19 de agosto de 2025

Família, projeto de Deus para a felicidade

Uma conhecida música da MPB (Música Popular Brasileira) diz que "é impossível ser feliz sozinho". Entendendo que esse "sozinho" é a ausência completa de contatos humanos, de amizades, de relacionamentos, ou seja, de vida entre seres humanos, ela está correta.

Levando a reflexão para o campo da Teologia, encontramos justificativas bem pertinentes: primeiro, Deus é único em Sua divindade, mas comporta três pessoas que vivem em estreita relação de amor. Podemos dizer que parte da essência de Deus é manter-se num relacionamento estreito e indivisível constantemente. Deus é único, mas não é solitário, não é "feliz sozinho".

E por que isso? Porque Ele é uma relação de amor, ou melhor, "Deus é Amor" (1Jo 4,8). O amor é naturalmente envolvente e expansivo, é a segunda justificativa. Possui a maior força de coesão que existe, fortalece e torna os laços indissolúveis e, ao mesmo tempo, carrega em si uma capacidade imensa de doação, de ser expansivo, de querer se espalhar.

Santo Tomás de Aquino ensina que Deus, em Sua imensa bondade, quis estabelecer uma lei que fosse acessível a todos, não importa de que parte do planeta fosse ou qual o nível de escolaridade a que a pessoa tivesse acesso. Essa "lei" que serve para letrados e analfabetos, ricos e pobres, é a lei do Amor. Acessível a todos os homens e mulheres de boa vontade.

Familia, projeto de Deus para a felicidade

Foto Ilustrativa: Geber86 by Getty Images

Deus, que é Amor, é a fonte da família

O Amor é, portanto, um dom de Deus, porque Ele é a fonte de todo verdadeiro amor, e também é um mandamento, o novo mandamento dado por Jesus (Jo 13,34), a nova lei: "Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei".

Não satisfeito em simplificar a lei ao máximo, instituiu o Sacramento do Matrimônio para que essa lei pudesse ser aprendida na prática, na família. O verdadeiro mestre transforma a união carnal entre homem e mulher, conhecida por sua capacidade de geração, numa "fábrica" de amor. Não basta estar junto, é preciso exercitar o amor. Não basta viver o amor entre os cônjuges, é preciso expandi-lo gerando filhos. Não basta gerar os filhos, é preciso amá-los com amor incondicional. E, finalmente, não basta amá-los, é preciso ensinar-lhes a amar.

Com o objetivo de nos ajudar a viver tudo isso,  Papa Francisco lançou a Exortação Apostólica Amoris Laetitia ou "a alegria do Amor". E, como bom discípulo do grande Mestre, não só orientou, mas convidou-nos a vivê-la na prática neste Ano "Família Amoris Laetitia". Um ano de exercício prático do amor no seio das famílias. Porque, como já deu para entender, a família é o grande projeto de ensinamento e vivência do Amor no mundo. Um amor que precisa ser exercitado.

Claro que, quanto mais completa puder ser a família, melhor. O próprio Papa Francisco, em todo o seu pontificado, tem lembrado da importância fundamental das pessoas de mais idade, os "nossos avós" como ele mesmo se refere, na vivência familiar e social. Que amor maduro e provado, poderia dizer "bem temperado", que os avós oferecem aos netos e a toda a família! Um amor que é completa doação e nenhuma posse. Pais, filhos, avós… Que maravilha aqueles que conseguem expandir a convivência familiar com tios, primos, sobrinho! A alegria do amor em família é o grande motor da sociedade e do mundo! Os chamados "avanços científicos" não produzem os mesmos frutos.

Nossa família diz o que somos e quem somos

Aqueles que, por inúmeros motivos, não possuem mais uma família completa, não se entristeçam. Um homem sem um braço continua sendo um verdadeiro homem; e uma mulher sem uma perna não perde em nada sua dignidade. É o que fazemos com as "outras partes" do nosso corpo ou como vivemos com o restante de "nossa família", que diz verdadeiramente o que somos e quem somos. Agora, por favor, não vamos cair na armadilha de divulgar que os homens e mulheres não precisam mais de pernas e braços ou que um pai ou uma mãe em uma família é um "acessório" dispensável e supérfluo.


Amar é doar-se em sacrifício e acolhimento constantes

Por último, aqueles que realmente tem a experiência de viver em família sabem a que me refiro quando digo "amor". Para os outros, devo dizer que não falo aqui do sentimento de que tudo é lindo, tudo ocorre em perfeita harmonia o tempo todo e sempre de acordo com a minha vontade imediata. Amor não é sentimento, não é paixão, não é quando fazem a nossa vontade.

