De fato, é a Eucaristia que faz de uma comunidade humana um mistério de comunhão, capaz de levar Deus ao mundo e o mundo a Deus. O Espírito Santo, que transforma o pão e o vinho no Corpo e no Sangue de Cristo, transforma também quantos o recebem com fé em membros do corpo de Cristo, de modo que a Igreja é, realmente, sacramento de unidade dos homens com Deus e entre eles" (cf. Bento XVI, Angelus do dia 26 de junho de 2011).

A ela se liga todo o edifício da vida espiritual e da oração, que a Igreja deve cultivar. Recolher-se em oração pessoal, fazer a leitura orante da Palavra de Deus, rezar em família! Rezar na Comunidade e nos tantos grupos de oração, nas várias modalidades existentes! Podemos pensar na grande quantidade de Grupos de Oração formados a partir dos Movimentos Eclesiais e Carismas existentes na Igreja!

No tempo da Igreja, que é o tempo de hoje, continuam os cristãos na missão de serem sal, luz e fermento, alimentados pela Palavra de Deus. Muitas vezes, será silencioso este testemunho, outras pedirão a saída à vida pública, a parceria com homens e mulheres de boa vontade que aspiram os mesmos ideais de fraternidade e justiça dos cristãos. O que não é possível é a omissão! E aqui se encontra o compromisso de servir às causas dignas do Evangelho e o serviço a todos, especialmente os mais pobres e fragilizados da sociedade, na caridade!

Transformar o mundo com fé e ação

Tenhamos a ousadia de assumir um roteiro de vida enquanto esperamos a vinda do Senhor: ser homens e mulheres peregrinos de esperança (1); Fazer da Igreja de Belém uma Igreja de portas abertas, para que a cidade seja repleta de alegria! (2); Cada cristão ou cristã se sinta convocada à santidade! (3); Considerar a Eucaristia, o tesouro mais precioso da Igreja como o coração pulsante da própria Igreja (4); Como a Eucaristia transforma o pão e o vinho no Corpo e no Sangue de Cristo, transforme também quem a recebe com fé em membro do corpo de Cristo, para que a Igreja seja realmente sacramento de unidade dos homens com Deus e entre eles (5); Vida espiritual e oração, cada pessoa em seu estado de vida e vocação específica no coração da Igreja (6); Rezar em Comunidade e nos tantos grupos de oração, nas várias modalidades existentes (7);

No tempo da Igreja que é o tempo de hoje, os cristãos sejam sal, luz e fermento para transformar o mundo, alimentados pela Palavra de Deus (8); Testemunho dos valores do Evangelho, muitas vezes no silêncio ou na família e no trabalho cotidiano (9); Segundo a vocação de cada pessoa, muitas vezes os cristãos deverão sair à vida pública, em parceria com homens e mulheres de boa vontade que aspiram os mesmos ideais de fraternidade e justiça, para servir às causas dignas do Evangelho e o serviço a todos, especialmente os mais pobres e fragilizados da sociedade, na caridade! O que não é possível é a omissão! (10).

Não é um decálogo, pois já o temos resumido no amor a Deus e ao próximo, mas não será difícil identificar nas dez propostas um reflexo da lei de Cristo e da Igreja, num tempo fecundo e positivamente provocante, tempo da Igreja, enquanto esperamos a sua vinda! Estamos prontos a responder "sim"!?

DOM ALBERTO TAVEIRA CORRÊA
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/enquanto-esperamos-a-sua-vinda/

1 de junho de 2025

Fortes apelos em uma década

Laudato Si' completa dez anos

A Carta Encíclica Laudato Si' – sobre o cuidado da casa comum, pérola do pontificado do Papa Francisco, completa dez anos e seus fortes, pertinentes, apelos continuam a reverberar em todo o mundo. Mas não são poucos os governantes que fazem "ouvidos de mercador" diante das advertências da Carta Encíclica, promulgada em 24 de maio de 2015.

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT.

Indicações que exigem uma compreensão mais lúcida capaz de inspirar conversão no horizonte do que se entende por ecologia integral. Promessas e acordos até são estabelecidos para preservar a casa comum, mas prevalecem os interesses por um lucro egoísta, e busca-se um equivocado caminho para se encontrar o bem-estar social.

A Carta Encíclica Laudato Si' continua, assim, muito atual, pois a sociedade precisa dialogar mais para encontrar formas de salvaguardar o planeta. Os debates não podem se restringir às cúpulas dos poderosos que não efetivam compromissos para enfrentar os desafios ambientais, delineando um futuro sombrio. 

