2 de outubro de 2025

A defesa da vida nas Sagradas Escrituras e na doutrina da Igreja

A defesa da vida humana, desde a concepção até a morte natural, está no coração da fé cristã e do ensinamento da Igreja Católica Apostólica Romana. Nestes tempos de profunda relativização do valor da vida, em que muitas consciências não conseguem mais perceber a grande dignidade a que todo ser humano é chamado, voltemos nosso olhar para a Santa Mãe Igreja ergue sua voz profética para proclamar que cada vida humana é sagrada, pois tem origem em Deus e é destinada a participar de Sua vida divina.

Crédito: kieferpix / GettyImages

Este artigo busca apresentar como as Sagradas Escrituras e o Magistério da Igreja, de modo particular a encíclica Evangelium Vitae (1995), de São João Paulo II, sustentam de forma firme e clara a defesa incondicional da vida humana.

A vida conhecida e amada por Deus

A Bíblia possui muitas passagens sobre a sacralidade da vida. Uma das mais conhecidas está no chamado do profeta Jeremias, onde o Senhor declara:
"Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia, e antes de teu nascimento eu te consagrei e te constituí profeta das nações." (Jr 1,5).

Esse versículo é uma das mais belas afirmações sobre a dignidade da vida humana. Ele revela que a vida é conhecida e querida por Deus desde antes do nascimento. Não apenas a vida biológica é reconhecida, mas a própria identidade e vocação da pessoa já são conhecidas pelo Criador. Cada ser humano é querido pessoalmente por Deus e, por isso, nenhuma vida pode ser considerada descartável ou acidental.

Criados à imagem de Deus

A raiz mais profunda da dignidade humana está no fato de que o homem e a mulher foram criados à imagem e semelhança de Deus:
"Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou." (Gn 1,27).

Ser imagem de Deus confere ao ser humano um valor intrínseco, que não depende de capacidades físicas, intelectuais ou sociais. A vida humana é sagrada porque pertence a Deus, que a doa livremente e chama cada pessoa à comunhão eterna consigo. Nenhum poder humano pode dispor da vida inocente sem cometer grave injustiça. O quinto mandamento — "Não matarás" (Ex 20,13) — expressa esse respeito absoluto pela vida humana.

Assim, a Revelação mostra que a vida humana não é uma simples realidade biológica, mas uma realidade pessoal e sagrada desde o primeiro instante de sua existência.

O Catecismo e a tradição da Igreja

O Catecismo da Igreja Católica ensina de forma clara: "A vida humana deve ser respeitada e protegida de modo absoluto desde o momento da concepção. Desde o primeiro momento da sua existência, o ser humano deve ver reconhecidos os seus direitos de pessoa, entre os quais o direito inviolável de todo ser inocente à vida". (CIC 2270).

A vida humana não é propriedade do indivíduo, da sociedade nem do Estado. Pertence a Deus, e por isso é inviolável. Esse é o fundamento último da ética cristã da vida.

Já nos primórdios da Igreja, encontramos testemunhos claros dessa verdade. Um exemplo é a Didaqué dos Apóstolos (século I), um dos mais antigos escritos cristãos fora do Novo Testamento, que afirma:"Não matarás a criança por aborto, nem depois de nascida a farás perecer". (Didaqué, II,2).

Ou seja, desde os primeiros cristãos o aborto foi reconhecido como um grave pecado, em continuidade com a lei natural e a revelação divina.

A Evangelium Vitae: o Evangelho da Vida

Um dos documentos mais importantes sobre a dignidade e a inviolabilidade da vida humana é a encíclica Evangelium Vitae (O Evangelho da Vida), publicada por São João Paulo II em 25 de março de 1995.

Nela, o Papa reafirma com autoridade que a vida é um dom sagrado e inviolável desde a concepção até a morte natural, denunciando a "cultura da morte" que se manifesta no aborto, na eutanásia e em outras ameaças à vida.

Logo na introdução, o Papa recorda a grande vocação do ser humano: "O homem é chamado a uma plenitude de vida que se estende muito para além das dimensões da sua existência terrena, porque consiste na participação da própria vida de Deus". (EV, 2).

A encíclica prossegue afirmando que a vida temporal é condição basilar para um processo de existência humana que alcançará a sua plena realização na eternidade.

"Todo o homem sinceramente aberto à verdade e ao bem pode, pela luz da razão e com o secreto influxo da graça, chegar a reconhecer, na lei natural inscrita no coração (cf. Rm 2, 14-15), o valor sagrado da vida humana desde o seu início até ao seu termo, e afirmar o direito que todo o ser humano tem de ver plenamente respeitado este seu bem primário. Sobre o reconhecimento de tal direito é que se funda a convivência humana e a própria comunidade política.
De modo particular, devem defender e promover este direito os crentes em Cristo, conscientes daquela verdade maravilhosa, recordada pelo Concílio Vaticano II: « Pela sua encarnação, Ele, o Filho de Deus, uniu-Se de certo modo a cada homem »
Quão grande é a dignidade da vida humana que o próprio Deus, por amor a nós, assumiu para si uma natureza humana para que pudéssemos participar de sua vida divina!

É por isso que o papa pode declarar com clareza: "Com autoridade que Cristo conferiu a Pedro e aos seus sucessores… declaro que o aborto direto, isto é, querido como fim ou como meio, constitui sempre uma desordem moral grave, pois é a eliminação deliberada de um ser humano inocente". (EV 62).⁷
Estas palavras deixam claro que o Magistério da Igreja Católica Apostólica Romana considera o aborto um pecado gravíssimo e intrinsecamente mau, que nunca pode ser justificado.

