4 de agosto de 2011

"Na Caridade, face a face com os Pobres - Mudar para Transformar"

Analisando mais detalhadamente este tema,  passei a considerá-lo de extrema relevância para o futuro da SSVP . Pesquisei alguns livros, revistas, boletins, Periódicos e semanários, módulos da Ecafo, artigos e textos criados por vicentinos ilustres, privilegiando-nos com seus belos testemunhos de vivência vicentina e muito aprendi com isso.  Refleti relatos, prosas e histórias magníficas que relatavam as mudanças necessárias à adequação da realidade da caridade atual. A SSVP chega há 178 anos e continua jovem, porém necessita de mudanças assim como a igreja, e demais ramos da família vicentina.. Buscando  entender que mudanças seriam essas me lembrei do conteúdo do livro de autoria de nosso Confrade Cristóvão Gonçalves, intitulado "Futuro e Presente da SSVP" escrito a alguns anos, mas muito atual para o tema proposto em 2011. Ali, o Cfd. Cristovão fala de um tema muito específico: "Revicentinização" . Muito oportuno e atual, faço votos que todos nós vicentinos possamos refletir o livro do Cfd. Cristovão e realizar uma viagem interior em buscas de respostas para efetivamente realizarmos as mudanças necessárias a transformação de nossa realidade caritativa.  Particularmente, nestes estudos me fiz uma indagação: Qual seria o verdadeiro papel cristão de cada Confrade e de cada Consócia nesse processo? Este estudo me fez concluir que nós vicentinos, membros da conferência e que fazemos parte de um exército mundial dependemos muito das atitudes e comportamentos dos nossos líderes vicentinos cristão, especificamente dos dirigentes de qualquer unidade vicentina. O testemunho de vida e a vivência do Evangelho são elementos indispensáveis a vida de qualquer líder vicentino, onde o amor e a verdade estão sempre de braços dados. O empenho do Líder Vicentino em construir um mundo mais humano e solidário é sinônimo de autenticidade e todos nós, cada soldado desse exercito da caridade chamado "SSVP" somo simples ovelhas guiadas por cada um de nossos dirigentes, seja de Conferência ou de qualquer outra unidade vicentina. É obvio que o Presidente de qualquer Unidade Vicentina não pode esquecer, que seu apostolado é expressão máxima da fé em Jesus Ressuscitado e na Igreja. Façamos aqui uma reflexão das aulas da Ecafo, unidade de extrema importância nesta caminhada: Para o bom funcionamento de qualquer outra unidade Vicentina, nada é mais importante do que a escolha do seu presidente:  São Vicente de Paulo considerava que, se para o bom êxito de uma empresa fosse obrigado a optar entre cinqüenta carneiros comandados por um leão e cinqüenta leões comandados por um carneiro, estaria bem mais seguro do êxito com a primeira opção do que com a segunda. Realmente, a prática tem mostrado que o resultado de um empreendimento depende quase exclusivamente de quem marchar à frente do mesmo. É bem oportuno transcrever o pensamento de São Vicente de Paulo, a respeito do dirigente: "Os defeitos que se notam em uma associação provêm, geralmente, de negligência de quem a dirige; do mesmo modo, o bom procedimento dos seus membros depende do zelo do respectivo chefe e da sabedoria de sua administração".  