10 de maio de 2013

O que a Ascensão de Jesus diz ao cristão de hoje?

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Corações voltados para o alto!

O futuro é fruto do que semeamos nos campos da vida. Não há colheita sem o devido cuidado com a plantação. No campo da vida, o amor é essencial, para que possamos produzir os mais belos frutos de um tempo novo, nascido da esperança que cultivamos com a fé. O céu que esperamos começa a ser construído no hoje de nossa história. Na esperança da glória futura estão impressas as marcas do amor.


Na solenidade da Ascensão do Senhor voltamos nosso olhar para Aquele que nos aponta a esperança de nossa vida futura juntos do Seu amor. O hoje de nossa história é tempo teológico para sacramentalizarmos o amor em gestos concretos de vida em plenitude. O Cristo que olhamos é o mesmo que esteve e continua entre nós. O cotidiano da vida é uma preparação para um tempo novo que sonhamos. Um futuro onde cada um de nós terá uma participação plena na vida de Deus.


Assista: O céu é o meu lugar, lá está o meu tesouro


Juntos de Deus viveremos uma nova relação entre Criador e criatura. Na total transparência dos sentimentos, seremos livres dos limites e dificuldades da condição terrena. No amor trinitário saborearemos a plenitude da comunhão eterna. Em Deus conheceremos o amor que hoje de modo limitado sentimos. A esperança da glória futura nos abre diante da vida as mais belas possibilidades de vivermos hoje o futuro glorioso que esperamos.


A Eucaristia antecipa em nossa alma a comunhão celeste. No pão e no vinho consagrados, corpo e sangue de Cristo, está presente toda a criação, fruto da terra e do trabalho do homem. Na comunhão eucarística já pertencemos aos céus novos e à terra nova. Todos nós que comungamos da Eucaristia estamos, em esperança, na realidade do céu. O céu que nosso coração contempla é antecipado no amor de Cristo doado e partilhado por toda a humanidade.

Esta solenidade que celebramos ensina-nos também a vivermos na terra com as realidades do céu. A comunhão eterna é antecipada em cada gesto de amor e fraternidade entre nós. A paz divina é vivida, ainda que de modo limitado, em cada gesto que devolve vida à humanidade. O amor trinitário é antecipado em cada ato que se faz solidariedade e compaixão entre nós.

Com o coração voltado para o alto, caminhos na terra construindo junto de cada irmão e irmã os céus novos e a terra nova que esperamos um dia viver de maneira plena e infinita. O mundo novo que sonhamos começa a ser vivido em cada gesto de fraternidade.

Corações voltados para o alto com os pés enraizados no amor de Cristo. Eis a nossa missão diante da ascensão de Cristo: fazermos de nossa vida terrena uma antecipação da glória da futura.

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Padre Flávio Sobreiro

Pe. Flávio Sobreiro é Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP. Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre - MG. Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Carmo (Cambuí-MG). Padre da Arquidiocese de Pouso Alegre - MG.
www.facebook.com/oficialpadreflavio
www.padreflaviosobreiro.com

8 de maio de 2013

Da profissão à vocação

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Cada pessoa realiza uma vocação específica no mundo

O chamado que Deus faz a cada pessoa é sempre um mistério. Ao longo da vida, o Senhor vai revelando qual a nossa missão. Deus chama; o ser humano dá uma resposta livre. O Senhor não cria uma situação na qual a pessoa se sinta pressionada a segui-Lo. Na liberdade que Deus nos concedeu, a resposta é sempre uma decisão pessoal e intransferível de cada um.

Nas Sagradas Escrituras, encontramos inúmeros chamados ao longo da história da salvação. Em todo tempo e lugar, o chamado de Deus sempre permanece vivo e atual.

Interessante notarmos que este chamado se realiza nos mais diferentes âmbitos da vida. Nem todos recebem o mesmo chamado, mas a origem dele é sempre divina. Cada ser humano vai descobrindo qual é a sua vocação: médico, veterinário, engenheiro, escritor, professor, agricultor, cozinheiro, padre, psicólogo...

