4 de setembro de 2025

Qual é o verdadeiro propósito da Bíblia para os cristãos?

A Bíblia não é um livro comum, mas de grandes ensinamentos deixados por Cristo

O fator mais importante que classifica a Bíblia como o livro mais singular é a influência que ela tem sobre a vida dos homens. Embora a Sagrada Escritura seja um grande tesouro devido à sua contribuição para a humanidade em literatura, filosofia e história, o maior valor desse livro se encontra na grande influência que exerce sobre as pessoas.

Foto Ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

Por meio de suas páginas, o homem se vê exposto à sua verdadeira condição diante de Deus; a Palavra é como uma espada que penetra até os pensamentos e propósitos do homem e o convence de seus pecados diante do Todo-poderoso (cf. Hb 4,12): "Porque a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração".

O encontro com a Palavra gera vida

Santo Agostinho era um homem indisciplinado e libertino em sua juventude, porém, sua mãe orava por ele enquanto ele crescia. Depois de levar uma vida dissoluta por muitos anos, certo dia, com trinta e um anos de idade, ao ler a Bíblia debaixo de uma figueira, chegou ao trecho que diz "Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes, mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e nada disponhais para a carne, no tocante às suas concupiscências" (Rm 13,13-14). Essas palavras o convenceram dos seus pecados e ele se arrependeu diante do Senhor e se tornou um servo de Cristo.

No curso da história, muitas pessoas famosas foram movidas a crer em Cristo e a ler a Sagrada Escritura. O imperador francês Napoleão, após ter sido derrotado e exilado na ilha de Santa Helena, confessou que, embora ele e outros grandes líderes tivessem fundado seus impérios com uso da força, Jesus Cristo edificou Seu Reino com amor. E também confessou que, embora pudesse reunir seus homens em torno dele em prol de sua própria causa, ele teria de fazê-lo falando-lhes face a face, enquanto, por dezoito séculos [na época], incontáveis homens e mulheres se dispuseram a sacrificar, com alegria, a própria vida por amor a Jesus Cristo, sem tê-Lo visto sequer uma vez.

O Cristo revelado na Bíblia

A razão pela qual muitos se dispuseram a deixar tudo para seguir Cristo e serem martirizados por causa d'Ele, é que eles O viram revelado na Bíblia. Esse Livro Sagrado tem sido a fonte de inspiração para que muitos creiam em Nosso Senhor Jesus Cristo. Embora muitos reis, imperadores e governantes tenham tentado erradicar a Bíblia, nos últimos dois mil anos, a começar pelos imperadores romanos do primeiro século até os governos ateus deste século, nenhum poder sobre a terra tem conseguido abalar a atração do homem por esse Livro Sagrado e pela Pessoa maravilhosa que ele revela. O Cristo revelado na Bíblia continua, hoje, tão vivo como há dois mil anos.

A Bíblia existe para que possamos compreender, temer, respeitar e amar Deus sobre todas as coisas, assim ela se denomina como a Sagrada Escritura: "E desde a infância conheces as Sagradas Escrituras e sabes que elas têm o condão de te proporcionar a sabedoria que conduz à salvação, pela fé em Jesus Cristo. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra" (cf. II Tm 3,15-17).

Principal revelação

A revelação principal da Bíblia é a vida. "O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância" (João 10,10). Por isso, quando lemos a Bíblia, devemos entrar em contato com o Senhor Jesus, orando para que Ele nos dê revelação da palavra lida.

"Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos" (Ef 6,17-18). Orando também para que sejamos capacitados pelo Espírito Santo, para viver a Palavra de Deus, e não apenas conhecê-la em nossa mente, pois o simples fato de conhecermos a Bíblia não nos faz cristãos; os judeus cometeram esse erro, pois eles examinavam as Escrituras, mas não conheciam a Pessoa de Cristo.


"Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida" (Jo 5,39-40). Isso pode ser mais bem compreendido ao analisarmos o versículo de II Coríntios, 3,6: "O qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica".