Para exercer a presidência, o Confrade ou a Consócia se torna um "Pastor de Ovelhas", sendo assim, sem dúvida alguma, este precisa ser mais digno do que qualquer outro. O confrade que não se mostra empenhado em ocupá-la, que se preocupa apenas com o encargo sem se deixar envaidecer com o título do cargo e que aceita com humildade a indicação de seu nome, tão somente inspirado pelo desejo de servir sem, por isso, esperar auferir vantagens pessoais, precisa vivenciar mais a sua vocação antes de assumir tal encargo. É preciso unir todo o grupo em oração para que o candidato ao cargo  seja uma pessoa cordata e dócil, porém ativa e firme em suas ações. Que demonstre afeto sincero e ardente pela Conferencia e pelo Conselho a que pertence ou pela Obra de que participe. Que tenha uma grande afeição pelos confrades e pelos assistidos, que seja ponderado e que não se deixe empolgar por inovações ou modificações irrefletidas, principalmente por aquelas que contrariam, por pouco que seja, as diretrizes de nosso Regulamento, que seja dinâmico, que não se acomode ou desanime diante de situações de difícil solução, e que, além da instrução necessária para bem desempenhar suas funções, tenha ainda suficiente disponibilidade de tempo. O exemplo deve partir do presidente, ele deve ter vivência de membro de Conferência, primeiro pelo testemunho de um autêntico homem de fé e depois por conselhos dados, de modo prudente e de caráter geral, nos quais procurará salientar a dignidade do pobre e a sublimidade da missão junto a ele, sempre enfatizando que é na visita domiciliar, no ambiente desconfortável da casa do pobre, que encontraremos o próprio Cristo sofredor, ansiosamente nos esperando para ajudá-lo. O lider vicentino terá sempre o cuidado de lembrar, freqüentemente, os benefícios ligados ao exercício das obras de misericórdia, precisa velar pela exata celebração das Festas Regulamentares e da Missa das cinco intenções, comunicando, com a devida antecedência, a data marcada para essas comemorações, a fim de que os confrades possam participar delas. Precisa esforçar  também, por organizar retiros espirituais, dias de recolhimento, ou quaisquer outros atos de fé que possam contribuir para o aprimoramento espiritual dos confrades. O presidente não poderá esquecer-se de que a espiritualidade não se impõe; ao contrário, ela é o resultado espontâneo do exercício da caridade e da constância com que os confrades se dedicam às práticas religiosas e caritativas.
Um presidente deve ser comunicativo e tratar os seus confrades com muita atenção, cordialidade e, sobretudo com muita fraternidade; deve sempre lembrar-se de que é o coordenador de um Grupo de Confrades e Consócias com vocação vicentina como ele e não um administrador intransigente que tem hábito de forçar os companheiros a aceitar e acatar o seu ponto de vista pessoal. Cumpre   que   ele   cultive,   no   âmbito da unidade vicentina, um clima de harmonia e de amizade cristã de  modo  a  fazer  com  que  a  unidade, a qual preside, seja  como uma só e mesma família.  Nas suas palavras e nos seus atos, o presidente mostrará que ama seus confrades, procurando fazer tudo quanto puder para que eles também se amem uns aos outros. Aproveitará todas as ocasiões para aproximá-los uns dos outros. Incidentalmente, podem surgir atitudes ou situações que perturbem a união dos membros entre si; para restabelecê-la, o presidente não deixará de empregar todos os meios conciliatórios possíveis, mostrando que a fraternidade, a condescendência e a mansidão são características indispensáveis a todos os vicentinos, tendo, porém, o cuidado de ser o primeiro a dar o exemplo. Caso o presidente venha a sofrer tratamento pouco amistoso, ou incompreensão por parte de algum confrade ou consócia, não deve mostrar-se magoado nem irritado; ao contrário, deve dispensar-lhe redobrada atenção e acolhe-lo com maior cordialidade ainda, indo mesmo ao seu encontro, se isto for necessário, e, desta sorte, terá feito muito mais para o bem da Sociedade e para a sua própria santificação do que se tivesse optado pela censura ou repreensão ainda que merecida. O Líder Vicentino é um ator fundamental no elo de ligação, sendo o principal responsável pela COMUNICAÇÃO na SSVP. Visitar os confrades e as consocias enfermos, ou que passam aflições, é