O povo da vida e para a vida

Mas São João Paulo II também nos recorda que para combater a "cultura da morte" a Igreja também é chamada a ser "o povo da vida e para a vida" (EV, 79). Isso significa anunciar com alegria o Evangelho da vida. Missão que se realiza de diversas formas, principalmente pela pregação e catequese, formando consciências para reconhecer o valor da vida e da família. Pelo serviço da caridade e pelo compromisso social e político, atuando para que as leis respeitem e protejam a vida humana em todas as suas fases.

Escolhe, pois, a vida!

A defesa da vida não é apenas um dever moral, mas também uma expressão de esperança e caridade. Cada vida, por mais frágil ou limitada que pareça, é amada por Deus e chamada à plenitude da comunhão com Ele.

É iluminado por essas verdades que podemos compreender profundamente a exortação de Moisés: "Escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência". (Dt 30,19).

Diante da escolha entre a cultura da vida e a cultura da morte, o cristão é chamado a escolher a vida. Só assim, promovendo a cultura da vida poderemos garantir que não só nós, mas também as futuras gerações, possam ter Vida e Vida em abundância.

Por Fernando Costa Donato


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/bioetica/defesa-da-vida-nas-sagradas-escrituras-e-na-doutrina-da-igreja/

1 de outubro de 2025

O caminho pequeno do amor: aprender com Santa Teresinha

No coração da vida cristã, há um desejo que acompanha todos os fiéis: ser santo. No entanto, quando escutamos esta palavra, tantas vezes imaginamos algo grandioso, reservado a poucos: feitos extraordinários, milagres, uma vida heroica para além da medida comum. Perante tal visão, muitos desanimam, pensando que a santidade não é para eles. Foi precisamente aqui que Santa Teresinha do Menino Jesus abriu uma porta nova, simples e luminosa. Ela mostrou que a santidade não depende da grandeza das obras, mas da intensidade do amor com que as realizamos. Descobriu e viveu aquilo a que chamou o seu "pequeno caminho", caminho de confiança, de humildade e de fidelidade no quotidiano. E é esse caminho que continua a inspirar e a guiar todos os que desejam seguir Jesus, mesmo no meio da vida simples de cada dia.

Na vida comum, descobre-se a grandeza da vocação cristã

Teresinha não viveu muito tempo. Morreu aos 24 anos, no silêncio de um convento carmelita em Lisieux, sem ter realizado obras visíveis de grande impacto no mundo. Não pregou a multidões, não fundou instituições, não percorreu terras longínquas em missão. A sua existência decorreu no escondido, marcada por gestos pequenos, repetitivos e, por vezes, até árduos. Mas foi precisamente no interior dessa vida comum que ela descobriu a grandeza da vocação cristã: cada gesto, cada palavra, cada ato pode ser lugar de encontro com Deus se for feito por amor. Essa descoberta mudou a sua vida e continua a mudar a de tantos que se deixam guiar pela sua espiritualidade.

No coração da pequena via, está a confiança ilimitada em Deus

No coração do "pequeno caminho ou pequena via", está a confiança ilimitada em Deus. Teresinha compreendeu que, por si mesma, não tinha forças para chegar à santidade. Via a sua pequenez, os seus limites, a sua incapacidade de realizar feitos grandiosos. Mas longe de a desanimar, isso abriu nela um espaço de abandono total a Deus. Ela confiava tal como uma criança que se lança nos braços do pai. Não precisava de provar nada, não tinha de conquistar a santidade pelas próprias forças. Bastava entregar-se, confiar, deixar-se levar pela misericórdia infinita do Amor. Esta confiança é um convite também para nós, um convite a não nos apoiarmos na nossa perfeição, mas na bondade de Deus, que nos toma pela mão e nos conduz.

O espírito humilde que torna possível amar sem medida nas pequenas coisas

A confiança liga-se à humildade. Teresinha sabia que a santidade não é resultado do orgulho de quem consegue tudo, mas dom que se acolhe com simplicidade. A humildade não é desprezo de si, mas consciência de que tudo vem de Deus e tudo se orienta para Ele. Quando reconhecemos a nossa fragilidade, ficamos disponíveis para a graça. A humildade liberta-nos da comparação com os outros, da necessidade de mostrar grandezas, e permite-nos viver com serenidade a nossa vocação, tal como somos. É este espírito humilde que torna possível amar sem medida nas pequenas coisas.

É precisamente nas pequenas ações que o "pequeno caminho" encontra a sua força. Quantas vezes imaginamos que amar significa fazer algo extraordinário, quando, na realidade, amar está ao nosso alcance a cada instante! Um sorriso oferecido, uma palavra de encorajamento, uma paciência renovada diante das dificuldades, um serviço discreto em casa ou no trabalho. Tudo isto pode ser expressão de amor, se for feito com o coração voltado para Deus. Teresinha dizia que queria ser o amor no coração da Igreja. E mostrou que esse amor se concretiza em gestos escondidos, aparentemente insignificantes, mas que têm peso eterno, porque se realizam diante de Deus.

