31 de maio de 2025

A visitação de Maria a Isabel e o Magnificat da Virgem Maria

Maria ensina amar o próximo com gestos de serviço

São Lucas evidencia que a Mãe do Senhor respondeu à saudação louvável de Santa Isabel com o cântico do Magnificat, uma verdadeira oração de ação de graças a Deus por Sua bondade e fidelidade, impressionante, sobretudo, por sua profundidade e elevação teológica. Nós aprendemos a louvar, a exemplo da Virgem Maria, quando rezamos com a palavra de Deus diariamente. Mas quando deixamos de rezar e de viver a Palavra de Deus, a nossa vida de oração entra em crise.

A experiência espiritual de Maria Santíssima é profunda. Num gesto de serviço, indo ao encontro de sua prima Isabel, Ela nos mostra, mediante sua experiência espiritual com o Anjo Gabriel, que a oração precisa levar à caridade, isto é, que, consequentemente, temos que amar o próximo com gestos de serviço. O seu testemunho nos assegura, desde o início do Evangelho, que a verdadeira oração leva a amar mais concretamente os outros. Amar concretamente o próximo é a característica de quem sabe rezar.

A Virgem Maria, com seu exemplo, nos ensina o que significa amar: significa ter a coragem de encarar o compromisso do serviço, como Ela que enfrentou uma difícil viagem de alguns dias, para servir a Sua prima que morava longe.

Com efeito, no seu cântico do Magnificat, a Virgem Maria louva a Deus pelos feitos em Sua vida, ao mesmo tempo em que reconhece a misericórdia d'Ele, que 'perdura de geração em geração', ressaltando a atitude 'daqueles que O temem'. Mas, de maneira particular, Ela agradece a Deus por Sua misericórdia oferecida a Israel, mediante o cumprimento das promessas feitas a Abraão, que estão se realizando através da Encarnação do Filho de Deus em Seu seio.

Imagem Ilustrativa

O cântico Magnificat

Neste sentido, o biblista Jean-Pierre Prévost (1988, p. 116) explicita que, por ser o Magnificat um cântico inserido na narrativa da Infância de Jesus, a sua riqueza está, sobretudo, no acontecimento que, segundo São Lucas, a Virgem Maria celebra: a concepção de Jesus, sendo esta a mais surpreendente e decisiva das grandes coisas que Deus fez pela salvação de Seu povo e de toda a humanidade. Vejamos então, as palavras deste Cântico inspirado da Virgem Maria e meditamos no que Ela disse:

Minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta em Deus, meu Salvador, porque olhou a humilhação de Sua serva. Sim! Doravante as gerações todas me chamarão de bem-aventurada, pois o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. Seu nome é santo e sua misericórdia perdura de geração em geração para aqueles que o temem. Agiu com a força de seu braço, dispersou os homens de coração orgulhoso. Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou. Cumulou de bens a famintos e despediu ricos de mãos vazias. Socorreu Israel, Seu servo, lembrado de Sua misericórdia – conforme prometera a nossos pais – em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre! (Lc 1, 46-55).

Observa-se que a Virgem Maria agradece a Deus, sobretudo pela Encarnação do Verbo em seu seio, contemplando em Sua vida a concretização dos anseios de seus antepassados. O evangelista São Lucas apresenta a Mãe do Senhor como uma pessoa instruída nas Escrituras e capaz de entender, através da fé, o plano divino da Salvação: uma fé já testemunhada por ocasião da Anunciação do Anjo e exaltada por Sua prima Santa Isabel.


No encontro com Isabel, acontece um grande milagre na vida da Virgem Maria. Ela recebe a graça de saber expressar o que Lhe aconteceu em Nazaré. A partir desse encontro, Maria se anima para rezar, numa alegria que se transforma em canto. Isso evidencia que, a partir das nossas sadias relações, manifesta-se, dentro de nós, o que sozinhos não conseguimos compreender e exprimir. E demonstra que a nossa oração tem necessidade da comunidade da Igreja e de relacionamentos marcados pelo amor divino.

Quando somos Igreja, a graça de Deus vem ao nosso encontro. Efetivamente, a Igreja não é somente uma instituição, é Cristo em cada um de nós. É dessa relação com a Igreja que podemos compreender melhor o mistério de Deus a nosso respeito como a Virgem Maria nos mostra, pois Ela compreendeu este Plano de Deus ao entoar o Magnificat. Portanto, a nossa oração precisa unir-se à vida sacramental que nos dá forças para caminhar e enfrentar os desafios da vida cotidiana.

O cântico de Maria nos assegura que Jesus continua a visitar cada um de nós com Sua Santíssima Mãe, como visitou Isabel, nos convencendo de que, pela oração de louvor, tornamo-nos cada vez mais livres e alegres para proclamar as maravilhas de Deus. A alegria cristã consiste em acreditar em Deus apesar dos sofrimentos da vida cotidiana, confiando que a Sua Palavra se cumprirá em nossa vida.

Orar com alegria

De fato, o misterioso fruto da oração é a alegria, é a luz divina, é a paz. Quem reza não é só portador da alegria, é alegria, não é só portador da luz, é luz, não é só portador da paz, é paz. Há realidades que não se declaram, mas que se veem. As pessoas veem quando portamos Deus: A Virgem Maria mostra esta realidade no Magnificat.

Em suma, com a Virgem Maria somos chamados a evangelizar, a tornar Jesus Cristo visível ao mundo, vivo e Ressuscitado em cada um de nós.

Referências

BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. Tradução de Euclides Martins Balancin et al. São Paulo: Paulus, 2002. 2206 p.

PRÉVOST, J.-P. Magnificat. In: CAZELLES, H.; BOSSARD, A.; HOLSTEIN, H. (dir.) et al. Dicionário Mariano. Tradução de António Vieira. Porto, Portugal-Aparecida: Perpétuo Socorro-Santuário, 1988. p. 115-117.

Áurea Maria
Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/devocao/a-visitacao-de-maria-a-isabel-e-o-magnificat-da-virgem-maria/

Comunicar a partir de um encontro pessoal

Mostra-nos o Pai

Jesus nos anuncia o amor do Pai a partir de sua própria vivência: "Vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai" (Jo 15,16). Ao mesmo tempo, muitas vezes, antes de começar sua missão, antes de escolher seus 12 apóstolos, durante ou após um evento importante, Ele se retira para rezar e comunicar-se com o Pai. Vez ou outra, leva junto seus amigos e a forma como Jesus fala com Deus Pai é tão pessoal e visivelmente toca todo o seu ser, que se irradia e contagia. Por isso os pedidos: "Ensina-nos a rezar" (Lc 11,1); "Mostra-nos o Pai" (Jo 14,8).

Crédito: bauhaus1000 / GettyImages

Então, Jesus lhes ensina a relacionar-se com Deus como Pai, a falar com ele como filho. "Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso Reino, seja feita a vossa vontade…" (Lc 11,2) Os comunicadores de Jesus são introduzidos assim no mais profundo mistério da vida do Filho de Deus, Seu amor ao Pai.

O segredo da força dos primeiros comunicadores de Jesus

Portanto, qual era o segredo da força que movia os primeiros comunicadores de Jesus? O que havia, em seus corações, para aceitarem ser enviados e irem adiante nas cidades, em meio a críticas e perseguições? Essa pergunta é feita também para os comunicadores atuais: Por que você "dá a cara aos tapas" e dedica seu tempo e seus talentos para comunicar a Igreja e na Igreja? Por que você se expõe a tantos haters, para anunciar as verdades de sua fé?


Perceba que, na Bíblia, a frase: "seus Apóstolos estavam com ele" (Lc 8,2) vem antes da descrição que eles foram enviados para anunciar a Boa Nova. Eles partiram corajosos em missão, dispostos a enfrentar perigos e situações adversas, porque "estavam" com Jesus, vivenciaram o Seu amor, escutaram Sua mensagem e falaram com Ele. "A primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por Ele, que nos impele a amá-Lo cada vez mais," escreve o Papa Francisco (EG,143). Sim, essa é a resposta também dos primeiros Apóstolos. João escreve: "Nós amamos, porque Deus nos amou primeiro" (I Jo 4,19), e Paulo confirma: "O amor de Cristo nos impulsiona" (cf. 2 Cor 5,14).

Os comunicadores no Cenáculo com Maria

O comunicador que busca Maria encontra Jesus e se insere em Seu amor ao Pai. É isso que aconteceu após a ressurreição e a ascensão de Jesus. Sentindo-se com medo e incapazes, os comunicadores se reúnem no Cenáculo, em oração com Maria. Então, ela prepara o coração de cada um para a ação esplendorosa do Espírito Santo, que confirma a participação de cada um deles no relacionamento de amor de Jesus com o Pai: "A prova de que sois fi­lhos é que Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: 'Aba, Pai!'" (Gal 4,5).

O efeito de sua mensagem não provém somente da técnica, mas é tanto mais eficaz quanto mais for uma irradiação de seu encontro pessoal com Jesus. Entregue-se a Maria e ela vai abrir seu coração para a atuação do Espírito Santo!

Como está seu encontro pessoal com Jesus? Como está sua participação nos sacramentos?

Aprofunde essa reflexão pela leitura do livro: "A vocação do comunicador católico", de Ir. M. Nilza P. da Silva

Ir. M. Nilza P. da Silva – Instituto Secular das Irmãs de Maria de Schoenstatt. Autora do livro 'A vocação do comunicador católico'


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/comunicar-partir-de-um-encontro-pessoal/

30 de maio de 2025

Como ser um evangelizador na internet?

