A maior graça que podemos desejar e pedir de Deus, depois de que O   amemos sempre mais, é a graça da nossa conversão, mas é certo que não   haverá amor a Deus sem a conversão a Ele. Assim sendo, é por meio da   graça da conversão que virão todas as outras graças, inclusive aquela   ainda maior e mais desejável que a própria conversão e santificação   pessoal, que é o amor a Deus sobre todas as coisas.
  Conta-se que, já ao fim de sua vida, Nosso Senhor apareceu a São   Tomás de Aquino e lhe disse: "Tu falaste bem de mim, Tomás. Qual será a   tua recompensa?". São Tomás respondeu: "Nada mais do que Tu, Senhor!".   Deus em Si mesmo é o maior e o melhor que podemos desejar. E tal desejo   não se dá sem uma profunda conversão, uma mudança de rumo, um   caminhar contínuo em direção a Ele.
  A conversão é um processo que dura toda a vida, mas consta de duas   etapas ou momentos distintos: uma experiência fundamental e uma   realidade contínua.
    A conversão é uma experiência contínua
  A experiência fundamental trata-se daquela que determina a mudança de   rumo na vida, e na História temos inúmeros exemplos: a visita de Jesus a   Zaqueu; o chamado de Mateus na coletoria de impostos; a libertação de   Madalena dos sete demônios; a queda de São Paulo no caminho de Damasco;   a visão que Santo Agostinho teve no jardim; a leitura do Evangelho   na prisão por São Francisco; a ferida na perna de Santo Inácio de   Loyola; e muitíssimos outros testemunhos. Tratam-se de momentos   determinantes que mudam completamente os rumos da vida de quem fez tal   experiência.
  Em si, experiência que faz determinar a mudança (um milagre, uma   visão, um acontecimento etc.) é um impulso, todavia a transformação   tende a se tornar realidade no decorrer da nova vida que se abraça dali   por diante. Assim se faz ver que a conversão é também um processo   contínuo, pois trata do caminho empreendido a partir daquele momento   fundamental (ou inclusive de mais de um momento fundamental: por   exemplo, São José de Calasanz, Santa Tereza D'Ávila, Santa Tereza de   Calcutá etc.) e que dura exatamente até o último suspiro, como bem   lembrou São Luís de Montfort em suas últimas palavras antes da morte:   "Minha carreira terminou; não pecarei mais." Porque esta vida será   sempre um grande combate contra o pecado e busca de santificação, e estas são grandes marcas da conversão.
  Oração do Rosário
  A oração   do Rosário é importantíssima em relação aos dois momentos ou etapas de   conversão, antes de tudo, para que se prepare e aconteça o momento   fundamental, caso ainda não tenha ocorrido. É como a chuva torrencial   que prepara a terra para a semeadura. O momento fundamental é   sempre Deus que o faz acontecer como quer, onde quer e a hora que quer;   ao homem basta deixar a brecha para a ação da graça. O Rosário é   instrumento eficaz a fim de consolidar o processo de conversão   quotidianamente e até o fim da vida. Esse será um processo de combate,   sem dúvida, e por vezes ferrenho, mas também, e certamente, de progresso   nas virtudes e santificação pessoal mediante a graça.
  São Paulo sentiu a tensão que há entre o homem velho e o homem novo:   "Não entendo, absolutamente, o que faço, pois não faço o que quero; faço   o que aborreço" (Rm 15,7). Portanto, trata-se de um combate, que é   constantemente travado no interior daquele que decidiu, não sem a graça,   empreender o caminho da vida nova. E mais, não só em razão de combater o pecado,   mas o risco de também esvaziar as ações cristãs. São Mateus deixou-nos   as palavras de Nosso Senhor a respeito da exigência da conversão   traduzida em vida: "Nem todo aquele que me diz: 'Senhor, Senhor' entrará   no Reino dos Céus, mas o que põe em prática a vontade de meu Pai que   está nos Céus" (Mt 7,21).
