28 de janeiro de 2023

Você tem nutrido sentido à sua vida?


Em 1913, nascia um filósofo fruto de seu tempo, Albert Camus, chamado de "O absurdista". Esse homem cresceu em meio ao contexto caótico de guerras, decepções com as maldades humanas e questionamentos contra o domínio da técnica ou da estrutura política. Realmente um ambiente instável, situado em sua vida adulta de 2º Guerra Mundial e pós-guerra. Por isso, sua filosofia e seus pensamentos ocupam a sua historicidade.

Ele caracterizou-se por uma filosofia humanista libertária, ou seja, tendo a centralidade no homem e em sua liberdade. Traz consigo o ceticismo e marca a história pelo auge da desesperança. Assim, sua pergunta fundamental é "se a vida vale ou não a pena ser vivida". Para ele, nada mais importa, nem a metafísica, nem ontologia, crença ou ciência, o que vale é responder esse questionamento. Com a ironia própria da filosofia, ele faz refletir os motivos do suicídio, faz refletir a necessidade de continuar vivendo. (CAMUS, O mito de Sísifo. 1942).

Dessa maneira, afirma categoricamente que a vida não vale a pena ser vivida. Para ele, a vida é infrutífera, sem sentido, e isso é uma verdade incontestável, truísta. Obviamente, por detrás dessas afirmações está o problema filosófico milenar do mal e do sofrimento. Diante dessa questão, que em sua época, e em tantas outras como atualmente, vigorada de modo fatídico pelas guerras e hoje evidenciada pela pandemia. Responder ao mal é perguntar-se por Deus, pelo homem, pelo bem, pela transcendência.

Créditos: by Getty Images / DjelicS/cancaonova.com

Consequências do absurdo

O autor acredita que o absurdo apresenta-se na vida humana e questiona a todo tempo, com um ciclo de vai e vem, tendo duas respostas em cima do truísmo: ou o suicídio ou continuar vivendo. A grande tomada de consciência não é descobrir o absurdo, isso todos percebemos, mas é o que ele gera em cada um. Por muitos, o absurdo é descoberto e ignorado, descoberto e respondido com uma ilusão que seria científica, religiosa etc. O raciocinar gera a descoberta do absurdo.

Na proposta de Albert Camus, percebe-se que está envolta de um teor poético e até místico quando se coloca essa vivência estritamente gratuita, sem nada esperar, sem nada iludir-se, uma vida totalmente dedicada à aceitação do absurdo e, ainda por cima, uma felicidade nesse ambiente. No mínimo, é uma realidade desumana na qual se anula as potencialidades humanas e seu desenvolvimento, sua liberdade levada ao extremo sem necessidade de nada, sem dependência alguma a não ser de si mesmo e de sua aceitação da vida absurda. Se não uma proposta desumana, então estritamente pessoal e sem alcance universal e comunitário. Quem seria capaz de conviver e viver sem esperança? Sem sonhos? Sem redenção? Sem sentido?

Sua vivência seria realmente uma abnegação da essência humana, uma renúncia maior do que o homem é capaz de assumir. Cabe recordar a experiência de João da Cruz, no livro "A subida do Monte Carmelo", que propõe um desapego semelhante na busca do nada em prol do tudo. Realmente, uma experiência mística e nem sempre acessível ao complexo da universalidade humana, entretanto João ainda esperava algo em troca, ainda tinha algo que o fazia lutar e renunciar: A esperança em Deus. Ao anular essa esperança maior, no caso de Camus, não se encontraria forças para suportar as renúncias e os sofrimentos humanos, seria uma verdadeira afronta psicológica.

A esperança é o sentido da vida

Também cabe comentar a perspectiva do suicídio, no qual é aceito e justificado pelo autor mesmo não sendo a melhor resposta. Essa atitude reflete alguém que perdeu as esperanças e por isso os sentidos de viver, talvez seria a conclusão de muitos que procurassem aderir a obra absurdista. Viver é realmente ter esperança em algo, e por isso nutrir sentido. Dentro desse viés, para o catolicismo, o suicídio é sempre uma realidade que choca, que incomoda e espanta. Obviamente, não é a fonte final do julgamento, mas cria um ambiente de preocupação e comprometimento com tal realidade.