Você já ouviu dizer que a internet é ruim ou que as redes sociais são tóxicas? Eu já! E pra falar a verdade, ouvi isso sobre a televisão e o cinema também. Essas frases se baseiam no quanto o mau uso desses meios pode, de fato, ser nocivo. No entanto, nenhuma mídia é ruim em si mesma. A questão é como elas são utilizadas. Desde a abertura da Igreja aos meios de comunicação com o Inter Mirifica escrito em 1966 até hoje, tem-se visto o quanto a mídia pode favorecer na propagação do Evangelho.

Créditos: Imagem Gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

Na Carta Encíclica Redemptoris Missio João Paulo II escreveu: "O primeiro areópago dos tempos modernos é o mundo das comunicações, que está a unificar a humanidade, transformando-a — como se costuma dizer — na 'aldeia global'.

Os meios de comunicação social alcançaram tamanha importância que são para muitos o principal instrumento de informação e formação, de guia e inspiração dos comportamentos individuais, familiares e sociais. Principalmente as novas gerações crescem num mundo condicionado pelos mass-média […]" (RM. n. 37c).

O Papa, com certeza, já estava se referindo à internet e apontando que, nestes novos areópagos, a Igreja precisa estar presente. Ele também viu que a cultura atual transformou seus hábitos a partir dos meios de comunicação. As relações sociais, as compras, o trabalho ou o estudo, enfim, muito da nossa vida acontece pelas mediações de dispositivos e plataformas. Em resumo, nossa cultura é, em sua maioria, midiática ainda que muita gente não tenha acesso à internet. E, se boa parte do mundo está no ambiente digital, é para lá também que o Senhor nos envia. Disso, surge a pergunta:

Como usar da internet para evangelizar?

Algo básico é entender os meandros da internet, suas linguagens, estratégias e recursos e, ao mesmo tempo, compreender a fé cristã e estar firme nela, sem dispensar a ajuda do Espírito Santo que é criativo e vai a nossa frente. Tendo isso como ponto de partida, a nossa evangelização pode ser bem eficaz. Embora "haja espaços para todos", na web, as linguagens e narrativas são muitas e, como cristãos, precisamos ser astutos e prudentes a fim de que passemos o Evangelho de modo compreensível para as novas gerações, principalmente as que já nasceram no mundo digital.

Neste sentido, precisamos entender que, no discurso da internet, não cabe a imposição. É preciso encontrar o equilíbrio em passar a Verdade de Cristo, que é imutável, como uma proposta, a melhor proposta da nossa vida. Ao mesmo tempo, é preciso entender que palavras superficiais não convencem, deve haver o nosso testemunho que se manifesta na vida real. O mundo hoje precisa muito mais de testemunhos do que de palavras bonitas. Dito isso, queria ressaltar alguns elementos que podemos levar em conta na evangelização através da internet:

Compromisso com a Verdade:

Essa Verdade está em maiúsculo porque o evangelizador precisaria, antes de mais nada, se revestir de Cristo – que é a Verdade – e estar comprometido com Ele acima de tudo. Num ambiente em que se propagam fake news e meias verdades, o cristão também não deveria passar uma vida somente de alegrias. As pessoas sofrem e querem saber como lidar com isso. Por que não mostrar o valor e o sentido que há também nas experiências difíceis que se vive e as aprendizagens que fazemos com elas? As fotos ou vídeos que postamos podem estampar a verdade de quem encontrou, em Cristo, a alegria de viver.

Geração de Conteúdo:

Para quem tem algo a dizer, é imperativo entrar nesses novos ambientes onde as pessoas se encontram. Porém, precisamos oferecer mais do que uma transmissão de conteúdo, justamente porque existe uma nova cultura no ciberespaço que entende o mundo de maneira diferente da geração anterior. Sendo assim, os valores do Evangelho devem ser apresentados de um modo compreensível, mas não subtraído, minimizado ou relativo. Ao mesmo tempo, o nosso conteúdo precisa ser bem fundamentado. Se necessário, é preciso buscar ajuda para não se passar ideias vagas, insustentáveis e não se entrar no relativismo.

É importante tocar em temas comuns ao ser humano, começando sempre com os anseios da alma. Pensar bem no conteúdo que se quer passar e na melhor plataforma para isso é uma atitude importante. As postagens também devem ser regulares para manter o perfil ativo e de acordo com a linguagem de cada mídia a ser utilizada.

Interatividade:

Uma vez que, nas redes sociais, há uma proposta de debate e compartilhamento de ideias, é necessário estar aberto para acolher pontos de vista diferentes dos nossos, sem ódio ou ofensas, mas não nos deixando levar por valores que não dizem respeito ao cristianismo. Com este fundamento, um conteúdo pode sim ser construído com a ajuda de outros, já que na rede social tende também a reunir pessoas. As interações geram engajamento e proximidade. O evangelizador deve também ser humano, atencioso e pastor dos que vão até ele. É interessante ver os comentários, curtidas e compartilhamentos para entender como as pessoas têm acolhido e o que mais elas buscam do seu conteúdo.


Criação de vínculos:

Apesar de os vínculos de relacionamento nas redes sociais serem fluidos, a web pode gerar laços mais fortes entre os cristãos, ou entre esses e a própria Igreja e com a doutrina em si.

Mobilização de ações:

Gerando vínculos, a web poderá também criar discussões que produzam engajamentos e ações além do mundo virtual e que tragam mudanças individuais e sociais como, por exemplo, solidariedade com os que sofrem sejam na alma ou no corpo.

Convergência e compartilhamento:

A convergência de mídia não se trata apenas do caráter tecnológico, mas diz respeito também à maneira como as pessoas criam e compartilham histórias em várias plataformas e de diversos modos. Isso pode ser usado também na evangelização, por exemplo, para contar, em cada mídia, uma parte da história de salvação da humanidade, complementando com os relatos da salvação de Cristo na vida das pessoas. Esse conteúdo compartilhado várias vezes atualiza o sentido de Deus no mundo.

ELANE GOMES
Missionária da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/tecnologia/como-ser-um-evangelizador-na-internet/

Comunicadores católicos são enviados por Jesus

Jesus é o meio e a mensagem

O primeiro envio missionário acontece quando o Deus Pai envia seu Filho para nos redimir de nossos pecados: "De tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3,16). Jesus é o comunicador, gerado no ventre de Maria, para anunciar o Pai. Ele é meio e mensagem, isto é, anuncia o Pai por meio de seu ser, suas palavras e ações.

Crédito: Denis-Art / GettyImages

Por sua vez, após um encontro pessoal com aqueles que escolhera, Jesus também envia seus 12 apóstolos e, em seguida, seus 72 discípulos para anunciarem o que dele ouviram e vivenciaram na sua presença: "Mandou-os, dois a dois, adiante de si, por todas as cidades e lugares para onde ele tinha de ir" (Lc 10,1).

O encontro com Deus amoroso

É assim que chega até nós as mensagens do Evangelho, como um convite para irmos nos encontrar pessoalmente com Jesus, vivenciar o amor do Pai e, a partir disso, nos tornarmos também comunicadores católicos. Que grande amor e confiança Jesus nos oferece, pois nos envia "adiante d'Ele", isto é, não somos o ponto central da comunicação, nada de foco em si mesmo, mas os que nos encontram precisam perceber que alguém muito maior do que nós quer se encontrar com cada um deles, o próprio Deus amoroso.


Se, naquele tempo, "todas as cidades" eram as localidades próximas a Jerusalém, hoje, quando evangelizamos pela internet, alcançamos todas as localidades do planeta. Mas o lugar mais importante é o coração das pessoas, pois é ali "o lugar que Jesus tem que ir".

Maria, modelo para todos os comunicadores

Maria é o modelo para todos os comunicadores e missionários digitais. Seu encontro com Isabel testemunha que sua comunicação, uma simples saudação, possibilitou a Isabel e ao filho em seu ventre um encontro com Deus e a graça da redenção os fez rejubilar de alegria.

Como são nossas publicações? Aqueles que a veem percebem que há Alguém maior do que nós que deseja encontrar-se com eles?

Aprofunde essa reflexão pela leitura do livro 'A vocação do comunicador católico', de Ir. M. Nilza P. da Silva.

Ir. M. Nilza P. da Silva – Instituto Secular das Irmãs de Maria de Schoenstatt. Autora do livro 'A vocação do comunicador católico'


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/comunicadores-catolicos-sao-enviados-por-jesus/

Família, torna-te quem és!

O Jubileu das Famílias nos convida a renovarmos a esperança 

A família, célula fundamental da sociedade, sempre esteve sob o olhar materno da Igreja. Recentemente, ao receber o Corpo Diplomático no Vaticano, o Papa Leão XIV reafirmou o ensinamento da Igreja, dizendo que a família é "fundada na união estável entre o homem e a mulher, uma 'sociedade muito pequena certamente, mas real e anterior a toda a sociedade civil'" (LEÃO XIII, Discurso aos membros do Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé, 16 de maio de 2025).

