12 de janeiro de 2025

O desafio do testemunho cristão no mundo atual

Vivendo o evangelho de Cristo em nosso tempo

Jesus foi visitado pelos pobres pastores dos arredores de Belém, e nós contemplamos este mistério com serenidade e alegria. Surpreendeu a todos, a seu tempo, a misteriosa visita daqueles Magos, Sábios chegados do Oriente, que estudavam a posição das estrelas, trazendo presentes muito significativos àquele que é Deus, Rei e plenamente homem, tanto que passaria pelo sofrimento e pela morte.

O desafio do testemunho cristão no mundo atual

Crédito: deimagine / GettyImages

Passam os anos e Jesus é proclamado publicamente pelo Pai Eterno como o Filho amado, sobre o qual repousa o Espírito Santo. E no início de seu ministério, a água transformada em vinho, nas Bodas de Caná, conduz à fé discípulos titubeantes, noivos e humanidade. Depois de tais manifestações, resta a todos nós a coragem da decisão diante dele, em quem se cumprem promessas antigas e novas, assim como os sonhos de realização e felicidade de toda a humanidade.

Um corpo, uma fé: A unidade do povo de Deus

Temos a clareza de que Deus nos constituiu como um corpo o Povo de Deus, que age e testemunha a própria fé. De fato, se "Deus aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença" (cf. At 10,35), aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que o conhecesse na verdade e o servisse santamente.


Escolheu, por isso, a nação israelita para seu povo. Com ele estabeleceu uma aliança; a ele instruiu gradualmente, manifestando-se a si mesmo e ao desígnio da própria vontade na sua história, e santificando-o para si. Todas estas coisas aconteceram como preparação e figura da nova e perfeita Aliança que em Cristo havia de ser estabelecida e da revelação mais completa que seria transmitida pelo próprio Verbo de Deus feito carne.

Um povo reconcilidado, a nova aliança com Cristo

Esta nova aliança instituiu-a Cristo, o novo testamento no seu sangue (cf. 1 Cor 11,25), chamando o seu povo de entre os judeus e os gentios, para formar um todo, não segundo a carne mas no Espírito, e tornar-se o Povo de Deus. Com efeito, os que creem em Cristo, regenerados não pela força de germe corruptível mas incorruptível por meio da Palavra de Deus vivo (cf. 1 Pd 1,23), não pela virtude da carne, mas pela água e pelo Espírito Santo (cf. Jo 3, 5-6), são finalmente constituídos em raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo conquistado, que outrora não era povo, mas agora é povo de Deus (1 Pd 2, 9-10) (Cf. Lumen gentium 9).

E agora, passados os séculos, está em nossas mãos a responsabilidade de, como povo escolhido, dar testemunho de Jesus, sendo sal, luz e fermento nos tempos que correm, sem discriminar as outras pessoas, mas atraí-las com amor ao amor de Cristo. Em nosso coração e em nossas mãos estão os instrumentos oferecidos pela Igreja: a Palavra de Deus, a Vida em Comunidade, a Fé, a Esperança e a Caridade, e os Sacramentos, que nos mergulharam na vida da Santíssima Trindade.

O evangelho vivo, o futuro transformado pelo amor

Ser cristão hoje equivale a ser testemunhas em todos os ambientes de nossa fé em Jesus Cristo Ressuscitado, Salvador do mundo. Como testemunhas, haveremos de mostrar em nossa vida de batizados, redimidos, que Jesus venceu o pecado em nossa própria vida, porque nos fez filhos de Deus e adotamos seus sentimentos e as atitudes evangélicas expressas nas bem-aventuranças: pobreza de espírito, mansidão, fome e sede de justiça, misericórdia, pureza de coração, solidariedade, reconciliação e fraternidade.

