Precisamos repensar alguns valores
 Todos deveriam  simplesmente aceitar esse novo dogma sem questionar. A Igreja Católica  era vista por muitos como símbolo da proibição, do pecado, da culpa.  Filmes mostraram isso sem que os monges pudessem sequer se defender.  Dogma é dogma. Está certo, mas qualquer um vê que essa verdade é  contraditória. Quem proíbe de proibir já está proibindo. Não faz  sentido, mas é a regra de ouro que ainda está em voga nos nossos dias. 
Arrisque-se  a pedir que as TVs deixem de passar algum programa que prejudique  crianças ou adolescentes. É proibido censurar! Arrisque-se a dizer que  este ou aquele filme é um desrespeito a milhões de pessoas que cultivam  uma determinada fé. É proibido proibir!
 Mas agora a situação está ficando catastrófica. Nem vamos perder tempo em comentar o romanceado Código da Vinci.  Pode ser até um passatempo para quem quer se distrair com algum tipo de  fantasia; a humanidade sempre gostou do surreal. Não me parece honesto  colocar a fantasia muito próxima da realidade. Jogos de morte mutilam a  mente de muitos adolescentes que passam a odiar seus avós, porque  aderiram à lógica de um joguinho de computador. Deixe pra lá! Temos uma  outra urgência.
A ciência sempre se vangloriou da liberdade de pesquisa em nome de seus avanços. É desconfortável para a ciência ser limitada pela consciência. Muitos pesquisadores que manipulam embriões humanos preferem dizer: é proibido proibir. Há laboratórios que reproduzem, silenciosamente, o holocausto da Segunda Guerra Mundial.
Mas alguém poderia  dizer que nada disso o atinge no dia a dia. Nem os transgênicos que  acabamos comendo sem saber? Bem... Vai levar algum tempo para começarem  os efeitos. Por que proibir? Lembre-se de que Deus perdoa sempre, nós  perdoamos às vezes (deveria ser pelo menos 70 x 7!), mas a natureza não  perdoa nunca.
 Está começando um novo tempo em que o século das  luzes vai mostrando suas penumbras e a célebre liberdade vai deixando  claros seus limites. Estamos finalmente descobrindo que é necessário  proibir. Não se pode permitir ao alcoolizado pegar no volante.  Proíba-se! Quem se atreveria a colocar limites ao celular? Já recebi  milhões de e-mails dizendo que as ondas desses aparelhinhos provocam  doenças terríveis que começam com dor de cabeça. Pensei que seria  câncer. É pior. Por meio deles, torna-se possível a organização de  facções criminosas capazes de aterrorizar milhões de pessoas em questão  de horas. Não sei se a bomba atômica fez tanto estrago. Nem mesmo o  terrorismo clássico, que derrubou os prédios e mudou a cultura nos  Estados Unidos da América, teve tanto poder. Um pequeno celular. Por  que proibi-lo?
 Precisamos repensar alguns valores. Não sou  favorável a nenhum tipo de totalitarismo. Nasci em 1964, assisti ao  golpe da barriga de minha mãe. Faço parte da geração do silêncio, a  qual teve de engolir as aulas de Educação Moral e Cívica, OSPB (lembra  o que é isso?) e cantar: "Eu te amo meu Brasil, eu te amo...".
 Esse tempo já vai tarde! Não pode mais voltar. Mas  não podemos ficar sentados em utopias ocas de liberdade, feito uma  avestruz com a cabeça enterrada em suas ideologias, sejam quais forem!  É necessário colocar limites!
 Alexander Sutherland  Neill (1883-1973), o fundador de Summerhill, aquela escola-modelo de  liberdade na Inglaterra, escreveu empolgado o livro Liberdade sem medo. Quando sua escola não tinha mais vidros nas janelas, ele escreveu um livro corretivo: Liberdade sem excesso. Pense nisso!
(Extraído do livro "Pronto, Falei!") 

Padre Joãozinho, SCJ
http://blog.cancaonova.com/padrejoaozinho/









