No coração da vida cristã, há um desejo que acompanha todos os fiéis: ser santo. No entanto, quando escutamos esta palavra, tantas vezes imaginamos algo grandioso, reservado a poucos: feitos extraordinários, milagres, uma vida heroica para além da medida comum. Perante tal visão, muitos desanimam, pensando que a santidade não é para eles. Foi precisamente aqui que Santa Teresinha do Menino Jesus abriu uma porta nova, simples e luminosa. Ela mostrou que a santidade não depende da grandeza das obras, mas da intensidade do amor com que as realizamos. Descobriu e viveu aquilo a que chamou o seu "pequeno caminho", caminho de confiança, de humildade e de fidelidade no quotidiano. E é esse caminho que continua a inspirar e a guiar todos os que desejam seguir Jesus, mesmo no meio da vida simples de cada dia.
Na vida comum, descobre-se a grandeza da vocação cristã
Teresinha não viveu muito tempo. Morreu aos 24 anos, no silêncio de um convento carmelita em Lisieux, sem ter realizado obras visíveis de grande impacto no mundo. Não pregou a multidões, não fundou instituições, não percorreu terras longínquas em missão. A sua existência decorreu no escondido, marcada por gestos pequenos, repetitivos e, por vezes, até árduos. Mas foi precisamente no interior dessa vida comum que ela descobriu a grandeza da vocação cristã: cada gesto, cada palavra, cada ato pode ser lugar de encontro com Deus se for feito por amor. Essa descoberta mudou a sua vida e continua a mudar a de tantos que se deixam guiar pela sua espiritualidade.
No coração da pequena via, está a confiança ilimitada em Deus
No coração do "pequeno caminho ou pequena via", está a confiança ilimitada em Deus. Teresinha compreendeu que, por si mesma, não tinha forças para chegar à santidade. Via a sua pequenez, os seus limites, a sua incapacidade de realizar feitos grandiosos. Mas longe de a desanimar, isso abriu nela um espaço de abandono total a Deus. Ela confiava tal como uma criança que se lança nos braços do pai. Não precisava de provar nada, não tinha de conquistar a santidade pelas próprias forças. Bastava entregar-se, confiar, deixar-se levar pela misericórdia infinita do Amor. Esta confiança é um convite também para nós, um convite a não nos apoiarmos na nossa perfeição, mas na bondade de Deus, que nos toma pela mão e nos conduz.
O espírito humilde que torna possível amar sem medida nas pequenas coisas
A confiança liga-se à humildade. Teresinha sabia que a santidade não é resultado do orgulho de quem consegue tudo, mas dom que se acolhe com simplicidade. A humildade não é desprezo de si, mas consciência de que tudo vem de Deus e tudo se orienta para Ele. Quando reconhecemos a nossa fragilidade, ficamos disponíveis para a graça. A humildade liberta-nos da comparação com os outros, da necessidade de mostrar grandezas, e permite-nos viver com serenidade a nossa vocação, tal como somos. É este espírito humilde que torna possível amar sem medida nas pequenas coisas.
É precisamente nas pequenas ações que o "pequeno caminho" encontra a sua força. Quantas vezes imaginamos que amar significa fazer algo extraordinário, quando, na realidade, amar está ao nosso alcance a cada instante! Um sorriso oferecido, uma palavra de encorajamento, uma paciência renovada diante das dificuldades, um serviço discreto em casa ou no trabalho. Tudo isto pode ser expressão de amor, se for feito com o coração voltado para Deus. Teresinha dizia que queria ser o amor no coração da Igreja. E mostrou que esse amor se concretiza em gestos escondidos, aparentemente insignificantes, mas que têm peso eterno, porque se realizam diante de Deus.
É um caminho que pode ser percorrido por todos
Esta espiritualidade é profundamente acessível. Não se trata de um ideal reservado a monges ou a pessoas que vivem afastadas do mundo. Pelo contrário, é um caminho que pode ser percorrido por todos: pais e mães de família, jovens em busca do seu futuro, trabalhadores, doentes, idosos, religiosos. Todos os que vivem a vida comum podem encontrar neste pequeno caminho a possibilidade de fazer da sua existência um espaço de santidade. Porque não é necessário fazer coisas extraordinárias, mas viver cada circunstância com amor. O quotidiano torna-se então lugar de encontro com Deus, e a vida, por mais simples que seja, transforma-se numa história de santidade.
O amor: transformar a fragilidade em força e a pobreza em fecundidade
Teresinha mostra-nos também que este caminho não existe sem cruz. Ela própria enfrentou incompreensões, sofrimentos interiores, e terminou a vida numa dura provação física e espiritual. Mas foi precisamente aí que brilhou ainda mais a sua confiança. Na noite da fé, quando não sentia a presença de Deus, ela continuava a acreditar, a oferecer-se, a entregar-se. A sua pequenez não a impediu de amar: antes, tornou-se ocasião para amar mais, com mais pureza, sem esperar recompensas. Assim, a sua vida tornou-se testemunho de que o amor pode transformar a fragilidade em força e a pobreza em fecundidade.