Sabemos que é verdadeiro amor e que nos amam quando existe doação (de tempo, de vontade), quando existe sacrifício, abnegação, acolhimento e apoio constante. Mesmo com broncas, mesmo com correções, mas sem desistir. Tudo isso se resume na frase: "Família é para sempre". Na prática, quer dizer que: aconteça o que acontecer, o amor irá prevalecer. Não gosto e não concordo, mas te amo! Quero (e preciso) respeitá-lo!

Se aprendermos a viver a Alegria do Amor dentro de nossas famílias, certamente construiremos, indiretamente, uma sociedade muito melhor. O que está nos faltando é este tempo de treino familiar.

Flávio Crepaldi
Flavio Crepaldi é teólogo, casado e pai de três filhas. Além do bacharelado e especialização em Teologia, possui formação em Comunicação e especialização em Gestão. É o autor dos livros "Santidade para todos: Descobrindo as Moradas Interiores" e "A Oração segundo os doutores da Igreja" nos quais, de maneira prática e descomplicada, explica o caminho espiritual pela busca da santidade e da vida de oração.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/pais-e-filhos/familia-projeto-de-deus-para-a-felicidade/

18 de agosto de 2025

A família é um oásis de amor

Todos nós precisamos do amor puro uns dos outros, precisamos do amor do nosso pai; e como é importante a presença, o carinho, a segurança e a firmeza do pai, suas correções, ordens e até mesmo as zangas e broncas! Tudo isso é amor. Amor próprio de pai, necessário, imprescindível na nossa formação, essencial para o nosso crescimento, nosso equilíbrio e maturidade. Nem preciso dizer o quanto precisamos do amor de mãe, da presença e do carinho dela, da correção própria de mãe, do perdão que só a mãe sabe dar.

Todos nós precisamos do amor puro dos nossos irmãos e irmãs, da convivência, das diferenças e até mesmo das dificuldades entre irmãos e irmãs. Tudo isso faz parte do nosso crescimento, da nossa maturidade. Sem isso ficamos afetivamente imaturos.

A família é um oásis de amor

Foto ilustrativa: SanneBerg by Getty Images

A família é o nosso habitat

A família é o ambiente natural, criado por Deus para aprendermos a dar e receber amor. É aí que se aprende a amar, é aí que se aprende a recebê-lo. Precisamos aprender a receber o amor. É no ambiente caloroso de um lar, no aconchego de uma família, por mais simples e pobre que seja, que aprendemos a ser amado. Deixe-se amar. Deixe-se ser atingido por gestos de amor, de bondade, de carinho, compreensão, perdão.

Precisamos de amor puro de pai, de mãe, de irmão. Precisamos de amor puro de nossa família. Sim, a família é e precisa ser um "oásis de amor". É urgente preservar esses oásis de amor que ainda existem.

Como é bom ser família! Como é bom ter a presença de homens e mulheres, de adultos, jovens e crianças! Como é bom ter diferenças! Diferença de gênios, de temperamentos, opiniões, pontos de vista. Que bom ter de viver com o diferente!


É na família que nos conhecemos, que nos descobrimos, aproximamo-nos, corrigimos, desentendemo-nos e nos perdoamos. Na família, nem tudo é cem por cento, mas nela nos amamos, perdoamos e nos reconciliamos. E aí está o essencial: a família é um "oásis de amor'!

Texto extraído do livro "A cura da nossa afetividade e sexualidade", de Marlúcia.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/pais-e-filhos/familia-e-um-oasis-de-amor/

15 de agosto de 2025

Assunção de Nossa Senhora

Maria na glória Celeste

A Sagrada Tradição da Igreja ensina que Nossa Senhora foi elevada ao céu de corpo e alma após sua morte. No entanto, as particularidades da "morte" da Virgem Maria não são conhecidas. Santo Epifânio, bispo de Salamina de Chipre, compôs, nos anos de 374-377, o livro sobre as heresias, no qual escreve: "Ou a Santa Virgem morreu e foi sepultada e seguiu-se depois sua Assunção na glória, ou, sem fim, verificou-se em plena e ilibada pureza, adornando a coroa de sua virgindade" (MS, p. 267).