Livro da vida

Não devemos tomar a Bíblia como um livro comum, apenas para trazer algum conhecimento a nossa mente, mas devemos tomá-la como um livro de vida, contatando o Senhor Jesus por meio da oração, para que Ele nos conceda algo vivo em Sua Palavra, ou seja, algo que traga uma lição prática para o nosso viver no dia a dia, pois a intenção de Deus, revelada na Sagrada Escritura, não é apenas a salvação do nosso espírito, como também a salvação de todo o nosso ser, para que consigamos viver coletivamente na Igreja, que é comparada ao Corpo e à Esposa de Cristo: "O qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade" (I Tm 2,4).

"O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (I Ts 5,23). "Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo" (I Cor 12,27). "Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou" (Ap 19,7).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/series/especial-biblia/qual-e-o-verdadeiro-proposito-da-biblia-para-os-cristaos/

2 de setembro de 2025

A esperança não decepciona

A Carta aos Romanos e a esperança no Espírito Santo

O Apóstolo Paulo assegura à comunidade cristã de Roma que existe uma esperança que é certa e segura. Essa carta foi escrita em torno do ano 60 d.C., e é a carta mais profunda em reflexão feita pelo Apóstolo Paulo. Essa comunidade destoa das outras às quais Paulo destina cartas: a comunidade de Roma não foi Paulo que "plantou", porém, tocará a ele "regá-la" para que cresça.

Foto Ilustrativa: nicoletaionescu by Getty Images

A comunidade cristã de Roma, no ano 60 d.C., não é tão grande, talvez algumas centenas de pessoas se reunissem para fazer Memória de Jesus, da Sua Páscoa. Fazer a memória de Jesus é o oásis desses nossos irmãos que passaram os dias como estranhos entre pessoas que organizavam suas vidas a partir de expectativas de amizades com o imperador, com senadores romanos ou algum nobre que pudesse oferecer a eles uma pequena esperança

Uma esperança segura

Mas como indicar uma esperança segura, que não dependesse das mudanças próprias do homem? 

Em lugar central da carta, depois de falar da condição da humanidade sem Cristo e de sua salvação gratuita, Paulo diz que há uma esperança que não está ligada aos poderes dos que mandam no império. Ela depende do dom de Deus, do Espírito Santo derramado no coração dos crentes (Rm 5,5).


O elemento verificador dessa esperança é olhar dentro de si e perceber esse Espírito que move e tudo renova. Esse Espírito é de tal maneira ativo, que o cristão não poderia duvidar que a promessa já estava se cumprindo.

Havia uma tal esperança de totalidade, na experiência desse Dom que haveria de se cumprir como salvação,  que o desfecho seria positivo, pleno e feliz de uma promessa cujo herdeiro é Jesus, e todos que estejam n'Ele se tornam coerdeiros. Essa certeza não é ensinada, ele precisa ser experimentada no coração do crente

 O modo novo de viver as tribulações, as angústias e perseguições

Ademais, o crente tinha à sua disposição o modo novo de viver as tribulações, as angústias e perseguições. Ele experimenta que há uma reserva de alegria em viver essa condição de ser rejeitado por causa de Jesus, por não ter aceitado que a vida consistia no que os mais fortes poderiam oferecer-lhe, que viveria de esperanças em pessoas e coisas que o deixam decepcionado. 

O cristão ergue a cabeça, vive com altivez que brota da fé na cruz redentora de Cristo. Esse novo ser nascido da fé em Jesus possui um destemor, uma coragem que não volta atrás. Essa coragem não é aquela grega, da ousadia que confia nos próprios braços; a coragem do cristão nasce da confiança no dom do Espírito, na vitória já conquistada por Jesus Cristo e participada por ele, pela fé. A isso Paulo chama Parresia (coragem que nasce da confiança).

