2 de setembro de 2025

A esperança não decepciona

A Carta aos Romanos e a esperança no Espírito Santo

O Apóstolo Paulo assegura à comunidade cristã de Roma que existe uma esperança que é certa e segura. Essa carta foi escrita em torno do ano 60 d.C., e é a carta mais profunda em reflexão feita pelo Apóstolo Paulo. Essa comunidade destoa das outras às quais Paulo destina cartas: a comunidade de Roma não foi Paulo que "plantou", porém, tocará a ele "regá-la" para que cresça.

Foto Ilustrativa: nicoletaionescu by Getty Images

A comunidade cristã de Roma, no ano 60 d.C., não é tão grande, talvez algumas centenas de pessoas se reunissem para fazer Memória de Jesus, da Sua Páscoa. Fazer a memória de Jesus é o oásis desses nossos irmãos que passaram os dias como estranhos entre pessoas que organizavam suas vidas a partir de expectativas de amizades com o imperador, com senadores romanos ou algum nobre que pudesse oferecer a eles uma pequena esperança

Uma esperança segura

Mas como indicar uma esperança segura, que não dependesse das mudanças próprias do homem? 

Em lugar central da carta, depois de falar da condição da humanidade sem Cristo e de sua salvação gratuita, Paulo diz que há uma esperança que não está ligada aos poderes dos que mandam no império. Ela depende do dom de Deus, do Espírito Santo derramado no coração dos crentes (Rm 5,5).


O elemento verificador dessa esperança é olhar dentro de si e perceber esse Espírito que move e tudo renova. Esse Espírito é de tal maneira ativo, que o cristão não poderia duvidar que a promessa já estava se cumprindo.

Havia uma tal esperança de totalidade, na experiência desse Dom que haveria de se cumprir como salvação,  que o desfecho seria positivo, pleno e feliz de uma promessa cujo herdeiro é Jesus, e todos que estejam n'Ele se tornam coerdeiros. Essa certeza não é ensinada, ele precisa ser experimentada no coração do crente

 O modo novo de viver as tribulações, as angústias e perseguições

Ademais, o crente tinha à sua disposição o modo novo de viver as tribulações, as angústias e perseguições. Ele experimenta que há uma reserva de alegria em viver essa condição de ser rejeitado por causa de Jesus, por não ter aceitado que a vida consistia no que os mais fortes poderiam oferecer-lhe, que viveria de esperanças em pessoas e coisas que o deixam decepcionado. 

O cristão ergue a cabeça, vive com altivez que brota da fé na cruz redentora de Cristo. Esse novo ser nascido da fé em Jesus possui um destemor, uma coragem que não volta atrás. Essa coragem não é aquela grega, da ousadia que confia nos próprios braços; a coragem do cristão nasce da confiança no dom do Espírito, na vitória já conquistada por Jesus Cristo e participada por ele, pela fé. A isso Paulo chama Parresia (coragem que nasce da confiança).

Não há motivos para sentir vergonha, medo, insegurança

Outro elemento de credibilidade da esperança que não decepciona é o fruto que esse Espírito produz na alma do crente: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5,22s). Ele sabe que não há mais condenação para ele, se ele permanecer em Cristo Jesus (Rm 8,1). Daqui nasce a certeza da salvação que não é pretensão, mas gratidão por algo não merecido, mas guardado com zelo e temor. 

Tudo isso leva aquela experiência de leveza que é marca do cristão amadurecido no Espírito. Ele vive a Lei, mas sem ser escravo dela; é livre, inclusive, de obedecer aos próprios impulsos.

Tudo nesse cristão é tensão evangélica, é a busca de viver em Cristo, viver a vida como dom para suscitar a ação de graças no coração de outros, querendo que todos experimentem que não há motivos para sentir vergonha, medo, insegurança, pois o fim foi definido: tudo concorre para o bem dos que amam a Deus. Essa ousada segurança se deve ao dom do Espírito Santo, que é "arrabon", é garantia do cumprimento da esperança.

Dom José Otácio Oliveira Guedes
Bispo Auxiliar de Belo Horizonte 


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/esperanca-nao-decepciona/