18 de março de 2010

Florindo no deserto

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Que lição o exemplo da árvore pode nos ensinar?
Imagine-se caminhando em uma paisagem totalmente seca e, de repente, deparar com uma árvore coberta de lindas flores! Isso é possível aqui na Europa, pelo menos em Fátima, Portugal, onde moro como membro da Comunidade Canção Nova. Normalmente é assim, quando o inverno chega (e aqui ele é bem definido) as folhas das árvores caem e a única coisa que aparece são os galhos secos e retorcidos. Parecem mortos, já que não há a beleza trazida pelas cores das folhas e das flores. É claro que precisamos ver além, pois sabemos que, por dentro, a árvore continua viva. A primavera virá e revelará a vida que persevera em seu interior. Mas falo de algo mais, falo das amendoeiras... Estas árvores têm o dom de florir justamente em pleno inverno, e quando tudo ao redor delas parece sem vida, elas aparecem exuberantes, cobertas de flores. Contemplar este fenômeno, no mínimo, nos faz pensar o que estas árvores têm de diferente.

Não sei se você já passou pelo "inverno" em sua vida, os acontecimentos nos convidam ao silêncio, à espera. Como é rica esta experiência, mas como nos custa vivê-la! Passei por uns dias de "inverno"... E aí conheci com mais propriedade a amendoeira e me interessei por ela. Aprendi que essa planta se adapta a quase todos os tipos de solos, mas apresenta um maior desenvolvimento nos solos arenosos. Crescem em terrenos pedregosos, onde as camadas de pedra são alternadas com camadas de terra, para que as raízes possam penetrar mais profundamente, o que favorece a resistência à secura. Resiste às fortes geadas do período mais frio do ano, às altas temperaturas de verão e às secas prolongadas. Como se não bastasse, costumam florir durante o inverno. Não acha interessante?

Trazendo essas características para nossa vida espiritual, que lição o exemplo dessa árvore pode nos ensinar?

Já percebi que preciso encarar as adversidades da vida como a amendoeira, vendo no "terreno pedregoso" o lugar ideal para fixar raiz e buscar na profundidade da fé o alimento necessário, para não só sobreviver, mas também "florir" em pleno "deserto", provocado pelo inevitável "inverno".

Para agir assim, além de contar essencialmente com a graça de Deus, preciso ter força de vontade e alimentar constantemente a esperança em meu coração com a Palavra do Senhor, que se cumpre no seu tempo, do seu jeito. "Os céus e a terra passarão, mas minhas palavras não passarão" (Mt 24, 35). Chorar quando for preciso, sim, mas sem me esquecer dos benefícios trazidos pelo "inverno" e tentar florir na intenção de torná-lo agradável para quem passa ao meu lado ou permanece comigo.

Eu já havia pensado sobre isso, mas hoje ao participar da Santa Missa e ouvir o padre citar justamente o exemplo da amendoeira, resolvi partilhar isso com você na intenção de fazer o seu "deserto florir". Desejo semear esperança em seu oração. Se você está passando por um tempo difícil, tenha calma, o "inverno" vai passar.

Recordo-me que, durante minha infância, por um motivo ou outro, muitas vezes, eu caía, machucava-me e corria, em prantos, para buscar o consolo dos meus pais. Lembro-me das vezes em que me disseram: "Tenha calma, vai passar..."

Tinham toda razão. Passou mesmo! Já nem me lembro das quedas daquela época; vieram outras que também passaram. Afinal, nesta vida, tudo passa! Acredito que você também já tenha ouvido essa afirmativa. Para concordar com ela basta fazer uma breve reflexão sobre seus últimos anos. Quantas coisas já passaram, não é verdade?

As etapas de nossa vida, por mais que queiramos nos apegar a elas, não tem jeito, elas passam. Assim como os tempos de crises e bonança passam e as notícias e as modas também.

Ora, se essa é uma verdade inquestionável, por que nos falta a esperança quando estamos na tribulação? Por que nos faltam a cautela e o zelo quando estamos no cume das alegrias momentâneas? Perguntas, como estas, passam quase sempre sem respostas em nossa vida.

O que permanece, não é humano, transcende nossa existência e não se explica pela razão, somente pela fé.

A sede que temos por Deus, e por Suas obras, por exemplo, permanece em nossos corações. Que ela seja nossa motivação para hoje "florirmos no deserto" que precisamos atravessar. Aprendamos com a amendoeira: suas flores, em pleno inverno europeu são lindas, embelezam o "deserto" e nos ensinam a ir além do ordinário nesta vida. Estamos juntos, rezo por você!

Foto Dijanira Silva
dijanira@geracaophn.com

15 de março de 2010

A importância do jejum

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Essa prática deve ser acompanhada de mudança de vida
A Igreja chama o jejum, a esmola e a oração de "remédios contra o pecado"; pois cada uma dessas atividades, a seu modo, nos ajudam a vencer o maior mal deste mundo, o pecado. A oração nos fortalece em Deus; a esmola (obras de caridade) "cobre uma multidão de pecados"; e o jejum fortalece o nosso espírito contra as tentações da carne e do espírito e nos liberta e abre para os valores superiores da alma.

"Ordenai um jejum" (cf. Jl. 1, 14). São as palavras que ouvimos na primeira leitura da Quarta-feira de Cinzas, quando começa a Quaresma. O jejum no tempo quaresmal é também a expressão da nossa solidariedade com Cristo, preso, torturado, flagelado, coroado de espinhos, condenado à morte, crucificado e morto.

Ao jejuar devemos concentrar-nos não só na prática da abstenção do alimento ou das bebidas, mas no significado mais profundo desta prática. O alimento e as bebidas são indispensáveis para o homem viver, disso se serve e deve servir-se, mas não lhe é lícito abusar, seja da forma que for. O jejum tem como finalidade nos levar a um equilíbrio necessário e ao desprendimento daquilo que podemos chamar de "atitude consumística", característica da nossa civilização.

O homem orientado para os bens materiais, muitas vezes, abusa deles. Hoje, busca-se, acima de tudo, a satisfação dos sentidos, a excitação que disso deriva, o prazer momentâneo e a multiplicidade cada vez maior de sensações. E isso acaba gerando um vazio no coração do homem moderno; pois sem Deus ele não pode se satisfazer. O barulho do mundo e o prazer das criaturas não conseguem preencher o seu coração.

A criança hoje (e também muitos adultos) vive de sensações, procura sensações sempre novas... E torna-se assim, sem se dar conta, escrava desta paixão atual; a vontade fica presa ao hábito, a que não sabe se opor.

O jejum nos ajuda a aprender a renunciar a alguma coisa. Ele nos faz capazes de dizer "não" a nós mesmos, e nos abre aos valores mais nobres de nossa alma: a espiritualidade, a reflexão, a vontade consciente. Essa prática nos coloca de pé e de cabeça para cima. Há muitos que caminham de cabeça para baixo; isso acontece quando o corpo comanda o espírito e o esmaga. É o prazer do corpo que o comanda e não a vontade do espírito.

É preciso entender que a renúncia às sensações, aos estímulos, aos prazeres e ainda ao alimento ou às bebidas, não é um fim em si mesmo, mas apenas um "meio" que deve apenas preparar o caminho para conquistas mais profundas. A renúncia do alimento deve servir para criar em nós condições para podermos viver os valores superiores. Por isso o jejum não pode ser algo triste, enfadonho, mas uma atividade feliz que nos liberta.

Os Padres da Igreja davam grande valor ao jejum. Diz, por exemplo, São Pedro Crisólogo (†451): "O jejum é paz do corpo, força dos espíritos e vigor das almas" e ainda: "O jejum é o leme da vida humana e governa todo o navio do nosso corpo" (Sermão VII: sobre o jejum, 3.1).

Santo Ambrósio (†397) diz: "A tua carne está-te sujeita (...): Não sigas as solicitações ilícitas, mas refreia-as algum tanto, mesmo no que diz respeito às coisas lícitas. De fato, quem não se abstém de nenhuma das coisas lícitas, está também perto das ilícitas» (Sermão sobre a utilidade do jejum, III. V. VII). Até escritores que não pertencem ao Cristianismo declaram a mesma verdade. Esta é de alcance universal. Faz parte da sabedoria universal da vida.

O Mahatma Gandhi dizia:

"O jejum é a oração mais dolorosa e também a mais sincera". "Cada jejum é a oração intensa, purificação do pensamento, impulso da alma para a vida divina, a fim de nela se perder". "O jejum é para a alma o que os olhos são para o corpo". (Toschi, Tomas – Gandhi mensagem para hoje, Editora mundo 3, pag. 97, SP, 1977).

O jejum confere à oração maior eficácia. Por ele o homem descobre, de fato, que é mais "senhor de si mesmo" e que se tornou interiormente livre. E se dá conta de que a conversão e o encontro com Deus, por meio da oração, frutificam nele.

Assim, essa atividade não é algo que sobrou de uma prática religiosa dos séculos passados, mas é também indispensável ao homem de hoje, aos cristãos do nosso tempo.

A Bíblia recomenda muito o jejum, tanto o Antigo como o Novo Testamento; Jesus o realizou por quarenta dias no deserto antes de enfrentar o demônio e começar a vida pública; e muito o recomendou. "Quanto a esta espécie de demônio, só se pode expulsar à força de oração e de jejum" (Mt 17,20).

"Boa coisa é a oração acompanhada de jejum, e a esmola é preferível aos tesouros de ouro escondidos" (Tb 12,8).

O nosso jejum deve ser acompanhado de mudança de vida, de conversão, de arrependimento dos pecados e volta para Deus. O profeta Isaías chamava a atenção do povo para isso:

"De que serve jejuar, se com isso não vos importais? E mortificar-nos, se nisso não prestais atenção? É que no dia de vosso jejum, só cuidais de vossos negócios, e oprimis todos os vossos operários". Passais vosso jejum em disputas e altercações, ferindo com o punho o pobre. Não é jejuando assim que fareis chegar lá em cima vossa voz. O jejum que me agrada porventura consiste em o homem mortificar-se por um dia? Curvar a cabeça como um junco, deitar sobre o saco e a cinza? Podeis chamar isso um jejum, um dia agradável ao Senhor? Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? - diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo" (Is 58,3-6).

Cada um de nós tem a própria individualidade; por isso, cada um deve realizar a forma de jejum que mais lhe seja adequada. Este livro prático do monsenhor Jonas Abib, sobre o jejum, ajudará você a buscar a forma correta de viver esta prática espiritual tão importante.

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

8 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher

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Há mulheres em minha vida, logo, sou feliz!
Muitas pessoas passam por nossa vida e não poderíamos deixar de mencionar a participação daquelas que deixaram marcas sensíveis em nossas lembranças. Trazemos vivos na memória os cuidados da nossa mãe, que se desdobrava 24 horas do dia se fosse necessário, as recordações de nossas férias na casa da vovó, da professora que nos ensinou a ler, entre muitas outras.