um dever espontâneo que o coração ensina; portanto, cabe ao presidente dar exemplo no cumprimento deste gesto de solidariedade humana e, sobretudo, de dever cristão. Bem sabemos que, ao lado dos melas do corpo, existem as aflições da alma e, com isso, talvez a fraqueza da fé. Logo que o presidente perceber que algum de seus confrades esteja passando por esta provação, esforçar-se-á, imediatamente, para levar socorro a essa alma que se acha desalentada. Os conselhos repassados de ternura cristã e dados com prudência e discrição, além de aliviar os sofrimentos, poderão reconduzir o Confrade ou a Consocia à certeza da fé e assim preservá-los de males maiores. Para conclusão deste estudo, vale ressaltar que comemoramos, em 23 de abril de 2011, 178 anos da fundação dessa que é a mais numerosa associação católica internacional de leigos. Nesta reflexão, quando admitimos a necessidade de "mudar para transformar" é preciso ter consciência da necessidade da aproximação contundente de nossas origens. É importante, o retorno ao momento histórico da fundação da primeira Conferência porque ali vamos encontrar o impulso original para a vivência entusiasmada do nosso ideal vicentino neste milênio que começa desafiador e assim realizarmos as mudanças coerentes com vistas a transformação. Este é o momento propício para cada Confrade e Consocia parar e pensar se está vivendo com devoção o seu dever sagrado de ajudar os irmãos empobrecidos. Hora de se comprometer ainda mais. Hora de conversão pessoal e de desapego de si pela causa da caridade. Diante do escândalo de pobrezas antigas e novas presentes também na sociedade opulenta atual, como continuar a viver o ensinamento de Frederico Ozanam e de seus valorosos companheiros? Realmente, a cada dia que passa fica mais difícil dar testemunho de Jesus num mundo que se descristianiza, se confunde e se divide. Com efeito, o desafio de se comprometer como vicentino já está a exigir coragem, perseverança e sacrifício de todos Vicentinos. Uma volta ao começo, portanto, nos fará bem. É importante saber que nos primórdios houve muitos empecilhos superados pelos nossos fundadores. Relembrando a nossa história, remetamos a nossa memória para a agitada Paris de 1833, quando um grupo de homens, através da ação do Espírito Santo, se reuniu para ajudar os pobres.  Ozanam e seus companheiros, contribuindo com o melhor dos talentos que Deus lhes haviam concedido, foi fiel instrumento para a criação de uma instituição de leigos católicos, que se estenderia por todo o mundo. Ninguém poderia prever que a sua pequena obra querida por Deus prosperaria a ponto de, quase dois séculos depois, dar acolhida a pessoas pobres em situações dramáticas, como hoje vemos em todo mundo. "pobres, sempre os tereis...". Sempre haverá pobres para que cumpramos nossa missão. Hoje, os desafios de pobreza são muitos! O trabalho vicentino precisa ter começo, meio e fim,  por causa da velocidade das mudanças, todos podem se achar em situação de miséria (material ou espiritual), por um motivo ou por outro e então, se tornarem dependentes da solidariedade de terceiros. O trabalho vicentino é o de enxergar o pobre como seu igual, com as mesmas necessidades, capacidades e sonhos. O vicentino deve ser facilitador da promoção, deve ser apoio e ponte entre os assistidos e transformá-los em cidadãos de fato. Mas isso só é possível quando nos dispomos verdadeiramente a conhecer as dificuldades daqueles que nos foram confiados para, por meio de ações planejadas, enfrentarem cada uma delas como obstáculos a vencer. Visita a visita. Reunião a reunião. Que o Espírito Santo ilumine a todos os vicentinos inspirando-os a ser ícones da caridade face a face com os pobres com o desejo perseverante de "Mudar para Transformar"