Não há motivos para sentir vergonha, medo, insegurança

Outro elemento de credibilidade da esperança que não decepciona é o fruto que esse Espírito produz na alma do crente: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5,22s). Ele sabe que não há mais condenação para ele, se ele permanecer em Cristo Jesus (Rm 8,1). Daqui nasce a certeza da salvação que não é pretensão, mas gratidão por algo não merecido, mas guardado com zelo e temor. 

Tudo isso leva aquela experiência de leveza que é marca do cristão amadurecido no Espírito. Ele vive a Lei, mas sem ser escravo dela; é livre, inclusive, de obedecer aos próprios impulsos.

Tudo nesse cristão é tensão evangélica, é a busca de viver em Cristo, viver a vida como dom para suscitar a ação de graças no coração de outros, querendo que todos experimentem que não há motivos para sentir vergonha, medo, insegurança, pois o fim foi definido: tudo concorre para o bem dos que amam a Deus. Essa ousada segurança se deve ao dom do Espírito Santo, que é "arrabon", é garantia do cumprimento da esperança.

Dom José Otácio Oliveira Guedes
Bispo Auxiliar de Belo Horizonte 


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/esperanca-nao-decepciona/

31 de agosto de 2025

Como participar da Missa com crianças?

Cuidar é um ato de fé

Muitos pais levam os bebezinhos à Igreja. Eles são belos, quietinhos, dormem a maior parte do tempo. Mas assim que começam a crescer, engatinhar, aprender a andar e a correr, muitos pais acabam desistindo. Argumentam que dá muito trabalho, pois as crianças não querem ficar paradas, gastando muito tempo da Missa por andarem de um lado para outro, então, sentem-se tentados a concluir que não estão, realmente, participando da celebração.

Foto ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

Ao perceber que a criança está muito irrequieta, é aconselhável convidá-la e sair para escutar a celebração do lado de fora (no hall, por exemplo). Com crianças muito pequenas, fica mais difícil mantê-las em silêncio por muito tempo: é preferível sair um pouco da Igreja e ir para onde as crianças não irão atrapalhar os outros. Brinquedos e aparelhos como celular, smartphone, tablets devem ser evitados. Uma sugestão é levar livros e lápis de cor para pintar ou deixá-las folhear algum livro ilustrado sobre a vida de Jesus.

A Missa é para todos

Em algumas comunidades, há uma prática de separar as crianças na hora da Missa e levá-las para um lugar à parte, onde são cuidadas por voluntários que cantam, rezam, brincam, evangelizando-as. Dessa maneira, acredita-se que os pais podem participar melhor da Missa. Certamente, a intenção de promover iniciativas como essa é boa, porém, corre-se o risco de criar uma ideia de que Missa não é coisa para criança.


Família na Missa

A Missa é para todos, inclusive para crianças. Outros pais ficam o tempo todo pedindo para os filhos fazer silêncio porque querem se concentrar. Devemos sempre nos lembrar de que a Missa do domingo com a família é um momento de oração comunitária, familiar. Além desse momento de celebração comunitária, devemos buscar outras oportunidades de oração pessoal, talvez durante a semana, oportunidades para rezar a sós, cultivando nossa relação pessoal com Deus.

A Exortação Apostólica Amoris Laetitia orienta que as pessoas que "têm desejos espirituais profundos não devem sentir que a família os afasta do crescimento na vida do Espírito".

Texto extraído do livro "Como participar da Missa com crianças?", de Rodrigo Luiz e Adelita Stoebel.

Equipe de Formação da Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/educacao-de-filhos/como-participar-da-missa-com-criancas/

30 de agosto de 2025

A importância do diálogo para a construção de uma sociedade justa

Há a necessidade do diálogo para a construção de uma sociedade justa

Fala com autoridade é a óbvia constatação daqueles que, na sinagoga de Cafarnaum, ouviam o ensinamento de Jesus. Um ensinamento novo, partilhado com autoridade, que impacta e desperta admiração. Atualmente, há carência das falas com autoridade que sejam bem diferentes daquelas tão comuns, eivadas de ideologizações que aumentam os riscos de polarizações fratricidas e, consequentemente, capazes de atravancar os necessários avanços sociais.

