9 de setembro de 2025

Santa Teresinha e os tempos da modernidade

A simplicidade que salva

Sem dúvida, Santa Teresinha está entre os santos que mais despertam a devoção na Igreja hoje em dia. Mas os santos não são tanto para serem admirados e vistos como milagreiros; mais que isso, eles foram elevados aos altares para serem imitados.

O sentido da vida segundo Santa Teresinha do Menino Jesus

Créditos: Domínio Público.

Nesse mundo secularizado – onde o sagrado tem pouco valor diante das realidades de uma época marcada pela correria de quem não tem tempo a perder e pela superficialidade do homem tecnológico, um mundo que modela no homem uma personalidade sentimentalista, individualista, hedonista e com tanto outros "ismos" –, Santa Teresinha, de dentro de sua clausura do final do século XIX, tem alguma coisa a nos dizer hoje?

A espiritualidade de Teresinha é um caminho cotidiano de salvação. Ela propõe que todos os gestos, por mais simples que sejam, se forem feitos com amor, têm valor redentor: "Apanhar um alfinete por amor pode converter uma alma. Que grande mistério!". Só Jesus pode dar um valor tão grande às nossas ações.

 Amor no dia a dia

Por isso sua proposta é perfeita para nós hoje: a santidade não se resume a gestos de piedade e longos tempos dedicados ao sagrado, mas pode ser encontrada na correria da vida do mundo. Perfeito! Sim, na correria do dia a dia, se cada coisa for feita com amor, tem valor de eternidade, porque traz a presença de Deus para aquela situação.

Aliás, é um remédio para o mal da pós-modernidade: a depressão, porque, se cada coisa da vida ganha significado pelo amor, nada será mera repetição maçante de atos, mas tudo será sempre novidade, porque o amor traz o brilho do novo para as coisas da vida.


O último lugar que se transforma em vitória

Individualismo, solidão e competitividade são tendências que atraem o homem de hoje. Estamos ligados no mundo, mas sempre isolados numa telinha de celular ou telona de TV. E quando saímos daí, é para competir em lucro, poder, beleza física; enfim, todos querem o sucesso.

Nisso Teresinha era muito diferente de nós, não porque não tinha a telinha ou a telona, e sim porque vivia de amor, e o amor é sempre atual. Amante do último lugar, o único pódio pelo qual competia, e vivendo sob a leveza do escondimento, Teresinha em tudo queria fazer o bem: "Só o amor me atrai".

Nem o sucesso da santidade ela queria: "Não se deve trabalhar para tornar-se santa, mas para dar prazer ao Senhor". Sua meta era realmente partilhar o bem, e por isso surpreendeu até os santos, que querem o céu como seu troféu, ao dizer que queria passar o céu fazendo o bem na terra.

Alegria das irmãs durante os recreios, ela sabia ser agradável, viver em comunidade e partilhar de tal maneira que podemos aplicar a ela a frase do místico alemão Johann Tauler (séc. XIV): "Se eu amar o bem que está no meu próximo, mais do que ele mesmo o ama, esse bem me pertence mais do que a ele".

Mas Teresinha não seria hoje uma mestra somente através de seus bons exemplos. Por meio de sua doutrina da pequena via, ela daria duros remédios a nós, que gostamos de conforto e guloseimas. Ela diz que "um dia sem sofrimento é um dia perdido". Sem dúvida, Santa Teresinha tem muito a nos ensinar no caminho necessário da ascese e penitência.

Valores perenes para tempos voláteis

Ela não nos convida a fazer coisas exorbitantes, tão distantes do nosso padrão de bem-estar, mas coisas simples, como ela mesma fazia: durante as refeições, não se recostar ao encosto confortável da cadeira. Coisas realmente tão simples quanto possíveis.

Mas talvez a lição mais dura que ela tem a nos dar seja sua convicção de que o amor não é sentimento ou emoção, mas decisão da vontade. Verdade difícil num mundo em que os relacionamentos são tão superficiais e a capacidade de se comprometer tão volátil, que casamento se faz por união afetiva e religião se escolhe pela medida de boas sensações e retribuições divinas.

