20 de setembro de 2019

Existem malefícios na vida virtual?

Já pensou se vivêssemos, neste mundo, sem poder tocar, enxergar, cheirar ou sentir? Já pensou se quiséssemos cheirar uma flor ou abraçar alguém e não pudéssemos? O mundo virtual nos aproximou de quem está longe, deu-nos maior possibilidade de conhecimento, mas, toda hora, esse mundo, que nos aproxima do longínquo, tem a capacidade de nos roubar quem está perto, rouba-nos a capacidade de sorrir para o outro, de olhá-lo, percebê- lo e, mais que isso, rouba-nos a possibilidade de encontrá-lo. Quanta indiferença e quanta falta de posse de si mesmo! Quantos quilômetros caminhamos neste mundo sem, de fato, habitá-lo! Aqui está uma das maiores dores do mundo virtual: sensação de estar em todos os lugares, menos naquele que, de fato, estamos! 

"Os meios de comunicação digitais podem expor ao risco de dependência, isolamento e perda progressiva de contato com a realidade concreta, dificultando o desenvolvimento de relações interpessoais autênticas." ( Christus Vivit 88).

Existem malefícios na vida virtual?

Foto ilustrativa: Andréia Britta/cancaonova.com

O mundo virtual nos trouxe inúmeros benefícios, mas será que ele só tem lado bom?

O virtual nos trouxe tantas riquezas, mas toda hora ele nos rouba de alguém, de enxergar e tocar nesse Deus que se manifesta em tudo e em todos. 

Papa Francisco, na sua encíclica Christus Vivit diz: 90. A imersão no mundo virtual favoreceu uma espécie de «migração digital», isto é, um distanciamento da família, dos valores culturais e religiosos, que leva muitas pessoas para um mundo de solidão e autoinvenção, chegando a ponto de sentir a falta de raízes, embora fisicamente permaneçam no mesmo lugar. A vida nova e transbordante dos jovens, que impele a buscar a afirmação da própria personalidade, enfrenta, atualmente, um novo desafio: interagir com um mundo real e virtual no qual se entra sozinho como num continente desconhecido. 


De que vale, então, tudo alcançar e se perder? De que vale ficar próximo de quem está distante e distante de quem está próximo? De que vale enxergar beleza do outro lado do continente se os olhos estão fechados para quem está do lado? 

O mundo virtual nos enriquece, forma-nos, mas ele deve ser um meio e não um fim. Devemos, toda hora, educarmo-nos para não vivermos presos a um celular, a uma TV. Os meios não podem nos roubar do fim último: encontrar o outro e ser testemunha da vida nova dada por Cristo. Usemos os meios, mas não sejamos usados por eles. Usemos os meios, mas não paremos neles.



Brigite Cortez

Brigite Cortez, natural de Portugal, é missionária na Comunidade Canção Nova onde atua no setor de Eventos.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/tecnologia/existem-maleficios-na-vida-virtual/

18 de setembro de 2019

E se eu parar de rezar?

Na verdade, nunca tinha parado para pensar nisso, talvez por saber o bem que a oração me proporciona e também por ter, desde criança, aquela discreta lembrança de que "Deus castiga se a gente não reza…". A feliz descoberta que tenho feito, a cada dia, é que, se eu parar de rezar, Deus não vai parar de me amar, pois Seu amor é incondicional, não visa interesses próprios, mas ama, porque é o próprio amor e só sabe amar.

Poderíamos, então, perguntar-nos: "Qual o sentido da oração em minha vida? Por que até a própria Palavra de Deus diz em Tes. 5: 'Orai sem cessar em todas as circunstâncias'"? Porque a oração purifica o coração de todos os afetos desordenados às coisas terrenas e passageiras, e nos aproxima de Deus, do qual nossa alma tem sede e saudade.

E se eu parar de rezar?

Foto ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

A importância de rezar

Compreendi melhor o valor da oração em minha vida quando alguém me contou esta história: "Numa floresta, existia uma ermida antiga e abandonada. Era consagrada a São Roque. Todos os anos, pela passagem de sua festa, vinha o piedoso sacristão da aldeia vizinha, varria e enfeitava o pequeno santuário. Na véspera da festa, o velho sino era tocado fortemente para convidar os moradores das redondezas. No alto da torrezinha, o sino havia guardado um ano de silêncio. Aves e insetos noturnos encontraram ali um abrigo tranquilo e se aninharam confortavelmente. Porém, ao primeiro repicar do sino, todos saíam esvoaçando em busca de outras paragens."