Créditos: starfotograf by Getty Images.

São urgentes falas com autoridade neste tempo em que vozes se espalham com "velocidade da luz" pelas redes sociais. Convive-se com falas sem consistente fundamentação e, por isso mesmo, incapazes de ajudar na resolução de problemas ou na promoção do diálogo. E o diálogo é instrumento indispensável na efetivação e promoção da democracia, do respeito a direitos e na construção de uma sociedade igualitária, solidária.

Das instituições pilares da democracia, a sociedade espera a disponibilidade para a construção de um entendimento, respeitando a independência de suas identidades, sem o risco de obscurecer consciências em razão da perversão de seus integrantes. Constata-se que muitos seguem na contramão do entendimento, por causa da disputa de poder entre poderes, no horizonte perigoso da partidarização com ideologizações perniciosas.

O cinismo que pode obscurecer consciências com falsas promessas

As fragilidades consequentes decorrem da falta de diálogo em alto nível, fundamento para efetivar procedimentos que fortaleçam o Estado e favoreçam o bem da Nação. Não se pode destruir o Direito pela força corrosiva da perversão daqueles que exercem o poder. As instituições religiosas, educativas e culturais estão desafiadas a entrar em cena, com uma palavra de lucidez, para ajudar a sociedade a não deixar que polarizações se tornem a voz dominante.

É preciso promover a essencial harmonia que fundamenta a adequada construção cultural e sociopolítica da sociedade, tarefa árdua que requer diálogo. Vai ficando tarde para essa movimentação quando se pensa que já se aproxima o ano eleitoral. Sabe-se do desafio enorme para não se dar soberania à mentira ou cegamente envolver-se nas disputas político-partidárias.

Muito bem comentou, em tom de advertência, o Papa Bento XVI, sobre o cinismo da ideologia que pode obscurecer consciências com promessas. Assim, justificar o uso dos meios considerados como adequados para alcançar o que foi prometido, permitindo-se abolir a noção de direito e mesmo a distinção entre bem e mal.

O dever dos líderes na política em estabelecer um diálogo mais tolerante e fiel aos valores morais

Escolhas políticas precisam ser assentadas em valores morais que não podem ser relativizados. A fidelidade a esses valores é que garante credibilidade a homens e mulheres, capacitando-os a falar com autoridade, iluminados por um horizonte largo, humanista.

A sociedade brasileira carece de líderes políticos capazes de falar com autoridade e, assim, protagonizar ações com importante incidência no tecido social, cultural, à altura dos valores e das riquezas inscritas na história do Brasil.

Ora, a autoridade política, ensina a Doutrina Social da Igreja Católica, é o instrumento de coordenação e direção mediante o qual se tem a força para aglutinar indivíduos, instituições e procedimentos a serviço do crescimento integral. Esta autoridade é bem exercida dentro dos parâmetros da ordem moral, seja na comunidade como um todo, seja nos órgãos representativos do Estado.

Importa reconhecer que líderes na política devem cultivar especial respeito à ordem moral, capacitando-se para falar com autoridade e, assim, ir além de subjetivismos partidários, para construir novos entendimentos.

É verdade que a construção de uma sociedade não se opera sem alianças, mas isso não significa dar lugar às barganhas, à mesquinhez, aos interesses pouco republicanos, distanciando-se de princípios morais. Entendimentos devem ser construídos a partir de palavras capazes de inspirar disponibilidade de cooperação e o compromisso cidadão.

A história da humanidade reúne períodos difíceis e intrincados, mas que foram vencidos com o auxílio de lideranças que falam com autoridade, distantes da mediocridade. Líderes que fortalecem suas instituições por se dedicarem à promoção do diálogo e da cooperação capazes de tecer nova cultura, inaugurando novos ciclos sociais.

Essa capacidade humana de superar momentos desafiadores deve motivar a busca pela superação das crises deste tempo, de maneira republicana e solidária, longe de rancores e disputas. A sociedade brasileira precisa urgentemente de pessoas capazes de inspirar o diálogo que vai além das disputas por "cargos" e "cadeiras".