Teresinha é um daqueles santos que ultrapassam o seu tempo, porque sua vida e seus ensinamentos comunicam valores perenes. Especialmente ela, que soube reconhecer os sinais dos tempos e, com consistência e profundidade, tem uma profecia atual, merece realmente o título de "a maior santa dos tempos modernos", como a chamou São Pio X (1835-1914).



André Botelho

André L. Botelho de Andrade é casado e pai de três filhos. Com formação em Teologia e Filosofia Tomista, Andrade é fundador e moderador geral da comunidade católica Pantokrator, à qual se dedica integralmente.
http://www.pantokrator.org.br

Contato: http://facebook.com/andreluisbotelhodeandrade


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/santa-teresinha-e-os-tempos-da-modernidade/

8 de setembro de 2025

Evangelização na Internet: Do SMS à IA: Testemunho de Adailton Batista

Minha jornada de fé

Sou Adailton Batista, e minha história com a evangelização começa muito antes de eu tocar em um computador. Nasci na zona rural do município de Porteirinha, em Minas Gerais, em uma vida simples e, por graça de Deus, rica em conhecimento.

Foto Ilustrativa: Paula Dizaró/cancaonova.com

Desde pequeno, gostava de ler as revistas e jornais que chegavam até mim e, mesmo antes de ir para a pré-escola, minha mãe, com sua dedicação, já havia me ensinado a ler o alfabeto, a escrever meu nome, o de meus pais e irmãos, e até parte da tabuada.

Minha infância e adolescência foram distantes da tecnologia. O contato com mais livros se intensificou no quinto ano, mas foi apenas no Ensino Médio que acessei um computador pela primeira vez e criei meu primeiro e-mail. Fui o primeiro de meus cinco irmãos a fazer um curso de digitação, embora a tecnologia não fosse meu forte. O que já trazia em mim era um dom natural para aprender e compartilhar.

Minha família sempre foi católica e, após a minha crisma, mergulhei nos grupos de jovens e retiros espirituais na diocese de Janaúba, onde fui atuante; e tudo o que eu vivia, sentia um forte desejo de que outros também experimentassem aquela graça de Deus, a experiência com Cristo.

Além dos limites: do SMS à evangelização digital 

A semente do evangelizador digital nasceu de uma forma inusitada. Por volta de 2001, adquiri um celular com um plano que oferecia SMS ilimitado. Tive uma ideia ou inspiração divina: comecei a inventar combinações de DDDs com números de telefone e a enviar mensagens da Bíblia, retiradas do folheto do culto dominical, para pessoas que eu nem conhecia. Lembro-me de ter enviado mais de cem mensagens em um único mês.


Era a minha forma de usar o pouco que tinha para levar a Palavra adiante. Recordo de receber muitos retornos: "Obrigado pela mensagem! Era o que eu precisava ler hoje. Não sei como achou meu número, mas não importa, essa mensagem foi voz de Deus para mim", retornos como esse me motivavam a continuar. 

Em 2009, o trabalho com a missão evangelizadora na internet tomou outras proporções. Ao ingressar na Comunidade Canção Nova, por providência divina, fui designado para trabalhar no setor de "Novas Tecnologias" da TV.

Ali, passei a gerenciar blogs, o site oficial da TV, as mídias sociais e a trabalhar com o envio de SMS com conteúdos do Papa, de nosso fundador  – Monsenhor Jonas Abib – e dos santos. Fui identificando, em minha vocação, um chamado claro: usar a internet para propagar a Boa Nova do Evangelho.

Como a fé se conecta ao futuro 

Como nos ensina meu fundador, Monsenhor Jonas Abib, devemos e precisamos usar de todos os meios possíveis já criados para evangelizar. Penso também em São Paulo, o apóstolo, e nas viagens que ele fez para anunciar o Evangelho. Imagine o que ele faria em nosso tempo, tendo em mãos as ferramentas que temos!

Movido por esse ideal, mergulhei nos estudos. Muita coisa aprendi sozinho, "fuçando", mas a Comunidade me deu a oportunidade de fazer o curso de Técnico em Rádio e TV; depois, a graduação em Jornalismo, que expandiu meu conhecimento.