Cada pessoa realiza, no mundo, uma vocação específica. Neste chamado, todos somos convidados a direcionar nossa vocação para que ela seja sinal de vida e luz. Muito mais do que uma profissão, os mais diversos profissionais, de todas as áreas, são convidados a fazer do seu trabalho uma vocação que seja promotora de uma sociedade justa e solidária, na qual o amor de Deus seja também revelado pelos mais diversos serviços e funções.

Quando a profissão abraça o caráter vocacional de um chamado de Deus, ela transforma realidades de trevas em sinais de luz que devolvem a cada pessoa o direito à vida, à paz e à esperança.

No chamado que recebemos, o amor de Deus nos capacita a sermos sinais de esperança, paz, justiça, caridade e amor.

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Padre Flávio Sobreiro

Pe. Flávio Sobreiro é Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP. Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre - MG. Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Carmo (Cambuí-MG). Padre da Arquidiocese de Pouso Alegre - MG.
www.facebook.com/oficialflaviosobreiro
www.padreflaviosobreiro.org

6 de maio de 2013

A Nova Jerusalém

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Deus enxugará toda lágrima dos seus olhos

Faz parte da vida do cristão esperar o melhor, enxergar as luzes do futuro, construir o dia a dia com os valores do Reino de Deus sem se cansar, recomeçando sempre, ainda que sejam frágeis nossas mãos e trôpegos os nossos passos. Olhamos para a realidade de olhos abertos, positivamente ansiosos por descobrir os rastros da ação do Espírito Santo, o qual sempre nos precede, e lutamos para oferecer à humanidade, em qualquer época, o que sabemos existir de melhor.


A visão descrita pelo Apocalipse nos faz desejar a morada de Deus com os homens, a qual se chama "Nova Jerusalém". Eles serão o seu povo, e o próprio "Deus com eles" será seu Deus. Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem grito, nem dor, porque as coisas anteriores passaram (cf. Ap 21,1-23). Esta Jerusalém desce do céu, é presente de Deus, "já" chegou, mas é também preparada e edificada aqui nesta terra, onde quer que se proclame e se espalhe a novidade que vem do Evangelho e, portanto, "ainda não" se manifestou em toda a sua plenitude.


Como ensinou o Concílio Vaticano II (Lumen Gentium 48), "já chegou a nós a plenitude dos tempos (Cf. 1 Cor 10,11), a restauração do mundo foi já realizada irrevogavelmente e, de certo modo, encontra-se já antecipada neste mundo. Com efeito, ainda aqui na terra, a Igreja está aureolada de verdadeira, embora imperfeita, santidade. Enquanto não se estabelecem os novos céus e a nova terra em que habita a justiça (Cf. 2 Pd 3,13), a Igreja peregrina, nos seus sacramentos e nas suas instituições, que pertencem à presente ordem temporal, leva a imagem passageira deste mundo e vive no meio das criaturas que gemem e sofrem as dores de parto, esperando a manifestação dos filhos de Deus" (Cf. Rm 8, 19-22).


Caminhamos na esperança, confiantes nas promessas do Senhor, sabendo que, por melhores que sejam todos os esforços humanos, o que Deus preparou para os que O amam supera, infinitamente, nossas capacidades e nos leva à realização plena de todas as justas aspirações plantadas por Ele mesmo nos corações. "O que Deus preparou para os que O amam é algo que os olhos jamais viram nem os ouvidos ouviram, nem coração algum jamais pressentiu. A nós, Deus revelou esse mistério por meio do Espírito" (1 Cor 2,9-10).

