10 de outubro de 2013

As opções de Vicente de Paulo

Uma vida tão intensa e longa como a de Vicente de Paulo, pode ser contada de muitas maneiras. Desta vez vamos levar em conta os caminhos de Deus e as respostas do homem, as circunstâncias e suas opções. Como diria o próprio Vicente de Paulo: "Minha fé e minha experiência".

Quais foram as opções assumidas por ele? Os Pobres, os padres, os leigos e as mulheres. Se hoje, de alguma forma, nos preocupa a atualização do carisma vicentino, temos a certeza de que Vicente de Paulo esteve à frente do seu tempo com uma naturalidade que nos espanta. E isto é o mais importante e que veremos a seguir.

1. Os Pobres

Disse Jesus que sempre teremos os Pobres entre nós (Mt. 26,11). É uma afirmação indiscutível, não porque Deus quer assim, senão porque assim querem os poderosos. A população mundial sempre pende para os Pobres. E em todos os tempos a Igreja tem se preocupado com eles, desde o princípio até nossos dias. Porém, na opção pelos Pobres, sempre houve diversos graus de intensidade e comprometimento, espiritualidades afins ou alheias, cristãos conscientes ou descompromissados.

Vicente de Paulo nasceu Pobre, de uma família de camponeses, embora eles possuíssem sua casa e algumas terras. E nos parece que perderam quase tudo como a maioria dos Pobres do seu tempo, que eram despojados de mil maneiras. Vicente disse certa ocasião que seus parentes estavam em situação de pedir esmolas.

De forma alguma ele preocupava-se com os Pobres quando ainda não era um "santo". Seu desejo era enriquecer-se. Queria posição, status, um trabalho que lhe garantisse boa renda para viver muito bem e tranquilo. Foi aqui que começaram seus projetos meramente humanos: ida para Toulouse, para Marselha atrás de uma herança, o episódio do seu cativeiro, sua ida até Tunísia, Avignon e até Roma.

De modo que no final do ano 1608 Vicente entra pela primeira vez em Paris de mãos vazias e com o espírito humilhado. Homem de fé e de experiência, tinha que se dar conta de que Deus lhe pedia um outro caminho e outras opções. Vicente de Paulo se põe em busca do crescimento espiritual e ministerial, da paróquia de Clichy ao palácio dos Gondi, do palácio dos Gondi à Chatillon-les-Dombes. E antes mesmo de Clichy, como capelão da ex-rainha Margarida de Valois, passa pela "noite escura" da tentação contra a fé e de sua experiência do Pobre no hospital de caridade. E foi desta forma, segundo seu primeiro biógrafo, quando Vicente de Paulo "para mais honrar a Jesus Cristo e imitá-lo de forma perfeita, tomou a firme resolução de entregar toda sua vida, por seu amor, a serviço dos Pobres".

Sem ter precisão de dia e hora, já poderíamos chamar Vicente de Paulo de santo. Nesta ocasião já tinha mais de trinta anos. Entregou-se totalmente à Jesus Cristo dos Pobres ou aos Pobres de Jesus Cristo. Uma entrega firme e decidida. Nada lhe faria mudar de ideia. Nasceram desta sua entrega, inumeráveis fundações, instituições, ações, e todas elas motivadas e voltada para os Pobres. Nada encontramos neste "santo" que destoasse desta sua entrega e de seu amor afetivo e efetivo aos Pobres por Jesus Cristo.

Hoje muito se fala da "opção preferencial pelos Pobres". Muitos o fazem e fizeram. Porém, depois de Jesus Cristo, ninguém superou ao que fez Vicente de Paulo.

E desta opção primeira, nasceram as demais.

2. O clero

Vicente de Paulo viveu outra experiência: a grandeza do sacerdócio, e contrastando isto, a miséria espiritual de muitos padres. O juízo de nosso "santo" não teve meio termo em ambos aspectos: a grandeza do sacerdócio. Porém sabendo que existiam sacerdotes que mostravam o pior comportamento que um sacerdote poderia ter. E sua conclusão é a de que os mais prejudicados são os Pobres.

Como se chegava até o sacerdócio sem a devida preparação, animado pelo bispo Agustin Potier da diocese de Beauvais, Vicente de Paulo iniciou em 1628 os retiros para os padres. Na verdade era um curso intensivo de formação espiritual e pastoral. Desta experiência é que nasceu alguns anos mais tarde, em 1633, as conferências de terça feira, que era uma reunião semanal para ajudar na perseverança de seus padres, motivar as missões e auxílio para as capelanias onde seus padres não podiam entrar para se dedicarem exclusivamente aos Pobres camponeses. Destas atividades assumiu os seminários, que foram defendidos pelo Concílio de Trento. Provavelmente o seminário mais antigo da França foi o de Annecy, fundado por Vicente de Paulo em 1642. Veio em seguida a casa "Bons Enfants" e muitos outros.

A ação de Vicente de Paulo em favor do clero teve seu auge com sua presença no Conselho de Consciência da Rainha Ana de Áustria e de Mazarino, onde contribuiu eficazmente na nomeação de um episcopado zeloso e reformador da Igreja na França. Porém, antes disto tudo, Vicente havia fundado em 1625 a Congregação da Missão, cujo objetivo ele definiu desta forma: "Fazer com que os Pobres conheçam a Deus, anunciar-lhes Jesus Cristo, dizer-lhes que está próximo o Reino dos Céus e que este Reino é para Eles". Naturalmente, todo seu empenho em prol do clero não tinha outro objetivo a não ser a evangelização dos Pobres.

3. Os leigos

A opção pelos leigos é sem dúvida a que mostra a grandeza e a originalidade de Vicente de Paulo. O modelo de igreja de seu tempo era próprio do Concílio de Trento, que em oposição à Martinho Lutero, exaltava o estado sacerdotal, minimizando o laicato mais ainda do que já estava. Vicente de Paulo, sem desobedecer o Concílio de Trento, nem esquecendo-se dos Pobres, deu um pulo a frente da história. Recordemos sua famosa pregação dos 800 anos para as Damas da Caridade: "Fazem 800 anos que vocês não tem nenhuma ocupação pública na igreja...". E foi convocando a todos, homens e mulheres, Pobres e ricos, para a caridade eclesial. Sua sensibilidade para com os leigos, que não existia em seu tempo, o coloca dentro do pensamento do Concílio Vaticano II e da encíclica "Christifideles laici" de João Paulo II (1988).