Se queremos demonstrar de verdade que nós encontramos o Messias, aquele que dá sentido à história humana e dá esperança a toda a humanidade e à vida de cada um de nós, devemos proclamar, com a palavra e as obras, que Jesus, na plenitude do Espírito Santo, é luz para todas as áreas escuras da história humana e de cada pessoa, e que ele, com sua Ressurreição, torna possível a esperança num futuro melhor, a confiança nas pessoas e a transformação do mundo, através da única revolução eficaz, a conversão pessoal ao amor e à justiça, que vêm de Deus (cf. La Parola per ogni giorno, Basilio Caballero, Pauline, 1991).

Há alguns anos houve pessoas que pensavam estar diante de um cristianismo anônimo, perdido no meio da massa, e sabemos como cresceu esta massa! Não se trata disso! Hoje, devemos nos perguntar como responder com identidade própria e clareza aos desafios que se apresentam, sem fanatismos, opções ideológicas de qualquer lado, cujo desenrolar se revela estéril, ou tentativas anacrônicas, igualmente estéreis, de volta a um clima de cristandade!

Os desafios da fé em um mundo indiferente

Abertura ao Espírito Santo, intensa vida de oração, processos claros de discernimento, criatividade, espírito apostólico e missionário, esta é a estrada para viver como cristãos em nosso tempo. Respostas? Eis algumas propostas, destinadas a provocar continuidade na reflexão e o inadiável compromisso pessoal. A primeira delas é olhar ao nosso redor, identificando pessoas e situações, estabelecendo conexões com quem tem as mesmas inquietações e o desejo de superar uma prática religiosa de fachada ou um tentador indiferentismo.

Quem está rezando seriamente? Que pessoas estão comprometidas diretamente com a caridade? Já descobriu em seu ambiente de trabalho gente que não suja as mãos com o egoísmo, a corrupção e a imoralidade? Será que não chama a sua atenção aquelas pessoas que sempre se dispõem a algum serviço na Comunidade? Justamente aqui surge uma outra ideia! Tomar iniciativa!

Guiados pelo Espírito Santo, reconstruímos o Corpo de Cristo

Se muitos não frequentam a Missa, sua presença mostrará o quanto constrói o Corpo de Cristo, que é a Igreja, sua
participação Eucarística, a busca do Sacramento da Reconciliação! E se muitos não praticam a justiça, comece por você mesmo! E se queremos ampliar nosso horizonte, a pessoas que tomam decisões semelhantes, caberá também a disposição para o diálogo com quem pensa diferente, na diversidade de nosso mundo.

Tal atitude contribuirá para que o senso do bem comum, suscitado pelo Espírito Santo além de todas as fronteiras, seja redescoberto e promova gestos e programas de ação no conjunto da sociedade. À nossa capacidade de reflexão, à inteligência da fé concedida nos Sacramentos da Iniciação Cristã e, mais ainda, à ação do Espírito Santo que nos conduz, lançamos o desafio de continuar esta lista de propostas para sermos, diante do mundo que clama por sentido, os peregrinos da Esperança, a fim de que o Jubileu que vivemos seja tempo de graça, perdão, reconciliação e acolhida para muitos!

Dom Alberto Taveira Corrêa

Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/sem-categoria/o-desafio-do-testemunho-cristao-no-mundo-atual/

11 de janeiro de 2025

Jubileu 2025: A terra seca clama por vida e esperança

Dom Jailton Oliveira Lino

Bispo de Teixeira de Freitas-Caravelas (BA)

 

"Quando a terra seca clama pelo céu…" Quantos de nós já nos sentimos assim? Perdidos, áridos, como um solo que há muito tempo não sente o frescor da chuva. A canção Terra Seca não fala apenas da natureza. Ela fala de nós. De nossas almas sedentas, de nossos corações que tantas vezes têm vivido longe da fonte de vida que é Deus. 

E agora, em 2025, a Igreja nos chama. O Jubileu chega como a resposta desse clamor. É como se o próprio céu dissesse: "Eu ouvi o teu grito. Eu trarei a chuva." Mas eu te pergunto: você está pronto para recebê-la? 