Neste ponto, é impossível não recordar as palavras de Jesus nas parábolas do Evangelho. O Reino dos Céus é comparado a um grão de mostarda, a mais pequena de todas as sementes, mas que cresce e torna-se árvore onde as aves fazem ninho. É também semelhante a um pouco de fermento que, misturado na massa, a faz crescer toda. É este dinamismo do pequeno que se torna grande, do escondido que transforma, do simples que alcança o eterno (cf. Mt 13, 31-33). Teresinha leu a sua vida à luz destas parábolas: sabia que cada pequeno ato de amor, escondido e aparentemente irrelevante, tem uma força de eternidade, porque contém a semente do Reino de Deus.
Também São Paulo recorda aos coríntios que "Deus escolheu o que é fraco para confundir os fortes" e "o que é pequeno para confundir o que se julga grande" (1 Cor 1,27). A lógica de Deus é diferente da nossa. Onde o mundo valoriza o poder, a visibilidade e o sucesso, Deus olha para o coração. Teresinha intuiu esta verdade evangélica e fez dela a chave de toda a sua existência.
Viver com profundidade aquilo que cada dia oferece
Hoje, muitos sentem que não conseguem corresponder ao ideal cristão. A rotina cansa, os problemas parecem sufocar, as fragilidades expõem-se. O pequeno caminho de Teresinha é, então, uma boa notícia: não é preciso ser forte, basta confiar; não é preciso realizar coisas grandes, basta amar; não é preciso brilhar, basta ser fiel no escondimento. Esta espiritualidade não exige façanhas, mas convida a viver com profundidade aquilo que cada dia oferece. É um caminho de esperança, porque todos, independentemente da sua situação, podem seguir por ele.
A santidade "da porta ao lado" é a mais fecunda
A Igreja reconheceu a atualidade desta mensagem. O Papa Pio XI chamou a Teresinha "a estrela do meu pontificado" e proclamou-a padroeira das missões, embora nunca tivesse saído do Carmelo. João Paulo II declarou-a Doutora da Igreja, justamente porque a sua doutrina espiritual tem uma profundidade e universalidade únicas: a santidade é acessível a todos no amor. E o Papa Francisco recordava, repetidamente, que a santidade "da porta ao lado" (cf. Gaudete et exsultate, 6) é a mais fecunda: aquela que se vive nas casas, nas famílias, nos hospitais, nos locais de trabalho. Santa Teresinha encarna de forma exemplar esta santidade quotidiana, feita de confiança e de amor no pequeno.
Santa Teresinha inspira uma revolução escondida do amor
No fundo, a mensagem de Santa Teresinha é a mesma do Evangelho. Jesus disse: "Quem não se fizer como uma criança, não entrará no Reino dos Céus" (Mt 18,3). O pequeno caminho é esta atitude de infância espiritual, que não significa infantilidade, mas confiança radical no Pai. Jesus também nos recorda que, no julgamento final, seremos reconhecidos pelo amor, não pelas grandes obras: "Tudo o que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes" (Mt 25,40). A santidade mede-se pelo amor, e o amor encontra-se no concreto, no simples, no dia a dia.
Viver este caminho transforma não apenas a vida pessoal, mas também a vida da Igreja e do mundo. Uma comunidade em que todos procuram amar nas pequenas coisas torna-se lugar de fraternidade verdadeira. Um mundo em que cada pessoa procura viver o quotidiano com amor torna-se mais humano, mais justo, mais próximo do Reino de Deus. É esta revolução escondida do amor que Santa Teresinha continua a inspirar.
O amor orienta os passos, os mais pequenos gestos se tornam eternos
Ao contemplarmos a sua vida, descobrimos que a santidade não está fora do nosso alcance. Cada instante pode ser ocasião para amar. Cada encontro pode ser uma oportunidade de viver a confiança. Cada fragilidade pode ser espaço para acolher a graça. Assim, a nossa vida, mesmo marcada pela pequenez, torna-se grande aos olhos de Deus.
Podemos aplicar esta espiritualidade às nossas situações concretas. Um pai ou uma mãe de família que acorda cedo para cuidar dos filhos, mesmo cansado, pode viver esse gesto como oferta de amor. Um jovem que estuda com esforço e se mantém fiel aos valores cristãos no meio das pressões do mundo está a trilhar o pequeno caminho. Um trabalhador que suporta, com paciência, dificuldades no emprego, sem deixar de ser justo e honesto, testemunha a santidade quotidiana. Um doente que, na sua dor, continua a sorrir ou a rezar pelos outros, vive o amor escondido que sustenta a Igreja. São estes gestos, invisíveis para muitos, que brilham diante de Deus e têm uma fecundidade incalculável.
O pequeno caminho do amor continua aberto diante de nós. Não precisamos de esperar circunstâncias ideais para o percorrer. Podemos começar agora, onde estamos, com aquilo que temos. Basta escolher amar. E quando o amor orienta os passos, mesmo os mais pequenos gestos se tornam eternos. É esta a boa nova de Santa Teresinha: todos podemos ser santos, não pela grandeza das obras, mas pela intensidade do amor com que as realizamos.
Pe João Carlos Vieira, OCD
Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/o-caminho-pequeno-amor-aprender-com-santa-teresinha/