  Assim sendo, aquele que precisa ou deseja conversão deve rezar o   Rosário, que há de prepará-lo e impulsioná-lo. E aquele que já tendo   iniciado tal caminho deve também rezá-lo, a fim de que a mesma conversão   se consolide cada vez mais, de luta em luta, de vitória em vitória e,   se houver queda, para que o mesmo Rosário infunda arrependimento,   confiança e ânimo para levantar imediatamente e continuar caminhando.
  A respeito desse caminho ou viagem cabem as palavras do padre   Lagrange, para auxiliar e confirmar a reflexão a respeito do quanto o   Rosário nos envolve do início ao fim. Diz ele: […] em nossa viagem para   Deus: contempla-se primeiro o fim último, e daí o desejo da salvação e a   alegria que acompanha esse desejo; é isso que nos recordam os mistérios   gozosos, a Boa-Nova da Encarnação do Filho de Deus, que nos abre o   caminho da salvação. Devem tomar, em seguida, os meios frequentemente   dolorosos para a libertação do pecado e a conquista do Céu. É oque nos   inspiram os mistérios dolorosos. Repousa-se, enfim, no fim último   conquistado, na vida eterna, da qual a vida presente deve ser o   prelúdio. É o que nos fazem antever os mistérios gloriosos. O Rosário   […] nos toma em meio às nossas alegrias, demasiada humanas, às vezes   perigosas, para nos fazer pensar naquelas muito mais altas da vinda do   Salvador. Toma-nos também em meio aos sofrimentos, frequentemente   irracionais, às vezes esmagadores, quase sempre mal suportados, para nos   recordar de que Jesus sofreu muito mais do que nós, por amor a nós e   para nos ensinar a segui-Lo, carregando a Cruz que a Providência   escolheu para nos purificar. O Rosário, enfim, nos toma em meio às   nossas esperanças, demasiada terrenas, para nos fazer pensar no   verdadeiro objeto da esperança cristã, na vida eterna e nas graças   necessárias para alcançar a realização dos grandes preceitos do amor   de Deus e do próximo. (LAGRANGE, 2017, p. 245).
  
  Conversão e santificação
  O Rosário é potente instrumento de conversão e santificação graças à   intercessão de Nossa Senhora, que faz com que tais graças nos envolvam.   Antes de tudo porque Ela não teve pecado; foi "cheia de graça" desde o   primeiro instante de sua Conceição Imaculada!   Por isso, Ela tem pena de nós pecadores e sempre vem em nosso auxílio   quando a invocamos. Ela nos vê a partir de Deus, e quer para nós o que   Deus, em Seu infinito amor, quer; além disso, colabora com os desígnios   divinos para que aconteça a nossa salvação.
  Ordinariamente o processo de conversão é lento e demorado, requer   muita humildade, paciência e confiança. O Rosário, pela sua própria   constituição e pelas graças que lhe são anexas, contribui muito para a   aquisição e vivência dessas virtudes tão especiais na vida cristã:   humildade, paciência e confiança. Ainda mais por intermédio do precioso e   valoroso patrocínio de Nossa Senhora.   Como nos mostra o episódio da vida do Beato Alano, que, à beira do   desespero, recebe da Virgem um tapa no rosto e a seguinte repreensão:   "Por que não me chamaste, miserável? Eu teria te ajudado!". Mesmo   se corrermos o risco do desespero, desânimo ou ansiedade, mas tivermos   sido seus devotos, Ela não deixará de nos socorrer. O Rosário bem rezado   e meditado assegura que Ela, de qualquer
  modo, sempre materna e firme, intervirá.
  Nossa Senhora disse, posteriormente, ao Beato Alano: "Aquele que, com   devoção, rezar meu Rosário, considerando os mistérios, não se verá   oprimido pela desgraça nem morrerá morte desgraçada; se converterá, se é   pecador;  perseverará nas graças, se é justo; e em todo caso será   admitido na vida eterna." — essa ficou conhecida como a sexta promessa   do Rosário feita por Nossa Senhora.