A hora pede, em lugar de polarizações e desserviços, um empenho construtivo de todos para se conseguir a sabedoria de fazer das diferenças uma riqueza

Cada cidadão é chamado a contribuir para promover lógicas e novos hábitos capazes de garantir o cuidado com o meio ambiente – a casa comum – e a efetivação de políticas públicas inclusivas, expressando efetivo zelo por uma ordem sociopolítica mais participativa e justa.

É hora de pensar o Brasil a partir de suas riquezas e potencialidades, longe de interesses meramente partidários ou de deliberações que busquem favorecer privilegiados. Diante da exigência de se construir uma sábia atitude patriótica no cuidado com o Brasil torna-se oportuno retomar a recomendação de Mário de Andrade, em uma carta endereçada a Carlos Drummond de Andrade: "Carlos, devote-se ao Brasil, junto comigo. Apesar de todo o ceticismo, apesar de todo pessimismo (…) seja ingênuo, seja bobo, mas acredite que um sacrifício é lindo (…).

Nós temos que dar ao Brasil o que ele não tem e que, por isso, até agora não viveu, nós temos que dar uma alma ao Brasil e para isso todo sacrifício é grandioso, é sublime. E nos dá felicidade (…) é no Brasil que me acontece viver, e agora só no Brasil eu penso…". Eis um modo de pensar e uma disponibilidade para agir que fundamentam falas com autoridade.


 


Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. No Brasil, é bispo referencial para os fiéis católicos de Rito Oriental. http://www.arquidiocesebh.org.br


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/importancia-dialogo-para-construcao-de-uma-sociedade-justa/

29 de agosto de 2025

No ato de servir, encontramos a felicidade

Para encontrar a felicidade, comece praticando um dom e oferecendo-o gratuitamente a quem está próximo de você

O ato de servir é praticamente inerente a todo ser humano. É notável como o serviço tem sido necessário para os avanços da humanidade através dos séculos. Em princípio, tudo o que se faz, constrói, pesquisa ou inventa tem por finalidade melhorar a vida no nosso planeta. Não se pode negar que esse empreendedorismo rende benefícios individuais, como prestígio, compensação financeira, satisfação pessoal com o aprendizado ou com sua aplicabilidade. No entanto, vale a pena mencionar que nem todos os propósitos são honrosos.

O mosaico do coração, reunindo os fragmentos da vida

Crédito: troyka / GettyImages

Dentro das dimensões do trabalho, existe também a face do servir com gratuidade. O serviço voluntário implica fazer algo para outra pessoa sem esperar uma gratificação como forma de pagamento. Há quem, em atitude magnânima, seja capaz de servir ciente de que não receberá sequer um "muito obrigado". Aquele que, livre e espontaneamente, se torna voluntário na execução de determinado trabalho, pelo simples propósito de fazer o bem, liberta o favorecido de qualquer forma de retribuição. Há quem acredite que esse desprendimento seja uma insanidade por ser totalmente avesso à inclinação que temos em buscar os meios para a própria sobrevivência.

Quando nos fazemos servos dos outros, enchemos nosso coração com o sentimento da alegria. Aquele que está disposto a trabalhar, sem visar recompensas, tem apenas a pura alegria de proporcionar bem-estar ao próximo, sem um acréscimo a sua pessoa. É um júbilo espiritual.


Nossa Senhora demonstra a alegria de ser serva quando vai ajudar a prima Isabel e canta esse sentimento ao encontrá-la: "Minha alma glorifica o Senhor, e meu espírito exulta de alegria em Deus, meu salvador, porque Ele olhou para sua pobre serva" (Lucas 1,46-48).

Mais tarde, Jesus faz do servir desinteressado um princípio cristão: "O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos" (Mateus 20,28).