Recentemente, concluí um MBA em Digital Business, e minha visão se abriu para as incontáveis possibilidades que temos hoje, incluindo o uso de Inteligência Artificial para continuar esse trabalho.

Nessa jornada, compreendi algo fundamental:

"Rede Social sempre existiu. As plataformas só vieram ampliar a comunicação das redes."

A missão como consagrado Canção Nova é evangelizar

A escola, a família, a comunidade… onde há gente, há uma rede social. Por trás de cada perfil e cada plataforma, existem pessoas. E, como vivemos aqui na Canção Nova, "a pessoa é o mais importante". É por isso que não podemos estar nas redes apenas por estar. É preciso ter um objetivo concreto.

Lembro-me de um fato que partilhei em meu blog em 2011, após participar de um evento em São Paulo. Em uma das palestras, perguntaram quem ainda usava o Orkut, que já havia "morrido" em muitos países, mas que, no Brasil, ainda era muito popular. Eu, na minha euforia, respondi que sim, e fui até um pouco "zoado", mas aquilo me levou a uma profunda reflexão: eu não usava a rede por usar, mas porque tinha um objetivo.

Minha missão como consagrado Canção Nova é evangelizar. Enquanto o Orkut não morresse no Brasil, eu o usaria, pois sei do alcance que um vídeo, um post ou um comentário pode ter na vida de muitas pessoas que usam essa ferramenta. Como já disse: a pessoa é o mais importante.

As redes sociais e as novas tecnologias não teriam sentido para a escolha de vida que fiz se eu não as colocasse em função da minha missão. De palavras, o mundo está cheio; a sociedade anseia por veracidade, por autenticidade.

Usar as redes sociais para construir um mundo novo e formar na fé

Por isso, deixo aqui meu apelo: não use as redes sociais por usar. Use com um objetivo. Use para colaborar com algo concreto, para construir um mundo mais justo, para ser um formador de opiniões pautado no bem.

Ao ver a canonização do beato Carlo Acutis, um jovem que usou a internet para o céu, eu me identifico profundamente com sua missão. Peço sua intercessão para que eu nunca me perca neste vasto universo digital e continue a usar bem os meios de comunicação para o único fim que importa: evangelizar.

Espero que você, que lê esse breve testemunho,  possa também usar, de alguma forma, os dos que o próprio Deus lhe deu para levar a mensagem de fé e esperança a tantos corações. Deus mesmo lhe mostrará quais meios. Abra-se à vontade d'Ele.

Deus o abençoe!



Adailton

Adailton Batista é natural de Janaúba (MG) e membro da Comunidade Canção Nova desde 2009. Casado com a missionária Elcka Torres e pai de uma filha. Possui MBA em Digital Business pela USP/ESALQ, graduação em Jornalismo pela Faculdade Canção Nova (FCN), formação em Rádio e TV pelo Instituto Canção Nova e formação técnica em Administração pela Faculdade NetWork. É autor do blog.cancaonova.com/metanoia e colunista do Portal Canção Nova. Apaixonado pela evangelização, ele utiliza todos os meios digitais possíveis para promover uma experiência pessoal com Cristo.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/evangelizacao-na-internet-sms-ia-testemunho-de-adailton-batista/

7 de setembro de 2025

O futuro da santidade passa por aqui

A identidade e missão de Carlo Acutis

Termino esta série de três artigos sobre a identidade e missão de Carlo Acutis para a Igreja do século XXI, querendo mostrar como ele, apesar de ter vivido apenas 15 anos, é um mestre de vida espiritual para os nossos dias.

No centro da sua vida espiritual, encontramos o sacramento da Eucaristia. Sabemos que o sacramento mais necessário para a salvação é o batismo e, depois deste, a reconciliação, para quem perdeu o estado de graça por algum pecado grave. Mas, tradicionalmente, o sacramento mais importante é a Eucaristia, porque enquanto nos outros sacramentos há uma ação de Deus que gera um efeito e essa presença sacramental desaparece depois de realizado o sacramento, na Eucaristia, Jesus permanece. Na Eucaristia, enquanto celebração litúrgica, e nas espécies eucarísticas do pão e do vinho consagrados, encontramos a realização plena daquela promessa do Senhor na Sua Ascensão de que estaria, todos os dias, com os seus discípulos até ao fim do mundo (cf. Mt 28,20).