Vivemos tempos difíceis. O mundo está seco de compaixão, de justiça, de amor. Quantos corações estão endurecidos pela indiferença? Quantas vezes escolhemos o egoísmo, ignorando o outro? Estamos como a terra rachada que rejeita a semente porque não se preparou para o momento da chuva. Mas o Jubileu nos desafia: prepare o solo do seu coração. 

Esse ano santo não é apenas uma celebração. É um chamado. Um chamado para sairmos de nossa zona de conforto, para enfrentarmos a aridez de nossas vidas e nos deixarmos transformar pela misericórdia de Deus. O Jubileu nos convida a sermos peregrinos da esperança, mas para isso, precisamos nos perguntar: estamos dispostos a caminhar? 

A graça de Deus é como a chuva, mas a terra precisa querer florescer. Você está disposto a abrir mão do orgulho, da raiva, da culpa que pesa no peito? Está disposto a perdoar quem te feriu e buscar reconciliação com Deus, com os outros e com você mesmo? 

Olhe para o mundo ao seu redor. As guerras, as desigualdades, o sofrimento dos pobres e o descaso com a criação são reflexos de uma humanidade que se afastou da sua essência. O Jubileu é um convite para mudar essa realidade, mas a mudança começa em você. 

Talvez você se pergunte: E se eu não conseguir? Eu te digo: Deus é fiel. Ele nunca te abandonará. Assim como a chuva vem no tempo certo, a graça d'Ele chega para renovar aquilo que parecia perdido. Mas você precisa estar disposto. É preciso abrir o coração, tirar as pedras do caminho e deixar que Ele faça o impossível: transformar seu deserto em um jardim. 

Não viva este ano santo como um espectador. Seja protagonista. Vá à confissão, participe das celebrações, ajude quem precisa, cuide da criação. Viva como quem acredita que o amor de Deus pode mudar o mundo, porque pode. 

A terra seca está clamando. Você também está. E Deus responde: "Eis que faço novas todas as coisas." O que você fará com essa promessa? 

"Que venha a chuva. Que venha a vida." 


Fonte: https://www.cnbb.org.br/jubileu-2025-a-terra-seca-clama-por-vida-e-esperanca/

10 de janeiro de 2025

“Tu és meu Filho amado”

Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)

O Tempo do Natal fez-nos contemplar o Menino Jesus nascido na gruta de Belém.  Olhamos para a Sagrada Família, modelo para as famílias cristãs, na qual Jesus cresceu, se desenvolveu, trabalhou. No dia primeiro de janeiro celebramos Maria Mãe de Deus e hoje, com Festa do Batismo do Senhor, encerramos este tempo litúrgico (Isaías 42,1-7, Salmo 28, Atos dos Apóstolos 10,34-38 e Lucas 3, 15-16.21-22).  

João Batista, o precursor de Jesus, aponta para presença do Messias. Não deixa o povo imaginar que seja ele, pois o que virá é "mais forte do que eu", do qual  "não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias", "eu batizo com água", mas Ele "vos batizará no Espírito Santo e no fogo".  

Mesmo assim, "quando todo povo estava sendo batizado, Jesus também recebeu o batismo. E, enquanto rezava, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma visível, como pomba. E do céu veio uma voz: "Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer". As palavras de João Batista e a voz vinda do céu revelam a verdadeira identidade de Jesus Cristo. Depois de batizado, Jesus reza dirigindo-se ao Pai. O Céu de abre e desce o Espírito Santo.  

O Festa do Batismo de Jesus é um convite para rezarmos e refletirmos sobre o Sacramento do Batismo. O batismo marca o início da missão de Jesus, momento em que recebe o reconhecimento público e oficial da sua identidade. Assim também, para os cristãos o batismo é um início, uma mudança profunda na vida e um novo caminho que se abre. 