4. As mulheres

A mão direita de Vicente de Paulo foram as mulheres. Por detrás de um grande homem, sempre tem uma grande mulher. É um ditado popular. Ao redor de Vicente de Paulo existe uma legião de grandes mulheres. Desde Francisca Bachet e Carlota de Brie em Chatillon-les-Dombes, passando pela Senhora de Gondi, Luísa de Marillac, a Senhora de Goussault, a duquesa de Aiguillon e tantas outras em Paris, até chegar as Filhas de Caridade: Margarida Naseau, Bárbara Angiboust, Maturina Guerin, Margarita Chetif... Uma e outra se tornaram responsáveis pela ação caritativa nas aldeias, no Hotel-Dieu em Paris e todas as obras fundadas para ajudar as vítimas das incessantes guerras: hospitais, galés, escolas, crianças abandonadas, enfermos, mendigos, idosos... Sem elas Vicente de Paulo não teria sido proclamado o grande santo da caridade, e nem elas teriam saído do anonimato sem Vicente de Paulo. Qual era o segredo daquele magnetismo que irradiava nosso santo sobre as mulheres que o escutavam e o acompanhavam com verdadeiro sacrifício na ajuda dos mais Pobres? Não era outro a não ser sua autenticidade e sua santidade.

5. Outras opções

Dentro destas opções citadas acima, Vicente de Paulo quis e teve que fazer outras. Por exemplo, dentro dos ministérios de sua Congregação, optou pelas missões entre os camponeses: "Deus nos guarde para não abandonarmos estas missões", dizia insistentemente a seus missionários, qualquer que fosse o ministério ou trabalho que fossem convidados.

Depois optou mais tarde pelas missões AD GENTES. Quando a Congregação da Propaganda da Fé, fundada em 1622, lhe pedia sacerdotes, Vicente de Paulo escreve ao superior da Casa de Roma: "Ao celebrar a santa missa, me ocorreu o seguinte pensamento, que como o poder de enviar ad gentes reside na terra unicamente na pessoa de Sua Santidade, tem consequentemente o poder de enviar a todos os eclesiásticos por toda a terra, e que todos os eclesiásticos tem a obrigação de obedecer-lhe; segundo este princípio, ofereço a sua divina Majestade nossa pobre companhia para ir onde Sua Santidade ordene".

E começou o envio de missionários vicentinos fora das fronteiras da França. Teve mais projetos, porém, os que ele conseguiu desenvolver e pôr em prática foram Barbária (Tunísia e Argélia) em 1645 e 1646, Madagascar em 1648, Polônia em 1651 e Irlanda e Escócia também em 1651. Todas estas missões foram de muito sacrifício, especialmente a de Madagascar que de 18 missionários enviados, chegaram somente 8 e que morreram logo em seguida. Isto nunca desanimou Vicente de Paulo. A um dos missionários ele escreveu: "A Companhia coloca seu olhar em vocês como a melhor hóstia que tem para render graças a Nosso Soberano Criador e prestar-lhe este serviço! Vocação tão grande e adorável como a dos maiores apóstolos e santos da Igreja de Deus! Lance as redes com valentia".

Dizia assim porque na verdade ele soube lançar as redes com valentia desde o momento de sua "conversão" até o final de seus dias, agindo sempre com o mesmo entusiasmo e determinação. "Dá-me um homem de oração e ele será capaz de tudo", dizia ele. E foi capaz de tudo o que um ser humano pode fazer em prol dos Pobres. Cumpriu sem romper em momento algum sua primeira "resolução firme e decisiva de entregar-se por toda sua vida, por amor a Jesus Cristo, ao serviço dos Pobres".

Fonte: Texto escrito por Vicente de Dios, CM, extraído de: Caminos de Misión. Traduzido do espanhol para o português por Joelson Cezar Sotem, CM em 09 de outubro de 2013.

Os anjos na doutrina da Igreja

9 de outubro de 2013

Uma reflexão sobre o Dia do Nascituro

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Qual é o lugar mais perigoso de se viver no mundo hoje?

Qual é o lugar mais perigoso de se viver no mundo hoje? Será a Síria, onde milhares morrem vítimas de uma atroz guerra civil? Serão os lugares do submundo do crime? Seria nas igrejas cristãs situadas em pleno território islâmico? Onde? O lugar mais perigoso do mundo de se viver é a barriga da própria mãe! Uma realidade que seria inimaginável se não fosse verdade: o lugar, que deveria ser o mais aconchegante e terno do mundo, se tornou a passagem mais perigosa que um ser humano pode fazer na sua existência.


Se, neste momento, eu fosse uma alma prestes a ser infundida num embrião humano, e tivesse consciência disso, eu estaria apavorado. Não são milhares, mas milhões e milhões de crianças brutalmente assassinadas por ano no ventre materno. E o pior: por quem? Pela própria mãe, pelo próprio pai.

Se a vida humana, em seu momento mais tenro e indefeso, está sob a mira de quem mais deveria guardá-la e protegê-la, de que ela vale? Ela não tem mais valor absoluto e inviolável, mas está condicionada à segurança, ao bem-estar e aos interesses de terceiros. Nessa escala de valores, toda a vida humana está em risco.


Por essa razão, o Dia do Nascituro, comemorado no dia 8 de outubro, celebra especialmente a vida do bebê no ventre de sua mãe, mas não somente isso, celebramos neste dia o valor inviolável da dignidade da vida humana, do seu início até o seu fim. Não é somente a vida do nascituro que está em questão, mas a vida humana, especialmente em sua condição de fragilidade e de inutilidade para a sociedade. Tanto é que a legalização do aborto, até o último instante antes do nascimento, em alguns países, já faz surgir uma lógica que é a "eutanásia de recém-nascidos".


Algumas pessoas na Holanda, na Alemanha e acadêmicos na Austrália raciocinam que, se a criança pode ser morta um minuto antes de seu nascimento natural, por que não poderia sê-lo alguns minutos após o seu nascimento? Muito lógico! Isso pouparia os gastos com exames pré-natais para se verificar patologias genéticas, entre outras. Essa eugenia pós-natal ainda não soa bem, mas em breve se tornará lei. Daí, virão novos passos como eugenia em qualquer fase da existência humana, conquanto que a vida não esteja de acordo com os padrões sociais da época.

Porém, não precisamos ir ao futuro. Hoje, se a vida vale tão pouco diante do bem-estar, sucesso, bem materiais, até mesmo diante dos animais, ela acaba por perder o sentido em si mesma. Sem sentido os jovens se entregam às drogas, à prostituição, até o fim (também "lógico") que é o suicídio, cada vez mais comum entre o público juvenil.

Aí surge a pergunta: "Por que os jovens estão tão violentos e sem esperança?" Novamente a lógica evidente: nessa cultura de morte, na qual inclusive são bem aceitas celebrações artísticas da morte (me refiro, por exemplo, à naturalidade no uso da caveira como ingênuo enfeite nas roupas de nossas crianças), que beleza e sentido tem a vida?