Carlo Acutis: a missão que nasce do amor a Jesus

O beato Carlo Acutis / Foto: Nicola Gori – CNA

O centro da vida e espiritualidade de Carlo Acutis

A Eucaristia ocupava o centro da vida e espiritualidade de Carlo Acutis. Desde logo, porque sempre intuiu de forma especial a presença de Jesus Cristo, mas sobretudo porque, recebida a Primeira Comunhão, procurou nunca faltar a nenhum dia da celebração eucarística. Ali, encontrava-se com o Senhor e recebia a graça particular deste sacramento, que é um dom particular de união a Jesus, de tal modo que a nossa própria vida se transforma para sermos mais semelhantes a Ele. Nisso, o exemplo de Carlo é muito pertinente para os nossos dias: é necessário redescobrir a importância e centralidade do sacramento da Eucaristia, que não é outra coisa senão redescobrir a unicidade de Cristo como fundamento da vida cristã.

O sacramento da Eucaristia também exercia a força dominante da ação evangelizadora de Carlo, que, nos diversos diálogos, procurava mostrar às pessoas o que estavam a perder por não irem à Missa. No entanto, essa força propulsora de evangelização o Carlo encontrou contando a história dos milagres eucarísticos, acontecidos por todo o mundo ao longo dos séculos. Nestes, viu como Deus realizava sinais prodigiosos para mover a fé das pessoas para a realidade do sacramento. No pão e no vinho consagrados, não se encontra somente uma bênção ou um sinal da presença de Jesus, nem apenas uma repetição mecânica de um gesto que tem dois mil anos, mas a realização permanente da mesma entrega de Jesus, que antecipou para a Última Ceia a entrega da própria vida que foi realizada na obediência da Cruz.

Desse modo, o Carlo procurava mostrar que o grande milagre é cada Eucaristia, em que o pão e o vinho se transformam realmente – substancialmente, como afirma a doutrina clássica – no Corpo e no Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo: Corpo, Sangue, Alma e Divindade.


Como Carlo Acutis, ser Santo hoje e fazer diferença no mundo

Pelo menos em Portugal, têm surgido várias capelas de Adoração Eucarística perpétua, garantidas dia e noite por leigos que se voluntariam com uma hora por semana para estar em adoração diante do Senhor. Este é um grande sinal da renovação da devoção eucarística nos dias de hoje. Em cada momento de adoração, estamos diante do nosso Deus e Senhor, e aprofundamos a consciência de que somos criaturas e pedimos a graça de sermos cada vez mais à imagem do próprio Senhor Jesus.

Carlo Acutis foi, deste modo, profético da renovação da Igreja, hoje tão necessária. A esse respeito, podemos recordar o que escrevia o teólogo Hans Urs von Balthasar a respeito dos desafios da Igreja dos nossos dias: ««Mas, para estar à altura de uma tarefa tão sobre-humana [a tarefa que se apresenta hoje à Igreja Católica], terá necessidade não só de teólogos (também deles), mas sobretudo de santos. Não só de decretos e ainda menos de novas comissões de estudo, mas de figuras pelas quais, como faróis, nos possamos orientar. Era justamente este o sentido último do alarme de Córdula.

Não é verdade que nada podemos fazer para ter santos. Devemos, por exemplo, tentar uma vez, embora com algum atraso, tornar-nos como Córdula. "Mais vale tarde do que nunca"» (Hans Urs von Balthasar, Córdula, p. 119). Com o exemplo de Carlos, que nos é proposto pela Igreja com a sua canonização, sintamo-nos todos impelidos nesta missão de sermos santos hoje, alimentados e fortalecidos com o sacramento da Eucaristia, e façamos a diferença neste mundo.