Foto Ilustrativa: sedmak by Getty Images / cancaonova.com

O Dogma da Assunção da Virgem Santíssima foi proclamado, solenemente, pelo Papa Pio XII, no dia 1º de novembro de 1950, e sua festa é celebrada no dia 15 de agosto. Grande júbilo e alegria pairou sobre todo o mundo católico naquela data, especialmente para os filhos de Maria. Quando o Papa o decretou, por meio da Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, foi uma verdadeira apoteose, tanto na Praça de São Pedro, em Roma, como nas outras cidades do mundo católico.

Nesse documento, disse o Papa: "Cristo, com Sua morte, venceu o pecado e a morte, e sobre esta e sobre aquele alcançará também vitória pelos merecimentos de Cristo quem for regenerado sobrenaturalmente pelo batismo. Mas, por lei natural, Deus não quer conceder aos justos o completo efeito dessa vitória sobre a morte, senão quando chegar o fim dos tempos.

Por isso os corpos dos justos se dissolvem depois da morte e, somente no último dia, tornarão a unir-se, cada um com sua própria alma gloriosa. Mas, desta lei geral, Deus quis excetuar a Bem-Aventurada Virgem Maria. Ela, por um privilégio todo singular, venceu o pecado; por sua Imaculada Conceição, não estando por isso sujeita à lei natural de ficar na corrupção do sepulcro, não foi preciso que esperasse até o fim do mundo para obter a ressurreição do corpo".


Imaculada Virgem Maria

Assim, na Praça de São Pedro, em Roma, diante do pórtico de São Pedro, circundado por 36 Cardeais, 555 Patriarcas, Arcebispos e Bispos e sacerdotes, e perante cerca de um milhão de fiéis, o Papa proclamava solenemente: depois de haver mais uma vez elevado a Deus nossas súplicas e invocado as luzes do Espírito Santo, a glória de Deus Onipotente, que derramou sobre a Virgem Maria.

Sua especial benevolência, em honra de Seu Filho, Rei imortal dos séculos e vencedor do pecado e da morte, para maior glória de Sua augusta Mãe e para a alegria e exultação de toda a santa Igreja, e pela autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma de fé revelado por Deus que: a Imaculada Mãe de Deus, sempre Virgem Maria, terminado o curso de sua vida terrena, foi elevada à glória celeste em corpo e alma (MS, p. 282).

Solenidade

Papa Paulo VI, na Exortação Apostólica Marialis Cultus, resume a importância desse dogma numa expressão cheia de densidade: "A solenidade de 15 de agosto celebra a gloriosa Assunção de Maria ao Céu, festa de seu destino de plenitude e de bem-aventurança, glorificação de sua alma imaculada e de seu corpo virginal, de sua perfeita configuração com Cristo ressuscitado" (MC n.6).

Assim, Maria participa da ressurreição e glorificação de Cristo. É preciso lembrar, aqui, que somente Jesus e Maria subiram ao Céu de corpo e alma. Os santos estão lá apenas com suas almas, pois os corpos estão na terra, aguardando a ressurreição do último dia. Maria, ao contrário, foi elevada ao céu também com seu corpo já ressuscitado. É uma grande glória dela.

A Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, em uma Instrução de 17-05-1979, deixou bem claro: a Igreja, ao expor a sorte do homem após a morte, exclui qualquer explicação que tire o sentido à Assunção de Nossa Senhora naquilo que ela tem de único, ou seja, o fato de ser a glorificação corporal da Virgem Santíssima uma antecipação da glorificação que está destinada a todos os outros eleitos (n. 6).

Quais os motivos da Assunção de Nossa Senhora?

1 – Como Maria não esteve sujeita ao poder do pecado para poder ser a Mãe de Deus, também não podia ficar sob o império da morte, pois, como disse São Paulo, "o salário do pecado é a morte" (Rm 6,23). Assim, Maria não experimentou a corrupção da carne, mas foi glorificada em sua alma e seu corpo.

2 – A carne de Jesus e a de Maria são a mesma carne. Portanto, a carne de Maria devia ter a mesma glória que teve a de seu Filho.

São João de Damasco, no ano 749, escreve: "Era necessário que aquela que, no parto, havia conservado ilesa sua virgindade, conservasse também sem corrupção alguma seu corpo depois da morte. Era preciso que aquela que havia trazido no seio o Criador feito menino habitasse nos tabernáculos divinos.

