17 de maio de 2010

O rosto da santidade

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Ser santo é ser discípulo
Nós fomos feitos para Deus e a finalidade de nosso coração deve ser chegar até Ele. Você só poderá se realizar à medida que descobrir que é uma criatura do Senhor.

Não queremos a sujeira, não queremos a imperfeição, pois o Todo-poderoso não nos fez para o pecado. Podemos dizer muito do Senhor, mas basta dizer que Ele é amor. É nesse mistério que compreendemos que Ele é Pai, Filho e Espírito Santo.

Você é atraído por Ele não só porque você queira o melhor, mas porque você quer comunhão. Para chegar a professar a fé em Jesus, você precisa fazer antes a experiência do seguimento. Não dá para descrever quem é Cristo, sem antes se pôr a segui-Lo.

Todos nós temos de renegar a nós mesmos, ou seja, vencer nosso convencimento. Todos (ninguém deve ficar de fora!) devem tomar sua cruz. Todos devem amar Aquele que não decepciona ninguém. Diz Santo Agostinho: "Sê constante, paciente, sofre as demoras e terás enfrentado a cruz". A estrada da vida, da plenitude, passa pelo seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ser santo é ser discípulo.

Guardem estas duas palavras: eleitos e santos. A santidade vem primeiro do Alto, pois é graça, é Deus quem no-la dá. Se você não fizer uma escolha, você será como aquele homem que constrói sua casa na areia. Aqueles a quem Deus escolhe para serem santos são aqueles que são pecadores.

Santa Maria Gorete, considerada a santa da castidade, morreu em defesa da sua pureza. Quando ela perdoou o seu agressor, ela chegou ao cume da santidade. Na sua canonização estava, ali presente, aquele que a havia assassinado. Naquela ocasião, Pio XII disse assim: "Nem todos são chamados ao martírio, mas todos são chamados a praticar as virtudes cristãs". Santidade exige atenção contínua até o fim da vida. Cada um, em sua condição de vida, siga os passos desta santa, com generosidade, com vontade firme.

Tenho encontrado em muitos lugares, tanto na Renovação Carismática Católica [RCC] como nas Novas Comunidades, verdadeiras "fábricas" de santos, pessoas que se dedicam plenamente ao Senhor. Todo o corpo da Igreja deve seguir a Cristo, que é o Santo de Deus. Essa é uma proposta para todos nós.

Quem é o rosto da santidade? O rosto, quem sabe, da mãe de família? Ou dos jovens? Temos de olhar para Virgem Maria, ela é o rosto da santidade! Ela tem o perfil da santidade, pelo qual constantemente precisamos buscar.

Meu irmão e minha irmã, prestem este serviço para o mundo de hoje: o rosto da santidade para este tempo tem de ser o seu. As pessoas têm direito de vê-lo na oração, sorrindo, com bom humor.

Dom Alberto Taveira
Arcebispo de Belém - PA

14 de maio de 2010

A amizade que não nos decepciona

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Muitas vezes, tememos a quem nós não deveríamos
Quando estamos cheios do Espírito Santo estamos, na realidade, recebendo o abraço de Deus. Quando temos uma experiência com este Senhor tudo em nossa vida muda. É impossível receber o Espírito do Senhor sem que aconteça uma mudança radical dentro de nós.

Muitas vezes, a nossa própria consciência nos tortura por causa de nossos erros. Ter consciência deles, por vezes, chega a nos travar, mas com relação a essa situação a Palavra de Deus nos ensina que contra toda acusação o Senhor está conosco.

A primeira libertação que recebi de Deus foi a libertação de meus medos. Percebi que eu tinha medo do Único de quem eu não deveria ter: o Senhor. Ele sempre me amou. Não era a Deus a quem eu precisava temer.

Este é Deus: Alguém que tomou posse de meu coração, Alguém que foi capaz de me defender até de mim mesmo. Quando reconhecemos nossas fraquezas, o Senhor vem nos defender. Não tenhamos medo! O que você fez de errado importa? Sim, importa, mas não é o suficiente para afastá-lo do Senhor. Quando Davi compôs o Salmo 31, que é uma oração belíssima, ele tinha experimentado isso, pois ela nasceu de uma vivência desse tipo. Veja bem uma coisa: Deus não só perdoou o pecado, mas perdoou também a pena deste pecado. Pena é a consequência, fruto do mal que fizemos e que se levanta contra nós. Mas o Senhor nos tirou até mesmo esta pena, esta consequência.

É aos necessitados que o Todo-poderoso atende e acolhe. Ele está envolvendo-nos, hoje, na alegria de Sua salvação. Ponha para fora de sua vida toda tristeza! Que ela vá aos pés da cruz, pois o Deus que o ama também o chama a se envolver na alegria de Sua salvação.

Devemos invocar o Espírito Santo até que Ele venha e quando Ele vier precisamos parar de invocá-Lo. Quando O acolhemos, começamos a nos entusiasmar e a contemplar Sua presença junto de nós.

Quando falamos de contemplar, falamos de ser como uma criança que para, olha e observa e que, por isso, consegue ver as maravilhas que deixamos passar despercebidas em nossa vida.

Precisamos nos admirar da presença do Senhor, que está no meio de nós e dizer: "Nós Te admiramos, Senhor, pois Tu és o nosso Amigo!"

Bendito seja Deus por sua amizade com o Espírito Santo! Ele é o Paráclito, palavra grega que para ser entendida em nosso idioma, o português, é preciso que seja traduzida em três palavras: Intercessor, Defensor e Consolador.

O Espírito Santo se compromete conosco e nos consola. Ele é muito mais que um Advogado, é um grande Amigo, que sempre nos acompanha.

Qualquer amigo que você encontra neste mundo, um dia, irá decepcioná-lo. Talvez ele o engane, o traia, lhe negue socorro, mas o Espírito Santo nunca vai decepcioná-lo!

(*)artigo produzido a partir da pregação do autor em Jul/2006

Foto Márcio Mendes
marciomendes@cancaonova.com

12 de maio de 2010

Fazer o caminho

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Acreditar no potencial de cada pessoa
O tempo real nos coloca no contexto de uma via, de um caminho, tendo um ponto de partida e outro de chegada. É tempo de alegrias e tristezas, de hostilidades e rejeição, ou não. Importa caminhar com muita coragem, não se deixando abater pelos desânimos que vão sendo encontrados. Pelo caminho, as deficiências vão sendo aos poucos curadas, os sonhos, às vezes, sendo realizados. Importa não ficar estagnado por causa dos problemas, dos preconceitos e situações impostas pelo novo contexto cultural. Não podemos perder as nossas forças e princípios motivadores.

Não é fácil acreditar no potencial existente em cada pessoa humana. Pior ainda é aceitar os prodígios realizados pelos que são comuns a todos nós. Podemos aqui destacar a frase muito popular: "Santo de casa não faz milagre". Mas isso não é verdade.

O certo é que toda pessoa humana existe para cumprir uma missão. É por isso que existem os dons, quase como um destino, uma configuração de responsabilidade, que abarca toda a existência concreta na história da humanidade.

É muito grande a força da existência. Ela coincide com a vontade do Criador, num tempo determinado, em vista da salvação e da libertação. Existimos para edificar um caminho florido pelas maravilhas de uma vida que precisa ser feliz.

A marca referencial é o amor fraterno na comunidade, ou no corpo social, construindo solidariedade e unidade. As competições, os interesses particulares, as preferências egoístas e os desejos de publicidade dificultam o verdadeiro caminho.

O bem comum é fruto de práticas concretas de amor. É amor que vem de Deus e existe em nós pelo fato de que Ele nos tornou Seus filhos adotivos. Amando os irmãos, amamos a Deus. Assim conseguimos construir uma humanidade sem barreiras.

O caminho depende de tempo, não de passado ou de futuro propriamente dito, mas do hoje, da vida real e concreta. É o testemunho na qualidade de vida do agora. É o jeito da pessoa ser, de viver, de celebrar e de agir no mundo com responsabilidade.

Dom Paulo Mendes Peixoto
Bispo de São José do Rio Preto

11 de maio de 2010

O sentimento de culpa

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Pessoas que possuem dificuldade para lidar com seus limites
A culpa atormenta a muitos, muitas vezes de forma tão intensa que pode "travar" a vida da pessoa. Ela traz junto a si tristeza, o desconforto e a ansiedade. É um sentimento imediato, irracional, de angústia e de autocondenação que, às vezes, atormenta-nos e nos faz sentir dores de estômago.

Mas de onde nasce este sentimento? A culpa nasce do conceito que trazemos dentro de nós do que é certo ou errado, do que é nosso dever fazer ou do que não devemos fazer. Conceitos introjetados em nós de acordo com a cultura em que vivemos. Ele surge [sentimento de culpa] quando contrariamos esses conceitos.

Quando a pessoa possui uma noção distorcida do próprio poder ou traz dentro de si conceitos muito rígidos e inflexíveis, noções desumanas de certo ou errado, tende a se sentir excessivamente culpada. Às vezes a culpa se refere não ao seu pesar por ter perdido o ideal, mas ao desapontamento por não ver realizado o desejo de ser amada, reconhecida, valorizada.

Outras pessoas, por não conseguirem deparar com o próprio erro, tendem a sempre colocar a culpa nos outros. Por outro lado, a culpa é importante no nosso processo de crescimento pessoal e amadurecimento humano, e aqueles que são destituídos desse sentimento, vivem num mundo sem moral e sem lei, o que pode ser muito perigoso e até doentio.

A culpa, portanto, tem diversas nuances: pode ser um sentimento destrutivo e infantil, que nos fecha em nós mesmos e nos impede de amadurecer, e pode ser um sentimento construtivo, essencial para sermos pessoas responsáveis e capazes de crescer. A culpa positiva nasce da comparação entre o meu "eu" e os valores que me solicitam: a consciência de ter transgredido um estilo de vida livremente aceito, ou seja, nasce da consciência de ter transgredido um valor importante para mim (sinto-a, porque perdi o verdadeiro sentido de minha vida). Nasce da capacidade de julgarmos a nós mesmos em termos dos valores morais que trazemos interiorizados. Nesse caso, quando a pessoa depara com o sentimento de culpa, o que acontece é uma atitude de autocrítica, de percepção do próprio erro e a decisão de mudança de comportamento e de postura diante do próprio erro.

Aqueles que possuem dificuldade para lidar com os próprios limites, erros, fracassos, incapacidades, tendem a se martirizar e se culpar de forma excessiva. A causa da culpa destrutiva pode ser o medo do castigo (real ou imaginário) proveniente dos outros ou da própria pessoa que tem esse sentimento, ou seja, o medo de ser castigada pelos outros ao ser descoberta em seu erro, ou uma tendência à autopunição e à autocondenação, na qual a pessoa se martiriza pelo próprio erro, travando toda a sua vida futura.

Aprender a reconhecer a própria culpa é aprender a reconhecer que temos limites, que somos frágeis, que somos humanos e, portanto, erramos.