A complexidade da crise ecológica atual

Reconheça-se que o movimento ecológico já percorreu um caminho rico e longo em todo o mundo, alcançando conquistas relacionadas à conscientização. Mas as vitórias são insuficientes para consolidar novos estilos de vida e de organização social mais condizentes com os parâmetros de sustentabilidade. Diante da urgência de mudanças, muitos permanecem desinteressados em rever seus próprios hábitos. Há ainda a recusa explícita de poderosos diante de proposições lúcidas e pertinentes, negando o desafio ecológico e promovendo a indiferença em relação à devastação ambiental.

Na solução dos problemas enfrentados pela humanidade, cegamente confiam apenas nas soluções técnicas. Por isso, o cuidado com o conjunto da Criação precisa se tornar, de modo crescente, uma atuação cidadã, envolvendo cada pessoa e todas as instituições. Sublinhe-se que cuidar do planeta é importante dimensão social que interpela também a prática da fé: os cristãos, certos de que o planeta é obra de seu Criador, Deus, devem cuidar da Criação.

Não se pode continuar minimizando a complexidade da crise ecológica atual, consideradas as suas dimensões éticas e espirituais, conforme alerta a Carta Encíclica Laudato Si'.  Percebe-se que há longo percurso educativo a ser trilhado. Mesmo assim, iniciativas que podem ajudar no percorrer deste itinerário, a exemplo da Campanha Junho Verde, compromisso governamental e legislativo brasileiro, encontram dificuldade para deslanchar.  

O Junho Verde, instituído a partir de contribuição da Igreja Católica, sob inspiração da Laudato Si', convoca a sociedade para a vivência de um processo educativo que permite vencer visões limitadas aos interesses de um lucro egoísta, com força para manipular decisões, aprovações e permissões, para beneficiar somente pequenos grupos, a partir da deterioração dos recursos naturais.

A falta de educação ambiental desenha no horizonte uma dívida social emoldurada por uma relevante dívida ecológica.  No lugar de avanços para o bem de todos, configuram-se privilégios oligárquicos. A insistência pertinente é buscar um novo estilo de vida que seja resposta adequada à crise climática e ecológica.

Laudato Si' permanece atual

A Carta Encíclica Laudato Si', no seu décimo ano, permanece atual, pois suas indicações são contraponto à indiferença e à ignorância que justificam as ações em nome do acúmulo egoísta de bens. Diante da urgência para mudar hábitos e garantir um desenvolvimento sustentável, há resistência até mesmo de alguns que professam a fé cristã, desconsiderando que Deus é criador de todas as coisas e que tudo precisa ser tratado com o devido respeito, pois é obra do Criador.


Sinal dessa desconsideração é a atitude de maravilhar-se diante das singularidades da obra de Deus e, ao mesmo tempo, não repudiar extrativismos predatórios do meio ambiente. A omissão diante da urgência de se preservar a natureza se desdobra em contínuas ameaças ao bem comum e no distanciamento de um desenvolvimento humano sustentável, integral. Por isso deve-se qualificar o olhar que interpreta a realidade, para enxergar seus reais problemas e desafios.

A força da ecologia integral

Abrir-se aos ensinamentos da Carta Encíclica pode levar a uma nova década mais proveitosa no que diz respeito à educação ambiental. Uma capacitação para que todos adotem nova lógica na regência da própria vida e das relações estabelecidas no planeta, a partir do paradigma da ecologia integral. Lógica com propriedades corretivas capazes de inspirar mais sustentabilidade e equilíbrio socioambiental. Sem o horizonte da ecologia integral, continuarão a ser alimentadas a desigualdade, as discriminações e exclusões.

A força educativa da ecologia integral impulsiona e ilumina o princípio da subordinação da propriedade privada ao destino universal dos bens, asseverando a função social de qualquer forma de propriedade privada. Ora, o rico e o pobre têm igual dignidade, pois todos são igualmente filhos de Deus. Assim, o meio ambiente é, afirma a Carta Encíclica, um bem coletivo, patrimônio de toda a humanidade, responsabilidade de todos.

Os apelos da Carta Encíclica Laudato Si' precisam continuar a ecoar, sempre mais fortes, de modo a possibilitar o tratamento da raiz humana que leva à crise ecológica. Importa avaliar e reconfigurar o agir da humanidade no planeta, à luz de reflexões emolduradas pelo paradigma da ecologia integral. Ao celebrar uma década da Carta Encíclica Laudato Si', renove-se o compromisso de acolher seus apelos, para que sejam alcançadas novas formas de desenvolvimento, em harmonia com o dever de se cuidar da casa comum.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/fortes-apelos-em-uma-decada/