Numa simbiose perfeita, não há como identificar se foram elas que entraram em nossas vidas ou fomos nós que fizemos parte da vida delas. O zelo dispensado para cada um de nós, quando éramos crianças, fazia-nos sentir tal como "reizinhos", mesmo se naquele "castelo" as refeições fossem racionadas em vista da pobreza. Na escola, além da professora, ganhávamos também uma "tia", que não se importava se houvesse 30 outros "sobrinhos" chamando seu nome ao mesmo tempo. Por menor que tenha sido o período em que elas estiveram conosco, grande foi a atenção e a contribuição dispensada para cada um de nós.

No mundo, algumas mulheres se despontaram através do trabalho, impulsionadas por seus sonhos e, não menos importantes que essas, reconhecemos o papel de outras que foram moldura da realização dos nossos próprios projetos. Lamentavelmente, em alguma parte do planeta ou escondidas entre quatro paredes, existem mulheres que são tratadas sob o domínio da tirania, da incompreensão, da maldade e do preconceito de alguns homens. Todavia, mesmo sendo subjugadas por seus opressores, estes não conseguem tirar a força da esperança que as incita a continuar acreditando em dias melhores.

Com a versatilidade que causaria inveja ao melhor contorcionista, as mulheres trazem como virtude a habilidade de se fazer amiga, mãe, esposa, namorada, formadora… e por dádiva divina, a elas foi outorgado o título de "ajuda perfeita".

Não é à toa, que sem muito esforço, a gente consegue perceber o quanto tem sido importante para cada um de nós a participação delas em nossa vida.

Tudo bem se, às vezes, demoram um pouco mais para escolher a roupa para sair, para se decidir na compra de um simples sapato ou para levar na bolsa apenas aquilo que realmente é necessário…mas, ainda assim, não podemos negar o quanto somos felizes ao lado delas!

Parabéns, mulheres, pelo seu dia!

Abraços!

Foto Dado Moura
contato@dadomoura.com

4 de março de 2010

Como conciliar Quaresma e Campanha da Fraternidade?

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A oração, o jejum e a esmola são os elementos da espiritualidade quaresmal
Campanha da Fraternidade 2010

A Quaresma é um tempo forte de oração, penitência e caridade como exercícios de conversão, que nos preparam para viver a Páscoa, ressurreição e vida nova em Cristo Jesus. Inspirada nos quarenta anos em que o povo de Deus viveu no deserto se purificando para entrar na Terra Prometida e os quarenta dias em que Jesus viveu no deserto antes de iniciar Sua missão na vida pública. A oração, o jejum e a esmola são os elementos fundamentais da espiritualidade quaresmal, nós somos chamados – na Escuta da Palavra de Deus, na participação nos Sacramentos e na vida comunitária – a atualizar o mistério de Cristo e Sua salvação na vida da Igreja hoje.

   

Neste tempo de reflexão, cujo objetivo é a transformação da nossa vida, penso que numa espiritualidade que não gera vida e transformação não é autenticamente cristã. Não somente a minha vida, os meus interesses, mas o de todos, ou seja, o bem comum de todos os irmãos, a sociedade. A Campanha da Fraternidade reflete sobre a "Fraternidade e Economia", tendo como lema: "Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro" (cf. Mt 6,24). Suscitando em nós o debate sobre a economia e a fé em Deus a serviço do bem comum, por uma economia a favor da vida! Para rezar e fazer pensar na verdadeira finalidade do dinheiro e dos bens de consumo, do consumismo e do valor das coisas e da pessoa humana em relação ao bem material e ao relacionamento com Deus Pai.

  

O que é economia? É a ciência social que estuda a produção, distribuição e consumo de bens e serviços. O termo "economia" vem do grego "oikos" (casa) e "nomos" (costume ou lei) ou também gerir, administrar: daí "regras da casa" (lar) e "administração da casa".

"Dinheiro" vem do latim "denariu". Moeda corrente, valor representativo de qualquer quantia. Nome comum a todas as moedas. Numerário, quantia, soma. Todo e qualquer valor comercial (cheques, letras, notas de banco etc.).

"Servir" vem do latim "servire". Estar a serviço de; prestar serviços a: Servia um bom amo. Prestar serviços; ser servo ou criado: Fora contratada para servir. Ajudar, auxiliar, ser útil, servidor, benfazejo: Gostamos de servir os amigos. Servir a pátria; servi-la com a pena ou com a espada. "O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir" (cf. Mateus, 20, 28).

Em minha opinião o grande desafio, além de não esvaziar a espiritualidade da Quaresma, é permitir que os exercícios quaresmais e a vivência do Mistério de Cristo possam me converter para a prática da justiça e da paz. A nossa proposta, para viver neste tempo, é uma conversão que extermine em nós e ao nosso redor todo tipo de serviço e idolatria ao dinheiro, servindo a injustiça e a corrupção dos bens e da alma. Como faremos isso? Trabalhando em nós e na nossa casa, comunidade, trabalho e escola como nos servimos do dinheiro e dos bens, qual a nossa verdadeira relação, produzir uma economia a favor da vida e da justiça.

Nesta formação nós não podemos esquecer os valores primordiais da vida, da partilha, do respeito, da igualdade dos valores cristãos, pois cidadãos bem formados e firmes nas hierarquias de valores não se deixam vencer pelos mecanismos da injustiça, que gera corrupção. Provocar uma atitude positiva do Estado, ou seja, nos governantes para que todos tenham, com dignidade e trabalho, a satisfação de suas necessidades pessoais e comunitárias. Crescer no diálogo, promovendo a reconciliação, o perdão, que é uma virtude cristã, exercitar a capacidade de promover o outro nas suas qualidades e diferenças, ajudando-o a sair da margem de nossa sociedade, isso é caridade. Nos exercícios da Via-Sacra, nas celebrações, nos grupos de orações e círculos bíblicos, iluminando com a nossa fé os nossos compromissos cristãos.

Este assunto é muito complexo, mas acho que consegui pensar numa proposta para casar bem dentro de nós Quaresma e Campanha da Fraternidade:

 

A nossa proposta para viver este tempo é uma conversão que extermine em nós e ao nosso redor todo tipo de idolatria ao dinheiro, consumismo, desigualdade social para construir o homem novo e reconstruir o mundo, que sirva a Deus Senhor e Juiz da História.

 

 

Oração: Ó Deus criador, do qual tudo nos vem, nós te louvamos pela beleza e perfeição de tudo que existe como dádiva gratuita para a vida. Nesta Campanha da Fraternidade Ecumênica, acolhemos a graça da unidade e da conivência fraterna, aprendendo a ser fiéis ao Evangelho. Ilumina ó Deus, nossas mentes para compreender que a boa nova que vem de ti é amor, compromisso e partilha entre todos nós, teus filhos e filhas. Reconhecemos nossos pecados de omissão diante das injustiças que causam exclusão social e miséria. Pedimos por todas as pessoas que trabalham na promoção do bem comum e na condução de uma economia a serviço da vida. Guiados pelo teu Espírito, queremos viver o serviço e a comunhão, promovendo uma economia fraterna e solidária, para que a nossa sociedade acolha a vinda do teu reino. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

Tenha uma santa Quaresma.

Padre Luizinho
Comunidade Canção Nova

2 de março de 2010

Como enfrentar as provações?

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Sofrer, com paciência, é sabedoria, pois assim se vive com paz
As provações nos fortalecem para o combate espiritual; por isso, os Apóstolos sempre estimularam os fiéis a enfrentá-las com coragem. São Pedro diz: "Caríssimos, não vos perturbeis no fogo da provação, como se vos acontecesse alguma coisa extraordinária. Pelo contrário, alegrai-vos em ser participantes dos sofrimentos de Cristo..." (1 Pe 4,12). Ensinando-nos que essas dificuldades nos levarão à perfeição: "O Deus de toda graça, que vos chamou em Cristo à sua eterna glória, depois que tiverdes padecido um pouco, vos aperfeiçoará, vos tornará inabaláveis, vós fortificará" (1 Pe 5,10).

O mesmo Apóstolo ensina-nos que a provação nos "aperfeiçoará" e nos tornará "inabaláveis". É importante não se deixar perturbar no fogo da provação. Não se exasperar, não perder a paz e a calma, pois é exatamente isso que o tentador deseja.

Uma alma agitada fica a seu bel-prazer. Não consegue rezar, fica irritada, mal-humorada, triste, indelicada com os outros e acaba deprimida.

O antídoto contra tudo isso é a humilde aceitação da vontade de Deus no exato momento em que algo desagradável nos ocorre, dando, de imediato, glória a Deus, como São Paulo ensina:

"Em todas as circunstâncias dai graças, pois esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus" (1 Tes 5,16).

É preciso fazer esse grande e difícil exercício de dar glória a Deus na adversidade. Nesses momentos gosto de glorificar a Deus, rezar muitas vezes o "Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo..." até que minha alma se acalme e se abandone aos cuidados do Senhor.

Essa atitude muito agrada ao Senhor, pois é a expressão da fé pura de quem se abandona aos Seus cuidados. É como a fé de Maria e de Abraão que "esperaram contra toda a esperança" (cf. Hb11,17-19), e assim, agradaram a Deus sobremaneira.

Da mesma forma, Jó agradou muito ao Todo-poderoso porque no meio de todas as provações, tendo perdido todos os seus bens e todos os seus filhos, ainda assim soube dizer com fé:

"Nu saí do ventre da minha mãe, nu voltarei. O Senhor deu, o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor!" (Jo 1,21).

Afirmam os santos que vale mais um "Bendito seja Deus!", pronunciado com o coração, no meio do fogo da provação, do que mil atos de ação de graças quando tudo vai bem.

O Jardineiro Divino da nossa alma sabe os métodos que deve empregar para limpar cada alma. Não se assuste com as podas que Ele fizer no jardim de sua alma.

Santa Teresa diz que ouviu Jesus dizer-lhe: "Fica sabendo que as pessoas mais queridas de meu Pai são as que são mais afligidas com os maiores sofrimentos". E por isso afirmava que não trocaria os seus sofrimentos por todos os tesouros do mundo. Tinha a certeza de que Deus a santificava pelas provações. A grande santa da Igreja chegou a dizer que "quando alguém faz algum bem a Deus, o Senhor lhe paga com alguma cruz".

Para nós, essas palavras parecem um absurdo, mas não para os santos, que conheceram todo o poder salvífico e santificador do sofrimento.

"As nossas tribulações de momento são leves e nos preparam um peso de glória eterna" (2Cor 4,17).

Quando São Francisco de Assis passava um dia sem nada sofrer por Deus, temia que o Senhor tivesse se esquecido dele. São João Crisóstomo, doutor da Igreja, diz que "é melhor sofrer do que fazer milagres, já que aquele que faz milagres se torna devedor de Deus, mas no sofrimento Deus se torna devedor do homem".

As ofensas, as injúrias, os desprezos, os cinismos irritantes, as doenças, as dores, as lágrimas, as tentações, a humilhação do pecado próprio, etc., nos são necessários, pois nos dão a oportunidade de lutar contra as nossas misérias.