O cristão peregrino, rumo ao Absoluto de Deus, carrega consigo alguns tesouros. Conhecê-los possibilita oferecê-los também a muitas outras pessoas, já que não podemos guardar escondidos os dons que Ele destinou a todos por ser universal Seu desígnio de salvação. Quando Jesus fez Seus discursos de despedida, diante do evidente constrangimento de seus medrosos discípulos (Cf. Jo 14,27), garante-lhes sua presença permanente: "Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada" (Jo 14,23). Não se trata de uma presença caracterizada por relâmpagos, luzes ou terremotos, mas muito viva, real e serena. Ama a Deus quem guarda e vive a Sua Palavra. E vai morar o próprio Senhor no coração de quem dá este passo. O Pai e o Filho habitam em quem vive a Palavra de Deus! Esta tem a extraordinária força para transformar o mundo. Quem a acolhe vive como pessoa renovada interiormente e, ao mesmo tempo, capaz de semear a novidade em torno de si.

Inigualável tesouro é ainda a ação do Espírito Santo, prometido por Jesus: "O Defensor, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito" (Jo 14,26). Para garantir-nos a veracidade de Suas palavras, Jesus promete nada menos do que o Espírito Santo, dado em penhor a cada fiel! Daí nasce a coragem com que as sucessivas gerações de cristãos enfrentaram as dificuldades da missão evangelizadora. E a Igreja suplica, incessantemente, a ação do Espírito que vem!

Também nós olhamos para frente e para o alto, dispostos a fermentar, com o Evangelho de Cristo, todos os recantos da vida humana com renovado ardor missionário. Não cabe desânimo no coração do cristão, pois não caminha sozinho, sustentado apenas pelas próprias forças. Entende-se assim a força com que o Papa estimula a ação missionária da Igreja: "Que toda a pastoral seja missionária. Devemos sair de nós mesmos e ir para as periferias existenciais e crescer na 'parresia' - que quer dizer audácia - para anunciar, com coragem, o Evangelho. Uma Igreja que não sai de si, mais cedo ou mais tarde adoece na atmosfera viciada de seu confinamento. Também é verdade que uma Igreja que sai pode se acidentar. Diante disso, quero lhes dizer, francamente, que prefiro mil vezes uma Igreja acidentada a uma doente. A enfermidade típica dela é o autorreferencial que olha para si mesma. É uma espécie de narcisismo que nos leva ao mundanismo espiritual e ao clericalismo sofisticado, e nos impede de experimentar a doce reconfortante alegria de evangelizar" (Papa Francisco, Mensagem aos Bispos Argentinos).

Sejamos dignos das promessas de Cristo, assumindo, com renovada audácia, os desafios do presente e do futuro!

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

3 de maio de 2013

Busquemos a Deus, único bem verdadeiro

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Do tratado sobre a fuga do mundo

Onde está o coração do homem está bem o seu tesouro; pois Deus não costuma negar o bem aos que lhe pedem.


Porque o Senhor é bom, e é bom sobretudo para os que nele esperam, unamo-nos a ele, permaneçamos com ele de toda a nossa alma, de todo o coração e de todas as forças, para vivermos na sua luz, vermos a sua glória e gozarmos da graça da felicidade eterna. Elevemos nossos corações para esse bem, permaneçamos e vivamos unidos a ele, que está acima de tudo quanto possamos pensar ou imaginar; e concede a paz e a tranquilidade perpétuas, uma paz que ultrapassa toda a nossa compreensão e sentimento.


É esse o bem que tudo penetra; todos vivemos nele e dele dependemos; nada lhe é superior, porque é divino. Só Deus é bom e, portanto, o que é bom é divino e o que é divino é bom; por isso se diz no salmo: Vós abris a mão e todos se fartam de bens (Sl 103,28). É, com efeito, da bondade de Deus que nos vêm todos os bens, sem nenhuma mistura de mal.


Esses bens são os que a Escritura promete aos fiéis, dizendo: Comereis dos bens da terra (Is 1,19).

Nós morremos com Cristo e trazemos em nosso corpo a morte de Cristo, para que também a vida de Cristo se manifeste em nós. Portanto, já não é nossa própria vida que vivemos, mas a vida de Cristo: vida de inocência, vida de castidade, vida de sinceridade e de todas as virtudes. Também ressuscitamos com Cristo; vivamos, pois, unidos a ele, subamos com ele, a fim de que a serpente não possa encontrar na terra o nosso calcanhar e feri-lo.