O questionamento fundamental de sua filosofia já nasce sanado, não há o que perguntar-se sobre o valor da vida que é o mais relevante diante da perspectiva cristã. Mas é uma questão compreensível diante do ambiente de Guerras mundiais e de pessoas que depositaram suas raízes mais profundas em esperanças insólitas. Em meio às decepções e frustrações do tempo e do contexto vivido, é compreensível esse tipo de proposta e de solução filosófica, demonstra um viés de alguém que tem medo de sofrer porque não tem esperança, alguém que tem medo de ser enganado e frustrar-se porque ainda não fez a experiência com o fundador do Universo e seu amor redentor. Em Deus nasce a esperança sólida e firme, que se estabelece no hoje projetada para a eternidade.



Rafael Vitto

Rafael Vitto, natural da cidade de Cuiabá (MT), é membro da Comunidade Canção Nova desde 2015. Hoje, ele é seminarista e estudante da curso de Filosofia na Faculdade Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/voce-tem-nutrido-sentido-a-sua-vida/


26 de janeiro de 2023

Como ter expectativa e esperança de um amanhã melhor?


Os tempos atuais parecem ofuscar as nossas vistas e apavorar o coração. Por todo lado, inúmeras mortes, fome, guerras, corrupções, descasos de governantes etc. Em meio a esse cenário, há como manter a esperança? A resposta é sem titubear: sim!

Primeiramente, podemos fazer uma breve análise histórica ("breve" porque não se trata aqui de um artigo acadêmico), ou melhor, de como a história é cíclica. Apenas trago alguns exemplos:

Se fôssemos analisar jornais da virada do século XIX para o XX (como fiz muito durante a faculdade nas disciplinas sobre história do Jornalismo), eles eram muito sensacionalistas e falavam sobre como as pessoas estariam com medo e receosas em relação aos acontecimentos da época: mudanças no modo de produção e de trabalho depois da Revolução Industrial; substituição de pessoas por máquinas em alguns setores econômicos; urbanização das cidades; mudanças de paradigmas sociais entre outras transformações. 

Créditos: Warchi by GettyImages / cancaonova.com

Fé e esperança num mundo melhor

Há cerca de 100 anos, os Santos Pastorinhos, São Francisco e Santa Jacinta Marto, morreram de gripe pneumônica ou gripe espanhola. A doença provocou a morte de 50 a 100 milhões de pessoas nos anos de 1918 e 1919, um número maior do que as mortes por Peste Negra, ocorrida ao longo de vários séculos, ou em consequência da I Guerra Mundial, ou seja, sempre será possível constatar os males de cada época. Não minimizamos, de forma alguma, que os tempos atuais são desafiadores e que requerem total atenção e preocupação; cada um deve fazer a sua parte para proteger a si e aos outros, devemos lutar por justiça social, realizar tudo o que é humanamente possível. Contudo, não são os únicos momentos difíceis da história.

A própria Sagrada Escritura também nos atesta: quantos sofrimentos, conflitos, escassez foram vividos pelo povo de Deus! Porém, sempre o Senhor se manifestou com o Seu amor, sua misericórdia e presença! Sempre! Deus sempre se mostrou fiel com Seus filhos de todas as gerações e, assim, mantém viva a nossa fé e esperança num futuro melhor. Aliás, Ele é a própria fidelidade!


O Senhor nos ouve

Vejamos o seguinte relato ocorrido com Samuel, enquanto os filisteus tentavam combater contra Israel:

"Samuel tomou um cordeiro de leite e ofereceu-o inteiro em holocausto ao Senhor; depois, clamou ao Senhor por Israel e o Senhor o ouviu. Enquanto Samuel oferecia o holocausto, os filisteus começaram o combate contra Israel. O Senhor, porém, trovejou com a sua voz fortíssima sobre os filisteus naquele momento e eles se dispersaram, sendo batidos pelos israelitas. Os vencedores, saindo de Masfa, perseguiram os filisteus e feriram-nos até o lugar que está por baixo de Bet-Car. Tomou Samuel uma pedra e pô-la entre Masfa e Sen, dando-lhe o nome de Eben-Ezer, pois disse: 'Até aqui nos socorreu o Senhor'. Humilhados dessa forma, os filisteus não tentaram mais voltar ao território de Israel. A mão do Senhor pesou sobre os filisteus durante toda a vida de Samuel. Foram devolvidas a Israel as cidades que os filisteus lhes tinham tomado, desde Acaron até Gat. Israel livrou sua terra das mãos dos filisteus e havia paz entre Israel e os amorreus. Samuel foi juiz em Israel durante toda a sua vida" (1 Sam 7, 9-15).