Era necessário que aquela que tinha visto o Filho sobre a cruz, recebendo no coração aquela espada das dores das quais fora imune ao dá-Lo à luz, O contemplasse sentado à direita do Pai. Era necessário que a Mãe de Deus possuísse aquilo que pertence ao Filho e fosse honrada por todas as criaturas como Mãe de Deus".

E assim também se exprime São Germano, patriarca de Constantinopla, falecido em 735, e outros santos (MS, pp. 272 e 273).

Festa do trânsito de Maria

A festa do Trânsito de Maria, que honrava sua morte, passou gradualmente a comemorar sua Assunção corporal ao céu. No sacramentário enviado pelo Papa Adriano I ao Imperador Carlos Magno (768-814), que introduziu o Cristianismo em todo o vasto império franco, está escrito: digna de honra é para nós, Senhor, a festividade deste dia em que a Beata Virgem Maria, a Santa Mãe de Deus, sofreu a morte temporal, mas não pôde ser retida pelos inexoráveis laços, porque ela deu à luz Seu Filho, nosso Senhor, que tomou sua carne (MS, p. 273).

No Sínodo de Mainz, no ano 813, Carlos Magno introduziu a festa da Assunção de Maria ao Céu, depois de haver obtido autorização de Roma.

Foi São Gregório de Tours, falecido em 596, o primeiro a proclamar a Assunção corpórea de Maria ao Céu. Um século mais tarde, Santo Ildefonso de Toledo afirmou: "Não devemos esquecer que muitos consideram que ela [Maria] foi, neste dia, levada corporalmente ao céu por Nosso Senhor Jesus Cristo" (MS, p. 274).

Mãe de Deus

Muitos santos perguntavam se o melhor dos filhos poderia recusar à melhor das Mães a participação em sua ressurreição e o glorioso domínio à direita do Pai? Para eles, sua dignidade de Mãe de Deus exige a Assunção.

Para Santo Irineu, do século II, como a nova Eva, Maria participou da sorte do novo Adão, Jesus Cristo, ressuscitou depois da morte, e seu corpo não experimentou a corrupção (MS, p. 277).

Como Maria não teve na alma a mancha do pecado original, ficou isenta da dura sentença dada aos demais: "Es pó e em pó hás de tornar" (Gn 3,19). A nós que herdamos o pecado original, é preciso voltar ao pó da terra de onde saímos, para que, na ressurreição do último dia, o Senhor nos refaça sem as sequelas do mal.

Glória da Assunção de Nossa Senhora

A rica Tradição da Igreja reconheceu, desde os primeiros séculos, a gloriosa Assunção de Nossa Senhora. Dela dão testemunho S. João Damasceno, São João Crisóstomo, S. Tomás de Aquino, S. Boaventura, S. Anselmo, São Bernardo e outros luminares e teólogos famosos. Além disso, a Sagrada Liturgia sempre confirmou a verdade desse dogma, tanto nos antigos missais como nos sacramentários, hinos e saudações à subida da Rainha ao Céu. Além disso, nunca, em Igreja nenhuma da Terra, venerou-se uma relíquia do corpo de Maria Santíssima, mostrando com isso uma convicção certa e inabalável de que Ela está no céu.

Contudo, a razão mais forte da Assunção de Nossa Senhora está no fato de ela ser a Mãe do Senhor. Como disse o frei Francisco de Monte Alverne: "Consentiria o meigo Jesus de Nazaré que sua morada puríssima, o céu esplêndido onde por nove meses repousaria, a estátua viva esculpida pelo próprio Criador, ficasse nessa terra de exílio? Porventura o Rei dos Exércitos esperaria o fim dos tempos para que a corte celeste prestasse homenagens reais à sua Mãe. Não, pois era mister que a humanidade reconhecesse quanto era considerada uma mãe tão extremosa" (nota 22 e Tm p. 314).

A glória da Assunção de Nossa Senhora ao Céu é, para nós que ainda vivemos neste vale de lágrimas, a certeza de que o céu existe e é nosso destino.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/nossa-senhora/assuncao-de-nossa-senhora-2/

13 de agosto de 2025

Convide Deus para participar da sua família

Existem situações que fogem do nosso controle, e devemos ter a humildade de reconhecer que não somos suficientemente fortes para contorná-las sozinhos. Necessitamos da ajuda de pessoas que estão ao nosso lado, sobretudo de Deus. No fundo, vemos que a maioria dos conflitos presentes na sociedade acaba tendo quase uma única causa: a desestrutura da família.

