13 de junho de 2025

Santo Antônio, um pregador popular

Santo Antônio, prodigioso em santidade

Santo Antônio é representado com o lírio, símbolo da sua pureza, ou com o Menino Jesus no colo, em recordação de uma milagrosa aparição mencionada por algumas fontes literárias. Santo Antônio foi prodigioso em santidade e dotado de rara inteligência e qualidades cristãs mais excelsas: equilíbrio, zelo apostolado e fervor místico.

Durante seus sermões, Antônio falava uma só língua, porém, frequentemente, era entendido por pessoas de outros países que falavam outros idiomas. Seu Provincial aproveitou-se desse fato miraculoso e o encarregou da ação apostólica contra os hereges na região da antiga Romagna e no norte da Itália. Ele se tornou, então, um extraordinário pregador popular.

Santo Antônio propõe um verdadeiro itinerário de vida cristã. É tanta riqueza de ensinamentos espirituais contida nos "Sermões", que o venerável Papa Pio XII, em 1946, proclamou Antônio como Doutor da Igreja, atribuindo-lhe o título de "Doutor evangélico". Desses escritos, sobressai o vigor e a beleza do Evangelho, os quais, ainda hoje, podemos ler com grande proveito espiritual. Observamos, nesses Sermões, que Santo Antônio fala da oração como uma relação de amor, a qual estimula o homem a dialogar docilmente com o Senhor, criando uma alegria inefável que, suavemente, envolve a alma em oração.

Santo Antônio, ensina-nos a rezar

Santo Antônio nos recorda que a oração precisa de uma atmosfera de silêncio que não coincide com o desapego do rumor externo, mas é experiência interior, cuja finalidade é remover as distrações causadas pelas preocupações da alma, criando o silêncio na própria alma.

Para Antônio, a oração é articulada em quatro atitudes indispensáveis, como abrir, com confiança, o próprio coração a Deus. É esse o primeiro passo do rezar, não simplesmente colher uma palavra, mas abrir o coração à presença de Deus; depois, dialogar afetuosamente com Ele, vendo-O presente comigo; a seguir, muito naturalmente, apresentar-Lhe as nossas necessidades; por fim, louvá-Lo e agradecer-Lhe.

Quando Santo Antônio pregava, as multidões acorriam ao local em que seria a pregação. Até os comerciantes fechavam seus estabelecimentos e iam ouvi-Lo. As cidades onde ele pregava paravam; e a região em torno delas também parava. Houve caso de se juntar até 30 mil pessoas num só sermão! Os locais de culto tornavam-se pequenos para conter a multidão que vinha ao encontro de Santo Antônio. Então, ele ia falar nas praças públicas. E, quando terminava, "era necessário que alguns homens valentes e robustos o levantassem e o protegessem das pessoas que vinham beijar-lhe a mão e tocar-lhe o hábito". O número de sacerdotes que o acompanhavam era pequeno para ouvir as confissões daqueles que, tocados por seu sermão, queriam confessar-se e mudar de vida.

Ensina a historiografia católica que, praticamente, não havia coxo, cego nem paralítico que, depois de receber a sua bênção, não ficasse são. Foi grande o número de convertidos por ele. Em certa ocasião, converteu 22 ladrões que, apenas por curiosidade, tinham ido ouvi-lo.

Ensina-nos a crer

Num mundo secularizado como o nosso, vale relembrar o famoso milagre de Santo Antônio: para poder crer na presença real de Jesus na hóstia consagrada, quero um milagre, era o que dizia um ateu por todos os cantos onde andava. Para ele, o Santíssimo Sacramento era uma burla, uma chantagem.

Numa ocasião, diante de toda a cidade, fez a Santo Antônio uma proposta arrogante: "Deixo minha mula sem comer durante três dias. Depois disso, trago o animal até essa praça e ofereço feno e aveia. Enquanto isso, Frei Antônio, o senhor vai mostrar a ela a Hóstia Consagrada. Se a besta deixar a comida de lado e der atenção à hóstia, se ela a reverenciar como se a adorasse, aí eu passo a acreditar. Passo a crer na presença de Jesus na Eucaristia! Santo Antônio aceitou a proposta".

