31 de agosto de 2025

Como participar da Missa com crianças?

Cuidar é um ato de fé

Muitos pais levam os bebezinhos à Igreja. Eles são belos, quietinhos, dormem a maior parte do tempo. Mas assim que começam a crescer, engatinhar, aprender a andar e a correr, muitos pais acabam desistindo. Argumentam que dá muito trabalho, pois as crianças não querem ficar paradas, gastando muito tempo da Missa por andarem de um lado para outro, então, sentem-se tentados a concluir que não estão, realmente, participando da celebração.

Foto ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

Ao perceber que a criança está muito irrequieta, é aconselhável convidá-la e sair para escutar a celebração do lado de fora (no hall, por exemplo). Com crianças muito pequenas, fica mais difícil mantê-las em silêncio por muito tempo: é preferível sair um pouco da Igreja e ir para onde as crianças não irão atrapalhar os outros. Brinquedos e aparelhos como celular, smartphone, tablets devem ser evitados. Uma sugestão é levar livros e lápis de cor para pintar ou deixá-las folhear algum livro ilustrado sobre a vida de Jesus.

A Missa é para todos

Em algumas comunidades, há uma prática de separar as crianças na hora da Missa e levá-las para um lugar à parte, onde são cuidadas por voluntários que cantam, rezam, brincam, evangelizando-as. Dessa maneira, acredita-se que os pais podem participar melhor da Missa. Certamente, a intenção de promover iniciativas como essa é boa, porém, corre-se o risco de criar uma ideia de que Missa não é coisa para criança.


Família na Missa

A Missa é para todos, inclusive para crianças. Outros pais ficam o tempo todo pedindo para os filhos fazer silêncio porque querem se concentrar. Devemos sempre nos lembrar de que a Missa do domingo com a família é um momento de oração comunitária, familiar. Além desse momento de celebração comunitária, devemos buscar outras oportunidades de oração pessoal, talvez durante a semana, oportunidades para rezar a sós, cultivando nossa relação pessoal com Deus.

A Exortação Apostólica Amoris Laetitia orienta que as pessoas que "têm desejos espirituais profundos não devem sentir que a família os afasta do crescimento na vida do Espírito".

Texto extraído do livro "Como participar da Missa com crianças?", de Rodrigo Luiz e Adelita Stoebel.

Equipe de Formação da Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/educacao-de-filhos/como-participar-da-missa-com-criancas/

30 de agosto de 2025

A importância do diálogo para a construção de uma sociedade justa

Há a necessidade do diálogo para a construção de uma sociedade justa

Fala com autoridade é a óbvia constatação daqueles que, na sinagoga de Cafarnaum, ouviam o ensinamento de Jesus. Um ensinamento novo, partilhado com autoridade, que impacta e desperta admiração. Atualmente, há carência das falas com autoridade que sejam bem diferentes daquelas tão comuns, eivadas de ideologizações que aumentam os riscos de polarizações fratricidas e, consequentemente, capazes de atravancar os necessários avanços sociais.

Créditos: starfotograf by Getty Images.

São urgentes falas com autoridade neste tempo em que vozes se espalham com "velocidade da luz" pelas redes sociais. Convive-se com falas sem consistente fundamentação e, por isso mesmo, incapazes de ajudar na resolução de problemas ou na promoção do diálogo. E o diálogo é instrumento indispensável na efetivação e promoção da democracia, do respeito a direitos e na construção de uma sociedade igualitária, solidária.

Das instituições pilares da democracia, a sociedade espera a disponibilidade para a construção de um entendimento, respeitando a independência de suas identidades, sem o risco de obscurecer consciências em razão da perversão de seus integrantes. Constata-se que muitos seguem na contramão do entendimento, por causa da disputa de poder entre poderes, no horizonte perigoso da partidarização com ideologizações perniciosas.

O cinismo que pode obscurecer consciências com falsas promessas

As fragilidades consequentes decorrem da falta de diálogo em alto nível, fundamento para efetivar procedimentos que fortaleçam o Estado e favoreçam o bem da Nação. Não se pode destruir o Direito pela força corrosiva da perversão daqueles que exercem o poder. As instituições religiosas, educativas e culturais estão desafiadas a entrar em cena, com uma palavra de lucidez, para ajudar a sociedade a não deixar que polarizações se tornem a voz dominante.