Jesus, após ser batizado, reza. Entra em contato com o Pai e o céu abre-se sobre Ele. No Sacramento do Batismo abre-se o céu ao batizando e ouve-se a mesma voz dirigida a Jesus: "Tu és meu Filho amado". O batismo é adoção na família de Deus, na comunhão com a Santíssima Trindade, na comunhão do Pai, com o Filho e o Espírito Santo. Por isso, o batismo é administrado em nome da Santíssima Trindade. Os batizados renascem como filhos de Deus. Já são filhos de pais humanos, agora passam a ser também filhos de Deus. 

Por que usamos a água no batismo? A água é o elemento da fecundidade. Sem água não há vida. No começo do cristianismo, a água tornou-se o símbolo do seio materno da Igreja. Assim como a criança, antes de nascer, estava envolta em substância líquida, agora ela entra no ventre da Igreja. Tertuliano afirma que "Cristo nunca existe sem água". Com isto ele disse que Cristo jamais existe sem a Igreja e a vida do cristão existe e de concretiza na Igreja. O batizado faz parte desta nova família indicando que ser batizado não é apenas uma questão espiritual, individual, subjetiva, mas que é algo concreto, envolvendo outras pessoas. Enquanto filhos de Deus e inseridos na Igreja, podemos recitar o "Pai-nosso". Rezamos usando nós. 

João Batista fala do batismo "no Espírito Santo e no fogo". Ensina que o batismo não é um gesto ou um desejo humano para orientar-nos para Deus com as próprias forças. No batismo é Deus que vem ao nosso encontro. É o próprio Deus que age. É Jesus que age através do Espírito Santo. É Deus que assume e torna os batizados seus filhos.  

Deus não age de modo mágico e contra a liberdade humana. Ele interpela a liberdade e convida a cooperar com o fogo do Espírito Santo. São dois aspectos que caminham juntos no batismo. Ele sempre será um dom de Deus que nos fez seus filhos adotivos e membros da Igreja. Mas, sempre solicitará a nossa cooperação, a disponibilidade da nossa liberdade para dizer "sim" que tornará a graça divina uma ação sempre eficaz.  


Fonte: https://www.cnbb.org.br/tu-es-meu-filho-amado-2/

8 de janeiro de 2025

O batismo nos torna peregrinos e missionários do projeto do Reino

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz 
Bispo de Campos (RJ)

Ao encerrarmos o tempo do Natal celebramos no Batismo de Jesus o início de sua missão de testemunhar com alegria e esperança o seu Reino.  

Somos enviados a viver e testemunhar a grandiosa mudança da filiação divina em nós, boa nova para toda a humanidade que é convidada a mergulhar também nas águas da salvação.  

O batismo longe de ser apenas um rito de acesso a uma religião, conforma para os cristãos a porta da salvação o berço e a fonte da vida nova que jorra abundantemente da redenção operada na Cruz.  

Ser batizados é ser assumidos plenamente pelo Pai como seus filhos adotivos, participar da sua graça e ser herdeiros da vida eterna. Tornamo-nos como afirma São Pedro em pedras vivas do templo, que é o Corpo de Cristo, a Igreja. Constitui o nascimento para a vida da graça, nos marca para sempre com a imagem de Cristo, nosso irmão e Salvador, e Templos do Espírito Santo, nossa força e inspiração.  

Deixamos para atrás o homem velho, egoísta e auto centrado incapaz para libertar-se das amarras e estruturas perversas da cultura do pecado e da morte. Mas muitas vezes somos sufocados e aceitamos como normal a mediocridade espiritual, a rotina cinzenta de práticas que almejam dar garantias de segurança mas não preenchem o enorme vazio da falta do amor comunhão que deve pautar e nutrir nossa vida de corresuscitados e redimidos em Cristo.  