Apesar das ameaças e iminentes ataques, Samuel permaneceu no seu papel de profeta: "Tomou um cordeiro de leite e ofereceu-o inteiro em holocausto ao Senhor; depois, clamou ao Senhor por Israel e o Senhor o ouviu". Em seguida, o Senhor dispersou os filisteus e cidades foram restituídas a Israel. Como forma de agradecimento, Samuel deixou um marco numa pedra: "Até aqui nos socorreu o Senhor".

Deus sempre nos socorre

Essa palavra deve nos inspirar e nortear nossa sociedade e cada vida. Em cada momento da história humana ou individual, a mão de Deus esteve presente: "Até aqui nos socorreu o Senhor". Se olharmos para a nossa história e com os olhos da fé, constataremos isso: nunca o Pai, o Filho e Espírito Santo nos abandonam.

Isso também nos projeta para o futuro: se foi e é assim ao longo das gerações, não será diferente no futuro. Em todo tempo, o Senhor nos socorre!

E sabe também o que não pode mudar? A centralidade de nossa existência em Jesus Cristo! Independentemente de circunstâncias particulares ou gerais, que o Senhor nos encontre fazendo a nossa parte no aqui e agora. Que o nosso foco seja o modo de vida do Evangelho e do que nos ensina toda a Palavra de Deus

O presente é o que temos, a vida de agora, que precisa ser encarada tal como ela é ou está. Doente ou saudável, pobre ou rico, na escassez ou na abundância… O que importa é ser de Deus e buscá-Lo de todo coração, com os olhos fitos na eternidade. O restante são aspectos temporais. Tudo passa, menos o Senhor!


 


Gracielle Reis

Gracielle Reis é missionária da Comunidade Canção Nova, sendo segundo elo, na missão de Portugal.

Carioca, jornalista pela Universidade Federal Fluminense (UFF): Bacharel e Licenciada em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ): e pós-graduação em Logoterapia, pela Associação de Logoterapia Viktor Emil Frankl (ALVEF).

Atualmente, jornalista na TV Canção Nova, em Portugal.

Em trabalhos com mulheres e famílias, também é instrutora do Método de Ovulação Billings e Consultora de Imagem, Estilo e Coloração Pessoal.

E-mail: graciellereis@gmail.com

Instagram: @gracielledasilvareis [https://www.instagram.com/gracielledasilvareis/]

Facebook: Gracielle Reis


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/como-ter-expectativa-e-esperanca-de-um-amanha-melhor/


23 de janeiro de 2023

E quando a última palavra de Deus é a eternidade?


Sem medo de errar, posso afirmar, sem dúvidas, que 2022 foi o ano mais difícil da minha vida. Nunca havia enfrentado tantas provações, tantas dores e tantas lutas. Eu sou o Gabriel, mas você também pode me conhecer como o "irmão do Samuel". Meu irmão é meu exemplo de santidade, de fé e confiança em Deus, mesmo quando tudo parece sem rumo.

No final de 2021, "Samu" começou a sentir desconfortos na barriga e não conseguia se alimentar direito. Após ir ao médico e ter uma piora, ele foi internado na Santa Casa de Cruzeiro, então, entre diagnósticos errados e demoras, fizeram um exame de ultrassom no qual constaram uma grande massa. Fizeram outros exames e afirmaram ser um tumor. Com a notícia, minha mãe olhou nos olhos dele e disse: "Confie, porque a última palavra é de Deus". Samuel foi transferido para Taubaté para exames mais específicos.

