9 de maio de 2025

Origem, constituição, finalidade e a resposta dos fiéis em torno da figura do Papa

A gênese do Papado

Ao contemplarmos a figura do Romano Pontífice, urge abordá-la sob uma tríplice ótica: a da sua origem ontológica, a da sua constituição sacramental e institucional, e, por fim, a da sua finalidade salvífica, sem deixar de considerar a atitude que os fiéis são chamados a assumir diante desta realidade teológica e eclesial singularíssima que denominamos de Papado.

Créditos: Domínio Público

A gênese do Papado radica-se na própria economia salvífica revelada em Cristo Jesus. A Igreja, em sua essência, não é um construto humano ou uma invenção institucional, mas uma realidade teândrica, concebida pelo Verbo encarnado como extensão sacramental de Sua presença no tempo. São Paulo, na Primeira Carta aos Coríntios (1Cor 12,27), é taxativo: "Vós sois o corpo de Cristo e, individualmente, seus membros". Ora, todo corpo supõe uma cabeça, e essa Cabeça, conforme escreve o mesmo Apóstolo em Ef 5,23, é o próprio Cristo. A Igreja nasce do lado aberto do Crucificado, como nova Eva, esposa imaculada do Cordeiro, e é dotada de uma estrutura visível para tornar presente, na história, o governo invisível do Senhor Ressuscitado.

A escolha de Pedro

Assim como o corpo físico não subsiste sem sua cabeça, também o Corpo Místico necessita de um princípio visível de unidade e direção. Foi, pois, o próprio Cristo quem instituiu a autoridade apostólica e, de maneira singular, confiou a Simão Pedro um primado peculiar: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16,18). Desde então, mediante uma sucessão histórica ininterrupta, a mais antiga e estável da civilização, a cátedra de Pedro foi ocupada por homens chamados a representar na terra a autoridade pastoral de Cristo, Cabeça invisível da Igreja.

A escolha de Pedro, e de seus sucessores, é, portanto, expressão da vontade sapientíssima do Redentor, que, no tempo e na carne, estabeleceu um sinal perene de sua solicitude para com o rebanho.

A autoridade Papal

Quanto à constituição da autoridade papal, cumpre distinguir entre o poder meramente humano, de base consensual e sustentado por pactos sociais e, o poder conferido sobrenaturalmente, isto é, aquele que provém da instituição divina. Enquanto os poderes civis se fundamentam na aceitação coletiva e na legitimidade formal das
instituições, o Papado se funda na intervenção do Espírito Santo, que, mediante a eleição válida pelos Cardeais e a livre aceitação do eleito, faz surgir um novo Sucessor de Pedro com uma missão ontológica e espiritual: ser o Vigário de Cristo.

Não é, pois, o consenso popular, a estima dos meios de comunicação ou a simpatia de correntes ideológicas que conferem autoridade ao Papa, mas o próprio Deus, que, pela ação do Espírito Paráclito, o investe com as "chaves do Reino" (cf. Mt 16,19). Essas chaves, invisíveis aos olhos carnais, mas eficazes no plano espiritual, são o sinal sacramental do poder de "ligar e desligar" na terra com consequências eternas. Todo influxo de graça que se derrama sobre o mundo, ainda que de forma oculta ou misteriosa, passa, de alguma maneira, pelo ministério petrino.

Mesmo aqueles que, alheios à fé católica, ignoram sua existência, não estão fora da órbita de influência das
chaves de Pedro. Trata-se de um poder espiritual garantido pela Palavra de Deus, Palavra viva e pessoal no Cristo encarnado, que, por ser Deus, não pode mentir nem nos enganar.

A finalidade do Papado

No que concerne à finalidade do Papado, importa afirmar com veemência que a Igreja não é uma agência filantrópica, tampouco uma organização não-governamental com fins meramente sociais. Como afirmou o Papa Francisco, em audiência geral de 23 de outubro de 2013: "A Igreja não é uma loja, nem uma agência humanitária; a Igreja não é uma ONG, mas é enviada a levar a todos Cristo e o seu Evangelho." A missão da Igreja é, essencialmente, salvífica. Ela existe para conduzir os homens à vida eterna, a qual não consiste numa sucessão de confortos terrenos, mas na participação da vida divina.