Porém, para nós que cremos em Deus, um sinal inquestionável desse valor é o fato de o próprio Criador ter escolhido passar por esse caminho da existência humana e fazer essa nossa experiência de ser gente indefesa, sob a guarda dos seus pais. O Filho de Deus poderia ter entrado no mundo de qualquer forma que quisesse, mas escolheu ser nascituro. Com isso, esse momento da vida humana, que já era grande por si mesmo, ganhou significado divino, porque o próprio Deus se fez nascituro.

Sendo de tão grande valor e beleza, a vida do nascituro deve ser celebrada. Celebrando o Dia do Nascituro queremos também protegê-lo ao suscitarmos nas pessoas, nas famílias e na sociedade, a consciência de que os nascituros têm o direito à proteção de sua saúde e vida, à alimentação, ao respeito e a um nascimento sadio. Celebrando o nascituro, celebramos a vida de cada ser humano, porque todos, invariavelmente, foram ou serão um dia um nascituro.

 


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André L. Botelho de Andrade
www.twitter.com/compantokrator

Casado, pai de dois filhos. Teólogo, Fundador e Moderador Geral da Comunidade Católica Pantokrator, onde vive em comunidade de vida e dedica-se integralmente à sua obra de evangelização. Contato: facebook.com/andreluisbotelhodeandrade


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7 de outubro de 2013

Aumenta a nossa fé!

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Reconhecer os passos de Maria compromete todos os cristãos

Acorre a Belém do Pará uma verdadeira torrente de pessoas, vindas de tantas partes de nosso Estado. Ajuntam-se a ela os paraenses residentes em outras regiões do país, um povo imenso, conduzido pelas mãos de Nossa Senhora de Nazaré, coberto pelo seu manto de amor. Nos andores e nos passos percorridos, nos pés calejados e feridos, em mãos que se unem ou mãos que se agarram à corda da Berlinda, existe um mistério a ser desvendado. De onde vem a força e o ardor de tanta gente? Como explicar estes rios mais caudalosos do que nossas muitas águas? Trata-se apenas de hábitos adquiridos, cultura entranhada em nossos corações e que se esparrama em nossos gestos? Seria fruto da propaganda feita pela Igreja ou outras forças da sociedade?


Os Bispos da América Latina e do Caribe reconheceram, na Grande Conferência de Aparecida, que as maiores riquezas de nossos povos são a fé no Deus de amor e a tradição católica na vida e na cultura. Manifesta-se na fé madura de muitos batizados e na piedade popular que expressa o amor a Cristo sofredor, o Deus da compaixão, do perdão e da reconciliação, o amor ao Senhor presente na Eucaristia, - o Deus próximo dos pobres e dos que sofrem, - a profunda devoção à Santíssima Virgem nos diversos nomes nacionais e locais. Expressa-se também na caridade que em todas as partes anima gestos, obras e caminhos de solidariedade para com os mais necessitados e desamparados. Está presente também na consciência da dignidade da pessoa, na sabedoria diante da vida, na paixão pela justiça, na esperança contra toda esperança e na alegria de viver que move o coração de nosso povo, ainda que em condições muito difíceis. As raízes católicas permanecem na arte, linguagem, tradições e estilo de vida do povo, ao mesmo tempo dramático e festivo e no enfrentamento da realidade. A Igreja tem a grande tarefa de proteger e alimentar a fé do povo de Deus. (Cf. Documento de Aparecida 7).

Bento XVI, falando aos Bispos, destacou a rica e profunda religiosidade popular, na qual aparece a alma dos povos latino-americanos, o precioso tesouro da Igreja católica na América Latina. Convidou a promovê-la e a protegê-la. Esta maneira de expressar a fé está presente de diversas formas em todos os setores sociais, numa multidão que merece nosso respeito e carinho, porque sua piedade reflete uma sede de Deus que somente os pobres e simples podem conhecer, expressão da fé católica, catolicismo popular, profundamente inculturado, que contém a dimensão mais valiosa da cultura latino-americana (Cf. Documento de Aparecida 258). 


Não podemos reclamar! Deus nos concedeu o que existe de mais precioso, dando-nos a graça de viver a fé cristã católica e oferecê-la como sinal ao Brasil e ao Mundo. Mas o que fazer com os dons com que o Senhor nos prodigalizou? Cabe a nós que vimos outubro chegar novamente, acolher os presentes de Deus, cultivá-los e oferecê-los às novas gerações.


O tesouro aberto revela uma figura feminina. Maria de Nazaré, Mãe de Deus e nossa Mãe. Encontrá-la é descobri-la como modelo de fé. Nós desejamos acreditar em Jesus Cristo, seu Filho, com a mesma intensidade de sua resposta a Deus. A fé, em Nossa Senhora, é compromisso imediato, sem desculpas, no ato de liberdade mais digno que uma pessoa humana pode realizar: "Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1, 37). Esta fé foi provada e comprovada, no anúncio da dor, espada que transpassa a alma (Lc 2, 35), no esforço ingente para salvar o que pertence a Deus a qualquer custo, fugindo para o Egito (Mt 2, 13-15), e ainda buscando um filho adolescente que devia cuidar das coisas "do Pai" (Lc 2, 48-50). A Mãe se tornou discípula do Filho (Cf. Jo 2, 1-12) e chegou à plena maturidade aos pés da Cruz: "Junto à cruz de Jesus, estavam de pé sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: 'Mulher, eis o teu filho!' Depois disse ao discípulo: 'Eis a tua mãe!' A partir daquela hora, o discípulo a acolheu no que era seu" (Jo 19, 25-27). Após a Ressurreição, a Virgem Maria é o amparo da fé para os discípulos em oração, na expectativa do derramamento do Espírito Santo, para depois permanecer com a Igreja, Mãe, Modelo, Intercessora, acompanhando-a até a volta do Senhor, no fim dos tempos. Todo discípulo verdadeiro traz Maria consigo, como parte essencial de seu seguimento de Jesus Cristo. Este é o quilate daquela que acompanhamos pelas nossas ruas, através dos ícones que apontam para sua presença.

Esta fé é para ser vivida e testemunhada. Olhar para Nossa Senhora e reconhecer os passos dados por ela compromete todos os cristãos. Ninguém venha para o Círio como espectador. Turista não se sente bem! Só desfruta o Círio quem tem coração simples, quem aposta no que vê e descobre o que não vê. Aproveita melhor quem fez a peregrinação preparatória, ou quem acompanha as celebrações e pregações da quinzena do Círio. Melhor ainda será o resultado espiritual naquela pessoa que souber aproveitá-lo como tempo de conversão, especialmente através do Sacramento da Penitência e na participação na Eucaristia.