Em Taubaté, em meio aos pacientes de Covid e sem leito disponível, fizeram a tomografia e identificaram, além do grande tumor na região do duodeno, tumores na medula, coluna, ossos e baço. Quando finalmente conseguimos um quarto, minha mãe falou para ele, olhando a vegetação pela janela: "Olha, Samuel, estamos no Céu", ele virou e falou: "Claro que não, mãe! O Céu é muito mais bonito!". Após uma semana de pioras e emagrecendo muito, conseguimos uma transferência para o hospital especializado em câncer infantil, em São José dos Campos.

E quando a última palavra de Deus é a eternidade

Créditos: Arquivo pessoal

A resposta de Deus

Enfim, não dá para contar tudo neste texto, mas foram, ao total, sete transferências para a UTI, seis meses direto sem ir para casa, confusão mental, Covid dentro da UTI, hemorragias, muitas dores e nenhuma reclamação. Em todos os sete meses, meu irmão deu testemunho de confiança e fé em Deus. Ele movimentou inúmeras pessoas a orarem por ele, seu testemunho no hospital tocou os profissionais. Em junho, ele retornou para casa, como qualidade de vida dada pelos médicos. E, como um milagre, ele ficou bem; se alimentou por quase 20 dias e, no dia 25 de julho, após seu aniversário de 17 anos (03/07), ele retornou para a Casa do Pai.

A batalha do luto

A eternidade do meu irmão veio como um soco no estômago repetidas vezes. Lembro-me de estar fazendo o roteiro de uma entrevista da Maria Renata (missionária da Canção Nova) em que ela partilhava sobre a sua experiência de luto, e eu achava tão essencial aquelas palavras, mas falava que não viveria aquilo com o meu irmão. Na hora em que, junto com os meus pais, recebi a notícia do médico, desmaiei. Mas, depois, sob a luz do Espírito Santo, nos acalmamos e fomos nos despedir. Como ele estava sereno, com a face de quem encontrou o Cristo e não teve medo da morte.

Naquele momento, a única coisa que conseguimos fazer foi louvar a Deus e agradecer por termos o privilégio de termos vivido 17 anos com ele. Não houve velório, pois ele testou positivo novamente para Covid, mesmo sem nenhum sintoma. Porém, ele reuniu uma multidão na porta do hospital e no cortejo, testemunhando uma vida doada a Deus, um reencontro à Casa do Pai, e que a vida é breve para não amarmos o Nosso Senhor.

As primeiras semanas após a perda são bem movimentadas, somos gratos porque estivemos sempre amparados de amigos e familiares que deram suporte à dor que ainda estamos sentindo. Com o passar das semanas e com o retorno à rotina, o vazio começa a aumentar. A falta de um toque, do carinho e da voz são como flechas que, silenciosamente, atravessam o nosso coração, no entanto, também me faz querer poder fazer mais pelos meus pais, aliviar a dor que sei que nunca mais vai passar.

Recomece até atingir a eternidade

Porém, ao mesmo tempo, vivenciamos a graça de Deus que nos alcança, porque não deixamos de ver, em nenhum momento, seu amor que nos acompanha. Confesso que a aceitação é uma palavra bem forte para o que vivemos, mas aprendemos a respeitar a vontade de Deus e acolhê-la. Além disso, vivemos, hoje, com a certeza de que precisamos nos esforçar e lutar para que seja possível encontrá-lo um dia no Céu. Sei que de lá, por sinais claros, ele intercede por nós, meu amado irmão Samuel Tobias.

A cada acordar, é um novo recomeço, uma nova decisão de lutar por mim, por ele e pela minha família. Pode ser que recomeçar não seja a palavra mais adequada, porém, posso utilizá-la como sendo todo dia o recomeçar da minha decisão de seguir caminhando até a morada celeste. E, um dia, espero ser digno de adentrá-la.

Gabriel Jorge (irmão do Samuel Tobias) – Colaborador da Criação Multimídia – Sistema Canção Nova de Comunicação


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/e-quando-a-ultima-palavra-de-deus-e-a-eternidade/


20 de janeiro de 2023

Como recomeçar diante a uma frustação?


Atualmente, estou cursando o segundo ano de fisioterapia, porém, esse nem sempre foi o meu desejo. Eu venho de uma família predominantemente formada por militares — tios e primos no exército e uma prima na aeronáutica.