Isso tudo, repito mais uma vez, não quer dizer que Deus seja o autor do mal ou que Ele se alegre com o nosso sofrimento, não. O que o Senhor faz, de maneira até amável, é transformar o sofrimento, que é o salário do próprio pecado do homem, em matéria-prima de nossa própria salvação, dando assim, um sentido à nossa dor.

A partir daí, sob a luz da fé, podemos sofrer com esperança. É o enorme abismo que nos separa dos ateus, para quem a dor e a morte continuam a ser o mais terrível dos absurdos da vida humana.

A provação produz a perseverança, e por ela, passo a passo, chegaremos à perfeição, como nos ensina são Tiago.

"Nós nos gloriamos também nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a perseverança..." (Rom 5,3-5).

Sofrer com paciência é sabedoria, pois assim se vive com paz. Quem sofre sem paciência e sem fé, revolta-se, desespera-se, sofre em dobro, além de fazer os outros sofrerem também.

Santo Afonso disse que "neste vale de lágrimas não pode ter a paz interior senão quem recebe e abraça com amor os sofrimentos, tendo em vista agradar a Deus". Segundo ele "essa é a condição a que estamos reduzidos em consequência da corrupção do pecado".

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

25 de fevereiro de 2010

A beleza da moral católica

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O comportamento do cristão é uma resposta ao amor de Deus
A moral católica tem como objetivo levar o cristão à realização da sua vocação suprema que é a santidade. Ela tem como objetivo dirigir o comportamento do homem para o seu Fim Supremo que é Deus, que se revelou ao homem de modo especial em Jesus Cristo e sua Igreja.

A Moral vai além do Direito que se baseia em leis humanas; mas nem sempre perscruta a consciência. Pode acontecer de alguém estar agindo de acordo com o Direito, mas não de acordo com a consciência. Nem tudo que é legal é moral.

A Moral cristã leva em conta que o pecado enfraqueceu a natureza humana e que ela precisa da graça de Deus para se libertar de suas tendências desregradas e viver de acordo com a vontade de Deus.

Portanto, a Moral cristã e a Religião estão intimamente ligadas, tendo como referência Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Ser cristão é viver em comunhão com Cristo, vivendo Nele, por Ele e para Ele. É de dentro do coração do cristão que nasce a vontade de viver a "Lei de Cristo", a Moral cristã, e isto é obra do Espírito Santo. Não é um peso, é uma libertação.

O comportamento do cristão é uma resposta ao amor de Deus. Dizia S. João da Cruz que "amor só se paga com amor".

"Deus é amor" (1Jo 4, 16) e Ele "nos amou primeiro" (1Jo 4, 19).

Ninguém deve viver a Lei de Cristo, por medo, mas por amor ao Senhor que desceu do céu, e imolou-se por cada um de nós. Nosso amor a Deus não deve ser o amor do escravo que lhe obedece por medo do castigo, e nem do mercenário que o obedece por amor ao dinheiro, mas sim o amor do filho que obedece ao pai simplesmente porque é amado por ele.

São Paulo dizia: "O amor de Cristo me constrange" (2Cor 5,14).

Ninguém será verdadeiramente espiritual enquanto não viver a lei de Deus simplesmente por amor a Deus e não por medo de castigos.

Por outro lado, devemos viver a lei de Deus porque ela é, de fato, o caminho para a nossa verdadeira felicidade. Ele nos ama e é Deus; não erra e não pode nos enganar; logo, sua Lei, é o melhor para nós.

Quem não obedece ao catálogo do projetista de uma máquina, acaba estragando-a; assim, quem não obedece a Lei de Deus, acaba destruindo a sua maior obra que é a pessoa humana.

A Lei de Cristo se resume em "amar a Deus e amar ao próximo como a si mesmo" (cf. Mt 22, 37-40). Mas esse amor ao próximo não é apenas por uma questão de simpatia ou afinidade com ele, mas pelo exemplo de Cristo, que "nos amou quando ainda éramos pecadores", como disse S. Paulo. Por isso, o cristão odeia o pecado mas sempre ama o pecador. A Igreja ensina que não se deve impor a verdade sem caridade, mas também não se deve sacrificar a verdade em nome da caridade.

Deus sempre exigiu do povo escolhido, consagrado a Iahweh (Dt 7,6; 14,2.21), a observância das Suas Leis, para que este povo fosse sempre feliz e abençoado.

"Observareis os mandamentos de Iahweh vosso Deus tais como vo-los prescrevo" (Dt 4,2).

"Iahweh é o único Deus... Observa os seus estatutos e seus mandamentos que eu hoje te ordeno, para que tudo corra bem a ti e aos teus filhos depois de ti, para que prolongues teus dias sobre a terra que Iahweh teu Deus te dará, para todo o sempre" (Dt 14,40).

Deus tem um grande ciúme do seu povo, e não aceita que este deixe de cumprir suas Leis para adorar os deuses pagãos.

"Eu, Iahweh teu Deus, sou um Deus ciumento..." (Dt 5,9).

O Apóstolo São Tiago, lembra-nos esse ciúme de Deus por cada um de nós, ao dizer que:

"Sois amados até ao ciúme pelo Espírito que habita em vós" (Tg 4,5).

Deus não aceita ser o segundo na nossa vida, Ele exige ser o primeiro, porque para Ele cada um de nós é o primeiro.

Esse amor a Deus se manifesta exatamente na obediência aos mandamentos: "Andareis em todo o caminho que Iahweh vosso Deus vos ordenou, para que vivais, sendo felizes e prolongando os vossos dias na terra que ides conquistar" (Dt 5,33).

E as bençãos que Deus promete são abundantes:

"Se de fato obedecerdes aos mandamentos que hoje vos ordeno, amando a Iahweh vosso Deus e servindo-o com todo o vosso coração e com toda a vossa alma, darei chuva para a vossa terra no tempo certo: chuvas de outono e de primavera. Poderás assim recolher teu trigo, teu vinho novo e teu óleo; darei erva no campo para o teu rebanho, de modo que poderás comer e ficar saciado" (Dt 11.13-15; Lv 26; Dt 28).

Jesus disse aos Apóstolos: "Se me amais guardareis os meus mandamentos" (Jo 14,23).

"Nem todo aquele que diz Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai ..." (Mt 7,21) .

O nosso Papa Bento XVI tem falado do perigo da "ditadura do relativismo". Na homilia que proferiu na missa que precedeu o início do Conclave que o elegeu, ele deixou claro as suas maiores preocupações:

"...que nos tornemos adultos em nossa fé. Não devemos permanecer crianças na fé, em estado de menoridade. Em que consiste sermos crianças na fé? Responde São Paulo: "Significa sermos arrastados para lá e para cá por qualquer vento doutrinário. Uma descrição muito atual!""

"Quantos ventos doutrinários experimentamos nesses últimos decênios, quantas correntes ideológicas, quantos modos de pensamentos... O pequeno barco do pensamento de muitos cristãos se viu freqüentemente agitado por essas ondas arremessado de um extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo, e até mesmo a libertinagem; do coletivismo ao individualismo radical; do agnosticismo ao sincretismo, e muito mais. A cada dia nascem novas seitas, e as palavras de São Paulo sobre a possibilidade de que a astúcia nos homens, seja causa de erros são confirmadas."

"Ter uma fé clara, de acordo com o Credo da Igreja, muitas vezes foi rotulado como fundamentalista. Enquanto que o relativismo, ou seja, o deixar-se levar «guiados por qualquer vento de doutrina», parece ser a única atitude que está na moda. Vai-se construindo uma ditadura do relativismo que não reconhece nada como definitivo e que só deixa como última medida o próprio eu e suas vontades. Nós temos outra medida: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. Ele é a medida do verdadeiro humanismo. «Adulta» não é uma fé que segue as ondas da moda e da última novidade; adulta e madura é uma fé profundamente arraigada na amizade com Cristo."

O relativismo religioso é aquele em que cada um faz a "sua" própria doutrina moral, e não mais segue os Mandamentos dados por Deus. E quem não age segundo esta perversa ótica, é então menosprezado e chamado de retrógrado, obscurantista, etc.

Mas a Igreja nunca trairá o seu Senhor. Demos graças a Deus por este novo Pedro que Ele pos à frente do Seu Rebanho! Caminhemos com alegria e coragem, pois: "Ubi Petrus, ibi Ecclesia, ubi Ecclesia ibi Christus" – Onde está Pedro está a Igreja, onde está a Igreja está Jesus Cristo. (São Basílio Magno)

Viver a Moral católica é ser fiel a Jesus Cristo e a tudo o que Ele ensina através da sua Igreja.

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

23 de fevereiro de 2010

Tristeza ou depressão?

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Tristeza não tem nada a ver com depressão

Muitas pessoas dizem: "Estou deprimida" quando querem dizer que estão tristes. A palavra "depressão" é atualmente utilizada como sinônimo de tristeza. Na verdade, tristeza não tem nada a ver com depressão, apesar de ser um dos sintomas dessa enfermidade. Enquanto uma é sinal de saúde, a outra é uma doença que requer tratamento adequado.

Para você entender melhor: a tristeza é um sentimento momentâneo, com um motivo conhecido, e é saudável e importante, pois ajuda na elaboração das perdas ou dos sofrimentos ocasionais, permitindo uma reorganização interna, necessária para a superação da situação enfrentada. A tristeza pode surgir por diversos motivos, pelo acontecimento de algo ruim ou não agradável, pela lembrança de momentos difíceis já vivenciados, pela vivência de perdas (emprego, entes queridos ou qualquer tipo de perda), fazendo com que a pessoa se sinta profundamente angustiada e desmotivada.

Mas esse é um sentimento passageiro e se prolonga por um período curto de tempo (cerca de 2 meses), no qual esse quadro vai dimunindo gradativamente e a vida vai retomando o ritmo normal.

Se isso não acontece, ou seja, se a tristeza começar a impedir o "funcionamento" normal do cotidiano, persistir com o tempo e começar a surgir sentimentos como apatia, indiferença, falta de prazer pela vida, então, pode ser o início de uma depressão.

É importante você entender que a tristeza e a depressão não são um "defeito" de caráter, de personalidade, assim como não são sinal de fraqueza, nem mesmo de falta de fé. O sentimento de tristeza é inerente à condição humana e a depressão é uma doença que precisa ser levada a sério e ser devidamente tratada, para que não se torne uma doença crônica ou grave e para que não tenha recorrências futuras.

Depressão é uma doença, que, graças a Deus, tem tratamento. Seguindo os passos indicados pelos médicos, acompanhada de psicoterapia, de atividades físicas e da busca de uma vida de oração, a pessoa poderá se recuperar plenamente.

O principal sintoma da depressão é a queda de energia e não a tristeza. É a energia vital da pessoa que está deprimida. Com isso, se a pessoa não tem o sintoma da tristeza, muitas vezes, sente dificuldade de identificar a doença, buscando outras justificativas para os outros sintomas apresentados, e só buscando o tratamento tardiamente, o que pode agravar o quadro.

Para o diagnóstico da depressão, são necessários pelo menos cinco dos seguintes sintomas durante um período de duas semanas:

– Humor deprimido na maior parte do dia, sentimento de tristeza, melancolia, vazio sem causa aparente. Em crianças e adolestecentes pode aparecer um humor irritável.