É preciso promover a essencial harmonia que fundamenta a adequada construção cultural e sociopolítica da sociedade, tarefa árdua que requer diálogo. Vai ficando tarde para essa movimentação quando se pensa que já se aproxima o ano eleitoral. Sabe-se do desafio enorme para não se dar soberania à mentira ou cegamente envolver-se nas disputas político-partidárias.

Muito bem comentou, em tom de advertência, o Papa Bento XVI, sobre o cinismo da ideologia que pode obscurecer consciências com promessas. Assim, justificar o uso dos meios considerados como adequados para alcançar o que foi prometido, permitindo-se abolir a noção de direito e mesmo a distinção entre bem e mal.

O dever dos líderes na política em estabelecer um diálogo mais tolerante e fiel aos valores morais

Escolhas políticas precisam ser assentadas em valores morais que não podem ser relativizados. A fidelidade a esses valores é que garante credibilidade a homens e mulheres, capacitando-os a falar com autoridade, iluminados por um horizonte largo, humanista.

A sociedade brasileira carece de líderes políticos capazes de falar com autoridade e, assim, protagonizar ações com importante incidência no tecido social, cultural, à altura dos valores e das riquezas inscritas na história do Brasil.

Ora, a autoridade política, ensina a Doutrina Social da Igreja Católica, é o instrumento de coordenação e direção mediante o qual se tem a força para aglutinar indivíduos, instituições e procedimentos a serviço do crescimento integral. Esta autoridade é bem exercida dentro dos parâmetros da ordem moral, seja na comunidade como um todo, seja nos órgãos representativos do Estado.

Importa reconhecer que líderes na política devem cultivar especial respeito à ordem moral, capacitando-se para falar com autoridade e, assim, ir além de subjetivismos partidários, para construir novos entendimentos.

É verdade que a construção de uma sociedade não se opera sem alianças, mas isso não significa dar lugar às barganhas, à mesquinhez, aos interesses pouco republicanos, distanciando-se de princípios morais. Entendimentos devem ser construídos a partir de palavras capazes de inspirar disponibilidade de cooperação e o compromisso cidadão.

A história da humanidade reúne períodos difíceis e intrincados, mas que foram vencidos com o auxílio de lideranças que falam com autoridade, distantes da mediocridade. Líderes que fortalecem suas instituições por se dedicarem à promoção do diálogo e da cooperação capazes de tecer nova cultura, inaugurando novos ciclos sociais.

Essa capacidade humana de superar momentos desafiadores deve motivar a busca pela superação das crises deste tempo, de maneira republicana e solidária, longe de rancores e disputas. A sociedade brasileira precisa urgentemente de pessoas capazes de inspirar o diálogo que vai além das disputas por "cargos" e "cadeiras".


A hora pede, em lugar de polarizações e desserviços, um empenho construtivo de todos para se conseguir a sabedoria de fazer das diferenças uma riqueza

Cada cidadão é chamado a contribuir para promover lógicas e novos hábitos capazes de garantir o cuidado com o meio ambiente – a casa comum – e a efetivação de políticas públicas inclusivas, expressando efetivo zelo por uma ordem sociopolítica mais participativa e justa.

É hora de pensar o Brasil a partir de suas riquezas e potencialidades, longe de interesses meramente partidários ou de deliberações que busquem favorecer privilegiados. Diante da exigência de se construir uma sábia atitude patriótica no cuidado com o Brasil torna-se oportuno retomar a recomendação de Mário de Andrade, em uma carta endereçada a Carlos Drummond de Andrade: "Carlos, devote-se ao Brasil, junto comigo. Apesar de todo o ceticismo, apesar de todo pessimismo (…) seja ingênuo, seja bobo, mas acredite que um sacrifício é lindo (…).

Nós temos que dar ao Brasil o que ele não tem e que, por isso, até agora não viveu, nós temos que dar uma alma ao Brasil e para isso todo sacrifício é grandioso, é sublime. E nos dá felicidade (…) é no Brasil que me acontece viver, e agora só no Brasil eu penso…". Eis um modo de pensar e uma disponibilidade para agir que fundamentam falas com autoridade.