Quando os pais apontam para a "Santinha", tão pequena e tão grande, encanta-me o olhar das crianças que aprendem o que é ser paraense, acolhendo Nossa Senhora de Nazaré. Quero ver muitos braços que ensinam crianças de colo a fazerem o sinal da Cruz. Desejo ouvir a Ave-Maria de lábios inocentes, para que a inocência se espalhe de novo entre os mais crescidos! Ressoe o "Lírio Mimoso", na ingenuidade eloquente de seus versos, para que nossa ciência se transforme em sabedoria! Cantem "Dai-nos a bênção, ó Mãe de fé, Nossa Senhora de Nazaré" os jovens e adultos. Amarrem-se os corações e a vida nas cordas de amor com que Deus quer envolver-nos, todos os paraenses de nascimento, de adoção ou, melhor ainda, os que aqui descobriram a riqueza maior de nosso povo, a fé católica.

O Círio de Nazaré de 2013 seja o maior, o melhor, o mais perfeito, o mais frutuoso de todos. No próximo ano, vamos fazer mais ainda! Sim, porque haverá "mais gente no rio de gente" que queremos formar! Sim, teremos novas gerações de crianças sobre os ombros dos pais, olhando para Nossa Senhora de Nazaré. Sim, porque nossa Amazônia, cuja Rainha é Nossa Senhora de Nazaré, encontrou seu modo de ser missionária. Amazônia missionária é Amazônia de Nossa Senhora, Amazônia que sussurra "rogai por nós", Amazônia que espalha a Boa Nova do Evangelho, Amazônia de fé calejada pela história e esperançosa no futuro que pertence a Deus e é dado de presente, porque é Círio outra vez.

 

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.


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4 de outubro de 2013

Por que não consigo um(a) namorado(a)?

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Não deixe a desesperança invadir seu coração

Muitas pessoas, nos dias de hoje, desejam assumir um compromisso de namoro, mas não é tão fácil conseguir um par, porque até mesmo no meio católico, entre pessoas que seguem uma vivência de conversão, existem ideias mundanas a respeito da afetividade, que privilegiam o egoísmo e a falta de compromisso. As pessoas se permitem ir "ficando", estar com o outro só para preencher suas próprias carências, se ocupam antes com seus desejos imediatos sem primeiro conhecer a fundo a pessoa e o coração do outro. Muitos até julgam que a vida a dois lhes trará limitações pelas quais não estão dispostos a passar. E isso acontece também com nossos jovens inseridos em pastorais ou dentro de grupos de oração.


Por isso, quero dar uma palavra de incentivo a você que não está namorando, mas que busca uma pessoa de Deus para amar e ser amado(a). Respire fundo e não deixe a desesperança invadir seu coração! Deus o está amparando. Se Ele o fez para um casamento, Ele tem alguém para você! Não é hora de você ficar "pra baixo", e sim, de pensar, de sua parte, o que pode estar acontecendo que ainda não encaminhou alguém rumo ao seu coração e vice-versa. Então, quero ajudá-lo levantando perguntas e dicas que você pode responder para si mesmo, ajudando numa revisão de vida e vocação.  


- Você está realmente decidido a namorar sério? Ou ainda se deixa levar por um 'ficar aqui, ficar ali' para resolver a carência de momento? Saiba que, ao agir dessa forma, você será visto como alguém que não gosta de compromisso.


- Está procurando no lugar certo? Ou melhor dizendo, com relação às amizades e pessoas que passam por você, você se atenta ao coração delas ou a estereótipos externos? Baladas geralmente não são ambientes em que encontramos pessoas que querem compromisso. Isso não significa que você só encontrará uma boa pessoa na igreja e no grupo de oração, mas olhe com carinho para as pessoas em seu ambiente de trabalho, na faculdade, no clube. Seja atento às pessoas e ao que elas portam.

- Antes de ir buscar um(a) namorado(a), prefira amizades. Delas é que nascerão sentimentos alicerçados no conhecimento do coração do outro, na essência da pessoa.

- Invista em você! Quando falamos em investimento na pessoa, a primeira ideia que nos vem à cabeça é academia e banho de loja. Mas, me refiro à alegria de vida e conteúdo. Uma pessoa que transborda felicidade, dentro dos padrões da sociabilidade, é agradável em qualquer ocasião. Tenha conteúdo, preencha-se de coisas que fazem bem. Essas atitudes devem estar de acordo com a sua identidade, não precisa vestir um personagem nem cometer excessos. Se você é tímido, pode continuar sendo do seu jeito, apenas dê um passo a mais em direção às outras pessoas. A partir daí, se quiser cuidar da sua saúde e se vestir um pouco melhor também pode.

- Qual o seu foco? Será que você não está muito dentro do trabalho ou do seu hobby? Imagine o rapaz que só fala em planilhas, números e processos de produção com as moças! Ou a menina que se aproxima do cara e especifica os passos aprendidos no balé!

- E por último, será que você não tem uma visão distorcida de si? Talvez para mais do que se é, ou em se menosprezar. Muita gente acha que é elegante e não o é; acha que é superinteressante, mas acaba sendo chata; pensa que é convicta em alguns assuntos, mas, na verdade, é teimosa. Outros tendem a se recolher dentro da sua ostra e esquecem que são pérolas. Pergunte a um amigo seu, mas aquele amigo em que você confia verdadeiramente: "O que você acha verdadeiramente de mim?" Em todos os aspectos. E tenha o propósito de correr atrás do que precisa.

É claro que só estes pontos não são a totalidade do que envolve o problema de não arrumar um(a) namorado(a), mas são um bom começo. Se você está de bem com todas essas dicas, penso que você está no caminho certo, então, será questão de tempo para começar a namorar.

A esperança é o que impulsiona o ser humano. Esperança é o movimento da alma que acredita que a graça de Deus já foi alcançada, embora ainda não a veja. Por isso, se prepara, com alegria, para o que o Senhor tem de melhor. Prepare-se! Seja melhor para Deus, para si mesmo, então assim você será também para ele(a).

O tempo de Deus não é medido em horas, dias, mas em estarmos prontos, amadurecidos e responsáveis para com a bênção que Ele tem para nós.

Deus o abençoe!

 

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Sandro Ap. Arquejada

Sandro Aparecido Arquejada é missionário da Comunidade Canção Nova. Formado em administração de empresas pela Faculdade Salesiana de Lins (SP). Atualmente trabalha no setor de Novas Tecnologias da TV Canção Nova. É autor do livro "Maria, humana como nós" e "As cinco fases do namoro". Também é colunista do Portal Canção Nova, além de escrever para algumas mídias seculares.
 

3 de outubro de 2013

Falecimento de um pai

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Tornei-me órfão de pai, mas filho de muitos

A notícia do falecimento de um ente querido tira o mundo de nossos pés, nos deixa sem teto sob o qual podemos estar e sem chão para pisar. Nossos dias parecem não passar, como se fossem barcos parados. Nossas noites se tornam mais escuras.