Três dias depois, na praça repleta, chega o homem puxando seu faminto animal. Santo Antônio também chegou. Respeitosamente, o Santo trazia uma custódia com o Santíssimo Sacramento. O incrédulo colocou o monte de feno e aveia próximos de onde estava Frei Antônio e, confiante, soltou o animal. Conforme haviam combinado, a mula deveria escolher sozinha entre o alimento e o respeito à Hóstia Consagrada. O suspense geral foi quebrado quando o animal, livre de seus cabrestos, calmamente dobrou seus joelhos diante da Custódia com o Santíssimo Sacramento. Um milagre suficiente para converter, até hoje, aqueles que repudiam a presença real de Jesus na Eucaristia.


Santo Antônio nos ensina o crer. Crer, mesmo num mundo secularizado como o nosso! Crer e testemunhar Jesus Cristo ressuscitado!

Neste mês, proponho que tenhamos em Santo Antônio, timoneiro da santidade, a graça de pregar aquilo que vivemos, testemunhando a santidade de Cristo que Antônio testemunhou a todos os homens e mulheres de boa vontade. Santo Antônio, dá-nos o exemplo da confiança em Deus. Pela sua palavra, ele nos conduz ao coração da Santíssima Trindade.

Santo Antônio, intercedei por nós!

Dom Orani João Tempesta, O. Cist.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/santos/santo-antonio-um-pregador-popular/

Amor e paixão são sentimentos diferentes ou a mesma coisa?

Como saber se amo verdadeiramente alguém? O que é amor?

Ama e faz o que quiseres. Essa frase belíssima e significativa de Santo Agostinho, infelizmente, é mal interpretada. Para compreendê-la, deve ser respondida uma pergunta básica: o que é o amor? Muitas pessoas julgam saber da resposta, mas, na verdade, estão enganadas. Como diz o ditado popular, "estão comprando gato por lebre".

Créditos: Imagem criada por Inteligência Artificial / Krea

É muito comum ouvirmos da boca dos jovens a seguinte frase: "Estou perdidamente apaixonado por minha namorada. Tenho um sentimento imenso de amor por ela!". Façamos uma avaliação dessa frase, de modo a compreender como pensa um jovem sobre o significado do amor.

O que é paixão?

A primeira coisa a destacarmos aqui é quando o jovem diz: "Estou perdidamente apaixonado por você". A paixão é algo fascinante e belo do ponto de vista humano. Trata-se daquele momento em que predominam os sentimentos, as emoções. Existe até uma dito popular: "Quem se apaixona perde a razão". A partir disso, pode-se concluir que paixão não é amor. Tem seu valor em um relacionamento afetivo, pois é aquela primeira fase, é o encantamento, quando "o mundo gira em torno da pessoa amada". Não existe ninguém melhor, mais belo e inteligente. Porém, a paixão é como a flor que desabrocha, mas não dura mais que uma estação.

Segunda parte da frase: "Tenho um sentimento imenso de amor por ela". Nessa segunda parte, o engano é ainda maior. Muitos acham que amor é sentimento, mas amor não pode ser sentimento, pois estes podem nos trair. Hoje, sentimos algo que, inclusive, pode ser nobre, porém, amanhã, podemos deixar de sentir. É próprio do sentimento não ser duradouro, faz parte de sua essência ser passageiro.


O que é amor?

Se o amor não é paixão, muito menos sentimento, o que ele é afinal? Erich From diz o seguinte: "O amor será essencialmente um ato de vontade, de decisão de entregar minha vida completamente à de outra pessoa. […] Amar alguém não é apenas um sentimento forte: é uma decisão, um julgamento, uma promessa. Se o amor apenas fosse um sentimento, não haveria base para a promessa de amar-se um ao outro para sempre. O sentimento vem e pode ir-se!" (Erich From, A arte de amar, p. 71-72).

O "amor em contraste é a maratona do coração. Exige treinamento, disciplina, paciência e trabalho. Não é um esporte de espectadores nem um evento com o resul­tado decidido em segundos. É escalar montanhas, sofrer dores e resistir à tentação de se desligar. […] Quando o amor é considerado um ato da vontade […], sobrevive enquanto o coração bater. Em outras palavras, embora estar apaixonado, às vezes, leve o casal ao casamento, é o amor que faz o casamento durar. De modo mais específico, o compromisso deliberado e ativo que o amor faz supor está no centro do arrebatamento conjugal". (Genovesi, 142).

O amor é indispensável para o relacionamento

Sem o verdadeiro conceito de amor podemos ferir muita gente; além do mais, passaremos a vida inteira enganando nós mesmo e os outros. Quantos namoros acabaram, porque faltou amor! Viveram muito tempo junto somente apaixonados, não deram o próximo passo para chegar ao amor maduro e verdadeiro. Muitos casamentos também terminaram por motivos parecidos, pensavam que paixão, sentimento e amor eram a mesma coisa. Por não terem conhecimento, fatalmente o casamento acabou.