Existem pessoas que fazem um ideal de si mesmas tão alto que isso se torna algo inatingível e, com isso, elas nunca conseguem estar à altura dos próprios ideais, caindo numa autocobrança impiedosa. Não podemos nos esquecer de que todos nós, homens e mulheres, trazemos em nós virtudes e defeitos, riquezas notáveis e incoerências.

Reconhecer a nossa culpa exige coragem para reconhecermos nossas próprias limitações. Reconhecer a própria culpa é essencial para que brote uma nova postura diante de nós mesmos e do mundo, sem cobranças, sem acusações, sem autopiedade.

Precisamos aprender a ter uma justa estima de nós mesmos, uma autoimagem correta e normal, no reconhecimento de que somos dotados de muitos elementos positivos e, ao mesmo tempo, possuímos muitos contornos limitantes que dificultam o agir. Ter uma imagem realista de nós mesmos, reconhecendo que não somos a pessoa que fomos no passado, mas que ainda não somos a pessoa que seremos no futuro.

Que tipo de sentimento de culpa você traz dentro de si? Uma culpa destrutiva, por medo de ser castigado ou por não admitir seus próprios erros? Ou uma culpa positiva, que nasce da consciência de nossa possibilidade de errar e que o leva a buscar ser cada dia melhor?

Foto Manuela Melo
psicologia@cancaonova.com

8 de maio de 2010

Ser mãe, eterno aprendizado

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A experiência mais transformadora que uma pessoa pode viver
É um desafio escrever para mães, não sendo uma delas, mas é comum dizer que a mulher, pela sua natureza, traz em si o dom de acolher e o dom da maternagem, ou seja, de acolher o outro com o amor filial. Esta é a graça de saber que já somos amados mesmo antes de ser gerados, é graça e dom de Deus o amor maternal.

Não sendo uma delas, mas atendendo muitas mães, vamos aprendendo, lendo e convivendo com genitoras que nos trazem diversas histórias de vida, aprendizados, experiências e gostariam de trocar a experiência da formação e aprendizado dos filhos.

O vínculo materno é algo estabelecido muito antes do nascimento e é o primeiro evento de organização psíquica (embora, primitivo) de uma criança; neste sentido, a mãe se torna um elemento primordial no cuidado da criança, na observação dos seus sentimentos e emoções, na formação de sua identidade. É por meio da mãe, seja ela com vínculo sanguíneo ou não, que damos início ao desafio de ser seres humanos e conviver em sociedade.

É na relação mãe-bebê que também a mãe também se realiza, partindo do princípio de que tudo é troca, mãe-bebê crescem na interação e na maturidade, com formas de ganho vivenciadas desde o princípio da relação. Mais do que instinto, ser mãe é algo que prende nossa atenção pelo fato de envolvermos outros aspectos, como comportamentos aprendidos e experiências de vida que nos tornaram diferentes no contato com nossos filhos.

Acho importante tocar neste aspecto: por vezes, as mães estão insatisfeitas no modo como têm realizado seu papel. Aí é hora de aceitar suas dificuldades, aprender com outras mães, buscar em sua família bons exemplos de maternidade. O que devemos evitar é aquele rótulo de que, por nossos sofrimentos de vida, repassemos tudo isso para nossos filhos. Creio ser este o maior erro. Sabe aquela frase que começa assim: "Filho meu não faz isso..." E "Filha minha se engravidar fora do tempo vai ser botada pra fora de casa....". Ouvimos isso milhares de vezes. Mas, será o melhor caminho?

Ser mãe é cuidar, trazer para perto, conversar; chegamos então ao X da questão: nossa relação com os filhos não é apenas instintiva; é também intuitiva; perceber mais as reações do filho, as amizades, as vivências e os hábitos dele. Quebrar uma barreira que possa existir entre você e seu filho, que é muito mais uma barreira "mental" imposta por você, dizendo o que você deve ou não tratar com ele. A relação mãe-filho sofre influência marcante da cultura, do ambiente social, religioso, financeiro, da nossa saúde física e mental, do nosso acesso à educação, ao lazer, ao trabalho, ao descanso, à dignidade, ao reconhecimento.

Reciclar! Reciclamos nosso conhecimento no trabalho, na escola e por que não na forma de conduzir nossa relação com nossos filhos? A melhor educação não é a mais cara ou cheia de recursos, mas a que deixa lembranças emocionais positivas; esta vivência é muito especial para cada ser humano. Se você não viveu isso, procure trazer para seu filho o sentimento de pertencer, de ser acolhido, oferecendo-lhe segurança. A segurança oferecida é ponto-chave para que seu filho também se sinta seguro, mesmo quando não for bem na prova da escola, quando perder o jogo do time ou não possuir aquele tênis "da hora" que todo amigo tem.

Mãe não é aquela que cede, que concede, que libera e facilita a vida; mãe também abraça, acolhe, esbraveja, chora, também precisa de colo e de proteção. Afinal, ser mãe não é ser "mulher maravilha" com um cinturão cheio de superpoderes e ter todas as respostas em mãos, mas ganhar um espaço com seu filho; sim, dar a ele um espaço de escuta, um espaço de amor, de acolhida. É a graça de vivenciar vários papéis ao mesmo tempo: ser mãe-mulher-cidadã-esposa-profissional! Muitos papéis para esta mãe, que vai moldando seu jeito de ser e atender todas as necessidades apresentadas; capacita sua forma de entender seus aspectos humanos e estando bem psicologicamente, também contribua no desenvolvimento saudável de seus filhos. Viver as alegrias e sofrimentos que ser mãe representa, unidas à fé, à esperança, ao amor-doação. É saber criar seus filhos e saber gerá-los para a vida.

Que lindo presente é ser mãe! Um papel que, na verdade, nunca acaba; ser mãe está e sempre estará em sua vida como a experiência mais transformadora que uma pessoa pode viver. Tudo isso faz com que você seja tão especial e importante na vida de seus filhos!

Foto Elaine Ribeiro
psicologia01@cancaonova.com

6 de maio de 2010

A sabedoria do silenciar

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Até os insensatos quando se calam passam por sábios
Sócrates, o sábio filósofo grego, dizia que a eloquência é, muitas vezes, uma maneira de exaltar falsamente o que é pequeno e de diminuir o que é, de fato, grande. A palavra pode ser mal-usada, mascarada e empregada para a dissimulação. É por isso que os sábios sempre ensinaram que só devemos falar alguma coisa "quando as nossas palavras forem mais valiosas que o nosso silêncio". A razão é simples: nossas palavras têm poder para construir ou para destruir. Elas podem gerar a paz, a concórdia, o conforto, o consolo, mas podem também gerar ódio, ressentimento, angústia, tristeza e muito mais. "Mesmo o estulto, quando se cala, passa por sábio, por inteligente, aquele que fecha os lábios" (Pr 17,28).

O silêncio é valioso, sobretudo quando estamos em uma situação difícil, quando é preciso mais ouvir do que falar, mais pensar do que agir, mais meditar do que correr. Tanto a palavra quanto o silêncio revelam o nosso ser, a nossa alma, aquilo que vai dentro de nós. Jesus disse que "a boca fala daquilo que está cheio o coração" (cf. Lc 6,45). Basta conversar por alguns minutos com uma pessoa que podemos conhecer o seu interior revelado em suas palavras; daí a importância de saber ouvir o outro com paciência para poder conhecer de verdade a sua alma. Sem isso, corremos o risco de rotular rapidamente a pessoa com adjetivos negativos.

Sabemos que as palavras são mais poderosas que os canhões; elas provocam revoluções, conversões e muitas outras mudanças. A Bíblia, muitas vezes, chama a nossa atenção para a força das nossas palavras. "Quem é atento à palavra encontra a felicidade" (Eclo 16,20). "O coração do sábio faz sua boca sensata, e seus lábios ricos em experiência" (Eclo 16, 23). "O homem pervertido semeia discórdias, e o difamador divide os amigos" (Eclo 16,28). "A alegria de um homem está na resposta de sua boca, que bom é uma resposta oportuna!" (Pr 15,23).

Quanta discórdia existe nas famílias e nas comunidades por causa da fofoca, das calúnias, injúrias, maledicências! É preciso aprender que quando errarmos por nossas palavras, quando elas ferirem injustamente o irmão, teremos de ter a coragem sagrada de ir até ele pedir perdão. Jesus ensina que seremos julgados por nossas palavras: "Eu vos digo: no dia do juízo os homens prestarão contas de toda palavra vã que tiverem proferido. É por tuas palavras que serás justificado ou condenado" (Mt 12, 36).

Nossas palavras devem sempre ser "boas", isto é, sempre gerar o bem-estar, a edificação da alma, o consolo do coração; a correção necessária com caridade. Se não for assim, é melhor se calar. São Paulo tem um ensinamento preciso sobre quando e como usar a preciosidade desse dom que Deus nos deu que é a palavra: "Nenhuma palavra má saia da vossa boca, mas só a que for útil para a edificação, sempre que for possível, e benfazeja aos que ouvem" (Ef 4, 29).

Erramos muito com nossas palavras; mas por quê?

Em primeiro lugar porque somos orgulhosos, queremos logo "ter a palavra" na frente dos outros; mal entendemos o problema ou o assunto e já queremos dar "a nossa opinião", que muitas vezes é vazia, insensata, porque imatura, irrefletida. Outras vezes, erramos porque as pronunciamos com o "sangue quente"; quando a alma está agitada. Nesta hora, a grandeza de alma está em se calar, em conter a fúria, em dominar o ego ferido e buscar a fortaleza no silêncio.

Fale com sinceridade, reaja com bom senso e sem exaltação e sem raiva e expresse sua opinião com cautela, depois que entender bem o que está em discussão. Muitas vezes, nos debates, estamos cansados de ver tanta gente falando e poucos dispostos a ouvir. Os grandes homens são aqueles que abrem a boca quando os outros já não têm mais o que dizer. Mas, para isso, é preciso muito exercício de vontade; é preciso da graça de Deus porque a nossa natureza sozinha não se contém.

Deus nos fala no silêncio, quando a agitação da alma cessou; quando a brisa suave substitui a tempestade; quando a Sua palavra cala fundo na nossa alma; porque ela é "eficaz e capaz de discernir os pensamentos de nosso coração" (cf Hb 4,12).

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

5 de maio de 2010

Nada pela força, tudo pelo amor!

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Só o amor cura, transforma e convence
A sabedoria contagia e se apresenta com doçura. Se você faz as coisas com doçura as pessoas vão amá-lo, pois você as terá conquistado.

Ninguém será capaz de trazer alguém para Deus por meio da exortação, mas através de gestos concretos de amor. Só o amor cura, só o amor transforma, só o amor convence. É ele, o amor, que nos leva a ultrapassar os nossos limites.

Quando nós nos colocamos a serviço de alguém – essa pessoa entende que o que estamos lhe dando é o amor. Existem coisas que são extremamente doces neste mundo, uma delas, por exemplo, é sermos tratados pelo nosso nome; coisas simples é que fazem diferença. São pequenos gestos de carinho que não pesam para ninguém. Como é bom quando alguém se lembra de nós, quando não só nos admira, mas nos ama.