 


Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. No Brasil, é bispo referencial para os fiéis católicos de Rito Oriental. http://www.arquidiocesebh.org.br


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/importancia-dialogo-para-construcao-de-uma-sociedade-justa/

29 de agosto de 2025

No ato de servir, encontramos a felicidade

Para encontrar a felicidade, comece praticando um dom e oferecendo-o gratuitamente a quem está próximo de você

O ato de servir é praticamente inerente a todo ser humano. É notável como o serviço tem sido necessário para os avanços da humanidade através dos séculos. Em princípio, tudo o que se faz, constrói, pesquisa ou inventa tem por finalidade melhorar a vida no nosso planeta. Não se pode negar que esse empreendedorismo rende benefícios individuais, como prestígio, compensação financeira, satisfação pessoal com o aprendizado ou com sua aplicabilidade. No entanto, vale a pena mencionar que nem todos os propósitos são honrosos.

O mosaico do coração, reunindo os fragmentos da vida

Crédito: troyka / GettyImages

Dentro das dimensões do trabalho, existe também a face do servir com gratuidade. O serviço voluntário implica fazer algo para outra pessoa sem esperar uma gratificação como forma de pagamento. Há quem, em atitude magnânima, seja capaz de servir ciente de que não receberá sequer um "muito obrigado". Aquele que, livre e espontaneamente, se torna voluntário na execução de determinado trabalho, pelo simples propósito de fazer o bem, liberta o favorecido de qualquer forma de retribuição. Há quem acredite que esse desprendimento seja uma insanidade por ser totalmente avesso à inclinação que temos em buscar os meios para a própria sobrevivência.

Quando nos fazemos servos dos outros, enchemos nosso coração com o sentimento da alegria. Aquele que está disposto a trabalhar, sem visar recompensas, tem apenas a pura alegria de proporcionar bem-estar ao próximo, sem um acréscimo a sua pessoa. É um júbilo espiritual.


Nossa Senhora demonstra a alegria de ser serva quando vai ajudar a prima Isabel e canta esse sentimento ao encontrá-la: "Minha alma glorifica o Senhor, e meu espírito exulta de alegria em Deus, meu salvador, porque Ele olhou para sua pobre serva" (Lucas 1,46-48).

Mais tarde, Jesus faz do servir desinteressado um princípio cristão: "O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos" (Mateus 20,28).

Para não nos atermos somente aos grandes propósitos, mas também àqueles "pequenos grandes gestos", temos no Evangelho de Lucas: "Mas quando deres uma ceia, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. Serás feliz, porque eles não tem com que te retribuir" (Lucas 14,13-14).

A alegria de servir

Existe nessas citações bíblicas um princípio eterno, que liga o efeito da alegria à ação de servir. Esse sentimento tão prazeroso acontece também pelo serviço. Portanto, podemos buscar sempre mais preencher nossa vida com o belo sentimento da felicidade que proporcionamos aos outros, sem que estes nos tenham pedido e sem que esperemos nada em troca.

Jesus, o Mestre, com Sua Mãe, a Santíssima Virgem Maria, querem nos indicar, com isso, que a verdadeira alegria está dentro de nós e vem à tona quando deixamos aflorar todo o amor que podemos proporcionar aos que Deus põe em nosso caminho.

A recompensa maior, certamente, está no céu, mas pode ser desfrutada já aqui neste mundo. Para encontrar a felicidade, comece praticando um dom e oferecendo-o gratuitamente a quem está próximo de você. Necessidades e circunstâncias por aí não vão faltar, é só ficar atento, pois o Altíssimo quer fazê-lo feliz!

Equipe de Formação da Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/no-ato-de-servir-encontramos-a-felicidade/

27 de agosto de 2025

Como identificar a vocação sacerdotal e religiosa?

Ser todo de Deus

Jesus chamou para apóstolos "aqueles que Ele quis" depois de passar a noite em oração. A Igreja viu nisso o chamado ao sacerdócio e também às outras formas de vida religiosa. É Jesus quem chama o jovem à vida sacerdotal, o que não é fácil. A vida religiosa exige muitas renúncias para ser "todo de Deus", estar a serviço do Seu Reino para a edificação da Igreja e a salvação das almas.