É um caminho que pode ser percorrido por todos

Esta espiritualidade é profundamente acessível. Não se trata de um ideal reservado a monges ou a pessoas que vivem afastadas do mundo. Pelo contrário, é um caminho que pode ser percorrido por todos: pais e mães de família, jovens em busca do seu futuro, trabalhadores, doentes, idosos, religiosos. Todos os que vivem a vida comum podem encontrar neste pequeno caminho a possibilidade de fazer da sua existência um espaço de santidade. Porque não é necessário fazer coisas extraordinárias, mas viver cada circunstância com amor. O quotidiano torna-se então lugar de encontro com Deus, e a vida, por mais simples que seja, transforma-se numa história de santidade.

O amor: transformar a fragilidade em força e a pobreza em fecundidade

Teresinha mostra-nos também que este caminho não existe sem cruz. Ela própria enfrentou incompreensões, sofrimentos interiores, e terminou a vida numa dura provação física e espiritual. Mas foi precisamente aí que brilhou ainda mais a sua confiança. Na noite da fé, quando não sentia a presença de Deus, ela continuava a acreditar, a oferecer-se, a entregar-se. A sua pequenez não a impediu de amar: antes, tornou-se ocasião para amar mais, com mais pureza, sem esperar recompensas. Assim, a sua vida tornou-se testemunho de que o amor pode transformar a fragilidade em força e a pobreza em fecundidade.

Neste ponto, é impossível não recordar as palavras de Jesus nas parábolas do Evangelho. O Reino dos Céus é comparado a um grão de mostarda, a mais pequena de todas as sementes, mas que cresce e torna-se árvore onde as aves fazem ninho. É também semelhante a um pouco de fermento que, misturado na massa, a faz crescer toda. É este dinamismo do pequeno que se torna grande, do escondido que transforma, do simples que alcança o eterno (cf. Mt 13, 31-33). Teresinha leu a sua vida à luz destas parábolas: sabia que cada pequeno ato de amor, escondido e aparentemente irrelevante, tem uma força de eternidade, porque contém a semente do Reino de Deus.

Também São Paulo recorda aos coríntios que "Deus escolheu o que é fraco para confundir os fortes" e "o que é pequeno para confundir o que se julga grande" (1 Cor 1,27). A lógica de Deus é diferente da nossa. Onde o mundo valoriza o poder, a visibilidade e o sucesso, Deus olha para o coração. Teresinha intuiu esta verdade evangélica e fez dela a chave de toda a sua existência.

Viver com profundidade aquilo que cada dia oferece

Hoje, muitos sentem que não conseguem corresponder ao ideal cristão. A rotina cansa, os problemas parecem sufocar, as fragilidades expõem-se. O pequeno caminho de Teresinha é, então, uma boa notícia: não é preciso ser forte, basta confiar; não é preciso realizar coisas grandes, basta amar; não é preciso brilhar, basta ser fiel no escondimento. Esta espiritualidade não exige façanhas, mas convida a viver com profundidade aquilo que cada dia oferece. É um caminho de esperança, porque todos, independentemente da sua situação, podem seguir por ele.

A santidade "da porta ao lado" é a mais fecunda

A Igreja reconheceu a atualidade desta mensagem. O Papa Pio XI chamou a Teresinha "a estrela do meu pontificado" e proclamou-a padroeira das missões, embora nunca tivesse saído do Carmelo. João Paulo II declarou-a Doutora da Igreja, justamente porque a sua doutrina espiritual tem uma profundidade e universalidade únicas: a santidade é acessível a todos no amor. E o Papa Francisco recordava, repetidamente, que a santidade "da porta ao lado" (cf. Gaudete et exsultate, 6) é a mais fecunda: aquela que se vive nas casas, nas famílias, nos hospitais, nos locais de trabalho. Santa Teresinha encarna de forma exemplar esta santidade quotidiana, feita de confiança e de amor no pequeno.

Santa Teresinha inspira uma revolução escondida do amor

No fundo, a mensagem de Santa Teresinha é a mesma do Evangelho. Jesus disse: "Quem não se fizer como uma criança, não entrará no Reino dos Céus" (Mt 18,3). O pequeno caminho é esta atitude de infância espiritual, que não significa infantilidade, mas confiança radical no Pai. Jesus também nos recorda que, no julgamento final, seremos reconhecidos pelo amor, não pelas grandes obras: "Tudo o que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes" (Mt 25,40). A santidade mede-se pelo amor, e o amor encontra-se no concreto, no simples, no dia a dia.

Viver este caminho transforma não apenas a vida pessoal, mas também a vida da Igreja e do mundo. Uma comunidade em que todos procuram amar nas pequenas coisas torna-se lugar de fraternidade verdadeira. Um mundo em que cada pessoa procura viver o quotidiano com amor torna-se mais humano, mais justo, mais próximo do Reino de Deus. É esta revolução escondida do amor que Santa Teresinha continua a inspirar.


O amor orienta os passos, os mais pequenos gestos se tornam eternos

Ao contemplarmos a sua vida, descobrimos que a santidade não está fora do nosso alcance. Cada instante pode ser ocasião para amar. Cada encontro pode ser uma oportunidade de viver a confiança. Cada fragilidade pode ser espaço para acolher a graça. Assim, a nossa vida, mesmo marcada pela pequenez, torna-se grande aos olhos de Deus.