"Meu filho, faze o que fazes com doçura, e mais do que a estima dos homens, ganharás o afeto deles.. Quanto mais fores elevado, mais te humilharás em tudo, e perante Deus encontrarás misericórdia, porque só a Deus pertence a onipotência, e é pelos humildes que Ele é verdadeiramente honrado" (Eclesiástico 3,19-21).

O humilde não tem ambições por grandezas. O interessante é que o homem sábio não quer apenas ser feliz, mas fazer o outro feliz. Dom Bosco diz que o jovem não precisa simplesmente saber que é amado, ele precisa de gestos concretos de amor. Muitas vezes, o que os seus familiares mais querem é a sua atenção. Se você quer atingi-los, deve antes descobrir do que eles estão precisando. O que você pode fazer é se colocar ao alcance das pessoas. Não existe amizade sem compromisso.

Dizia São Francisco de Sales: "Nada pela força, tudo pelo amor!". Nisso está o verdadeiro poder.

Eu estou lhe dando o caminho das pedras para que você encontre a Jesus. Cristo quer que todos experimentem da doçura d'Ele; precisamos determinar que não será pela força que levaremos as pessoas a ter uma experiência com o Senhor, mas sim, pelo amor.

O que mais me impressiona na passagem que conta o encontro da mulher pecadora com Jesus (cf. Jo 8,1-11) é a maneira doce como Nosso Senhor a trata. Eu tenho certeza de que você já teve a oportunidade de ter sido colocado numa roda onde o acusaram. É difícil quando as pessoas que consideramos amigas participam de tal acusação. Isso dói no mais profundo da alma. Mas Jesus não lançou nenhum olhar de acusação, nem para mulher nem para as pessoas que armaram aquela emboscada. Ele lhes faz um desafio. Não foi o Senhor quem as acusou, foram suas consciências.

Nessa passagem da mulher adúltera, Cristo presta o maior serviço que alguém poderia prestar ao próximo: Ele salvou a vida dela.

O Messias conversa com aquela mulher, e ao fazê-lo, a compreende. Não existe um forma de compreender as pessoas sem conversar com elas. Há quanto tempo você não pergunta às pessoas do seu círculo de amizade como elas estão? Existe uma colaboração que só você pode dar; escute as pessoas à sua volta. Só sabemos o quanto um sapato aperta quando o calçamos. Calce o sapato do seu irmão para saber onde está apertando, entre na vida dele.

Quando a gente ama, até o nosso silêncio fala. Muitas vezes pensamos que as pessoas à nossa volta são heroinas; outras vezes, queremos que elas voltem os olhos para nós, fazendo-nos o centro de suas atenções. Mas, entendamos que somente conseguiremos trazer as pessoas para Deus a partir da nossa experiência com Ele. A nossa missão é fazer com que as pessoas amem a Jesus, que se tornem sensíveis ao amor d'Ele. Para nós fica o compromisso de tudo fazermos com doçura.

(Texto adaptado a partir da pregação "Doçura e amor" de fevereiro de 2006)

Foto Márcio Mendes
marciomendes@cancaonova.com

3 de maio de 2010

Ressentimento: a chave para o adoecimento

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Atribuir ao outro a responsabilidade pelo que nos faz sofrer
Abrir-se ao novo também é deixar de lado os ressentimentos. Tantas vezes nos incomodamos por aquilo que passou, não é verdade? Parece que ficamos com várias caixas de arquivo morto, cheio de coisas velhas e sem valor, mas que ocupam espaço em nossas memórias e nossas emoções. Frente a todos estes sentimentos e tantos outros (dos sentimentos humanos que todos temos) o ressentimento, muitas vezes, não é sinônimo de raiva, arrependimento ou vingança, mas a impossibilidade de esquecer ou superar um acontecimento.

Não dá para negar que o relacionamento de qualquer tipo nos afeta, pois temos consequências conscientes e inconscientes. Vivemos de sentimentos de contrariedade: raiva, amor, ódio, agressividade, alegria, uma enorme tristeza, ambição, generosidade, vaidade, inveja, compaixão.

Lembro a você quanto da dor do ressentimento nos dá ainda as vivências de adoecimento, das doenças psicossomáticas, ou seja, aquelas que são causadas por questões emocionais. Ressentir-se é como dar a responsabilidade ao outro por coisas que nós mesmos guardamos em nosso interior. É atribuir a outras pessoas ou situações coisas que deveriam ser resolvidas por nós. É como não nos libertarmos de situações sufocantes e, ao mesmo tempo, conflituosas.

Destaco uma definição muito interessante: "Ressentir-se significa atribuir a um outro a responsabilidade pelo que nos faz sofrer. Um outro a quem delegamos, em um momento anterior, o poder de decidir por nós, de modo a poder culpá-lo do que venha a fracassar" (Kehl, 2008).

Entendo que nossa cultura, muitas vezes, nos ensinou o modelo de vítima como modelo mais utilizado e preferido pela sociedade. Pense nestas três situações:

1) Valorizamos o tirano (aquele pelo qual temos ressentimentimento).

2) Como não temos a reparação (esquecimento) vivemos nos colocando na posição de vítima e sempre temos uma "desculpa" pela situação.

3) Resistimos às situações, pois sempre é mais fácil prorrogar uma situação a agir de forma a extingui-la.

4) Esta relação é circular, ou seja, é cultivada com grande expressão das nossas emoções, alimentando mágoas, rancores e, consecutivamente, ressentimento, tornando-nos cada vez mais adoecidos.

No papel de pessoa ressentida você já deve ter notado que conseguimos uma forma de mostrar que estamos com razão na situação, desculpando-nos de forma tão verdadeira, atraindo, desta forma, muitos apoiadores, que "compram" nossa causa.

A pessoa ressentida e por conseguinte ofendida, agredida e machucada não diz abertamente o que sente, mas prolonga e "rumina" essas dores de forma repetitiva. Dá para imaginar o tamanho deste estrago? É manter sempre o papel da vítima, de submisso ao outro, desligando-se de qualquer culpa pessoal neste processo.

E como posso apreciar algo que foi uma experiência ruim para mim? Como apreciar a mágoa do namoro terminado, da amizade traída, da agressão sofrida? Procurando tirar exemplos e formas diferentes de olhar a vida. Você já foi a um museu que havia visitado quando criança, e agora adulto voltou a olhá-lo? Certamente, sim. E seguramente seu olhar deve ter sido diferente, olhou coisas que não havia percebido naquela época e agora você teve a oportunidade de fazer uma visita diferente.

É este convite que lhe faço com relação aos seus ressentimentos; tente olhar as vivências amargas de uma forma nova, procurando superar emoções negativas que apenas comprometem nossa vida saudável.

Foto Psicóloga Clínica e OrganizacionalElaine Ribeiro
psicologia01@cancaonova.com

30 de abril de 2010

O amor é a base de tudo e nele tudo tem valor

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É amando como Jesus que a terra se une ao céu
O ser humano egoísta, fechado em si mesmo, procura a própria glória. Jesus, cumprindo a vontade do Pai, dá glória a Deus e mostra que o projeto divino é ser plenamente humano: as pessoas o escutarão vivendo o amor que tem como único ponto de referência a vida e ação de Jesus. Para realizar esse projeto, que é, ao mesmo tempo, divino e humano, os cristãos são convidados a reforçar constantemente suas opções, a fim de superar, vitoriosos, as tribulações, mantendo-se unidos na fé e no amor.

Em Jesus, Deus se tornou um de nós, tornando possível a intimidade do Pai com as pessoas. Jesus dera o exemplo. Pouco antes, lavara os pés dos discípulos, mostrando o que é amar. "Como eu os amei." O amor é gratuito. Ele não pede amor para Ele, mas para os irmãos.

O Amor é ativo. Deve ser manifestado em gestos. Dessa forma, a revelação de Jesus se prolonga no amor das pessoas na comunidade: "Nisso conhecerão que vocês são meus discípulos, se tiverem amor uns para com os outros."

O mundo, diante do amor, que é uma maneira de Cristo estar presente, acreditará n'Ele. Esse mandamento, característico de Jesus, é, antes de tudo, um novo modo de vida, um novo objetivo.

Para Cristo, e também para a Igreja, o amor é a base de tudo e nele tudo tem valor, enquanto que, sem ele, nada é agradável a Deus. Esse amor de que Jesus fala não é senão o amor divino que nos foi dado pelo Espírito Santo.

Percebido no Batismo, ele nos insere na Trindade, fazendo-nos filhos de Deus. É amando como Jesus que a terra se une ao céu. E é por meio desse amor que a realidade divina vive na terra, dando-nos a certeza de que o paraíso se constrói aqui, como uma antecipação da graça definitiva no céu.

Somos cristãos à medida que amamos e expressamos esse amor como Jesus: fazendo a vontade do Pai, construindo seu Reino, deixando cair por terra à mentira que nos impede de dar ao mundo a resposta que Deus deseja. Nunca deixemos de amar, particularmente os que nos perseguem, caluniam e injuriam. Mais do que amar por fora, devemos amar em gestos concretos de tolerância, de amor e de recuperação dos que insistem em não amar. Amar a Deus no próximo e nos que são pedra em nossos sapatos é a gênese da vida cristã, ensinada pelo Ressuscitado!

Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo emérito de Juiz de Fora (MG)

28 de abril de 2010

Adoração x veneração

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Existe uma diferença entre adoração e veneração
Nós, católicos, somos comumente acusados de adorar imagens e santos, e de sermos idólatras, entre outros. Não sei quanto a você, mas, quantas vezes, eu já me vi em situações embaraçosas com irmãos de outras denominações religiosas no que diz respeito a esse assunto. E quando não conhecemos a doutrina de nossa Igreja, é muito comum sairmos dessas situações com raiva, frustrados, ou coisa parecida.

Na verdade, nós precisamos aprender mais sobre a nossa fé. Precisamos aprender aquilo que professamos. O católico não adora imagens. O católico venera os santos. Existe uma diferença entre adoração e veneração.

Adorar = Prestar culto a...

Venerar = Reverenciar, fazer memória, ter grande respeito...

A adoração ocorre quando existe um culto no qual é envolvido um sacrifício. Se você pegar o Antigo Testamento, vai encontrar várias passagens bíblicas que mostram que quando os judeus iam adorar, ofereciam algum animal em sacrifício a Deus. Esse tipo de sacrifício é conhecido como "sacrifício cruento", ou seja, com derramamento de sangue. Ao morrer por nós, na Cruz, Jesus se ofereceu em sacrifício por nós. Ofereceu sua Carne e o seu Sangue. Por isso, o chamamos de Cordeiro de Deus. Na celebração da santa Missa, nós renovamos (tornamos novo) esse sacrifício. Porém, no momento da Celebração Eucarística há o "sacrifício incruento", ou seja, sem derramamento de sangue.