Crédito: sedmak / GettyImages

A verdade dessas palavras tem por base a própria revelação bíblica, apresentada no livro de Gênesis, que trata sobre a origem da criação, e deixa claro o plano de Deus ao criar o homem e a mulher e lhes dar a missão de multiplicar (cf. Gn 1-3). Sem tal união, é impossível o crescimento e o futuro da humanidade. Sobre o homem e a mulher recai a responsabilidade de serem cocriadores, participantes da obra de Deus, mas não apenas isso: cabe também a formação dos filhos para assumir com dignidade seus papéis na sociedade. Nesse sentido, podemos afirmar que, quando a família não vai bem e se desestrutura, toda a humanidade sofre. É por isso que essa instituição é vista com bastante zelo pela Igreja.

A vocação matrimonial leva à santidade

Nos próximos dias, católicos do mundo inteiro viverão o Jubileu das Famílias, uma oportunidade de aprofundar ainda mais a missão e o sentido dessa vocação. O encontro será marcado por momentos de celebração, mas também de reflexão sobre famílias que conseguiram viver a perspectiva cristã e dar grandes frutos para a sociedade, como, por exemplo, a Família Martin, de onde nasceu Santa Teresinha do Menino Jesus, cujos pais também alcançaram os altares. Sem dúvida, com eles, cada pessoa pode perceber que a vocação matrimonial leva à santidade, se vivida com zelo e entrega de vida.

Nesse sentido, podemos dizer que, sem a perspectiva da fé, ser família se torna uma missão pesada, porque é a fé que dá sentido às renúncias e aos sacrifícios diários de todos. Somente em Cristo poderemos viver esses desafios, confiando que há neles um grande valor, com a esperança nos frutos que partem de tudo isso. É a fé que nos faz entender que a caridade verdadeira existe na entrega e que o amor que o Senhor nos manda ter não se restringe à dimensão do sentimento, mas o ultrapassa, alcançando as ações cotidianas.

A transmissão da fé na família

O Papa Bento XVI sempre destacou a importância da transmissão da fé na família, lugar primordial onde os filhos a recebem e aprendem através do testemunho, da oração e da prática cristã dos pais e avós. A transmissão da fé na família é um ato de amor e uma condição essencial para a vitalidade da Igreja. Bento XVI também ressaltava como os avós cumprem essa missão no seio familiar. O valor dos idosos será outro grande tema tratado neste Jubileu. Por fim, a celebração da Família no Ano Santo de 2025 lança um olhar sobre os desafios atuais das famílias e quer levá-las a assumir seu papel e protagonismo na sociedade.

A família não precisa se moldar ao mundo

Entender o que é ser família e qual a grandeza desse chamado é tarefa de todos nós. Cada um só pode assumir o que é, conhecendo sobre si mesmo. Família, torna-te quem és! Assuma o seu lugar na sociedade, seja protagonista de vida em comunidade, para mostrar ao mundo que é possível ter paz, mesmo unindo pessoas com formas diferentes de pensar. A família não precisa se moldar ao mundo. Ela pode, sim, dar ao mundo atual – marcado pela lógica do consumismo, do individualismo, da solidão, do hedonismo e da competitividade – a experiência de uma convivência harmoniosa.

Se quisermos mudar a sociedade, comecemos pelas pequenas atitudes em família. O próprio Cristo já nos havia pedido para sermos fiéis no pouco, a fim de que ele nos confie muito mais (cf. Mt. 25, 23).

Elane Gomes


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/familia-torna-te-quem-es/

25 de maio de 2025

Fixe sua alma em Deus

"Deixo-vos a paz; a minha paz vos dou. Não vos-la dou como o mundo a dá. Não permitais que vosso coração se preocupe, nem vos deixeis amedrontar" (João 14,27).

O grande perigo da agitação dos nossos dias está em perdermos nossa alma ou, em outras palavras, perdermos o sentido da nossa própria vida, perdermos o contato com o nosso centro, nosso verdadeiro chamado como pessoa, nossa essência, nossa missão, nossa tarefa neste mundo. Ao perdermos a nossa alma, tornamo-nos tão distraídos e preocupados com tudo o que está acontecendo em torno de nós que acabamos fragmentados, confusos e inseguros, sem sentido, sem reconhecermos, de fato, quem somos.

Deus quer que tenhamos uma vida de oração

Jesus é muito consciente deste perigo e nos ensina: "Tome cuidado para não ser enganado porque muitos virão em meu nome, dizendo: 'Eu sou o único e o tempo está próximo'" (Lucas 21,8). Somos chamados a seguir Jesus com fidelidade, sem nunca perdermos o contato com nossa essência. E isso é possível? Sim, por meio da oração.

Créditos: Imagem Gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

Santa Teresa de Jesus afirma que: uma das maiores vitórias do demônio é convencer alguém de que não é preciso rezar, ou seja, quando o assunto é vida de oração, é preciso termos a consciência de que se trata de um luta espiritual e que, para vencermos, o único caminho é rezar com ou sem vontade. Se eu escolho deixar-me guiar apenas pelo meu querer, corro o risco de perder o contato com minha essência e passar por este mundo levada pela insegurança, sem saber quem sou, de onde vim e para onde vou. Fixar nossa alma em Deus é o meio para a vitória contra todo mal.


Oração

Senhor, eu quero voltar ao primeiro amor e experimentar de novo a Tua graça a me tocar. Nesta hora, acalma meu coração e liberta-me de toda agitação, toda ansiedade. Dá-me a Tua paz e leva-me de volta à minha essência, pois é somente em Ti que eu confio e espero. Amém!

Equipe de Formação da Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-e-libertacao/fixe-sua-alma-em-deus/

24 de maio de 2025

Entenda o porquê do título de Nossa Senhora Auxiliadora

O título de Nossa Senhora Auxiliadora é baseado na história da Igreja Católica e na especial devoção a Maria. Sua origem tem início, aproximadamente, no ano de 1571, quando ocorreu uma das maiores batalhas marítimas e sangrentas que já se tem registro: a Batalha de Lepanto, onde as forças cristãs conseguiram vencer o poderoso Império Otomano, uma ameaça à Igreja naquela época. Antes da Batalha, o Papa Pio V pediu aos fiéis que rezassem o Rosário pedindo a intercessão da Virgem Maria, que missas fossem celebradas de hora em hora, e que o povo fizesse penitência, porque essa luta seria difícil de ser vencida sem a intervenção divina. O império Otomano era o mais forte que havia naquela época, era o exército dos Mulçumanos, e eles queriam acabar com a fé católica e a Igreja Romana para ampliar o seu domínio, o seu império por toda a Europa.

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A desproporcionalidade dos exércitos era grande, o exército católico tinha, aproximadamente, 80 mil soldados, composto por escravos e prisioneiros condenados, possuindo 200 barcos dos mais simples; enquanto, do outro lado, os Mouros tinham 300 mil soldados e cinco vezes mais o número de barcos.

Então, no dia 4 de outubro, teve início a batalha. Quando os soldados do exército católico avistaram aquele numeroso exército, ficaram aterrorizados, mas não se deixaram abater pelo medo; muito pelo contrário, eles foram tomados por uma coragem sobrenatural e partiram para cima do exército Otomano. Tentaram resistir o quanto puderam e, já no final do dia, por volta das 18 horas, na hora do Angelus, o exército católico começou a ganhar a batalha, pois o próprio exército Otomano estava se autodestruindo. Por causa disso, muitos navios dos Mouros foram derrubados e afundados.

Alguns prisioneiros de guerra foram levados e interrogados; eles diziam que, depois das 18 horas, apareceu uma mulher cujo olhar lhes colocava medo, e eles ficaram assustados com tal mulher, o que os deixou desorientados e, assim,
acabaram por atacar o próprio exército.

Festa de Nossa Senhora das Vitórias

Após a vitória da batalha de Lepanto, a qual era quase impossível acontecer, o Papa viu que tal conquista foi por causa da intercessão de Nossa Senhora e as orações de todos os fiéis que haviam se unido em orações e súplicas. Em agradecimento a essa grande vitória, foi instituída a festa de Nossa Senhora das Vitórias, que, mais tarde, ficou conhecida como Nossa Senhora do Rosário. Depois desse acontecimento, foi adicionada, na Ladainha de Nossa Senhora, o título de "Maria, auxílio dos cristãos".

O Papa Clemente XI surgiu como uma pessoa que lutou muito e se empenhou para que essa festa fosse criada na nossa Igreja. O então Papa, movido por uma profunda devoção mariana, percebeu a importância de honrar Nossa Senhora sob o título de Auxiliadora dos Cristãos, reconhecendo a sua constante intercessão e seu auxílio às necessidades da Igreja e dos fiéis diante de tantas realidades, até mesmo as vitórias em grandes batalhas que eram impossíveis de ser conquistadas humanamente, sem a ajuda e a intercessão dela.


Com esse ardor e desejo de homenagear a sua Mãe espiritual, a Virgem Maria, ele convoca os mais sábios teólogos de sua época para estudar como se daria esse processo dentro da Igreja.

Foi feito um decreto papal que proclamava a festa de Nossa Senhora Auxiliadora, passando a ser uma celebração oficial dentro do calendário litúrgico da Igreja. Com essa festa em dedicação a Nossa Senhora, a devoção começou a crescer cada vez mais na Europa e em outros países fora desse continente, e todos começaram a conhecê-la como Nossa Senhora Auxiliadora.

A importância de Dom Bosco

Outro motivo que fez essa devoção ser propagada foi a devoção de um grande santo chamado João Bosco, mais conhecido como São João Bosco. Os Salesianos tinham como patrona da Congregação Salesiana, Nossa Senhora com o título de Auxiliadora, e os Salesianos espalharam essa devoção por todas as suas casas, por seus colégios, e essa devoção foi sendo colocada em seus oratórios com as crianças, com todos que passavam por suas casas. Podemos dizer que foram os salesianos que propagaram essa devoção pelo mundo afora. Em todas as casas ou colégios Salesianos há, em sua entrada, a imagem de Dom Bosco e de Nossa Senhora Auxiliadora.