Cfd. Donizetti Luiz - Conferência São Sebastião / Goiânia-GO

3 de agosto de 2011

É esforço, esperteza ou dom?

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O melhor a fazer não é apenas 'dialogar', mas rezar
Com grande sabedoria o Concílio encorajou a Igreja a estabelecer diálogo com o mundo moderno e com as grandes religiões. Houve enormes tentativas. Mas até parece que, quanto maiores os esforços, menores os resultados. Vejamos só o gigantesco esforço desse homem aberto, que foi João Paulo II. Diante de erros históricos, cometidos por homens da Igreja, como o processo de Galileu, a inquisição espanhola, certas guerras de religião, o saudoso Papa pediu desculpas diante do mundo. Alguém perdoou? Parece que não. Doze anos depois os ataques continuam, quase do mesmo jeito. É tão vantajoso bater em alguém que não tem a mínima condição de retribuir... Se todos seguissem o maravilhoso exemplo do Pontífice polonês, como o mundo seria diferente! Não ficariam, travadas na garganta, as vozes de vingança, prestes a explodir. "Perdoai os vossos inimigos",  dizia Jesus. Isso daria condições de zerar os nossos conflitos e recomeçar.


No campo ecumênico as tristezas são maiores do que as alegrias. Cinquenta anos depois do Concílio, continuamos marcando passo. Houve uns pequenos consolos, algumas aproximações positivas. Mas além disso, somos parecidos com os corredores da Fórmula Um, cujo veículo, uma vez caído na caixa de brita, não sai mais do lugar. Os anglicanos, algum dia, vão acertar os passos com os católicos? Humanamente falando, jamais. Os ortodoxos e os católicos vão abandonar as suas agruras históricas e procurar se acertar? Esqueçam. É inútil lembrar os uniatas, que reconhecem o Papa. Parece que não passarão da situação atual. Desnecessário lembrar os albigenses. É da natureza humana adorar uma boa briga e dar o troco por desaforos sofridos. Se depender do esforço de pessoas boas, ou até das espertezas e diplomacias humanas, estaremos desunidos para sempre (e com chance de aumentar a desunião). Mas o Eterno guarda uma carta na manga. Um dia mais, ou um dia menos, o Pai das Misericórdias nos concederá a unidade como um dom gratuito. O melhor que podemos fazer não é "dialogar", mas rezar. Pela humilde oração podemos antecipar os tempos. O que Jesus previu vai se cumprir: "Haverá um só rebanho e um só Pastor" (Jo 10, 16).

Dom Aloísio Roque Oppermann scj
domroqueopp@terra.com.br

1 de agosto de 2011

Sem o amor, tudo o que fazemos é inútil

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Devemos lembrar que é importante fazer o bem
Que a nossa meta seja o amor! O amor cobre uma multidão de pecados, como ensina a Palavra de Deus. Jesus não quer que o vivamos de qualquer jeito, só da boca para fora. Deus não quer um amor fingido!


Amor fingido?! Isso existe?! Existe até demais! Nosso mundo prima pela aparência. Estamos numa sociedade muito frágil, que pôs os seus alicerces não na verdade, mas nas aparências.

Nesta sociedade, as coisas boas só valem a pena desde que sejam vistas, aplaudidas e tragam um retorno ainda maior para quem as fez. Isso não é amor, é comércio; e pode acontecer com cada um de nós se fizermos as boas obras esperando algo em troca.

O amor é gratuito. Não só é gratuito, mas nós o devemos a todos os que de nós se aproximam: "Não tenhais dívida alguma com ninguém, a não ser a de um amor mútuo, pois quem ama o seu semelhante cumpriu a lei" (Rm 13, 8-10).

Como termômetro da caridade devemos lembrar que é importante fazer o bem, mas ainda é mais importante querer o bem, que antes do "bem fazer" venha o "bem querer". Sem o amor, tudo o que fazemos é inútil; nossas boas obras podem até ser aproveitadas por alguém, mas a nós de nada servirão diante de Deus.

O amor precisa ser a raiz de tudo o que fazemos. Como é que Deus nos ensina a amar? Ele nos ensina muito concretamente: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo". Nosso Pai está nos dizendo que para amar sem falsidade devemos fazer às pessoas tudo o que gostaríamos que alguém fizesse a nós e que não façamos aos outros o que não gostaríamos que nos fizessem.
Parece simples, mas a nossa velha natureza, marcada pelo pecado, reage mal a essa proposta. Por isso, não podemos buscar as forças neste coração meramente humano, precisamos buscá-las no coração divino, que Deus plantou dentro de nós.

Para amar assim só com um novo coração. Todo batizado tem este "coração novo", o que precisa é usá-lo, exercitá-lo. "Que vossa caridade não seja fingida. Aborrecei o mal, apegai-vos solidamente ao bem. Amai-vos mutuamente com afeição terna e fraternal. Adiantai-vos em honrar uns aos outros" (Rm 12,9).

Quando amamos de coração, o Espírito Santo, que em nós habita, é quem ama em nós. Por nosso intermédio passa o amor do próprio Deus. Nisso o nosso amor é diferente dos demais, por ser amor de Deus: Já não sou eu que amo, mas Cristo que ama em mim!

Foto Márcio Mendes
marciomendes@cancaonova.com

29 de julho de 2011

A amizade amadurecida

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Uma coisa é amar por necessidade e outra é amar por valor
Uma das características da infância é a incapacidade de dividir coisas. Uma criança não pode dividir porque não se possui, porque ainda não sabe o que ela é. Você começa a identificar a maturidade a partir do momento em que uma criança consegue perceber as regras de um joguinho.


A maturidade faz parte de um processo. Em um processo não podemos queimar etapas. Ele é lento, chato e demorado.