Pe. Ricardo Figueiredo, Patriarcado de Lisboa


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/o-futuro-da-santidade-passa-por-aqui/

5 de setembro de 2025

Um jovem normal com um segredo extraordinário

Hoje é possível ser santo

Nos últimos anos, a vida e a espiritualidade de Carlo Acutis têm suscitado um grande interesse em várias partes do mundo. Ele é realmente visto como um santo dos nossos dias e, por isso, tem uma mensagem de certo modo profética: também hoje é possível ser santo.

Beato Carlo Acutis /Foto: carloacutis.com

No entanto, em Carlo, o que popularmente se espera da santidade não encontramos: ele não é alguém separado do mundo, distante e abstraído da realidade. Muito pelo contrário: o vemos como um adolescente normal, igual aos outros, vestido de calças jeans, jogando videogame, com gosto e talento para a informática, no meio dos amigos, como aquela fotografia no final de uma partida de futebol em que ele foi goleiro. É um jovem em tudo normal, mas precisamente nessa normalidade ele soube viver uma vida sobrenatural.

Virtude heroica

Ficamos assustados porque, muitas vezes, temos uma ideia errada do que significa a santidade. Quando nos processos de beatificação e de canonização ouvimos falar em «virtude heroica», com facilidade podemos achar que isso é algo que não se destina a todos os cristãos, a todos aqueles que são chamados a uma «vida média» no quotidiano mais ou menos turbulento da sociedade em que vivemos. No entanto, falar em virtude heroica não significa falar no «Super-homem cristão». Como escreveu Joseph Ratzinger em 2002: «Virtude heroica não significa que o santo faz uma espécie de "ginástica", de santidade, algo que as pessoas normais não conseguem fazer». Antes pelo contrário, e continua mais à frente: «Virtude heroica propriamente não significa que alguém fez grandes coisas sozinho, mas que, na sua vida, aparecem realidades que ele não fez, porque foi transparente e disponível para a obra de Deus. Ou, por outras palavras, ser santo não é mais do que falar com Deus como um amigo fala com outro amigo. Eis a santidade».

Carlo nasceu no dia 2 de maio de 1991 e faleceu no dia 12 de outubro de 2006, apenas com 15 anos de idade. Neste percurso, vemos como Deus o guiou, tantas vezes de forma silenciosa e misteriosa. Por exemplo, quando tudo indicava que poderia não ter uma educação cristã profunda, os pais contrataram uma babá católica de origem polonesa, que desde cedo ensinou àquela criança quem era Jesus e que devia rezar muito. Desde cedo, Carlo sentiu-se chamado a procurar Deus, o que o levou a aprofundar a fé e a viver com a presença de Deus mais constante. Corajoso, não tinha medo de testemunhar a fé nos mais variados ambientes, quer fosse com amigos dos pais, quer fosse na escola.


Carlo nos desafia a não fugir ao desafio da santidade!

Em tudo isto, vemos o que é o extraordinário da vida de Carlo: se por um lado foi um jovem totalmente normal, ao mesmo tempo foi profundamente extraordinário. Melhor: soube fazer de modo extraordinário aquilo que é mais habitual e corriqueiro. Por exemplo, quando ia de bicicleta de casa para a escola, podia simplesmente fazer esse percurso. Contudo, usava essa oportunidade como forma de ir cumprimentar e falar com os porteiros dos vários condomínios, muitos deles migrantes, e assim mostrar amizade, simpatia e proximidade. Também conseguiu ajudar na conversão de algumas pessoas.

Outra coisa que é normal num jovem é receber a mesada, confiada pelos pais. Como outros adolescentes, Carlo esperava receber esse valor para administrar, contudo, não para comprar chocolates ou um jogo de videogame, mas para ir comprar um saco de dormir para um morador de rua ou dar o dinheiro a alguma instituição que dava comida aos pobres de Milão. Também nisto, Carlo soube transfigurar algo que era normal em algo sobrenatural.