Quando adoramos o Santíssimo Sacramento, adoramos o próprio Corpo de Cristo, e o fazemos somente em virtude do santo sacrifício da santa Missa, por meio do qual o pão se transforma no Corpo de Cristo e o Vinho se transforma no Sangue de Nosso Senhor. É por isso que, muitas vezes, ouvimos a Igreja nos dizer que o maior culto de adoração é a santa Missa. Não existe adoração sem sacrifício.

Já a veneração é semelhante àquilo que os filhos têm para com os pais, quando pedem algo a estes, elogiando-os, agradecendo-os... Fazem isso porque admiram, respeitam e amam os pais.

Percebe a diferença?

Então quando alguém, – que não conhece o real sentido da adoração –, vê um católico venerando um santo, acaba o acusando de fazer algo a uma criatura que, segundo ele, só caberia ao Criador. Isso acontece porque eles não vivem a real dimensão da adoração.

Mas e as imagens?

No século I, não existia máquina fotográfica. Mas as pessoas gostavam de se recordar dos entes queridos. Assim como, hoje, fotografamos alguém e guardamos aquela foto. Naquela época, se reproduziam imagens, desenhos, estátuas... Era uma prática comum. De forma que esses objetos acabaram se tornando um meio de relembrar, de fazer memória a pessoas amadas e queridas. Nós, católicos, em particular, o fazemos para prestar memória àqueles homens e mulheres que viveram a radicalidade da fé: os santos. Uma fé cheia de virtudes e, muitas vezes, de martírio. Fé esta que gerou neles a santidade.

Se não podemos ter essas imagens, tampouco podemos ter fotografias de pessoas que já se foram. Duvido muito que aqueles que nos acusam de idolatria joguem fora as fotos e lembranças de pessoas queridas. Assim como duvido que eles esqueçam das virtudes dos seus...

Nós, católicos, em especial, temos e devemos ter, sem medo, imagens dos santos e das santas de Deus em nossas casas. É importante reverenciá-los, lembrando das virtudes e do amor deles por Jesus Cristo, e pedindo-lhes a intercessão junto a Deus. Afinal, eles estão no céu. Fazem parte do corpo místico da Igreja. E se você não crê na intercessão, meu amigo, não peça que ninguém reze por você.

Adorar: somente a Deus. Prestar culto: somente a Deus.

Mas venerar? Venere, sem medo, a todos os santos e santas de Deus.

E se alguém, um dia, vier acusá-lo de idolatria ou coisa semelhante, não esquente a cabeça. Fique em paz. E lembre-se de que apenas os que participam do santo sacrifício da santa Missa é que fazem a verdadeira adoração.

Cadu
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26 de abril de 2010

Quem é mais forte: o amor ou o poder?

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A gentileza e a bondade são sempre mais fortes
Certa vez, disse para uma amiga: "Não desista de viver a bondade!" Passaram-se anos e há poucos dias ela me disse: "Nunca mais esqueci suas palavras e tenho deixado-me conduzir por elas, as quais permanecem como eco em minha memória".

A princípio, fiquei somente surpresa por ela ter se recordado tão vivamente do conselho, mas depois percebi que era mais que isso. Em suas palavras, percebi o Senhor atualizando o recado também para minha vida.

Em um mundo no qual se coloca em evidência aquilo que não é bom, se não estivermos alicerçados em princípios de fé e esperança, correremos o risco de nos deixar levar pela maldade e agir pela força dos argumentos da razão, desistindo facilmente de ser bons.

Hoje falei sobre isso em um dos programas que apresento na Rádio Canção Nova e resolvi ampliar a partilha na intenção de que ela chegue ao seu coração. Eu acredito no poder da bondade! Posso dizer, por esperiência própria, que o amor é mais forte do que o poder do mal.

Existe uma fábula atribuída a Esopo que pode ilustrar essa partilha e eu a apresento aqui:

"Conta-se que o sol e o vento discutiam sobre qual dos dois era mais forte.

O vento disse:

- Provarei que sou o mais forte.

Vê aquela mulher que vem lá embaixo com um lenço azul no pescoço?

Aposto como posso fazer com que ela tire o lenço mais depressa do que você.

O sol aceitou a aposta e recolheu-se atrás de uma nuvem.

O vento começou a soprar até quase se tornar um furacão, mas quanto mais ele soprava,

mais a mulher segurava o lenço junto a si.

Finalmente, o vento acalmou-se e desistiu de soprar.

Então, o sol saiu de trás da nuvem e sorriu bondosamente para a mulher.

Com este gesto, ela imediatamente esfregou o rosto e tirou o lenço do pescoço.

O sol disse, então, ao vento:

- Lembre-se disso: A gentileza e a bondade são sempre mais fortes que a fúria e a força".

Acredito que, com essa narrativa, Deus está nos dando hoje a direção para vencermos os obstáculos de nossa vida. Não com a força, não com a fúria, mas com a gentileza, com o sorriso, com a bondade, com a paciência, com o amor e o perdão, é assim que venceremos!

Não sei em qual etapa da vida você se encontra, quais são os desafios que tem enfrentado, mas acredito que Jesus, o "Homem bom por excelência" , pode e quer nos ajudar a darmos uma resposta diferente, fazendo opção pela bondade. A Palavra do Senhor diz: "Não pela força, nem pela violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos [...]" (Zacarias 4,1-10).

E o Espírito de Deus nos conduz somente àquilo que é bom, justo e nobre.

Que tenhamos a coragem e a disposição para expressar a bondade que está em nós e pode chegar a muitos corações a partir da nossa decisão e coragem de ser um pouco melhores a cada dia. Eu estou tentando. E você?

Busquemos, juntos, neste dia, dar a vitória à bondade. A força dessa virtude, passando por nossos pequenos gestos, pode fazer grande diferença.

Foto Dijanira Silva
dijanira@geracaophn.com

23 de abril de 2010

A sexualidade e o celibato

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Aspecto que implica corpo, mente, espírito e coração
Ao falar da sexualidade humana, não podemos nos referir unicamente à genitalidade, já que a sexualidade impregna a totalidade da pessoa humana. É por esta razão que a sexualidade na pessoa celibatária acompanha sua vida e desenvolvimento espiritual. Por princípio, a pessoa celibatária é um ser sexuado, ou seja, é homem ou mulher, aspecto que abarca toda sua vida, seu nascimento, história, relacionamentos pessoais, experiências, etc.

Este aspecto implica corpo, mente, espírito e coração, dando lugar a uma forma feminina ou masculina de relacionar-se, de se comunicar, desenvolver uma intimidade consigo e com as outras pessoas, entre outros.

A pessoa que opta pelo celibato não pode deixar de lado o aspecto transcendente da sexualidade, criado e dado ao homem como dom maravilhoso, que é a força que nos leva a amar, a maneira de ser, atuar, de nos comunicar, de nos encontrar com nós mesmos, com Deus e com as outras pessoas.

A correlação existente entre a sexualidade e a espiritualidade é o AMOR, que cria e impulsiona a gerar e a dar. Assim, também podemos falar da sexualidade como essa energia, esse impulso interno e de vida que conduz a pessoa a experimentar a integração de seu ser, gerando uma sã afetividade que se reflete na felicidade, na totalidade, na entrega e no encontro íntimo com Deus e consigo.

Desta maneira é como podemos compreender que a pessoa celibatária não renuncia a sua sexualidade, nem muito menos a AMAR, pelo contrário, renuncia à relação de genitalidade ou de cópula, a toda relação de exclusividade, para assim utilizar toda sua energia afetiva e sexual no amor, na dedicação, na entrega e na doação, o que repercute direta e totalmente na vida espiritual.

Bibliografía

Cencini, A. (1996). "Por amor, com amor, no amor. Liberdade e maturidade afetiva no celibato consagrado". Madri. Atenas.

Puerto, C. "Sexualidade Celibatária, um caminho de espiritualidade". Madri.

Por: Nanci Escalante

19 de abril de 2010

Aprendendo a ser padre

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Ser padre é também saber sofrer os reveses da vida
Eu estava nos primeiros meses da minha vida como sacerdote, residia na minha terra natal, sede da diocese. Trazia o coração cheio de alegria pelo cumprimento das promessas de Deus, que me convidou para segui-Lo. Em minha mente, os conceitos aprendidos na Teologia estavam vívidos e bem definidos, eu era professor no seminário diocesano e embora não tivesse ainda assumido trabalhos paroquiais, sentia-me capaz de 'transformar' o mundo através do exercício do ministério.

Fui chamado a um hospital para visitar uma jovem mãe que havia dado à luz no dia anterior. Entusiasmado, preparei-me também para visitar outros que porventura precisassem. Depois de abençoar mãe e filho recém-nascido, comecei a visitar os enfermos naquele hospital. Uma jovem veio ao meu encontro, ofegante, pediu que eu fosse dizer umas palavras à sua mãe. "O médico nos disse que fez tudo o que era possível por ela", afirmou a jovem. Tratava-se de uma idosa com câncer em estado terminal. Não imaginava que meu encontro com aquela enferma pudesse ser, para mim, uma das mais importantes lições que aprenderia depois das aulas de Teologia, encerradas havia pouco tempo.

- "Sua bênção, senhor padre!", assim me disse aquela senhora de olhos fundos, pele pálida e rosto maltratado pela enfermidade. Sempre fiquei impressionado com o câncer, este mal corrói a pessoa de dentro para fora e o seu tratamento clínico faz o mesmo, de fora para dentro. Imaginei que o Senhor me conduzira até ali para dar um grande apoio àquela senhora. Após a santa confissão e durante a santa unção percebi seus olhos lacrimejarem. Também fiquei comovido por contemplar as mãos de Jesus consolando uma pessoa prestes a partir deste mundo. Antes de sair e chamar novamente os parentes que estavam no quarto, eu lhe disse:

"Hoje o Senhor Jesus a visitou, agradeça-O e não fique triste!" E "Considero-me uma cancerosa muito feliz, senhor padre!", respondeu. Fiquei impressionado com a resposta e ao perceber meu espanto, acrescentou: "Nunca fui tão feliz como depois do câncer! Sofri 37 anos um casamento marcado por traições e alcoolismo, meu marido era um homem derrotado pelo vício e pelo pecado. Orei muito pedindo ao Senhor que o livrasse daquela vida. Depois que descobri essa doença em mim, percebi que meu marido ficou tão comovido que algo mudou dentro dele. Há alguns dias ele me pediu perdão por toda dor que me causou, mas já há muito tempo percebo em seus gestos que minha doença curou a dele. Meu casamento foi restaurado! Aquela jovem que foi chamá-lo, senhor padre, era uma menina perturbada por uma depressão terrível. Vivia fechada em seu quarto, não saía nem para se alimentar e chegou a tentar o suicídio várias vezes. Quantas vezes chorei com o rosário na mão, implorando um milagre por esta filha. O milagre aconteceu! Depois que comecei o tratamento do câncer, essa filha se recuperou repentinamente e passou a acompanhar-me de exame em exame, de hospital em hospital. Quando me sentia abatida, era ela que me fazia sorrir com histórias alegres e o testemunho do seu amor. O milagre da minha filha aconteceu através do meu câncer. Por fim, meu filho mais velho, casado há 15 anos, estava para se separar da esposa. Ele, em crise de fé, queria abandonar a Igreja Católica e sua esposa não concordava. Fiquei arrasada porque mesmo apesar de ter sofrido tanto com meu esposo, nunca aceitei a ideia de separação. Para não desrespeitar o espaço deles, fiquei calada e apenas orei. O que minhas palavras não disseram o câncer falou. Já faz três meses que eles estão bem, e ambos vêm me visitar todos os dias; juntos rezamos o terço e meu filho renovou sua fé e respeito pela Igreja. O câncer veio na hora certa, na hora de restaurar minha família! Posso morrer em paz, pela bênção que o senhor me trouxe através dos sacramentos, e pela alegria de ver minha família restaurada por Deus através dos meus sofrimentos".