Em nossos dias, vemos um bombardeio de experiências negativas, que influem no relacionamento familiar, dando a entender que a instituição familiar, a fidelidade, o companheirismo e a educação são coisas do passado, que não têm mais sentido neste terceiro milênio. Porém, o amor, a entrega, os sonhos de um casal apaixonado são os mesmos de 50 anos atrás, pois cada casal que se apresenta diante do altar, buscando o Sacramento do Matrimônio ao menos naquele instante, nutre, em seu coração, um forte desejo de constituir uma família duradoura "até que a morte os separe".

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / Chat GPT.

Talvez, o fato de esses objetivos não perdurarem, é porque, hoje, a sociedade já não mais valoriza a renúncia, a entrega. E assim, uma forte barreira vai se firmando entre os cônjuges, então, acontece um esfriamento e não o desaparecimento do amor. Na verdade, o amor nunca se acaba. Pode acontecer que ele fique ofuscado pelas dificuldades, daí, a necessidade de se fazer purificações. O sol nunca deixa de existir, mesmo em dias nublados. O amor, mesmo em tempos de dificuldades, existe, mas é preciso saber reconhecê-lo, isto é, saber afastar as dificuldades por meio do diálogo e do perdão, para que ele seja manifesto novamente.

Amor e respeito pela família

Talvez, um dos caminhos para retomarmos o amor e o respeito nas famílias seja a recuperação da figura dos pais. É triste quando encontramos famílias que entregam a educação de seus filhos às domésticas ou babás. Não que estas não sejam qualificadas para darem a educação correta, mas porque os pais acabam se tornando um ser desconhecido para seus filhos. E os mesmos não conseguem assimilar uma formação adequada, pois a empregada, hoje, está com eles, mas amanhã poderá ser substituída. Assim, a criança vai crescendo com este paradigma: "Se esta não responde mais com algumas necessidades, faço a substituição".

Assim, o sentido de renúncia e de superação de alguns limites é descurado, pois não há uma exigência para vencer as dificuldades, mas simplesmente as substituir. Desse modo, se nos enveredarmos por esse caminho, poderemos perceber que alguns matrimônios não perduram, pois esse espírito de substituição se tornou tão "normal", que é mais fácil eu deixar de viver com meu esposo, minha esposa, do que aprender a conviver com as suas limitações.

Talvez, haja a necessidade de que cada cristão repense o seu modo de conceber o Sacramento do Matrimônio e a estrutura familiar. É triste perceber que, em grande parte dos matrimônios realizados em nossas paróquias, o essencial não é a bênção de Deus, pois se supervaloriza a roupa, a maquiagem, o traje, mas pouca importância tem a Palavra de Deus anunciada.


O nascimento da família

A ostentação, em determinadas celebrações de matrimônio, demonstra que Deus não foi convidado para o momento essencial do nascimento da família. Atrasos abusivos pretendem encher de glamour o evento, mas o que faz é apenas ressaltar o descaso com o Sacramento que se diz querer receber. Portanto, para muitos, a família já surge enferma, pois o essencial não foi ressaltado. Posso testemunhar que, em determinadas celebrações, o mais importante era fazer poses para fotos do que a própria Palavra de Deus.

Ao lado de tanta ostentação, no entanto, é possível encontrar um ou outro casal que esteja, verdadeiramente, preocupado em receber a bênção de Deus, e procura fazer de seu matrimônio um momento privilegiado de encontro com Ele. Estes que assim procedem podem ter a firme esperança de que sempre estarão vivendo sob o olhar de Deus e, mesmo passando por dificuldades na vida matrimonial, encontrarão forças n'Ele para superá-las. Porém, aqueles que colocam, em primeiro lugar, o glamour da celebração, não terão forças para superar as dificuldades; não porque Deus os abandonará, mas porque não saberão os reconhecer.

Padre Reginaldo Lima 


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/pais-e-filhos/convide-deus-para-participar-da-sua-familia/

12 de agosto de 2025

Juventude e radicalidade

Missão jovem

Radicalidade significa ir até a raiz de algo (do latim radix, que significa raiz). No contexto cristão e vocacional, ser radical não é ser extremo ou intolerante, mas sim viver com coerência total aquilo em que se acredita. Quando, em Mt 16,24, Jesus faz a proposta: "Quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo", Ele diz de um seguimento acompanhado de uma renúncia, de um preço. Seguir a Cristo precisa nos custar algo, pois aquilo que vem fácil vai fácil.