Finalmente, até a morte, Carlo soube transformar em algo sobrenatural. «Estou contente por morrer, porque na minha vida não estraguei nem um instante em coisas que não agradassem a Deus»: esta frase é o grande testamento que Carlo deixou a todos nós, para que também na nossa vida possa sempre resplandecer a vida divina. Como modelo de santidade, este jovem milanês indica que o caminho de santidade não é um caminho que nos faz fugir dos outros, mas um caminho que nos leva a abraçar as múltiplas realidades e a encontrar os caminhos sempre novos que Deus abre diante de nós. Cada um é chamado a ser santo na sua realidade própria: com os talentos e características pessoais, com cada história pessoal e familiar, nesta época histórica concreta. Carlo nos desafia a não fugir ao desafio da santidade!

Padre Ricardo Figueiredo
Presbítero do Patriarcado de Lisboa. Doutorado em Teologia sistemática. Vigário Paroquial (coadjutor): Algés e da Cruz Quebrada-Dafundo. Diretor do Departamento de Comunicação do Patriarcado de Lisboa. Autor de diversos livros, como: Não Eu, mas Deus – Biografia espiritual de Carlo Acutis


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/jovem-normal-com-um-segredo-extraordinario/

4 de setembro de 2025

Qual é o verdadeiro propósito da Bíblia para os cristãos?

A Bíblia não é um livro comum, mas de grandes ensinamentos deixados por Cristo

O fator mais importante que classifica a Bíblia como o livro mais singular é a influência que ela tem sobre a vida dos homens. Embora a Sagrada Escritura seja um grande tesouro devido à sua contribuição para a humanidade em literatura, filosofia e história, o maior valor desse livro se encontra na grande influência que exerce sobre as pessoas.

Foto Ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

Por meio de suas páginas, o homem se vê exposto à sua verdadeira condição diante de Deus; a Palavra é como uma espada que penetra até os pensamentos e propósitos do homem e o convence de seus pecados diante do Todo-poderoso (cf. Hb 4,12): "Porque a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração".

O encontro com a Palavra gera vida

Santo Agostinho era um homem indisciplinado e libertino em sua juventude, porém, sua mãe orava por ele enquanto ele crescia. Depois de levar uma vida dissoluta por muitos anos, certo dia, com trinta e um anos de idade, ao ler a Bíblia debaixo de uma figueira, chegou ao trecho que diz "Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes, mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e nada disponhais para a carne, no tocante às suas concupiscências" (Rm 13,13-14). Essas palavras o convenceram dos seus pecados e ele se arrependeu diante do Senhor e se tornou um servo de Cristo.

No curso da história, muitas pessoas famosas foram movidas a crer em Cristo e a ler a Sagrada Escritura. O imperador francês Napoleão, após ter sido derrotado e exilado na ilha de Santa Helena, confessou que, embora ele e outros grandes líderes tivessem fundado seus impérios com uso da força, Jesus Cristo edificou Seu Reino com amor. E também confessou que, embora pudesse reunir seus homens em torno dele em prol de sua própria causa, ele teria de fazê-lo falando-lhes face a face, enquanto, por dezoito séculos [na época], incontáveis homens e mulheres se dispuseram a sacrificar, com alegria, a própria vida por amor a Jesus Cristo, sem tê-Lo visto sequer uma vez.

O Cristo revelado na Bíblia

A razão pela qual muitos se dispuseram a deixar tudo para seguir Cristo e serem martirizados por causa d'Ele, é que eles O viram revelado na Bíblia. Esse Livro Sagrado tem sido a fonte de inspiração para que muitos creiam em Nosso Senhor Jesus Cristo. Embora muitos reis, imperadores e governantes tenham tentado erradicar a Bíblia, nos últimos dois mil anos, a começar pelos imperadores romanos do primeiro século até os governos ateus deste século, nenhum poder sobre a terra tem conseguido abalar a atração do homem por esse Livro Sagrado e pela Pessoa maravilhosa que ele revela. O Cristo revelado na Bíblia continua, hoje, tão vivo como há dois mil anos.

A Bíblia existe para que possamos compreender, temer, respeitar e amar Deus sobre todas as coisas, assim ela se denomina como a Sagrada Escritura: "E desde a infância conheces as Sagradas Escrituras e sabes que elas têm o condão de te proporcionar a sabedoria que conduz à salvação, pela fé em Jesus Cristo. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra" (cf. II Tm 3,15-17).