Como voz de anjo, a mensagem de esperança ressoa em nosso coração, dizendo: "O povo que jazia na escuridão viu uma grande luz" (Is 9,1). Mediada pela nossa fé, essa luz nos vem, é a companhia do nosso Deus, que como brisa leve e transparente vem nos visitar, principalmente por meio da presença humana de cada amigo, até mesmo dos mais distantes. Nosso chão, que já não estava, passa a estar por meio do chão dos amigos, é como se eles nos emprestassem o chão nesse momento tão difícil, de dor tão intensa e demorada; pois a presença de quem se foi é tão real quanto o corpo que sob a terra jaz.

Cruamente falando, cada passo rumo ao enterro era como se fosse uma punhalada num coração sangrando sem parar, como se fossem flechadas no peito dolorido. Nesse momento, compreendemos a profecia dita pelo velho Simeão a Virgem Maria: "Uma espada transpassará a tua alma" (Lc 2,35).

Dom Alberto nos dizia: "Velório de quem tem fé é diferente, pois é sem escândalo e desespero". Sabemos que essa diferença é fruto da nossa fé, da companhia de cada um e de tantos, próximos ou distantes. Do bálsamo suave, do abraço aconchegante, do silêncio orante, do olhar compenetrante e da lágrima que caía sem retorno.

Padre Fábio de Melo nos ensina que "muitas vezes não temos o poder de mudar os fatos, mas sempre temos o poder de permitir que eles nos mudem e que o sofrimento bem interpretado e bem administrado nos torna mais humanos" . Espero não perder nem um momento dessas lições e ter capacidade de gerenciar com humildade esse sofrimento. Pois, como nos ensina a doutrina cristã, a morte é o término de um caminho neste espaço-tempo, esta faz cair todas as barreiras para se irromper uma nova realidade, incapaz de ser vivida aqui. É o grande momento da travessia que nos conduz à plena realização, o lugar do verdadeiro nascimento do homem, seu nascimento para Deus e em Deus (cf. CIC - números 1010-1014).

Diante do verso bíblico: "Em todos as circunstâncias, dai graças" (ITs 5,18), pensava eu, na noite fria do meu quarto, que dar graças nesses momentos, que agradecer nesse contexto é tão difícil, em que muitas vezes a nossa visão se turva como nuvens em dias estranhos. Mas essa luz, que ainda brilha dentro de nós, como um mestre, nos guia nas veredas do agradecimento. Então encontro respostas e agradeço: agradeço primeiramente pela oportunidade de reunir a família, outrora dispersa com vínculos distanciados, como filhos distantes da mãe, hoje laços refeitos e vínculos aproximados. Outrora endereços e telefones trocados, velhos e errados, hoje acertados e entrelaçados num sonho em comum.

Ainda agradecemos os que vieram de perto e de longe, como pássaros voando e portando uma mensagem de paz, como brisa leve carregando em si mesma a mansidão da alma. O abraço cheio de calor e energia, impulsionando a vontade de vencer. Os pêsames, os sentimentos, as ligações, as mensagens pela internet e telefonemas. E aquelas ocultas no íntimo do coração, transformadas em preces.

Agradeço de forma especial à Igreja, que, como Mãe, nesse momento, nos toma em seus braços, nos acolhendo e entregando meu falecido pai nos braços do Grande Pai, seu lugar eterno. Ela o acolheu no batismo, o alimentou durante sua caminhada por meio do pão da Palavra e dos Sacramentos e agora o acolhe em seus braços para colocá-lo na outra margem, onde Deus mesmo estará com ele e "enxugará toda lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem dor, porque passou a primeira condição. Pois o que está sentado no trono diz: "Eis que faço novas todas as coisas"(Ap 21, 4.5).

Tornei-me órfão de pai, mas filho de muitos. Pois temos lugares para estar, pessoas para nos olhar, mentes para nos iluminar, corações para nos sentir, palavras para nos acalmar, vidas a nos doar. Obrigado.

Padre Geraldo Silva
Comunidade Canção Nova


Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=11301

2 de outubro de 2013

Santa Teresinha e os tempos da pós-modernidade

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O que a vida dessa santa ensina ao homem de hoje?

Sem dúvida, Santa Teresinha está entre os santos que mais despertam a devoção na Igreja hoje em dia. Mas os santos não são tanto para serem admirados e vistos como milagreiros; mais que isso, eles foram elevados aos altares para serem imitados. Nesse mundo secularizado – onde o sagrado tem pouco valor diante das realidades de uma época marcada pela correria de quem não tem tempo a perder e pela superficialidade do homem tecnológico, um mundo que modela no homem uma personalidade sentimentalista, individualista, hedonista e com tanto outros "ismos" –, Santa Teresinha, de dentro de sua clausura do final do século XIX, tem alguma coisa a nos dizer hoje?


A espiritualidade de Teresinha é um caminho cotidiano de salvação. Ela propõe que todos os gestos, por mais simples que sejam, se forem feitos com amor, têm valor redentor: "Apanhar um alfinete por amor pode converter uma alma. Que grande mistério!". Só Jesus pode dar um valor tão grande às nossas ações. Por isso, sua proposta é perfeita para nós hoje: a santidade não se resume a gestos de piedade e longos tempos dedicados ao sagrado, mas pode ser encontrada na correria da vida do mundo. Perfeito! Sim, na correria do dia a dia, se cada coisa for feita com amor, tem valor de eternidade, porque traz a presença de Deus para aquela situação. Aliás, é um remédio para o mal da pós-modernidade: a depressão, porque, se cada coisa da vida ganha significado pelo amor, nada será mera repetição maçante de atos, mas tudo será sempre novidade; porque o amor traz o brilho do novo para as coisas da vida. 


Individualismo, solidão e competitividade são tendências que atraem o homem de hoje. Estamos ligados no mundo, mas sempre isolados numa telinha de celular ou telona de TV. E quando saímos daí, é para competir em lucro, poder, beleza física; enfim, todos querem o sucesso. Nisso Teresinha era muito diferente de nós, não porque não tinha a telinha ou a telona, e sim porque vivia de amor e o amor é sempre atual. Amante do último lugar, o único pódio pelo qual competia, e vivendo sob a leveza do escondimento, Teresinha em tudo queria fazer o bem: "Só o amor me atrai". Nem o sucesso da santidade ela queria: "Não se deve trabalhar para tornar-se santa, mas para dar prazer ao Senhor". Sua meta era realmente partilhar o bem, e por isso surpreendeu até os santos, que querem o céu como seu troféu, ao dizer que queria passar o céu fazendo o bem na terra. Alegria das irmãs durante os recreios, ela sabia ser agradável, viver em comunidade e partilhar de tal maneira que podemos aplicar a ela a frase do místico alemão Johann Tauler (séc. XIV): "Se eu amar o bem que está no meu próximo, mais do que ele mesmo o ama, esse bem me pertence mais do que a ele".