Crédito: piola666/ Getty Images

Na geração presente em que vivemos, o jovem precisa viver um despertar radical de propósitos em Deus, precisa ser confrontado pela verdade de Cristo a ponto de se indagar e se deixar perpassar por ela.

Deus realiza grandes revoluções

É próprio do jovem ser um inconformado, muitas vezes com o mundo, com suas realidades sociais, estruturais, culturais. Ele traz em si um potencial de mudança e revolução muito forte, não é atoa que um dia foi dito pelo Monsenhor Jonas Abib, "comece com os jovens, que é mais fácil", não fácil pelo fato do jovem ser bobo, mais sim por abraçar as propostas com radicalidade e firmeza. Quando o desejo de mudança se aloja no coração de um jovem, um ideal é estabelecido, pois um ideal fora de Deus pode culminar em grandes revoltas, mas, quando vividos, Deus realiza grandes revoluções. 

No ímpeto santo de sua juventude, o coração do jovem não se contenta com meias respostas, meias ideias ou meias verdades; para ele, a vida e suas propostas precisam fazer sentido. Nunca será "não pecar por não pecar", sempre precisará de um ideal maior, um ideal tão grande que o leve a dar a vida por isso, como já nos dizia Bento XVI: "O presente, ainda que custoso, pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho."(SPE SALVI,1)

Ou Santos ou Nada!

Na ocasião em que nosso pai fundador, Monsenhor Jonas Abib, proclamou "Ou Santos ou Nada!", ele mal poderia imaginar o sentido profundo que isso causaria nas gerações futuras, em um tempo onde tudo é subjetivo, onde as propostas de vida até mesmo em Deus trazem por muitos um viés secularizado, o Santos ou Nada, deixa de ser um uma frase de efeito e se torna um estilo de vida.


Diante de um mundo que abraça um estilo de vida semelhante ao nada, sem expectativas de transcender o agora, sem um olhar voltado para o Eterno, como disse São Paulo aos Efésios, "sem Deus e sem esperança" (Ef 2,12), só uma proposta radical acompanhada de uma renovação de mentalidade pode levar o jovem a ter a santidade como uma meta de vida, não uma meta subjetiva ou ilusória, mas uma meta que já começa a se construir no agora, com passos curtos, mas concretos.

Por fim, aquilo que era um desafio se torna um estilo de vida, que, uma vez impregnado e assumido, levará esse mesmo jovem a repetir as palavras ditas por São Pedro: "A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna" (Jo, 6,68).

 

Carlos Henrique (Rick)
Membro do Núcleo da Comunidade Canção Nova – Atua no Núcleo Jovem da Canção Nova e é Apresentador na TVCN do Programa Revolução Jesus.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/juventude-e-radicalidade/

11 de agosto de 2025

O matrimônio como expressão da doação de Cristo na cruz

Christianus alter Christus! Essa antiga expressão da Igreja significa que o "cristão é outro Cristo". Esse mistério de configuração se dá por uma especial participação na vida de Jesus de que o sacramento do batismo nos confere. O Catecismo da Igreja Católica elucida isso quando ensina que "a graça é uma participação na vida de Deus, introduz-nos na intimidade da vida trinitária: pelo Batismo, o cristão participa na graça de Cristo, cabeça do seu corpo" (n. 1997). Ainda no Catecismo, percebe-se a profundidade e a beleza desse mistério de participação do Ser de Cristo quando se lê:  "Tudo o que Cristo viveu, Ele próprio faz com que o possamos viver n'Ele e Ele vivê-lo em nós. Pela sua Encarnação, o Filho de Deus uniu-Se, de certo modo, a cada homem. Nós somos chamados a ser um só com Ele; Ele faz-nos comungar, enquanto membros do seu corpo, em tudo o que Ele próprio viveu na sua carne por nós, e como nosso modelo" (n. 521).
O caminho de santidade no matrimônio

Créditos: nortonrsx by GettyImages / cancaonova.com

O matrimônio e a participação na vida de Deus

Ora, um grande fruto dessa participação na vida de Deus é a reprodução ou expressão de seu mistério no mundo. Em outras palavras, isso significa que, quando estamos imersos no mistério de Deus, nos tornamos sinal e expressão desse mistério no mundo. Por isso o Papa Francisco exclamou: "Oxalá consigas identificar a palavra, a mensagem de Jesus que Deus quer dizer ao mundo com a tua vida" (Gaudete et exsultate, n.24).