– Acentuada diminuição do interesse ou prazer em quase todas as atividades do dia; perda de interesse pela vida.

– Perda ou ganho significativo de peso sem estar de dieta ou diminuição ou aumento do apetite.

– Insonia ou hipersonia, em quase todas as noites.

– Agitação ou retardo psicomotor (observável pelos outros), em quase todas as atividades do dia. A pessoa se sente pesada, lenta ou com uma agitação improdutiva.

– Fadiga ou perda de energia, em quase todas as atividades do dia.

– Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva e inadequada.

– Diminuição da capacidade de concentração ou indecisão, em quase todas as atividades diárias.

As causas da depressão ainda não são bem identificadas. Acredita-se que fatores genéticos e ambientais (perdas e eventos estressantes) influenciam o desencadeamento da doença. Por isso, recomenda-se que, ao se perceber esses sintomas, procure-se o médico imediatamente para o correto diagnóstico e para se dar início ao tratamento.

Entenda bem: tristeza e depressão não são sinônimos. A tristeza é um sentimento difícil, doloroso, mas é necessário para a superação das dificuldades, sendo inclusive, sinal de saúde. O mesmo não se pode dizer da depressão que, caso não seja tratada, pode comprometer toda a saúde física e mental do indivíduo.


Foto Manuela Melo
psicologia@cancaonova.com

19 de fevereiro de 2010

É hora de decisão

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Os Mandamentos do Senhor são caminhos de liberdade

"Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças. Os mandamentos que hoje te dou serão gravados no teu coração. Tu os inculcarás a teus filhos, e deles falarás, seja sentado em tua casa, seja andando pelo caminho, ao te deitares e ao te levantares. Atá-los-ás à tua mão como sinal, e os levarás como uma faixa frontal diante dos teus olhos. Tu os escreverás nos umbrais e nas portas de tua casa" (Deut 6, 4-9).

Quando você visita um judeu ortodoxo, as portas de sua casa estão marcadas com os mandamentos. Nós, hoje, precisamos marcar as nossas portas com o sinal da salvação. Vamos consagrar o nosso lar ao Senhor, pois não permitiremos que o inimigo entre em nossos lares.

O Primeiro Mandamento é: "Amarás o Senhor teu Deus com toda a tua força e com toda a tua alma". Mas para que os Mandamentos do Senhor tenham efeito na nossa vida, nós precisamos ouvir a voz e a vontade d'Ele. É necessário ouvirmos, pois a Palavra de Deus é luz para nossos passos, é libertação. E quem quer ser liberto precisa ouvir a vontade de Deus. E quem ouve a Palavra de Deus é semelhante a um homem sábio. Quando entramos em uma livraria, vemos que as prateleiras estão lotadas de livros de "autoajuda" - todos estão procurando ajuda - mas, na verdade, eles estão procurando sabedoria.

E o homem sábio é aquele que firma a sua casa no Senhor. A Palavra de Deus realiza a sua eficácia porque a ouvimos. Você só será feliz se você praticá-la [a Palavra de Deus]. Ouvindo-a precisamos ter a intenção de praticá-la.

Existe uma passagem biblíca que diz que um pai tinha dois filhos. Ele chamou o primeiro e disse: "Filho vai trabalhar na vinha". E o filho respondeu dizendo que "sim", mas não foi. O pai chamou o segundo, mas esse respondeu que "não", mas no final acabou indo. Qual deles obedeceu ao genitor? O segundo, porque fazer a vontade do Pai, muitas vezes, não implica fazê-la com a boca, mas obedecê-la com o coração.

Em Mateus 19, 16-22, vemos que a primeira coisa que temos de reconhecer é que Deus é bom, que Deus é amor. A única razão que justifica estarmos aqui é porque o Senhor é bom. E por Ele ser bom e nos amar demais, Ele nos trouxe até aqui para nos agraciar. Para retirar de nós toda a tristeza, todo o lixo que o mundo foi depositando ao longo dos anos.

Jesus abre a porta para você. Se quiser ter vida, abra a porta do seu coração. Eu vim buscar a vida verdadeira e ela não se finda depois das festas. Vida nova começa, hoje, com a sua decisão.

Você que perdeu o sentido da vida, que sente uma tristeza profunda, hoje Deus abriu para você uma porta.

Os Mandamentos do Senhor são caminhos de vida e liberdade. Quando nos afastamos desses caminho perecemos. É por isso o Senhor o trouxe à Canção Nova: nestes dias Ele quer se revelar a você. Mas para que você tenha essa experiência com o Senhor é necessário se prostrar, deixar cair por terra os apegos, deixar que Ele conduza a sua vida.

Conversão é se agarrar ao Reino de Deus, é decisão. E decidir-se é deixar tudo por causa de Jesus. "Tenho emprego, casa, marido (mulher), mas eles não podem ser maiores que o meu Deus". O jovem rico encontrou o maior tesouro e Jesus só pediu que ele desprezasse tudo por causa d'Ele. E a Palavra diz que o jovem foi embora triste. E tudo porque ele não foi capaz de deixar tudo por causa do Senhor.

Uma vez perguntaram para Jesus o que era necessário para entrar no Reino de Deus e Ele disse que era necessário sermos como criancinhas, porque elas são desapegadas. O que nos salva é abandonar tudo como uma criança. Hoje estamos recomeçando a nossa vida. E vou dizer um segredo: você está começando a sua nova vida muito bem, porque você está entregando as rédeas da sua vida nas mãos de Deus.

Santo Agostinho, no início da sua conversão, não conseguia dar passos, porque para tudo ele dizia: "Vou fazer amanhã". E quando ele se deu conta de que era necessário não deixar para amanhã, mas sim fazer naquele exato momento, ele viu que era possível caminhar.

Até quando vamos dizer "Amanhã, amanhã..."? Por que não agora? Muitas vezes você está pegando fôlego para pular no fosso. Eu tenho uma notícia maravilhosa: nós vamos pular para o outro lado juntos!

Foto Márcio Mendes
marciomendes@cancaonova.com

17 de fevereiro de 2010

Qual o sentido da celebração das Cinzas?

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A intenção deste sacramental é levar-nos ao arrependimento dos pecados

A Quarta-feira de Cinzas foi instituída há muito tempo na Igreja; marca o início da Quaresma, tempo de penitência e oração mais intensa. Para os antigos judeus se sentar sobre as cinzas já significava arrependimento dos pecados e volta para Deus. As Cinzas bentas e colocadas sobre as nossas cabeças nos fazem lembrar que vamos morrer; que somos pó e que ao pó da terra voltaremos (cf. Gn 3, 19) para que nosso corpo seja refeito por Deus de maneira gloriosa para não mais perecer.

A intenção deste sacramental é levar-nos ao arrependimento dos pecados, marcando o início da Quaresma; e fazer-nos lembrar que não podemos nos apegar a esta vida achando que a felicidade plena possa ser construída aqui. É uma ilusão perigosa. A morada definitiva é o céu.

A maioria das pessoas, mesmo os cristãos, passa a vida lutando para "construir o céu na terra". É um grande engano. Jamais construíremos o céu na terra; jamais a felicidade será perfeita no vale em que o pecado transformou num vale de lágrimas. Devemos, sim, lutar para deixar a vida na terra cada vez melhor, mas sem a ilusão de que ficaremos sempre aqui.

Deus dispôs tudo de modo que nada fosse sem fim aqui nesta vida. Qual seria o desígnio do Senhor nisso? A cada dia de nossa vida temos de renovar uma série de procedimentos: dormir, tomar banho, alimentar-nos, etc... Tudo é precário, nada é duradouro, tudo deve ser repetido todos os dias. A própria manutenção da vida depende do bater interminável do cora­ção e do respirar contínuo dos pulmões. Todo o organismo repete, sem cessar, suas operações para a vida se manter. Tudo é transitório... nada eterno. Toda criança se tornará um dia adulta e, depois, idosa. Toda flor que se abre logo estará murcha; todo dia que nasce logo se esvai... e assim tudo passa, tudo é transi­tório.

Por que será? Qual a razão de nada ser duradouro? Com­pra-se uma camisa nova e, logo, já está surrada; compra-se um carro novo e, logo, ele estará bastante rodado e vencido por novos modelos, e assim por diante.

A razão inexorável dessa precariedade das coisas também está nos planos de Deus. A marca da vida é a renovação. Tudo nasce, cresce, vive, amadurece e morre. A razão profunda dessa realidade tão transitória é a lição cotidiana que o Senhor nos quer dar de que esta vida é apenas uma passagem, um aperfeiçoamento, em busca de uma vida duradoura, eterna, perene.

Em cada flor que murcha e em cada homem que falece, sinto Deus nos dizer: "Não se prendam a esta vida transitória. Preparem-se para aquela que é eterna, quando tudo será duradouro, e nada precisará ser renovado dia a dia."

E isso mostra-nos também que a vida está em nós, mas não é nossa. Quando vemos uma bela rosa murchar é como se ela estivesse nos dizendo que a beleza está nela, mas não lhe pertence.

Ainda assim, mesmo com essa lição permanente que Deus nos dá, muitos de nós somos levados a viver como aquele homem rico da parábola narrada por Jesus. Ele abarrotou seus celeiros de víveres e disse à sua alma: "Descansa, come, bebe e regala-te" (Lc 12,19b); ao que o Senhor lhe disse: "Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma" (Lc 12,20).

A efemeridade das coisas é a maneira mais prática e cons­tante encontrada por Deus para nos dizer, a cada momento, que aquilo que não passa, que não se esvai, que não morre, é aquilo de bom que fazemos para nós mesmos e, principalmente, para os outros. Os talentos multiplicados no dia a dia, a perfei­ção da alma buscada na longa caminhada de uma vida de me­ditação, de oração, de piedade, essas são as coisas que não passam, que o vento do tempo não leva e que, finalmente, nos abrirão as portas da vida eterna e definitiva, quando "Deus será tudo em todos" (cf. 1 Cor 15,28).

A transitoriedade de tudo o que está sob os nossos olhos deve nos convencer de que só viveremos bem esta vida se a vivermos para os outros e para Deus. São João Bosco dizia que "Deus nos fez para os outros". Só o amor, a caridade, o oposto do egoísmo, pode nos levar a compreender a verdadeira di­mensão da vida e a necessidade da efemeridade terrena.

Se a vida na terra fosse incorruptível, muitos de nós jamais pensarí­amos em Deus e no céu. Acontece que o Todo-poderoso tem para nós algo mais excelente, aquela vida que levou São Paulo a exclamar:

"Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64,4), tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam" (1 Cor 2,9).

A corruptibilidade das coisas da vida deve nos convencer de que Deus quer para nós uma vida muito melhor do que esta - uma vida junto d'Ele. E, para tal, o Senhor não quer que nos acostumemos com esta [vida], mas que busquemos a outra com alegria, onde não have­rá mais sol porque o próprio Deus será a luz, nem haverá mais choro nem lágrimas.