O maior exemplo e incentivador do meu sonho de seguir carreira militar sempre foi o meu pai que, por alguns anos, atuou como policial militar na cidade de Pouso Alegre, Minas Gerais. E, mesmo após a sua saída da corporação, sempre o tive como guia. As suas histórias faziam os meus olhos brilharem; e aprendi que ser policial é fazer o bem ao desconhecido, salvar vidas, ajudar ao próximo sem esperar nada em troca. Então, era esse o meu sonho.

O primeiro passo

Aos 18 anos, fiz a primeira prova do concurso e foi um desastre! Acertei apenas 15 questões de um total de 60. Após algumas tentativas sem êxito e sem entender o porquê, decidi então cursar algum nível superior. Então, matriculei-me em administração, mas sempre visando a carreira militar, pois, com a faculdade, poderia realizar o concurso da Polícia Mineira, por isso, nunca parei de estudar  e continuei me dedicando ao curso preparatório para concursos. Entretanto, o resultado era sempre negativo e não entendia o motivo de não conseguir.

Como recomeçar diante a uma frustação

Créditos: Cecilie_Arcurs by GettyImages / cancaonova.com

No entanto, em 2017, aconteceu algo que destruiu o meu mundo: meu pai, não mais policial, quando atuava como supervisor de segurança em uma empresa da região, foi alvejado durante uma troca de tiros e veio a falecer. Nesse momento, eu perdi tudo, fiquei desesperado; e perguntava a Deus o porquê de tudo isso, meu maior apoiador, meu herói e eu o tinha perdido.

A resposta de Deus

Essa perda despertou em mim um sentimento ruim, de maldade e de vingança. Eu pedi a Deus que me aprovasse no concurso da polícia, mas não mais para fazer o bem. O resultado? Não fui aprovado e abandonei a faculdade. Com o passar do tempo, entendi que somente a Deus cabe a justiça e que a vingança não me levaria a lugar nenhum.

Com essa reflexão, o desejo de fazer o bem voltou e continuei a tentar ingressar na polícia. E, no decorrer do tempo, eu conheci a fisioterapia e me encantei, afinal, era tudo o que sempre quis: ajudar as pessoas por meio das minhas mãos, que são as minhas ferramentas de trabalho capazes de mudar vidas.

Esse faculdade me trouxe o ponto de partida para o meu recomeço, pois, em setembro de 2002, fui chamado para ser voluntário na tenda dos peregrinos em Aparecida e fui. E, mesmo com medo, acolhi pessoas do Brasil todo, algumas conhecidas e a maioria, talvez, eu nunca mais as veria. Foram cinco dias de trabalho intenso, madrugada adentro, porém, ao final, em silêncio, eu me sentei ao chão e consegui sorrir porque sabia que Deus me dava a Sua resposta diante a minha frustração. E meu coração estava onde deveria estar: me doando pelo outro e, por isso, entendi que a fisioterapia é o meu futuro.

Gustavo Moretti, 26 anos, Lorena – SP


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/profissao/como-recomecar-diante-uma-frustacao/


18 de janeiro de 2023

Recomeçar diante de um beco sem saída


Quando um dos maiores medos do brasileiro "bate em nossa porta", fica difícil não desabar. A pergunta que fica é: "E agora?". Com o desespero agindo, a "luz no fim do túnel" parece não surgir. No meu caso, a melhor solução foi recomeçar e construir uma nova porta.

Falo do desemprego. Afinal, estar desempregado pode trazer o mais complicado dos cenários para nossa vida. Os sentimentos de rejeição e incapacidade podem gritar alto dentro de nós. E confesso que comigo foi assim.

Ser desligada de uma empresa onde dei "meu sangue" durante o período mais crítico da pandemia e da minha vida pessoal, me machucou e me derrubou. A sensação era de que, mesmo oferecendo tudo que tinha, não era suficiente.

O beco sem saída

Porém, preciso admitir que também fui tomada por uma sensação de alívio, já que estava liberta de um serviço do qual já me fazia sentir incapaz. Só que esse sentimento acabava engolido pelos medos do desemprego e o desgosto de sentir-se rejeitada.