Créditos: Yandry Fernandez / GettyImagens

A palavra "vocação" vem do latim vocare, que quer dizer "chamar". Deus põe, no coração do jovem, esse desejo de servi-Lo radicalmente, indiviso, full time, em tempo integral, sem divisão.

Sinais indicativos da vocação:

Para discernir esse chamado divino, o jovem precisa, sem dúvida, de um bom orientador espiritual, um padre ou um leigo experiente para ajudá-lo. Penso que alguns sinais indicativos da  vocação de um jovem ao sacerdócio ou à vida religiosa sejam esses:

1 – Ter vontade de entregar a vida totalmente a Deus sem guardar nada para si; ser como Jesus, totalmente disponível ao Reino de Deus. Ser um outro Cristo – alter Christus. Abraçar o celibato com gosto, oferecendo a Deus a renúncia de não ter esposa, filhos, netos, vontade própria etc. É um casamento com Jesus. Ele disse que receberá o cêntuplo nesta vida, e a vida eterna depois que deixar tudo por causa d'Ele e do Seu Reino.

Jesus disse que as raposas têm seus ninhos, mas que Ele não tinha nem mesmo onde reclinar a cabeça. Isso é sinal de uma vida despojada de tudo. Nada era d'Ele, nem a gruta onde nasceu, nem o burrinho que O levou a Jerusalém. O barco de onde pregava e viajava, o manto que os soldados sortearam também não eram d'Ele. Nem a casa onde vivia em Cafarnaum pertencia ao Senhor. Tudo Lhe foi emprestado. Cristo era despojado de tudo; a Ele só pertencia a cruz.


A vocação religiosa exige entrega total

Dom Bosco disse que não pode haver graça maior para uma família do que ter um filho sacerdote. É verdade. O padre faz o que os anjos não podem fazer: perdoar os pecados, realizar o milagre da Eucaristia, tornar presente o Calvário em cada Missa para a salvação do mundo.

2 – A vocação religiosa exige que o candidato tenha o desejo de trabalhar como Jesus pela salvação das almas, sem pensar em um projeto para a sua vida. Exige entrega total nas mãos de Deus, desejo de viver mergulhado no Senhor. Tem de gostar de rezar, de estar com Deus, de meditar Sua Palavra e participar da liturgia, pois sem isso não se sustenta uma vocação sacerdotal.

O demônio tem muitas razões para tentar um sacerdote ou um religioso, pois este lhe arrebata as almas. Então, o religioso consagrado tem de viver uma vida de extrema vigilância, muita oração e mortificação, como disse Jesus.

Buscar permanentemente a santidade

3 – Amar a Igreja de todo o coração, tê-la como Mãe e Mestra, ser submisso aos ensinamentos do seu Magistério. Ser fiel à Igreja e a seus pastores, nunca ensinando algo que não esteja de acordo com o Sagrado Magistério da Igreja. Viver o que diziam o Santos Padres: sentire cum Ecclesia. Amar o Papa, os bispos, Nossa Senhora, os anjos e santos, os sacramentos, a liturgia e tudo o que faz parte da nossa fé católica. Amar a Bíblia e gostar de meditá-la todos os dias. Desejar estudar Teologia, Filosofia e tudo o mais que o Magistério Sagrado da Igreja nos recomenda e ensina. Gostar de fazer meditações, retiros espirituais e uma busca permanente de santidade. Almejar, como disse São Paulo, atingir a estatura adulta de Cristo; ser um bom pastor para as ovelhas.

4 – Desejar viver uma vida de penitência, na simplicidade, na pobreza evangélica, na obediência irrestrita aos superiores, aberto a todos por um diálogo franco. Ser tudo para todos. Estar disposto a obedecer sempre o seu bispo ou seu superior a vida toda, qualquer que seja a decisão dele sobre você.

5 – Estar disposto a dar até a vida pela Igreja, pelas almas e por Jesus Cristo.