Ao tratar-se de um relacionamento, é indispensável o amor, pois ele não existe sem sacrifício. Quem não é capaz de se sacrificar é porque não ama de verdade. Aqui está a necessidade, já no namoro, de ambos abrirem mão de suas vontades em prol do outro, de modo a aprenderem a se sacrificar pelo bem do outro. Quem assim fizer, sem dúvida, terá um casamento feliz e duradouro, porque aprendeu que o verdadeiro amor exige sacrifício.

Equipe de Formação Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/namoro/amor-e-paixao-sao-sentimentos-diferentes-ou-a-mesma-coisa/

12 de junho de 2025

Relacionamento saudável: 10 dicas para um bom namoro

1° Só comece a namorar quando tiver a convicção de que quer, um dia, se casar. Sem um objetivo na vida, tudo o que fazemos fica vazio; o namoro também, se não tem uma meta, não tem sentido.

2° Antes de começar a namorar alguém, conheça-o bem por meio de uma boa amizade. É na amizade que surge o namoro, e ela serve também como um pré-namoro. Não seja afoito, não comece a namorar só porque o outro tocou seu coração. Conheça-o primeiro.

Créditos: Imagem Gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

3° Faça do seu namoro um tempo de conhecimento do outro e um meio de ele conhecer você. Sem isso, não será possível saber se o namoro deve continuar ou não. Não se ama quem não se conhece. Então, cada um se revele ao outro com sinceridade.

Dicas para um bom namoro

4° Não tenha medo de mostrar ao outro a sua realidade e a de sua família. Se ele não o aceitar como você é, e também sua família, com todas as qualidades e defeitos, é porque não o ama de verdade.

5° Faça o outro crescer. Namoro é tempo de crescer a dois, pelo fermento do amor, da renúncia e do sacrifício pelo outro. Um relacionamento, no qual ambos não crescem humana e espiritualmente por estarem juntos é vazio e deve acabar.

6° Não deixe o egoísmo tomar conta do relacionamento, pois um casal egoísta é como duas bolas de bilhar, que só se encontram para se chocar e separar. O egoísmo mata o amor e destrói o relacionamento.

7° Não faça do seu namoro uma vida de casado, com vida sexual e intimidades conjugais. Amanhã, o namoro pode terminar e a marca ficará em você, sobretudo, na mulher. Só tem sentido entregar-se a alguém que, antes, colocou uma aliança em sua mão esquerda e lhe jurou amor e fidelidade até o último dia de sua vida. Não desvalorize suas decisões, seu corpo e sua vida.


8° Não prenda seu namorado pelo sexo, não faça dele uma "arma", porque a "vítima" pode ser você. Quantas ganharam uma barriga antes da hora, sem ter um berço e um teto para seu filho! Ele merece mais do que isso.

9° Não tenha medo de terminar um namoro, no qual só existe briga e reclamação; não empurre o problema com a barriga. Namoro é tempo de conhecer e escolher sem pressa e sem a paixão que cega a razão. É melhor chorar uma separação, hoje, do que depois de casados.

10° Não deixe Deus fora do seu namoro, pois foi Ele quem nos criou, foi Ele quem instituiu o casamento entre um homem e uma mulher, e será Ele quem os unirá para sempre. Deixe que a mão forte de Cristo esteja entre as suas mãos fracas.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/relacionamento-saudavel-10-dicas-para-um-bom-namoro/

11 de junho de 2025

Salvaguardar o ser humano

A necessidade de proteger a casa comum diante de um planeta adoecido e uma humanidade que se desequilibra

Apelos para salvaguardar o meio ambiente ecoam fortemente no mundo contemporâneo à luz das celebrações dos dez anos de publicação da Laudato Si' – Carta Encíclica do Papa Francisco, de 2015, que chamou a atenção para a urgência de se cuidar das feridas causadas pelo inadequado tratamento do planeta.

O mundo adoece com o atual estilo de vida que alimenta o consumo desmedido, o desperdício e modos de produção que levam ao extrativismo predatório dos recursos naturais. Com o planeta adoecido pelas inadequações no seu tratamento, a humanidade também adoece e se desequilibra em todos os sentidos. Torna-se, assim, sempre mais pertinente o apelo em torno da necessidade de proteger a casa comum, alcançando a irrefutável compreensão que salvaguardar o ambiente é salvaguardar o ser humano.