Créditos: by Getty Images / Marjan_Apostolovic/cancaonova.com

Na minha vida pessoal, eu passava pela maior perda, a morte de meu avô, que era muito especial para mim. Meu namorado também havia sofrido um grave acidente de trabalho e exigia muito da minha capacidade física e psicológica. Com o profissional também abalado, eu me vi em um "beco sem saída".

Sempre fui muito religiosa, e parte de mim queria acreditar que a salvação seria me apegar a Deus novamente, porém, a minha metade derrotada por tantas perdas e desafios via-se um pouco descrente. Entretanto, aprendemos do jeito mais difícil que poucas são as pessoas que podem jogar uma corda para nos salvar do poço escuro.


O consolo de Deus

Perdida e sem forças, não encontrei outro alento senão minha fé. Eu precisava e queria acreditar novamente. Deus não poderia ter me abandonado, eu tinha que crer que Ele me carregava no colo durante a tempestade, mesmo que não parecesse. Se não fosse Ele, ninguém mais estaria comigo, e eu não queria estar sozinha. Aquela gota d'água do desemprego não poderia me enterrar.

Precisei ser forte, pelos que amava e principalmente por mim. E quando a oportunidade não surge, a gente cria. Focar no profissional me ajudaria na fase ruim do pessoal, e foi isso que fiz. Jornalista formada, era preciso acreditar em meu potencial. A internet estava aí para me ajudar a recomeçar.

Em março de 2020, eu estava no início do meu sucesso com um programa de rádio chamado "Conexão". Resolvi transformá-lo em uma empresa por meio do MEI (Microempreendedor individual). Voltei a prestar serviço, graças a minha empresa, para a Rádio onde fui estagiária.

O recomeço em busca dos sonhos

Comecei também um programa de rádio novamente. Foquei em meu sonho de viajar o mundo e levar cultura e conhecimento para as pessoas por meio do Youtube com o quadro "Por Francisco", uma homenagem para meu avô. E outros projetos vieram por meio do "Conexão".

Pode até parecer pouco, já que o sucesso ainda está meio longe. Mas, hoje, posso dizer, de coração, que esse foi o meu recomeço, e que me salvei do fundo do poço. Talvez, o desemprego tenha sido, afinal, uma coisa boa, pois impulsou-me rumo aos meus sonhos. Nós tropeçamos aqui e ali, mas seguimos. E sei, dentro de mim, que um dia poderei dizer que o que começou como um programa de Rádio tornou-se uma empresa de comunicação inovadora. Pode demorar, mas um dia chego em meus sonhos, mesmo que construindo tijolo por tijolo.

Isabele Campos –  Jornalista e criadora do @Jornalismo_Conexao


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/recomecar-diante-de-um-beco-sem-saida/


16 de janeiro de 2023

Que este seja o ano em que você recomece na fé

Veja só que interessante esta afirmação do Catecismo da Igreja Católica: "Por sua Revelação, 'o Deus invisível, levado por seu grande amor, fala aos homens como a amigos, e com eles se entretém para os convidar à comunhão consigo e nela os receber'"(cf. CIC, nº 142), e a resposta adequada a esse convite é a fé.

Portanto, a fé é uma resposta. Uma resposta que damos a Deus, diante do seu amoroso convite para nos unirmos a Ele.

O cheiro do Bom Pastor

Gosto muito de uma pintura que retrata Jesus como o Bom Pastor. Nesse quadro, Jesus carrega uma ovelha em seus ombros. Aprendi que o pastor faz isso com a ovelha, para que ela se acostume ao cheiro do pastor e, assim, o reconheça "logo de cara" e não saia por aí encarando perigos desnecessários. O cheiro que o pastor exala traz à ovelha uma identificação com seu pastor, uma segurança vivendo no redil com as outras ovelhas (afinal, esse redil tem dono!) e a garantia de que, diante de qualquer ameaça à ovelha, o pastor estará de olho para proteger aquilo lhe pertence.

Bom, daí você pode imaginar aquela ovelhinha, depois de um certo tempo, saindo dos ombros do pastor impregnada daquele cheiro que agora ela reconhece muito bem. Ela sai para o redil docilmente, vai "viver sua vida" com as outras ovelhas, distancia-se fisicamente do pastor, mas, por causa daquele odor, onde a ovelha for ela vai perceber que o pastor está sempre por perto. O pastor da ovelha se faz presente mesmo que ela não o veja.