Podemos aplicar esta espiritualidade às nossas situações concretas. Um pai ou uma mãe de família que acorda cedo para cuidar dos filhos, mesmo cansado, pode viver esse gesto como oferta de amor. Um jovem que estuda com esforço e se mantém fiel aos valores cristãos no meio das pressões do mundo está a trilhar o pequeno caminho. Um trabalhador que suporta, com paciência, dificuldades no emprego, sem deixar de ser justo e honesto, testemunha a santidade quotidiana. Um doente que, na sua dor, continua a sorrir ou a rezar pelos outros, vive o amor escondido que sustenta a Igreja. São estes gestos, invisíveis para muitos, que brilham diante de Deus e têm uma fecundidade incalculável.

O pequeno caminho do amor continua aberto diante de nós. Não precisamos de esperar circunstâncias ideais para o percorrer. Podemos começar agora, onde estamos, com aquilo que temos. Basta escolher amar. E quando o amor orienta os passos, mesmo os mais pequenos gestos se tornam eternos. É esta a boa nova de Santa Teresinha: todos podemos ser santos, não pela grandeza das obras, mas pela intensidade do amor com que as realizamos.

Pe João Carlos Vieira, OCD


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/o-caminho-pequeno-amor-aprender-com-santa-teresinha/

29 de setembro de 2025

Adorar a Deus, um estilo de vida dos anjos e dos homens

Fomos criados para amar, adorar e reverenciar ao nosso Deus

Os anjos se relacionam com Deus através da adoração, e tem como principal missão adorá-Lo, de modo a cantarem incansavelmente a santidade de Deus: "Santo, santo, santo é o Senhor, Deus do universo! A terra inteira proclama a sua glória!" (Is 6,3). Eles estão à disposição do seu Criador para executar prontamente as suas ordens.

O Príncipe da Milícia Celeste, São Miguel Arcanjo, defendeu a fidelidade ao Deus Uno e Trino mediante a revolta de Lúcifer, e continua a apontar para Deus, bradando: "Quem é como Deus?". A nossa missão não é diferente da dos anjos; fomos criados para amar, adorar e reverenciar ao nosso Deus.

Somos chamados a viver a cultura do céu aqui na terra

Como peregrinos neste mundo, estamos em busca da nossa verdadeira pátria: a Celeste. Mas, desde já, somos chamados a viver a cultura do céu aqui na terra. A adoração ao único e verdadeiro Deus é o estilo de vida da cidade celeste, e todos nós, aqui na terra, que temos a coragem de fazer escolha pelo único e verdadeiro Deus, somos iluminados pelo esplendor da luz do céu que emana do trono de Deus. Dessa forma, a adoração ocupará o primeiro lugar na nossa existência e guiará os nossos passos exclusivamente para Ele.

São Miguel quer nos ajudar nessa caminhada e ser para nós o amigo e companheiro para nos lembrar sempre que devemos servir e adorar somente ao Senhor. Ele é um mestre de adoração, o perfeito adorador do Verbo Divino, como diz uma das invocações da sua ladainha. Ele quer nos elucidar sobre a importância da adoração a Deus em Espírito e Verdade, "pois são esses os adoradores que o Pai deseja" (Jo 4,23).

São Miguel está sempre a postos para nos defender dos espíritos malignos que querem usurpar o amor exclusivo a Deus na nossa vida, ao mesmo tempo, proteger-nos contra toda idolatria revestida das mais variadas roupagens na atualidade.

São Miguel quer nos introduzir na Escola na Adoração

O Príncipe dos Anjos quer nos ensinar e nos ajudar a ser homens e mulheres cristocêntricos. Quando nos colocamos em adoração ao Santíssimo Sacramento do Altar, São Miguel, como um fiel companheiro, põe-se invisivelmente ao nosso lado, de maneira silenciosa e, como o Guardião dos direitos inalienáveis de Deus, antes de mais nada, quer nos manter lúcidos quanto à prioridade do primeiro mandamento: "Adorarás o Senhor teu Deus, e somente a Ele prestarás culto" (Lc 4,8). É importante lembrar que o demônio continua a nos tentar: "Eu te darei tudo isto, se prostrado me adorares" (Mt 4,9).

Certamente, você conhece a história dos três pastorinhos de Fátima em Portugal. A partir da primeira aparição do anjo de Portugal, em 1916, ele faz um apelo a Lúcia, Francisco e Jacinta à adoração: "Ao chegar junto de nós, disse: 'Não temais. Sou o Anjo da Paz. Orai comigo'. E, ajoelhando em terra, curvou a fronte até ao chão. Levados por um movimento sobrenatural, imitamo-lo e repetimos as palavras que lhe ouvimos pronunciar: 'Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam'".

O santo anjo introduziu aquelas crianças na escola de adoração a Jesus Sacramentado, de modo que adorar se tornou para elas um estilo de vida. Sem dúvida, São Miguel quer nos introduzir nessa escola, para que vivamos, desde já, a cultura do céu aqui na terra.

Vivemos tempos sombrios. Precisamos tomar uma firme decisão

Assim como o Príncipe dos Anjos, na sua humildade, ergueu-se contra os poderes das trevas, quando Lúcifer, no seu orgulho, rebelou-se e ambicionou tornar-se como Deus e não quis mais servir ao Senhor, da mesma forma, agora se levanta para nos defender no combate e nos orientar na escolha do Senhor a quem devemos adorar.

Vivemos tempos sombrios, passamos por inúmeras tempestades. O tempo urge e, com o coração humilde e confiante, na graça de Deus, precisamos tomar uma firme decisão a exemplo de Jesus: "Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás" (Mt 4,9-10).