Talvez, eu tenha sido um pouco exigente, mas para aquele que deseja ser um "sacerdote do Deus Altíssimo", creio que não se pode pedir menos do que isso. Quem opta pela vida sacerdotal deve se entregar de corpo e alma a ela; não pode ser mais ou menos sacerdote ou religioso. Seria uma frustração para a pessoa e para Deus. É melhor ser um bom leigo do que um mal religioso.

 



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/sacerdocio/como-identificar-a-vocacao-sacerdotal-e-religiosa/

26 de agosto de 2025

Qual a diferença entre freira, irmã e madre?

Chamadas a servir

Há vários termos para identificar a vida religiosa e diferenciar as funções de cada religioso e religiosa. Para a vida religiosa feminina, há três nomes: freira, irmã e madre.

Freira é o feminino de frei, que vem do latim frater, que significa "irmão"; portanto, freira é o mesmo que irmã. Podemos usar um ou outro para a mesma mulher consagrada.

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

A freira ou irmã pertence a uma congregação ou ordem religiosa e professa os votos de castidade, pobreza e obediência. Vivendo vida fraterna em comunidade, dedica-se à oração e ao serviço aos irmãos, de acordo com o carisma e a missão de sua congregação ou instituto religioso.

"Madre", do latim mater, em português significa "mãe". Madre é o título dado à irmã religiosa coordenadora de uma comunidade de irmãs ou de uma ordem ou congregação religiosa. Sua missão é cuidar de suas irmãs, principalmente para manter a fidelidade ao carisma e missão da congregação.

Como uma jovem se torna uma freira?

O tempo para uma jovem entrar no convento, mosteiro etc. varia de uma congregação para outra. Há famílias religiosas que determinam um tempo de dois anos de acompanhamento, outras de um ano, o que depende do processo humano, espiritual e vocacional de cada uma.

Esse acompanhamento vocacional é para ajudar a jovem a discernir bem o que Deus quer para ela. O que nem sempre é fácil! Para isso, são feitas conversas com o diretor espiritual e vocacional, retiros e conhecimento da vida religiosa em várias congregações.


Antes de uma jovem se tornar freira (ou irmã) em uma comunidade religiosa, é preciso que ela tenha claro o chamado de Deus para essa vocação. São Paulo diz que "os dons e os chamados de Deus (vocação) são irrevogáveis" (Rom 11,29). Deus chama para sempre. Esse chamado é uma expressão do amor de Deus para essa jovem. É uma vocação voltada para os outros, um desejo de dividir a vida com outras pessoas, com humildade, seguindo Cristo, que nos ensinou com Sua vida o que é amar.

A freira é uma pessoa que, ao deixar sua casa, seus pais e irmãos, vive para Deus e para os irmãos. Mas isso não quer dizer que ela perde as suas origens e o cuidado com os pais.

Testemunho

Tenho gratas recordações, por exemplo, das irmãs salesianas que serviam no Asilo São José, em Lorena, que ficava bem ao lado de nossa casa. Eu era pequeno, mas já admirava, profundamente, o carinho com que aquelas irmãs cuidavam dos velhinhos, levando-os em cadeiras de rodas para a Missa, que eu ajudava como coroinha. Da mesma forma, eu amava muito essas mesmas irmãs salesianas que eram responsáveis pela Santa Casa de Misericórdia de Lorena, e que também, com muito carinho, com aquele hábito todo branco, cuidavam dos doentes.

Esses exemplos pessoais me brotam do coração todas as vezes que penso nessas freiras, que deixaram o mundo para servir totalmente a Deus. Quando a idade vai avançando e as limitações físicas chegam, muitas delas têm de se recolher às Casas dos idosos da Congregação, pois já não têm mais saúde para o trabalho externo. Continuam, no entanto, sua missão de salvar as almas, oferecendo ao Senhor os seus sofrimentos e as suas constantes orações.

Podemos servir a Deus trabalhando por Seu Reino, e também rezando e sofrendo. Para essas religiosas, cada dia que passa deve o coração se expandir e aprender a amar sem limites.

Hábito religioso

Elas usam o hábito religioso, um sinal para o mundo da consagração da religiosa (Compendio Vaticano II – Perfectae Caritatis art. 17). É sinal de que essas mulheres são escolhidas, consagradas e reservados a Deus, e lembra, mesmo a pessoa que o usa, que ela representa sua congregação e por ele é identificada.