Principal revelação

A revelação principal da Bíblia é a vida. "O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância" (João 10,10). Por isso, quando lemos a Bíblia, devemos entrar em contato com o Senhor Jesus, orando para que Ele nos dê revelação da palavra lida.

"Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos" (Ef 6,17-18). Orando também para que sejamos capacitados pelo Espírito Santo, para viver a Palavra de Deus, e não apenas conhecê-la em nossa mente, pois o simples fato de conhecermos a Bíblia não nos faz cristãos; os judeus cometeram esse erro, pois eles examinavam as Escrituras, mas não conheciam a Pessoa de Cristo.


"Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida" (Jo 5,39-40). Isso pode ser mais bem compreendido ao analisarmos o versículo de II Coríntios, 3,6: "O qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica".

Livro da vida

Não devemos tomar a Bíblia como um livro comum, apenas para trazer algum conhecimento a nossa mente, mas devemos tomá-la como um livro de vida, contatando o Senhor Jesus por meio da oração, para que Ele nos conceda algo vivo em Sua Palavra, ou seja, algo que traga uma lição prática para o nosso viver no dia a dia, pois a intenção de Deus, revelada na Sagrada Escritura, não é apenas a salvação do nosso espírito, como também a salvação de todo o nosso ser, para que consigamos viver coletivamente na Igreja, que é comparada ao Corpo e à Esposa de Cristo: "O qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade" (I Tm 2,4).

"O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (I Ts 5,23). "Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo" (I Cor 12,27). "Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou" (Ap 19,7).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/series/especial-biblia/qual-e-o-verdadeiro-proposito-da-biblia-para-os-cristaos/

2 de setembro de 2025

A esperança não decepciona

A Carta aos Romanos e a esperança no Espírito Santo

O Apóstolo Paulo assegura à comunidade cristã de Roma que existe uma esperança que é certa e segura. Essa carta foi escrita em torno do ano 60 d.C., e é a carta mais profunda em reflexão feita pelo Apóstolo Paulo. Essa comunidade destoa das outras às quais Paulo destina cartas: a comunidade de Roma não foi Paulo que "plantou", porém, tocará a ele "regá-la" para que cresça.

Foto Ilustrativa: nicoletaionescu by Getty Images

A comunidade cristã de Roma, no ano 60 d.C., não é tão grande, talvez algumas centenas de pessoas se reunissem para fazer Memória de Jesus, da Sua Páscoa. Fazer a memória de Jesus é o oásis desses nossos irmãos que passaram os dias como estranhos entre pessoas que organizavam suas vidas a partir de expectativas de amizades com o imperador, com senadores romanos ou algum nobre que pudesse oferecer a eles uma pequena esperança

Uma esperança segura

Mas como indicar uma esperança segura, que não dependesse das mudanças próprias do homem? 

Em lugar central da carta, depois de falar da condição da humanidade sem Cristo e de sua salvação gratuita, Paulo diz que há uma esperança que não está ligada aos poderes dos que mandam no império. Ela depende do dom de Deus, do Espírito Santo derramado no coração dos crentes (Rm 5,5).


O elemento verificador dessa esperança é olhar dentro de si e perceber esse Espírito que move e tudo renova. Esse Espírito é de tal maneira ativo, que o cristão não poderia duvidar que a promessa já estava se cumprindo.

Havia uma tal esperança de totalidade, na experiência desse Dom que haveria de se cumprir como salvação,  que o desfecho seria positivo, pleno e feliz de uma promessa cujo herdeiro é Jesus, e todos que estejam n'Ele se tornam coerdeiros. Essa certeza não é ensinada, ele precisa ser experimentada no coração do crente

 O modo novo de viver as tribulações, as angústias e perseguições

Ademais, o crente tinha à sua disposição o modo novo de viver as tribulações, as angústias e perseguições. Ele experimenta que há uma reserva de alegria em viver essa condição de ser rejeitado por causa de Jesus, por não ter aceitado que a vida consistia no que os mais fortes poderiam oferecer-lhe, que viveria de esperanças em pessoas e coisas que o deixam decepcionado. 