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

As dramáticas e ameaçadoras consequências da degradação ambiental

São dramáticas as consequências da degradação ambiental – evidentes e ameaçadoras sobretudo para a vida dos pobres, aumentando o sofrimento dos excluídos, mas sem deixar de atingir também os que equivocadamente exploram o meio ambiente para alavancar o próprio lucro. No fim, todos sofrem e, por isso mesmo, a sociedade precisa dialogar para avaliar, criteriosamente, como está sendo construído o futuro do planeta. Mas em vez de de avanços nesse necessário diálogo, constata-se que as análises ainda não expõem suficientemente as raízes humanas da crise ambiental.

Por um lado, há um grande movimento em busca de soluções concretas para se evitar a deterioração do planeta. Por outro, multiplicam-se as frustrações pela indiferença diante dessas soluções que, não raramente, afrontam interesses dos poderosos. Um sinal dessa indiferença é o Projeto de Lei 2.159/2021 que cria a Lei Geral do Licenciamento Ambiental, aprovado pelo Senado, tramitando na Câmara dos Deputados. Uma proposta que, se for aprovada, representará golpe na política ambiental brasileira, pela flexibilização do processo de licenciamento, enfraquecendo mecanismos de controle na batalha hercúlea para se evitar danos socioambientais.

A água, as florestas, a vida de povos originários, de comunidades tradicionais e o equilíbrio de ecossistemas estão ameaçados. A mesma Casa Legislativa que aprovou o Projeto de Lei 1.070/2021, instituindo o "Junho Verde" para ampliar programas e projetos educativos socioambientais, abre portas para riscos evidentes advindos da falta de limites. A dispensa de licenciamento para projetos considerados de baixo impacto facilita a impunidade e oferece riscos à sociedade.

O planeta demonstra sinais de esgotamento em um ambiente de negação e indiferença

E o debate para flexibilizar o licenciamento ambiental está em desarmonia com a preparação para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), encontro global que será realizado no Brasil. É urgente rever atitudes e escolhas para superar a tendência de negação diante do que é evidente: o planeta apresenta sinais de esgotamento. Essa atitude de negação e indiferença contamina até mesmo os que professam a fé em Deus, autor da Criação. É preciso ir além da acomodação e da hegemonia de interesses meramente pecuniários para conquistar nova dinâmica no tratamento do meio ambiente. É preciso emoldurar o horizonte de compreensão pelo sentido e alcance da ecologia integral, paradigma que permite salvaguardar o ser humano pela salvaguarda do meio ambiente, considerando a interdependência dos aspectos ambientais, econômicos e sociais.


A natureza é indissociável da condição humana. Nesse sentido, exige-se a sabedoria para perceber as interações entre os sistemas naturais e os sistemas sociais. A crise social não está separada da crise ambiental. Uma se compreende à luz da outra. Também por isso, licenciamentos ambientais, além de questões técnicas, devem considerar a ordem social, concedendo mais espaço ao humanismo. O humanismo ilumina as reflexões criando sensibilidade para contextos psicossociais, familiares, no mundo do trabalho, em vista de qualificar as relações entre pessoas. O ser humano precisa ser compreendido a partir de sua interligação com o conjunto da Criação.

Caminho seguro e insubstituível que leva à paz

Tem plena razão a Doutrina Social da Igreja Católica quando adverte sobre o equívoco de o homem se considerar não um colaborador, mas um substituto de Deus, em sua relação com a natureza. Assim, age tiranicamente na sua relação com o meio ambiente. Ao invés de tiranias, deve-se buscar os parâmetros de um humanismo fundamentado na espiritualidade que não permite desconsiderar o vínculo entre o ser humano e o meio ambiente. Para preservar o planeta, é preciso conjugar o avanço científico, a meta partilhada de se alcançar o desenvolvimento sustentável com uma profunda e eficaz dimensão ética.

Inscrita nesta dimensão ética, com força iluminadora e norteadora, está a compreensão desta verdade: os bens da Terra foram criados por Deus para serem sabiamente partilhados por todos, com equidade segundo a justiça e a caridade, afirma a Doutrina Social da Igreja. A salvaguarda do ser humano pela salvaguarda do meio ambiente é caminho seguro e insubstituível que leva à paz. Ecoem os apelos que balizam uma nova lógica ambiental, investimento capaz de inaugurar novas atitudes e hábitos, mais condizentes com os parâmetros de sustentabilidade
do planeta – pela salvaguarda do ambiente, salvaguardar o humano.



Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. No Brasil, é bispo referencial para os fiéis católicos de Rito Oriental. http://www.arquidiocesebh.org.br


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/salvaguardar-o-ser-humano/

10 de junho de 2025

A necessária solidão e o salutar silêncio

Sem a prática do silêncio, o nosso falar adoece

São Josemaria Escrivá dizia que "o  silêncio é como o porteiro da vida interior" (Caminho, 281). Em sentido contrário, é verdade a máxima "muito barulho, pouca interioridade", que, certa vez, escutei de Vera Lúcia Reis, formadora geral da Comunidade Canção Nova. De fato, em  meio a um mundo cada vez mais barulhento e uma vida continuamente sufocada pelos deveres e urgências, o não cultivo da arte e virtude do silêncio pode ter como consequências a gradual fragmentação do ser e deterioração da vida espiritual. Dessa forma, parafraseando quando o Papa Francisco disse que "sem a prática do silêncio o nosso falar adoece" (audiência geral 15/12/21), poderíamos afirmar que sem o silêncio nossa alma adoece. Ou seja, a falta de silêncio não leva apenas a uma superficialidade da vida de oração, mas atenta contra nossa interioridade mais profunda, fazendo-nos perder a capacidade de sentir a doce paz que a consciência de nossa filiação divina porta.  

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / Krea

Encontrar a verdadeira estatura no silêncio

Ante esse quadro, emerge a importância de falar de uma necessária solidão e um salutar silêncio, que podem qualificar nossa experiência de Deus e o conhecimento e domínio de nós próprios. Em seu  livro "Catecismo da vida espiritual",  o cardeal Robert Sarah diz que "é na abnegação e no silêncio que o homem encontra sua verdadeira estatura, torna-se atento a Deus e compreende que precisa Dele". Encontrar a verdadeira estatura no silêncio… Talvez essa frase explique o porque depois que Jesus, no Batismo do Jordão, escutou a voz que dizia: "Tu és o meu Filho amado" (Lc 3,22) foi impelido para o deserto (Lc 4,1). Antes de entregar-se à árdua missão, Jesus foi ao deserto buscando a solidão e o silêncio para favorecer o aprofundamento do mistério de seu próprio ser, revelado no batismo do Jordão. 

O deserto é um lugar de silêncio e solidão

Dessa forma, nas palavras do Cardeal Sarah, "ao ir para o deserto, Jesus decidiu excluir radicalmente todas as fontes de distração, agitação e barulho que são os inimigos de uma vida de oração e intimidade com Deus […] para entrar no silêncio de Deus". Entendemos ainda a riqueza e necessidade do estado de solidão e silêncio do deserto nas palavras de Ratzinger: "O deserto é um lugar de silêncio e solidão, onde nos distanciamos dos acontecimentos. É um lugar para fugir do barulho e da superficialidade. O deserto é o lugar do absoluto, o lugar da liberdade, onde o homem é confrontado com suas exigências mais importantes. Não é por acaso que o deserto é lugar do nascimento do monoteísmo. Nesse sentido, ele é o reino da graça. Esvaziado de suas preocupações, o homem ali encontra seu Criador. Grandes coisas começam no deserto, no silêncio e na pobreza" ( apud SARAH, p. 107) . 

O silêncio de Deus

Para além do deserto, o Papa Bento XVI mostrou a importância do silêncio na vida de Jesus em sua exortação apostólica Verbum Domini quando, referindo-se ao Gólgota, diz que, ali, "vemo-nos colocados diante da "Palavra da cruz" (cf. 1 Cor 1,18), (Onde) o Verbo emudece, torna-se silêncio de morte, porque se 'disse' até calar, nada retendo do que nos devia comunicar"(n. 12). Dessa forma, como mostra a cruz de Cristo, Deus fala também por meio do seu silêncio. O silêncio de Deus, a experiência da distância do Onipotente e o Pai é etapa decisiva no caminho terreno do Filho de Deus, Palavra encarnada. Suspenso no madeiro da cruz, o sofrimento que Lhe causou tal silêncio fê-Lo lamentar: ''Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?''. (Mc 15, 34) (Verbum Domini, n. 21).


