23 de junho de 2025

Todos na mesma barca

"Ninguém se salva sozinho. Todos estão na mesma barca." Mas muitos ainda remam sozinhos

Sempre forte e interpelante é o gesto poético-espiritual do Papa Francisco, na Praça São Pedro – a praça das multidões. Somente o Pontífice, trajando o branco da paz, em oração na praça vazia, naquele contexto de pandemia da COVID-19, que dizimou tantas vidas. Das palavras proféticas de Francisco ecoou a sabedoria do Evangelho inspirada na cena da tempestade que amedrontou os discípulos de Jesus: "Ninguém se salva sozinho. Todos estão na mesma barca". Essa convicção é uma sabedoria que se contrapõe ao orgulho pretensioso e à ingratidão, fundamentos da torre de Babel que é monumento à soberba humana. A consciência de que se está em travessia, partilhando o trajeto de toda a humanidade, assevera a verdade de que todos estão "na mesma barca" e só a humilde atitude de se reconhecer como membro de um mesmo "corpo", que é a "barca", pode levar ao cultivo do sentimento de pertencimento, desdobrado na sábia coragem para contribuir no enfrentamento da "tempestade" que leva perigo a todos.

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / Krea

Sabiamente, a Igreja Católica, na sua tradição e ensinamentos bimilenares, se reconhece como uma "barca", a "barca de Cristo", sob o leme comandado por Pedro, em uma travessia perigosa e exigente. A riqueza dessa metáfora, com força sapiencial e em tom de advertência, é aplicável à humanidade, à família de cada um, às instituições. Em todos os contextos, ninguém se salva sozinho.

Essa incontestável verdade, para alicerçar a corresponsabilidade de uns pelos outros, pede atitudes fundamentadas em adequada envergadura moral, espiritual e humanística, essencial a uma "travessia" vitoriosa. Essa adequada envergadura não pode ser confundida com capacidade intelectual.

O avanço de uma sociedade cada vez mais individualista

Aliás, causa perplexidade constatar que há cidadãos racional e intelectualmente muito capacitados, mas com sérios comprometimentos humanos e emocionais. Revelam essas lacunas na incompetência para superar mágoas, na inabilidade para exercer a gratidão pelo muito que receberam. Assim, julgam-se no direito de agir tiranicamente e tudo reduzir ao tamanho de suas emoções, ao seu modo de enxergar situações, pessoas.

Os que se deixam contaminar pela ingratidão não são capazes de perceber: nas suas próprias conquistas também estão inscritos aqueles com os quais se partilha a mesma "barca de travessia". A incapacidade para reconhecer a importância do semelhante na própria vida leva à perda de oportunidades, alimenta o ódio, desencadeando ataques.

Um caminho que pode até levar a conquistas efêmeras, pois são alcançadas com prejuízos à própria "barca". A falta de competência para enxergar que "ninguém se salva sozinho" explica a escassez de lideranças transformadoras. Ao invés de líderes, na sociedade surge cada vez mais pessoas enjauladas no cartório de seus interesses, situados no horizonte encurtado das convicções próprias.


Consequentemente, convive-se com prejuízos de todo tipo, das impositivas depredações ao meio ambiente, inflamando reações perigosas da natureza, até o desrespeito a direitos, desconsiderando a dignidade humana, justificando os preconceitos, a propagação de mentiras, autoritarismos e manipulações.

Respeito, gratidão, generosidade e humildade: Os alicerces fundamentais para um mundo mais empático

"Todos na mesma barca" deve ser interpelante princípio existencial para fecundar uma espiritualidade do respeito e da gratidão, da generosidade e da humildade, do compromisso com a vida de todos, para dissipar mágoas que multiplicam inimigos, ódios que justificam todo tipo de guerra. Esse princípio existencial e espiritual- "todos na mesma barca" – pode ter propriedades que alicerçam pertencimentos restauradores e promotores do bem comum. E, assim, qualificar a política, iluminar procedimentos profissionais e garantir legalidades a funcionamentos institucionais, articular melhor os poderes de uma república e amenizar as irritações que têm pautado relacionamentos nos lares, nas redes sociais e em tantos outros ambientes. A espiritualidade do pertencimento mútuo e fraterno é saída para a superação de naufrágios com perdas irreversíveis, alimentados pela guerra de palavras.