Algo parecido ocorre em nossa alma. Onde, por muito tempo, se calam os sinos da oração, tudo de ruim pode entrar e aninhar-se, sem que nada o impeça nem o incomode. Ídolos ocultos, bem depressa, começam a se acomodar nos recantos obscuros da alma, como a cobiça, o orgulho a sensualidade, a autossuficiência e outros. Porém, quando tomamos ânimo e fazemos repicar os sinos da oração em nossa vida, afugentamos de nosso interior tudo o que é contrário a Deus.


Não temos tempo a perder, é hora de fazer soar o sino da oração em nossa vida com coragem e disposição. Lembremo-nos de que nunca é tarde para recomeçar. Deus tem saudades de nós!



Dijanira Silva

Missionária da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Djanira reside na missão de São Paulo, onde atua nos meios de comunicação. Diariamente, apresenta programas na Rádio América CN. Às sextas-feiras, está à frente do programa "Florescer", que apresenta às 18h30 na TV Canção Nova. É colunista desde 2000 do portal cancaonova.com. Também é autora do livro "Por onde andam seus sonhos? Descubra e volte a sonhar" pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/e-se-eu-parar-de-rezar/

16 de setembro de 2019

Permita-se experimentar a misericórdia de Deus

Com certeza você é testemunha de que alguém foi tocado pela misericórdia de Deus e foi liberto por meio de uma confissão, um abraço, um olhar carinhoso; pela atenção que alguém deu; por uma boa acolhida na Igreja, uma simples oração. São situações tão simples que ficam até difíceis de as entenderem de modo racional e, às vezes, até nos perguntamos: "Como pode isso?. Não é possível que seja tão fácil e simples assim". Muitas vezes, acabamos ridicularizando a experiência de amor profundo que as pessoas tenham vivido, porque esperamos algo mágico de Deus, uma teofania como no Sinai.

O amor de Deus por nós é muito simples e, ao mesmo tempo, muito profundo. E, por tamanha profundidade, tem o poder de transformar vidas.

Fico a pensar na experiência daquela mulher apanhada em adultério pelos fariseus e levada até Jesus a fim de que Ele a liberasse de seu apedrejamento, pois assim regia a "lei", porém, nesse episódio, o amor venceu a lei.

Permita-se experimentar a misericórdia de Deus

Foto ilustrativa: Andréia Britta/cancaonova.com

Uma grande surpresa adentrou o coração daquela pecadora: o olhar do Senhor para ela não se comparava ao olhar de nenhum outro homem que a tivesse olhado com desejo e interesse, pois era um olhar que mexeu com ela, não no nível afetivo-sexual, mas num nível que nem ela sabia que possuía porque Ele olhou para alma dela. Esse olhar preencheu todo o vazio que ela trazia no peito e que tinha tentado preencher com uma vida de prostituição e adultério. Aquele olhar começou a devolver algo que a vida roubou dela: a dignidade humana. A partir daquele olhar, ela superou toda a experiência de ser usada como um objeto pelos inúmeros homens com os quais, até aquele momento, ela tinha se envolvido. Aquele olhar superou toda a solidão provocada pela rejeição das pessoas para com ela; pela vida que levava e por ser uma mulher da vida. Então, o vazio do seu coração foi sendo preenchido por um amor tremendo o qual nunca havia experimentado antes.

Deus é amor e misericórdia

Depois de Jesus dizer aos fariseus: "Aquele que não tiver pecado, atire a primeira pedra"; e todos terem saído de fininho e deixado os dois a sós, o Mestre levantou os olhos e perguntou para aquela mulher: "Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? Ela respondeu: Ninguém, Senhor. Jesus lhe disse: Nem Eu te condeno. Vai, e de agora em diante, não voltes a pecar" (Jo 8,10-11).