Ainda no âmbito dos ensinamentos de Bento XVI, vemos que a experiência de silêncio de Jesus é sintomática da situação do homem que, depois de ter escutado e reconhecido a Palavra de Deus, deve confrontar-se também com o seu silêncio. É uma experiência vivida por muitos Santos e místicos, e que ainda hoje faz parte do caminho de muitos fiéis. O silêncio de Deus prolonga as suas palavras anteriores. Nestes momentos obscuros, Ele fala no mistério do seu silêncio. Portanto, na dinâmica da revelação cristã, o silêncio aparece como uma expressão importante da Palavra de Deus (n.21) . 

No silêncio, entraremos Deus e n'Ele a nós mesmos

Finalmente, devemos reconhecer que nem sempre é fácil a experiência do silêncio, pois, por vezes, "o silêncio assusta-nos um pouco, porque nos pede para entrarmos em nós mesmos e encontrarmos a parte mais verdadeira de nós" (Papa Francisco, audiência geral 15/12/21). Porém, considerando que o silêncio é a condição essencial e indispensável que nos permite escutar Deus e em Deus nos descobrir", é preciso treinar os ouvidos e todos os sentidos para o silêncio das palavras, imagens e até mesmo dos agitados pensamentos que, por vezes, insistem em gritar dentro de nós, mesmo quando os barulhos externos se calam.  Enfim, vale ainda lembrar outro ensinamento de Bento XVI: "O silêncio é capaz de escavar um espaço interior no nosso íntimo, para ali fazer habitar Deus, para que a sua Palavra permaneça em nós, a fim de que o amor por Ele se arraigou na nossa mente e no nosso coração, e anime a nossa vida" (Audiência Geral,07/03/12). 

Enfim, busquemos o silêncio, pois a atitude do silêncio nos coloca num estado de presença de Deus, busquemos o silêncio e nele encontraremos Deus e n'Ele a nós mesmos!

Wilker Henrique Costa Fiuza
Membro da Comunidade Canção Nova desde 2008. Mestre em Teologia Sistemática (2023). Formado em Filosofia (2011). Professor na Faculdade Canção Nova (www.fcn.edu.br), casado e pai de dois filhos. 

Referências:

BENTO XVI. Audiência geral, 07 de Março de 2012. Disponível em:  https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2012/documents/hf_ben-xvi_aud_20120307.html 

FRANCISCO. Audiência geral, 15 de dezembro de 2021. Disponínvel em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2021/documents/papa-francesco_20211215_udienza-generale.html 

SARAH, Robert. Catecismo da vida espiritual. São Paulo SP: Fons Sapientiae, 2024. 


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/a-necessaria-solidao-e-o-salutar-silencio/

9 de junho de 2025

Mãe e Companheira, a vocação original da mulher

O que somos e o que devemos ser? Qual a nossa missão? Mãe, esposa, empresária, estudante… quem eu devo ser? Em casa, no trabalho, qual o meu lugar?

Essas perguntas incomodam muitas mulheres, colocam-nas em crise. Estar em crise significa não saber em que se ater, em que se agarrar para conduzir a sua vida. São Tomás dizia que está na nossa alma a nossa essência, ela diz o que somos e aquilo que devemos ser.

Crédito:MStudioImages / GettyImages

Crédito: MStudioImages / GettyImages

 

Se nos debruçando sobre a alma feminina, encontraremos duas respostas através da santa e doutora da Igreja Edith Stein, que dedicou boa parte da sua vida e dos seus estudos para investigar a essência e a missão da mulher.

A essência diz aquilo que somos, e a missão diz o que devemos ser

A resposta se desdobra em duas, e nela você encontra a sua essência e sua missão: a mulher é chamada a ser esposa e mãe. E assim nos explica Edith:

"Ser esposa significa ser apoio e segurança como companheira do marido, da família e da comunidade humana. Ser mãe tem o sentido de cuidar e desenvolver nos outros a verdadeira humanidade. Ambos: o companheirismo e a maternidade da alma não estão restritos aos limites da relação física de esposa e mãe, eles se estendem a todas as pessoas que entram em contato com a mulher."

Deus concedeu à mulher uma alma companheira e materna, é isso que ela afirma nessas linhas. Isso não diz respeito somente ao casamento, aos filhos de sangue, como ela afirma, isso diz sobre um coração companheiro e materno para com todos aqueles que cruzam o seu caminho e que se realiza plenamente num casamento, num celibato ou numa dedicação integral a uma causa fora de si mesma.

Conhecer e reconhecer quem somos é de fundamental importância para termos uma vida cheia de felicidade e realização. Quando entendemos essa realidade, descobrimos que aquilo que nos faz livres está dentro de nós e não fora. Mergulhar na essência, tocar no projeto de Deus para a alma feminina é um caminho, uma jornada que se abre diante de nós e que nos impulsiona, cada dia, a sermos melhores. É, sem dúvida, um caminho de cura e crescimento.