Em vez de guerrear por palavras, cultivar a espiritualidade do pertencimento mútuo e fraterno. Ajuda nesse exercício acolher o que diz Santo Antônio, hoje celebrado: "Cessem as palavras, falem as obras". Palavras sem obras podem estar na contramão da "barca", deixando-a à deriva. Vale adotar princípio evangélico que é regra de ouro: o outro é sempre mais importante porque todos estão na mesma "barca". Desconsiderar esse princípio é singrar rumo à tempestade, perecer por cultivar sentimentos e atitudes que levam às profundezas. Ainda há tempo de se salvar. O caminho é se pautar pela consciência de que todos estão na mesma barca.


 


Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. No Brasil, é bispo referencial para os fiéis católicos de Rito Oriental. http://www.arquidiocesebh.org.br


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/todos-na-mesma-barca/

20 de junho de 2025

Refugiados, Esperança e Resiliência em meio a guerra

A presença viva dos franciscanos na Terra Santa, em meio a conflitos, caos e desespero, revela histórias de resiliência e fé que brilham através da escuridão.
Dedicam suas vidas a servir o povo da Terra Santa e se esforçam para ser faróis inabaláveis de esperança que emanam da luz da gloriosa Ressurreição, mesmo em meio à guerra em curso em Gaza e à violência desenfreada atual envolvendo Israel e o Irã.
Conheceremos o testemunho de um Franciscano, o Pe. John Luke sobre a experiência pessoal de sua vida dedicada aos refugiados em meio a turbulência e o caos da Guerra na Terra Santa, com olhar à Luz dá Ressurreição.

Crédito: Naeblys / GettyImages

 

A experiência missionária

Embora o cenário político tumultuado possa ser avassalador, a minha experiência pessoal reflete um compromisso profundamente enraizado com os dons pentecostais do Espírito de amor, esperança e paz, todos incorporados na promessa da Ressurreição.
A minha jornada como guardião da esperança começou muito antes do início das hostilidades atuais. Cheguei à Terra Santa com o coração cheio de compaixão, inspirado pelos ensinamentos de Cristo e pelo compromisso franciscano de abraçar a pobreza, a humildade e o serviço. No entanto, como manter esse espírito diante da violência que permeia o cotidiano?
A resposta está em uma fé profunda e na compreensão da Ressurreição. Todos os dias, testemunhamos a fragilidade da vida. Os sons de sirenes, explosões e gritos daqueles que sofrem tornaram-se um pano de fundo constante para nossa missão, tanto na Terra Santa quanto nos territórios atendidos pela Custódia, que inclui Rodes.

A resiliência do espírito humano

No entanto, dentro desse exterior sombrio, vemos a resiliência do espírito humano. São as pessoas que nos cercam — famílias separadas, crianças assustadas com os sons da guerra e idosos sobrecarregados pela tristeza. Nessas interações, podemos encontrar a essência da esperança e do amor. Somos inspirados por indivíduos que, apesar de perderem tudo, continuam a ajudar uns aos outros, incorporando os próprios ensinamentos de Cristo.

A união e o amor podem vencer o ódio e a divisão

Nosso ministério se estende além do cuidado espiritual, envolve atos tangíveis de serviço, fazendo tudo o que podemos para unir pessoas de diferentes religiões em uma busca comum pela paz. Nossa crença é na dádiva do Espírito — a idéia de que o amor e a compaixão são os dons supremos uns aos outros — deve ser transparente em nossas ações concretas. Mesmo nos momentos mais sombrios, quando o desespero ameaça nos consumir, tentamos transmitir a mensagem de que a união e o amor podem vencer o ódio e a divisão. Além disso, como observação pessoal, digo que a minha compreensão da Ressurreição serve como pedra angular dessa esperança, ou seja, a promessa de vida além da morte não é meramente um conceito teológico, é, e deve ser, uma realidade vivida.

Vislumbrar um futuro de paz

A cada Páscoa, ao celebrarmos a Ressurreição, encorajamos nossas comunidades a enxergar além da tristeza do momento e a vislumbrar um futuro onde reine a paz.
A esperança da Ressurreição não é apenas um evento, mas um poderoso convite para ver cada momento de escuridão como um precursor da luz. Apegar-se ao dom do Espírito significa promover uma disposição interior de paz, independentemente das circunstâncias externas.
Durante nossas orações diárias, onde o silêncio se torna um refúgio, ouvir a voz de Deus se torna uma prática central, pois é nesses momentos sagrados que podemos vivenciar a transformação de nossos corações, à medida que o medo dá lugar à fé, e a desesperança é gentilmente substituída pela coragem de seguir em frente em meio à turbulência.