O amor e a misericórdia do Senhor superou todos os pecados que ela tinha vivido. E essa mulher teve a maior experiência de amor da sua vida, e não foi uma experiência de amor carnal que ela teve, foi uma experiência com o amor de um Deus que se derrama todo em amor e misericórdia. Jesus sabia das fraquezas dessa mulher, mas sabia também que aquela experiência de amor e misericórdia levaria essa pecadora a viver o PHN, a lutar com todas as suas forças para não mais pecar por que foi muito amada e a partir daquele momento sentia a necessidade de corresponder com aquele amor que a possuía, e com certeza lutou até seu último suspiro para não mais pecar e corresponder com aquele amor que a conquistou e devolveu a dignidade e a vida a ela.

Essa deve ser a experiência que devemos buscar a cada dia, mergulharmos nesse profundo amor e nessa infinita misericórdia de Deus, que vence a lei, que vence o pecado, e que nos indica o caminho certo nos elevando à condição de cidadãos do céu. Tome posse dessa realidade!


Deus está te esperando

O Senhor tem te esperado há muito tempo para dizer-lhe que também não te condena. Faça a experiência da misericórdia pela confissão, pois Deus está te esperando. Veja a mão de Deus na tua vida em todos os momentos: desde o nascer do sol até o término do dia, Ele te mantém e tem se derramado de amor por ti. Não tenha medo de Deus, Ele te ama e quer te acolher de uma forma que nunca ninguém te acolheu.

A partir da experiência desse amor, você irá entender que por Ele e por causa do Seu amor, você conseguirá dar um basta na vida de pecado e dizer PHN, pois, você irá ouvir da boca daquele que morreu por você na cruz: "Nem Eu te condeno. Vai, e de agora em diante, não voltes a pecar". Deus ama você com um amor eterno e tremendo! Não duvide e permita-se mergulhar no oceano do amor e da misericórdia de Deus.



Padre Roger Luis

Roger Luis da Silva é membro da Comunidade Canção Nova, sacerdote encarregado dos Clérigos no Conselho Geral da Comunidade. Autor de vários livros pela editora Canção Nova e pregador.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/permita-se-experimentar-misericordia-de-deus/

9 de setembro de 2019

O Reino de Deus é exigente

"Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus" (Lc 9,62). Citação bíblica talvez bem conhecida, mas pouco levada em conta. Seguir Jesus exige radicalidade traduzida em disposição para dizer sempre 'sim' à vontade d'Ele, que nos surpreende e, muitas vezes, é contrária a nossa.

Pôr a mão no arado, sem olhar para trás, é questão de coerência, perseverança e fidelidade. Vimos muitos que gostariam de seguir o Mestre, mas, envolvidos pela tentação de "olhar para trás", têm a atitude de um daqueles primeiros servos chamados pelo próprio Jesus para segui-Lo. O Senhor lhes disse: "Segue-me". Este respondeu: "Permite-me primeiro ir enterrar meu pai"; um outro ainda lhe disse: "Eu te seguirei Senhor, mas me deixa, primeiro, despedir-me de minha casa". Jesus, porém, respondeu-lhe: "Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus" (Lc 9,59 ss).

O Reino de Deus é exigente

Foto ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

O Reino de Deus é exigente, não nos permite dar um passo para frente e dois para trás. Acredito que seja por isso que os discípulos tiveram tanta dificuldades em responder prontamente ao chamado de Cristo, e continuam tendo até hoje. Ele não promete vida fácil nem riqueza a Seus seguidores nesta Terra: "… o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça" (Lc 9,58), diz falando de si mesmo. Somente uma experiência pessoal com o amor de Deus, renovada a cada dia, faz-nos caminhar alimentados pela esperança, expressa nesta outra passagem: "Quem perseverar até o fim, esse será salvo" (Mt 10,22).

O que é contrário ao Reino de Deus?

Chiara Lubich escreveu em um Artigo da Revista Cidade Nova (junho/04): "Quanto mais nos enamorarmos de Deus e experimentarmos a beleza do mundo novo ao qual Ele deu início, tanto mais aquilo que deixamos para trás perderá a sua atração".

À medida que experimentamos a beleza do Evangelho vivido, vemos, claramente, o quanto é contrário ao Reino de Deus a indecisão, a preguiça espiritual, a pouca generosidade, a covardia, o egoísmo, as meias medidas.


Rompamos com tudo isso e tomemos, agora mesmo, a decisão de seguir o Mestre com a mão firme no arado, mas sem ceder à tentação de olharmos para trás.