Mas Teresinha não seria hoje uma mestra somente através de seus bons exemplos. Por meio de sua doutrina da pequena via, ela daria duros remédios a nós, que gostamos de conforto e guloseimas. Ela diz que "um dia sem sofrimento é um dia perdido". Sem dúvida, Santa Teresinha tem muito a nos ensinar no caminho necessário da ascese e penitência. Ela não nos convida a fazer coisas exorbitantes, tão distantes do nosso padrão de bem-estar, mas coisas simples, como ela mesma fazia: durante as refeições, não se recostar ao encosto confortável da cadeira. Coisas realmente tão simples quanto possíveis.

Mas talvez a lição mais dura que ela tem a nos dar seja sua convicção de que o amor não é sentimento ou emoção, mas decisão da vontade. Verdade difícil num mundo em que os relacionamentos são tão superficiais e a capacidade de se comprometer tão volátil, que casamento se faz por união afetiva e religião se escolhe pela medida de boas sensações e retribuições divinas.

Teresinha é um daqueles santos que ultrapassam o seu tempo, porque sua vida e ensinamentos comunicam valores perenes. Especialmente ela, que soube reconhecer os sinais dos tempos e, com consistência e profundidade, tem uma profecia atual, merece realmente o título de "a maior santa dos tempos modernos", como a chamou São Pio X (1835-1914).


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André L. Botelho de Andrade
www.twitter.com/compantokrator

Casado, pai de dois filhos. Teólogo, Fundador e Moderador Geral da Comunidade Católica Pantokrator, onde vive em comunidade de vida e dedica-se integralmente à sua obra de evangelização. Contato: facebook.com/andreluisbotelhodeandrade


Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=13321

1 de outubro de 2013

Margarida Naseau

Nasceu em, 6 de julho de 1594, (conforme a Certidão de Batismo), em Surresne-França, filha de Leufroy e Denise Glória, sendo Batizada pelo Padre Guilherme Glória, irmão de sua mãe Denise.

Margarida pertencia a uma família de camponeses profundamente cristã. Eram felizes e tiravam o seu sustento das culturas de sua terra e a criação de gado. Compunha-se a família de seis filhos sendo Margarida a mais velha.

Margarida perdeu a mãe muito cedo e foi encarregada de cuidar dos seus irmãos menores, tendo para com eles, afeição e cuidados matemos. Seu pai faleceu em 1629. Nesta época, tomava conta da casa, costurava, trabalhava na lavoura, pastoreava o gado e era exímia em manejar a roca e o fuso. Fazia parte também de suas especialidades o serviço de enfermagem aos doente e acidentados.

Ela era piedosa, trabalhadora, organizada, de muito bom senso, mas não tinha instrução. Queria muito aprender ler e escrever, para melhor conhecer a Doutrina cristã e poder ensinar aos outros. Para isso comprou uma Cartilha e nas horas vagas estudava, perguntando para as pessoas que sabiam o nome das letras e assim aprendeu a ler e escrever sozinha.

Quando sentiu-se preparada para ensinar aos outros, partiu de Surresne e foi para Willepreux para ser professora rural, onde procurou a alfabetizar e evangelizar. Quando conseguiu alfabetizar um pequeno grupo de jovens, ia com esse grupo de aldeia em aldeia levando a instrução básica e a Doutrina Cristã.

Certa vez, em 1630 estando o Padre Vicente de Paulo, pregando as Missões em Saint-Claud, Margarida ouviu dizer que em Paris, havia jovens que serviam os pobres. Teve o desejo de também servir os pobres e manifestou esse desejo ao Padre Vicente e este a enviou para Paris. Lá dedicou-se com muito amor a esse serviço. Dava assistência aos doentes, ensinava as moças. Trabalhando para os pobres com o Padre Vicente e Luisa de Marillac aprendeu os segredos da verdadeira caridade. Enviada pelo Padre Vicente para a Paróquia de São Nicolau du Chardonet, em Paris, atendia os doentes, onde recolheu uma mulher atacada da peste e instalou-a em sua própria cama. Ela própria foi contagiada, sendo levada para o Hospital de São Luiz, onde veio a falecer, com 39 anos de idade, em 24 de fevereiro de 1633, vitima de seu amor aos pobres doentes.

Após a sua morte São Vicente de Paulo teceu-lhe os maiores elogios dizendo: "Todos a amavam porque nela tudo era amável".

Apesar de Margarida nunca ter pertencido oficialmente à Companhia das Filhas da Caridade, pois esta só foi instituída em 29 de novembro de 1633, assim mesmo São Vicente disse ter sido ela a primeira Filha da Caridade e de ter mostrado o caminho ás outras.

30 de setembro de 2013

São Vicente de Paulo

O céu e a terra

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Se o céu é o limite, não há que temê-lo

A Palavra de Deus reúne o povo que lhe pertence, convocando-o à comunhão com o próprio Senhor para ser um sinal de um mundo diferente, possível para todos os homens e mulheres pela ação da graças. Jesus, Filho de Deus verdadeiro, veio ao mundo e trouxe a "cultura do céu", oferecendo-a com generosidade. "De rico que era, tornou-se pobre por amor para que nos enriquecer com sua pobreza" (2 Cor 8,9). Nele e com ele se encontra o chamado e a graça a restaurar todas as coisas. Em Jesus Cristo, Deus "nos fez conhecer o mistério de sua vontade, segundo o desígnio benevolente que formou desde sempre em Cristo, para realizá-lo na plenitude dos tempos: recapitular tudo em Cristo, tudo o que existe no céu e na terra" (Ef 1,9-10). Esta terra não é um restolho a ser desprezado, mas campo de prova e de missão, entregue a todos os filhos amados de Deus. A nós cabe a resposta a este plano de amor!


Não faltam os desafios a serem enfrentados para que os sonhos de Deus e de seus filhos se realizem. Dentre estes, assoma significativo o verdadeiro abismo entre grupos sociais, passando da extrema e escandalosa miséria até chegar à abundância, ao esbanjamento e ao desperdício que têm provocado indignação e clamado soluções construtivas. A sensibilidade especial do Evangelho de São Lucas para os pobres e pequenos (Cf. Lc 16, 10-31) mostra Jesus que, através da provocante linguagem das parábolas, quer suscitar novas atitudes, semeando novas relações entre as pessoas.

Lázaro, o pobre de outrora e de sempre, assim como o rico epulão, continuam presentes e incômodos, quando a parábola é contada por Jesus. Mas o céu, com seu modo de viver baseado na comunhão e na partilha, está bem perto de nós. Antes de pôr o dedo na ferida da desigualdade e da injustiça presentes em nosso tempo, faz bem olhar ao nosso redor e identificar onde se encontram experiências diferentes, nas quais o céu desce à terra. Perto e dentro de nós, existem gestos de comunhão, gente de coração generoso, sensibilidade diferente à fraternidade. Penso em tantas iniciativas tomadas por pessoas e grupos, como as tantas obras sociais da Igreja ou de outras instâncias da sociedade, nas quais se superam as distâncias e a fraternidade se instala. E quantas são as pessoas tocadas pela força da Palavra de Deus e hoje mais fraternas e sensíveis às necessidades dos outros, capazes de acolher os outros e proporcionar-lhes caminhos novos de promoção e autonomia.


