29 de abril de 2013

Eis que faço novas todas as coisas

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A fonte da novidade está lá no céu

Os dias que antecederam a eleição do Santo Padre, o Papa Francisco, foram repletos de especulações, seja em torno do nome do futuro Pontífice, seja na busca da novidade ou da renovação da Igreja. Muitos viam a necessidade de um Papa "progressista", entendido como um Pontífice que viesse a mudar os rumos da Igreja em direção a conceitos e práticas divergentes da perspectiva evangélica, marcada pelo seguimento de Jesus Cristo, acolhimento do mistério da cruz e serviço humilde aos mais pobres. E tantas vozes se calaram ou deram razão ao fato de o Espírito Santo ter tomado de novo a palavra, tirando "da manga" a grande surpresa que tem sido o Papa. Discursos breves, centrados no essencial da mensagem cristã, gestos significativos, acolhimento, abraços, tudo apontando para a fidelidade a Jesus Cristo, proposta de bondade e ternura, braços abertos que expressam misericórdia e perdão.

A Igreja continua a mesma e sempre nova, capaz de se reformar com a chave da conversão que abre as portas dos corações. A novidade vem de dentro e não se conforma com a mentalidade corrente. A Igreja será sempre acompanhada pela provocação positiva da Carta dos Romanos: "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito" (Rm 12,2). Papa Francisco é revolucionário, porque ama sem mudar uma vírgula que seja do Evangelho, do Catecismo ou do ensinamento moral da Igreja!

Já na Igreja primitiva, o crescimento dela acontecia quando passava por muitos sofrimentos e perseguições (Cf. At 14,21-27). Sua vida se caracterizava pelo anúncio da Palavra, testemunho da caridade e das ações maravilhosas do Senhor, orações e jejuns e atividade missionária. O apóstolo São Paulo empreendeu as grandes viagens, quando formava novas comunidades e constituía os servidores aos quais confiava estas mesmas agregações de cristãos. A Igreja suscitava a fraternidade e as pessoas nela se sentiam acolhidas e amadas. Dali para frente e até hoje, onde uma comunidade cristã se reúne na caridade, abre-se um oásis verdejante, onde as pessoas podem saciar sua sede de vida verdadeira.

A compreensão de comunidade para a fé cristã deriva da vida e dos ensinamentos de Jesus, assimilados pelos apóstolos e pelas primeiras comunidades. Na base da experiência comunitária, proposta por Jesus, está a experiência da "comunhão". Jesus inicia seu ministério chamando discípulos para viverem com ele (cf. Mc 3,14). Todo o itinerário do discípulo, desde o chamado, é sempre vivido na comunhão com o Mestre, que se desdobra na comunhão com os outros. A dimensão comunitária é fundamental na Igreja, pois se inspira na própria Santíssima Trindade, a perfeita comunidade de amor. Sem comunidade, não há como viver autenticamente a experiência cristã. A dimensão comunitária da fé cristã conheceu diferentes formas de se concretizar historicamente, desde a Igreja Doméstica até chegar à paróquia na acepção atual (Cf. Tema central da 51ª Assembleia geral da CNBB, n.42-43), ou a proposta da paróquia como "comunidade de comunidades", que tem sido encaminhada na maioria das dioceses do Brasil. Bem vivida, a dimensão comunitária da fé cristã transforma as pessoas e o mundo.

A fonte da novidade está no alto, lá no céu, na vida da Santíssima Trindade. Serão autênticas as comunidades cristãs e será confiável a vida de cada cristão quando refletirem a vida de Deus. De fato, quando Jesus abre a alma para anunciar o "seu" mandamento (Jo 13,31-35; Jo 15,12-17) não se limita a propor uma convivência pacífica e respeitosa entre as pessoas, mas quer que nos amemos uns aos outros "como" Ele nos amou. Não basta a benevolência ou, quem sabe, a filantropia, ou ainda o respeito à liberdade dos outros e às diferenças. Ele pede um pacto de amor mútuo, com pessoas dispostas a darem a vida uma pelas outras. Esta, sim, é a novidade, esta é a revolução para nosso mundo. Com este amor autêntico, vindo do céu, vem também a verdade, a justiça e todos os valores do Reino de Deus.

Homens e mulheres que fazem esta escolha são portadores de um tempo novo, em que Deus vem morar no meio do seu povo, para enxugar todas as lágrimas. Virá, sim, o tempo em que a morte não existirá mais e não haverá mais luto, nem choro, nem dor, porque terá passado o que havia antes (Cf. Ap 21,1-5). Quem aceitar dar o primeiro passo, nesta direção, não precisará esperar muito, pois verá, desde agora, florescer o jardim de Deus em torno de si. Basta começar, sem muitas palavras, com gestos simples e significativos, sem medo da ternura e da bondade, espalhando a misericórdia e o perdão.

Aquele que é o "homem novo", que realiza as bem-aventuranças e atrai irresistivelmente as pessoas de todos os tempos, o que não deixa ninguém acomodado, este, sim, dirá: "Eis que faço novas todas as coisas" (Ap 21,5). Diante dele o Espírito e a Esposa, que é a Igreja, dizem: Vem, Senhor Jesus! Quem tem sede da novidade, venha, e quem quiser, receba de graça a água da vida! (Cf. Ap 22,17)

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

26 de abril de 2013

Aprenda a viver com a simplicidade das crianças

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No universo delas, a felicidade está em pequenos gestos

Vivemos em um mundo de intensas dores e ansiedades. Porém, não significa que devemos deixar tudo isso ditar as regras sobre nossa existência. Pelo contrário, precisamos reagir submetendo nossa vida a uma outra lógica, que não nos permitirá ser totalmente engolidos por essa enorme onda de agitação e ansiedade.