Uma criança passa por um momento de amadurecimento a partir do momento em que começa a brincar. A maturidade acontece quando tomamos posse do que nós somos, para aí então podermos nos dividir com os outros. Isso faz parte desse processo de amadurecimento.

Não nascemos amando, pelo contrário, queremos ter a posse dos outros. Essa é a forma de amar da criança, pois ela não consegue pensar de maneira diferente. Ela não consegue entender que o outro não é ela. Quantas pessoas, já adultas, ainda pensam assim, trata-se da incapacidade de amar devido à falta de maturidade.

Todos os encontros de Jesus Cristo levam à implantação do Reino de Deus. Mas só pode implantá-lo quem é adulto e já entende que só se começa a amar a partir do momento em que eu não quero mudar quem eu amo.

Geralmente quando tememos alguém ruim ao nosso lado é porque nos reconhecemos naquela pessoa. Jesus não tinha o que temer porque era puramente bom, por isso contagiava os que estavam ao lado d'Ele.

Na maturidade de Jesus você encontra a capacidade imensa de amar o outro como ele é. Amar significa amar o outro como ele é. Por isso quando falamos em amar os outros podemos perceber o quanto deixamos de ser crianças. Devemos nos questionar a todo o momento com relação à nossa maturidade.

A santidade começa na autenticidad, por essa razão Cristo nos pede que sejamos como as crianças, que são verdadeiras e simples. É nisso que devemos manter da nossa infância e não a forma de possuir as coisas para nós mesmos.

Você tem condições para perceber a sua maturidade. É só observar se você é obediente mesmo quando não há pessoas ao seu redor. Você não precisa que ninguém o observe, pois você já viu aquilo como um valor.

Pessoas imaturas sofrem dobrado. Pessoas imaturas querem modificar os fatos; ao passo que pessoas maduras deixam que os fatos as modifiquem. A maturidade nos faz perceber que não podemos mudar os fatos. Um imaturo ganha um limão e o chupa fazendo careta. O maduro faz uma limonada com o limão que ganhou.

Muitas vezes, os nossos relacionamentos de amizade são uns fracassos porque somos imaturos. Amigos não são o que imaginamos, mas o que eles são e com todos os defeitos. Amizade é processo de maturidade que nos leva ao verdadeiro encontro com as pessoas que estão ao nosso lado. Elas têm todos os defeitos, mas fazem parte da nossa vida e não as trocamos por nada deste mundo. Isso porque temos alma de cristão e aquele que tem alma de cristão não tem medo dos defeitos dos outros, porque sabemos que esses defeitos não serão espelhos para nós; mas seremos instrumentos de Deus para que os superem.

Padre só pode ser padre a partir do momento em que é apaixonado pelos calvários da humanidade. Se você não consegue lidar com os limites dos outros, é porque você não consegue lidar com os seus limites. A rejeição é um processo de ver-se.

Toda vez que eu quero buscar no outro o que me falta, eu o torno um objeto. Eu posso até admirar no outro o que eu não tenho em mim, mas eu não tenho o direito de fazer dele uma representação daquilo que me falta. Isso não é amor, isso é coisa de criança!

O anonimato é um perigo para nós. É sempre bom que estejamos com pessoas que saibam quem somos nós e que decisões nós tomamos na vida. É sempre bom estarmos em um lugar que nos proteja.

Amar alguém é viver o exercício constante de não querer fazer do outro o que nós gostaríamos que ele fosse. A experiência de amar e ser amado é, acima de tudo, a experiência do respeito.

Como está a nossa capacidade de amar? Uma coisa é amar por necessidade e outra é amar por valor. Amar por necessidade é querer sempre que o outro seja o que você quer. Amar por valor é amar o outro como ele é quando ele não tem mais nada a oferecer, quando ele é um inútil e, por isso, você o ama tanto. Na hora em que forem embora as suas utilidades você saberá o quanto é amado.

Tudo vai ser perdido, só espero que você não se perca. Enquanto você não se perder de si mesmo você será amado, pois o que você é significa muito mais do que você faz.

O convite da vida cristã é este: que você possa ser mais do que você faz!

Foto Padre Fábio de Melo

27 de julho de 2011

Avós, símbolos de experiências

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A sabedoria acumulada de duas gerações
Celebramos o Dia dos Avós (26/jul). Não se trata de mais uma data comemorativa criada com fins comerciais, mas de um dia de reflexão e agradecimento àqueles que tanto contribuem para a formação dos netos, sendo sua companhia cada vez mais constante e necessária no cenário atual, visto que os pais precisam trabalhar fora.