Fujamos daqui. Podes fugir com o espírito, embora permaneças com o corpo; podes ficar aqui e estar ao mesmo tempo junto do Senhor, se teu coração estiver unido a ele, se teus pensamentos se fixarem nele, se percorreres seus caminhos, guiado pela fé e não pelas aparências, se te refugiares junto dele – que é nosso refúgio e nossa força, como disse Davi: Eu procuro meu refúgio em vós, Senhor, que eu não seja envergonhado para sempre (Sl 70,1).

Já que Deus é o nosso refúgio, e Deus está nos céus e no mais alto dos céus, é preciso fugir daqui para as alturas onde reina a paz, onde repousaremos de nossas fadigas, onde celebraremos o banquete do grande Sábado, como disse Moisés: O repouso sabático da terra será para vós ocasião de festim (Lv 25,6). Descansar em Deus e contemplar as suas delícias é, na verdade, um banquete, cheio de alegria e felicidade.

Fujamos, como os cervos, para as fontes das águas. Que a nossa alma sinta a mesma sede de Davi. Qual é esta fonte? Escuta o que ele diz: Em vós está a fonte da vida (Sl 35,10). Diga minha alma a esta fonte: Quando terei a alegria de ver a face de Deus? (Sl 41,3). Porque a fonte é o próprio Deus.

Santo Ambrósio, Bispo e Doutor da Igreja

(Extraído do livro "Alimento Sólido")

 

2 de maio de 2013

O líder comunicativo

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Esteja disposto a aprender sempre mais

A primeira virtude fundamental para o líder amoroso é a capacidade de se comunicar. Não basta fazer barulho como um sino. É preciso aprender o jeito certo de ouvir e falar a língua dos homens, das mulheres, das crianças, dos ricos, dos pobres e até dos anjos.


O líder arrogante imagina que sabe tudo sobre o seu produto e sobre o seu negócio. Está sempre disposto a dar uma resposta. Tem muita dificuldade para fazer perguntas. Monopoliza o tempo das reuniões com intermináveis discursos. Seu orgulho é o princípio de sua mediocridade, pois quem pensa que tudo sabe não tem espaço para aprender mais e fica escravo de sua própria ignorância. 


O líder amoroso é humilde. Está disposto a aprender sempre mais. Tem o hábito de fazer muitas perguntas, mesmo aos que sabem menos do que ele. Quem ama ouve respostas, aprende lições, pergunta o porquê. Sua humildade é o princípio da sua sabedoria, pois quem sabe que não sabe abre espaço na mente para saber sempre mais. A maioria de nós sabíamos disso quando éramos crianças, pois vivíamos perguntando o "porque" disso ou o "porquê" daquilo

Há uma história da minha infância de menino perguntador. Meu pai, certa ocasião, teria perdido a paciência devido à insistência de perguntas sobre como funcionava quase tudo e acabou desabafando:

- João, pare de tanto por quê!

Dizem que minha resposta foi rápida e fulminante:

- Mas por que, pai?!

Infelizmente, crescemos e desaprendemos as lições que a natureza havia carimbado em nossa alma. Talvez seja por essas e outras que Jesus disse que é preciso ser criança para ganhar o céu. Fico impressionado com a facilidade delas de aprender idiomas. O líder comunicativo precisa voltar a ser criança se quiser aprender os mais diversos tipos de linguagens, inclusive os idiomas. Só aprendemos se ouvimos e falamos – de preferência bastante errado – como as crianças. Adultos silenciosos, diante de uma gramática, podem decorar todas as regras, mas não articularão uma frase com espontaneidade na língua que se esforçam para aprender. Crianças de três anos, na Alemanha, já se comunicam naquele difícil idioma com seus pais. Experimente estudar três anos para ver se fala como uma delas!

Quanta sabedoria pode estar escondida em nossa infância perdida! Teremos conserto ou estamos condenados a sermos cada vez mais adultos? Quem sabe possamos reaprender as lições esquecidas começando pelo bê-á-bá: fazendo perguntas!