Depois, trata-se de alargar a compreensão para verificar as marcas de verdadeiro inferno existentes em torno a nós, onde o egoísmo se espalha e deixa seu rastro destruidor. Uma imagem de tal situação me veio há poucos dias diante dos olhos: um morador de rua recolhendo água suja de uma valeta numa grande cidade, para quase fazer de conta de se lavar no início de um novo dia. Penso em tantos homens e mulheres que veem seus filhos vagando pelas ruas, revestidos de andrajos, com o coração dolorido por não terem roupas adequadas. E os homens e mulheres que recolhem restos de comida, quais lázaros que competem com cães vadios? Brada ao Céu a terra que edificamos! A dignidade humana, inscrita por Deus em todos os seus filhos, grita por novas atitudes. Para acordar a humanidade adormecida dentro de nós, foram dados lei, profetas e, mais ainda, alguém que ressuscitou dos mortos (Cf. Lc 16, 29-31). E não falta o grito da realidade, mas ouvidos sensíveis!


Primeiro passo é saber que o céu, pátria definitiva em que desejamos habitar, é casa cuja construção começa na terra. Dar guarida a cada pessoa que clama pelo nosso amor, sem deixar quem quer que seja passar em vão ao nosso lado. Diante do aleijado encontrado pelas ruas, Pedro e João tinham muito mais do que recursos materiais: "Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda!" (At 3,5). Deram a cura, abriram o coração do homem para Deus. E os textos dos Atos dos Apóstolos mostram que os primeiros cristãos lutaram pela comunhão de bens, um dos sinais da presença de Cristo Ressuscitado. Palavra, pão, remédio, abraço, consolo, sorriso, mãos que elevam, cura. Tudo serve e certamente haverá, no tesouro do coração de cada pessoa, algo a oferecer. Começar já, do jeito que é possível para cada um de nós.

Mas muitos podem oferecer outras coisas! Quem tem responsabilidades públicas, à frente de organismos da sociedade, pode aguçar sua sensibilidade e priorizar ações correspondentes aos valores da dignidade humana e proporcionar maior respeito às pessoas, especialmente aos mais necessitados. Há muita cara fechada e muita burocracia a serem superadas nas repartições públicas. Muitas filas podem diminuir, se crescer a boa vontade. Há projetos em vista do bem comum a serem implantados, vencendo interesses corporativos que emperram a vida dos cidadãos. Existe um caminho de conversão adequado para as pessoas que detêm cargos eletivos, quem sabe, inscritos até nos discursos bonitos da campanha eleitoral! Há mãos a serem lavadas na água pura da fonte da vida!

Tudo isso será possível se os valores que norteiam o comportamento tiverem referências diferentes. Escrevendo a Timóteo, companheiro de jornada no anúncio do Evangelho, São Paulo fez notar que "na verdade, a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Por se terem entregue a ele, alguns se desviaram da fé e se afligem com inúmeros sofrimentos. Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas, procura antes a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a constância, a mansidão. Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado quando fizeste a tua bela profissão de fé diante de muitas testemunhas" (1 Tm 6, 10-16). A atualidade patente da Escritura provoca novas atitudes. Só com homens e mulheres renovados e transformados com os critérios do Evangelho se pode implantar relações novas na sociedade.

Enfim, vale dizer que se o céu é o limite, não há que temê-lo. Quando a Escritura e a Igreja falam das realidades definitivas, chamadas "novíssimos do homem", não desejam incutir o pavor, nem converter à força as pessoas. Não fomos feitos para rastejar no pecado e no egoísmo, mas pensados por Deus para a felicidade, construída e partilhada nesta terra e vivida em plenitude na eternidade.

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.


Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=13317

27 de setembro de 2013

Virtudes da espiritualidade vicentina

A Espiritualidade vicentina está pautada, desde sua gestação, mediante o testemunho de Vicente de Paulo e seus primeiros companheiros de missão, no contexto da Igreja do século XVII, na França, em cinco virtudes, colhidas do Evangelho de Jesus Cristo e da sua práxis libertadora junto ao povo empobrecido e marginalizado. Estas virtudes são assim nomeadas pelo próprio Vicente de Paulo: simplicidade, humildade, mortificação, mansidão e zelo pelas almas(zelo apostólico).


Simplicidade

A virtude da Simplicidade educa-nos na capacidade de desenvolver os valores da verdade, da sinceridade, da transparência. Viver plenamente a simplicidade nos ajudará a evitar ser falsos uns com os outros e muito menos com o povo; por esta virtude somos chamados a ser simples, a dizer as coisas como são, sempre com sinceridade em relação à outra pessoa.


Diante dos desafios que o pluralismo de idéias e de valores e contra-valores que a sociedade capitalista nos impõe, precisamos ficar mais atentos em relação à nossa postura junto ao povo e o cultivo de valores que não são transitórios, mas base para a vida com dignidade. Um desses valores é o cultivo da simplicidade. O povo ao qual procuramos evangelizar se aproximará de nós mediante nossa postura diante dele. A simplicidade impregnada em nossos atos possibilitará essa pedagógica aproximação do povo mais simples a nós e vice-versa.


O próprio São Vicente definiu na sua vivência a importância desta virtude na vida de um vicentino: "A simplicidade é a virtude que mais amo, eu a chamo de meu evangelho" (SV I,284).


Humildade

São Vicente de Paulo define a Humildade como a virtude que dá a característica essencial à missão na Pequena Companhia. A humildade é a virtude que nos torna capazes de reconhecer e admitir nossas fraquezas e limitações, criando assim a possibilidade de confiar mais em Deus e menos em nós mesmos.


A humildade ajuda-nos a nos livrarmos da nossa auto-suficiência, a reconhecermos nossa dependência do amor do Criador e nossa interdependência comunitária. Ao mesmo tempo, a humildade nos capacita para reconhecer nossos talentos, talentos que devem ser postos a serviço das outras pessoas.


É a virtude que permite aos pobres aproximar-se de nós. É a virtude que nos ajuda a ver que todos somos iguais aos olhos de Deus. A vivência desta virtude educa-nos e capacita-nos, em contrapartida, para aproximar-nos progressivamente dos Pobres. Esta virtude nos impulsiona a um processo contínuo de inculturação no mundo dos pobres, encorajando-nos a um esforço de identificação com os mesmos.