A esperança é uma ação poderosa que nasce da fé

Nesta última semana, presenciei na Terra Santa a guerra a todo vapor ao nosso redor, os mísseis voando sobre o telhado do mosteiro às centenas, e ainda assim, tornou-se um lembrete pungente de que a alegria pode florescer mesmo no desespero, e a paz pode ser firmemente plantada quando nutrida por atos de bondade, compreensão e amor.
De fato, enquanto as guerras continuam, as sementes de esperança que cultivamos florescerão onde houver crentes que se reúnem para buscar e fomentar o espírito resiliente de fé, que olha sempre para o horizonte com expectativa de que dias melhores virão.
Afinal, a esperança não é apenas um sentimento — é uma ação poderosa que nasce da fé, da verdade inabalável, na bondade da humanidade, e na promessa do amor divino encarnado no Espírito da verdade.

Pe. John Luke Gregory, ofm
Pároco Igreja Santa Maria – Rodes
Membro da Comissão Justiça e Paz e  Membro do Conselho Geral da Custódia da Terra Santa


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/dia-mundial-dos-migrantes-e-refugiados/

19 de junho de 2025

Conheça a história da Festa de Corpus Christi

Todas as quintas-feiras, depois da oitava de Pentecostes, a Igreja celebra a festa de Corpus Christi, mas nem sempre foi assim. Vejamos, então, como essa festa tomou a proporção que ela tem hoje.

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

Uma primeira coisa a saber é que não existe registro do culto ao Santíssimo Sacramento fora da Missa no primeiro milênio. Nesse período, a Eucaristia ministrada fora da Missa era somente para os doentes.

A partir do segundo milênio, no entanto, por meio de um movimento eucarístico, cujo centro foi a Abadia de Cornillon, fundada em 1124, pelo Bispo Albero em Liége, na Bélgica, podemos constatar costumes eucarísticos: exposição e bênção do Santíssimo Sacramento, o uso dos sinos durante sua elevação na Missa e, consequentemente, a festa do Corpus Christi.

Solenidade de Corpus Christi

A Solenidade em honra ao Corpo do Senhor – "Corpus Chisti" –, que hoje celebramos na quinta-feira após a oitava de Pentecostes, mais precisamente depois da festa da Santíssima Trindade, é oficializada somente em 1264 pelo Papa Urbano IV.

Como bem sabemos, Deus costuma se revelar aos humildes e pequenos, e Ele se utilizou de uma simples jovem para lhe revelar a festa de Corpus Christi. Segundo os registros da Igreja, Santa Juliana de Cornillon, em 1258, numa revelação particular, teria recebido de Jesus o pedido para que fosse introduzida, no Calendário Litúrgico da Igreja, a Festa de Corpus Domini.

Santa Juliana nasceu, em 1191, nos arredores de Liège, na Bélgica. Essa localidade é importante, e, naquele tempo, era conhecida como "cenáculo eucarístico". Nessa cidade, havia grupos femininos generosamente dedicados ao culto eucarístico e à comunhão fervorosa.

Tendo ficado órfã aos cinco anos de idade, Juliana, com a sua irmã Inês, foram confiadas aos cuidados das monjas agostinianas do convento-leprosário de Mont Cornillon. Mais tarde, ela também uma monja agostiniana, era dotada de um profundo sentido da presença de Cristo, que experimentava vivendo, de modo particular, o Sacramento da Eucaristia.

Começo da festa

Com a idade de 16 anos, teve a primeira visão. Via a lua no seu mais completo esplendor, com uma faixa escura que a atravessava diametralmente. Compreendeu que a lua simbolizava a vida da Igreja na Terra; a linha opaca representava a ausência de uma festa litúrgica, em que os fiéis pudessem adorar a Eucaristia para aumentar a , prosperar na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento.

Durante cerca de 20 anos, Juliana, que entretanto se tinha tornado priora do convento, conservou no segredo essa revelação. Depois, confiou o segredo a outras duas fervorosas adoradoras da Eucaristia: Eva e Isabel. Juliana comunicou essa imagem também a Dom Roberto de Thorete, bispo de Liége. Mais tarde, a Jacques Pantaleón, que, no futuro, se tornou o Papa Urbano IV. Quiseram envolver também um sacerdote muito estimado, João de Lausanne, pedindo-lhe que interpelasse teólogos e eclesiásticos sobre aquilo que elas estimavam.