Aqueles que não creem na eternidade jamais se confor­marão com a precariedade desta vida terrena, pois sempre so­nharão com a construção do céu nesta terra. Para os que creem a efemeridade tem sentido: a vida "não será tirada, mas transformada"; o "corpo corruptível se revestirá da incorrupti­bilidade" (cf 1Cor 15,54) em Jesus Cristo.

Santa Teresinha não se cansava de exclamar:

"Tenho sede do Céu, dessa mansão bem-aventurada, onde se amará Jesus sem restrições. Mas, para lá chegar é preciso sofrer e chorar; pois bem! Quero sofrer tudo o que aprouver a meu Bem Amado, quero deixar que Ele faça de sua bolinha o que Ele quiser".

São Paulo lembrou aos filipenses: "Nós somos cidadãos do Céu!. É de lá que também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele transformará nosso corpo miserável, para que seja conforme o seu corpo glorioso, em virtude do poder que tem de submeter a si toda a criatura" (Fl 3, 20-21).

A esperança do Céu e da Sua glória fazia o Apóstolo dizer:

"Os olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64,4), o que Deus tem preparado para aqueles que o amam" (1 Cor 2,9).

E essa esperança lhe dava as forças necessárias para vencer as tribulações: "Tenho para mim que os sofrimentos da vida presente não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada" (Rom 8,18).

Este é o sentido das Cinzas.

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

12 de fevereiro de 2010

Direitos Humanos

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Quem defende o aborto nega sua condição de católico

O III Plano Nacional de Direitos Humanos ao falar da "autonomia" da mulher sobre seu próprio corpo e recomendar que o Congresso altere o Código Penal a fim de descriminalizar a prática do aborto recomenda um crime qualificado contra a humanidade e contra o próprio Brasil.

Ele quer outorgar legitimidade jurídica a um crime infamante, estabelecer como um direito democraticamente exigível o mais abominável dos delitos e o financiamento dele beneficiando os carrascos com dinheiro público.

Contra o povo brasileiro, povo apaixonado pela vida humana, tantas vezes comprovado em estatísticas da maior seriedade, a última deste mês em que não chega a um quarto de cidadãos brasileiros os que querem manchar de sangue de crianças o mapa do Brasil.

Em 2007, o Partido dos Trabalhadores aprovou, em seu programa, a luta pela implantação do aborto no Brasil. Isso não pode acontecer, pois é projeto revestido de fanatismo cruel contra o nascituro. Podemos dizer que é um dos projetos mais bárbaros de aborto conhecidos no mundo, que defende de modo obsessivo e neurótico a morte legal de inocentes.

Se o Governo atual aprova tal Plano torna-se o inimigo número um da sociedade e o primeiro elemento desestabilizador da ordem social. Os que deveriam ser construtores e defensores da vida tornaram-se de modo incompreensível uma enorme ameaça contra o Brasil todo.

A Igreja defende e defenderá sempre que a vida humana é sagrada e inviolável desde o momento da concepção até o final da sua existência. Dessa sacralidade e inviolabilidade nasce o direito de todo ser humano a ser respeitado, protegido e promovido no desenvolvimento de sua existência em qualquer momento ou situação. Sempre em nome da razão e da dignidade nativa do homem e não só da fé, a Igreja o defenderá quando estiver em pauta qualquer vida humana.

Estamos comprometidos, juntamente com todo o povo brasileiro, com uma cultura da vida e não da morte. "Quem defende o aborto nega sua condição de católico", proclamava bem alto o Papa João Paulo II (Ev.V 62). Como cristãos é impossível ficarmos calados e concordar com a decisão de aprovar tal projeto que nega o direito à vida.

Defender e promover a vida e posicionar-se contra o aborto provocado é uma questão de humanidade. Não há nada que possa justificá-lo porque nada pode justificar o assassinato frio e calculado de uma vida humana inocente.

Podemos usar um dos Dez Mandamentos para dizer: Dr. Vannucchi, Dr. Temporão, Presidente Lula e tantos órgãos responsáveis pela defesa da vida: "Não matarás!"

O evangelho da vida, o evangelho da dignidade humana e o evangelho do amor de Deus aos homens é um mesmo e único Evangelho. O homem não tem direito de destruí-lo.

Dom José Luis Azcona
Bispo da Prelazia de Marajó (PA)

Fonte: CNBB

10 de fevereiro de 2010

Procurando a alegria?

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Grandes multidões levadas pela euforia

Conscientes ou não, o certo é que todos nós andamos incansavelmente à procura da felicidade. Nascemos com este destino e embora as consequências de nossas escolhas, muitas vezes, nos façam pensar diferente, é inegável que Deus nos criou para a alegria; ser feliz é nossa vocação! Justamente por trazermos impressa na alma essa sede de felicidade é que andamos à procura desse bem; inclusive, muitas vezes, em lugares incertos.

Aproximam-se os dias de carnaval e nesta época é comum contemplarmos grandes multidões, levadas pela euforia, em busca da felicidade pelas avenidas da vida. Conheço gente que se programa o ano inteiro para "curtir" os dias carnavalescos. Alimentam a esperança de, ao menos por certos momentos, esquecer os problemas e "ser felizes". Desconhecem que Deus é a fonte da alegria plena e se afastam cada vez mais d'Ele, enquanto se deixam embalar pelo ritmo da euforia.

Não faz muito tempo, tive a oportunidade de entrevistar uma ex-passista da Portela. Fiquei surpresa com suas revelações, inclusive quando ela disse que não era tão feliz, como muitos imaginavam ao vê-la desfilar em grandes carros alegóricos no "Sambódromo". Segundo ela, muitas vezes, durante os desfiles, segurava um sorriso "congelado no rosto", enquanto seu coração era tomado de angústias. Quanto mais tomava consciência de que a alegria é algo mais que a euforia, tanto mais sentia o vazio tomar conta de si. Esperava, ansiosa, chegar a Quarta-feira de Cinzas para entrar em uma igreja e falar com Deus, que, aliás, naquela época, nem O reconhecia como Senhor. Revelou-me ainda que os dias após esse período eram sempre os piores do ano, pois sem o efeito do álcool e da adrenalina do ritmo, "caía na real" e sentia grande tristeza ao perceber que não era valorizada como pessoa, mas sim, como objeto.

Lembrando-me daquele depoimento, imagino quantos foliões passam por situações semelhantes nesses dias de carnaval! Quem dera poder levar uma palavra de ânimo a cada um, poder mostrar que existe uma alegria verdadeira e que todos nós somos capazes dela. A mídia não fala sobre isso, antes estimula a euforia liberal, afirmando que ser feliz é fazer tudo que se quer a qualquer hora. O que aliás, nem podemos chamar de liberdade, pois agir sem compromisso com a verdade e com a consciência, é libertinagem, e libertinagem não produz autêntica alegria!

Liberdade é fazer tudo o que é justo, bom e legítimo conforme a lei de Deus. Fora disso não seria escravidão?

O jovem Santo Agostinho é um exemplo claro de quem buscou a felicidade distante de Deus; ele mesmo confessa: "Tarde te amei beleza antiga e sempre nova... só em Ti encontrei a perfeita alegria que procurei distante de Ti". Acontece que fomos criados por Deus e é somente n'Ele nos sentimos plenos. Isso não é uma conclusão religiosa, é fato de vida! Se você procura a alegria, deve considerar também esta verdade. A alegria é um dom do Espírito Santo. É mais do que sentimento, é um estado de alma, fruto da confiança plena no amor do Criador.

Diz um provérbio inglês que: "O Cristão é a única Bíblia que ainda se lê neste mundo". Portanto, o carnaval é uma ótima oportunidade para testemunharmos nossa fé. Aliás, acredito que é mérito e dever de todo cristão iluminar este mundo com um testemunho de esperança.

É tempo de mostrar, com a vida, que a alegria plena tem endereço certo e, portanto, é possível encontrá-la. Lembre-se de que essa virtude [alegria] não é ausência de problemas; é expressão de confiança nos desígnios de felicidade que Deus tem para nossa vida. Desígnios são mais que simples desejo; são as disposições e projetos de Deus a nosso respeito. Ele tem desígnios de amor e felicidade para nossa vida, necessitamos entrar nos propósitos d'Ele para que sejamos plenamente felizes. O próprio Senhor nos garante em Sua Palavra: "Bem conheço os desígnios que mantenho para convosco – oráculo do Senhor – , são desígnios de prosperidade e não de calamidade, de vos garantir um futuro e uma esperança" (Jr 29,11).

Portanto, alegre-se! Deus o quer feliz, tem desígnios de felicidade para você! Não deixe para depois do carnaval... Aproveite estes dias para participar de um dos inúmeros retiros que a Igreja promove neste tempo e experimente abandonar-se nos projetos do Senhor. Eu fiz essa experiência e sou muito mais feliz hoje. "Quando caminhamos segundo a vontade do Criador, nossa vida segue como um rio: tortuoso sim, mas seguro em seu curso natural" (monsenhor Jonas Abib).

Fomos criados para a verdadeira alegria, deixemos que o Criador nos conduza a ela.

Foto Dijanira Silva
dijanira@geracaophn.com

7 de fevereiro de 2010

A beleza da castidade

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A masculinidade e a feminilidade são dons de Deus

A castidade é um grande dom, que faz com que compreendamos a unicidade do nosso ser. A presença da castidade gera felicidade, dignidade, capacidade para amar, para se doar não por pedaços, mas para se doar por inteiro, como Jesus se deu na cruz. Hoje, vemos um mundo que despreza a beleza da castidade, por isso, as consequências são tão graves.

A castidade gera olhos transparentes, revela o próprio Cristo e aquela que é "toda bela", a Virgem Maria. Mas a ausência dessa virtude vai enfeando o homem. Aí a mulher precisa produzir-se cada vez mais e vai tornando a vida feia, vazia e infeliz.

Sem uma relação profunda de amizade no namoro não existe matrimônio verdadeiro e feliz. Mas como nós não priorizamos, no namoro, a amizade, temos matrimônios imaturos, inseguros, muitas vezes, gerados por relações sexuais pré-matrimoniais. Nós vemos os frutos disso na nossa casa, na nossa família. Temos visto uma sociedade que reivindica a regularização e a aceitação do adultério.

A sociedade nos diz o tempo todo que esse "negócio" de homem e mulher já era, que você é quem escolhe e, assim, vai negando a natureza e o dado inicial que Deus lhe deu. O Senhor o fez homem, não o fez outra coisa e você vai ser feliz sendo homem.

Rapazes, vocês são verdadeiramente homens! O mundo precisa de testemunho de virilidade, com a sua capacidade, com os seus dons, que complementam a mulher. A masculinidade de vocês é um dom de Deus. Vocês são verdadeiramente homens, inteiramente homens.

Pode ser que vocês tragam algumas feridas com vocês, mas não se deixem enganar pelo mundo! Não se arraste pelas modas que arrasam a masculinidade e a virilidade. Sejam homens por inteiro, como Cristo foi! Se há feridas em vocês, deixem que Ele, o Homem que é Cristo, pela Sua graça, pela castidade, os harmonize e os cure. Vocês serão felizes sendo quem vocês são. Quando, em Cristo, deixamo-nos ser aquilo que Deus nos criou, somos felizes.

Minhas queridas irmãs, quero lhes pedir em nome de Cristo, da Igreja e do mundo que vocês não percam o dom maior que Deus lhes deu: a feminilidade. A feminilidade de vocês nos torna mais homens. A feminilidade – não a sensualidade – torna seus esposos e seus filhos mais homens. A sensibilidade de vocês pode ser notada até quando um rosto muda. Vocês são capazes de fazer com que o mundo seja mais humano.

Não deixem de ser como Deus as fez: mulheres por inteiro, todas belas! Não caiam nas falácias do mundo de hoje, que querem que vocês entrem em competição com o homem. Não se deixem enganar pela sensualidade, pela negação da sua sexualidade como mulheres, como se pudessem ser outra coisa sem ser mulheres.

Mulher, que complementa o homem, que faz o mundo mais humano. Em vocês vejo minha mãe, minhas irmãs, minha cofundadora. Não deixem de ser o que vocês são pelas mentiras do mundo.

Onde começa essa deformação do mundo? Quando se despreza a castidade. Como podemos ser amigos da humanidade com uma sociedade que despreza a castidade? Como amigo de Deus e como amigo dos homens, eu sou chamado a testemunhar e a proclamar a beleza da castidade.

Trecho retirado da pregação de Moysés Azevedo, fundador da Comunidade Católica Shalom, durante Acampamento PHN 2007

2 de fevereiro de 2010

O que falta para você dizer 'sim'?

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Ninguém erra por buscar a vontade de Deus!

É impressionante perceber como Deus quer se manifestar em nossa vida cada vez de forma mais surpreendente. Ele não mede limites para nos proclamar o Seu Amor "constrangedor" e vê nas nossas limitações e misérias uma oportunidade de nos surpreender a todos, demonstrando no instrumento incapaz a plenitude da Sua manifestação.

Deus tem uma fascinação especifica por aqueles que se demonstram mais limitados, mais pecadores e por isso os separa, os consagra e os lança para o Seu povo. É assim que um chamado, com um "sim" decisivo dado a cada dia, se torna vida e felicidade para quem segue a voz do Bom Pastor. Um "sim" dado para sempre, mas que se renova a cada momento, a cada passo que damos rumo à realização plena da vontade de Deus.

Há uma pedagogia própria do Senhor para atrair aqueles que foram escolhidos por Ele. Ele usa daquilo que faz parte da vida do homem e manifesta a Sua vontade. A alguns Ele chama em meio aos campos, nas "praias" da vida e a outros, em meio ao barulho das cidades de um mundo que grita, tentando impedir-nos de escutar a doce voz que nos elegeu. Basta estarmos atentos aos sinais e poderemos perceber há quanto tempo Ele vem esperando que lancemos um simples olhar em Sua direção, para que então possa nos revelar – pouco a pouco – a Sua vontade.

Deus Pai escolhe quem quer, por isso não adianta tentarmos demonstrar o quanto somos fracos para tão grande missão, escondendo e justificando os nossos medos atrás de nossas misérias, pois o Senhor nos conhece mais do que nós mesmos, por essa razão nos chamou. Assim a nossa vida passa a ser um reconhecimento de que nada somos, mas que n'Ele tudo é possível. Reconhecemos que não merecemos esse chamado, por isso mesmo transformamos a nossa vida em um ato de louvor ao Senhor, com uma gratidão eterna que precisa ser demonstrada em fidelidade concreta.

Se Deus não mede esforços para nos demonstrar isso, – e mais do que isso –, para nos convencer de que Ele nos escolheu, porque ainda estamos perdendo tempo? O que mais nos falta para dizermos "sim" e nos lançarmos na vontade do Senhor? Coragem? Decisão? Abandono? Confiança?

Não podemos negar que é muito difícil romper com toda a ideologia depositada em nossa consciência, a qual nos leva a querer seguranças e tranquilidade. Fomos formados em uma sociedade imediatista, que quer o agora e na qual tudo é para ontem. Por isso é tão difícil. Mas não é impossível!

A cada dia cresce o número de jovens, rapazes e moças, que abandonaram tudo e decidiram viver abandonados em um Amor muito maior do que eles mesmos. Mais do que seguranças é o olhar de plena felicidade e realização interior que testemunham como vale a pena seguir a voz do Amado. Jovens que tiveram a coragem de romper com tudo e se lançar na novidade que o Evangelho nos oferece a cada dia. Eles são, com suas vidas, a prova concreta de que vale a pena.

Por que você ainda continua perdendo tempo? Se for uma palavra direta ou um sinal concreto de que você precisava para dar o primeiro passo, ao ler esse texto você o encontrou. Deus, mais uma vez, está falando com você! Pode ser que o medo do "novo" seja grande, mas onde está a ousadia própria da juventude? Você já foi corajoso para fazer muita coisa que não prestava na sua vida, por que então não demonstrar toda essa coragem agora, entregando sua existência nas mãos d'Aquele que verdadeiramente o ama?

O que, uma vez, escrevi, eu reafirmo: ninguém erra por buscar a vontade de Deus! Nunca me arrependi de ter dado um passo na direção da vontade de Deus para a minha vida; pelo contrário, à medida que continuo dando passos mais realizado e mais feliz eu sou, porque mais perto do Senhor eu estou.

Antes de tudo é para isto que o Todo-poderoso nos chama: para sermos d'Ele. E nessa Divina Vontade está o segredo da felicidade de tantos homens e mulheres, sorridentes em meio a um mundo triste. Por essa razão, não tenha medo de entregar ao Senhor aquilo que Lhe é de direito: a sua vida. Experimente como é maravilhoso ser amado e ser instrumento desse Amor maior. Deus está gritando! O que falta para você dizer "sim"?

Seu irmão,

Foto Renan Félix
renan@geracaophn.com

30 de janeiro de 2010

Unção para anunciar

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É preciso executar a missão de levar vida e salvação aos outros

Derramar óleo de oliveira na cabeça de determinadas pessoas escolhidas para missões especiais era costume no meio dos judeus. Jesus lembra as palavras de Isaías, aplicando-as a si: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor" (Lc 4, 18-19; Is 61, 1s). Não basta a unção, que é sinal da consagração de Deus. É preciso executar a missão de levar vida e salvação aos outros.

Jesus é chamado Cristo. Quer dizer "ungido". Ele assume a missão, dada pelo Pai, de salvar a humanidade. Ele realiza a libertação no sentido horizontal, mas com o sentido da verticalidade, ou seja, da superação dos males terrenos, mas em vista de se conseguir a felicidade eterna. O Papa Bento XVI nos coloca, na encíclica "Caridade na Verdade", o tema "O Desenvolvimento Humano Integral na Caridade e na Verdade". Ele lembra: "Eliminar a fome no mundo tornou-se, na era da globalização, também um objetivo a alcançar para preservar a paz e a subsistência da terra" (nº. 27). Por outro lado, o Pontífice lembra que "sem Deus o homem não sabe para onde ir e não consegue sequer compreender quem seja" (nº. 78).

Em termos de Igreja, precisamos valorizar, sem dúvida, a consagração das pessoas, mas sublinhando sua finalidade: a de dar vida ao mundo com os critérios de Deus. Para isso, a união ou comunhão eclesial é de suma importância para potencializarmos nossos instrumentos de evangelização. Só a sacramentalização não é suficiente. É preciso instruirmos, formarmos e darmos base de evangelização para se compreender e promover a libertação integral das pessoas. É preciso haver a superação de grupos fechados em si mesmos para ganharmos em comunhão e força de evangelização. Todos podem ter reta intenção, mas é preciso usar meios adequados para nos unir em função de transformar a sociedade com os critérios do Reino de Deus. Somos ungidos para evangelizar. Cumprimos essa missão em comunhão e mútua ajuda. Jesus mandou-nos ser luzes, indicando Seu caminho à sociedade. Na união, nossa luz fica forte e capaz de tirar as escuridões da vida das pessoas.

No mundo, cheio de propostas diferenciadas, somos instados a assumir a Boa Nova de Cristo, deixando-a impregnar nosso ser para testemunharmos sua verdade que salva. O ser humano sozinho, apesar de sua inteligência e seu desenvolvimento cultural, não é capaz de realizar um projeto de vida que o satisfaça plenamente. Só Deus preenche o vazio humano com a realidade de Seu amor. Por isso, recebendo a unção do batismo, temos a possibilidade de contribuir com a realização plena do ser humano, com os valores e os dons do Senhor deixados em Sua Igreja, depositária de Suas graças. Não se trata apenas de ritos, mas de realidade com o conteúdo dos dons de Deus, como Sua Palavra e Seus sacramentos.

Dom José Alberto Moura

26 de janeiro de 2010

Tristeza materna

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Um quadro clínico que requer atenção

No artigo anterior, comentei com você sobre a DPP - Depressão Pós-Parto, porém, é muito conhecido – entre a psicologia e a área médica – um outro quadro clínico chamado de "Tristeza Materna" (baby blues, post-partum blues).

O que muda entre um e outro é a intensidade dos sintomas e a gravidade do quadro e a forma como atinge a mulher, incapacitando-a, colocando em risco sua vida e a do bebê e a capacidade de fazer coisas, até mesmo as mais simples do dia a dia, como arrumar-se, fazer sua higiene pessoal, amamentar, dentre outras atividades.

Como já comentei, é muito importante que a mulher seja cuidada nesse período; é comum que o marido ou os parentes achem muito normal ou até mesmo uma fraqueza da mulher ou até "coisa de mãe e de grávida". O risco não é apenas materno, mas também da qualidade da saúde mental do recém-nascido, pois a mãe passa a destinar sentimentos negativos ao filho, muitas vezes, este passa a ser vítima de maus-tratos; em casos extremos ela sente vontade de eliminar a vida da criança. Isso não é apenas maldade ou falta de Deus. Trata-se, sim, de um quadro que requer atenção redobrada, acompanhamento materno e proximidade com ela.

A sociedade trata certas regras, quando falamos sobre depressão e gestação, como se a mulher necessariamente tivesse que transbordar de alegria diante do nascimento do filho. Isso é o socialmente esperado; porém, a estrutura emocional feminina reage de forma diferente a cada caso. Certamente, não é uma ingratidão pelo milagre de vida que lhe foi concedido, pelo milagre da maternidade. A tarefa de ser mãe, algo que pode inicialmente ser muito desejado, pode despertar sentimentos de incompetência, incapacidade, limitação nos papéis ocupados pela mulher na sociedade, na família, no casamento.

Gosto da leitura e complemento com um dos textos que busquei: "O processo de transformação psíquica que uma mulher precisa passar no ciclo gravídico-puerperal envolve três grandes momentos que englobam pequenas etapas vividas de formas diferentes para cada sujeito. A transformação da filha em mãe, a transformação da autoimagem corporal e a relação entre a sexualidade e a maternidade. Cada um destes temas requer uma reordenação psíquica que incide sobre as vicissitudes de cada mulher. A mentalidade de que a chegada de um filho é isenta de ambiguidade, tende a dificultar o auxílio que estas mães precisam receber. Algumas mulheres não conseguem admitir para si mesmas que merecem ajuda, escondendo dos cônjuges e da família seu estado" (IACONELLI, V. - Revista Pediatria Moderna, julho-agosto, 2005).

Os números mostram claramente esta realidade: a Tristeza Materna ("baby blues") acomete até 80% das mulheres, mas devido ao tabu mencionado pode se imaginar um índice até maior. "É um estado de humor depressivo que costuma acontecer a partir da primeira semana depois do parto. Este humor é coerente com a enorme tarefa de elaboração psíquica citada anteriormente (transformação da filha em mãe, a transformação da autoimagem corporal, a administração da relação entre a sexualidade e a maternidade). De forma geral, a mulher sente que perdeu o lugar de filha sem que tenha ainda segurança no papel de mãe; que o corpo está irreconhecível, pois se já não é mais de uma grávida tampouco retomou sua forma original; que entre ela e o marido encontra-se um terceiro elemento. O bebê emerge como um outro ser humano aos olhos desta mãe e precisa encontrar um espaço dentro desta configuração anterior (casal) de forma a deixar preservada a sexualidade dos pais. Forma-se o triângulo que remete o casal a suas próprias questões com seus pais" (idem).

O quadro é benigno, à medida que estas questões possam ser elaboradas e regridem por si só por volta do primeiro mês. Aparecem sintomas como irritabilidade, mudanças bruscas de humor, indisposição, tristeza, insegurança, baixa autoestima, sensação de incapacidade de cuidar do bebê e outros.

Lembre-se: "A tarefa de uma mãe de bebê é monótona, desgastante e sem recompensas ou reconhecimento do bebê, a curto prazo. O bebê é impiedoso em suas necessidades e é difícil que a mãe possa atender-lhe se estiver num estado de comprometimento psíquico" (idem).

O conhecimento é essencial na percepção e até mesmo antecipação da existência potencial desta problemática que acomete tantas famílias.

Deixe seus comentários! Espero que tenha gostado deste post!

Foto Elaine Ribeiro
psicologia01@cancaonova.com

22 de janeiro de 2010

Vocação para o casamento

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Para isso, é preciso orientação e formação

Vivemos num contexto social de muitas "éticas" até confrontantes. As desculpas para não se seguirem valores inerentes à natureza e a verdades objetivas são muitas. A título de ser moderno ou não retrógrado passa-se, não raro, por cima da verdade e do direito em função do modismo ou da satisfação pessoal. Compromissos com valores da dignidade humana, da família, do sexo, do respeito aos indefesos, do meio ambiente e do bem comum ficam para os que são formados e assumem a altivez de caráter como valor acima de outros interesses.

Na ordem afetiva, sentimental e sexual se fica muito à mercê da propaganda e dos desejos impulsionados pela libido e pela sensorialidade. Tais desejos nem sempre são canalizados por valores que orientam a pessoa à consecução da felicidade como conjugação do prazer momentâneo e aquele da realização de um ideal de vida. Fixando-se mais no animalesco do que no sentido da vida plenificado com valores éticos, morais e sociais, a pessoa está sujeita à irracionalidade do uso e da busca do prazer momentâneo como sendo isso absoluto. Nessa direção, a pessoa se torna insaciável e não encontra no prazer momentâneo um sentido mais elevado e realizador da vida.

Na trilha e na busca de sentido para a convivência matrimonial, pode haver ledo engano de realização humana, quando homem e mulher não se unirem em vista de uma real vocação conjugal. O impulso para o casamento, baseado unicamente no sensorial ou no desejo de os dois se gratificarem na complementaridade afetiva e sexual, frequentemente pode ser rompido com algum desequilíbrio de doação de um pelo outro. Havendo, porém, em ambos, a consciência e o pacto de mútua ajuda para conseguirem um ideal de vida por motivo de um sentido de vida maior, dá-se base de fecundidade na vocação matrimonial. Para isso, é preciso orientação e formação para o valor do casamento como verdadeira vocação. Preparação para tanto é fundamental.

Caso contrário, viveremos cada vez mais a panacéia de uniões que não levam à realização das pessoas que se casam, com as consequências muitas vezes danosas para tantos filhos! Não à toa Jesus Cristo fala da união para sempre do casamento entre homem e mulher, para a busca da felicidade, que está num ideal de vida buscado perenemente. A bênção divina está no bojo de tal encaminhamento. Mas é preciso, nessa direção, haver preparação, vontade e responsabilidade de construção da vida a dois para valer.

Nada, assim, vai tirar o casal do sério de uma vida de amor e doação autênticos. Meios coadjuvantes para isso encontramos na ordem natural e sobrenatural: diálogo, compreensão, boa vontade, colaboração, valorização do outro, perdão, oração, meditação na Palavra de Deus, sacramentos, aceitação das observações do outro, aconselhamento…

Muitos são os obstáculos para que o amor matrimonial corra nessa perspectiva. A influência do paganismo, da mediocridade, a falta de formação e influência de grandes meios de comunicação materialistas dificultam a juventude a se pautar na vida por valores acima apresentados. Aliás, na sociedade vemos duas vocações de fundamental importância: a família e a política. Justamente para as duas há muita falta de preparo! As consequências são óbvias!

A Palavra de Deus nos auxilia para valorizarmos a vocação matrimonial: "Maridos, amai as vossas mulheres, como o Cristo amou a Igreja e se entregou por Ela… Assim é que o marido deve amar a sua mulher, como ao seu próprio corpo… Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne" (Ef 5, 25.28.31).

Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros - MG

18 de janeiro de 2010

Passos para a conversão

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Nossa conversão é a ação do Espírito Santo em nós

Com São José, queremos aprender e nos deixar transformar pelo Senhor. Esses dias, eu fiquei meditando sobre a graça da conversão, que nos é dada . Hoje, eu vou falar sobre sete passos para a conversão:

1 - Onde acontece a minha conversão? Onde eu estou.

Aconteceu aquele problema, aquela surpresa, mas Deus estava e sempre estará com você em todos os momentos. O lugar da sua conversão é o lugar onde você está agora, porque a seu lado está o Senhor. Não importa o problema e a dificuldade pela qual você está passando com algumas pessoas. Nada disso pode atrapalhar a sua conversão. Esta se dá onde você está, aí neste lugar, neste problema, nesta situação. Não queria resolver situações pendentes, para só depois buscar se converter. Quem pensa assim, sempre arruma uma desculpa para deixar a sua conversão para depois.

Não queira fugir da sua realidade, pois é nela que Deus quer realizar uma obra em sua vida. O Senhor está na situação em que você se encontra. Ele está na sua realidade. Não despreze nada que possa ajudá-lo a se converter, nem a dor, nem pessoas, nem situações. Aproveite de tudo isso, pois não existe nada que não possa ser utilizado por Deus para sua conversão. Dessa forma, por causa dela [conversão], não fixe os olhos nas pessoas e nas situações. Para o seu bem, para que ela ocorra, não se fixe nas pessoas. Não olhe para elas, olhe "através" delas. Pois a meta é a conversão!

Não pergunte onde Deus está. Acredite e proclame que o Senhor está com você!

2 - Nossa conversão é a ação do Espírito Santo em nós.

O que devemos fazer é tornar nosso coração sensível às moções do Espírito. A missão d'Ele é nos santificar, mas nós temos o coração fechado para escutá-las [moções d'Ele]. Por isso, precisamos abrir o coração aos apelos d'Ele. É preciso ser obediente ao que Ele nos fala. É necessário entrar na "escola da sensibilidade e da obediência".

3 - Aceite que um caminho de transformação é uma "porta estreita".

"Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram" (Mt 7, 13-14).

O mundo oferece caminhos e portas largas e tem feito a sociedade se acostumar com isso. Contudo, você precisa passar pela "porta estreita", ela é o caminho que nos conduz à santidade. É necessário perceber "quem" ou "o que" é a "porta estreita da sua vida", que faz com que você seja mais misericordioso, mais paciente, mais corajoso, entre outros. Mas muitos de nós queremos nos ver livres desse "caminho apertado" e dessa "porta estreita". Jesus diz que poucos a encontrarão. E você? Já conheceu a sua?

4 - Quero realmente me converter? Quero realmente mudar de vida?

É preciso ter humildade para escutar o que pensam e o que falam de nós. Então, escute o que as pessoas têm a dizer sobre você e, diante de Nosso Senhor, pergunte: "O que há de verdade disso que estão dizendo sobre mim?" Pois, todos somos como um baú, que tem coisas boas e coisas ruins.

Quantas vezes, eu ouvi tantas coisas e voltei para casa chorando e, graças a Deus, chorei no colo da Eliana, minha esposa. Pessoas que me disseram, aqui, no pé da escada, que eu era autossuficiente, arrogante, etc. O que você escuta e o tira do sério é porque talvez possua um pouco de verdade. É tempo de mudança, e se você quiser mudar realmente, este é o tempo propício. Nosso Senhor espera de nós uma verdadeira conversão!

5 - Conversão é uma escolha que eu faço!

A sua conversão não é uma escolha de ninguém. É uma escolha muito pessoal. É você que quer mudar, que quer ser melhor, que quer ser de Deus. Portanto, a escolha é sua!

6 - O tempo da conversão é agora.

Nosso Senhor nos dá um tempo para a nossa conversão, e este tempo é agora. Neste momento, neste lugar. Aí onde você está, não existe outro lugar. Isso fundamenta o que eu lhe disse no começo da pregação: valer-se de tudo para a conversão.

7 - Converter-se pela oração. Retirar-se com Jesus.

Retire os olhos das pessoas, dos fatos. Você e eu precisamos aprender a ir mais para o "deserto" a fim de sermos transformados e abençoados. E assim nos converter com a oração e a meditação da Palavra de Deus.

Passe para outras pessoas esses sete passos. É tempo de conversão. Quem se converte, aproxima-se cada vez mais de Nosso Senhor Jesus Cristo. É preciso oferecer ao seu coração o que mais ele deseja e necessita: Nosso Senhor.

(Artigo extraído da pregação de março de 2007)

Ricardo Sá
Missionário da Comunidade Canção Nova

14 de janeiro de 2010

A escolha do amor

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Pessoas que têm certezas absolutas erram mais

Todos os dias fazemos escolhas em nossas vidas. Algumas escolhas são simples; outras, mais complexas. Escolhemos a roupa, o sapato, a alimentação, o trajeto. Escolhemos a escola, o trabalho, as prioridades. Como não é possível resolver todos os problemas de uma única vez, vamos escolhendo aqueles que precisam ser solucionados antes. Escolhemos no supermercado, na loja, a forma de pagamento. Algumas escolhas simples ficam complicadas quando complicamos a vida. Fazer um almoço se torna um calvário para quem está angustiado. Ter de escolher o que fazer e que agrade às outras pessoas da família parece um trabalho insano.