Ao abrirmos o Jubileu da Esperança somos convidados primeiramente a renovar a raiz da nossa existência cristã, a partir de nossa consciência e vivência radical de batizados e mergulhados na Páscoa do Senhor, renovaremos e transformaremos as estruturas e relacionamentos na Igreja e na sociedade, fazendo acontecer a sinodalidade missionária que almeja gerar verdadeiros sinais de esperança, explicitados na defesa da vida, na reconciliação em todos os níveis e âmbitos, na harmonização dos conflitos visando a uma paz justa equitativa e duradoura, a empatia comprometida com os pobres, doentes, presos e prostituídos(as), para que nosso anuncio tenha a credibilidade do Evangelho e seja sinal eficaz de libertação e salvação, Deus seja louvado! 


Fonte: https://www.cnbb.org.br/o-batismo-nos-torna-peregrinos-e-missionarios-do-projeto-do-reino/

7 de janeiro de 2025

Tendo uma vida abençoada, o exemplo de São Raimundo Peñaforte

O exemplo da vida de São Raimundo Peñaforte, como ter uma vida abençoada em todas as etapas da vida

A vida de São Raimundo Peñaforte é um exemplo notável de que isso é possível. Sua carreira brilhante, a influência que exerceu sobre Papas e Cardeais, Reis e Magistrados, as cidades que conquistou com sua sabedoria e que buscaram mantê-lo e não deixá-lo ir, o sucesso incessante de seus sermões e exortações, e o resultado frutífero de suas iniciativas mostram a aprovação geral que recebeu do povo de sua época.

São Raimundo de Penaforte

Crédito: nyul / GettyImages

São Raimundo nasceu em 1175, em Peñafort, em uma família rica e nobre no castelo da família Peñafort, na Catalunha, Espanha. Desde a infância, demonstrou interesse pelos estudos e por tudo o que dizia respeito à religião. Sua infância foi um tempo propício para cultivar o gosto pela leitura e estudos e a proximidade com a religião e as coisas de Deus. A infância de Raimundo serviu como um alicerce para toda uma vida de conhecimento e entrega a Deus. Esse cultivo com as crianças pode ser feito de maneira simples e de acordo com as circunstâncias cotidianas, como oração antes das refeições, contemplação da criação, etc.

A influência de São Raimundo, uma jornada de santificação

Estudou filosofia e retórica em Barcelona e, depois, transferiu-se para Bolonha, onde se formou em Direito Civil, tornando-se docente em Direito Canônico. Com apenas vinte anos, tornou-se professor na cadeira de artes liberais em uma universidade de Barcelona; suas aulas atraíam muitos estudantes.

Essa fase da juventude de São Raimundo faz-me recordar do diretor espiritual do grupo de jovens do qual eu participava em minha juventude. Ao questioná-lo sobre nossas prioridades entre a participação nas atividades da Igreja ou estudos, ele sempre afirmava que nosso primeiro dever seriam os estudos e a obediência aos pais.

E, a seu tempo, o trabalho. Lembrei-me ainda de São Domingos Sávio, que ao questionar o santo Dom Bosco sobre o que deveria fazer para ser santo, obteve a seguinte receita: "A + E + O: A de alegria, E de estudo e O de oração. Se a puseres em prática, serás santo em pouco tempo". E São Domingos aprendeu bem essa receita. Foi a partir dela que o jovem passou a viver seus dias com ainda mais alegria.

Um modelo de vida a ser seguido

Monsenhor Jonas Abib também nos ensinava o seguinte: "Faça poucas coisas, mas as faça bem." Então, o que tiver que fazer, faça o melhor que puder, além da vida de oração e o sorriso como veste. Todas essas receitas são caminhos plausíveis de bênçãos para qualquer jovem ou outras fases da vida.

Vivendo assim, colheremos os frutos mais doces: "Oh! quão doces são as tuas palavras ao meu paladar, mais doces do que o mel à minha boca. Pelos teus mandamentos alcancei entendimento; por isso odeio todo falso caminho." (Salmo 119, 103). Vejamos, então, como se segue a vida de São Raimundo. O humilde e doutor frade se esforçara para evitar honrarias e prestígio, mas nem sempre conseguiu. Renunciando à vida folgada e confortável, dedicou-se muito cedo aos estudos filosóficos e jurídicos.