 

(Extraído do livro "As sete virtudes do líder amoroso")

 

29 de abril de 2013

Eis que faço novas todas as coisas

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A fonte da novidade está lá no céu

Os dias que antecederam a eleição do Santo Padre, o Papa Francisco, foram repletos de especulações, seja em torno do nome do futuro Pontífice, seja na busca da novidade ou da renovação da Igreja. Muitos viam a necessidade de um Papa "progressista", entendido como um Pontífice que viesse a mudar os rumos da Igreja em direção a conceitos e práticas divergentes da perspectiva evangélica, marcada pelo seguimento de Jesus Cristo, acolhimento do mistério da cruz e serviço humilde aos mais pobres. E tantas vozes se calaram ou deram razão ao fato de o Espírito Santo ter tomado de novo a palavra, tirando "da manga" a grande surpresa que tem sido o Papa. Discursos breves, centrados no essencial da mensagem cristã, gestos significativos, acolhimento, abraços, tudo apontando para a fidelidade a Jesus Cristo, proposta de bondade e ternura, braços abertos que expressam misericórdia e perdão.

A Igreja continua a mesma e sempre nova, capaz de se reformar com a chave da conversão que abre as portas dos corações. A novidade vem de dentro e não se conforma com a mentalidade corrente. A Igreja será sempre acompanhada pela provocação positiva da Carta dos Romanos: "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito" (Rm 12,2). Papa Francisco é revolucionário, porque ama sem mudar uma vírgula que seja do Evangelho, do Catecismo ou do ensinamento moral da Igreja!

Já na Igreja primitiva, o crescimento dela acontecia quando passava por muitos sofrimentos e perseguições (Cf. At 14,21-27). Sua vida se caracterizava pelo anúncio da Palavra, testemunho da caridade e das ações maravilhosas do Senhor, orações e jejuns e atividade missionária. O apóstolo São Paulo empreendeu as grandes viagens, quando formava novas comunidades e constituía os servidores aos quais confiava estas mesmas agregações de cristãos. A Igreja suscitava a fraternidade e as pessoas nela se sentiam acolhidas e amadas. Dali para frente e até hoje, onde uma comunidade cristã se reúne na caridade, abre-se um oásis verdejante, onde as pessoas podem saciar sua sede de vida verdadeira.

A compreensão de comunidade para a fé cristã deriva da vida e dos ensinamentos de Jesus, assimilados pelos apóstolos e pelas primeiras comunidades. Na base da experiência comunitária, proposta por Jesus, está a experiência da "comunhão". Jesus inicia seu ministério chamando discípulos para viverem com ele (cf. Mc 3,14). Todo o itinerário do discípulo, desde o chamado, é sempre vivido na comunhão com o Mestre, que se desdobra na comunhão com os outros. A dimensão comunitária é fundamental na Igreja, pois se inspira na própria Santíssima Trindade, a perfeita comunidade de amor. Sem comunidade, não há como viver autenticamente a experiência cristã. A dimensão comunitária da fé cristã conheceu diferentes formas de se concretizar historicamente, desde a Igreja Doméstica até chegar à paróquia na acepção atual (Cf. Tema central da 51ª Assembleia geral da CNBB, n.42-43), ou a proposta da paróquia como "comunidade de comunidades", que tem sido encaminhada na maioria das dioceses do Brasil. Bem vivida, a dimensão comunitária da fé cristã transforma as pessoas e o mundo.

A fonte da novidade está no alto, lá no céu, na vida da Santíssima Trindade. Serão autênticas as comunidades cristãs e será confiável a vida de cada cristão quando refletirem a vida de Deus. De fato, quando Jesus abre a alma para anunciar o "seu" mandamento (Jo 13,31-35; Jo 15,12-17) não se limita a propor uma convivência pacífica e respeitosa entre as pessoas, mas quer que nos amemos uns aos outros "como" Ele nos amou. Não basta a benevolência ou, quem sabe, a filantropia, ou ainda o respeito à liberdade dos outros e às diferenças. Ele pede um pacto de amor mútuo, com pessoas dispostas a darem a vida uma pelas outras. Esta, sim, é a novidade, esta é a revolução para nosso mundo. Com este amor autêntico, vindo do céu, vem também a verdade, a justiça e todos os valores do Reino de Deus.