Escolher a escola dos fihos. Escolher a mudança de emprego. Aos poucos as escolhas vão exigindo mais reflexão e o resultado da escolha vai ficando mais sério. Uma coisa é escolher a comida errada no cardápio e decidir que não vai pedir mais aquele prato. Outra coisa é perceber que casou com a pessoa errada. A escolha do casamento tem de ser mais demorada do que a do produto de uma prateleira em um supermercado.

Como somos imperfeitos, a dúvida sempre fará parte de nossas escolhas. E é diante da dúvida que amadurecemos. Pessoas que têm certezas absolutas erram mais e sofrem mais com isso.

A dúvida nos torna mais humildes, mais abertos ao diálogo. Nesses momentos é que percebemos nossa maturidade frente aos obstáculos. Os mais concretos ou os mais abstratos.

Neste início de ano, uma modesta sugestão:

Diante das dúvidas que surgirem, escolha o amor.

Diante de sentimentos mesquinhos, como a inveja, o ciúme, a vingança; escolha o amor. Antes de falar, pense. Mas pense com amor.

Antes de agredir, lembre-se de que o tempo da cicatriz é mais demorado do que o tempo do comedimento.

Antes de usar a palavra como instrumento de maldizer, lembre-se de que o silêncio é o grande amigo e de que, na dúvida, o outro deve receber a sua compaixão.

Diante do comodismo, da alienação, escolha o amor em ação. Assim fizeram os apóstolos, mesmo sabendo que seriam incompreendidos; assim fez Francisco de Assis quando ousou chamar a todos de irmãos; ou Dom Bosco com os jovens que só se aquietavam quando se sentiam amados. Assim fez Madre Tereza de Calcutá que fazia a escolha do amor diante de cada próximo que dela precisasse. Diante da boa dúvida, é bom pedir ajuda.

Para os irmãos e para Deus, a essência do Amor. Os desafios são muitos. É por isso que sozinho fica difícil. Como diz a canção: "Eu pensei que podia viver por mim mesmo. Eu pensei que as coisas do mundo não iriam me derrubar".

E a oração continua e, com ela, nossa certeza: "Tudo é do Pai. Toda honra e toda glória. É Dele a vitória alcançada em minha vida".

Que sejamos responsáveis em nossas escolhas simples ou mais complexas. Mais uma vez, com amor, tudo fica mais fácil e mais bonito!

Um grande abraço!

Gabriel Chalita
http://blog.cancaonova.com/gabrielchalita/

9 de janeiro de 2010

Por que a Igreja cobra espórtulas e taxas?

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A prática das espórtulas é inspirada no Novo Testamento

Espórtulas são os valores cobrados pela Igreja quando esta ministra alguns Sacramentos (Batismo, Crisma e Matrimônio), especialmente a Santa Missa por alguma intenção especial.

Em primeiro lugar é preciso deixar bem claro que esta medida longe está de querer cobrar pelo sacramento ministrado. Cada um deles é impagável porque custou o preço do Sangue precioso de Jesus para a nossa salvação. Os sete sacramentos brotaram do Coração de Jesus transpassado pela lança na Cruz. É através deles que as graças da salvação, conquistadas a nós por Cristo, chegam a nós, e isso é impagável.

Então, por que a Igreja cobra uma taxa para celebrar alguns deles?

A prática das espórtulas é inspirada no Novo Testamento e existe durante quase dois mil anos. Essa prática tem duplo sentido:

1) para quem oferece sua dádiva é uma forma de participar, de maneira mais íntima, da oblação Eucarística e dos frutos desta; é expressão da fé e do amor com que tem acesso ao Pai por Cristo no Espírito Santo. Assim as espórtulas se justificam como a expressão da fé e do amor dos fiéis que desejam participar mais intimamente dos frutos da Santa Missa.

2) para a Igreja é um meio de sustentação legítimo, baseado na tradição bíblica e que não se trata de simonia, isto é, de comércio com as coisas sagradas. Após o Concílio do Vaticano II (1962-1965), que fez um balanço da vida eclesial, considerando as suas necessidades, o Papa Paulo VI regulamentou as espórtulas da Missa, em 13/06/1974, quando publicou o Motu próprio "Firma in Traditione", em que dizia:

"É tradição firmemente estabelecida na Igreja que os fiéis, movidos por seu espírito religioso e seu senso eclesial, acrescentem ao sacrifício eucarístico um certo sacrifício pessoal, a fim de participar mais estritamente daquele. Atendem assim às necessidades da Igreja e, mais particularmente, à subsistência dos seus sacerdotes. Isto está de acordo com o espírito das palavras do Senhor: 'o trabalhador merece o seu salário' (Lc 10,7), palavras que São Paulo lembra em sua primeira carta a Timóteo (5,18) e na primeira aos Coríntios (9,7-14)".

"O clero que, por seu trabalho, merece receber o necessário para se sustentar, deveria ter sua subsistência garantida por um sistema de financiamento independente de ofertas feitas por particulares ou pelos fieis que peçam serviços religiosos".

Depois disso, o assunto foi regulamentado também pelo Papa João Paulo II em 22 de janeiro de 1991, no Decreto SOBRE AS ESPÓRTULAS, preparado pela Sagrada Congregação para o Clero. O Código de Direito Canônico, promulgado em 25/11/83, quando fala das espórtulas, diz, entre outras coisas:

Cânon 945 - § 1. "Segundo o costume aprovado pela Igreja, a qualquer sacerdote que celebra ou concelebra a Missa, é permitido receber a espórtula oferecida para que ele aplique a Missa segundo determinada intenção".

§ 2. Recomenda-se vivamente aos sacerdotes que, mesmo sem receber nenhuma espórtula, celebrem a Missa segundo a intenção dos fiéis, especialmente dos pobres.

Cânon 946 – "Os fiéis que oferecem espórtula para que a Missa seja aplicada segundo suas intenções concorrem, com essa oferta, para o bem da Igreja e participam de seu empenho no sustento de seus ministros e obras".

Cânon 947 – "Deve-se afastar completamente das espórtulas de Missas até mesmo qualquer aparência de negócio ou comércio."

No início da Igreja, os cristãos, ao participarem da Santa Missa, levavam consigo dons naturais (pão, vinho, leite, frutas, mel...). Depois passou a se fazer doações também em dinheiro por ser mais prático. A Igreja, como uma sociedade também humana e inserida neste mundo, precisa de dinheiro para exercer a missão de pregar o Evangelho, confiada a ela pelo próprio Cristo, desde os tempos d'Ele. Os doze Apóstolos tinham uma caixa comum (cf. Jo 12,6). Jesus aceitava que algumas mulheres os ajudassem com seus bens, entre elas, Maria Madalena, Joana, mulher de Cuza, Susana e várias outras (cf. Lc 8,1-3).

A primeira comunidade cristã em Jerusalém praticava a voluntária partilha de bens (cf. At 2,44; 5,1-6). Jesus elogiou a oblação da viúva no Tesouro do Templo: "Em verdade eu vos digo que esta viúva, que é pobre, lançou mais do que todos os que ofereceram moedas ao Tesouro. Pois todos os outros deram do que lhes sobrava; ela, porém, na sua penúria ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver" (Mc 12,42-44).

E aqueles que não têm dinheiro para mandar celebrar a Santa Missa?

A Igreja reza diariamente por todas as grandes intenções e necessidades da humanidade (os doentes, os moribundos, os encarcerados, os falecidos...), também pelas almas do Purgatório, em todas as Celebrações Eucarísticas. Assim, não há almas abandonadas no Purgatório por falta de dinheiro da parte dos familiares.

Quando todos os católicos pagarem o dízimo – que a Igreja não obriga que seja 10% do que a pessoa ganha, embora isso seja bom –, então, certamente não será mais preciso cobrar taxas para a celebração dos sacramentos, como o Batismo, Crisma e Matrimônio. Mas isso ainda não é comum; por isso a Igreja precisa das taxas para suas necessidades materiais.

O Código de Direito Canônico afirma:

Cânon 222 § 1. "Os fiéis têm obrigação de socorrer às necessidades da Igreja, a fim de que ela possa dispor do que é necessário para o culto divino, para as obras de apostolado e de caridade e para o honesto sustento dos ministros."

O que o Catecismo da Igreja Católica diz no §2043: " Os fiéis cristãos têm ainda a obrigação de atender, cada um segundo as suas capacidades, às necessidades materiais da Igreja".

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

4 de janeiro de 2010

Por que rezar?

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Quando não falamos com alguém, perdemos a intimidade

Muitos podem se perguntar por que devem rezar. Eu sempre digo: a oração não muda nada em Deus. Ele é Imenso, Todo-Poderoso, Todo-Misericordioso, continua sempre o mesmo. Mas nós, à medida que rezamos, sentimos tudo se transformar em nossa vida. Desde o mais íntimo do coração, a mudança se faz. Uma pessoa que ora, transforma a si, aos outros e o ambiente onde está cumprindo sua missão. Mas a vida de oração não é nada fácil. Estão aí os grandes mestres de todos os tempos em nossa Igreja para nos ajudar.

Muitas vezes, as "noites escuras" de São João da Cruz se fazem presentes. Quem é que nunca passou por um deserto espiritual? Quem é que nunca se sentiu árido na vida de oração? Tudo isso faz parte da caminhada. O importante é perseverar e saber esperar. Santo Ignácio de Loyola fala de tempos de desolação. Mas temos também os tempos de consolação, afirma o mesmo santo [Ignácio]. Estes nos servem como reservatórios de céu... São aqueles momentos marcantes, nos quais a presença de Deus foi "sensível", foi irrefutável... Esses momentos ficam na memória do coração e nos reabastece por uma vida! Com Deus, devemos conversar como com um amigo! Aliás, para mantermos uma amizade, o diálogo contínuo se faz necessário.

Quando deixamos de falar com alguém, deixamos o espaço de tempo sem encontro ser muito grande, perdemos a intimidade, perdemos o brilho da amizade. Da mesma forma, com o Senhor, temos que renovar nossa amizade e o carinho por Ele e pelos que são d'Ele todos os dias. O encontro diário deve ser agradável. Devemos "marcar encontros" efetivos e afetivos com Nosso Senhor e Amigo. Efetivos no sentido de cumprirmos verdadeiramente o horário e o lugar e, de preferência, sempre os mesmos.

Crie o seu tempo e espaço de oração. E afetivos, porque devem ser marcados pelo amor, acima de tudo, encontros de louvor e ação de graças. Essa experiência nos faz experimentar o céu, e mesmo quando as nuvens parecerem encobrir o brilho do Sol, no coração uma certeza permanecerá: o Sol sempre estará lá, com seu intenso brilho! A vida de oração nos faz perceber que onde parece não haver caminho para nós, Deus faz um. Quantos são os testemunhos neste sentido? "Orai sem cessar. Em todas as circunstâncias dai graças, porque esta é a vosso respeito a vontade de Deus em Jesus Cristo" (1Ts 5,17-18).

Que Maria, Mulher do silêncio e Mestra de nossa vida espiritual, seja nossa companheira e guia!

Pe. Rinaldo Roberto de Rezende