O cristão ergue a cabeça, vive com altivez que brota da fé na cruz redentora de Cristo. Esse novo ser nascido da fé em Jesus possui um destemor, uma coragem que não volta atrás. Essa coragem não é aquela grega, da ousadia que confia nos próprios braços; a coragem do cristão nasce da confiança no dom do Espírito, na vitória já conquistada por Jesus Cristo e participada por ele, pela fé. A isso Paulo chama Parresia (coragem que nasce da confiança).

Não há motivos para sentir vergonha, medo, insegurança

Outro elemento de credibilidade da esperança que não decepciona é o fruto que esse Espírito produz na alma do crente: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5,22s). Ele sabe que não há mais condenação para ele, se ele permanecer em Cristo Jesus (Rm 8,1). Daqui nasce a certeza da salvação que não é pretensão, mas gratidão por algo não merecido, mas guardado com zelo e temor. 

Tudo isso leva aquela experiência de leveza que é marca do cristão amadurecido no Espírito. Ele vive a Lei, mas sem ser escravo dela; é livre, inclusive, de obedecer aos próprios impulsos.

Tudo nesse cristão é tensão evangélica, é a busca de viver em Cristo, viver a vida como dom para suscitar a ação de graças no coração de outros, querendo que todos experimentem que não há motivos para sentir vergonha, medo, insegurança, pois o fim foi definido: tudo concorre para o bem dos que amam a Deus. Essa ousada segurança se deve ao dom do Espírito Santo, que é "arrabon", é garantia do cumprimento da esperança.

Dom José Otácio Oliveira Guedes
Bispo Auxiliar de Belo Horizonte 


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/esperanca-nao-decepciona/

31 de agosto de 2025

Como participar da Missa com crianças?

Cuidar é um ato de fé

Muitos pais levam os bebezinhos à Igreja. Eles são belos, quietinhos, dormem a maior parte do tempo. Mas assim que começam a crescer, engatinhar, aprender a andar e a correr, muitos pais acabam desistindo. Argumentam que dá muito trabalho, pois as crianças não querem ficar paradas, gastando muito tempo da Missa por andarem de um lado para outro, então, sentem-se tentados a concluir que não estão, realmente, participando da celebração.

Foto ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

Ao perceber que a criança está muito irrequieta, é aconselhável convidá-la e sair para escutar a celebração do lado de fora (no hall, por exemplo). Com crianças muito pequenas, fica mais difícil mantê-las em silêncio por muito tempo: é preferível sair um pouco da Igreja e ir para onde as crianças não irão atrapalhar os outros. Brinquedos e aparelhos como celular, smartphone, tablets devem ser evitados. Uma sugestão é levar livros e lápis de cor para pintar ou deixá-las folhear algum livro ilustrado sobre a vida de Jesus.

A Missa é para todos

Em algumas comunidades, há uma prática de separar as crianças na hora da Missa e levá-las para um lugar à parte, onde são cuidadas por voluntários que cantam, rezam, brincam, evangelizando-as. Dessa maneira, acredita-se que os pais podem participar melhor da Missa. Certamente, a intenção de promover iniciativas como essa é boa, porém, corre-se o risco de criar uma ideia de que Missa não é coisa para criança.


Família na Missa

A Missa é para todos, inclusive para crianças. Outros pais ficam o tempo todo pedindo para os filhos fazer silêncio porque querem se concentrar. Devemos sempre nos lembrar de que a Missa do domingo com a família é um momento de oração comunitária, familiar. Além desse momento de celebração comunitária, devemos buscar outras oportunidades de oração pessoal, talvez durante a semana, oportunidades para rezar a sós, cultivando nossa relação pessoal com Deus.

A Exortação Apostólica Amoris Laetitia orienta que as pessoas que "têm desejos espirituais profundos não devem sentir que a família os afasta do crescimento na vida do Espírito".

Texto extraído do livro "Como participar da Missa com crianças?", de Rodrigo Luiz e Adelita Stoebel.

Equipe de Formação da Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/educacao-de-filhos/como-participar-da-missa-com-criancas/