Nosso Senhor afirma em Jo 10,10: "Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância". Ora, essa vida abundante não se confunde com prosperidade material, ausência de sofrimento ou realização plena de desejos terrenos. A verdadeira abundância é a presença operante do Espírito Santo no coração do fiel, fazendo-o
caminhar como filho da luz e amigo de Deus. A cruz, não o conforto, foi o destino último do Verbo encarnado neste mundo, pois, "as raposas têm suas tocas, e as aves do céu, seus ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça" (cf. Mt 8,20). O Filho do Homem reclina a sua cabeça no Coração do Pai. Por isso, a missão do
Papa é guiar os fiéis nesta peregrinação interior rumo à vida da graça, oferecendo-lhes o discernimento da fé reta e da conduta moral conforme o Evangelho.

A tarefa do Papa

Em outras palavras, o Papa é o garante visível da ortodoxia e da ortopraxia. Sua tarefa é confirmar os irmãos na fé (cf. Lc 22,32), como Cristo mesmo rogou por Pedro. A ele compete preservar o depósito da fé, proteger a Tradição apostólica e orientar o povo de Deus nos caminhos da verdade. Ao mesmo tempo, secundariamente, seu ministério não se limita ao espiritual, mas alcança o temporal, ele dialoga com líderes, percorre nações, atua com diplomacia, tudo isso, não para ampliar poder político, mas para semear o Evangelho em todos os cantos do mundo (cf. Mc 16,15).


Para isso, utiliza tanto os meios espirituais como os recursos diplomáticos e institucionais, dialogando com autoridades temporais, líderes de outras religiões e organismos internacionais, sempre na tentativa de irradiar a luz do Evangelho nos meandros da história. Em sua pessoa, limitada e contingente como qualquer homem, habita uma missão providencial, confiada por Cristo para cada tempo e circunstância. Como escreveu São Paulo aos Colossenses (1,18): "Ele é a cabeça do corpo, que é a Igreja. É o princípio, o primogênito dentre os mortos, para em tudo ter a primazia". O Papa é, por assim dizer, a epifania da cabeça de Cristo no tecido histórico e visível da Igreja.

Atitude do fiéis para com o Pontífice

Uma vez compreendidas a origem, a constituição e a finalidade do Papado, resta-nos considerar qual deve ser a atitude dos fiéis diante desta instituição. A resposta mais lúcida vem do próprio São Paulo, ao censurar a atitude facciosa dos coríntios: "Eu sou de Paulo, eu de Apolo, eu de Cefas…" (1Cor 1,12). Não é admissível reduzir a pertença à Igreja a um apego pessoal a este ou àquele Pontífice. A Igreja é de Cristo. O Papa, seja ele quem for, é apenas servo da vinha, instrumento de uma obra que o transcende. Ele passa, Cristo permanece. Por isso, nossa atitude para com o Pontífice deve ser de veneração respeitosa, jamais de idolatria ou desprezo.

Venerar o Papa significa amá-lo, rezar por ele, obedecer-lhe na fé e escutá-lo com o espírito de filhos atentos, não segundo os filtros de nossas preferências ideológicas, mas dentro de uma hermenêutica de continuidade com o depósito da fé. O Romano Pontífice não é um mero líder de opinião; é o Pai espiritual de todos os fiéis, com a autoridade e o poder que derivam do próprio Cristo. Rejeitá-lo equivale a ferir o princípio de unidade querido por Nosso Senhor. Por isso, antes de murmurar contra ele, rezemos. Antes de julgá-lo, escutemo-lo. E antes de interpretá-lo, estudemos seus ensinamentos à luz da Tradição viva da Igreja. Assim seremos Católicos verdadeiros:
fiéis à rocha sobre a qual Cristo edificou sua Igreja. Amém.

Padre Leandro Rodrigues dos Santos
Arquidiocese de Curitiba
Mestrando em teologia na Universidade Salesiana de Roma


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/origem-constituicao-finalidade-e-a-resposta-dos-fieis-em-torno-da-figura-do-papa/

0 Comentários

Nenhum comentário: