21 de março de 2025

A neurociência da felicidade: como o cérebro constrói o bem-estar

Felicidade: bem-estar, prazer e propósito

"Assim, eu concluí que nada é melhor para o homem do que alegrar-se e procurar o bem-estar durante sua vida; e que comer,
beber e gozar do fruto de seu trabalho é um dom de Deus." (Eclesiastes 3, 12-13)

O que é felicidade? Essa é uma pergunta que permeia muitos corações que desejam ser felizes. Para alguns, felicidade é o bem-estar e a satisfação com a vida. As pessoas associam felicidade a um estado de equilíbrio, onde se sentem bem com quem são, com o que fazem e com o que têm. Isso inclui sentir-se realizado em aspectos como relacionamentos, trabalho e saúde. Para outros, felicidade é composta por momentos de prazer e alegria, ou seja, é vivenciar momentos de prazer intenso, como estar com a família ou amigos, aproveitar uma boa refeição, viajar ou praticar atividades que geram prazer, como esportes ou hobbies.

Crédito: JLco – Julia Amaral/GettyImages

Outros ainda consideram a felicidade como realização pessoal e conquistas, aquela sensação de progresso e conquista de metas pessoais, sejam elas relacionadas à carreira, aos estudos ou a objetivos de vida. Muitas pessoas acham que ser feliz envolve ter um propósito na vida, algo que dê sentido ao que fazem. Isso pode estar relacionado a valores pessoais, como ajudar os outros, buscar crescimento espiritual ou contribuir para o crescimento do Reino de Deus. Muitos acreditam que amar e ser amado, além de se sentir parte de uma comunidade, são essenciais para o bem-estar emocional.

A neurociência da felicidade: o que acontece no seu cérebro?

A felicidade é um equilíbrio entre momentos de prazer, realizações pessoais e um estado emocional positivo, com foco em conexões humanas e um propósito de vida. Mas o que acontece no nosso cérebro para nos sentimos felizes? Segundo a Neurociência, a felicidade é vista como um fenômeno complexo, que envolve interações entre neurotransmissores, estruturas cerebrais, fatores psicológicos e sociais. Ela não é apenas uma resposta a estímulos externos, mas também um processo interno relacionado ao equilíbrio químico e à percepção de nossas experiências.

A maneira como vemos o mundo, como reagimos aos nossos sentimentos e as relações com outras pessoas também têm um grande impacto. A felicidade é um estado de bem-estar que ocorre quando certas partes do nosso cérebro são ativadas e liberam substâncias químicas que nos fazem sentir bem e nos ajudam a processar prazer e recompensa. Essas substâncias químicas são produzidas pelo corpo de formas naturais, e podemos estimulá-las de diversas maneiras através de comportamentos e atividades.

  • Dopamina: É a substância que nos dá aquela sensação de recompensa, como quando conquistamos algo ou sentimos prazer.
  • Serotonina: Está ligada ao nosso humor e à sensação de satisfação. Quando temos exposição ao sol, prática de atividades físicas (especialmente exercícios aeróbicos), meditação, consumo de alimentos ricos em triptofano (como ovos, queijos, nozes e sementes), e uma boa noite de sono.
  • Ocitocina: É liberada quando nos conectamos com outras pessoas, como durante abraços ou momentos de carinho, ajudando a criar laços e aumentar o bem-estar.
  • Endorfinas: São os "hormônios da felicidade", que nos fazem sentir bem, como quando praticamos esportes, rimos, comemos alimentos picantes e até mesmo realizamos atividades criativas ou artísticas.

A boa notícia é que o cérebro é adaptável! Isso significa que práticas como meditação da Palavra de Deus, gratidão e louvor a Jesus, ter boas amizades, fazer atividade física e ter uma boa alimentação contribuem com o nosso bem-estar e aumentam nossa felicidade ao longo do tempo.

Convido você a cuidar do seu corpo e da sua alma para encontrar a verdadeira felicidade, que é Jesus!

Deus o abençoe.

Margarete Rabelo
Missionária da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/neurociencia-da-felicidade-como-o-cerebro-constroi-o-bem-estar/

20 de março de 2025

Escada de Jacó

A transfiguração, luz no tempo da quaresma

Jesus subiu ao Tabor com seus três discípulos (cf. Lc 9,28-36) para rezar! Ali ele se transfigurou, apareceram testemunhas qualificadas, Moisés e Elias, e fez-se ouvir a voz do Pai, quando estavam envolvidos na nuvem, apontando para o Espírito Santo! Imenso valor dado por Deus àqueles três homens e a todos nós, um presente para não nos escandalizarmos com o mistério da Cruz, pela qual Jesus e todos nós chegamos à glória e à vitória. Entretanto, desta feita o Segundo Domingo da Quaresma, com o qual aprendemos a fidelidade de Jesus e a nossa às consequências da Encarnação, fazendo-nos vislumbrar os efeitos da graça batismal, suscitou uma lembrança da escada de Jacó (Gn 28,10-22), em cujo sonho subiam e desciam os Anjos de Deus.



Créditos: Pichai Puntong/GettyImages

Ali ele experimentou estar na Casa de Deus e Porta do Céu, e Jacó chamou de Betel aquele lugar! No encontro com Natanael (Jo 1,51), Jesus se reporta a esta escada, anunciando a profunda comunhão entre o Céu e a Terra, cujo anúncio e realização nele mesmo acontecem! De fato, quando Jesus e seus discípulos sobem ao Monte para rezar, o Céu desce à terra, com a manifestação da glória de Deus, a voz do Pai, que assegura aos amigos temerosos ser ele o Filho, o Escolhido, cuja Palavra há de ser ouvida e plenamente acolhida.