Satanás quer nos manter escravos do velho pecado da idolatria; quer usurpar o lugar de Deus e em nossa família, porque o intento dele é nos levar à morte eterna. Fomos criados para o céu. Deus nos escolheu para "servirmos à celebração de sua glória, nós que, desde o começo, voltamos nossas esperanças para Cristo" (Ef 1,12). Quem como Deus? "A adoração do Deus único liberta o homem do fechamento em si mesmo, da escravidão do pecado e da idolatria do mundo" (CIC 2097). Portanto, "fujamos da idolatria", pois "sabemos que um ídolo não é nada no mundo, e que Deus é um só" (I Cor 8,4).


Renunciar a Satanás e escolher o verdadeiro Senhor da nossa vida

Em vista disso, renunciemos a satanás e as suas obras e professemos a nossa fé no único e verdadeiro Deus. Quando escolhemos um senhor para servir, tornamo-nos servos dele. Quem escolhe servir a Deus é livre, porque "é para a liberdade que Cristo nos libertou", como disse Paulo aos Gálatas" (5,1). Nesse combate que enfrentamos para escolher o verdadeiro Senhor da nossa vida, Jesus Cristo, não estamos sozinhos. Podemos e devemos invocar o príncipe da milícia celeste, São Miguel Arcanjo, para nos defender "contra os principados e as potestades, contra os chefes das trevas do Mundo, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares" (Ef 6,12), que querem nos impedir de viver por Cristo, com Cristo e em Cristo.

Agora, faz-se necessário a tomada de uma firme decisão: Eu, (ponha aqui o seu nome), livre e conscientemente, escolho Jesus Cristo, como o Único e verdadeiro Senhor da minha vida, e só a Ele quero louvar, reverenciar e servir durante a minha caminhada terrena, e depois por toda a eternidade. Amém."

Adquira o Livro Devocionário a São Miguel Arcanjo. Nele, somos convidados a entender a verdadeira essência e a missão dos anjos e arcanjos. É um guia prático para quem busca fortalecer sua fé e confiar na proteção de São Miguel Arcanjo.

Vanúsia Maria do Espírito Santo Cerqueira
Missionária da Comunidade Canção Nova

Referência Bibliográfica:
CERQUEIRA, Vanúsia Maria do Espírito Santo. Devocionário São Miguel Arcanjo. 3. ed. Cachoeira Paulista: Canção Nova, 2025.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/adorar-a-deus-estilo-de-vida-anjos-homens/

28 de setembro de 2025

A atual e urgente missão do catequista

A missão do catequista na Igreja é de fundamental importância. Numa mudança de época como a que vivemos atualmente, verifica-se, cada vez mais, o fenômeno da perda ou distanciamento de uma fé com raízes "tradicionais", que é aquela herdada dos pais, avós etc. Logo quando os cristãos não mais têm acesso a uma fé enraizada nas tradições familiares devido à desestruturação e secularização que, por vezes, se verifica nas famílias, torna-se cada vez mais urgente um processo de catequese sólido e eficaz para que as pessoas conheçam a fé.

Créditos: Wesley Almeida / cancaonova.com

Papa Paulo VI e a urgência do ensino catequético

Papa Paulo VI, há tempos, expressou tal intuição quando escreveu: "As condições do mundo atual tornam cada vez mais urgente o ensino catequético, sob a forma de um catecumenato para numerosos jovens e adultos que, tocados pela graça, descobrem, pouco a pouco, o rosto de Cristo e experimentam a necessidade de a ele se entregar" (Exortação apostólica Evangelli Nuntiandi, n. 44).

São João Paulo II e a importância de aprofundar o Kerigma

João Paulo II, por sua vez, na exortação apostólica que trata especificamente sobre a catequese, mostra sua importância como aquele aprofundar do Kerigma, que, sendo o primeiro anúncio, desperta o coração do crente para o amor de Deus, mas que precisa de ulterior amadurecimento e aprofundamento.

Exemplo disso é o processo de enamoramento entre um homem e uma mulher, que precisa progredir do encantamento inicial para um conhecimento recíproco profundo: "Graças, pois, à catequese, é que o «kerigma» evangélico — aquele primeiro anúncio cheio de ardor que a dada altura transforma uma pessoa e a leva à decisão de se entregar a Jesus Cristo pela fé —será, pouco a pouco, aprofundado, desenvolvido nos seus corolários implícitos, explicado mediante explanação que apele também à razão e oriente à prática cristã na Igreja e no mundo […].

As verdades que se aprofundam na catequese são as mesmas que tocaram o coração do homem, quando este as ouviu pela primeira vez. O fato de as conhecer melhor, longe de as embotar ou de as fazer ressequir, torna-as ainda mais estimulantes e decisivas para a vida (Exortação apostólica Catechesi Tradendæ, n.25)".

Ser catequista: uma missão nobre e urgente para os tempos atuais

Pelo que foi dito, entendemos o Antiquum Ministerium motivo pelo qual a missão de ser catequista é uma missão nobre e urgente para os tempos atuais. Consciente disso é que o papa Francisco instituiu o ministério do catequista no dia 10 de maio de 2021, por ocasião da publicação da Carta Apostólica, onde tal ministério foi estabelecido como um ministério laical estável e com um carácter vocacional para a evangelização.


A difusão do Evangelho através do ensino catequístico

Para concluir, é preciso dizer que reconhecemos, de fato, a urgência da missão do catequista na Igreja. Num olhar mais amplo, poderíamos recorrer à história milenar da Igreja e perceber que sem os catequistas a evangelização jamais gozaria da mesma eficácia e alcance.