Essa devoção precisa crescer cada dia mais, porque Nossa Senhora, que auxiliou a Igreja em tantas batalhas impossíveis de serem conquistadas, humanamente falando, quer continuar a auxiliar todos os seus filhos diante de todas as batalhas que são travadas diariamente; ela quer ser esse auxílio para todas as pessoas que estão desesperadas, estão sem saber o que fazer e a quem recorrer, estão travando verdadeiras batalhas contra um câncer ou alguma doença terminal, contra a depressão, a síndrome do pânico ou mesmo algum tipo de batalha espiritual. Maria quer nos dar a vitória contra todas essas coisas.

É preciso, no entanto, fazer como os cristãos que estavam prestes a ir para a batalha: eles jejuavam, faziam penitências, participavam de missas diárias e, principalmente, recitavam o santo rosário; assim, diante das causas impossíveis, Nossa Senhora vinha em auxílio de todos que recorriam a sua intercessão.

Nossa Senhora Auxiliadora, rogai por nós

Por isso essa devoção tem ultrapassado séculos adentro, pois não há quem tenha recorrido ao auxílio dela e não tenha sido atendido. Nas grandes tempestades que a Igreja passou, ela sempre foi seu auxílio; nos combates contra todas as heresias, foi Nossa Senhora quem auxiliou a Igreja; contra os inimigos que se levantaram tentando destruir a fé do povo de Deus, foi o Auxílio da Mãe de Deus que não permitiu aos inimigos prevalecer contra a Igreja de Cristo. Ela, que tem muitos nomes, mas é uma única pessoa, continue a nos auxiliar nessa caminhada rumo à pátria definitiva, que é o Céu.

Wesley Paulo
Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/devocao/entenda-o-porque-do-titulo-de-nossa-senhora-auxiliadora/

Será que mudar de profissão pode ser um bom negócio?

A escolha de uma profissão e a construção de uma carreira nem sempre são ações definitivas

Sílvio Santos, um dos comunicadores de maior prestígio no Brasil, foi comerciante, antes de se tornar empresário no ramo da comunicação. Sebastião Salgado, fotógrafo conhecido mundialmente, deixou a profissão de economista para se dedicar a um universo que, antes, era apenas diversão na vida dele. Esses exemplos mostram que a escolha de uma profissão e a construção de uma carreira nem sempre são ações definitivas. Mudanças profissionais precisam acontecer para quem está insatisfeito e em busca de oportunidades. A grande dúvida, que incomoda as pessoas, é definir o momento certo de romper com o antigo e partir para um desafio incomum.

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

Especialistas em recursos humanos e gestão de pessoas aconselham o indivíduo a fazer uma avaliação da atual situação que enfrenta no trabalho. Caso perceba que parou de aprender e está mergulhado numa repetição de tarefas, sem evoluir e com baixas perspectivas de crescimento, então, é chegada a hora de ampliar os rumos, buscar uma nova atividade.

É preciso ação e vontade para escolher uma profissão

Sair da zona de conforto (em que o salário que recebe é suficiente para pagar as contas) e arriscar-se requer coragem. Há mitos que prendem a evolução como: "Eu não tenho mais idade para isso, não quero arrumar problemas para minha cabeça" ou "Para homem é mais difícil"… Ninguém melhor do que a pessoa que sofre para tomar essa decisão.

Enfrentar o incerto é mais prazeroso do que ficar na morosidade, fazendo as tarefas por obrigação, sem vontade de levantar da cama para ir ao trabalho. As consequências de não agir diante da insatisfação são o surgimento de doenças psicossomáticas, tarefas mal feitas e problemas de relacionamento no local de trabalho. A apatia desenvolvida passa a afetar também aos colegas e familiares.


A transformação começa quando a pessoa incomodada se conscientiza de que precisa fazer algo. O processo de tomada de decisão não é curto nem pode ser impulsivo. Buscar uma atividade complementar auxilia neste período. Paralelo ao trabalho fixo que desenvolve, procure fazer algo secundário. Vender doces, artesanatos, cosméticos, ser voluntário em alguma instituição são ações que ajudarão a se descobrir em outras habilidades.

Querer o melhor, ter prazer em fazer parte de uma equipe de sucesso não pode ser considerado um sonho inatingível. A mudança está em você, não nos outros. Existem infinitas opções para quem está disposto a trabalhar com afinco e responsabilidade. É preciso ação e vontade. Comece a se preparar.

Equipe de Formação Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/profissao/sera-que-mudar-de-profissao-pode-ser-um-bom-negocio/

Bebês “Reborn”: separar a fantasia da realidade

"Reborn" não significa renascido

"Fizeste-nos para Ti e inquieto está nosso coração enquanto não repousa em Ti". Estamos vivendo um tempo de verdadeira mudança de valores. Perdendo a direção no caminho que nos leva ao Céu. Por isso, de algum modo, Santo Agostinho conseguiu resumir bem, nesta frase, o que poderia sanar essa inquietude do coração humano. Descansar no Senhor.

Crédito: Freila / GettyImages

O que vemos, nestes últimos dias com o debate sobre a aquisição de bonecos hiper-realistas, chamados de "baby reborn", ou numa tradução livre "bebê renascido" não exprime realmente o significado da palavra "reborn", não se trata de renascimento, mesmo porque ninguém pode "renascer", a não ser renascer do alto, do Espírito Santo de Deus. Neste renascimento dado pelo Batismo, nós cristãos verdadeiramente professamos que cremos.

Um modo de tratamento para condições psicológicas

O termo diz respeito a um boneco de silicone hiper-realista, ou seja, que parece muito com bebês humanos. Muitas pessoas têm adquirido esses bonecos como modo de tratamento para condições psicológicas ou por apenas Hobbie.

Todavia, em alguns casos, podem manifestar também pontos de inquietude interior. Diante dessa realidade, o mercado procura dar uma resposta criando e oferecendo produtos como respostas. Desse modo, o amor presente em nosso coração não é direcionado para Deus nem para o próximo como nos pede o primeiro e o segundo Mandamento, mas para coisas efêmeras, passageiras e, para usarmos a linguagem atual, para as coisas artificiais.


Sim, estamos vivendo o período do artificial. E este tempo começou, de algum modo, há algumas décadas com o advento dos produtos industrializados, ditos com sabores, aromas e texturas artificiais. Agora, essa realidade, aos poucos, vai adentrando as relações humanas, principalmente devido ao advento das redes sociais que projeta também um "avatar" da sua personalidade.

Do desprezo pelo semelhante à exaltação de coisas

Ainda, estes "bebês" transportam para si uma carga de significado, dado por algumas pessoas, e que, anteriormente, era doado à pessoa humana. Ou seja, doação do tempo, cuidados especiais, sentimentos de pertença familiar etc. É claro que tem quem os trate como aquilo que de fato são, bonecos hiper-realistas. Eles podem sim ser adquiridos com o intuito do brincar, do laser, da distração, como se faz com qualquer brinquedo; e os que adquirem com o intuito de realizar o desejo de serem pais, buscam uma relação segura, sem frustrações, privando-se das exigências próprias da maternidade.

Do desprezo pelo semelhante

O que se questiona não é o fato disso ser tratado como tal, reconhecendo seu fim, seu propósito. A questão está no fato de darmos um estatuto humanístico para coisas que não são humanas. Ao passo que deixamos de defender a vida desde a sua concepção e favorecemos a sua interrupção, com leis a favor do aborto. Está no ponto do desprezo pelo semelhante e na exaltação de coisas. É quando o legislador civil deixa de se preocupar com situações difíceis da sociedade, como o combate à desigualdade social; a segurança pública; melhorar os recursos hospitalares para se dedicar a debater um estatuto e ou celebrações de coisas.

A escolha pelas coisas que edificam e exaltam a Deus

Estamos, realmente, inquietos, e somente descansaremos quando compreendermos que devemos direcionar nossas energias para as coisas eternas, para as coisas que nos salvam. Somente repousaremos dessas ambiguidades e dos conflitos interiores quando fizermos a escolha pelas coisas que edificam e exaltam a Deus primeiramente, a nós e ao próximo.

Somente repousaremos quando percebermos que esses bonecos de silicone, que possuem mecanismos sofisticados para realizar alguns movimentos, perderão as energias e se apagarão, enquanto a nossa alma, se repousa em Deus, jamais se apagará.