Por que trilhar esse caminho de companheirismo e maternidade nos cura e nos faz crescer?

Porque, em ambos, saímos do centro; e o outro – que pode ser o nosso esposo, nossos filhos, mas também os nossos pais, colegas de trabalho, amigos, enfim pode ser qualquer um daqueles que fazem parte da nossa vida – fica no centro, no alvo. Isso nos faz olhar para fora, não nos determos em nós mesmas, nessa sociedade egoísta que nos ensina a colocar todas as nossas necessidades acima das de qualquer pessoa. Primeiro eu e meus sonhos, meus projetos, meus anseios; as famosas frases "E eu? Quando terei tempo pra mim?", "Mas se eu pensar só nos outros, como cuidarei de mim?" , "Não posso me anular!", "Preciso pensar em mim também"… Sei que muitas dessas frases fazem parte da nossa vida enquanto mulheres, mas a nossa vocação original nos aponta para outro horizonte, aponta-nos para o outro, para amar, cuidar, zelar, formar e educar. Companheira do homem e mãe de todo vivente, quer dizer que a mulher precisa estar inclinada, voltada, dedicada ao outro.

Não tenha medo de viver sua vocação original, não tenha medo de amar. Nascemos para isso, e só seremos felizes assim. Acredite!

Meiriane – Missionária da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/mae-e-companheira-vocacao-original-da-mulher/

8 de junho de 2025

Se Maria já era cheia do Espírito Santo, o que aconteceu com ela em Pentecostes?

Uma jovem hebreia de Nazaré

Seu nome era Maria, uma jovem hebreia de Nazaré, de uma família simples, vinda da periferia da Galileia, um povoado agrícola e de artesãos. Pertencer a Nazaré, vilarejo desprezado, desconhecido e sem história, era ser gente comum, de vida simples, sem conhecimentos teológicos.

Como toda mulher judia, praticava a religião hebraica, era de oração, elevava as suas preces e professava a sua fé no Deus único. Frequentava a pequena  sinagoga, onde aprofundava-se no conhecimento das Sagradas Escrituras e nutria a sua esperança ao memorizar as orações dos Salmos e na escuta do livro do profeta Isaías. O seu povo vivia uma realidade humana de impossibilidades e barreiras. Quantas vezes não teria Maria ouvido, na sinagoga, do livro de Isaías, que uma virgem conceberia e daria à luz um filho, e que receberia o nome Emanuel? (Is, 7,14). Ela esperava a realização da promessa de Deus, que enviaria um Salvador para libertar o seu povo. 

Maria, predestinada aos planos de Deus

Porém, Maria, desde sempre, esteve predestinada aos planos de Deus, não só para colaborar na salvação do seu povo, mais de toda humanidade.

Pelo pecado original, o ser humano se tornou sujeito ao erro, mas em Maria se concretiza a promessa de Deus. Ela nasce sem mácula, com a graça original, a simples jovem de Nazaré é superior a toda criatura, inferior somente a Jesus Cristo, por isso é chamada de Imaculada Concepção.

O Espírito de Deus que pousou sobre a terra, que era sem forma e vazia, coberta pelas trevas, trouxe a vida e tudo se fez (Gn 1,2). Esse mesmo Espírito sempre esteve presente em Maria desde a sua concepção em vista da sua maternidade divina. Porém, Maria teve a liberdade de escolher, de dizer Sim ou Não a Deus.

Maria, cheia de graça

Na vida que segue, em seus afazeres domésticos, de repente lhe aparece uma criatura sobrenatural, que fala com ela. Que significado teriam essas palavras?: "Cheia de graça,… e encontraste graça diante de Deus! … Conceberás e darás à luz a um filho" (Lc 1, 28-38).

Ter a graça significa receber de alguém o favor, a bênção, a bondade. Cheia de graça é estar totalmente preenchida com a gratuidade de Deus, não havendo um espaço sequer de sua existência que não seja repleto da graça. 

A saudação evidencia a presença do Espírito de modo muito particular em Maria. Dizer cheia de graça é, portanto, dizer cheia do Espírito Santo. (CIC 2676)

E o conceber um filho, qual o significado? Sim, estava prometida em casamento e preparava-se para isso, mas como tudo aconteceria? Vem mais uma resposta intrigante: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do altíssimo te envolverá com sua sombra (Lc 1, 35).