Foi precisamente o Bispo de Liége, Dom Roberto de Thourotte, que, após hesitações iniciais, aceitou a proposta de Juliana e das suas companheiras, e instituiu, pela primeira vez, a solenidade do Corpus Christi na sua diocese, precisamente na paróquia de Sainte Martin. Mais tarde, também outros bispos o imitaram, estabelecendo a mesma festa nos territórios confiados aos seus cuidados pastorais. Depois, tornou-se festa nacional da Bélgica.


Festa de Corpus Christi

Dessa forma, a festa foi crescendo cada vez mais, e outros bispos faziam a mesma coisa em sua diocese. Tomou tal proporção, que veio a tornar-se não só uma festa do território da Bélgica, mas sim de todo o mundo. Sendo que, a festa mundial de Corpus Christi foi decretada oficialmente somente em 1264, seis anos após a morte de irmã Juliana, em 1258, com 66 anos.

Na cela onde jazia, foi exposto o Santíssimo Sacramento e, segundo as palavras do seu biógrafo, Juliana faleceu contemplando, com um ímpeto de amor, a Jesus Eucaristia, por ela sempre amado, honrado e adorado.

Santa Juliana de Mont Cornillon foi canonizada, em 1599, pelo Papa Clemente VIII.  Como vimos, ela morreu sem ver a procissão de forma mundial.

Milagre de Bolsena

Depois da morte do Papa Alexandre IV, foi eleito o novo Papa, o cardeal Jacques Panteleón. Naquela época, a corte papal era em Orvieto, um pouco ao norte de Roma. Muito perto dessa localidade fica a cidade de Bolsena, onde, em 1264, aconteceu o famoso Milagre de Bolsena.

Em que consiste esse milagre? Um padre da Boemia, Alemanha, que tinha dúvidas sobre a verdade da transubstanciação, presenciou um milagre. Durante uma viagem que fazia da cidade de Praga a Roma, ao celebrar a Santa Missa na tumba de Santa Cristina, na cidade de Bolsena, Itália, no momento da consagração, viu escorrer sangue da Hóstia Consagrada, banhando o corporal, os linhos litúrgicos e também a pedra do altar, que ficaram banhados de sangue.

O sacerdote, impressionado com o que viu, correu até a cidade de Orvieto, onde morava o Papa Urbano IV, que mandou a Bolsena o Bispo Giacomo, para ter a certeza do ocorrido e levar até ele o linho ensanguentado. A venerada relíquia foi levada em procissão a Orvieto em 19 junho de 1264. O Pontífice foi ao encontro do Bispo até a ponte do Rio Claro, hoje atual Ponte do Sol. O Papa pegou as relíquias e mostrou à população da cidade.

Começo da celebração mundial

O Santo Padre, movido pelo pelas visões de Santa Juliana, pelo prodígio e também a petição de vários bispos, fez com que a festa do Corpus Christi se estendesse por toda a Igreja por meio da bula Transiturus de hoc mundo, em 11 de agosto de 1264. Esses fatos foram marcantes para se estabelecer a festa de Corpus Christi.

A morte do Papa Urbano IV, em 2 de outubro de 1264, um pouco depois da publicação do decreto, prejudicou a difusão da festa. Mas o Papa Clemente V tomou o assunto em suas mãos e, no concílio geral de Viena, em 1311, ordenou, mais uma vez, a adoção dessa festa. Em 1317, foi promulgada uma recompilação das leis por João XXII e assim a festa foi estendida a toda a Igreja.

Foi assim que a festa de Corpus Chisti aconteceu, tendo como testemunho estes dois fatos: as visões de Santa Juliana e o milagre eucarístico de Bolsena.

 

Equipe Formação Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/historia-da-igreja/conheca-a-historia-da-festa-de-corpus-christi-para-bem-viver-esse-dia/

18 de junho de 2025

As 12 promessas do Sagrado Coração de Jesus

O Amor e a Dor do Sagrado Coração: Dois Momentos-Chave no Evangelho

A devoção ao Sagrado Coração, de um modo visível, aparece em dois acontecimentos fortes do Evangelho: no gesto de São João, discípulo amado, encostando a sua cabeça em Jesus durante a Última Ceia (cf. Jo 13,23); e, na cruz, onde o soldado abriu o lado de Jesus com uma lança (cf. Jo 19,34).