Comunhão divina, o amor como ponte entre o céu e a terra

No plano de Deus, há de existir comunhão profunda entre o Céu e a Terra, e a acolhida a Jesus Cristo e sua Palavra estabelece a estrada para esta desejada aproximação, de modo que os critérios do Céu aqui se estabeleçam! E é bom recordar que o Senhor, quando nos deu o "seu" mandamento trouxe exatamente estes critérios: "Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei" (Jo 15,12). O modo de viver na Santíssima Trindade desceu à terra e se
transformou em mandamento para os que creem.


Na criação do mundo, segundo a narrativa do Livro do Gênesis, Deus vem do alto, cria o mundo e nele estabelece a presença humana. Aos homens e mulheres cabe cuidar da magnífica obra, vinda da arte eterna e criativa de Deus: "Deus os abençoou e lhes disse: 'Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem pelo chão'. Deus disse: 'Eis que vos dou, sobre toda a terra, todas as plantas que dão semente e todas as árvores que produzem seu fruto com sua semente, para vos servirem de alimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todos os animais que se movem pelo chão, eu lhes dou todos os vegetais para alimento'. E assim se fez. E Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom. Houve uma tarde e uma manhã: o sexto dia" (Gn 1,28-31). Não há semente de maldade na criação de Deus. Tudo o que pensou e fez é muito bom!

Cuidar da criação, um mandato de amor e reciprocidade

Reportamo-nos à Encíclica Laudato si', do Papa Francisco, onde recolhemos o ensinamento sobre o cuidado com a natureza: "Não somos Deus. A terra existe antes de nós e foi-nos dada. Isto permite responder a uma acusação lançada contra o pensamento judaico- cristão: foi dito que a narração do Gênesis, que convida a 'dominar' a terra (cf. Gn 1, 28), favoreceria a exploração selvagem da natureza, apresentando uma imagem do ser humano como dominador e devastador. Mas esta não é uma interpretação correta da Bíblia, como a entende a Igreja. Se é verdade que nós, cristãos, algumas vezes interpretamos de forma incorreta as Escrituras, hoje devemos decididamente rejeitar que, do fato de ser criados à imagem de Deus e do mandato de dominar a terra, se deduza um domínio absoluto sobre as outras criaturas. É importante ler os textos bíblicos no seu contexto, com uma justa hermenêutica, e lembrar que nos convidam a 'cultivar e guardar' o jardim do mundo (cf. Gn 2, 15). Enquanto 'cultivar' quer dizer lavrar ou trabalhar um terreno, 'guardar' significa proteger, cuidar, preservar, velar. Isto implica uma relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e a natureza. Cada comunidade pode tomar da bondade da terra aquilo de que necessita para a sua sobrevivência, mas tem também o dever de a proteger e garantir a continuidade da sua fertilidade para as gerações futuras. Em última análise, 'ao Senhor pertence a terra' (Sl 24, 1), a Ele pertence 'a terra e tudo o que nela existe' (Dt 10, 14). Por isso, Deus proíbe-nos toda a pretensão de posse absoluta: 'Nenhuma terra será vendida definitivamente, porque a terra me pertence, e vós sois apenas estrangeiros e meus hóspedes'" (Lv 25, 23) (LS 67). Cabe-nos entrar na dinâmica da Transfiguração, coerentes em tudo com a graça batismal recebida, cuidando com o amor que desce do Céu de tudo o que existe.

Podemos ir ao encontro das sementes de bondade que existem no coração das pessoas, superando julgamentos e condenações. Uma pessoa bem amada não se desfigura, mas se transfigura! Acolhamos ainda do plano de Deus o olhar positivo e otimista diante da criação. Saber admirar a natureza, a arte com que Deus a pensou, através dos mistérios nela mesma escondidos, isso nos fará mais alegres e nos possibilitará identificar os traços do Céu na Terra. E nasça em nós o gosto pela
harmonia, a capacidade de olhar ao redor para aproveitar todos os elementos possíveis para que o mundo seja bem cuidado.

Fraternidade e ecologia integral, um chamado à conversão

Arrumar a casa, vestir-se com gosto, falar coisas boas, elogiar a beleza e o bem! Atos de amor correspondentes ao plano de Deus! A Campanha da Fraternidade de 2025, com tema tão desafiador quanto importante, "Fraternidade e Ecologia Integral", sugere práticas de cuidado com a criação de Deus que, em si é boa, mas muitas vezes maltratada por aqueles que receberam de Deus a responsabilidade de "cuidar". É bom acolher o convite àquilo que tem sido chamado de "Conversão Ecológica", assumindo práticas sustentáveis.

É conversão por se tratar de um processo, lento, mas seguro e fundamental, no qual todos somos chamados a nos comprometer. Aqui, podemos abrir os olhos
e assumir práticas diferentes, por exemplo, no modo de recolher o lixo e todos os resíduos, com a possível coleta seletiva e tratamento adequado, a diminuição do uso do plástico, a alimentação mais adequada, com práticas e cuidados sustentáveis e mais saudáveis. A nós cabe ajudar o mundo a se transfigurar! Entretanto, só com a conversão a Deus e ao Evangelho entenderemos e nos comprometeremos com tais ideias e iniciativas!

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/escada-de-jaco/

19 de março de 2025

Autodomínio dos afetos

Acolher, compreender e integrar: o caminho para a felicidade emocional

Nem suprimir, nem se deixar dominar por nossos afetos, é uma arte necessária que exige equilíbrio emocional com raízes fincadas no autoconhecimento. Muitas vezes, somos tentados a viver dois extremos: ou nos afundamos na tempestade das nossas emoções ou construímos muralhas, no sentido de proteger os nossos afetos com uma postura de indiferença para não sentir nada. O problema é que nem um extremo nem outro pode nos fazer felizes, porque nos aprisiona, e a felicidade tem alicerce na liberdade vivida com responsabilidade e ordenada para o amor que se traduz em uma vivência equilibrada entre o sentir e o orientar nossos sentimentos para o bem, tanto o nosso bem, como e o bem do próximo.

Crédito: PeopleImages/GettyImages

Mas será que existe um caminho seguro que nos leve até lá? A resposta é sim, e a via de condução não está na fuga nem no excesso, mas no aprendizado de acolher os afetos, compreendê-los e integrá-los à nossa vida real no dia a dia. É verdade que não temos controle sobre muitas coisas que nos acontecem, inclusive a manifestação das nossas emoções, mas a forma como escolhemos lidar com elas pode piorar ou melhorar a situação. E, às vezes, o que mais precisamos fazer é "trocar a lente" através da qual estamos vendo as situações para melhor lidarmos com nossas emoções.

Entre a razão e a emoção, o caminho do autoconhecimento

Nesse sentido, o autoconhecimento é vital, pois somente quando conhecemos a raiz das nossas ações, o que nos leva a dar essa ou aquela resposta, é que podemos agir com a estratégia certa de maneira que nossos afetos não nos matem, mas também não morram, mas nos ajudem a cumprir nossa missão no lugar onde Deus nos permite estar com tudo o que somos.

Entre ser refém dos afetos e ignorá-los completamente existe um caminho de liberdade, onde precisamos escolher entre o bem e o mal o tempo todo. Seja nas situações corriqueiras, seja nas mais complexas que podem mudar completamente o rumo da nossa vida. Às vezes, nossos afetos parecem um mar agitado. Sentimos tudo ao mesmo tempo e, se não soubermos nadar contra a correnteza das paixões, podemos nos afogar nelas e tomarmos decisões contrárias aos nossos propósitos e nos arrependermos amargamente depois. Outras vezes, são como um inverno rigoroso, e agimos com indiferença diante dos acontecimentos como se nossos sentimentos estivessem congelados, e nada mais nos abala. Porém, no fundo da alma, sabemos que algo não está acontecendo do jeito que deveria, e isso rouba a nossa paz.

Além do sentir, o caminho para lidar com os afetos

Ou seja, a grande questão está em aprendermos a lidar com nossos afetos, porque o problema não é sentir, mas não saber o que fazer com o que sentimos. E quando não sabemos lidar com uma situação ligada às emoções, a tendência mais lógica é fugirmos dela, embora saibamos que isso pode até aliviar a crise, mas dificilmente resolverá o problema.


Portanto, se seus afetos estão oscilando entre o "mar agitado das emoções e o gelo do inverno", proponha a eles passar pelo desprendimento do outono para chegar à ordem e ao florescimento da primavera. E lembre-se de que isso leva um tempo, a vida saudável e real que você deseja é construída dia após dia entre um acontecimento e outro, e os afetos naturalmente fazem parte desse processo, e educá-los não significa reprimi-los, mas integrá-los à realidade de forma harmônica. "Seja a favor de si mesmo", como ensina São Bernado de Claraval e apresente seus afetos a Deus através da oração, para que Ele lhe ensine a viver em posse da liberdade que Jesus Cristo conquistou para você na cruz, e assim possa lidar com seus afetos sem medo de senti-los, e sem se deixar arrastar por eles.

Dijanira Silva
Missionária Núcleo da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/autodominio-dos-afetos/

18 de março de 2025

Reparar a criação

A fé em ação, reparando a casa comum

Reparar a Criação é núcleo vigoroso da fé cristã. Os relógios verdadeiros e completos remetem a Cristo, Salvador e Redentor, pela força e méritos de sua paixão, morte e ressurreição. Sem Ele o caminho fica pela metade, o vigor físico e o espiritual colapsam, e não se dá conta da tarefa nobilíssima dada ao ser humano: cuidar da regência no conjunto da Criação, que remete ao próprio Criador. Cuidar da harmonia do planeta é, pois, ação de fé, dedicada a restaurar a Casa Comum depredada e tratada, mesquinhamente, pela ganância do extrativismo, emoldurado estranhamente por uma orgulhosa pretensão humana de querer se apoderar de tudo.

Crédito: oatawa/GettyImages

Reparar a Criação, sinal de conversão e de busca por mudanças, constituição urgência e oportunidade, para consolidar nova conduta humana em relação ao tratamento do meio ambiente . A adoção de novos hábitos capazes de superar a depredação do planeta pede revisão no estilo de vida contemporâneo, com incidências nos campos da política e da economia. Sem novos estilos de vida, a humanidade pode sucumbir às catástrofes climáticas e outras ameaças provocadas pelo desequilíbrio ecológico.

A luz da fé na Quaresma, rumo a um novo estilo de vida

A racionalidade contemporânea não está conseguindo construir entendimentos sociopolíticos capazes de reverter a rotação do planeta. A esperança vem da fé, com a sua luminosidade, que pode concordar com a visão equivocada de que o ser humano é dono do mundo e de tudo o que existe, com direito de decidir, friamente, apenas por cálculos, modos de explorar os bens da Criação.

Uma frieza que leva a cenários de injustiças e perversidades, acentuando desigualdades sociais para consolidar privilégios, muitas vezes por meio de manipulações ganâncias. Compreende-se que o apelo quaresmal da conversão – mudança de rumo na própria conduta – depende da luz que vem da fé. E a conversão contempla uma autoavaliação adequada sobre o modo de se viver na casa comum. Enriquece, pois, o caminho quaresmal buscar tratar uma das mais graves feridas no conjunto da vida contemporânea: revisar estilos de vida para reparar a Criação .

Fé e ecologia integral, um caminho quaresmal para a criação

Pode-se corrigir os descompassos no tratamento dedicado à casa comum tomando consciência da centralidade de Deus-Criador e do lugar a ser ocupado pelo ser humano – criatura escolhida pelo Pai para cuidar da gestão de tudo que integra a Criação. A partir dessa consciência, abre-se um horizonte humanístico que ilumina escolhas, sem permitir irracionalidades, a exemplo da busca gananciosa pelo lucro, mesmo a partir do sacrifício do semelhante.

Quando se confirma a centralidade do Deus-Criador e o papel do ser humano na regência da criação prioriza-se a solidariedade dedicada aos pobres e indefesos.
Recompõe-se o sentido de fraternidade pelo caminho da ecologia integral. Quando o conceito de ecologia integral é compreendido e passa a inspirar as atitudes do ser humano, cria-se caminho para a reconciliação solidária, debela-se o desejo velado e pretensioso de possuir, egoisticamente, os bens da Criação. Ao contrário do que alguns podem até pensar, há profunda relação entre o caminho quaresmal e as dinâmicas propostas pelo conceito de ecologia integral.

Restaurando a criação

A vivência da ecologia integral tem potencial incalculável para conversão, com mudanças profundas na vida pessoal e comunitária. Ao pensar em ecologia integral, observe que o conjunto de relações que pode promover ou ameaçar a vida está interligado com tudo o que existe na natureza. Por isso, não há outro caminho para reparar a Criação senão pela via do relacionamento avançado e sadio, com o desenvolvimento de uma sensibilidade ancorada em Deus – Senhor da história.


Quando se cultiva a sensibilidade relacional tendo Deus, Senhor da história, como fundamento, desenvolve-se uma habilidade para aprimorar lidar com o semelhante, reconhecendo a sua sacralidade. Agir nos parâmetros da ecologia integral fortalece a capacidade para se estabelecer limites, na contramão de autoritarismos, da promoção de esgotamentos homicidas dos recursos humanos e naturais.

Laudato Si: Reciprocidade e responsabilidade 

A destruição do planeta, por sua manipulação e exploração gananciosa é, em si, declarada de morte a quem recebeu a honrosa tarefa de reger os dons da Criação. Vale ter presente uma advertência simples e, ao mesmo tempo, forte, do Papa Francisco, na Carta Encíclica Laudato Sì, quando afirma sobre o sentido inegociável de uma relação de reciprocidade entre o ser humano e a natureza. Papa Francisco sublinha que cada comunidade pode tomar posse da Terra aquilo que necessita para a sua sobrevivência, sem ignorar o dever de proteger e garantir a continuidade da sua fertilidade para as gerações futuras.

Inscreva-se aqui a necessidade de senso de legislações que não podem se submeter à lógica cega do lucro e deixar, por exemplo, que os nascentes sejam eliminados em nome de uma exploração minerária predatória. Os graves danos ambientais com as suas pesadas consequências expõem a responsabilidade do ser humano de se adotar um novo modo de viver no planeta, conquistado por meio de conversão ecológica. Trata-se do caminho para o desenvolvimento sustentável que é o único modo de debelar o acentuado processo de gestão ambiental da atualidade.

As estatísticas são pavorosas, as catástrofes climáticas batem, de repente, em qualquer porta, como um grito do planeta que pede socorro e convida todos a se dedicarem aos processos de seus componentes. Reparar a Criação é ato de amor que pede o sacrifício de si mesmo, com força de redenção. Uma tarefa nobre a ser assumida pela humanidade, que tem a obrigação de exercer a regência de tudo o que existe e, por isso mesmo, o dever de reparar a Criação.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/meio-ambiente/reparar-a-criacao/

17 de março de 2025

Ouvir ou escutar? Eis a questão!

A arte de escutar, um caminho para a saúde auditiva e espiritual

Parafraseando Hamlet, personagem da peça homônima de William Shakespeare, todavia fundamentada numa visão formativa e sem perder o viés da reflexão, levanto o questionamento sobre qual é a ação mais salutar, essencial ou producente para a saúde auditiva do ser humano: ouvir ou escutar? Será que há diferenças, contraposição, contiguidade, consonância? A resposta a tal pergunta é uma informação que precisa ser propagada e uma reflexão realizada de forma pessoal e periódica. 0 3 de março é o Dia Mundial da Audição, quando, todos os anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) promove uma nova temática com o objetivo de conscientizar e sensibilizar a sociedade acerca da surdez, promovendo ações e iniciativas de prevenção e cuidados contra a deficiência auditiva.

Crédito: Prostock-Studio/ Getty Imagens

E quanto à surdez espiritual? O que podemos fazer para prevenir nossa alma e o nosso ser dessa doença fatal? O ouvido é um sistema ósseo composto por canais por onde passam líquidos que estimulam as células sensoriais do equilíbrio e da audição. O aparelho auditivo do homem é, ao mesmo tempo, um sistema complexo, mecânico, acústico e reflexivo. Qualquer alteração nesse processo pode dificultar a audição ou provocar problemas auditivos e de estabilidade.

O poder da escuta: compreensão, atenção e alteridade

Ouvir ou escutar? Eis a questão! Ouvir provêm do latim audire, que significa perceber o som, é um processo mecânico, ou seja, é a capacidade do ouvido para captar os sons externos como fala, ruídos, melodias, sons contínuos, intermitentes, de alta ou baixa frequência e/ou intensidade. Somente ouvir algo não significa que a informação foi entendida. Para ouvir, é imprescindível que o ouvido esteja saudável, que ele seja capaz de captar as ondas sonoras espalhadas pelos ares, por meio das orelhas externas que funcionam como perfeitos amplificadores sonoros; transmitir este som por meio do ouvido médio, um verdadeiro canal por onde o som vai sendo purificado até chegar ao ouvido interno, no cérebro, onde é processado e compreendido.

Nessa fase, não é mais apenas ouvir, é uma ação mais profunda e complexa, é escutar. Portanto, o verbo escutar, também proveniente do latim auscutare, é o ato de dar atenção e compreender o som que é ouvido. Escutar é uma habilidade que se desenvolve à medida do crescimento e amadurecimento da pessoa, também é um processo consciente e livre da vontade humana para compreender o que é ouvido. É ainda uma atitude de alteridade, onde há respeito, consideração e abertura ao
diálogo com o outro.

Escutar é mais do que dar atenção ao som, é ouvir com o coração. Contudo, tanto para ouvir quanto para escutar, a pessoa precisa ter seu aparelho auditivo íntegro, em perfeitas condições de funcionamento, portanto, deve adotar medidas preventivas e protetivas para com o seu ouvido e cérebro. Uma perda auditiva de menor ou maior intensidade pode causar problemas e dificuldades significativas na vida diária da pessoa, influenciando essencialmente na comunicação, podendo tornar
seus relacionamentos e seu viver mais difíceis.

Seu mundo sem som?

As causas mais frequentes de perdas auditivas são: o uso constante de cotonetes; a exposição a barulhos altos por longos períodos, como ferramentas elétricas; ouvir músicas em alto volume; o envelhecimento natural; barulhos súbitos e muito altos, como disparo de arma de fogo ou proximidade a explosão e infecções do ouvido, particularmente em crianças e jovens adultos. As causas menos comuns de perdas auditivas incluem as doenças autoimune (doenças que levam o sistema imunológico do corpo a atacar os próprios tecidos); doenças sistêmicas como diabetes mellitus e hipertensão arterial que podem alterar a vascularização dos ouvidos e provocar a deterioração do órgão; a genética, isto é, condições que causam surdez ou perdas auditivas herdadas do histórico familiar; defeitos congênitos, onde a pessoa nasce com alguma deformidade no ouvido; o uso de alguns medicamentos ototóxicos que lesam os ouvidos como efeitos colaterais; lesões nas orelhas e tumores dentro do ouvido ou em partes do cérebro e prematuridade infantil.

Sabemos que a perda auditiva pode não ser perceptível inicialmente, e mesmo que nem todos os danos auditivos possam ser evitados, existem algumas atitudes que podem reduzir o risco ou até impedir a perda auditiva relacionada à idade e/ou induzida.

Seguem algumas dicas importantes para serem adotadas e divulgadas.

  1. Realizar o teste da orelhinha, teste fundamental para a detecção precoce dos problemas auditivos na infância.
  2. Evitar barulhos altos por tempo prolongado.
  3. Usar dispositivos de proteção adequados. Em muitas situações, a exposição a ruídos altos é inevitável, como na rotina de profissionais que operam máquinas, atuam em fábricas ou trabalham com música e eventos. Nesse caso, é fundamental seguir as orientações de ergonomia previstas para cada área de atuação.
  4. Usar fones de ouvido com cuidado, o volume deve ser suficiente para ouvir de modo confortável. A OMS estima que mais de 1 bilhão de jovens correm o risco de desenvolver perda auditiva permanente na atualidade devido a essa e outras práticas inseguras.
  5. Manter as orelhas secas, o excesso de umidade nos ouvidos pode facilitar a entrada de bactérias e um possível ataque ao canal auditiva com proliferação bacteriana.
  6. Tratar as infecções adequadamente, seguindo sempre as orientações médicas. É importante ficar atento sempre que perceber sinais de gripes e resfriados fortes e dores no ouvido.
  7. Não introduzir objetos no canal auditivo. Ao colocar qualquer objeto dentro do ouvido, existe o risco de danificar partes sensíveis, como o tímpano e causar perda auditiva. Ter cera no ouvido é normal e importante para a saúde auditiva.
  8. Consultar o otorrinolaringologista sempre que necessário.

Escutar com o coração, a cura para a surdez existencial

Ouvir e escutar com os ouvidos é algo natural ao ser humano. Escutar com o coração também deveria ser, pois essa ação tem o poder não somente de transformar as ondas sonoras em som inteligível, como promove a escuta da própria voz, favorece a compreensão dos nossos semelhantes e nos torna assaz escutadores da voz do Sagrado que habita nosso interior. Quem não escuta com o coração, pode tornar-se um surdo existencial, já não se trata apenas de uma perda auditiva física, mas de uma surdez espiritual, talvez mais grave e nociva à realidade de filho de Deus. Muitas vezes, a causa dessa surdez é o pecado, mas podem ser também as dores, as feridas, os traumas ou os sofrimentos diversos, pois um coração machucado torna-se fechado e isolado, dificilmente se comunica, torna-se surdo, não ouve nada nem ninguém.


Jesus foi um homem que escutou com o coração. Certa vez, levaram um surdo-mudo para que Ele o curasse. Ao tocar-lhe, Jesus disse: "Effathá!", ou seja, "Abra-te". Imediatamente, os ouvidos do homem abriram-se, sua língua soltou-se e ele começou a falar corretamente (Mc 7,35). Antes de se encontrar com Jesus, aquele homem era um sofredor, estava fechado e isolado em um mundo de silêncio, para ele era difícil comunicar-se. Com fé, atitude e no encontro com Deus feito homem, ele foi curado, houve uma abertura partindo dos órgãos auditivos até o coração, o surdo-mudo se abriu para falar e relacionar-se. É isso que Jesus veio fazer. Ele quer nos libertar, nos tornar capazes de viver uma plena relação conosco, com o outro e com o Pai.

"Abre-te!" O chamado divino para uma escuta transformadora

Jesus quer nos ensinar a escutar a voz de Deus, a compreender a linguagem do Amor que fala ao nosso coração. Este ano, o tema proposto pela OMS para o Dia Mundial da Audição é "Mudando mentalidades: empodere-se para tornar o cuidado auditivo uma realidade para todos. É necessário reforçar a importância de atitudes práticas e conscientes para proteger nossa audição e apoiar os deficientes auditivos. E numa atitude de empoderar-se da filiação Divina, todo ser humano é convidado a escutar a voz do Divino Mestre que diz "Abre-te!". Essa é uma palavra dirigida por Deus a cada um de nós. É um convite a não nos fecharmos em nós mesmos, a sermos sensíveis aos problemas e dores dos outros.

Ele pede abertura não só dos ouvidos, mas da vida inteira, é um chamado a escutar e deixar Deus entrar em nosso interior, curar nossas feridas e nos libertar de toda surdez espiritual, pois o pior surdo é aquele que não quer ouvir. Ouvir com os ouvidos e escutar com o coração, eis a nossa meta, eis a nossa missão.

Jací Fagundes
Escritora, Mentora do Simplesmente Mulher, Missionária, Terapeuta, Fonoaudióloga e Filósofa.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/saude-atualidade/ouvir-ou-escutar-eis-questao/

14 de março de 2025

Da Aldeia da Cova da Iria para o mundo, a serva de Deus Irmã Lúcia de Jesus

Uma camponesa escolhida por Deus

Seu nome de batismo é Lúcia de Jesus Rosa dos Santos, a mais nova dos sete irmãos, filha de gente simples, seu pai Antônio dos Santos e sua mãe Maria Rosa Ferreira. Uma camponesa que não sabia ler nem escrever. Ela não esperava que, juntamente com os primos, os irmãos Francisco e Jacinta Marto, encontrariam graça diante de Deus, e que lhes seriam revelados os mistérios do Reino dos Céus através das aparições: as do Anjo da Guarda de Portugal, em 1916, e de Nossa Senhora em 1917.

Créditos: Domínio Público

Os três pastorinhos videntes de Fátima

Em cada tempo, Deus tem a pedagogia adequada para atuar no mundo, que passa por pessoas e lugares. E foram as crianças, conhecidas como os três pastorinhos, que Ele quis contar e os fez videntes das Aparições de Fátima. Lúcia, com apenas 10 anos de idade, foi a que via, ouvia e falava com Nossa Senhora, sinais importantes que ajudariam na divulgação da mensagem que recebiam do céu.

Iluminados pelas sagradas escrituras, compreendemos que a lógica da manifestação de Deus é oposta à do mundo: "… o que para o mundo é loucura, Deus o escolheu para envergonhar os sábios, e o que para o mundo é fraqueza, Deus o escolheu para envergonhar o que é forte" (I Cor 1,27).

A missão revelada a Lúcia

Na aparição de 13 de junho, Nossa Senhora pediu para aprenderem a ler e escrever, revelou que Jacinta e Francisco iriam em breve para o céu, e a missão que Deus tinha para Lúcia: "A Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-Se de ti para me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração". Lúcia pergunta se ficará sozinha e a querida Mãe do céu responde: "Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus".

Fátima, lugar de fé e conversão

Como em Nazaré, um lugar pequeno, inóspito, desconhecido, terra de agricultores, Deus fez da Cova da Iria a mensagem de Fátima ecoar nos corações de milhares de pessoas e se alastrando pelo mundo, tornando Fátima lugar de forte apelo e grande manifestação de fé, conversão, sacrifícios e orações.

A fidelidade de Lúcia após a morte dos primos

Após a morte dos primos pela gripe espanhola, Francisco em abril de 1919, e Jacinta em fevereiro de 1920, coube a Lúcia permanecer fiel a Deus diante do legado dado por Ele através das Aparições. Os sofrimentos não eram poucos: a morte dos primos, a multidão que a procurava, a liberdade restrita, a incompreensão da mãe que não acreditava, as visitas dos enviados pela Igreja para a interrogar. Para poupá-la do assédio das pessoas, o Bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, a orienta a partir para a cidade do Porto para estudar.

A sétima aparição, o consolo de Nossa Senhora

Para Lúcia, deixar a sua terra, a casa paterna, o lugar bendito das aparições, desencadeou no seu interior conflitos de sentimentos, e foi tentada a não partir. Nesse momento de conflito interior, Nossa Senhora cumpre a promessa feita a 13 de Maio de 1917: "…voltarei ainda aqui uma sétima vez."


No seu diário de Carmelita, Lúcia registrou esse acontecimento, que só foi revelado após a sua morte: Estava nesta luta, quando foi à Cova da Iria: Assim solícita, mais uma vez desceste à terra, e foi então que senti a Tua mão amiga e maternal tocar-me no ombro; levantei o olhar e vi-Te, eras Tu, a Mãe bendita a dar-me a mão e a indicar-me o caminho; os Teus lábios descerraram-se e o doce timbre da tua voz restituiu a luz e a paz à minha alma: "Aqui estou pela sétima vez, vai, segue o caminho por onde o Senhor Bispo te quiser levar, essa é a vontade de Deus."

Repeti então o meu "sim", agora bem mais consciente do que o do dia 13 de maio de 1917, e enquanto que, de novo, Te elevavas ao Céu, como num relance, passou-me pelo espírito toda a série de maravilhas que naquele mesmo lugar, havia apenas quatro anos, ali me tinha sido dado contemplar.

A vida religiosa e as memórias de Fátima

Lúcia partiu para o Porto, onde estudou e sentiu o chamado à vida religiosa contemplativa carmelita. Porém, nesse período, houve a extinção das Ordens religiosas em Portugal, que a levou a entrar para as Irmãs Doroteias. Foi em Vilar, no Porto, que escreveu, a pedido do Bispo Dom José Alves, "As memórias da Irmã Lúcia I", onde relatava a vida dos primos e as suas virtudes heroicas, os santos Francisco e Jacinta. Irmã Lúcia escreveu também outros livros.

Aparições em Pontevedra e Tuy

Ela viveu em Tuy e Pontevedra, na Espanha, onde aconteceram algumas aparições: Em Pontevedra, a 10 de dezembro de 1925, Nossa Senhora pediu que "durante cinco meses, ao primeiro sábado, se confessarem, receberem a Sagrada Comunhão, rezarem o Terço e me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas. Em Tuy, a 19 de junho de 1929, lhe apareceu a Santíssima Trindade e Nossa Senhora, trazendo a mensagem que Deus pedia para o Santo Padre fazer, em união com todos os Bispos do mundo, a consagração da Rússia ao Seu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por este meio.

A vida no carmelo e a devoção ao Imaculado Coração de Maria

A 25 de março de 1948, Lúcia ingressou no Carmelo de Santa Teresa em Coimbra, Portugal, e, mesmo no claustro do Carmelo, viveu a Prática Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados, conforme lhe pediu Nossa Senhora. Do silêncio do Carmelo, realizou a sua missão de levar a Devoção ao Imaculado Coração de Maria ao mundo. De vida simples, alegre e serviçal, viveu como todas as outras irmãs, porém única portadora da Mensagem recebida do céu. Conforme os escritos no seu diário espiritual, a Solicita Mãe Celeste nunca a deixou e continuou lhe aparecendo no Carmelo.

Guardiã da mensagem de Fátima

Foi guardiã da Mensagem de Fátima, uma profeta da graça e misericórdia que Deus quer derramar sobre o mundo. A sua vida foi sempre oferecida em união com Jesus Eucarístico e com o Coração Imaculado de Maria, pela Igreja e pela conversão dos  pecadores. Diante dos sofrimentos interiores que vivia, Ir. Lúcia permaneceu dócil e obediente à voz de Deus através da Igreja até os últimos momentos de sua vida no Carmelo de Santa Teresa em Coimbra, partindo para o céu a 13 de Fevereiro de 2005, aos 97 anos, após escutar a leitura do telegrama de São João Paulo II.

O caminho para a santidade

Pela vida virtuosa e exemplar, foi reconhecida Venerável, e para alcançar a honra dos altares e ser declarada santa, precisará de um milagre reconhecido e aprovado pela Igreja para ser Beatificada, como também outro milagre para a canonização.

Venerável Irmã Lúcia de Jesus, rogai por nós!

Nilza Pires 
Misssionária Núcleo da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/santos/da-aldeia-da-cova-da-iria-para-o-mundo-serva-de-deus-irma-lucia-de-jesus/

13 de março de 2025

Papa Francisco e sua visão Mariana da Igreja

Uma personalidade marcante e o amor a Nossa Senhora

Com grande alegria, apresento este testemunho em gratidão ao Papa Francisco, com quem tenho a honra de manter uma relação desde 2007. Tive a graça de trabalhar ao seu lado na Conferência de Aparecida, experiência que marcou profundamente minha vida, especialmente por sua humildade, profundidade de pensamento e espírito eclesial. Naquela época, jamais imaginei que um dia ele se tornaria Papa.

Créditos: Acervo Pessoal

Desde o início, sua personalidade e espírito religioso me impressionaram, assim como seu amor a Nossa Senhora. Em Aparecida, tivemos conversas significativas sobre a importância da presença de Maria no documento final da Conferência e como o exemplo e a intercessão de Maria deveriam marcar todas as dimensões da vida da Igreja, especialmente na vida do povo latino-americano, evangelizado pelas mãos de Nossa Senhora.