Pe. Jaelson Cerqueira Santos
Diocese de Teixeira de Freitas/Caravelas / Mestrando em Teologia Moral


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/bebes-reborn-separar-a-fantasia-da-realidade/

23 de maio de 2025

Leão XIV e o martírio nos dias de hoje

O martírio permanece uma realidade dolorosa e atual

O Papa Leão XIV, 267º sucessor de São Pedro – apóstolo martirizado durante a perseguição de Nero em 64 d.C. – assumiu o pontificado sob intensa atenção mundial, com olhares voltados para a tão aguardada fumaça branca. Sua eleição, como primeiro papa nascido nos Estados Unidos, despertou grande curiosidade sobre sua trajetória, especialmente sua experiência missionária no Peru. Imagens de sua vida, celebrações familiares e até momentos descontraídos viralizaram nas redes sociais. Entre esses registros, um vídeo se destacou. Durante uma homilia no Crisma, no Peru, Dom Robert Prevost abordou o significado do martírio nos dias atuais:

"Provavelmente, nenhum de nós será chamado ao derramamento de sangue. Não enfrentamos perseguições como nos primeiros séculos. Mas há outras formas de perseguição, como o escárnio. Muitos de vocês já ouviram de colegas ou familiares: 'Por que perder tempo com Igreja e religião? Os católicos são todos corruptos, narcisistas, mentirosos… Por que crer em Deus quando se pode viver uma vida cômoda, cheia de prazeres?' Isso também é perseguição. Receber o Crisma é declarar publicamente sua fé, assumir a maturidade cristã e estar disposto a viver – e até morrer – alegremente por sua vocação. Desde o batismo, somos chamados à fidelidade, ao seguimento de Jesus Cristo e à busca da vida eterna."

Créditos: Domínio Público.

Embora o martírio possa parecer algo do passado, ele permanece uma realidade dolorosa e atual. Pesquisadores ligados à Comissão Vaticana para análise de casos de martírio receberam mais de 20 mil relatos de todo o mundo, resultando em uma lista de 3.400 mártires apenas entre 1996 e 2000. O Papa Francisco enfatizou: "Hoje, temos mais mártires do que nos primeiros séculos".

"No passado, cristãos eram lançados às feras no Coliseu para entretenimento. Hoje, no anonimato e esquecimento, muitos ainda são mortos ou perseguidos enquanto rezam ou celebram missa. A disposição da alma, porém, é a mesma: ontem e hoje", afirmou o Papa Francisco em um discurso em 2018.


A perseguição religiosa, infelizmente, continua a crescer. Segundo dados recentes, a liberdade religiosa é gravemente violada em 61 países, com assassinatos e sequestros por causa da fé ocorrendo em ao menos 40 deles. Aproximadamente 62% da população mundial vive em locais onde há violações graves ou gravíssimas desse direito fundamental.

Ser cristão ainda custa a vida em muitos lugares do mundo

Atualmente, cristãos de 18 países enfrentam discriminação, prisão, deslocamento forçado e até assassinato. Segundo relatório da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre, esses países incluem: Arábia Saudita, Egito, Nicarágua, Burkina Faso, Nigéria, Moçambique, Turquia, Síria, Iraque, Irã, Paquistão, Índia, Coreia do Norte, China, Vietnã, Mianmar, Eritreia e Sudão.

A palavra "mártir" vem do grego martyria (μάρτυς), que significa "testemunha". No cristianismo, mártir é aquele que testemunha sua fé até as últimas consequências, mesmo diante da perseguição e da morte. Como diz o Evangelho:

"Sereis presos e perseguidos; sereis entregues às sinagogas e jogados na prisão; sereis levados diante de reis e governadores por causa do meu nome. Será uma ocasião para dardes testemunho. (…) Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. Alguns de vós matarão. Sereis odiados por todos, por causa do meu nome." (Lc 21,12-13.16-17)

O martírio, portanto, não é apenas uma memória histórica, mas uma realidade viva, que desafia e inspira os cristãos a permanecerem fiéis ao Evangelho, mesmo diante das adversidades do nosso tempo.

Rodrigo Luiz dos Santos
Missionário na Canção Nova, Rodrigo Luiz formou-se em Jornalismo pela Faculdade Canção Nova. É casado com Adelita Stoebel, também missionária na mesma comunidade. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/leao-xiv-e-o-martirio-nos-dias-de-hoje/

22 de maio de 2025

A importância do diálogo para o desenvolvimento do ser humano

Dialogar é o caminho da permanente construção da vida social, familiar e individual

A tarefa de construir o bem comum necessita, acima de tudo, de diálogo. Dialogar qualifica a capacidade humana de se dirigir ao outro, nas diferenças e nos parâmetros racionais das oposições. Permite também estabelecer uma relação com a lucidez de discernimentos e escolhas. Trata-se de prática que não oferece espaço para o ódio, vinganças e o aproveitamento espúrio de oportunidades para obter ganhos na contramão do bem comum. A ausência do diálogo permanente, em todas as esferas das relações humanas, explica o nascimento de descompassos, as mazelas de escolhas, os absurdos dos procedimentos que comprometem legalidades e produzem os leitos da corrupção.

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

Somente pela via do diálogo os muitos segmentos da sociedade construirão o tecido de uma cultura que sustente princípios e legalidades. As guerras, os acirramentos partidários, o recrudescimento da violência, os fundamentalismos – religiosos e políticos -, as inimizades, as crises familiares, tudo advém de incompetências humanas na essencial capacidade para dialogar. Uma qualidade fundamental para se escolher bem, decidir e garantir rumos adequados. Quando falta a indispensável competência da reciprocidade conquistada pelo diálogo, as consequências são sempre desastrosas.

A qualidade do diálogo

Só o diálogo constrói entendimentos que levam à compreensão das mudanças e transformações tão velozes neste tempo. A vivência desse exercício mostra a importância da participação cidadã. Garante lucidez na condução de processos e engradece a alma, fazendo-a apreciar o que se baseia no altruísmo. Sem a abertura para a reciprocidade nos exercícios relacionais em diferentes ambientes – do aconchego da vida familiar aos grupos religiosos, culturais e políticos -, o que se faz torna-se desserviço. Líderes incapacitados para o diálogo, particularmente no âmbito da política, são obstáculos nos funcionamentos da sociedade, prejudicando o bem comum.


O diálogo, longe de ser "conversa fiada", fofoca, palavras trocadas pelo simples gosto de falar – especialmente aquele gosto muito comum de se falar dos outros -, é a construção de entendimentos que dão suporte para a criação e manutenção do ethos do altruísmo, da seriedade no que se faz e da busca pela verdade. Promove, assim, a coragem da transparência, em todos os sentidos e níveis, balizando na honestidade relações e funcionamentos. A qualidade do diálogo depende muito da visão construída no horizonte dos cidadãos, para além de paixões partidárias. O exercício do diálogo alarga a visão de mundo do cidadão, os horizontes dos funcionamentos institucionais. Permite alcançar a compreensão que anima a indispensável autoestima, a consciência histórica e a configuração política merecedora de credibilidade. Nesse sentido, o diálogo é força para fazer com que a sociedade seja verdadeiramente democrática, capaz de respeitar e promover, com fecundidade, o bem comum.

O diálogo é remédio para curar irracionalidades

Dialogar é o caminho da permanente construção da vida social, familiar e individual. O diálogo é remédio para curar irracionalidades, tônico que fortalece entendimentos cidadãos, intervenção que alarga as estreitezas de interpretações. O princípio do bem comum é o que deve nortear a sociabilidade, superando, assim, radicalismos e violências. Para além de qualquer simples interesse, sobretudo daquele que nasce da idolatria do dinheiro, cada cidadão tem a tarefa de preservar e de promover esse princípio.

O respeito e a promoção do bem comum são deveres de todos. Por isso, ecoe em todo canto, e permeie os tecidos da cultura na sociedade atual, na particularidade do momento vivido na sociedade brasileira, a autoridade do convite e da recomendação do Papa Francisco, dirigindo-se aos brasileiros: é preciso investir todas as forças no diálogo para reconstruções, respeito a legalidades e encontro das indispensáveis saídas, evitando descompassos que comprometam a civilidade, a ordem e a justiça. Acima de tudo, os segmentos diversos da sociedade, para superar mediocridades, partidarismos, radicalismos de todo tipo, fecundando nova cultura, precisam estar em diálogo pelo bem comum.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/em-dialogo-pelo-bem/

21 de maio de 2025

Como se relacionar com Nossa Senhora no dia a dia?

Cada paróquia no Brasil tem um título de Nossa Senhora que ganha destaque na comunidade local. Quando se aproxima a festa relacionada a esse título mariano, a paróquia se mobiliza, faz novena, quermesse e celebra muito a festividade.

Nossa Senhora só está presente em nossa vida nesses momentos particulares? Somos fiéis devotos dela, mas só pedimos sua intercessão nas Missas celebrativas ou quando estamos com problemas a resolver? Não é esse o desejo de Deus ao nos dar Maria como Mãe, nem é o desejo dela ao nos assumir como filhos. Ela quer participar do nosso dia a dia, auxiliando-nos e fortalecendo-nos na caminhada até Deus.

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Trazer Nossa Senhora para perto

São Bernardo nos ensina que "nos perigos, nas angústias e dúvidas, devemos pensar em Maria, invocando-a". São Boaventura afirma: "Jamais li que algum santo não tivesse sido devoto especial da Santíssima Virgem". Na oração da Ladainha de Nossa Senhora, nós a chamamos de "auxílio dos cristãos". Sim, ela o é! Nossa Senhora é Auxiliadora!

No Evangelho de João 19,26-27, vemos que "Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse a ela: 'Mulher, eis o teu filho!'. Depois, disse ao discípulo: 'Eis a tua mãe!'. A partir daquela hora, o discípulo a acolheu no que era seu'".

Papa Francisco, ao meditar essa leitura, fala-nos: "Temos uma Mãe que está conosco, que nos protege, acompanha e ajuda também nos tempos difíceis, nos maus momentos".