A Igreja, por intermédio de meu bispo, me ordenou sacerdote. O seminário me formou por meio de duas faculdades e pelo acompanhamento dos formadores. Mas foi uma moribunda num leito de hospital que me ajudou a entender um pouco mais o que é ser padre. Estou prestes a celebrar 10 anos de sacerdócio. Tenho vivido muitas experiências difíceis e algumas delas muito duras. Quando me sobrevém algo muito difícil, lembro-me daquela senhora cancerosa, a quem o Senhor chamou para a eternidade… Então compreendo que ser padre é também saber sofrer os reveses da vida para que outros tenham vida. Ser outro Cristo é aceitar o Calvário para que outros experimentem a Páscoa. Das muitas lições que ainda tenho de aprender, essa primeira me serviu para dar sentido a todo sacrifício que abracei para ver tanta gente feliz. Gente que aprendi a amar, olhando o amor de uma cancerosa que imitou Jesus.

Padre Delton
http://blog.cancaonova.com/padredelton/

16 de abril de 2010

Ajustando os desejos

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'Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração'
Faz parte da vida humana estar, muitas vezes, sob a influência de fortes desejos. Tais estados de alma podem reforçar os grandes ideais, quando somam energias com os sonhos, que alimentam a nossa trajetória. Ter desejos é querer possuir; é predispor-se a gozar; é entregar-se a uma força que mal conseguimos manipular. Tem características de satisfação egoísta, embora persistam espaços para o altruísmo. Talvez a sã psicologia tenha descrições melhores a oferecer.

O que aqui apresento reveste-se apenas de fenômenos observados pela razão, que chamamos de bom senso. Logo abaixo quero reconhecer que existem, sim, desejos construtivos. Mas comecemos pelos desejos que nos travam e nos introduzem na parca produção, diante dos grandes deveres, de que estamos revestidos.

Há desejos que nos puxam para baixo e nos colocam em posição de correr atrás dos falsos valores. Vejamos, por exemplo, o desejo sexual que pode nos atormentar, em busca de amores impossíveis e contrários à ética cristã. Mas não é só a sexualidade que pode nos colocar em estado improdutivo. Também o desejo irrefreável do dinheiro, a "cobiça dos olhos".

O mesmo se diga, com mais ênfase, sobre o desejo de prestígio a todo custo, da fama (muitas vezes não merecida), da perseguição contra pessoas que atrapalham. Jesus advertiu: "Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração" (Mt 6, 21).

Os desejos amorosos de um casal, em santa união, podem ser poderosas alavancas para a concretização de sua vida familiar. Tais sentimentos se tornam convergentes. Lembro-me aqui também dessas almas privilegiadas, que envidam todos os esforços nas obras sociais. Ou mesmo, daqueles que querem ocupar posições de realce na sociedade, para fazer o bem e melhorar as condições do povo. Mas de forma alguma posso esquecer aquelas almas mais sublimes, como São Paulo, que se aproximam de Deus e não dividem seus desejos com falsos ídolos. Tais pessoas são os "puros de coração" cujos desejos estão fixados no essencial.

Esse é o ajustamento que todos devemos procurar. Jesus previu isso: "Eu, uma vez levantado [na cruz], atrairei todos a mim" (Jo 12, 32).

Dom Aloísio Roque Oppermann scj

12 de abril de 2010

Quer ser feliz?

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Decida-se não parar diante das situações frustrantes
O ser humano constantemente busca a felicidade. Tudo o que as pessoas empreendem e visam tem como meta encontrar uma realização. Desde os gestos mais simples, como suprir as necessidades básicas, até os mais audaciosos projetos, são impulsionados pelo desejo de satisfação interior.

Essa procura pelo preenchimento da alma está inscrita no coração do homem. Deus nos fez para sermos felizes.

O Catecismo da Igreja Católica afirma: "Somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar" (CIC 27). É no Senhor que descobrimos a feliz vivência e a verdade acerca de todas as coisas, inclusive a nosso próprio respeito.

Em vários trechos da Sua Palavra, o Altíssimo nos dá princípios e ordens que nos orientam como proceder para sermos contagiados pelo bem-estar que vem d'Ele: "A alegria do Senhor será a vossa força" (Ne 8, 10); O Sermão da Montanha (Mt 5, 1-11); Honra teu pai e tua mãe para que sejas feliz e tenhas vida longa sobre a terra (Ef 6,2); e muitos outros.

Só desencaminha-se de tal desígnio divino aquele que procura ser feliz fora de Deus, que busca a sua própria verdade e realização (como se assim pudesse existir), motivado por uma noção inexata de como alcançar a felicidade. Em vez de construir uma Alegria incorruptível, procura gozo imediato sem projetar as consequências posteriores.

É essa a tentação que foi oferecida a Jesus no deserto (cf. Mt 4; Lc 4) e que também hoje o demônio usa para nos seduzir. Ele quer arrancar-nos a identidade através das ilusões do Ser, do Ter e do Poder, assim, cedemos aos impulsos que trarão satisfação apenas momentaneamente, colocamo-nos no lugar de deuses, perdemos a consciência da verdade a nosso respeito e consequentemente idolatramos aquilo que nos dá prazer.

Para vivermos a felicidade, desde já, é preciso renunciar a essas três tentações (ser, ter poder), trabalhando em nós virtudes que são inversas a elas, as quais nos restabelecem a verdade de sermos criaturas e de que somente em Deus obteremos a alegria.

São práticas contrárias às tentações:

O Louvor: palavras de agradecimento, de exaltação ao Senhor, que O colocam em primeiro plano na nossa vida, rendendo adoração Àquele que é e tudo pode em nós, por nós e em meio a nós. Louvar tira do ser humano a tentação do ser, pois só Deus é.

Mesmo em meio à tribulação louve, pois "todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam Deus" (Rm 8,28). Só um coração agradecido confia verdadeiramente nisso, pois louva a Deus diante de sua impotência e conta com o Deus Misericórdia, acreditando que mesmo do sofrimento algo de proveito virá.

Amaldiçoar nessa hora é não acreditar que o Senhor manifestará seu socorro.

Outro fator, é que aquele que não murmura, torna-se mais agradável no convívio com outras pessoas. Causam boa impressão onde passam. "A boca fala daquilo de que o coração está cheio" (Lc 6,45).

A Gratuidade: faça coisas sem esperar retribuição. Muitas das decepções que temos na vida vêm por esperarmos demais dos outros. Gratuidade liberta nosso coração de apegos e méritos, livra-nos da obrigação de recompensas, inclusive de nossas cobranças com nós mesmos. Quem não cobra do irmão, aprende a valorizar a pessoa em primeiro lugar a partir da experiência consigo.

Tenha iniciativa você, quando o outro não merece é sinal de que precisa ainda mais.

Agir com gratuidade é confiar na Divina Providência, já que proporciona o dom que se obteve de Deus em favor de quem está ao lado: "Recebestes de graça, de graça dai!" (Mt 10,8) e subtrai do coração a inclinação de ter.

O amor só é pleno quando é com gratuidade: "não é interesseiro, desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo" (I Cor 13, 5-6).

A Decisão: Aja para que sua felicidade aconteça. Tenha metas a pequeno, médio e longo prazo. A felicidade vem por meio de um projeto de vida. Se hoje não deu certo, não desista! Deus está nos seus sonhos. Sonhos podem ser o indicativo do Pai para a sua vocação.

Decida-se não parar diante das situações frustrantes. Isso comporta uma predisposição do coração em não se prostrar mediante os percalços e imprevistos do dia a dia. É natural ficar pesaroso diante de algo que venha a ferir os sentimentos, mas não se deve arrastar o problema ou supervalorizá-lo. O sofrimento tem que ser fecundo. Aprendemos com a dor. Mas tudo nesta vida passa! Nada permanece, a não ser Deus.

Lembre-se de que a pessoa que decide viver bem o seu dia, não se abate com alguns minutos que não foram favoráveis.

Decidir pela felicidade em Deus, investe contra o anseio de poder, pois busca motivos interiores para ser feliz e não se sujeita a estar bem por conquistar bens ou por ter pessoas subordinadas. É errônea a concepção de que só se é feliz quando se conquista algo.

Por fim, é possível não somente chegar à alegria terrena, na nossa natureza humana, como também ao júbilo espiritual, pois a felicidade é um dom para o ser humano no seu todo.

O Pai quer realizar-nos por completo, dando-nos a identidade de sermos filhos, que junto a Ele têm a posse do Seu Reino e de um dia podermos dividir da Sua glória. Aí está a verdade da felicidade.

Deus o abençoe.

Missionário Canção Nova

Sandro Ap. Arquejada
sandroarq@geracaophn.com

9 de abril de 2010

1º Lual de Jovens



Sempre Deixe Seu Recado!!!

Nadando contra a correnteza

Formações

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Nadando contra a correnteza

Preparar para o fracasso parece um paradoxo

Experimentamos, na vida, todos os tipos de sensações e provações. Trilhamos caminhos que ora são acolhedores, ora, profundamente dolorosos. Ritualizamos momentos. Celebramos aniversário, formatura, novo emprego, prêmios, aprovações em concursos, defesas de teses, casamento. De outro lado, separações, mortes, demissões, injustiças, inveja, mentiras. O riso ou as lágrimas convivem conosco. A euforia e o desânimo também. E, assim, vamos nos construindo, nos educando.

No processo de crescimento, os exemplos de vida nos ajudam a melhorar a nossa disposição para a própria vida. A vida que passa muito rapidamente, ou não, nos dizeres de Cora Coralina:

Não sei… Se a vida é curta

Ou longa demais pra nós,

Mas sei que nada do que vivemos

Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.

A educação depende da capacidade que temos de tocar o coração das pessoas. E isso se dá de muitas maneiras. Uma delas ocorre quando apresentamos modelos de vida. Não modelos perfeitos, mas pessoas que se notabilizaram por vencer os obstáculos e perseguir a meta.