Sendo assim, pensemos qual é a Palavra e o mistério da vida de Jesus que aqueles que vivem a vocação ao matrimônio são chamados a reproduzir. São João Paulo II, na exortação apostólica Familiaris Consorti, nos ajuda a intuir esse mistério quando diz: "Os esposos são, portanto, para a Igreja o chamamento permanente daquilo que aconteceu sobre a Cruz […].  Deste acontecimento de salvação, o matrimônio, como cada sacramento, é memorial, atualização e profecia" (n. 13).

Dessa forma, o matrimônio, marcado pela definitiva e constante entrega dos esposos, é sinal daquela entrega que Jesus faz de Si pela e para a Igreja. Por isso o Apóstolo Paulo dá uma medida específica do amor matrimonial quando ordena: "Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela" (Ef 5,25).


O matrimônio traduzido em atitudes concretas

Portanto, enquanto sinal da entrega de Jesus, o matrimônio pressupõe uma forma peculiar de participação em sua Páscoa. Isso deve se traduzir em atitudes concretas que, por si só, serão sinal eloquente da entrega de amor que Jesus ofertou à humanidade.

Por fim, vale lembrar de algumas dessas atitudes com as palavras do teólogo Walter Kasper: "Quando se contempla o amor matrimonial sob o signo pascal da cruz, aí então se começa a viver da doação, do perdão, a partir de inícios constantemente renovados… E assim como Cristo ama sua Igreja, embora como Igreja de pecadores, e como tal a purifica e santifica, da mesma maneira os cônjuges deverão aceitar-se mutuamente em todos os conflitos, deficiências e culpabilidades que aparecem no dia a dia."

Wilker Henrique Costa Fiuza
Membro da Comunidade Canção Nova desde 2008. Mestre em Teologia Sistemática (2023). Formado em Filosofia (2011). Professor na Faculdade Canção Nova (www.fcn.edu.br). Casado e pai de dois filhos.

Referências:
KASPER, Walter. Teologia do matrimônio Cristão. São Paulo SP: edições paulinas, 1993.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/casamento/o-matrimonio-como-expressao-da-doacao-de-cristo-na-cruz/

10 de agosto de 2025

Carta aberta aos portadores do dom da paternidade

Uma esperança na impossibilidade

Vejam, os filhos são um dom de Deus, é uma recompensa o fruto das entranhas (Sl 127, 3). Todo filho é um dom de Deus, e cada história traz em si a beleza da unicidade, da iniciativa de Deus. Por mais difícil que seja a minha e a sua história, é inegável: houve um desígnio criador, um gesto de amor de um Deus que pensou em mim e em você, que me quis e quis você, independentemente da dor ou do louvor que habita a minha e a sua gestação. Há uma iniciativa amorosa de um Pai que nos quis e, por isso, somos um dom de Deus.

Ser pai, Vocação de proteção

Foto Ilustrativa: Brenda Sangi Arruda by GettyImages / cancaonova.com

E é assim que eu volto ao ano de 2022, ano da graça extraordinária de Deus em minha vida e na de minha esposa, ano em que fomos visitados por este desígnio de amor de que falava há pouco. Existe uma história não contada, de uma multidão de homens e mulheres que esperam a fiel manifestação de Deus não em suas potências, mas em sua incapacidade, sua impossibilidade de gerar.

No ano em questão, casados há cinco anos, vivíamos um luto silencioso. O luto pelos filhos que nunca havíamos gerado. Após tantas e tantas consultas, com tantos médicos, os diagnósticos, nem um pouco animadores, cada vez mais arrastavam-nos à certeza de que não poderíamos gerar filhos.

Reserva ovariana baixa e espermogramas praticamente zerados eram apenas alguns dos problemas que nos rodeavam. A cada novo problema diagnosticado, ocultava-se, cada vez mais, as esperanças daquela promessa feita no altar, de receber com amor os filhos que Deus nos confiaria. 

Os filhos são um dom

Quando tudo parecia conduzir-nos a uma direção que não esperávamos, às vezes sem força, nos lançamos naquela correnteza, desfalecidos seguindo qual rio para o seu destino. Foi nesse turbilhão, sem forças para nadar, quase afogado, que fui resgatado. A conversa gentil de uma amiga com minha esposa, questionando-a se ela não havia entendido que receber os filhos que Deus queria nos dar incluía a possibilidade de nenhum filho, tocou forte em meu coração. Eu estava tão apegado à ideia de que, obviamente, eu seria pai, que não podia conceber o contrário. Eu achei que era meu direito, esqueci-me de que os filhos são um dom. 