Para não nos atermos somente aos grandes propósitos, mas também àqueles "pequenos grandes gestos", temos no Evangelho de Lucas: "Mas quando deres uma ceia, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. Serás feliz, porque eles não tem com que te retribuir" (Lucas 14,13-14).

A alegria de servir

Existe nessas citações bíblicas um princípio eterno, que liga o efeito da alegria à ação de servir. Esse sentimento tão prazeroso acontece também pelo serviço. Portanto, podemos buscar sempre mais preencher nossa vida com o belo sentimento da felicidade que proporcionamos aos outros, sem que estes nos tenham pedido e sem que esperemos nada em troca.

Jesus, o Mestre, com Sua Mãe, a Santíssima Virgem Maria, querem nos indicar, com isso, que a verdadeira alegria está dentro de nós e vem à tona quando deixamos aflorar todo o amor que podemos proporcionar aos que Deus põe em nosso caminho.

A recompensa maior, certamente, está no céu, mas pode ser desfrutada já aqui neste mundo. Para encontrar a felicidade, comece praticando um dom e oferecendo-o gratuitamente a quem está próximo de você. Necessidades e circunstâncias por aí não vão faltar, é só ficar atento, pois o Altíssimo quer fazê-lo feliz!

Equipe de Formação da Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/no-ato-de-servir-encontramos-a-felicidade/

27 de agosto de 2025

Como identificar a vocação sacerdotal e religiosa?

Ser todo de Deus

Jesus chamou para apóstolos "aqueles que Ele quis" depois de passar a noite em oração. A Igreja viu nisso o chamado ao sacerdócio e também às outras formas de vida religiosa. É Jesus quem chama o jovem à vida sacerdotal, o que não é fácil. A vida religiosa exige muitas renúncias para ser "todo de Deus", estar a serviço do Seu Reino para a edificação da Igreja e a salvação das almas.

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A palavra "vocação" vem do latim vocare, que quer dizer "chamar". Deus põe, no coração do jovem, esse desejo de servi-Lo radicalmente, indiviso, full time, em tempo integral, sem divisão.

Sinais indicativos da vocação:

Para discernir esse chamado divino, o jovem precisa, sem dúvida, de um bom orientador espiritual, um padre ou um leigo experiente para ajudá-lo. Penso que alguns sinais indicativos da  vocação de um jovem ao sacerdócio ou à vida religiosa sejam esses:

1 – Ter vontade de entregar a vida totalmente a Deus sem guardar nada para si; ser como Jesus, totalmente disponível ao Reino de Deus. Ser um outro Cristo – alter Christus. Abraçar o celibato com gosto, oferecendo a Deus a renúncia de não ter esposa, filhos, netos, vontade própria etc. É um casamento com Jesus. Ele disse que receberá o cêntuplo nesta vida, e a vida eterna depois que deixar tudo por causa d'Ele e do Seu Reino.

Jesus disse que as raposas têm seus ninhos, mas que Ele não tinha nem mesmo onde reclinar a cabeça. Isso é sinal de uma vida despojada de tudo. Nada era d'Ele, nem a gruta onde nasceu, nem o burrinho que O levou a Jerusalém. O barco de onde pregava e viajava, o manto que os soldados sortearam também não eram d'Ele. Nem a casa onde vivia em Cafarnaum pertencia ao Senhor. Tudo Lhe foi emprestado. Cristo era despojado de tudo; a Ele só pertencia a cruz.


A vocação religiosa exige entrega total

Dom Bosco disse que não pode haver graça maior para uma família do que ter um filho sacerdote. É verdade. O padre faz o que os anjos não podem fazer: perdoar os pecados, realizar o milagre da Eucaristia, tornar presente o Calvário em cada Missa para a salvação do mundo.

2 – A vocação religiosa exige que o candidato tenha o desejo de trabalhar como Jesus pela salvação das almas, sem pensar em um projeto para a sua vida. Exige entrega total nas mãos de Deus, desejo de viver mergulhado no Senhor. Tem de gostar de rezar, de estar com Deus, de meditar Sua Palavra e participar da liturgia, pois sem isso não se sustenta uma vocação sacerdotal.