Crédito: Vitalii Petrushenko by GetyImages/cancaonova.com

Essa é uma simples analogia para compreendermos a fé, segundo o que nos ensina a Sagrada Escritura: "A fé é a certeza daquilo que ainda se espera, a demonstração de realidades que não se veem" (Hb 11,1).

Eu não vejo… Eu ainda espero… Mas tenho comigo esta certeza: o que não vejo hoje, eu verei realizar-se, o que ainda espero de bom, uma hora acontecerá. E essa certeza chama-se fé!

Quem vive com fé vive trazendo consigo esse bom odor de Cristo, aquele que é o nosso Bom Pastor.

Grude em Jesus

Neste ano que está apenas começando, recomendo a você que jamais abra mão da sua comunhão com Deus. Custe o que custar! E essa comunhão se dá por diversos meios que a Igreja nos oferece: a Eucaristia comungada e adorada, a leitura da Palavra de Deus, a oração do Santo Rosário, a vivência dos sacramentos, o jejum… Enfim, há uma riqueza espiritual na nossa Igreja que é única, e que nos proporciona a crescer como cristãos orantes para nos tornarmos cristãos santos, pois é certo que sem vida de oração ninguém chega à santidade!


"De fato, nós somos o bom odor de Cristo para Deus, entre os que são salvos e entre os que perecem" (2 Cor 2,15).

"Grudado" em Jesus por uma vida de oração e de caridade, adquirindo a cada dia o seu santo perfume, você crescerá na fé. Pode acreditar nisso!

Recomeçar na fé

Corremos o risco de achar que uma pessoa "grande na fé" é somente aquela que Deus usa para curar, libertar, pregar às multidões para que se convertam etc. Mas cresce e torna-se também grande na fé quem, a cada dia, dá a sua resposta fiel a Cristo, uma resposta de amizade, pois o homem de fé é amigo de Deus, mesmo em meio a toda e qualquer adversidade.

Meu desejo é que você cresça nesta relação de amizade com Jesus. Ele está convidando você a estar perto d'Ele. Portanto, grude no Filho de Deus! Fique bem pertinho d'Ele! Busque-o com empenho, pois Ele se deixa encontrar por quem O procura.

E acredite: quando você tomar a feliz decisão de recomeçar na fé e dar passos concretos para "grudar" em Cristo, você fará uma linda e incrível descoberta: a de que Jesus já estava há muito tempo "grudado" em você, o convidando e esperando, e, agora, sorrindo de alegria, pois, finalmente, você resolveu adquirir — por meio de uma resposta chamada fé —, o seu santo perfume.

Um forte abraço!



Alexandre Oliveira

Membro da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Alexandre é natural da cidade de Santos (SP). Casado, ele é pai de dois filhos. O missionário também é pregador, apresentador e produtor de conteúdo no canal 'Formação' do Portal Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/que-este-seja-o-ano-em-que-voce-recomece-na-fe/

11 de janeiro de 2023

Não consigo vencer meus pecados, o que fazer?


Existe uma passagem muito significativa do Evangelho de São João que coloca cada um de nós diante de uma verdade tão crua e, ao mesmo tempo, tão libertadora, que nenhum de nós deveria ser displicente com relação a ela: Qui sine peccato est vestrum, primus in illam lapidem mittat ("Aquele de vós que estiver sem pecado seja o primeiro a lançar uma pedra" (Jo 8,7)).

Oliver Clemente, um teólogo do oriente, certa vez afirmou: "Ávido de infinito, mas não menos ignorante dele, o homem se ama e se odeia infinitamente. Ele se pretende soberano e se descobre escravo". Em outras palavras, existe uma luta incessante no interior do homem que busca o infinito, o céu, a beleza. Porém, este mesmo homem percebe-se preso num cativeiro de difícil soltura. Assim, quanto mais ele se debate, tanto mais ele se machuca, sangra e, por fim, desiste, e essa é a realidade de qualquer ser humano.