Neste sentido, vale a pena recordar a observação do Papa Francisco: "Toda a história da evangelização destes dois milênios manifesta, com grande evidência, como foi eficaz a missão dos catequistas. Bispos, sacerdotes e diáconos, juntamente com muitos homens e mulheres de vida consagrada, dedicaram a sua vida à instrução catequética, para que a fé fosse um válido sustentáculo para a existência pessoal de cada ser humano […] Não se pode esquecer a multidão incontável de leigos e leigas que tomaram parte, diretamente, na difusão do Evangelho através do ensino catequístico (Carta apostólica Antiquum ministerium, n. 3)."

Wilker Henrique Costa Fiuza
Membro da Comunidade Canção Nova desde 2008. Mestre em Teologia Sistemática (2023).
Formado em Filosofia (2011). Professor na Faculdade Canção Nova (www.fcn.edu.br),
casado e pai de dois filhos.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/atual-e-urgente-missao-catequista/

25 de setembro de 2025

Mulher, uma força de Deus sobre a terra

E o Senhor Deus disse: Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer-lhe uma auxiliar que lhe corresponda (Gn 2,18).

A Sagrada Escritura não exclui nem desvaloriza a mulher. Ao avançar dos tempos, a dureza do coração do ser humano distorceu e maculou a vontade e o desejo de Deus a respeito da mulher.

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

A mulher tem força própria porque foi feita à imagem e semelhança de Deus. E por ser a imagem de Deus, tem dignidade de pessoa, é alguém capaz de conhecer-se, de possuir-se e de doar-se livremente e entrar em comunhão  com outras pessoas, e é chamada, por graça, a uma aliança com seu Criador, a oferecer-lhe uma resposta de fé e de amor que ninguém mais pode dar em seu lugar. (CIC 357).

A força da mulher provém da própria consciência da sua missão e tarefa de zelar pelo gênero humano. A carta Apostólica do Papa São João Paulo II, Mulieris dignitatem, de 15 de agosto de 1988, a respeito da dignidade da mulher: a mulher deve entender a sua realização, segundo a riqueza da feminilidade que ela recebeu no dia da criação e que herda como expressão, que lhe é peculiar, da imagem e semelhança de Deus.

Restaurar a mulher criada por Deus

Diante da grandeza de Deus ao criar a mulher, não é possível reduzir a figura da mulher a um mero objeto sexual colocando a frente de uma exposição que vende. No mundo secularizante, muitas mulheres perderam a consciência da beleza de sua dignidade, e a força natural da mulher enfraqueceu.

O desafio  é restaurar a mulher criada por Deus, que vem perdendo o brilho diante das marcas deixadas por uma competição desenfreada, que saiu da originalidade para cópias malfeitas.


Como responder ao amor de Deus? Na luta diária pela santidade, apresentar o caráter de Deus na vida, através do comportamento, inteligência, atitudes, pensamentos, intenções, sentimentos… Não ter medo nem vergonha de buscar o que está no centro da vontade de Deus, cumprindo a Sua vontade.   

Para isso exige-se renúncia, sacrifício, humildade, obediência e sinceridade. São características que somente mulheres fortes vão conseguir, pois as suas forças se renovam em Deus, e Ele próprio as capacita para viver o propósito plasmado em seu coração desde o dia em que as criou. 

A mulher forte Deus a criou para fazer a diferença por onde ela passar e nos diversos papéis que assume. Seu sucesso não é o resultado apenas do esforço humano, mas o render-se ao Espírito Santo e deixá-Lo transformar seu coração.

Antonieta Sales
Casada. Membro Definitivo do Núcleo dá Comunidade Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/afetividade-e-sexualidade/afetividade-feminina/mulher-uma-forca-de-deus-sobre-terra/

23 de setembro de 2025

O cultivo da fé através do aprofundamento intelectual

A fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que nos disse e revelou, e que a Santa Igreja nos propõe para crer, porque Ele é a própria verdade. Pela fé, "o homem livremente se entrega todo a Deus"1. Já o intelecto (ou inteligência) é a "faculdade de entender, pensar, raciocinar e interpretar."2.

fé: Pessoa segurando um crucifixo dourado sobre uma Bíblia, em momento de oração ao pôr do sol.

Créditos: by Getty Images /Tinnakorn Jorruang/cancaonova.com

Conforme diz São Josemaria Escrivá: "Para um apóstolo moderno, uma hora de estudo é uma hora de oração"3. Ora se é o estudo uma oração, não é pela oração que aumentamos a nossa fé?4

Em um tempo "marcado pelo desprezo à razão, ao raciocínio segundo a lógica, que é a capacidade doada à mente humana pelo poder criador de Deus"5, é natural que tenhamos certa dificuldade em entender que o aprofundamento intelectual nos ajuda a cultivar a nossa fé. Mas não nos esqueçamos o que nos fala São João Paulo II  na encíclica Fides et Ratio (14 de setembro de 1998):

"A fé e a razão são como duas asas com as quais o espírito humano sobe para o descobrimento da verdade; e Deus colocou no coração humano um desejo de conhecer a verdade — em suma, de conhecer-se a si mesmo — para que, conhecendo e amando Deus, homens e mulheres cheguem também à plenitude da verdade sobre si mesmos."