Algumas Congregações e Ordens Religiosas conservam o seu uso, segundo as orientações de seu fundador e de suas Constituições. As vestes devem ser simples, modestas e de acordo com as condições de saúde, de tempo e lugar. O profissional da saúde usa o branco para se identificar, o militar usa a farda, o religioso usa a veste de consagrado. Sinal de pertença a Cristo. O hábito religioso delas lembra aos que os vêm a existência de Deus. É um sinal e um testemunho público da condição de consagrados e de pessoas que estão à serviço da comunidade, como servidores e missionários do Reino de Deus.

As freiras não são religiosas porque usam o hábito, mas usam o hábito porque são religiosas.

Clausura

Há freiras e irmãs que vivem a vida monástica; as contemplativas, que vivem no claustro, numa vida reclusa, sem contato com o mundo exterior nem com as pessoas. Identificam-se com Jesus Cristo em oração sobre o monte e com o seu mistério pascal. A clausura é uma maneira especial de "estar com o Senhor", e de partilhar o aniquilamento, numa vida de renúncia radical não só às coisas, do prazer e do mundo.

As que vivem nos mosteiros são chamadas de monjas, vivem afastadas do mundo, mas não alienadas do mundo. O tempo todo essas almas contemplativas elevam a Deus uma prece pelos que sofrem.

Santa Elisabete da Trindade, carmelita descalça, escreveu a uma amiga: "Creia-me: por trás das grades do Carmelo tem um pequeno coração que lhe reserva uma lembrança tão fiel, uma alma totalmente unida à sua e que sente pela senhora um profundo afeto".

Uma carmelita disse que a vida em clausura é estar aos pés do divino Mestre velando em oração. Essas monjas de clausura são como Moisés na batalha contra os amalecitas (Ex 17,8ss) que, com os braços erguidos, intercedem para a salvação do mundo.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/qual-a-diferenca-entre-freira-irma-e-madre/

23 de agosto de 2025

Coração de Pai

A reflexão da importância da figura paterna através de São José

A figura paterna conta muito na estruturação do caráter e da personalidade do ser humano e a carência de paternidade pode explicar o desgoverno existencial que aflige tantas pessoas, com desdobramentos para a vida em sociedade. Em um mundo carente de paternidade, oportunidades para se avançar, qualitativamente, no viver humano, são perdidas. Merece, pois, na oportunidade oferecida pelo segundo domingo de agosto, Dia dos Pais, refletir sobre a importância da figura paterna à luz do exemplo de São José.

Créditos: piccerella by GettyImages / cancaonova.com

O mundo precisa do "Coração de pai", expressão que é título da Carta Apostólica do Papa Francisco, apresentada em 2020, no sesquicentenário da Declaração de São José como Padroeiro Universal da Igreja. Contemplar a vida de São José, inspiração para os pais, contribui para que este mundo supere a sua carência de paternidade – uma sociedade desnutrida da figura paterna convive com estreitamentos de horizontes humanísticos que aprisionam o ser humano na força ilusória do dinheiro, da fama, dos títulos.

Contemplar o modo como São José exerce a paternidade – ele é pai adotivo de Jesus, educador da casa de Nazaré ao lado de Maria – possibilita iluminar a ação de graças pelo Dia dos Pais com nobres lições. Aprendidas, essas lições capacitam homens e mulheres a adequadamente exercerem suas responsabilidades. Cada pai deve ser referência na vida de seus filhos, ajudando a consolidar valores e posturas que alcançam o mais completo e nobre sentido do viver humano.

A vida de São José tem força para inspirar correções diante de destemperos sociais e institucionais

A exemplo de São José, os pais são chamados a compreender a própria vida como dom, dedicando-a ao compromisso sociopolítico e espiritual de qualificar a sociedade. Incontestável, pois, é a urgência contemporânea de se aprender a ser pai, de resgatar a figura paterna modelar no mais profundo da consciência e da vivência. Esse resgate ajuda a superar destemperos pessoais e institucionais que também são fruto de mediocridades e da mesquinhez. A vida de São José tem força para inspirar correções. Fala-se resumidamente de São José nos evangelhos, com relevos postos pelos evangelistas Mateus e Lucas, delineando o suficiente para se compreender a exemplaridade do Padroeiro da Igreja no exercício da paternidade e a importância de sua missão.