Excepcionalmente, recebia do município um salário que se dispersava imediatamente em numerosas direções para aliviar e socorrer os indigentes. Após 15 anos, renunciou à cátedra e foi para Bolonha estudar direito civil e canônico. Ele recebeu seu doutorado em 1216 e ocupou a primeira cadeira de direito canônico na universidade por três anos. O Senado local, na esperança de mantê-lo na cidade, presenteou-o com recompensas especiais por seu trabalho.

Uma vida de completa entrega a Deus e aos outros

Em 1220, Raimundo retornou à Espanha e foi nomeado vigário geral da grande diocese de Barcelona. Depois, o Papa Gregório IX convocou-o para colocar sua capacidade a serviço da Igreja em Roma. Lá, foi confessor do Papa durante oito anos. Nessa época, constatou que os pobres não eram bem atendidos em seus direitos canônicos quando recorriam à sede da Igreja e alertou o Papa sobre o assunto. A consequência disso foi que São Raimundo, a mando do Papa, escreveu e editou a obra "Os Decretais de Gregório IX".

A obra tornou-se referência no direito canônico até os dias de hoje. Quando a Ordem dos Dominicanos chegou a Barcelona, São Raimundo de Peñaforte entusiasmou-se pelo modo de vida dessa Ordem religiosa. Por isso, abandonou tudo o que tinha para vestir o hábito alvinegro e se tornar dominicano. Sua vocação dominicana era tão evidente que, quando o superior geral faleceu, no ano 1278, os dominicanos o elegeram como o sucessor.

Por cerca de dois anos, São Raimundo viajou a pé e visitou todos os conventos da ordem. Depois disso, pediu afastamento da direção e dedicou-se à vida solitária de penitência e orações. Porém, nunca deixou de atender aos pobres. Nessa época, Deus realizou grandes prodígios por meio de São Raimundo de Penhaforte. Por isso, sua fama de santidade se espalhou. Depois de alguns anos, reuniu-se o capítulo geral em Bolonha, onde Raimundo conseguiu demitir-se.

O legado da santidade, construindo uma civilização católica

Pôde assim, aos setenta anos, voltar ao ensino e ao cuidado das almas por inspiração de Deus. Ao completar setenta anos, São Raimundo voltou-se à educação. Dirigiu a fundação de dois seminários. Neles, o ensino era dado nas línguas hebraica e árabe. Seu objetivo era atrair judeus e árabes para o Cristianismo. Em alguns anos, dez mil árabes se converteram e receberam o batismo.

Depois, São Raimundo passou a ser confessor do Rei Jaime de Aragão e repreendeu-o pela vida desregrada. Também alertou o rei sobre um grande perigo que o reino corria com uma facção chamada "os albigenses". Estes pertenciam à seita dos cátaros. Esta seita pregava uma doutrina que desviava da fé católica. Assim, ele conseguiu que os albigenses fossem expulsos da região. Além disso, São Raimundo, nesse tempo, foi um escritor importante. Sua obra, intitulada "Suma de Casos", continua a ser usada até os dias de hoje pelos confessores.


Vejamos quantos frutos de uma vida virtuosa! Em sua vida adulta, cooperou grandemente com a sociedade de sua época e com a Igreja até os dias de hoje. São Raimundo faleceu aos 100 anos! Era o dia 6 de janeiro de 1275. Pouco tempo depois, foi canonizado. A celebração de sua festa foi estabelecida para o dia seguinte ao de sua morte, em 7 de janeiro, porque no dia 6 comemora-se a Epifania do Senhor. A partir dessas considerações sobre a vida de São Raimundo de Penaforte, vemos que construir uma civilização católica não é um sonho impossível. E nós podemos fazer parte disso!