Quando a razão fortalece a fé cristã

Ora, é pela razão que o homem percebe que a vida não tem um fim em si mesmo, que, sendo finita, nela não encontrará todas as respostas que o seu coração anseia. Mas para uma compreensão profunda de Deus foi necessário a Revelação, pois mesmo Aristóteles com toda a sua sabedoria chega a tocar na questão do Primeiro Motor Imóvel, mas para por ai.


Ao se revelar para nós, o Senhor se permite ser tocado, cura aqueles que acha necessário e passa três anos ensinando aos seus escolhidos tudo sobre o Reino dos Céus. sobre a salvação e sobre como na vida ordinária preparar a ida para a vida extraordinária, para o céu.

Jesus come, bebe, dorme, ri, chora e reza ensinando exatamente como devemos proceder, mas Ele também ajuda os apóstolos a entender a Lei, a aprofundar nas parábolas a compreender os ensinamentos que ele traz. A doutrina é ensinada por nosso Senhor Jesus Cristo, e isso já seria motivo suficiente para levarmos mais a sério a nossa vida intelectual. Mediante a reflexão das verdades da fé, vamos vendo aquilo que a nossa ignorância nos impede de ver, as escamas caem de nossos olhos.

"O meu povo perece por falta de conhecimento" – Oséias 4,6

Meu irmão, será que você ainda não passou pela experiência de refletir sobre a paixão de Cristo e poder sentir o amor tão profundo que Jesus e Nossa Senhora tem por nós? Será que ao contemplar as chagas do Cristo dilacerado pelos chicotes, pelas agressões não pode refletir o quanto este Deus-Homem nos amou analisando friamente como foi dolorido os cravos rasgando seus nervos? O peso do seu corpo lhe asfixiando na cruz?

Faça isso, reflita e você estará tocando concretamente em como a razão pode aumentar a sua fé. 

Faça essa experiência, agora, diante deste poema do grande Santo Agostinho:

Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova!

Tarde demais eu te amei!

Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora!

Eu, disforme, lançava-me sobre as belas formas das tuas criaturas.

Estavas comigo, mas eu não estava contigo.

Retinham-me longe de ti as tuas criaturas, que não existiriam se em ti não existissem.

Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez.

Fulguraste e brilhaste e tua luz afugentou a minha cegueira.

Espargiste tua fragrância e, respirando-a, suspirei por ti.

Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo de tua paz…

Chamados à santidade pela Providência

Entender que, por mais cedo que você pertencesse à Igreja, que por mais cedo que você tenha decidido responder ao amor de Cristo, foi tarde diante de tanto amor.

Entender que quando você mergulhava e ainda mergulha nas aprovações que o mundo fornece existe um Deus que te deseja e morreu por Ti.

Entender que este mesmo Deus com a sua Providência o chama o tempo todo a te conduzir para uma vida de Santidade e você com sua mente parca apenas murmura.

Ele sempre está conosco, Ele sempre está diante de nós, Ele sempre tem os pensamentos muito superiores a nós, e cabe a nós, diante disso, criar uma disciplina de estar sentado no ombro de gigantes como Santo Afonso, São Tomás, São Josemaria Escrivá, Santo Agostinho, Santa Teresa D'ávila, Santa Teresinha do Menino Jesus e iluminados pela fé e pelos dons do Espírito Santo usar da nossa inteligência para aumentar mais e mais a nossa fé.

Almir Rivas
Missionário da Comunidade Canção Nova

 

Glossário

Virtude teologal – São as virtudes que adaptam as faculdades do  homem para que possa participar da natureza divina. São infundidas por Deus na alma dos fiéis para torná-los capazes de agir como seus filhos e merecer a vida eterna.6.
Virtude – Segundo o aristotelismo, qualidade positiva que se adquire como decorrência do hábito; virtude ética, virtude moral.7.
Faculdade – Capacidade de executar uma ação física ou mental.8.

 1CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Dei Verbum sobre a Revelação Divina. 18 nov. 1965. In: DOCUMENTOS do Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulus, 1997. nº 5.
2Michaelis. (s.d.). Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Melhoramentos. Recuperado em 16 setembro 2025, de https://michaelis.uol.com.br/
3ESCRIVÁ, Josemaría. Caminho. 16. ed. São Paulo: Quadrante, 2002. p. 335 (capítulo "Estudo").
4 IGREJA CATÓLICA. Catecismo da Igreja Católica. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1997. §162.
5 SERTILLANGES, A.-D. A vida intelectual. Prefácio de Dom Athanasius. São Paulo: Centro Dom Bosco, [s.d.].
6 IGREJA CATÓLICA. Catecismo da Igreja Católica. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1997. §1812-1813.
7Michaelis. (s.d.). Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Melhoramentos. Recuperado em 16 setembro 2025, de https://michaelis.uol.com.br/
8Michaelis. (s.d.). Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Melhoramentos. Recuperado em 16 setembro 2025, de https://michaelis.uol.com.br/


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/biblia/o-cultivo-da-fe/

22 de setembro de 2025

As lições de São Mateus para todo aquele que busca conversão

Mateus, o rico coletor, respondeu ao chamado do Mestre com entusiasmo

O apóstolo e evangelista São Mateus teve dois nomes: Mateus e Levi. Mateus quer dizer "dom precoce" ou "conselheiro"; ou vem de magnus, "grande", e Theos, "Deus", como se dissesse "grande para Deus". Diz a Legenda Aurea que "Ele foi um dom precoce por sua rápida conversão, foi conselheiro por sua salutar pregação, foi grande diante de Deus pela perfeição de sua vida, foi a mão de que Deus se serviu para escrever Seu Evangelho".