A biografia de Gabrielle Chanel ou Coco Chanel mostra a saga de uma menina que tendo a mãe morta é deixada no orfanato pelo pai. Quando este parte, ela olha pela porta semiaberta desejosa de que ele olhe pelo menos mais uma vez para trás. Ele não olha e nunca volta para buscá-la. E ela, ritualmente, se arrumava todos os domingos para a tão esperada visita. Sofreu muito a menina. Sofreu muito a mulher. Sofreu muito a madura Chanel para reerguer-se depois da guerra. Certa vez, ela confessou: "A força se constrói com fracassos, não com sucessos".

A vida de Nelson Mandela é um tesouro para a educação. Sua fé na justiça, apesar das injustiças. Sua perseverança na liberdade, apesar da prisão. Seu sonho de construir uma nação em que a cor da pele não desse o tom do respeito. Usou de todas as forças possíveis para que o seu povo celebrasse o sonho antevisto por Luther King, outro referencial.

"Eu tenho um sonho que um dia minhas quatro crianças viverão em uma nação onde não serão julgadas pela cor de sua pele, mas sim pelo conteúdo de seu caráter", declarou este último.

Quando apresentamos biografias aos nossos alunos, permitimos que percebam, com mais cuidado, a riqueza da vida talhada em momentos mais fáceis e em momentos mais difíceis. Mostrar o sucesso apenas é desconsiderar os muitos fracassos que haverão de viver os nossos aprendizes. Preparar para o fracasso parece um paradoxo para quem se prepara para a vida. Mas não é. Quantos fracassos viveram Chanel ou Mandela? Mas persistiram porque foram talhados para a luta. Em um mundo cheio de competições, em que as pessoas acabam sendo descartadas sem muita cerimônia, em que os empregos não são definitivos, educar para a adversidade faz parte do escopo essencial da relação de ensino e aprendizagem.

Sempre defendi que humanizássemos os autores para que a literatura fosse mais sedutora. Quem conhece a biografia de Machado de Assis contempla sua obra com mais entusiasmo. Quem sofre com Castro Alves as dores da ausência da liberdade contempla como o mesmo olhar de pássaro a nau composta de escravos e a dor com que o poeta clama aos céus.

A literatura dialoga com a história que dialoga com a vida. As ciências também tratam da vida como a geografia. As novas línguas que aprendemos abrem janelas para outras possibilidades. É tudo real. O conhecimento e a aprendizagem acontecem como a vida acontece. E libertam com o poder de tirar dos porões o oprimido; era esse o sonho de Paulo Freire.

Os educadores têm de ter em mente esse desafio, apresentar vidas para que as vidas dos aprendizes tenham ainda mais significado. Há um filme, recentemente lançado, "Sempre ao seu lado" que começa em uma sala de aula em que os alunos têm de contar a história de um grande herói. E um menino começa a falar do cachorro do seu avô. E o relato vai emocionando a sala porque há algo de fascinante na fidelidade do cachorro. Sua espera. O dono, um professor de música, nunca mais haveria de voltar. Mas o seu ofício era o de esperar. E as pessoas iam aprendendo com a "sabedoria" canina. E compreendendo o seu desejo de liberdade e de ternura a quem ele escolheu para servir.

Há heróis anônimos. E certamente os alunos conhecem alguns deles. Essa é uma experiência que vale a pena. Misturar biografias conhecidas com histórias do quarteirão. Vidas sempre têm importância. Algumas conseguem notoriedade, outras mudam mundos em um cantinho qualquer do mundo. Esse é o antídoto que temos contra a destruição dos valores humanos. É nadando contra a correnteza que fortalecemos os nossos músculos morais e temperamos nosso caráter com dignidade e ternura. Nós, educadores, podemos fazer a diferença. Vale a pena experimentar…

Gabriel Chalita
http://blog.cancaonova.com/gabrielchalita/

8 de abril de 2010

Jesus Cristo existiu ou foi um mito?

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Um mito não chegaria ao século XXI com mais de um bilhão de adeptos
Conta-se que certa vez um soldado de Napoleão Bonaparte, empolgado com as conquistas do grande imperador da França, lhe disse:

- Imperador, pode fundar a nossa religião e a nossa igreja. Estamos prontos a seguir Sua majestade.

Ao que Napoleão lhe teria respondido: - Filho, para alguém inaugurar uma religião e fundar um igreja, precisa de duas coisas: primeiro, morrer numa cruz; segundo, ressuscitar ao terceiro dia. A primeira eu não quero e a segunda eu não posso; então, para com esta estória de fundar uma igreja e uma religião.

O que mais me impressiona nesta narração, que ouvi de um professor universitário de História, é que Napoleão não era bom católico, tanto assim que foi o primeiro imperador a não aceitar ser coroado pelo Papa, quando este era o costume da época, e mais: mandou prender o Papa Pio VI, e depois, o Papa Pio VII, quando este não quis concordar com o divórcio do seu irmão Jerônimo. No entanto, Napoleão sabia que só Jesus tinha credenciais divinas para fundar uma Igreja.

A Igreja Católica é a única que foi fundada expressa e diretamente por Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, Deus verdadeiro. Isso é o que faz dela a única Igreja autêntica. As outras são invenções dos homens.

Mas muitos perguntam: será que Jesus Cristo é mesmo Deus? Será que Jesus existiu mesmo? Será que fundou a Igreja mesmo?

Vamos responder a cada uma dessas perguntas. Comecemos pela existência histórica de Jesus Cristo.

Além dos Evangelhos e Cartas dos Apóstolos, a mesma História que garante a existência dos faraós do Egito, milhares de anos antes de Cristo, garante a existência de Jesus. Muitos documentos antigos, cuja autenticidade já foi confirmada pelos historiadores, falam de Jesus. Vamos aqui dar apenas alguns exemplos disso e mostrar que Nosso Senhor Jesus Cristo não é um mito.

Documentos de escritores romanos (110-120):

1.Tácito (Publius Cornelius Tacitus, 55-120), historiador romano, escritor, orador, cônsul romano (ano 97) e procônsul da Ásia romana (110-113), falando do incêndio de Roma, que aconteceu no ano 64, apresenta uma notícia exata sobre Jesus, embora curta:

"Um boato acabrunhador atribuía a Nero a ordem de pôr fogo na cidade. Então, para cortar o mal pela raiz, Nero imaginou culpados e entregou às torturas mais horríveis esses homens detestados pelas suas façanhas, que o povo apelidava de cristãos. Este nome vêm-lhes de Cristo, que, sob o reinado de Tibério, foi condenado ao suplício pelo procurador Pôncio Pilatos. Esta seita perniciosa, reprimida a princípio, expandiu-se de novo, não somente na Judéia, onde tinha a sua origem, mas na própria cidade de Roma" (Anais, XV, 44).

2. Plínio o Jovem (Caius Plinius Cecilius Secundus, 61-114), sobrinho de Plínio, o Velho, foi governador romano da Bitínia (Asia Menor), escreveu ao imperador romano Trajano, em 112:

"[...] os cristãos estavam habituados a se reunir em dia determinado, antes do nascer do sol, e cantar um cântico a Cristo, que eles tinham como Deus" (Epístolas, I.X 96).

3. Suetônio (Caius Suetonius Tranquillus, 69-126), historiador romano, no ano 120, referindo-se ao reinado do imperador romano Cláudio (41-54), afirma que este "expulsou de Roma os judeus, que, sob o impulso de Chrestós (forma grega equivalente a Christós, Cristo), se haviam tornado causa frequente de tumultos" (Vita Claudii, XXV).

Esta informação coincide com o relato dos Atos dos Apóstolos 18,2, onde se lê: "Cláudio decretou que todos os judeus saíssem de Roma"; esta expulsão ocorreu por volta do ano 49/50. Suetônio, mal informado, julgava que Cristo estivesse em Roma, provocando as desordens.

Documentos judaicos:

1. O Talmud (Coletânea de leis e comentários históricos dos rabinos judeus posteriores a Jesus) apresentam passagens referentes a Jesus. Note que os judeus combatiam a crença em Cristo, daí as palavras adversas ao Senhor.

Tratado Sanhedrin 43a do Talmud da Babilônia:

"Na véspera da Páscoa suspenderam a uma haste Jesus de Nazaré. Durante quarenta dias um arauto, à frente dele, clamava: "Merece ser lapidado, porque exerceu a magia, seduziu Israel e o levou à rebelião. Quem tiver algo para o justificar venha proferi-lo!" Nada, porém se encontrou que o justificasse; então suspenderam-no à haste na véspera da Páscoa."

2. Flávio Josefo, historiador judeu (37-100), fariseu, escreveu palavras impressionantes sobre Jesus:

"Por essa época apareceu Jesus, homem sábio, se é que há lugar para o chamarmos homem. Porque Ele realizou coisas maravilhosas, foi o mestre daqueles que recebem com júbilo a verdade, e arrastou muitos judeus e gregos. Ele era o Cristo. Por denúncia dos príncipes da nossa nação, Pilatos condenou-o ao suplício da Cruz, mas os seus fieis não renunciaram ao amor por Ele, porque ao terceiro dia ele lhes apareceu ressuscitado, como o anunciaram os divinos profetas juntamente com mil outros prodígios a seu respeito. Ainda hoje subsiste o grupo que, por sua causa, recebeu o nome de cristãos" (Antiguidades Judaicas, XVIII, 63a).

Documentos Cristãos:

Os Evangelhos narram, com riqueza de detalhes históricos, geográficos, políticos e religiosos a terra da Palestina no tempo de Jesus. Os evangelistas não poderiam ter inventado tudo isso com tanta precisão.

São Lucas, que não era apóstolo nem judeu, fala dos imperadores César Augusto, Tibério; cita os governadores da Palestina: Pôncio Pilatos, Herodes, Filipe, Lisânias e outros personagens como Anás e Caifás (cf. Lc 2,1;3,1s). Todos são muito bem conhecidos da História Universal.

São Mateus e São Marcos falam dos partidos políticos dos fariseus, herodianos, saduceus (cf. Mt 22,23; Mc 3,6).

São João cita detalhes do Templo: a piscina de Betesda (cf. Jo 5,2), o Lithóstrotos ou Gábala (cf. Jo 19, 13), e muitas outras coisas reais. Nada foi inventado, tudo foi comprovado pela História.

Além dos dados históricos sobre a vida real de Jesus Cristo, tudo o que Ele fez e deixou seria impossível se Ele não tivesse existido. Um mito não poderia chegar ao século XXI [...] com mais de um bilhão de adeptos.

Os Apóstolos e os evangelistas narraram aquilo de que foram testemunhas oculares; não podiam mentir sob pena de serem desmascarados pelos adversários e perseguidores da época. Eles eram pessoas simples, alguns, pescadores e nunca teriam a capacidade de ter inventado um Messias do tipo de Jesus: Deus-homem, crucificado, algo que era considerado escândalo para os judeus e loucura para os gregos. Jamais isso seria possível com Israel sob o jugo romano, dominador intransigente.

Outro fato marcante é que os judeus esperavam um Messias "libertador político", que libertasse Israel dos romanos, no entanto, os Evangelhos narram um Jesus rejeitado pelos judeus, e que vem como libertador espiritual e não político. Os apóstolos teriam a capacidade e a coragem de inventar isso? Homens rudes da Galileia não teriam condições também de forjar um Jesus tão sábio, santo, inteligente, desconcertante tantas vezes.