E foi assim que, naquele início de ano, pedi ajuda d'Ele! Pedi que me ajudasse a superar o desejo de ser pai por meios naturais. Pedi que me ajudasse a entender e aceitar que, diante dos exames e diagnósticos, aquele não era o caminho natural para mim. Pedi que Deus tirasse o desejo de ser pai por meios naturais e, quem sabe assim, se Ele permitisse, que eu me abrisse para a adoção.

Sem saber, eu pedia para que Ele me ensinasse novamente que não era um direito meu, mas um dom. E Deus inclinou-se para mim… "este infeliz gritou a Deus e foi ouvido" (Sl 33,2). De fato, não foi "natural" o que experimentamos, mas uma intervenção poderosa de Deus. E concebemos… rimos e choramos de felicidade. Nosso milagre fará três anos no próximo mês de setembro. 

A graça de reconciliar-se com Deus

Não quero ser imprudente nem enganoso. Experimentamos a dor de não poder gerar por anos, e sei que nem todos que passam pelo que passamos conceberão. Talvez você pense que é fácil para mim contar esta história depois de ter experimentado um milagre, mas eu quero que você saiba que eu entendo a sua dor. Talvez a sua dor não seja não poder gerar, mas os desvios de um filho ou até mesmo o seu sentimento de improdutividade e estagnação.

Os anos em que vivemos a expectativa da gravidez, foram anos de uma dor silenciosa e sem nome. Dor que só entendi quando o nosso milagre nos alcançou. Sei o quanto doem as cobranças familiares pelos filhos, as brincadeiras dos amigos ou a simples participação em um chá de fraldas, o peso dos anos que passam enquanto teimamos em apenas sobreviver.

Talvez o maior milagre que eu tenha experimentado tenha sido esse, entender e aceitar que havia dor, entender que precisava sair daquela situação de morte para a VIDA, e é essa graça que eu peço sobre você no dia de hoje. A graça de reconciliar-se com Deus, com sua história, com sua condição, e voltar à vida, deixando o sepulcro do escondimento, da amargura e do isolamento. 

Tempo de espera

O que aprendi com este tempo de espera e com o milagre que alcançamos é que toda vida é um dom extraordinário de Deus. Que, como pai, (por um desígnio amoroso de Deus, como todo pai) não sou dono do meu filho, e por isso preciso educá-lo para Deus, como um professor que ensina as crianças para os pais. Aprendi que a paternidade que faz parte de mim eu preciso levar para o meu próximo, não o retendo para mim, mas devolvendo-o para si, e assim devolvendo-o para Deus. Essa paternidade que já existia em mim, Deus precisou cavar fundo para trazê-la para fora. Talvez em você, caro amigo, ela não esteja tão escondida. 

A vida que se pode ofertar dia a dia

Quer você tenha filhos ou não. Neste Dia dos Pais, quero que saiba que há um povo carente de pai, da firmeza que corrige, da ternura que acolhe e dá segurança, da paternidade que existe em você, HOMEM. Enquanto os mais novos chegam com muita energia e vida nos nossos trabalhos e nas nossas comunidades, eles precisam encontrar em mim e você a sabedoria provada e experimentada na vida. A sabedoria de quem superou a dor sem culpar a Deus, a resiliência de quem suportou a aspereza do caminho e permaneceu.

A perenidade silenciosa e, ao mesmo tempo, escandalosa de uma vida que só um pai pode ofertar, porque ser pai não é sobre gerar biologicamente um filho, mas sobre a vida que se pode ofertar dia a dia, para que esse ser que recebe tenha vida. 

Rogo a Deus, o nosso Pai e doador de nossa vida, que saibamos, a Seu exemplo, ser pais, doadores de vida por onde passarmos e a quem encontrarmos. Doadores da vida verdadeira que só se alcança plenamente no céu, Amém!

 

Rafael Oliveira
Missionário da Comunidade Canção Nova no modo de compromisso "Núcleo" desde janeiro de 2010. Natural de Brasília, casado e pai de um pequeno milagre. Formado em Ciências da Computação, Especialista em Gestão de Projetos e Data Science e Analytics.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/paternidade/carta-aberta-aos-portadores-do-dom-da-paternidade/