A maternidade de Maria

Podemos encontrar um vasto conteúdo nos escritos dos Papas e Santos da Igreja mostrando-nos a real maternidade de Maria. A resposta de João às Palavras do Cristo na cruz nos mostra qual deve ser nossa postura ao acolher a Virgem Santa como Mãe: "A partir daquela hora, o discípulo a acolhe no que era seu". Esse é o centro do relacionamento materno entre Maria e seus filhos, não somente crer na maternidade, mas trazer Nossa Senhora para perto, colocá-la a par dos acontecimentos e sentimentos que, diariamente, compõem nossa vida, e para isso há um caminho eficaz: a oração.

Seja o Rosário, o Ofício, a Ladainha ou uma jaculatória que invoca a proteção da Santíssima Virgem, seja um momento longo ou um breve elevar da alma até o colo sublime da Mãe de Deus, o certo é que devemos seguir o exemplo de João e trazer Maria para tudo o que nos pertence. Apresentar a ela nossos conflitos e medos, nossas vitórias e projetos, e tê-la como Mãe é encontrar nela uma companheira para o dia a dia.

Muitas vezes, durante o meu dia, elevo meu coração a Maria. Além de rezar o Santo Terço, vou colocando-me nas mãos dela no decorrer das horas e dos fatos ocorridos. Quando estou realizando algum trabalho, para o qual não tenho muito domínio, vou pedindo a Maria que venha em meu auxílio. Quando vivo uma situação difícil, busco nela um apoio.


Mostra-te, Mãe

Na Carta Encíclica Adiutricem Populi, Papa Leão XIII fala de uma jaculatória simples, mas eficaz: "Mostra-te, Mãe". Ele convida os cristãos a invocar Maria nos acontecimentos do dia e pedir sua presença ou seu conselho.

Maria não somente quer nos acolher como filhos, como deseja nos acompanhar por toda nossa peregrinação aqui na Terra rumo à morada eterna.

Nos acontecimentos duros da vida, nos momentos de solidão e dor, alegria e realização, clamemos essa simples oração que nos ensina o Santo Padre: "Mostra-te, Mãe". Confiemos: aquela que acompanhou Jesus até o Calvário também nos acompanhará por todos os caminhos.

Equipe Formação Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/nossa-senhora/como-se-relacionar-com-nossa-senhora-no-dia-a-dia/

20 de maio de 2025

Igreja e Reino de Deus

O Concílio Vaticano II ensina que o Reino de Deus se identifica com a Igreja.
"A Igreja recebe a missão de anunciar e estabelecer em todas as gentes o Reino de Cristo e de Deus, e constitui ela própria na terra o germe e o início desse Reino" (LG, 5).

Portanto, Cristo fundou a Igreja sobre Pedro e os Apóstolos para que ela fosse a "semente" do Reino de Deus, que Ele veio inaugurar entre os homens. Sem a Igreja não pode haver, então, o Reino de Deus.
As próprias imagens são sinais que Jesus usou para revelar a Igreja, e mostram a sua natureza íntima e a sua missão.

Créditos: Imagem Gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

Na "plenitude dos tempos" (Gal 4,4), Deus enviou o seu Filho ao mundo para realizar o plano da salvação. Esta é a Missão de Jesus, porque o Pai quis "restaurar todas as coisas em Cristo" (Ef 1,10). Para cumprir a vontade do Pai, Jesus inaugurou na terra o Reino dos Céus, através da instituição da Igreja e do anúncio do Evangelho.

"A Igreja, diz o Concílio, reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo pelo poder de Deus…" (LG 3).

Note bem que com esta expressão o Concílio identifica a Igreja com o Reino de Cristo, já presente neste mundo em mistério.
Jesus iniciou a Igreja pregando a Boa Nova, a Boa Notícia, isto é, a "chegada do Reino de Deus" aos homens, prometido nas Escrituras havia séculos. "Os tempos estão cumpridos, e o Reino de Deus está iminente" (Mc 1,15).

Pela presença de Jesus, por suas palavras e por seus milagres, o Reino de Deus começa a surgir entre os homens.
"Mas, se Eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, é que chegou até vós o Reino de Deus" (Lc 11,20; Mt 12,28).

O germe e o começo do Reino é aquele "pequeno rebanho" que Jesus chamou para viver com Ele e dos quais se tornou Pastor.
"Não temas, pequeno rebanho, porque foi do agrado de nosso Pai dar-vos o Reino" (Lc 12,32).

É nesse "pequeno rebanho" de discípulos que surge a Igreja destinada a ser a "família de Deus" (Ef 2,20). Era a família de Jesus, que ele cuidou como o bom Pastor. "Eu sou o bom Pastor. Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem a mim" (Jo 10,14).

Ela é comparada pelo Senhor a um redil, cuja porta única e necessária é Cristo.
"Em verdade eu vos digo: eu sou a porta das ovelhas… Se alguém entrar por mim será salvo" (Jo 10,8-9).
A Igreja é o rebanho de Deus; Ele mesmo é o seu Pastor. Embora seja guiado por pastores humanos, no entanto, são conduzidos e alimentadas pelo próprio Cristo.

Equipe de Formação Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/doutrina/igreja-e-reino-de-deus/

18 de maio de 2025

Horizonte da Igreja

Caminho de Esperança

A Igreja Católica tem sempre um horizonte amplo e luminoso para nortear o seu caminho: o Evangelho de Jesus Cristo, seu mestre e senhor. O Evangelho desdobra-se em ensinamentos e doutrinas que fecundam a conduta dos discípulos e discípulas de Jesus, em lugares e culturas diferentes, com incidência na vida daqueles que se
encontram com Cristo.

Os parâmetros e os princípios do Evangelho se expressam, justamente, nas aptidões e carismas dos discípulos do Mestre, por meio de uma alegria que permanentemente se renova – importante força para curar o mundo de um grande mal: uma tristeza profunda, que se busca remediar, equivocadamente, por meio do consumo e da hegemonia do dinheiro. Consequentemente, a vida se fecha nos limites dos interesses egoístas, com a perda do entusiasmo para se fazer o bem. Os pobres tornam-se, cada vez mais, vítimas de indiferenças e se desconsidera o compromisso de se promover vida digna para todos.

Créditos: Imagem Gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

Neste contexto, a tarefa missionária da Igreja é especialmente essencial: promover o encontro pessoal com Jesus Cristo, caminho para se efetivar uma vida nova, cultivando a profética audácia de se investir na solidariedade e na fraternidade universal.

Renovar a fé

A alegria do Evangelho é fonte inesgotável de esperança. E o encontro com Jesus é o caminho para essa fonte. Por isso mesmo, é preciso multiplicar, em cada coração, a abertura para se aproximar de Jesus. A Igreja tem a tarefa primordial de promover o encontro de todos com o Mestre, ninguém pode se sentir excluído. A cada pessoa se
deve proporcionar a experiência e o sabor da misericórdia de Deus, sem discriminações ou preconceitos. Neste horizonte, reconheça-se que o cristão tem identidade pascal, isto é, modela-se pela alegria de poder seguir Jesus. Uma alegria diferente, muito diferente daquela gestada pela técnica, de vários modos e com força de sedução, de atratividade.

A alegria irradiada do Evangelho converte-se em força espiritual com capacidade de sustentar as muitas labutas da vida. Genuinamente revela-se na alegria que brota no coração dos pobres. Uma alegria tão intensa que transborda – quem a experimenta busca partilhá-la com o semelhante, assume o compromisso de testemunhar a verdade e passa a priorizar o bem de cada irmão e irmã.


No horizonte amplo e luminoso do Evangelho, compreende-se que a vida vivida na doação se fortalece. Um antídoto ao comodismo, ao isolamento e à maledicência. E quem integra a Igreja deve partilhar o compromisso evangelizador – anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo para proporcionar, a todos, a alegria que vem da fé. Trata-se do primeiro compromisso da Igreja: renovar o frescor do Evangelho de Jesus Cristo por um anúncio com força de atração e de convencimento. Esse anúncio não é tarefa individual, mas vivido na comunidade de fé, sobre os pilares da comunhão e da participação, fontes perenes para o vigor missionário.  Um chamado à nova evangelização para uma
autêntica e frutuosa transmissão da fé.

A Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração, isto é, pela força da autenticidade do testemunho de seus evangelizadores, por uma conduta exemplar, capaz de conquistar autoridade moral e espiritual. No mundo contemporâneo permanece o desafio de ser uma "Igreja em saída", o que vai além da eficiência organizacional.

Evangelho e vida

"Igreja em saída" é a Igreja cada vez mais próxima de todos, para acompanhar, ajudar a frutificar e a celebrar a existência de cada um. É especialmente dever da Igreja testemunhar a misericórdia que acolhe, cura e reconcilia, reconhecendo que o próximo é o mais importante.

Ser comunidade missionária significa ir ao encontro do semelhante, encurtando distâncias, abaixando-se, até a humilhação se for necessário, para buscar curar a carne sofredora do povo. Significa cuidar do "trigo" e não perder a paz em razão do "joio". Há, pois, uma constante necessidade de conversão eclesial, o que exige cultivar abertura
para uma permanente reforma, para não se correr o risco de emperrar, viver retrocessos.

A Igreja é permanentemente peregrina, condição que a convoca a rever sempre funcionamentos e estruturas.  Por isso mesmo, a comunidade eclesial aceita o desafio de uma renovação permanente e inadiável, não permitindo caducidades distantes da autenticidade do Evangelho. Não se pode privilegiar caricaturas e disputas pelo poder,
emolduradas por mentiras e fofocas. A renovação da Igreja está encarnada em limitações humanas que podem ser vencidas voltando-se ao núcleo do Evangelho de Jesus, superando a alimentação de moralismos e da rigidez que são obras demoníacas.