Tem mais, a doutrina que Jesus pregava era de difícil vivência no meio da decadência romana; o orador romano Tácito se referia ao Cristianismo como "desoladora superstição"; Minúcio Félix falava de "doutrina indigna dos gregos e romanos". Os Apóstolos não teriam condições de inventar uma doutrina tão diferente para a época.

Será que poderia um mito ter vencido o Império Romano? Será que um mito poderia sustentar os cristãos diante de 250 anos de martírios e perseguições? O escritor cristão Tertuliano (†220), de Cartago, escreveu que "o sangue dos mártires era semente de novos cristãos".

Será que um mito poderia provocar tantas conversões, mesmo com sérios riscos de morte e perseguições?

No século III já havia cerca de 1.500 sedes episcopais (bispos) no mundo afora. Será que um mito poderia gerar tudo isso? É claro que não.

Será que um mito poderia sustentar uma Igreja, que começou com doze homens simples, e que já tem 2.000 anos; que já teve 264 Papas e que tem hoje mais de 4.000 bispos e cerca de 410 mil sacerdotes em todo o mundo? As provas são evidentes. Negar, historicamente que Jesus existiu, seria equivalente a negar a existência de Platão, Herodes, Pilatos, Júlio César, Tibério, Cleópatra, Marco Antônio, entre outros.

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

5 de abril de 2010

Gravidez no namoro

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O relacionamento vai exigir do casal o desprendimento para o novo
A vivência da intimidade sexual passou a ser normal para muitos casais de namorados. Talvez, por não entenderem a transcendência do ato sexual, muitas vezes, o sexo é nivelado por baixo. Uma vez minimizado na sua grandeza, erroneamente, este é também colocado como meio de sustentação do namoro. Para a maioria dos jovens casais, tal intimidade é justificada como sendo também uma fase do conhecimento daquele (a) a quem dizem amar.

A experiência sexual nesse período ganha força quando o casal percebe que essa é uma prática comum também no relacionamento dos colegas. Na roda de amigos, muitos pensam que seria bobeira não aproveitar a situação, sendo que o (a) namorado (a) deseja o mesmo. Julgando-se conhecedores de todas as coisas e muito seguros de si, acreditam que a possibilidade de uma gravidez só acontece para quem não souber evitá-la; até o momento em que a namorada traz a notícia de que está grávida. (Dessa vez, a tônica das conversas na roda de amigos será o "vacilo que fulano deu"!)

É sabido que algumas jovens têm más experiências ao comunicarem ao namorado a "consequência" ocorrida pela referida intimidade. Nesse momento, alguns simplesmente desaparecem ou as culpam, como se elas fossem as únicas responsáveis pela gravidez. Os namorados se esquecem de que a responsabilidade que hoje está sobre elas é também resultado do compromisso que, indiretamente, assumiram ao desejar viver a intimidade no namoro. As jovens mães percebem, então, a duras penas, que fizeram uma má escolha, reconhecendo que aqueles que, antes, lhes fizeram tantas promessas, foram apenas capazes de engravidá-las. Mesmo sem querer, agora, o casal de namorados se torna pais.

Para outros casais, ainda que a notícia da gravidez venha a abalar o dia, eles sabem que não poderão ocultar a situação por muito tempo. Em breve começarão a acontecer as mudanças no corpo da mulher. Então, a ela caberá a responsabilidade de enfrentar os pais e tentar justificar o óbvio; enquanto que a ele caberá a iniciativa de preparar condições de promover o conforto básico, tanto emocional como de bem-estar, que toda mulher grávida necessita.

Se uma gravidez para uma pessoa casada já causa grandes mudanças e exige muitas adaptações, imaginemos para aqueles que ainda estão no começo da realização de seus sonhos e planos... Para estes, a situação se torna ainda mais exigente, pois, vivendo o novo papel, surgem – nas vidas dos então namorados – as dificuldades pertinentes ao convívio contínuo. O relacionamento vai exigir do casal o compromisso e o desprendimento de se moldar ao inusitado apresentado pela situação. Tudo será vivido de maneira intensa, em meio às preocupações, aos choros do bebê, às dificuldades para continuar os estudos, à busca de trabalho, à aceitação dos familiares, entre outros.

O tempo propiciado ao casal, durante o namoro, para avaliar o perfil do pretendente e se conhecer mutuamente é abreviado com a gestação da namorada. Com tantos desafios, os namorados perceberão que pouco conheciam o temperamento do outro e, muitas vezes, se veem despreparados para assumir as consequências do ato que os levaria para muito mais além do prazer experimentado.

Para não viver os mesmos atropelos de outros namorados que tiveram de provar das responsabilidades paternas antecipadamente, melhor será para os jovens casais aplicarem-se no crescimento, nas adaptações e no amadurecimento do namoro. Dessa maneira, quando se decidirem pelo casamento, nenhum dos dois poderá alegar que não conheceu suficientemente a pessoa escolhida para compartilhar com ele (a) a vocação do matrimônio.

A prova de amor se confirma no compromisso mútuo de fazer o outro feliz por aquilo que ele é e não por aquilo que ele faz.

Um abraço

Foto Dado Moura
contato@dadomoura.com

2 de abril de 2010

Viver, reviver e ressignificar!

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Quando quero viver o novo, tudo também se renova
Neste tempo de Páscoa, do memorial da Paixão de Cristo, tão cheia de significados e mistérios, remeto-me aos pensamentos daquelas pessoas que me procuram no consultório ou mesmo em conversas informais, e-mails e comentários no blog para falar de suas angústias e da vontade de viver o novo.

Viver o novo, muitas vezes, é reviver, mesmo que emocionalmente, aquelas dores que nos consumiram por um tempo, mas das quais temos de tirar apenas as lições necessárias para seguirmos em frente. Com isto, não quero que pense que estou dispensando seu sofrimento; muito contrário disto, quero que você faça comigo uma reflexão sobre aquilo que você é, aquilo que pensa, o que viveu e que gostaria de retomar na Páscoa da sua vida.

Viver a novidade da Páscoa é ressignificar, ou seja, dar um novo significado aos seus caminhos com um intenso desejo de transformar sua vida. Se você trazia consigo mágoas e ressentimentos, por que não perdoar? Por que não dar uma nova chance àquela amizade que você achava perdida? Por que não ressuscitar aquele casamento que você nem tinha mais esperança de retomar?

Se falamos da misericórdia de Deus, aceite que Ele, na figura do sacerdote, perdoe suas faltas; aceite de fato o perdão em sua vida. Temos memória, por isso não vamos nos esquecer das situações, mas não façamos delas um marco de dor e de autocondenação eterna em nossas vidas.

Se você busca converter-se daquilo que não gosta em sua vida, dos comportamentos dos quais você quer se livrar, siga um firme propósito, mas não tente fugir ou agir com comportamentos de fuga na primeira dificuldade. Pode ser difícil, pois a estrada terá muitas pedras, mas você colherá frutos saborosos ao prosseguir neste caminho. E é aí, bem neste ponto, que entra a sua fé n'Aquele que o fortalece e dá sustento no caminho. Fé naquele tratamento médico que você faz, mas que, nem sempre, lhe dá tanta confiança; fé que sua perseverança fará com que você encontre um novo trabalho para sustentar você e sua família. No entanto, há também um fator muito importante para que tudo isto ocorra: não adiantará a fé, se você não persistir, perseguir seu alvo.

Não seja expectador da sua própria vida; se está difícil, busque ajuda; se levantar-se é um peso maior do que aquilo que você consegue suportar, erga suas mãos, deixe de lado seu orgulho, peça ajuda. O conforto virá, muitas vezes, de onde menos acreditamos. Não queira resolver todas as suas pendências de uma vez. Organize seus pensamentos, coloque no papel as coisas que gostaria da fazer para viver melhor, coloque prioridades, imagine o passo a passo; não queira que tudo se transforme num piscar de olhos.

Seja, nessa Páscoa, um testemunho de vida nova. Use aquela fé e aquela atitude que, tantas vezes, você incentiva nas pessoas, mas que não tem coragem de assumir para você. Viva intensamente essa Páscoa, não apenas como um evento católico ou uma festa para celebrar e trocar chocolates, viva cada minuto de sua vida como uma verdadeira Páscoa para a vida inteira.

Foto Elaine Ribeiro
psicologia01@cancaonova.com

29 de março de 2010

Nossa Senhora e a Eucaristia

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Jesus se torna acessível às pessoas na comunhão
O Papa João Paulo II escreveu o documento Ecclesia de Eucharistia falando da extrema ligação de Nossa Senhora com a Eucaristia. Há um nexo profundo entre Maria Santíssima e a Eucaristia; o próprio Papa João Paulo II afirma que Ela foi o primeiro sacrário do mundo, por essa razão, Ela em tudo tem a ver com Jesus Eucarístico. A primeira coisa que o saudoso Pontífice nos recorda é que Maria não estava presente no momento da instituição da Eucaristia, na Santa Ceia, pois não era o papel dela estar lá, mas através de sua intercessão, realizou-se o milagre da transubstanciação pelo poder do Espírito Santo.

O que faz um homem ser homem? É a beleza física? A cor dos seus cabelos? O formato de sua orelha? Nada disso. O que o faz ser homem é algo que não se vê, é a alma! É a essência de alguém que o faz ser quem é. Assim, quando vemos a hóstia branca, redonda, de diversos tamanhos, não fazemos conta da essência, da substância e é isso que acontece no momento da transubstanciação, ou seja, a transformação da substância vinho e pão para Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Jesus se torna acessível às pessoas na comunhão. Todos podem receber a Eucaristia, independentemente de sua condição física ou psicológica. Deus quis que você recebesse o Corpo, a Alma e a Divindade de Cristo. É Jesus, que se esconde e se aniquila através da Eucaristia.

Só há um caso em que o Senhor não está na hóstia: é quando o trigo ou o vinho se estragam, deixando de ser pão e vinho, não tem como ser Jesus. Jesus não "está" no pão, Jesus é o Pão Consagrado. Quantas vezes, Ele entra na boca de um bêbado e até de alguém que não está preparado para recebê-Lo na comunhão.

Quando compreendermos o amor de Jesus por nós, nosso desejo pela Eucaristia será maior. Hóstia significa "vítima oferecida em sacrifício". Cristo deu o poder aos sacerdotes para consagrarem a substância do pão e do vinho em Corpo e Sangue d'Ele por inteiro, é a palavra de Cristo pelo sacerdote. O sacramental é aquilo que depende de nossa fé; mas, o sacramento é diferente, pois, por exemplo, no sacramento do batismo a criança não precisa ter fé para acontecer a graça, pois é Deus quem opera.

Todos nós conhecemos a passagem bíblica que narra as Bodas de Caná (cf. Jo 2,1-12). Naquele momento, o Senhor mudou tanto a aparência como a substância do líquido, diferentemente do que acontece durante a consagração, na celebração da Santa Missa. A essência do trigo é o próprio Corpo de Cristo; a essência do vinho é Seu próprio Sangue.