Colocando a questão de maneira mais direta, todos nós precisamos travar grandes enfrentamentos contra o pecado todos os dias. Cada um tem a sua luta particular. Quem de nós nunca experimentou o cansaço depois de ter lutado tanto e, mesmo assim, perdido a batalha para o pecado? Às vezes, é penoso reconhecer esta realidade, mas aquele que deseja muito a santidade precisará também experimentar o amargor da derrota, porém, o mais importante vem agora: quem busca a santidade deve aprender a levantar-se, seja qual for o tamanho do tombo.

Créditos: ArtistGNDphotography by GettyImages

Você sabe reconhecer seus pecados?

Uma vez abatido, duas coisas são fundamentais. A primeira delas é não se comparar, em hipótese alguma, repito, em hipótese alguma, com ninguém. Nem com aqueles que julgamos mais pecadores, porque correríamos o risco de afrouxar a autorreprimenda justa da nossa consciência diante do mal cometido, nem nos comparar com aqueles que julgamos mais santos. Neste segundo caso, poderíamos anular as parcas forças que ainda possuímos. Portanto, esse não é o momento de comparações, mas de reconhecimento sincero da fraqueza e do mal cometido.

Dito isso, como vencer aqueles pecados crônicos que, de tão entranhados em nós, julgamos por vezes incorrigíveis? Por mais que possa parecer estranho o que vou dizer agora, creio que a resposta seja: "Deixe de preocupar-se com este seu pecado como se ele fosse seu baal". Atenção, não se preocupar não significa relaxar a consciência e continuar pecando indiscriminadamente, isso seria um mal ainda maior, um suicídio espiritual.

 

Tire o foco do pecado

No século VI, lá no deserto de Gaza, havia um grande e sábio ancião chamado Barsanulfo, e o seu jovem discípulo Doroteu. Este último, por sua vez, era constantemente atormentado por um grave pecado e, mesmo tendo feito tudo o que estava ao seu alcance para superá-lo, não havia logrado êxito. Certa vez, aflito e desanimado com esta situação, Doroteu procura o seu mestre para apresentar o seu caso. Barsanulfo, o mestre, disse a ele que não mais se preocupasse com isso, e pediu que ele reforçasse sua relação com Cristo pelo exercício da humildade, da caridade, da prece confiante e do humilde exercício ao próximo.

Então, o discípulo parou de gastar em vão as suas energias com a preocupação do pecado e começou a colocar em prática tudo o que seu mestre havia lhe indicado. Assim, o coração do discípulo se transformou, e com ele, pouco a pouco, toda a sua vida. Uma vida de intimidade com Deus faz reavivar, em cada pessoa, o homem interior e, naturalmente, acontece um despertar de consciência. Onde Deus entra, o pecado naturalmente se afugenta. À medida que Deus vai entrando em nossa vida e nós vamos experimentando a vida d'Ele, a morte do pecado vai se enfraquecendo. Em outras palavras, retire o foco do pecado e coloque o foco em Deus.

Busque Deus

Isto não se dá, porém, numa esfera meramente psicológica. É preciso descer para o domínio da práxis, ou seja, a primeira etapa da vida espiritual é a prática. O esforço humano, portanto, deve ser empregado neste ponto. Para ficar mais claro, o esforço humano deve ser investido no cultivo de uma vida espiritual que se alcança por meio da vivência diária de tudo o que o mestre Barsanulfo nos ensinou acima. Em matéria de vida espiritual, não existe fórmula mágica nem romantismos.

Para finalizar, deixo esse pensamento como matéria de reflexão: quem está apenas fugindo do pecado está fazendo pouco, muito pouco, quase nada. Quem está buscando verdadeiramente a Deus está fazendo muito.

Deus abençoe você e até a próxima!



Gleidson Carvalho

Gleidson de Souza Carvalho é natural de Valença (RJ), mas viveu parte de sua vida em Piraúba (MG). Hoje, ele é missionário da Comunidade Canção Nova, candidato às ordens sacras, licenciado em Filosofia e bacharelando em Teologia, ambos pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP). Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, na Liturgia do Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários. Apresenta, com os demais seminaristas, o "Terço em Família" pela Rádio Canção Nova AM. (Instagram: @cngleidson)


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/nao-consigo-vencer-meus-pecados-o-que-fazer/