Nossos avós – e todos os idosos, de modo geral – são as pessoas que mais devem ser valorizadas como símbolos de experiência e sabedoria. Eles trazem consigo o testemunho de décadas, de gerações de avanços, modernidade e mudanças de comportamento.
Hoje, muitos deles consideram que o tempo não tem a mesma importância de outrora, tanto que o relógio de pulso é usado apenas como acessório.

Se hoje eles têm a pele flácida, o corpo mais sensível e a visão enfraquecida, devemos nos lembrar de que nem sempre foi assim. Afinal, já batalharam muito e dedicaram suas vidas ao cuidado da família. São tão dignos de carinho e respeito quanto nossos pais. Por isso, jamais devemos nos esquecer do verdadeiro valor deles.

Ser avô e avó, fazer parte da terceira ou quarta idade, não pode mais ser relacionado à invalidez, à inoperância ou à inutilidade. Grande parte ainda contribui com a mesma sociedade que os descarta, haja vista o elevado número de idosos responsáveis financeiramente por seus lares, cuidando de filhos e netos.

É muito triste constatar que em muitas famílias os idosos são tratados como objetos antigos. Há pessoas que costumam tecer comentários desrespeitosos a respeito dos mais velhos da casa, reclamando que só dão trabalho, que são lentos ou doentes. Quanta injustiça! Sua presença ensina aos mais novos o tesouro de enxergar o mundo com os olhos do coração.

Quem souber aproveitar o convívio com essas figuras que acumulam sabedoria de duas gerações, certamente terá muito a aprender com seus conselhos. Nossos avós detêm o conhecimento e a sabedoria que não são aprendidos nos livros e estão sempre dispostos a partilhar. São verdadeiros tesouros em nossa vida.

Abraços,

Foto Dado Moura
contato@dadomoura.com

26 de julho de 2011

A beleza da amizade

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A amizade finda onde a desconfiança começa
No conturbado mundo de hoje a ausência da verdadeira amizade é uma das causas de inúmeros males. É este laço sagrado que une os corações. Quirógrafo das almas nobres, é a afeição que fundamenta o lídimo amor, sendo este a própria amizade em maior intensidade. Desde a mais remota antiguidade o homem se interrogou sobre a essência da amizade. Filosofou sobre este aspecto da interação humana.

Podemos dizer que a amizade é uma certa comunidade ou participação solidária de várias pessoas em atitudes, valores ou bens determinados. É uma disposição ativa e empenhadora da pessoa. O valor da amizade foi revelado pela Bíblia: "O amigo fiel não tem preço" (Sl 6,15), pois "ele ama em todo o tempo" (Pv 17,17). "O amigo fiel é uma forte proteção; quem o encontrou, deparou um tesouro" (Ecl 6,14). "O amigo fiel é um bálsamo de vida e de imortalidade, e os que temem o Senhor acharão um tal amigo" (Ec 6,16).

A função psicossocial da amizade é, assim, de rara repercussão. Ela é fator de progresso, pois o amigo autêntico aperfeiçoa e educa pela palavra e pelo exemplo; é penhor de segurança, uma vez que o amigo leal é remédio para todas as angústias, dado que a amizade é força espiritual. Entretanto, há condições para que floresça a amizade.
Pode-se dizer que são seus ingredientes: a sinceridade, a confiança, a disponibilidade, a tolerância, a compreensão e a fidelidade.

Saint-Exupéry afirmou: "És eternamente responsável por aquilo que cativas".

Na plenitude dos tempos Jesus apresentou-se como legítimo amigo. Ele declarou: "Já não vos chamo servos, mas amigos" ( Jo 15,15) e havia dito: "Ninguém dá maior prova de amor do que aquele que entrega a vida pelos amigos" (Jo 15,13)..

Rodeou-se de pessoas, às quais se repletaram dos eflúvios de Sua bondade. Felizes os que O conheceram, como Lázaro, Marta, Maria, Seus amigos de Betânia; os Doze apóstolos; Nicodemos; Zaqueu; Dimas, o bom ladrão; e tantos outros. É, porém, preciso levar a amizade a sério.