Assim como Jesus se fez presente no seio da Santíssima Virgem Maria durante a gestação, quando O recebemos na Hóstia Consagrada, Ele está presente dentro em nós. Então, como Maria, podemos cantar o "Magnificat".

Nosso Senhor Jesus Cristo se encarna no corpo de cada um de nós, também com o desígnio de nos salvar. Ele tem uma paixão enorme pela nossa essência, a nossa alma, por isso, tenta de todas as maneiras salvá-la. Diante disso, cabe a nós olharmos para Cristo, na Eucaristia, com a mesma adoração que Isabel recebeu Maria, quando grávida, ao visitá-la (cf. Lucas 1,39-56).

Assim como a Igreja e a Eucaristia não se separam; a Virgem Maria e a Eucaristia também não se separam. Quem entra na comunhão com Cristo, entra na escola de Maria, pois Ela tem muito a nos ensinar!

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

26 de março de 2010

Conversão é um reencontro com Deus

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Não é o nosso esforço que nos justifica
Causa-nos uma sensação de desconforto cada vez que ouvimos falar em penitência ou mudança de vida. Aprendemos tão bem a lição (legítima) da autoestima, que nos parece tirar do esquema qualquer alusão a fraquezas nossas, ou pior ainda, a pecados. Trata-se de uma verdadeira crise de compreensão da penitência. Soa estranho aos ouvidos quando Jesus insiste na conversão do coração. Mas toda a crise traz em si a esperança de uma superação, para inaugurar tempos novos.

Precisamos ter clareza sobre o valor das penitências: jejuns, subir escadas de joelhos, flagelar-se, não comer carne, ou até carregar pedra na cabeça... Tudo isso pode ser feito, quando entregamos essa penitência a Cristo, para estarmos unidos a Ele na Sua dor. "O sangue de Jesus nos purifica de todo pecado" (1 Jo 1, 7). Não é o nosso esforço que nos justifica. "Eis aquele que tira o pecado do mundo" (Jo 1, 29). A penitência, entendida como virtude, é um esforço permanente do cristão para se manter na santidade e na perfeição. Também para superar as fragilidades da vida. É um ideal jamais completado nesta vida. Ninguém deve ser cristão para ser penitente. Mas ao contrário, se deve ser penitente para ser bom cristão.

Essa verdadeira ascese deve nos acompanhar na vida. Mas a Santa Igreja nos convida a isso, de maneira mais acentuada, no tempo quaresmal (como também em todas as sextas-feiras do ano). O que se pede é tão pouco, nada impossível de cumprir. A nossa Mãe Igreja nos pede um jejum mitigado e a abstinência de alguma coisa que muito nos agrada. Isso na Sexta-feira Santa, como também nas demais sextas-feiras do ano (exceção é o tempo pascal).

Essas penitências devem levar à coroa de todo arrependimento: a prática da caridade para com o próximo. Vejam como o Papa Bento XVI sugeriu penitências muito mais pesadas ao povo irlandês, para alcançar o perdão pelos pecados sexuais praticados pelo clero. Tenho certeza de que o povo católico desse país [Irlanda] vai aceitar tal purificação. Será um novo começo para uma comunidade mais fiel e mais santa. A Irlanda vai reencontrar o seu caminho de justificação em Cristo.

Dom Aloísio R. Oppermann - Arcebispo de Uberaba
domroqueopp@terra.com.br

25 de março de 2010

O caminho do amor não é o mais fácil

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É preciso disposição para mudar de vida
Nesta Quaresma, celebramos algo que acontece, se atualiza e se manifesta. É vivo. Jesus veio para nos salvar e não para nos condenar. Essa luz e verdade, que é proclamada. Mesmo que exista incredulidade e resistência, Cristo nunca deixa de proclamar a verdade. Mas, para isso, precisamos viver esse tempo de prova e preparação. A experiência cristã nos convoca a essa realidade. Se a Palavra de Deus não permanece em nós, fazendo morada, a dureza do nosso interior, as incoerências e insensibilidades não cessam nunca.

Muitos daqueles que perseguiam a Jesus, buscando um motivo para condená-Lo, ouviram a Palavra de Deus, mas não buscaram mudança de vida. Até mesmo a Palavra que eles diziam observar, não estava no profundo do interior deles, não fazia morada neles.

"Se minha Palavra não permanecer em vós não podereis ser meus discípulos" (cf. Jo 8,31).

Permanecer, para São João, é experimentar Cristo. É ser verdadeiro discípulo. Morada lembra casa, que lembra intimidade, familiaridade. Aquele que traz a Palavra em seu interior torna-se alguém que tem intimidade com Deus.

Nesta Quaresma precisamos refletir sobre isso. Como está nossa relação com o Senhor? A Palavra de Deus encontrou morada em nós?

Quando você for se confessar, pergunte-se isto: você quer simplesmente apresentar os pecados ao sacerdote ou quer mudança? Só apresentá-los não basta. É preciso querer a mudança, senão, nada acontece. E vai ser apenas mais uma Quaresma. Contudo, é preciso disposição para mudar de vida. Pensar em "como" essa mudança vai acontecer de forma prática. A conversão maior é deixarmos todo desamor para assumir Deus, que é amor.

Sem experiência de amor não consiguimos deixar o desamor. Só existe fidelidade para o coração que ama e se deixa amar por Deus.

Em Êxodo está escrito que trocaram o Deus verdadeiro. E quantos de nós ainda estão adorando seus pecados, suas feridas? Pois, enquanto não aderirmos ao Deus verdadeiro, continuaremos perdidos, adorando outras coisas, e não adorando ao verdadeiro Deus, o essencial.

É no coração que está o centro das decisões, onde acolhemos o testemunho do Senhor. Quem rejeita Jesus, rejeita o Pai. Quem testemunha é o Pai. Não basta ver as obras, ler as Sagradas Escrituras, é preciso que a Palavra habite em nós. A Palavra precisa habitar em você para que aconteça a experiência verdadeira com o Senhor.

Mesmo diante da desobediência, o Senhor não desiste de nós. Ele está à sua espera. O Reino de Deus só se constrói na paciência. Quem não sabe esperar, erra.

Em Êxodo, lembramos o episódio daquele povo que, cansado com a situação enfrentada, resolve partir para a idolatria. Não são poucos os que hoje, diante das situações da necessidade de esperar, abandonam a Deus e buscam as soluções humanas em vez de esperar as promessas do Altíssimo. Essas pessoas jogam as promessas do Senhor fora, porque não sabem esperar.

Avalie, na sua vida, situações nas quais você cometeu erros, porque não quis esperar. Você se desesperou e errou. Até quando vai ser assim? Até quando vamos ser imediatistas e não vamos esperar no Senhor?

Precisamos aprender a esperar. Aprendamos com a Sagrada Escritura, com o Senhor, a ter um coração paciente. "Eu não entendo, mas eu espero". Precisamos saber esperar. Quando não se espera, a rebelião interior e exterior acontece por causa do desespero. E tomado por esse sentimento ninguém toma boas decisões. Na tempestade, não há outra coisa a fazer a não ser confiar que o Senhor está na "barca". E se Ele ali está não há o que temer. Porque Ele tudo pode. Ele está conosco! É preciso a experiência de confiança. Só crescemos na confiança com aquilo que conhecemos. E conhecer é experiência. É saber que o Senhor é íntimo, é próximo.

Eu preciso decidir a vida, além das minhas feridas. Preciso decidir a vida no amor. É isso que Jesus fez todo o tempo. Decidiu além daquilo que fizeram a Ele. Mesmo chagado, Ele perdoou, porque decidiu no amor e não nas feridas. Pois a caminho do amor não é o mais fácil, mas é o que gera redenção e nos transforma.

Padre Eliano
Fraternidade Jesus Salvador

22 de março de 2010

Namorar é a solução?

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Carência com carência só pode gerar desequilíbrio
Todos nós temos a necessidade de ser amados. São muitas as pessoas que, com o intuito de corresponder a essa carência, pagam caro e se submetem a diversas situações. Todos nós somos carentes. Mas, se essa carência afetiva não for bem direcionada poderá tornar-se um fator de desequilíbrio, arrastando-nos, muitas vezes, a tomar atitudes contrárias a um sadio comportamento.

Em uma sociedade, na qual as famílias são cada vez mais desestruturadas, – com mães e pais que são solteiros e filhos órfãos de pais vivos –, o índice de ausência de amor na formação de nossas crianças é assustador.

Uma criança que nunca recebeu um abraço de seus pais, que nunca recebeu carinho, e que, ao contrário, foi criada em meio a gritos e grosserias, com certeza, crescerá com um enorme vazio existencial. Muitas dessas "crianças", hoje, já crescidas, e impulsionadas por suas carências cometem grandes erros somente para atrair sobre si a atenção dos demais.

Por isso, acredito que antes de viver qualquer relacionamento afetivo, como o namoro, precisamos aprender a trabalhar nossa história, buscando a cura de nossos afetos. É claro que não precisamos ser perfeitos para namorar; mas, existem coisas em nossa vida que precisamos resolver antes de assumir um relacionamento.

Nem sempre o namoro é a solução, e pode até se tornar negativo se não estivermos preparados para vivê-lo. Carência com carência só pode gerar desequilíbrio e um relacionamento doentio, no qual a cobrança será excessiva e a ternura ausente. De modo que um sufocará o outro e a relação acabará se tornando um peso.

Existem determinadas coisas em nossa história que somente Deus pode curar; outras, que somente nós podemos resolvê-las. Por isso, faz-se necessária a experiência do autoconhecimento, para descobrirmos nossa verdade e os passos que precisamos dar, buscando a experiência da cura interior, de modo que Deus possa trabalhar em nossa história, curando nossas feridas e marcas. Essas experiências precisam preceder nossos relacionamentos, para que o ciúme, o orgulho e nossas carências não destruam o verdadeiro afeto no relacionamento.

Namorar é bom, ou melhor, ótimo! Mas, melhor ainda é namorar pronto, do jeito certo, tendo equilíbrio no amar e ser amado, compreendendo que somente Deus pode preencher o vazio da alma, e que este espaço o outro não pode ocupar, por mais que o forcemos a isso.

Amor em que um diviniza o outro e depois o prende é amor destemperado e doente.

Antes de se viver o "nós", é preciso trabalhar o "eu", para que, no futuro, nossos relacionamentos tenham mais qualidade e sejam mais duradouros.

Quem não se deixa levar pela pressa, mas segue o caminho proposto por Deus, colherá maravilhosos frutos e alcançará, gradativamente, a felicidade em seus relacionamentos.

Tenhamos a coragem de realizar tudo do jeito de Deus e não do nosso, abrindo-nos à Sua ação libertadora em nossa vida. Somente, assim, poderemos acompanhar e ser bem acompanhados pelos demais.

Deus abençoe!

Foto  http://blog.cancaonova.com/adrianozandona/Adriano Zandoná
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