Créditos: Domínio Público

Num acontecimento, temos o consolo de Cristo pela dor na véspera de Sua morte. No outro, o sofrimento causado pelos pecados da humanidade. Esses dois exemplos do Evangelho nos ajudam a entender o apelo de Jesus feito, em 1675, a Santa Margarida Maria Alacoque:

"Eis este coração que tanto tem amado os homens. Não recebo da maior parte senão ingratidões, desprezos, ultrajes, sacrilégios e indiferenças. Eis que te peço que a primeira sexta-feira depois da oitava do Santíssimo Sacramento (Corpo de Deus) seja dedicada a uma festa especial para honrar o Meu coração, comungando, neste dia, e dando-lhe a devida reparação por meio de um ato de desagravo para reparar as indignidades que recebeu durante o tempo em que esteve exposto sobre os altares. Prometo-te que o Meu Coração se dilatará para derramar com abundância as influências de Seu divino amor sobre os que tributem essa divina honra e que procurem que ela lhe seja prestada."

São João Paulo II e a devoção ao Sagrado Coração de Jesus

São João Paulo II sempre cultivou essa devoção e sempre a incentivou a todos que desejam crescer na amizade com Jesus. Em 1980, no dia do Sagrado Coração, ele afirmou: "Na solenidade do Sagrado Coração de Jesus, a liturgia da Igreja concentra-se, com adoração e amor especial, em torno do mistério do Coração de Cristo. Quero, hoje, dirigir, juntamente convosco, o olhar dos nossos corações para o mistério desse coração. Ele falou-me desde a minha juventude. A cada ano, volto a esse mistério no ritmo litúrgico do tempo da Igreja".

Agora, conheça as 12 promessas do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque:

1° Promessa: "A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de Meu Sagrado Coração";
2° Promessa: "Eu darei aos devotos de Meu Coração todas as graças necessárias a seu estado";
3° Promessa: "Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias";
4° Promessa: "Eu os consolarei em todas as suas aflições";
5° Promessa: "Serei refúgio seguro na vida e principalmente na hora da morte";
6° Promessa: "Lançarei bênçãos abundantes sobre os seus trabalhos e empreendimentos";
7° Promessa: "Os pecadores encontrarão, em meu Coração, fonte inesgotável de misericórdias";

8° Promessa: "As almas tíbias tornar-se-ão fervorosas pela prática dessa devoção";
9° Promessa: "As almas fervorosas subirão, em pouco tempo, a uma alta perfeição";
10° Promessa: "Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais endurecidos";
11° Promessa: "As pessoas que propagarem esta devoção terão o seu nome inscrito para sempre no Meu Coração";
12° Promessa: "A todos os que comunguem, nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna".



Sônia Venâncio

Sônia Perpétua Venâncio Crozatto é Brasileira, nasceu no dia 13/03/1977, em Santa Barbara, MG. É Membro da Associação Internacional Privada de Fieis – Comunidade Canção Nova, desde 2003 no modo de compromisso do Núcleo.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/devocao/as-12-promessas-do-sagrado-coracao-de-jesus/

17 de junho de 2025

Sagrado Coração: mais que uma devoção, uma espiritualidade

A dedicação ao Sagrado Coração de Jesus, desenvolvida ao longo da vida da Igreja, é mais que uma devoção, é uma espiritualidade.

Na Bíblia, há uma dedicação do povo às coisas do coração. "Tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne" (Ezequiel 11,19). "Vinde a mim vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas" (Mateus 11,28-29).

O coração de Jesus é o coração manso e humilde de Deus colocado dentro do nosso peito. O Senhor não é só uma inteligência suprema, Ele é coração, e o coração de Jesus é a manifestação visível do amor do Pai.

Ao longo desses dois mil anos de história da Igreja, os santos padres desenvolveram a espiritualidade do coração de Jesus. Mais tarde, Santa Maria Margarida, no século XVII, teve a imagem do coração de Cristo para fora do peito, coroado de espinhos e inflamado de amor. Essa imagem acabou fazendo história e aprofundando essa espiritualidade. A Festa do Sagrado Coração de Jesus foi oficializada pela Igreja; a primeira sexta do mês é dedicada a Ele.