  Devoção ao Rosário
  De fato, muitas são as ameaças que podem se abater sobre a vida no   caminho de conversão. A promessa, todavia, assegura que o Rosário não   permitirá que a desgraça oprima o fiel devoto nem na vida nem na hora da   morte. Assegura, ainda, a conversão daquele que está no pecado, mas que   se dispõe a rezar o Rosário. E mais: assegura inclusive a perseverança   nas graças e a vida eterna. Essa promessa confirma o poder que tem o Rosário de alcançar a conversão e santificar aqueles que o rezam fielmente.
  O primeiro anúncio de Jesus sobre o Reino de Deus foi: "Convertei-vos   e crede no Evangelho!" (Mc 1,15b). Ora, a entrada e a permanência no   Reino se faz mediante a conversão e a adesão de fé ao Evangelho. O   Rosário assegura essa correspondência ao anúncio de Nosso Senhor. É uma   adesão de fé que impõe comportamento. Vejamos as palavras do padre   Lagrange (2017, p. 244–245) sobre o Rosário: é todo o Credo que passa   diante de nossos olhos, não é um modo abstrato, por meio de fórmulas   dogmáticas, mas de um modo concreto pela vida de Cristo, que desce até   nós e sobe a seu Pai para nos conduzir a Ele. É todo o dogma cristão em   sua elevação e seu esplendor, para que possamos assim todos os dias   penetrá-lo, saboreá-lo e com ele alimentar a nossa alma. […] É também   [uma oração] muito prática, porque nos recorda toda a moral e a   espiritualidade cristã vistas do alto, pela imitação de Jesus Redentor e   de Maria Medianeira, que são nossos grandes modelos. Esses mistérios   devem, com efeito, reproduzir-se em nossa vida, na medida desejada   para cada um de nós pela divina Providência. Cada um deles nos recorda   uma virtude, sobretudo a humildade, a confiança, a paciência e a caridade.
  Tão importantes são a conversão e a santificação   que ainda há outras promessas que tocam diretamente uma e outra.   A primeira promessa diz: "A quem me sirva, rezando diariamente meu   Rosário, receberá qualquer graça que me peça." Mostra que o Rosário é   como um serviço fiel e generoso que o súdito presta à sua rainha, cujos   benefícios, todavia, são todos revertidos da Rainha para o súdito. Faz   ver ainda que a conversão deve ser pedida, pois é uma graça que, como   vimos, possibilita a aquisição de muitas outras. Mais do que esforço   pessoal à conversão e à santificação pessoal, é puro dom da graça. O   Rosário é instrumento eficaz para recebê-lo.
  A segunda promessa assegura da parte de Nossa Senhora: "Prometo minha   especialíssima proteção e grandes benefícios aos que devotamente   rezarem meu Rosário". Num combate   em que são sempre desferidos dardos inflamados pelos inimigos faz-se   necessária poderosa proteção. O Rosário é poderosa proteção para quem o   reza fiel e devotamente. E as necessidades no decorrer da vida,   principalmente em relação à salvação, podem ser muitas, por isso   igualmente grandes serão os benefícios, conforme a ordem da Providência.   A quarta promessa diz: o Rosário fará germinar as virtudes; este também   fará que seus devotos obtenham tudo da misericórdia divina; substituirá   no Coração dos homens o amor do mundo pelo amor por Deus e os elevará a   desejar as coisas celestiais e eternas.
  Misericórdia
  Quantas almas por esse meio se santificarão! E a última promessa   complementa: "A devoção ao santo Rosário é um sinal de predestinação à   glória".
  Por fim, é preciso dizer que é importantíssimo rezar o Rosário pelos   pecadores, dentre os quais os primeiros da lista somos sempre nós   mesmos, mas também pregá-lo, ensiná-lo, difundi-lo, distribuí-lo,   aconselhá-lo vivamente aos que perderam a esperança que comecem a   rezá-lo o quanto antes e que não deixem de rezá-lo. E aqueles que se   encontram no caminho de conversão que o rezem ainda com maior fervor,   para alcançarem a santificação pessoal. O Rosário é caminho seguro!
  Trecho extraído do livro "O poder do Rosário", do padre Alexandre L. Alessio, CR
Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/o-rosario-alcanca-gracas-de-conversao-e-santificacao/