O demônio tem muitas razões para tentar um sacerdote ou um religioso, pois este lhe arrebata as almas. Então, o religioso consagrado tem de viver uma vida de extrema vigilância, muita oração e mortificação, como disse Jesus.

Buscar permanentemente a santidade

3 – Amar a Igreja de todo o coração, tê-la como Mãe e Mestra, ser submisso aos ensinamentos do seu Magistério. Ser fiel à Igreja e a seus pastores, nunca ensinando algo que não esteja de acordo com o Sagrado Magistério da Igreja. Viver o que diziam o Santos Padres: sentire cum Ecclesia. Amar o Papa, os bispos, Nossa Senhora, os anjos e santos, os sacramentos, a liturgia e tudo o que faz parte da nossa fé católica. Amar a Bíblia e gostar de meditá-la todos os dias. Desejar estudar Teologia, Filosofia e tudo o mais que o Magistério Sagrado da Igreja nos recomenda e ensina. Gostar de fazer meditações, retiros espirituais e uma busca permanente de santidade. Almejar, como disse São Paulo, atingir a estatura adulta de Cristo; ser um bom pastor para as ovelhas.

4 – Desejar viver uma vida de penitência, na simplicidade, na pobreza evangélica, na obediência irrestrita aos superiores, aberto a todos por um diálogo franco. Ser tudo para todos. Estar disposto a obedecer sempre o seu bispo ou seu superior a vida toda, qualquer que seja a decisão dele sobre você.

5 – Estar disposto a dar até a vida pela Igreja, pelas almas e por Jesus Cristo.

Talvez, eu tenha sido um pouco exigente, mas para aquele que deseja ser um "sacerdote do Deus Altíssimo", creio que não se pode pedir menos do que isso. Quem opta pela vida sacerdotal deve se entregar de corpo e alma a ela; não pode ser mais ou menos sacerdote ou religioso. Seria uma frustração para a pessoa e para Deus. É melhor ser um bom leigo do que um mal religioso.

 



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/sacerdocio/como-identificar-a-vocacao-sacerdotal-e-religiosa/

26 de agosto de 2025

Qual a diferença entre freira, irmã e madre?

Chamadas a servir

Há vários termos para identificar a vida religiosa e diferenciar as funções de cada religioso e religiosa. Para a vida religiosa feminina, há três nomes: freira, irmã e madre.

Freira é o feminino de frei, que vem do latim frater, que significa "irmão"; portanto, freira é o mesmo que irmã. Podemos usar um ou outro para a mesma mulher consagrada.

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

A freira ou irmã pertence a uma congregação ou ordem religiosa e professa os votos de castidade, pobreza e obediência. Vivendo vida fraterna em comunidade, dedica-se à oração e ao serviço aos irmãos, de acordo com o carisma e a missão de sua congregação ou instituto religioso.

"Madre", do latim mater, em português significa "mãe". Madre é o título dado à irmã religiosa coordenadora de uma comunidade de irmãs ou de uma ordem ou congregação religiosa. Sua missão é cuidar de suas irmãs, principalmente para manter a fidelidade ao carisma e missão da congregação.

Como uma jovem se torna uma freira?

O tempo para uma jovem entrar no convento, mosteiro etc. varia de uma congregação para outra. Há famílias religiosas que determinam um tempo de dois anos de acompanhamento, outras de um ano, o que depende do processo humano, espiritual e vocacional de cada uma.

Esse acompanhamento vocacional é para ajudar a jovem a discernir bem o que Deus quer para ela. O que nem sempre é fácil! Para isso, são feitas conversas com o diretor espiritual e vocacional, retiros e conhecimento da vida religiosa em várias congregações.