Maria de Nazaré diz sim a Deus

Com pouco ou nenhum entendimento, Maria de Nazaré diz 'sim' a Deus. Então, o Espírito desce sobre Ela, e o verbo se faz carne e habita entre nós.

Não sabia ela que ao dizer 'sim' mudaria a direção  da sua vida e também de toda a criação, da humanidade inteira para sempre. Maria totalmente cheia da graça de Deus, essa graça transborda na pessoa de Jesus para toda a humanidade.

A simples jovem de Nazaré gerou em seu ventre o Salvador, o Emanuel. Cumpre-se n'Ela a promessa do profeta Isaías: " … uma virgem conceberá …"

O Espírito Santo e Maria são os iniciadores da obra da salvação de Cristo para o mundo. Inaugura-se um novo tempo para a humanidade.

Maria é a primeira a fazer a experiência de Pentecostes

Maria, cheia do Espírito Santo, é a primeira a fazer a experiência de Pentecostes. O Espírito de Deus, que atua em Maria, vai agindo e preparando os eleitos para a missão, como aconteceu com João Batista, o percurso da vinda de Jesus. Ela comunica, com sua simples presença e saudação, o Espírito Santo, e Izabel e o filho em seu ventre ficam cheios desse Espírito.

Uma missão que não exclui a dor, o desprezo nem a morte. Maria experimentou a espada ao transpassar a sua alma, ao ver seu Filho, morrer na cruz. Naquele momento de dor, porém de pé, recebe do Filho a missão da maternidade espiritual de toda a humanidade, quando Ele diz: "… mulher eis aí o teu filho". (Jo 19,26) 

Maria, mulher de Esperança

A sua vida em Nazaré foi escola de fé e esperança, tudo o que guardará  em seu coração, era a certeza do crer, o fim não culminaria da cruz, pois havia uma promessa da parte do Senhor: "Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!" (Lc 1,45). Uma esperança cultivada ao longo da vida, alicerçada na Palavra de Deus e guardada no coração fez dela que acreditou ser testemunha da ressurreição.  


Agora, como Mãe de cada ser humano, acompanha os discípulos que estavam vacilantes na fé. Diante de tais acontecimentos com a sua fé já provada permanece firme. Ela os firma na fé na ausência física de Jesus após Sua subida aos céus.

A presença de Maria em Pentecostes

Maria, junto com os discípulos no cenáculo, encorajava-os a perseverar na oração e numa fé expectante da promessa de Jesus: "Não vos afasteis de Jerusalém… dentro de poucos dias, sereis batizados com o Espírito Santo" (Atos 1,4).

A presença de Maria em Pentecostes serve como um testamento, pois o que a aconteceria com os apóstolos seria o mesmo que já havia acontecido com Maria.

No  Cenáculo, ela, que na encarnação foi a primeira a experimentar a graça do Espírito, indica que, em Pentecostes, essa graça é a herança de toda a Igreja. 

Como n'Ela o Espírito de Deus gerou o Salvador, por Ela se inaugura, em Pentecostes, a manifestação da Igreja. Por esse motivo, recebe o título de Mãe da Igreja.

Maria, Mãe da Igreja

Uma vez repleta do Espírito Santo, em Pentecostes, Maria permanece com a mesma graça que já havia recebido do Espírito, pois quem está cheio da graça nada mais tem a receber. Maria, porém, com a sua simples presença, é um vaso que comunica a mesma graça que recebera de Deus aos que estavam presentes no cenáculo, como a comunicou a Isabel e a João Batista.

É em Pentecostes que a Igreja é oficializada e os discípulos que estavam amedrontados se tornam corajosos e anunciam a Boa Nova de Jesus.

O que o Espírito realiza em Maria é o que realizou nos apóstolos em Pentecostes, e é o que realiza, ainda hoje, na vida dos cristãos. 

Referências:

  • Bíblia CNBB
  • Catecismo da Igreja Católica
  • Livro Maria Mãe da Humanidade 


 


Nilza Pires Corrêa Maia

Nilza Pires Corrêa Maia é Brasileira, nasceu no dia 09/03/1974, em Várzea Grande, MT. É Membro da Associação Internacional Privada de Fieis – Comunidade Canção Nova, desde 1999 no modo de compromisso do Núcleo.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/nossa-senhora/dogma/se-maria-ja-era-cheia-espirito-santo-o-que-aconteceu-com-ela-em-pentecostes/