Mansidão

Virtudes vicentinas: simplicidade, humildade, mansidão, mortificação e zelo apostólico
Etimologicamente, mansidão vem de "mansuetude" e manso de "mansus", forma do latim vulgar de "mansuetus". Tem um significado de comportamento aconchegante, familiar, doméstico. Conceitualmente, a mansidão se entende como a força, a virtude, que permite a pessoa moderar razoavelmente sua ira e indignação. A razoável indignação pode ser com freqüência sã e saudável, transposição lícita da sobrecarga psicológica a um ato de zelo pela glória de Deus, pela justiça ou pelo bem do próximo.


A mansidão não é agressiva, raivosa, barulhenta. Certamente é uma virtude chave na comunidade. É a virtude que ajuda a construir a confiança de uns nos outros, porque, quando somos amáveis, os que são tímidos se abrirão em relação a nós. Por estas razões podemos dizer que a mansidão é a virtude por demais vocacional, como constatou o próprio São Vicente: "Se não se pode ganhar uma pessoa pela amabilidade e pela paciência, será difícil consegui-lo de outra maneira" (SV VII, 226).


A mansidão inspira um trato suave, agradável, educado, e fundamenta a tolerância, valor este muito importante para a convivência em uma sociedade plural em que o respeito à pessoa e à sua liberdade deve ser uma lei indiscutível.



Mortificação

Por esta virtude somos interpelados a morrer para nós mesmos. É a virtude que pede que nos entreguemos totalmente, pensemos primeiro nos outros, pensemos especialmente nos Pobres antes de pensar em nós mesmos. Esta virtude educa-nos para o altruísmo em detrimento do nosso egocentrismo.


Assim nos diz São Vicente: "Os santos são santos porque seguem as pegadas de Jesus Cristo, renunciam a si mesmos e se mortificam em todas as coisas" (SV XII, 227).


Zelo Apostólico

Podemos identificar o zelo apostólico com paixão pela humanidade. O zelo é a conseqüência de um coração verdadeiramente compassivo. Trata-se da paixão por Cristo, paixão pela humanidade e paixão especialmente pelo Pobre. O zelo é uma virtude verdadeiramente missionária. Expressa-se em forma de disponibilidade, de disposição para o serviço e a evangelização, mesmo quando as forças físicas já estão decadentes.

Assim sendo, relacionado com o zelo está o entusiasmo, que leva à ação. Podemos entender o zelo como uma expressão concreta do amor efetivo, que é motivado pela compaixão, ou amor afetivo.


Referências

Família Vicentina no Brasil

Província Brasileira da Congregração da Missão

TERÇO DE SÃO VICENTE DE PAULO

Ó glorioso Vicente de Paulo, despertai em todas as pessoas a convicção profunda de que Jesus Cristo é nossa única esperança e salvação.


1º Mistério – Contemplamos a virtude da SIMPLICIDADE

Para São Vicente a virtude da simplicidade educa-nos na capacidade de desenvolver os valores da verdade, da sinceridade, da transparência. Viver plenamente a simplicidade nos ajudará a evitar ser falsos uns com os outros e muito menos com o povo, por esta virtude somos chamados a ser simples, a dizer as coisas como são, sempre com sinceridade em relação à outra pessoa.

Pai Nosso – 10 Ave-Maria – Glória e a seguinte oração:

Somente com os olhos a fé poderemos ver Jesus nos pobres. Alcançai-nos, ó glorioso Vicente de Paulo, de Deus a graça desta fé.

 

2º Mistério – contemplamos a virtude da HUMILDADE

São Vicente de Paulo define a Humildade com a virtude que já é característica essencial à nossa missão.

A Humildade é a virtude que nos torna capazes de reconhecer e admitir nossas fraquezas e limitações, criando assim a possibilidade de confiar mais em Deus e menos em nós mesmos. A humildade ajuda-nos a nos livrarmos da nossa autossuficiência, a reconhecermos nossa dependência do amor do Criador e nossa interdependência comunitária. Ao mesmo tempo, a humildade nos capacita para reconhecer nossos talentos, que dever ser postos a serviços das outras pessoas. È a virtude que permite aos pobres aproximar-se de nós. È a virtude que nos ajuda a ver com que todos somos iguais aos olhos de Deus. A vivencia desta virtude educa-nos e capacita-nos, em contrapartida, para aproximar-se nos progressivamente dos pobres.

Pai Nosso – 10 Ave-Maria – Glória e a seguinte oração:

Ajudai-nos, Vicente de Paulo, a libertamo-nos do amor próprio, para servirmos somente a Deus, quando servimos o pobre.


3º. Mistério – contemplamos a virtude da MANSIDÃO

Para São Vicente a mansidão se entende como a força, a virtude, que permite a pessoa moderar razoavelmente sua ira e indignação. A mansidão não é agressiva, raivosa, barulhenta. Certamente uma virtude chave na comunidade. É a virtude que ajuda a construir a confiança de uns nos outros, porque, quando somos amáveis, os que são tímidos se abrirão em relação a nós. Por estas razões podemos dizer que a mansidão é a virtude por demais vocacional, como constatou o próprio São Vicente ao escrever: "Se não se pode ganhar uma pessoa pela amabilidade e pela paciência, será difícil consegui-lo de outra maneira".

Pai Nosso – 10 Ave-Maria – Glória e a seguinte oração:

Alcançai-nos, Vicente de Paulo, a graça de compreendermos melhor a presença de Cristo no sacerdote e de tratarmos os ministros de Dês com respeito e dedicação, auxiliando-os na sua árdua missão.


4º. Mistério: contemplamos a virtude da MORTIFICAÇÃO

São Vicente afirma que por esta virtude somos interpelados a morrer para nós mesmos.  É a virtude que pede que nos entreguemos totalmente, pensemos primeiro nos outros, pensemos especialmente nos Pobres antes de pensar em nós mesmos. Esta virtude educa-nos para o altruísmo em detrimento do nosso egocentrismo.

Pai Nosso- 10 Ave Maria – glória e a seguinte oração:

Ajudai-nos, Vicente de Paulo, a libertarmo-nos do amor próprio, para servimos somente a Deus, quando servimos o pobre.

 

5º. Mistério – Contemplamos a virtude do ZELO APOSTÓLICO

Podemos identificar o zelo apostólico com paixão pela humanidade. O zelo é a consequência de um coração verdadeiramente compassivo. Trata-se da paixão por Cristo, paixão pela humanidade e paixão especialmente pelo pobre. O zelo é a virtude verdadeiramente missionária. Expressa-se em forma de disponibilidade, de disposição para o serviço e a evangelização mesmo quando as forças físicas já estão decadentes.

Pai Nosso – 10 Ave Maria – Glória e a seguinte oração:

Ajudai-nos, Vicente de Paulo, a alcançar na presença de Cristo na Eucaristia, as virtude que nos dão a tranquilidade de espírito, a paz de consciência e uma verdadeira caridade para com o pobres.

25 de setembro de 2013

Até o deserto floresce!...