Um exercício que tem me ajudado, e partilho com você, é começar o dia declarando: "Quero viver, hoje, melhor do que ontem". Para isso, você tem de  empenhar-se bastante na prática do bem. Se conseguir agir assim, certamente, experimentará a paz ao fim do dia, e o coração pleno de felicidade, pois é o próprio Senhor que declara: "Há mais alegria em dar do que receber".



Dijanira Silva

Missionária da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Djanira reside na missão de São Paulo, onde atua nos meios de comunicação. Diariamente, apresenta programas na Rádio América CN. Às sextas-feiras, está à frente do programa "Florescer", que apresenta às 18h30 na TV Canção Nova. É colunista desde 2000 do portal cancaonova.com. Também é autora do livro "Por onde andam seus sonhos? Descubra e volte a sonhar" pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/o-reino-de-deus-e-exigente/

6 de setembro de 2019

A providência divina não dispensa a previdência humana

Deus proverá! Sim, Ele providencia, todos os dias, muito mais do que possamos imaginar. A luz do sol, nossa respiração, nossas famílias, empregos, renda, o alimento em nossa mesa. Por outro lado, Deus quer contar também com nosso esforço, Ele quer nos ver lutar. O bom pai não é aquele que dá tudo ao seu filho, mas coloca diante deste possibilidades e oportunidades, dá-lhe força, coragem, fé, motivação e incentivo. Deus nos quer lutando pelo nosso pão de cada dia, e, quando não pudermos lutar, Ele mesmo se encarregará de todas as coisas. Quando o dinheiro não der para uma necessidade, não duvidemos, pois Deus é quem mais se apressa em estender-nos a mão. Muitas vezes, pelas mãos de pessoas generosas.

A providência divina humana não dispensa a previdência humana

Foto ilustrativa: Zephyr18 by Getty Images

Mesmo acreditando na providência divina, precisamos trabalhar e pensar no nosso futuro

Acredite na providência divina e mãos à obra. O seu futuro, quem sabe num futuro breve, passa pelas suas mãos ao economizar com sabedoria cada possibilidade. O tempo passa rápido, e muitos brasileiros já estão na segunda metade da vida, hoje em torno de 45 anos. O agricultor não pode querer colher frutos que não plantou, comer alimentos que não cultivou. É preciso agir hoje, agora, montar uma planilha financeira de longo prazo e colocar as necessidades que ainda não vieram:

  • Reforma da casa ou construção da casa
  • Aposentadoria com provável diminuição da renda
  • Plano de saúde ou gastos crescentes com a saúde
  • Necessidades de filhos e netos
  • Reserva para lazer e viagens

Em suma, envelhecer é um dom, uma bênção, uma dádiva divina. Os que chegam aos 70, 80, 90 anos são privilegiados. Cabe, agora, planejar quanto tempo há pela frente (hipoteticamente, pois nossa vida está nas mãos do Criador), e enfrentar a situação, procurar ajuda e organizar sua vida financeira. Nunca é tarde para fazer o bem. Pense também que, muitas vezes, o que poupamos pode ser a fonte de ajuda para pessoas com maiores necessidades, afinal, "ha mais alegria em dar do que em receber". Os pobres são a riqueza da Igreja Católica. Se pudermos optar, hoje, por não comprar ou consumir, pensando no próximo, estamos nos enriquecendo para o Céu.

Como posso economizar para viver bem minha velhice?

A reforma da previdência está em trâmite em Brasília. Muito se fala, e talvez quase o ano inteiro, sobre aposentadoria. Não que, necessariamente, envelhecer signifique aposentar-se, mas se espera da maioria de nós chegar até lá e possuir algum conforto ou recurso. Como se pode economizar para viver a "boa idade", tecnicamente, após os 60 anos? Muitos não querem parar de trabalhar, mas, como disse o filosofo, ao menos viver uma vida mais serena.

"O homem sereno busca serenidade para si e para os outros" (Epicuro).


A grande questão da poupança de um salário suado, a cada mês, é poder, no futuro, contar com esse valor acumulado para alguma serenidade ou, talvez, a realização de sonhos. A economia de longo prazo é um exercício e tanto! É preciso disciplina, abrir mão do prazer momentâneo para contar com um futuro mais confortável.

A cultura do consumismo é, exatamente, contrária à cultura da poupança, do sacrifício. Um exercício financeiro de não levar o que está diante dos olhos na vitrine ou no site de e-commerce. Como resistir à tentação de viver um presente gastando mais do que se tem em vista de um futuro incerto?