Edvânia Eleutério

Missionária núcleo da Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/santos/tendo-uma-vida-abencoada-o-exemplo-de-sao-raimundo-penaforte/

5 de janeiro de 2025

Sociedade de extermínios?

Às vésperas do Natal do Salvador, uma estrela brilha no horizonte. Essa mesma estrela já guiou os reis do Oriente e deu-lhes o rumo para encontrar a fonte do amor. Dissipou a escuridão das arbitrariedades de Herodes, alicerçadas no medo que nasce de todo tipo de ganância e de idolatrias perigosas. Agora, mais uma vez, a estrela brilha no horizonte. Reaviva a chama que aquece corações para iluminar os rumos da humanidade, possibilitando-a encontrar o caminho do amor que transforma e faz brotar no coração a sabedoria necessária para se viver com alegria, na doçura da fraternidade solidária.

O amor é a única lógica capaz de consertar o mundo a partir da configuração de um novo tecido cultural e, consequentemente, um renovado ciclo civilizatório. Amor que cria ambiente propício para que avanços tecnológicos e científicos surpreendentes, alcançados com extraordinária rapidez, contracenem com um genuíno humanismo, capaz de dar fim aos extermínios que ocorrem diante dos cidadãos e das autoridades investidas da obrigação de zelar pelo bem, de promover a justiça.

A estrela reluzente que iluminou o itinerário dos magos vindos do Oriente até brilhar mais forte sobre a manjedoura onde estava o menino Emanuel – Deus conosco – está brilhando novamente para que a humanidade encontre a referência maior: Jesus Cristo. Acolher o convite de seguir essa luz possibilitará ao mundo encontrar nova lógica capaz de salvá-lo de ser uma sociedade marcada pelos extermínios, com a corresponsabilidade de cada pessoa.

Sociedade de extermínios?

Foto ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

Os tipos de extermínios

Um chamado a ser acolhido por todos os brasileiros, cidadãos de uma nação que vem se tornando esse tipo de sociedade, com graves crimes contra indígenas, negros, pessoas que vivem nas ruas, mulheres, nascituros, vítimas das estradas, excluídos da participação cidadã, do direito à saúde, à educação e ao trabalho. Merecem também ser lembrados os extermínios provocados pelo crime organizado, pelo ódio e preconceito, por agressões nascidas de intolerâncias que comprovam pouca paciência, respeito, compreensão e disponibilidade para o perdão.

Há progressiva banalização do mal, sombra a ser combatida pela luz da estrela que brilha mais forte neste tempo. Essa luz adverte todos de que é preciso mudar de rumo, com urgência e com velocidade, para que não se perpetue, especialmente na sociedade brasileira, um cenário infernal. É necessário consolidar nova realidade a partir das dinâmicas da fraternidade, de uma alegria que nasce do exercício da solidariedade, do orgulho santo de pertencer a um mesmo povo, de viver em um país com riquezas culturais e naturais diversas, com potencial para ser uma sociedade exemplar.

Nesse sentido, um raio de luz da estrela deste tempo aponta para as responsabilidades que precisam ser assumidas por governantes, legisladores, autoridades da justiça, formadores de opinião, construtores da sociedade pluralista e cidadãos. Todos são instados a exercer suas responsabilidades com coerência para impedir a consolidação de uma sociedade pontuada por extermínios.

Lutar pelo bem comum

As estatísticas de mortes são alarmantes, e os governantes não podem alimentar a violência com a adoção de posturas que, a partir do pretexto de se buscar a defesa de valores, apenas iludem e ainda alimentam descompassos sociais e políticos. Também o contexto jurídico está desafiado a contribuir mais significativamente, com adequada interpretação das leis, no estabelecimento da ordem democrática, para evitar que se consolide, cada vez mais, um cenário caótico na sociedade brasileira.