Escultura de São Mateus em mármore . barba longa e cabelos ondulados, segurando e lendo um grande livro aberto, em expressão de concentração.

Créditos: taraki by GettyImages.

Levi quer dizer "retirado". Ele foi retirado de sua banca de cobrador de impostos e colocado entre os apóstolos, acrescentado à comunidade dos evangelistas e incorporado ao catálogo dos mártires.

As lições de Mateus

Segundo uma tradição, Mateus pregava na Etiópia, em uma cidade chamada Nadaber, onde foi martirizado. São Mateus nos deixa grandes lições:

1 – A prontidão de sua obediência, pois, no instante em que Cristo o chamou, ele abandonou seu ofício de cobrador de impostos e, sem temer seus senhores, deixou tudo para juntar-se completamente a Cristo. São Jerônimo disse: "Se se atribui ao ímã a força de atrair metais, com muito mais razão o Senhor de todas as criaturas podia atrair para si aqueles que queria".

2 – Sua generosidade ou liberalidade, pois logo serviu ao Salvador uma grande refeição em sua casa. Recebeu Cristo com grande afeto e amor; e ali Jesus deu grandes ensinamentos: "Quero a misericórdia e não o sacrifício", e "Não são os saudáveis que necessitam de médicos".

3 – Sua humildade, que se manifestou em duas circunstâncias: confessou ser um publicano. Ele chama a si mesmo de Mateus e publicano, para mostrar que ninguém deve perder a esperança na sua salvação, pois ele próprio de publicano foi, de repente, feito apóstolo e evangelista. (cf. Mt 9,13; 12,7; Mc 2,7; Lc 5,21)

4 – A honra de seu Evangelho ser lido com mais frequência que os outros. De um homem ávido por riquezas e avarento, Cristo fez um apóstolo e um evangelista. Que ninguém se desespere pelo perdão se quiser se converter.

O Evangelho segundo Mateus

No ano 130, o Bispo Pápias, de Hierápolis, na Frígia, região da Ásia Menor, um dos primeiros a ser evangelizado pelos apóstolos, fala do Evangelho de São Mateus: "Mateus, por sua parte, pôs em ordem os dizeres na língua hebraica, e cada um depois os traduziu como pode" (Eusébio, História da Igreja III 39,16).


Quem escreveu essas palavras foi o bispo Eusébio, de Cesareia na Palestina, quando, por volta do ano 300, escreveu a primeira história da Igreja. Ele dá o testemunho histórico de Pápias. Note que Pápias nasceu no primeiro século, isto é, no tempo dos próprios Apóstolos; São João ainda era vivo. Portanto, este testemunho é inequívoco.

Outro testemunho importante sobre o Evangelho de Mateus é dado por Santo Irineu (†200), do segundo século. Ele foi discípulo do grande bispo São Policarpo de Esmirna, que foi discípulo de São João evangelista. São Irineu, na sua obra contra os hereges gnósticos, também fala do Evangelho de Mateus dizendo: "Mateus compôs o Evangelho para os hebreus na sua língua, enquanto Pedro e Paulo, em Roma, pregavam o Evangelho e fundavam a Igreja." (Adv. Haereses II 1,1).

O Evangelho a ele atribuído nos fala mais amplamente que os outros três do uso certo do dinheiro: "Não ajunteis para vós tesouro na terra, onde a traça e o caruncho os destroem, e onde os ladrões arrombam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros nos céus." "Não podeis servir a Deus e ao dinheiro."

Deixa o dinheiro para seguir o Mestre

Foi Judas, porém, e não Mateus quem teve o encargo de caixa da pequena comunidade apostólica. Mateus deixa o dinheiro para seguir o Mestre, enquanto Judas o trai por trinta moedas. Quando falam do episódio do coletor de impostos chamado a seguir Jesus, os outros evangelistas, Marcos e Lucas, falam de Levi. Mateus, ao contrário, prefere denominar-se com o nome mais conhecido de Mateus, e usa o apelido de publicano, que soa como usuário ou avarento, "para demonstrar aos leitores – observa São Jerônimo – que ninguém deve desesperar da salvação, se houver uma conversão para uma vida melhor."

Mateus, o rico coletor, respondeu ao chamado do Mestre com entusiasmo. No seu Evangelho, ele esconde humildemente este alegre particular, mas a informação foi divulgada por São Lucas: "Levi preparou ao Mestre uma grande festa na própria casa; uma numerosa multidão de publicanos e outra gente sentavam-se à mesa com eles."

Depois, no silêncio e com discrição, livrou-se do dinheiro, fazendo o bem. É dele, de fato, que nos refere a admoestação do Mestre: "Quando deres uma esmola, não saiba a tua esquerda o que faz a tua direita, para que a tua esmola fique em segredo; e o teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará".

O seu Evangelho é dirigido aos judeus, para mostrar-lhes que Jesus é o Messias esperado por Israel. É caracterizado por cinco grandes discursos de Jesus sobre o Reino de Deus. Foi escrito, com toda a certeza, antes da destruição de Jerusalém, acontecida no ano 70.

Uma tradição antiga recorda que Mateus sofreu o martírio, apedrejado, queimado e decapitado na Etiópia, de onde as relíquias do santo teriam sido transportadas, primeiro para Paestum, no Golfo de Salerno; e, no século X, para Salerno, onde até hoje são honradas.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/as-licoes-de-sao-mateus-para-todo-aquele-que-busca-conversao/