Bruno Cunha

Economista, Professor e Missionário da Comunidade Canção Nova, Bruno Cunha possui 20 anos de experiência na área de Finanças, Macroeconomia, Mercado Financeiro, Economia, Educação Financeira, Finanças pessoais e Administração Financeira e Orçamentária. Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Taubaté (UNITAU), possui MBA pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Atualmente, é professor e assistente de coordenação do curso de Administração na Faculdade Canção Nova (FCN).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/economia/providencia-divina-nao-dispensa-previdencia-humana/

3 de setembro de 2019

Pare, pense e escolha realizar gestos de amor todos os dias

Quando fazemos planos para o futuro e desejamos, para nós e para aqueles que amamos, muitas coisas boas para vivermos nos próximos dias, nem passa pela nossa mente que, em um daqueles dias, nós ou alguém próximo a nós poderá morrer. Isso porque a morte é um tabu para a sociedade moderna, e sempre diz respeito aos outros, é algo distante, não queremos pensar nela, muito menos falar sobre ela.

Pensando nessa realidade da irmã morte, como dizia São Francisco de Assis, quero partilhar o ensino que tive com a morte, em 2016, de cinco pessoas que eu amava: minha alegre Tia Laura (julho); o humilde Zezinho da Canção Nova (agosto); uma das minhas mães espirituais, a Delizete (agosto); a Aline, uma mulher de valor, que faleceu com apenas 33 anos (outubro); e a minha caridosa prima Bete (dezembro). Como foi bom ter podido expressar o meu amor por eles!

Pare, pense e escolha realizar gestos de amor todos os dias

Foto ilustrativa: AlexD75/by Getty Images

Não deixe para depois os abraços, sorrisos e gestos de amor, porque pode ser tarde

Eram parentes e amigos antigos, exceto uma, a Aline, que conheci só há um ano e meio, mas foi o suficiente para sermos muito amigas, pois, como disse Santa Catarina de Sena, "a amizade, cuja fonte é Deus, nunca se esgota". A minha amizade com a Aline foi por pouco tempo, mas com muita manifestação de amor.

"Quem encontrou um amigo encontrou um tesouro. Amigo fiel é bálsamo de vida; os que temem o Senhor vão encontrá-lo. Quem teme o Senhor, orienta bem sua amizade: como ele é, tal será o seu amigo" (Ecl 6,14-17).

Agradeço a Deus por ter me dado a oportunidade de escrever o livro 'Mulher de Valor', e à Editora Canção Nova por tê-lo publicado, pois ele foi o motivo do nosso primeiro encontro. A partir daquele dia, cada encontro nosso era um marco, nós nos despedíamos com o gosto de quero mais estar na sua presença. Falar de Deus, dos nossos sonhos e da nossa missão de resgatar os valores da "mulher de valor" era tão radiante e motivador, que nem víamos a hora passar.


Tesouros

"Uma mulher de valor, quem pode encontrá-la? Superior ao das pérolas é o seu valor. (Prov 31,10)" Obrigada, Senhor, por eu ter conhecido a Aline, uma mulher de valor! Encontrar uma amiga como ela é como encontrar um tesouro cheio de pérolas.

No nosso último Chá da Tarde, uma semana antes da sua morte, vivemos nossas últimas expressões de amor, última oração, último Terço da Misericórdia, e rezado juntas. No último abraço, mesmo sem saber, ficou mais uma vez a certeza de que o amor de Jesus Misericordioso havia unido duas apóstolas da Misericórdia para uma mesma missão: resgatar almas para Deus, sobretudo, as almas femininas.

Não permitamos que a falta de tempo, a distância, o ressentimento ou o dinheiro sejam impedimentos para a manifestação do amor. Não deixemos de manifestar o amor! Vamos escolher amar todos os dias?

Marina Adamo


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/testemunhos/pare-pense-e-escolha-realizar-gestos-de-amor-todos-os-dias/

28 de agosto de 2019

Quem insiste no preconceito tende a ficar na imaturidade

Preconceito é uma forma fácil de ter opinião. Não requer esforço, não requer pesquisa nem empenho, visto que se trata de uma primeira visão que temos acerca de uma determinada realidade. É óbvio, mas é bom dizer, que a visão preconceituosa é aquela que resolveu ficar parada no preconceito, isto é, no que vem antes da verdade. Um conceito é sempre o fruto de uma elaboração mais trabalhosa da vida, o preconceito não; ele é uma fase primária do conceito. É por isso que quem gosta de preconceitos tende a ficar na imaturidade a vida inteira.