Vencer o processo que pode levar a uma sociedade de extermínios exige de todos investir em novas atitudes balizadas por uma linguagem adequada, que não incite mais desgovernos e perdas, e pelo altruísmo de cada pessoa, particularmente, para vencer as idolatrias geradas pela sedução patológica do dinheiro. Há uma cega ambição que leva à busca sem limites pelo acúmulo de bens, com lógicas que justificam um desenvolvimento econômico em benefício de pequenos grupos, enquanto empobrece grande parte da população. É perigoso permanecer neste caminho e esta advertência não é agouro, mas convite para mirar-se na estrela deste tempo do Natal, deixar-se guiar por ela, até a fonte da verdadeira humanidade.


Um novo natal

Participar do Natal do Senhor, o único capaz de promover um "novo natal" para a sociedade, permite livrar-se do mal que leva não somente indefesos e pobres ao sofrimento, mas também aqueles que detêm muito dinheiro e poder. É oportunidade para enfrentar a indiferença e a banalização do mal, que colocam sob risco o patrimônio natural, por falta de conversão ecológica, e a cultura, a partir de perversas relativizações, hábitos, práticas e escolhas.

Enfrentar males que também provocam a deterioração religiosa, particularmente por uma proposta de cristianismo "torto", por pretensões políticas incabíveis e pela perda do sentido de pertencimento que gera respeito solidário, compaixão pelos enfraquecidos e pobres. Uma religiosidade que não indica o caminho para o bem viver – fundamentado na simplicidade e no reconhecimento da vida como dom. A estrela luzente do Natal conclama providências, e adotá-las é uma urgência, pois, definitivamente, não há como viver em uma sociedade de extermínios.



Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. No Brasil, é bispo referencial para os fiéis católicos de Rito Oriental. http://www.arquidiocesebh.org.br


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/sociedade-de-exterminios/

“Seja alegre, faça o bem e deixe que falem”


A alegria, uma jornada de humildade

Nem fazedora de coisas, nem transformadora de almas. Quem faz é Deus, quem transforma é Deus. A mim, basta ser instrumento onde Ele quer, como Ele quer, quando Ele quer. No crédito ou no descrédito das pessoas, quando me atribuírem boa fama ou má fama, quando querida ou indesejada, quando aceita ou rejeitada.

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Foto Ilustrativa: skynesher by Getty Images

Ser de Deus comporta não se atribuir uma importância maior do que o que realmente somos. E já somos muita coisa! Somos filhos e filhas do Deus altíssimo em Cristo Jesus! Vaidade e orgulho só destroem a nossa essência. Mas se Deus quer que eu faça, eu farei; se Deus quer que eu colabore, eu colaborarei.

A alegria, um dom divino em nosso dia a dia

O importante é que eu esteja atenta à vontade d'Ele e faça dela a minha vontade. Também é um orgulho não se deixar ser instrumento de Deus quando Ele quer e como Ele quer. Se Ele dá um talento ou vários talentos e quer que eu os use, não posso, em nome de uma falsa humildade, que é uma mentira e um orgulho, ou por conta do medo da exposição e da maledicência, deixar de fazer o que Ele pede. 

Como nos diz Monsenhor Jonas Abib, "sempre e em tudo o nosso melhor deve ser usado para levar o Reino de Deus às pessoas. Façamos isso com a inteligência e com os dotes que temos, com nossa criatividade e voz, servindo-nos dos estudos que fizemos e da experiência já adquirida. Devemos usar tudo isso para o Senhor".


Em tudo, servir a Deus e aos irmãos numa atitude de escuta, de humildade, de obediência e prontidão. A fama, a honra, o sossego não importam quando o assunto é a vontade de Deus e a salvação das almas. É válido, ainda hoje, o ensinamento de Dom Bosco: "Seja alegre, faça o bem, e deixe que falem".  

Ensina-me, Senhor, a usar os talentos que o Senhor me dá com prontidão e humildade!

Tarciana Matos
Missionário Núcleo da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/seja-alegre-faca-o-bem-e-deixe-que-falem/