Homens e mulheres que fazem esta escolha são portadores de um tempo novo, em que Deus vem morar no meio do seu povo, para enxugar todas as lágrimas. Virá, sim, o tempo em que a morte não existirá mais e não haverá mais luto, nem choro, nem dor, porque terá passado o que havia antes (Cf. Ap 21,1-5). Quem aceitar dar o primeiro passo, nesta direção, não precisará esperar muito, pois verá, desde agora, florescer o jardim de Deus em torno de si. Basta começar, sem muitas palavras, com gestos simples e significativos, sem medo da ternura e da bondade, espalhando a misericórdia e o perdão.

Aquele que é o "homem novo", que realiza as bem-aventuranças e atrai irresistivelmente as pessoas de todos os tempos, o que não deixa ninguém acomodado, este, sim, dirá: "Eis que faço novas todas as coisas" (Ap 21,5). Diante dele o Espírito e a Esposa, que é a Igreja, dizem: Vem, Senhor Jesus! Quem tem sede da novidade, venha, e quem quiser, receba de graça a água da vida! (Cf. Ap 22,17)

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

26 de abril de 2013

Aprenda a viver com a simplicidade das crianças

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No universo delas, a felicidade está em pequenos gestos

Vivemos em um mundo de intensas dores e ansiedades. Porém, não significa que devemos deixar tudo isso ditar as regras sobre nossa existência. Pelo contrário, precisamos reagir submetendo nossa vida a uma outra lógica, que não nos permitirá ser totalmente engolidos por essa enorme onda de agitação e ansiedade.


O ser humano é, no reino da vida, o único ser dotado de pensamento (razão). Ele é o único capaz de não se permitir determinar pelo meio em que vive e pelos seus instintos. Assim, pode construir uma realidade nova e melhor, que mais eficazmente corresponda à sua autêntica realização.


O homem não é uma massa de manobra que será sempre escrava do tempo e de suas frágeis tendências. Não. Ele é muito mais e foi criado para ir mais longe, pois possui a "dinâmica força da vida" dentro de si.

Não será possível uma vida sem tensões e sofrimentos, e sobre isso já falamos. Mas como gerir esses sofrimentos e tensões tão comuns em nossa vida?

Aqui, não me sinto autorizado a despejar sobre você receitas (ou frases) prontas. Ao contrário, desejo apenas propor caminhos que o possibilitem pensar e, posteriormente, encontrar ferramentas que o auxiliem neste processo.

Gosto de contemplar o jeito como as crianças percebem a vida e as dificuldades nela presentes. Para elas, as coisas são simples e descomplicadas, e quase sempre elas acabam encontrando soluções fáceis e bem humoradas para cada tensão que encontram. Elas não possuem a pretensão de querer reter, instantaneamente, a felicidade debaixo dos braços, mas a buscam experimentar em pequenas porções, a partir de cada pequena coisa que a existência lhes proporciona.

No universo delas, a felicidade está em pequenos gestos: em uma partida de futebol com os amigos, em uma brincadeira na rua ou em uma refeição cheia de comidas gostosas etc. Enfim, elas conseguem viver bem cada momento, sendo inteiras (e felizes) em cada fragmento.

Com elas podemos aprender algo?

Acredito que aprender a viver com simplicidade sem complicar os fatos, lutando para separar cada coisa e as experienciando uma de cada vez é um concreto caminho para uma boa gerência de tensões (um caminho para a maturidade).

Percebo que uma boa e diária dose de paciência revestida de otimismo, diante de nossa vida e de seus muitos desafios, também nos possibilita bem lidar com nossas frustrações, ensinando-nos a não nos desesperarmos diante das momentâneas derrotas que o dia a dia nos apresentará.

(Extraído do livro "Construindo a felicidade")

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Padre Adriano Zandoná