A história mariana do nosso continente é muito profunda. A evangelização se deu de forma mariana, guadalupana, e, na América do Sul, a presença de Maria acompanhava os evangelizadores, que traziam a cruz de Cristo junto a uma imagem de Nossa Senhora. O Papa Francisco é herdeiro dessa tradição.

"Ela é a Minha Mãe": Testemunhos da devoção mariana do Papa

Gostaria de compartilhar algumas histórias sobre a relação do Papa com Nossa Senhora. Tive a graça de entrevistá-lo sobre esse tema, o que resultou no livro "Ela é a Minha Mãe" (Encontros do Papa Francisco com Maria, Ed. Loyola e Santuario, 2014).

Como membro do Movimento de Schoenstatt, sempre senti a conexão que o Papa fazia entre mim e Nossa Senhora. Durante a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro (2013), quando fui seu intérprete, ele me presenteou com objetos marianos. Percebendo que não tinha um presente para ele, lembrei-me de uma imagem da Mãe Peregrina que uma Irmã de Maria de Schoenstatt me dera para que o Papa a abençoasse.

Créditos: Acervo Pessoal

Ao olhar para a imagem, senti que era o presente perfeito. Ao entregá-la, ele a abraçou, beijou e pediu que eu a abençoasse, o que me surpreendeu. Então, ele disse: "Muitas vezes, dou de presente os presentes que recebo, mas esta ficará comigo". Desde então, a imagem o acompanha, estando ao lado de sua cama, em sua mesa de cabeceira.

Em 2014, ele compartilhou com a Família de Schoenstatt: "Faz um tempo, um Padre de Schoenstatt me presenteou uma imagem da Mãe. E a tenho na mesa ao lado da minha cama. E todas as manhãs, quando me levanto, a toco e rezo. É um segredo que queria lhes contar". Ele também enfatizou a importância de Maria como nossa mãe, deixando belas mensagens para a família de Schoenstatt: "Não temos o direito de ter uma mentalidade de órfãos. Ou seja, o cristão não tem o direito "de se sentir órfão". Tendes Mãe. Temos Mãe. (…) Ela é Mãe não só porque nos dá a vida, mas Ela também nos educa na fé. É muito diferente procurar e crescer na fé sem a ajuda de Maria. É outra coisa. É como crescer na fé sim, mas numa Igreja que é um orfanato. Uma Igreja sem Maria é um orfanato. Acima de tudo, Ela nos educa, ajuda-nos a crescer, acompanha-nos, toca as nossas consciências. Ela sabe como tocar as consciências para o arrependimento!"

Maria e a cultura do encontro e da aliança

O Papa Francisco destaca a importância de Maria como aquela que nos ajuda a viver a cultura do encontro e da aliança, que é o centro da espiritualidade de Schoenstatt. "Cultura do encontro é cultura da aliança. E isso gera solidariedade. (…) Significa criação de vínculos, não destruição de vínculos. E, hoje em dia, estamos vivendo nessa cultura, nessa cultura do provisório, que é uma cultura de destruição de vínculos. (…)" Então, cultura do encontro, que cria uma unidade que não é mentirosa, e é a unidade da santidade, entendem? Que leva à cultura do encontro.


Uma igreja mariana: firmeza, ternura e misericórdia

A visão do Papa sobre Nossa Senhora é de uma mãe sempre presente no meio do seu povo, discípula e missionária de Jesus. Para ele, ao falarmos de Maria, estamos também falando da Igreja.

Na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, Francisco ensina que tudo o que dizemos de Maria deve ser aplicado à Igreja e a cada batizado, usando um texto de Isaac de Estela.

Uma Igreja que deve ser mãe como Maria, firme, forte e terna, capaz de viver a revolução da ternura. Uma Igreja missionária, de portas abertas, que acolhe, cuida e abraça a todos os necessitados, especialmente os que estão nas periferias da sociedade. Uma Igreja como um hospital de campanha, que oferece os primeiros socorros, acolhe e cuida.

O Papa Francisco deseja uma Igreja do cuidado maternal de Maria. Seus 12 anos de pontificado têm nos mostrado isso, com a declaração do Jubileu Extraordinário da Misericórdia e o espírito sinodal, buscando que "todos, todos, todos" sejam acolhidos no seio da Igreja, sentindo-se em casa, independentemente de sua história moral. A Igreja convida à plenitude das virtudes teologais e do Evangelho, onde a moral tem um valor fundamental, mas o ponto de partida é sempre a abertura, o acolhimento e a escuta.

O Papa espera que possamos fazer da Igreja uma Igreja maternal, com os traços de Maria, uma Igreja mariana.

Alexandre Awi Mello ISch

Atualmente, é o superior geral do Instituto Secular dos Padres de Schoenstatt. Mestre em Teologia na Escola Superior de Filosofia e Teologia de Vallendar, Alemanha. Doutor em Mariologia na Universidade de Dayton, USA.  Foi professor de Teologia Pastoral e de Teologia Sistemática no Instituto Paulo VI em Londrina (PR); na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Londrina; na UNISAL, dos Salesianos; e na Faculdade de Filosofia e Teologia São Bento. Colaborou com o Cardeal Bergoglio durante a V Conferência Geral do Conselho Episcopal Latino-americano e do Caribe realizada em Aparecida e acompanhou o Pontífice por ocasião da XXVIII Jornada Mundial da Juventude, em 2013, no Rio de Janeiro. Foi conselheiro da Pontifícia Comissão para a América Latina.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/testemunhos/papa-francisco-e-sua-visao-mariana-da-igreja/