Os efeitos da consagração ao Sagrado Coração

Os efeitos da consagração ao Sagrado Coração de Jesus estão diretamente ligados às promessas de Jesus feitas a Santa Maria Margarida, as quais foram propagadas doze, porém são inúmeras. O primeiro grande efeito é a experiência do amor de Deus, de quem somos filhos amados. E esse amor não nos abandona; pelo contrário, acompanha-nos sempre. Jesus, quando voltou para o Pai, deixou-nos uma grande promessa: "Estarei convosco todos os dias até o fim". Essa é a certeza: Deus está conosco.

O Senhor é um colo, o Sagrado Coração de Jesus é um refúgio, uma rocha protetora, diz uma das promessas. Ele não é legislador, mas Pastor que pega Sua ovelha no colo e cuida de suas feridas.

As experiências de um padre do coração de Jesus são muitas, em minha vida não é diferente. Há uma promessa do Sagrado Coração que diz: "Darei aos sacerdotes consagrados ao meu Sagrado Coração a graça de alcançar até os corações mais endurecidos". Certa época, eu pregava muito da cabeça, da inteligência, da teologia, e as pessoas se convenciam intelectualmente, mas não no coração, não se convertiam. Até que Deus tocou meu coração e percebi que precisava falar afetivamente do coração de Deus, pois Ele não é só inteligência, é também coração.


O Sagrado Coração de Jesus é mais que uma devoção, é uma espiritualidade. É a espiritualidade da ternura, do coração, é a mística do afeto. É reconhecer que Deus é mais que Pai, Ele é Pai e Mãe, e tem um colo para nós. A grande dica para aproveitarmos bem toda essa espiritualidade é nos deixarmos adormecer no coração d'Ele. Há momentos em que precisamos repousar no coração do Senhor, seguir o conselho de Jesus que nos diz: "Vinde a mim vós todos que estais cansados e eu vos aliviarei". Deixe-se repousar no coração de Deus.



Padre Joãozinho, SCJ

Padre da Congregação do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos), doutor em Teologia, diretor da Faculdade Dehoniana em Taubaté (SP), músíco e autor de vários livros. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.

http://blog.cancaonova.com/padrejoaozinho/


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/devocao/sagrado-coracao-mais-que-uma-devocao-uma-espiritualidade/

16 de junho de 2025

Invoca a minha misericórdia, pois desejo a salvação do pecador

As nossas orações ao Pai das Misericórdias devem ser precedidas pelo conhecimento do coração do Pai. São Paulo disse: "Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das Misericórdias e Deus de toda consolação. Ele nos consola em todas as nossas aflições para que, com a consolação que nós mesmos recebemos de Deus, possamos consolar os que se acham em toda e qualquer aflição. Pois à medida que os sofrimentos de Cristo crescem para nós, cresce também a nossa consolação por Cristo" (2Cor 1,3-5).

Crédito: Bruno Marques/cancaonova.com

Para mostrar a nós a imensidão da Sua misericórdia para com os pecadores, Jesus contou aos fariseus a parábola do filho pródigo. Um pai nunca quer perder um filho, e Deus, principalmente, Pai de todos nós, não quer perder nenhum deles. Aquele filho ingrato gastou os bens do Pai com uma vida dissoluta, e depois passou fome; então, lembrou-se do seu pai, criou coragem e voltou a ele, querendo apenas ser recebido como um empregado e não como filho. E sabemos como ele foi recebido: com festa, churrasco, roupa nova e anel nos dedos. É assim que Jesus nos ensina a misericórdia do Pai.

Jesus disse que o Pai não quer que Ele perca nenhum daqueles que lhe deu. Assim, Jesus, que é a "imagem do Deus invisível' (Col 1,14) e o "esplendor da glória de Deus" (Hb 1,3), revelou-nos a profunda misericórdia do Pai ao contar a parábola do bom pastor, que é capaz de deixar 99 ovelhas seguras no aprisco e ir em busca da ovelha perdida. E que alegria quando a encontra!

Terá mais alegria no céu por um pecador que se converter

"E, depois de encontrá-la, a põe nos ombros, cheio de júbilo, e, voltando para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: 'Regozijai-vos comigo, achei a minha ovelha que se havia perdido. Digo-vos que assim haverá maior júbilo no céu por um só pecador que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento."