A Bíblia assegura que "O amigo fiel é medicina da vida e da imortalidade" (Ecl 6,16). Disse, porém, Santo Agostinho: "A suspeita é o veneno da amizade". Bem pensou, porque a amizade finda onde a desconfiança começa.

O amigo é luz que guia, é âncora em mar revolto, é arrimo a toda hora. Esparge raios de sol de alegria, derramando torrentes de clarões divinos. Dulcifica o pesar. Tudo isso merece ser pensado e repensado. É essencial, todavia, meditar também sobre o ensinamento bíblico: "Quem teme a Deus terá bons amigos, porque estes serão semelhantes a ele" (Ec 6,17).

Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

22 de julho de 2011

Os demônios da vida conjugal

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Vencer a crise é indispensável para que o amor sobreviva
No amor conjugal, o segredo é não lutar contra a idade, sim estar em união com ela, tal é a regra da sabedoria.


A infância do amor conjugal.
Ao início é, sobretudo, alegria e esperança. O amor é novo e está intacto. Os dois vivem em estado de descoberta permanente. Entretanto, o amor não escapa aos ataques do tempo. Uma primeira crise, a da desilusão, sacode o lar nascente. O demônio da desilusão faz com que a imagem ideal, que um havia construído do outro, comece a desvanecer-se. Para vencer essa crise terão que se aceitar em suas imperfeições. Nessa época o matrimônio se constitui realmente.

A juventude do amor.
Ao final da fase de adaptação, um mútuo conhecimento impede maiores atritos. O amor se instala. Mas, se a crise da desilusão não foi superada, o tempo precipita a segunda crise, a do silêncio. Se o demônio mudo se apodera dos dois, caem em uma espécie de letargia. O casal vive, então, em retrocesso, sem crescer, sem um ritmo seguro, sem dinamismo. Vencer essa segunda crise é indispensável para que o amor sobreviva.

A maturidade do amor.
Por volta dos 15 anos, os esposos adquiriram maturidade. Com uma juventude madura vivem com serenidade. São os anos mais belos da vida conjugal. Já não se fala de felicidade, como quando se é jovem, simplesmente é feliz. Mas, também pode produzir-se o contrário, se não encontraram o caminho do diálogo e de sua unidade. Uma terceira crise, com frequência fatal, é a da indiferença. O amor se transformou em hábito, o hábito em rotina, e a rotina, enfim, em indiferença. Vive-se junto ao outro, mas os corações já não estão em contato: o tempo paralisou ou inclusive matou o amor. A vida em comum não é mais que uma aparência que se mantém, seja por obrigação já que estão os filhos, seja por conveniência social. Com o demônio da indiferença instalado, sempre existe lugar para um novo amor e, por isso, para a infidelidade e a separação.

O meio-dia do amor.
Entre os 45 e 50 anos surge um novo perigo. Em ambos é o difícil momento das mudanças físicas e psicológicas. A mulher perde um atributo de sua feminilidade, a fecundidade. O homem vai perdendo um caráter de sua virilidade: o vigor sexual. Mas, antes que se produza esse declive, muitas vezes se dá uma espécie de volta à adolescência. A essa crise da metade da vida chamamos de: "demônio do meio-dia". Se o matrimônio entra nessa etapa minado pela indiferença e pela rotina, o demônio do meio-dia tem grandes possibilidades de triunfar.

O renascimento do amor.
Se o casal soube superar essa época turbulenta, entra num período de uma segunda maturidade. É o crepúsculo do amor, o momento em que o matrimônio desfruta da unidade conquistada, de una harmonia, profunda e de uma nova paz. É a hora de uma felicidade serena, sem choques e sem conflitos. O tempo, que não perdoa, oferece então aos cônjuges a inapreciável recompensa do renascimento do amor.

O repouso do amor.
Virá, por último, a hora do repouso em que, envelhecidos no amor, ambos só terão reconhecimento um para o outro. Nem sequer a dolorosa perspectiva da morte poderá perturbar a maturidade do amor. Haver-se amado até o final converte a morte num ápice, numa vitória. Diante dos homens, como diante de Deus, não existe um amor mais perfeito que o de dois seres que envelheceram juntos e que deram a mão para vencer as últimas dificuldades a fim de gozar das últimas claridades do dia.

Padre Nicolás Schwizer
Shoenstatt mov.apostólico