Igreja: Misericórdia e Missão

O Evangelho ensina a misericórdia e a paciência, a priorizar o bem de cada pessoa. Assim, a Igreja é mãe de coração aberto, portas abertas a todos, sem triunfalismos ou discriminações. Dignos de privilégios são os pobres, os doentes, os desprezados e os esquecidos, respeitando o indissolúvel vínculo entre a fé cristã e o compromisso com os
que sofrem.  Conhece-se a recomendação que deve continuar a ecoar e a definir a conduta eclesial: é preferível uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento, na comodidade de agarrar-se às seguranças.

Também não se deve ser Igreja emaranhada nas obsessões, nos procedimentos. Mais que o medo de falhar, a comunidade eclesial deve dedicar atenção ao risco de encerrar-se nas estruturas que dão falsa proteção. O desafio é reavivar sempre a dimensão missionária, derrubando muros, construindo pontes.

A Igreja é humilde detentora de um arcabouço moral e relacional que lhe possibilita intermediar conflitos, defender os pobres e ser voz profética promotora da paz. Não se pode fugir do compromisso inadiável de renovação eclesial, criando condições efetivas para evangelizar no mundo contemporâneo. Resta seguir em frente a partir do coração
do Evangelho – o horizonte sempre novo e interpelante da Igreja, compromisso inadiável e insubstituível de todos os cristãos, sinal incontestável de fidelidade às lições do Mestre.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/biblia/horizonte-da-igreja/

16 de maio de 2025

Na sociedade dos perfeitos, tem lugar para o imperfeito?

Na sociedade dos perfeitos, ser imperfeito está fora de moda. Ao ligarmos a televisão ou acessarmos a internet, encontramos protótipos de pessoas perfeitas. Seres humanos imperfeitos maquiados com aparência sagrada. Uma forte tendência dos tempos atuais é a exigência de que o outro seja perfeito. Essa marca de nossa época vem disfarçada com o nome de "falta de paciência": "Não tenho paciência com as pessoas de minha família", "Sou extremamente impaciente com meus colegas de trabalho", "Meus pais não são do jeito que eu quero"… Frases como essas são mais comuns do que ousamos imaginar.

Exige-se a perfeição do outro a qualquer custo. Pessoas que se consideram perfeitas exigem que seus irmãos e irmãs também o sejam. Caso isso não ocorra, as brigas e decepções acontecem em níveis agressivos.

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

O julgamento vem embrulhado em presentes perfeitos

No tempo de Jesus não era diferente. Os fariseus, escribas e mestres da Lei, responsáveis pelo cuidado do templo e, consequentemente, pela formação religiosa do povo, consideravam-se perfeitos. Julgavam ter atingido um grau de plenitude tal, que se achavam no direito de catalogar as impurezas do povo de acordo com normas e critérios religiosos que oprimiam o ser humano.

Jesus percebeu a hipocrisia contida nos gestos e nas atitudes desses pretensos perfeitos. Estes exigiam que os fiéis carregassem pesados fardos e cumprissem normas que beneficiavam apenas a eles próprios. Aqueles que exigem perfeição dos outros se esquecem de que também são imperfeitos. Muitas vezes, exigem algo que nem eles próprios conseguem cumprir. Ocupam, inconscientemente, o lugar de Deus. Tornam-se juízes: julgam, condenam e decretam a sentença. O outro, raras vezes, tem a chance de defesa, tendo em vista que, na maioria dos casos, o julgamento vem embrulhado em presentes perfeitos.

Humildade

Quando falamos de imperfeição, entramos em contato com nossas próprias imperfeições. Esbarramos em nossos próprios limites e falhas. Uma atitude farisaica descarta a imperfeição e se reconhece canonizado. Os grandes santos nunca se consideraram santos em vida. O que os tornou santos foi a humildade com que se revestiram. Reconciliados com sua própria humanidade, estes homens e mulheres que hoje são venerados nos altares, transformaram as imperfeições em degraus para a santidade. No pecado que estava impresso em seu DNA humano, eles se revestiram da força de Cristo. Viram no Mestre o caminho para a humildade, o serviço e a doação ao próximo.


Respeitar o processo de caminhada de cada pessoa é fundamental para quem deseja construir, hoje, seu caminho de santidade. Quem não aprendeu a respeitar as imperfeições do outro dificilmente irá conhecer o caminho da humildade que o guiará à paz interior.

Jesus compreendia as imperfeições humanas. Ele sabia que a natureza que nos reveste precisava ser purificada não por rituais de exclusão, mas sim por rituais de inclusão. Cristo incluía no Seu amor os excluídos do amor dos outros.

Somente quem compreendeu que tão imperfeito quanto o outro é ele mesmo, descobriu o caminho para o amor e a santidade manifestada no cotidiano dos sentimentos.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/na-sociedade-dos-perfeitos-tem-lugar-para-o-imperfeito/

15 de maio de 2025

Liberdade de pensamento: valores em conflito

Liberdade de pensamento: um direito a ser exercido com sabedoria e responsabilidade

A liberdade de pensamento é uma garantia fundamental, assegurada no inciso quarto do artigo quinto da Constituição Federal de 1988, é aspecto basilar do Estado Democrático de Direito e aspecto intrínseco da vida em sociedade.

Crédito: arquivo do autor/cancaonova.com

Uma conquista histórica

A data de 14 de julho foi instituída em memória do início da Revolução Francesa, iniciada em 14 de julho de 1789, a qual originou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que, por sua vez, foi base da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Esta última trata em seu XVIII da liberdade de pensamento: "todas as pessoas têm direito à liberdade de pensamento, consciência e religião".

Vivemos tempos em que a liberdade de pensamento é tão natural, e praticada de forma tão irrestrita, que nem nos damos conta de sua existência ou de sua importância. Ela é facilmente confundida com a liberdade de expressão, com a qual tem íntima relação. Entretanto, enquanto a liberdade de expressão diz respeito ao direito de manifestar opinião e se expressar a respeito daquilo que pensa e crê, a liberdade de pensamento é relacionada à liberdade de consciência, de credo, de poder adotar qualquer ideologia ou crença.

Em outro momento da história, em especial antes dos estados regidos por constituições, soberanos detinham o poder de ditar os princípios e valores pelos quais seus súditos deveriam viver. Isso é fácil de ser notado, por exemplo, no episódio narrado em Daniel 6.22, no qual o profeta é lançado na cova dos leões por recusar-se a contrariar seus princípios de fé para obedecer a um decreto.

Enxergando a mundo a partir de valores cristãos

Não há nas Sagradas Escrituras texto que melhor retrata essa liberdade do que o icônico ensinamento de São Paulo em 1ª Coríntios 6,12: "Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. Tudo me é permitido, mas eu não me deixarei dominar por coisa alguma". Temos a liberdade de pensar e dizer aquilo que quisermos, contudo, essa liberdade é balizada pelos valores que escolhemos.


Aquilo que é denominado pelos teóricos como cosmovisão ou a lente moral com a qual percebemos a existência e interpretamos os eventos que nela ocorrem, é baseada no conjunto de valores, enraizado em nossa fé e princípios. São Paulo trata a respeito disso na Epístola aos Romanos 12,2: "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito".

Os valores cristãos em conflito com o secularismo

Os valores íntimos à fé estarão sempre em conflito com o secularismo, pois este segundo não tem cuidado pelo bom ou o justo, mas, antes, quer aliviar a consciência daqueles que vivem distantes de Deus e não querem que seu pecado venha à luz. O Apóstolo Paulo exorta duramente a respeito disso em 2 Coríntios 4,4: "Para os incrédulos, cujas inteligências o deus deste mundo obcecou a tal ponto que não percebem a luz do Evangelho, onde resplandece a glória de Cristo, que é a imagem de Deus".

A responsabilidade no uso da liberdade

São Tiago, em sua epístola, no capítulo três, discorre sobre quão devastadora pode ser a inconsequência no uso dessa liberdade quando escolhemos, de maneira temerária, nossos valores, nossas palavras se tornam fonte de destruição, o autor compara a língua, que é um membro pequeno do corpo, a uma pequena chama, que é capaz de causar um grande incêndio em um bosque.

Portanto devemos ter consciência de que hoje podendo usufruir desta liberdade, salvaguardados por garantias, devemos fazê-lo com responsabilidade, escolhendo viver de acordo com a vontade de Deus e manifestando isso em nossos gestos e palavras.

Jonatas Passos –  natural de Cruzeiro (SP), marido, pai e colaborador da Fundação João Paulo II. Formado em Tecnologia, Informática e História. Pós-Graduado em Jornalismo e História do Brasil, com extensão em História da Religião.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/liberdade-pensamento-valores/

13 de maio de 2025

Maternidade: um trabalho oculto, uma missão divina

Tecendo o futuro com fé e amor

Ser Mãe, no tocante aos aspectos humanos tudo muda quando nos tornamos uma, as prioridades, as necessidades, o tempo, enfim, tudo o que implica de modo geral.

Créditos: Acervo pessoal.

Quando nasce um filho, é um serzinho que depende em tudo da mãe: alimentação, a troca de fraldas, e todos os cuidados próprios precisam ser voltados ao bebê. Também requer zelar pela educação de modo a ensinar para imprimir os valores humanos e familiares, é ser como uma bússola para conduzi-lo a beleza da vida, ao que é bom e virtuoso.