Assim, o Pai está de braços abertos a acolher qualquer um que venha a Ele de coração arrependido. Independente dos seus pecados, o Pai abraça todo aquele que vem a Ele confiante, pois Jesus já pagou na Cruz o preço do nosso perdão. Confiar na misericórdia do Pai é confiar no mistério da Redenção pela qual Jesus nos salvou. Agora, basta confiar, arrepender-se dos pecados e cair nos braços do Pai das misericórdias. São Paulo nos lembra:

Deus é pura Misericórdia

"Deus, que é rico em misericórdia, impulsionado pelo grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos em consequência de nossos pecados, deu-nos a vida juntamente com Cristo – é por graça que fostes salvos!"(Ef 2,4-5).

O Salmo 50,19, diz: "Meu sacrifício, ó Senhor, é um espírito contrito, um coração arrependido e humilhado, ó Deus, não haveis de desprezar". A decisão é de cada um: São Pedro negou Jesus, arrependeu-se e continuou sendo o escolhido de Jesus para chefe da Igreja; Judas se desesperou, não confiou, e se matou. Às vezes, um orgulho refinado nos impede de nos lançarmos nos braços do Pai.

Vale a pena aprender com os santos doutores da Igreja o que eles nos ensinaram sobre a misericórdia do Pai. Santo Agostinho disse: "Não há maior miséria que a de um miserável que não tem misericórdia de si mesmo. Minha única esperança, minha única confiança, minha única firmeza é a misericórdia de Deus". Santo Afonso de Ligório, doutor, disse: "Agrada sumamente a Deus a nossa confiança em sua misericórdia, porque assim honramos e exaltamos aquela sua infinita bondade que Ele quis manifestar ao mundo nos criando".

Devemos confiar na Misericórdia de Deus

São Francisco de Sales nos ensina algo consolador: "Quanto mais nos sentimos miseráveis, tanto mais devemos confiar na misericórdia de Deus. Porque entre a misericórdia e a miséria há uma ligação tão grande que uma não pode se exercer sem a outra".

E Santo Tomás nos ensina que nunca devemos desanimar da salvação eterna, confiados no poder e na misericórdia divina.
Jesus insiste para que os homens se acheguem a Seu coração misericordioso, que espelha o coração do Pai.

Ele pediu a Santa Margarida Maria Alacoque, no século XVII, que difundisse, no mundo, toda a devoção a seu Sagrado Coração misericordioso. Em nosso tempo, pediu a Santa Faustina Kowalska que difundisse a devoção a Divina Misericórdia, pedindo ao Papa que instituísse a sua festa, o que foi feito pelo Papa São João Paulo II. Em seus diálogos com Deus, Ele insiste com ela na necessidade de nos atirarmos no oceano infinito de Sua misericórdia, que é a do Pai.

O pecado me afasta de Deus

"Que o pecador não tenha medo de se aproximar de Mim. Queimam-me as chamas da misericórdia; quero derramá-las sobre as almas" (Diário n.50). "Antes de vir como justo Juiz, venho como Rei da misericórdia" (n. 83).

"Invoca a minha misericórdia para com os pecadores, pois desejo a salvação deles" (n. 186). "Oh como me fere a incredulidade da alma! Essa alma confessa que sou Santo e Justo e não crê que sou misericórdia, não acredita na minha bondade. Até os demônios respeitam a minha justiça, mas não creem na minha bondade" (n. 300).

"E ainda que os pecados das almas fossem negros como a noite, quando o pecador recorre a minha Misericórdia, presta-me a maior glória e é a honra da minha paixão. Quando a alma glorifica a minha bondade, então o demônio treme diante dela e foge até o fundo do inferno" (n. 378). "As almas que recorrerem a minha Misericórdia e aquelas que a glorificarem e anunciarem aos outros, na hora da morte Eu as tratarei de acordo com a minha infinita Misericórdia" (n. 379).

Jesus sofre por causa dos nossos pecados

"O meu coração sofre porque até as almas eleitas não compreendem como é grande a minha Misericórdia" (379).  É tão importante a devoção à misericórdia do Pai que Jesus mandou que ela difundisse o Terço da Misericórdia, que deve ser rezado sempre, e sobretudo diante dos moribundos para que alcancem a sua salvação. Toda esta reflexão deve se transformar em orações ao Pai da Misericórdia.