São José é insigne protetor, como testemunha Santa Teresa D'Ávila, ao dizer que dele recebia tudo de que precisava. Para Santa Teresa, suas obras foram sempre exitosas, material e espiritualmente, graças à ajuda recebida do Padroeiro Universal da Igreja.

São José é, especialmente, uma escola sobre o exercício da paternidade. Ao assumir a condição de pai adotivo de Jesus, o fez em obediência amorosa a Deus, Pai do Salvador. São José, assim, compreendeu que sua missão vai muito além de ocupar um lugar ou de oferecer cuidados materiais. A sua paternidade foi emoldurada pela transcendência, que lhe possibilitou a singular compreensão sobre a missão do próprio Cristo, o Menino Jesus.

Missão infinitamente maior que a tradição judaica de se aprender a profissão do pai. Assim, José foi além do ensino das habilidades essenciais à carpintaria de Nazaré. Homem de presença cotidiana discreta, torna-se protagonista na história da salvação, pai amado que se coloca inteiramente a serviço do crescimento, em graça e sabedoria, do filho de Deus.

O amor de São José, assim, transluz o olhar de Jesus: o carpinteiro dedica a sua vida, integralmente, ao cuidado da Sagrada Família. Sua atitude desdobra-se em princípio e lição que precisa ser sempre, e cada vez mais, testemunhada, aprendida. José ensinou Jesus a andar segurando-o pela mão, infundindo confiança pela proximidade e ternura.

Importa, pois, perceber, a força da ternura, forma de enfrentar a fragilidade humana, sem idealismos narcísicos desnorteadores que conduzem a ilusões perigosas no âmbito do poder. A ternura suplanta a obra do maligno, é caminho para encontrar a misericórdia de Deus e tornar-se capaz de ser instrumento da reconciliação.


Paternidade que acolhe, ensina e inspira coragem para transformar vidas

Contemplando o exemplo de São José, é possível reconhecer: a paternidade possibilita a experiência da acolhida, do abraço, do amparo e do perdão, pela infusão de uma coragem que debela o medo paralisante, incapacitante para o diálogo. A figura paterna ajuda o ser humano a compreender a importância determinante da obediência – fruto da escuta que permite enxergar para além dos limites da própria visão.

Uma obediência que vence a angústia de não compreender desígnios, por vezes alimentada pelas ilusões dos próprios cálculos e limites humanos. O exercício exemplar da paternidade revela-se em São José, com sua paciência e confiança em Deus, tornando-o vitorioso diante das muitas vicissitudes e percalços, com o desenvolvimento da resiliência e tenacidade, mesmo quando teve que percorrer longas distâncias, deixar a sua pátria, como ocorreu na fuga para o Egito.

Seu respeito às prescrições da Lei modela a aprendizagem de Jesus, constituindo uma escola domiciliar. Essa escola contribui para que José transmita a sua resiliência ao filho – sem escorregar na direção de soluções fáceis, covardes e desonestas. Constitui para o filho a mais importante herança: o valor do acolhimento, pela nobreza da oração e de tudo subordinar à caridade, lei maior e inegociável.

No lastro da caridade de São José, o brilho de sua atitude respeitosa à mulher, sem violências físicas, verbais ou psicológicas. Mesmo nas situações em que se viu confuso, manteve-se respeitoso, delicado. Um jeito de ser que é essencial às dinâmicas de reconciliação, ao protagonismo corajoso e forte na construção de uma trajetória.

José, sublinha a carta apostólica do Papa Francisco, é um pai com coragem criativa, abrindo espaço no seu íntimo até mesmo para aquilo que não escolheu, atento às intervenções de Deus por meio de pessoas e acontecimentos, enfrentando um mundo que parece estar à mercê de fortes e poderosos.

E na consideração das muitas lições da paternidade de José, a figura de pai trabalhador, iluminadora neste tempo em que tantos homens são excluídos do direito ao trabalho digno. São José, com seu exemplo, interpela o mundo contemporâneo a promover, sempre mais, o direito ao trabalho, um desafio social.