A missão da mãe

Ser mãe é receber de Deus uma missão grandiosa e bela, uma tarefa que exige contínua entrega responsável. No entanto, somos as protagonistas e não devemos delegar essa função a ninguém, pois a maternidade nos foi confiada por Deus e, precisaremos entregá-los a Ele um dia, porque os filhos não nos pertencem. Por isso, o nosso olhar deve estar atento a tudo que busca relativizar o trabalho de uma mãe tirando a importância dessa tarefa.

A minha oração toda manhã, antes de levantar, é para que o Senhor me ajude a educar meus filhos na Sua vontade e no Seu desígnio. Não deixar errar, para que eu não me desvie e nem negligencie a Sua vontade na vida dos meus filhos. À noite, antes de dormir, no exame de consciência, busco rever meus erros para tentar ser melhor no dia seguinte. É exigente, mas faz parte da missão da maternidade.

A educação dos filhos

Nunca será uma tarefa fácil, e esta frase ajuda a expressar isso: "Se está tudo muito tranquilo na educação dos filhos, provavelmente não estou sendo uma boa mãe." Porém, maior é a gratificação em ser testemunha dos filhos, ao vê-los crescendo e fazendo as suas escolhas, tomando as decisões e que na maioria das vezes corresponde ao objetivo da formação recebida pelos pais.


Cada atitude, gestos, silêncio, orações, se dá no anonimato e quase ninguém vê, mas a mãe está presente, desempenhando o seu papel na educação e conduzindo sempre os filhos que precisam da presença materna. 

É gratificante recordar os anos que passaram e perceber que, embora tudo tenha exigido sacrifícios, valeu a pena. Isso confirma que o empenho produz bons frutos, colhidos ao longo da vida de cada filho e de toda a família. A maternidade fortalece, purifica e vamos descobrindo uma força interior inexplicável que jamais imaginamos ter.

A gratidão a Deus pelos filhos

Numa família numerosa, os filhos têm idades variadas, jovens, adolescentes, crianças e bebês. São realidades que requerem uma pedagogia com abordagem própria para cada um, pois são temperamentos diferentes que se manifestam nos traços psicológicos e morais que determinam a índole, o modo de ser ou agir no mundo. Isso revela o quanto as mães precisam ser habilidosas na missão confiada.

É um privilégio que deve encher os corações de todas as mães de gratidão a Deus a cada dia por nos permitir viver essa jornada que nos faz melhores e mais próximas d'Ele.

Feliz Dia das Mães, amadas de Deus! Que, a exemplo de Nossa Senhora, possamos ajudar nossos filhos a serem fiéis à missão que Deus lhes confiou.

Andréia Cristina,
Nasceu em Curitiba, tem 46 anos, e é membro da Comunidade Canção Nova há 25 anos. É casada com o também missionário Marcelo Tel, há 20 anos e tem 7 filhos. Formada em Marketing e Pós Graduada em Ciência da Família, dedica sua vida às responsabilidades de esposa e mãe, missionária e à ajuda a outras famílias através da formação, palestras, atendimentos e aconselhamentos.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/maternidade-um-trabalho-oculto-uma-missao-divina/

12 de maio de 2025

Semeaduras de Francisco

A cativante simplicidade do Papa Francisco

Os ecos do fecundo pontificado do Papa Francisco chamam a atenção do mundo – foram 12 anos com números impressionantes, que contemplam suas visitas a múltiplas realidades, publicações de documentos oficiais, audiências importantes, gestos inspiradores, convocação de assembleias e tantas outras realizações.

Créditos: Domínio Público

Um tempo novo e bonito iniciado por Francisco que, ao ser eleito, tinha 76 anos. Já se organizava para viver a emeritude quando assumiu o ministério de Papa. Um ciclo se abriu na sua vida e na história da Igreja. Seu sorriso largo e aberto surpreendeu, expressando a riqueza da simplicidade e da proximidade que encantaram o mundo. Não só encantaram, tornaram-se paradigma de uma Igreja pobre para os pobres. 

Merece atenção e análises, a partir da observação de dados, a repercussão de sua morte, que causou comoção e revelou preciosidades sobre as semeaduras de Francisco. Seus gestos, seu jeito de ser, têm força de atração e de agregação. Cativaram pessoas dos mais diversificados perfis, com um tom de universalidade, rompendo fronteiras, oferecendo elementos fortes de compreensão da fé e do viver humano.

A rica herança de seu pontificado

Francisco inaugurou um jeito de ser autenticado pelos valores e parâmetros do Evangelho de seu Mestre e Senhor, Jesus, consolidando-se como discípulo exemplar. Uma inspiração tão singular que permite a cada pessoa compor e registrar a sua crônica sobre Francisco. Tornou-se modelo para os demais evangelizadores na Igreja Católica, com atitudes marcadas por determinação e leveza, corajosamente indo ao encontro de todos, em diferentes circunstâncias, especialmente ao encontro dos últimos e dos esquecidos da terra.

Um modelo existencial que ganha, cada vez mais, uma força profética, com propriedades para inibir qualquer tipo de pompa, desde as litúrgicas, incluindo aquelas marcadas pela indiferença e soberba. Francisco, com a sua vida, ensinou um jeito de ser que acolhe todos, sem distinção, privilegiando os fracos e os pobres. Um privilégio sem nenhuma conotação de discriminação. Ao contrário, as atitudes de Francisco inspiram a inclusão de todos, "uma Igreja para todos, todos, todos", conforme costumava dizer.

A rica herança do pontificado de Francisco desconcerta ao exigir coerência daqueles que o admiram e o exaltam como referência. Uma coerência evangélica que não permite o risco de adotar apenas uma parte de sua herança – a admiração por Francisco não abre possibilidade para simplesmente eleger uma atitude, uma postura, um modo de pensar, desconsiderando as outras lições do Pontífice.

Exige uma constante busca pelo selo de autenticidade da fé cristã, fortalecendo-se pela admiração cultivada por Francisco, que habilmente expressou a força da profecia e da simplicidade, aquela que não deixa morrer a gratidão, a capacidade para perdoar e para reconciliar-se. Sua liberdade interior, ancorada na sua experiência de fé, impulsionada por sua formação jesuítica e fecundada pelas singularidades de seu pastoreio – consagrado na Igreja a serviço do Povo de Deus – projeta luzes na inegociável coerência entre o que se faz e o que se fala.

Sua voz continua a ecoar, sendo um exemplo para todos

A semeadura de Francisco contempla a devoção mariana, razão de sua determinação de ter seu sepulcro na casa da Mãe Maria, no antiquíssimo Santuário Mariano de Santa Maria Maior. Inclui as complexas abordagens sobre ecologia integral, com reflexões sobre os mais recentes avanços científicos e tecnológicos. O Pontífice, em sua semeadura, prioritariamente dedicou-se a ensinar sobre a leveza e a força transformadora do Evangelho de Jesus, iluminando o compromisso urgente da paz mundial.


Sua voz, certamente, continua a ecoar, interpelando o mundo. E qualquer pessoa, ao expressar sua admiração por Francisco, se submete imediatamente a um juízo. Fazem com que olhares busquem checar seu fiel compromisso com a verdade, com a justiça, sem, absolutamente, descurar do inerente cultivo da misericórdia. Um compromisso que se efetiva no respeito à dignidade de toda pessoa, através do perdão e da reconciliação, sem direito a guardar mágoas, rancores e ingratidão. A abrangência do testemunho de Francisco causou incômodo em alguns e, lamentavelmente, até oposição, mas é semeadura tão rica que estreita qualquer possibilidade de ser erradicada.

O mundo é o campo da semeadura de Francisco

A Igreja Católica contemporânea tem, pois, um vasto campo semeado a cuidar para favorecer a floração e a colheita dos frutos. O mundo é o campo da semeadura de Francisco, pela indicação de caminhos para diálogos respeitosos, articulando os que divergem uns dos outros, na religião, na política, na cultura, no campo socioambiental. O carisma de Francisco promoveu marcas que não permitem guardá-lo em um tempo passado.

As marcas deixadas por seu pontificado desafiam a Igreja e a sociedade a investirem nas atitudes e nas escolhas coerentes com as lições do Papa Francisco. A herança do Pontífice é tão forte que não admite posturas disruptivas – é preciso avançar a partir de sua semeadura, sob pena de perdas grandes e irreparáveis, retrocessos capazes de esvaziar a beleza da simplicidade evangélica.

O horizonte inspirador do pontificado de Francisco tornou-se modelo por ser coerente com o Evangelho. Na sólida base formada pela fé cristã e pela tradição da Igreja, conta muito a atenção amorosa e humilde à semeadura de Francisco. Agora é hora decisiva na Igreja, para adequados discernimentos: o horizonte é o da espiritualidade orante, em obediência ao Espírito Santo.

Todos unidos na esperança por semeaduras qualificadas, exemplares como as de Francisco. Seus sapatos surrados, suas vestes simples, seus hábitos humildes, sua moradia, sua proximidade, seus ensinamentos interpelantes, sua abertura dialogal, sua espontaneidade, sua fidelidade evangélica, seu amor aos pobres, sua profecia audaciosa, sua liberdade interior e desapego exemplares, de homem pobre, emoldurem as novas semeaduras exigidas pelo mundo contemporâneo, capazes de ajudar a humanidade a aproximar-se do Reino de Deus. Floresçam as semeaduras de Francisco.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/semeaduras-de-francisco/