Leve, com toda confiança, ao Coração desse Pai, todas as suas angústias, aflições, tribulações, medos, traumas, dores, enfermidades e humilhações que a vida lhe proporciona e descanse nos braços d'Ele.

Equipe de Formação da Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/oracao/invoca-a-minha-misericordia-pois-desejo-a-salvacao-do-pecador/

15 de junho de 2025

Santíssima Trindade: Filho e Espírito Santo são um único Deus

O mistério da Santíssima Trindade é um dos dogmas centrais dentro da Igreja Católica. Por muitos anos, as civilizações acreditaram em uma diversidade de deuses, como, por exemplo, os gregos, bárbaros e celtas.

Por outro lado, os judeus avançaram essa compreensão apresentando o monoteísmo. Com fé em um único Deus, por muitas vezes citada pelos profetas como "Deus verdadeiro, os outros são apenas barro". Ou seja, a multiplicidade de deuses seriam apenas imagens criadas pelo homem, só existe um único Deus. Por fim, a Igreja católica, herdando a herança judaica, desenvolve a doutrina da Trindade.

A Trindade, revelada pelas Sagradas Escrituras e pelo testemunho de Jesus Cristo, torna-se um grande escândalo para os judeus e para muitos das primeiras comunidades cristãs.

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Nos inícios da Igreja, de tempos em tempos, apareceram diversas heresias sobre essas realidades. Algumas delas são: o modalismo consistiu na opinião de alguns teólogos (Noeto e Praxéias, no século II e Sabélio, no século III) que reduziam as três Pessoas da Santíssima Trindade a simples modo de expressão do único e mesmo Deus; o subordinacionismo foi defendido pelo bispo Paulo de Samósata e pelo padre Ário de Alexandria.

Eles ensinavam que o Pai é o único Deus. Enquanto que o Filho e o Espírito Santo são criaturas subordinadas ao Pai. O triteísmo ensina que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três substâncias independentes e autônomas. Afirma, portanto, que a Trindade, na verdade, são três deuses.


A doutrina da Santíssima Trindade

No Ocidente, Tertuliano, que viveu no século II, foi o primeiro a usar a palavra "Trindade" para se referir a Deus em três Pessoas. No Oriente, esta tarefa coube a Teófilo de Antioquia, que também viveu no século II. A doutrina da Santíssima Trindade foi explicitada no decurso dos primeiros séculos e finalmente definida no Concílio de Nicéia (325 d.C.), onde ficou esclarecida a divindade de Jesus Cristo; e no Concílio de Constantinopla (381 d.C.), quando se defendeu a divindade do Espírito Santo. Cada um desses Concílios procurou responder as heresias de seu tempo, fixando a verdadeira fé católica.

A unidade e a igualdade das três pessoas da Trindade

Um dos principais comentadores da Trindade foi Santo Agostinho, que elaborou sua obra "De Trinitate" (Sobre a Trindade). Santo Agostinho enfatizou a unidade e a igualdade das três pessoas da Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo são um único Deus em essência. Ele usou analogias, como a mente que pensa, a palavra que é expressa e o amor que une para ilustrar a relação entre as pessoas divinas.

Também ressaltou a importância da analogia da imagem de Deus na humanidade. Argumentava que a capacidade humana de amar e se relacionar espelha, de certa forma, a natureza trinitária de Deus. Assim, Agostinho incentivava os cristãos a viver em comunhão e amor, refletindo a comunhão divina.

O fato é que a adesão ao catolicismo se dá no Batismo, e um Batismo Trinitário (Pai, Filho e Espírito Santo). A partir disso, somos introduzidos no seio da Trindade e entramos no mistério divino por adoção filial. Sendo o Batismo a porta de entrada, os outros sacramentos também são manifestação da obra Trinitária na alma do fiel, manifestação visível através do rito e uso das matérias.

Por isso, celebrar os sacramentos é celebrar a Trindade. Ser católico é viver essa mística profunda que nos leva à transformação e união com o próprio Deus Trindade! Que Deus, nosso Pai, nos inspire a pôr em prática esses ensinamentos.


 

 


Rafael Vitto

Rafael Vitto, seminarista CN. Graduado em Filosofia e estudante de Teologia. Atuante na paróquia São Sebastião em Cachoeira Paulista.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/santissima-trindade-filho-e-espirito-santo-sao-um-unico-deus/