Antes de uma jovem se tornar freira (ou irmã) em uma comunidade religiosa, é preciso que ela tenha claro o chamado de Deus para essa vocação. São Paulo diz que "os dons e os chamados de Deus (vocação) são irrevogáveis" (Rom 11,29). Deus chama para sempre. Esse chamado é uma expressão do amor de Deus para essa jovem. É uma vocação voltada para os outros, um desejo de dividir a vida com outras pessoas, com humildade, seguindo Cristo, que nos ensinou com Sua vida o que é amar.

A freira é uma pessoa que, ao deixar sua casa, seus pais e irmãos, vive para Deus e para os irmãos. Mas isso não quer dizer que ela perde as suas origens e o cuidado com os pais.

Testemunho

Tenho gratas recordações, por exemplo, das irmãs salesianas que serviam no Asilo São José, em Lorena, que ficava bem ao lado de nossa casa. Eu era pequeno, mas já admirava, profundamente, o carinho com que aquelas irmãs cuidavam dos velhinhos, levando-os em cadeiras de rodas para a Missa, que eu ajudava como coroinha. Da mesma forma, eu amava muito essas mesmas irmãs salesianas que eram responsáveis pela Santa Casa de Misericórdia de Lorena, e que também, com muito carinho, com aquele hábito todo branco, cuidavam dos doentes.

Esses exemplos pessoais me brotam do coração todas as vezes que penso nessas freiras, que deixaram o mundo para servir totalmente a Deus. Quando a idade vai avançando e as limitações físicas chegam, muitas delas têm de se recolher às Casas dos idosos da Congregação, pois já não têm mais saúde para o trabalho externo. Continuam, no entanto, sua missão de salvar as almas, oferecendo ao Senhor os seus sofrimentos e as suas constantes orações.

Podemos servir a Deus trabalhando por Seu Reino, e também rezando e sofrendo. Para essas religiosas, cada dia que passa deve o coração se expandir e aprender a amar sem limites.

Hábito religioso

Elas usam o hábito religioso, um sinal para o mundo da consagração da religiosa (Compendio Vaticano II – Perfectae Caritatis art. 17). É sinal de que essas mulheres são escolhidas, consagradas e reservados a Deus, e lembra, mesmo a pessoa que o usa, que ela representa sua congregação e por ele é identificada.

Algumas Congregações e Ordens Religiosas conservam o seu uso, segundo as orientações de seu fundador e de suas Constituições. As vestes devem ser simples, modestas e de acordo com as condições de saúde, de tempo e lugar. O profissional da saúde usa o branco para se identificar, o militar usa a farda, o religioso usa a veste de consagrado. Sinal de pertença a Cristo. O hábito religioso delas lembra aos que os vêm a existência de Deus. É um sinal e um testemunho público da condição de consagrados e de pessoas que estão à serviço da comunidade, como servidores e missionários do Reino de Deus.

As freiras não são religiosas porque usam o hábito, mas usam o hábito porque são religiosas.

Clausura

Há freiras e irmãs que vivem a vida monástica; as contemplativas, que vivem no claustro, numa vida reclusa, sem contato com o mundo exterior nem com as pessoas. Identificam-se com Jesus Cristo em oração sobre o monte e com o seu mistério pascal. A clausura é uma maneira especial de "estar com o Senhor", e de partilhar o aniquilamento, numa vida de renúncia radical não só às coisas, do prazer e do mundo.

As que vivem nos mosteiros são chamadas de monjas, vivem afastadas do mundo, mas não alienadas do mundo. O tempo todo essas almas contemplativas elevam a Deus uma prece pelos que sofrem.

Santa Elisabete da Trindade, carmelita descalça, escreveu a uma amiga: "Creia-me: por trás das grades do Carmelo tem um pequeno coração que lhe reserva uma lembrança tão fiel, uma alma totalmente unida à sua e que sente pela senhora um profundo afeto".

Uma carmelita disse que a vida em clausura é estar aos pés do divino Mestre velando em oração. Essas monjas de clausura são como Moisés na batalha contra os amalecitas (Ex 17,8ss) que, com os braços erguidos, intercedem para a salvação do mundo.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/qual-a-diferenca-entre-freira-irma-e-madre/