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Foto ilustrativa: digitalskillet by Getty Images

O preconceito é também uma forma de aprisionamento

O mesmo aconteceu conosco quando entramos no pré-primário. Já imaginou se não tivéssemos aceitado o desafio de ir para o primário, com suas dificuldades e diferenças do pré-primário? Somente o passo em direção ao novo nos garante a felicidade das surpresas. A vida é sempre assim. O que agora é alimento, com o tempo, deixa de sustentar; isso porque estamos num constante processo de superação humana, e o que nos move é este desejo de irmos além.

É por isso que me entusiasmo com a dimensão antropológica do cristianismo. As palavras de Jesus nos encorajam para um constante aperfeiçoamento de nossa humanidade e para a constante superação dos nossos limites. Então, passamos a compreender que santificação é o mesmo que dizer humanização. Retirar os excessos, lapidar as arestas, superar as mesquinharias, os modelos superficiais de análises, os ciúmes e os apegos desordenados, são formas concretas de santificar a nossa vida.

Preconceito é também uma forma de aprisionamento. Olhamos o outro e o definimos a partir do que achamos sobre ele. Temos uma série de opiniões que resolvemos construir dentro de nós, e que são frutos de uma primeira visão. Olhamos e encaixotamos o outro no nosso preconceito. Decidimos que ele é assim, mesmo que nunca tenhamos nos aproximado dele para confirmar o que achamos.

Jesus gostava de ver além

Achamos e perdemos. Perdemos por desperdiçar a oportunidade de superar o conhecimento aparente, e assim, quem sabe, ganhar um grande amigo, um grande apoio existencial. Achamos muitas coisas sobre ele. E por achar tanto, resolvemos não buscar a verdade fundamental, e assim deixamos de ganhar. Talvez esse seja um dos grandes pecados do nosso tempo. O mundo é superficial nas suas análises. Basta flagrar uma única atitude, para que o mundo entregue o seu parecer preconceituoso e definitivo.

Jesus se opunha radicalmente a essa postura. Ele gostava de ver além, e alertava os discípulos para este constante cuidado. O cristianismo supera o judaísmo justamente neste ponto. Jesus não queria uma religião que parasse na exterioridade, que dispensasse facilmente as pessoas, só porque têm uma aparência ou um histórico que num primeiro momento não nos agrade.


A vida é igual garimpo

A beleza da vida consiste em olhar o mundo com "olhos de terceira margem", com os olhos de Jesus. Eu, nem sempre consigo, mas não quero perder este esforço de vista. Eu ainda vivo o desconcerto das escolhas de Jesus. Fico indignado quando o vejo escolher Zaqueu em meio a tanta gente santa e de boa índole. Ainda me incomoda quando ele diz que as prostitutas podem me preceder na entrada do Reino. Então, vejo-me com minha maneira rasa e infecunda de esbarrar nas pessoas, de condená-las àquilo que acho sobre elas e de impedi-las de me surpreenderem com sua beleza escondida.

A vida é igual garimpo. Não se percebe o diamante numa primeira olhada. Por ser muito parecido com o cascalho, corre o risco de ser jogado fora. Cascalhos e diamantes se parecem. A única diferença é que o diamante esconde o brilho sob as cascas que o revestem. É preciso lapidar. Pessoas são como diamantes. Corremos o risco de jogá-las fora só porque não tivemos a disposição de olhá-las para além de suas cascas. Então, desperdiçamos grandes riquezas no exercício de alimentar pobrezas. Quando o preconceito nos impede de ver o diamante, tornamo-nos cascalho no mundo. Espero que, hoje, você descubra diamantes por onde passar. Se descobrir, estará sendo semelhante a Jesus.



Padre Fábio de Melo

Padre Fábio de Melo, sacerdote da Diocese de Taubaté, mestre em teologia, cantor, compositor, escritor e apresentador do programa "Direção Espiritual" na TV Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/quem-insiste-no-preconceito-tende-ficar-na-imaturidade/