A figura de José ilumine a gratidão aos pais, e seja uma oração-apelo pela qualificação da paternidade. O mundo precisa do coração de pai.



Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. No Brasil, é bispo referencial para os fiéis católicos de Rito Oriental. http://www.arquidiocesebh.org.br


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/coracao-de-pai/

22 de agosto de 2025

Nosso amor a Maria, Mãe e Rainha

A realeza materna de Maria

A Igreja celebra, hoje, a realeza de Maria: temos uma Mãe que é Rainha! Na instituição dessa festa, o Papa Pio XII escreve que, "desde os primeiros séculos da Igreja católica, o povo cristão elevou orações e cânticos de louvor e de devoção a Rainha do céu, tanto nos momentos de alegria como quando se via ameaçado por graves perigos, e nunca foi frustrada a esperança posta na Mãe do Rei divino, Jesus Cristo"1. Ele ensina que Maria exerce seu reinado no universo inteiro "com  coração materno".

Créditos: cancaonova.com

Leia aqui: o fundamento bíblico da realeza de Maria

https://santuario.cancaonova.com/artigos-religiosos/maria-rainha-na-visao-da-biblia/

Ela é nossa Mãe, somos filhos da Rainha, pois, pelo batismo, somos incorporados a Cristo, o Rei do Universo, e nos tornamos membros da realeza divina. Temos muitos motivos para cultivar uma alta consciência de valor próprio e educar a nós mesmos, para sermos autênticos portadores dessa dignidade. 

Para o Pe. Kentenich, Fundador da Obra Internacional de Schoenstatt,  a verdadeira devoção mariana "gira sempre em torno de duas colunas básicas: vinculação a Maria e atitude mariana"2

Como você imagina que Maria agia no seu dia a dia? 

Nosso amor a Ela nos impulsiona a olhar para seu modo de ser, como espelho do que queremos nos tornar. O melhor apostolado que podemos fazer é ser Maria para os que têm contato conosco. É isso que Pe. Kentenich pede em sua oração tão conhecida:   

"Torna-nos semelhantes à tua imagem, como tu, passemos pela vida fortes e dignos, simples e bondosos, espalhando amor, paz e alegria. Em nós percorre o nosso tempo, prepara-o para Cristo"3

Nosso amor a Maria, a Mãe e Rainha, é tão autêntico quanto for o nosso empenho para praticar essas suas virtudes. Quem nos vê, deveria poder contemplar a nobreza de um filho de Rei e da Rainha: pessoas que não complicam a vida, de coração que acolhe a todos, alegres e que pacificam. Então, o mundo começa a ser transformado, a partir do pequeno espaço em que estamos.


A realeza de Maria: que ela seja a Rainha da Paz

O Papa Leão XIV diz que a Igreja precisa do coração materno de Maria, por que Ela "é o polo de atração que harmoniza as diferenças." Por isso, explica, a Igreja precisa do carisma mariano como apoio, pois "é o mariano que garante a fecundidade e a santidade."4

Este tempo tão marcado por violências, dentro e fora das famílias, precisa da realeza de Maria. Que Ela seja a Rainha da Paz pelo testemunho da vida de seus filhos. Monsenhor Jonas nos disse em sua última mensagem: "Nossas comunidades precisam de amor… esse amor é suado, custa, mas é possível amar". Esse precioso legado nos impele a nunca nos acomodarmos, mas a suplicar ao Espírito Santo que incendeie o nosso coração como fez com o de Maria.

Rezemos nessa intenção: Salve Rainha, Mãe de Misericórdia…

Ir. Maria Nilza
Irmã de Maria de Schoenstatt

1 – https://www.vatican.va/content/pius-xii/pt/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_11101954_ad-caeli-reginam.html
2-  KENTENICH, José. Diretrizes do Fundador, p. 31.
3- KENTENICH, José, Rumo ao Céu, n. 609.
4- https://www.vatican.va/content/leo-xiv/pt/homilies/2025/documents/20250609-omelia-giubileo-santa-sede.html


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/nosso-amor-a-maria-mae-e-rainha/