O ser humano é, no reino da vida, o único ser dotado de pensamento (razão). Ele é o único capaz de não se permitir determinar pelo meio em que vive e pelos seus instintos. Assim, pode construir uma realidade nova e melhor, que mais eficazmente corresponda à sua autêntica realização.


O homem não é uma massa de manobra que será sempre escrava do tempo e de suas frágeis tendências. Não. Ele é muito mais e foi criado para ir mais longe, pois possui a "dinâmica força da vida" dentro de si.

Não será possível uma vida sem tensões e sofrimentos, e sobre isso já falamos. Mas como gerir esses sofrimentos e tensões tão comuns em nossa vida?

Aqui, não me sinto autorizado a despejar sobre você receitas (ou frases) prontas. Ao contrário, desejo apenas propor caminhos que o possibilitem pensar e, posteriormente, encontrar ferramentas que o auxiliem neste processo.

Gosto de contemplar o jeito como as crianças percebem a vida e as dificuldades nela presentes. Para elas, as coisas são simples e descomplicadas, e quase sempre elas acabam encontrando soluções fáceis e bem humoradas para cada tensão que encontram. Elas não possuem a pretensão de querer reter, instantaneamente, a felicidade debaixo dos braços, mas a buscam experimentar em pequenas porções, a partir de cada pequena coisa que a existência lhes proporciona.

No universo delas, a felicidade está em pequenos gestos: em uma partida de futebol com os amigos, em uma brincadeira na rua ou em uma refeição cheia de comidas gostosas etc. Enfim, elas conseguem viver bem cada momento, sendo inteiras (e felizes) em cada fragmento.

Com elas podemos aprender algo?

Acredito que aprender a viver com simplicidade sem complicar os fatos, lutando para separar cada coisa e as experienciando uma de cada vez é um concreto caminho para uma boa gerência de tensões (um caminho para a maturidade).

Percebo que uma boa e diária dose de paciência revestida de otimismo, diante de nossa vida e de seus muitos desafios, também nos possibilita bem lidar com nossas frustrações, ensinando-nos a não nos desesperarmos diante das momentâneas derrotas que o dia a dia nos apresentará.

(Extraído do livro "Construindo a felicidade")

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Padre Adriano Zandoná

24 de abril de 2013

A Igreja de Francisco

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A Igreja Católica quer ser mãe amorosa de todos

Como costumo fazer quando estou em casa, na manhã do dia 18 de março folheei os jornais de Dourados (MS), a cidade onde resido. Num deles, encontrei dois artigos sobre o Papa Francisco, assinados por pessoas que considero amigas de longa data. Referindo-se aos primeiros dias do Pontífice, um articulista dizia: «Sem dúvida, ele deverá cativar as pessoas com muita facilidade, o que vai ser muito bom para a Igreja, que precisa amenizar a carranca e guardar a solenidade para dentro dos templos!».

Preciso reconhecer que, mais do que a simpatia transmitida pelo novo Papa, o que ficou gravado no meu coração foi a "carranca" da Igreja. Certamente, como tantos outros cristãos, o autor ficou tocado pela graça de Deus que irrompe nos ambientes onde Francisco aparece. No domingo em que ele escreveu o artigo, o Papa, no final da Missa que rezou na igreja de Santana, colocou-se à porta e se entreteve com os fiéis que haviam participado da celebração. Foi uma festa. As pessoas repetiam comovidas: «O Papa me abraçou! Ele sorriu para mim!». 


Confesso que, se a "carranca" da Igreja corresponde à realidade, devo reconhecer que estávamos realmente precisando de um Papa que nos lembrasse uma das principais razões que levou João XXIII a pensar no Concílio Vaticano II, como ele mesmo explicou no dia de sua inauguração, 11 de outubro de 1962: «A Igreja Católica quer ser mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade com os filhos que dela se separaram».


Quando eu era criança – antes do Concílio – a "linha dura" prevalecia em toda a parte, inclusive nos seminários onde se preparavam os sacerdotes. A metodologia empregada para "educar" e "convencer" não dispensava a palmatória. Formados sob uma disciplina férrea, havia padres que acabavam por adotar o mesmo estilo no trato com o povo que lhes cabia dirigir. Enérgicos e autoritários, mais do que amados, eram temidos e mantidos à distância. Contudo, pela solidez de seus princípios morais e espirituais, a maior parte deles muito contribuiu para o desenvolvimento das comunidades. Mas, não se pode negar, também contribuiu para a "carranca" da Igreja.

O Concílio terminou no dia 8 de dezembro de 1965, quando se iniciava uma profunda revolução cultural na história da humanidade, uma autêntica mudança de época. Em toda a parte, explodiram revoltas populares exigindo democracia, igualdade e justiça. Na Europa, a juventude deu o grito de largada, que se alastrou por inúmeros países. Na África, o processo de descolonização caminhou a passos de gigante. Na América Latina, nasceram as Comunidades Eclesiais de Base e a Teologia da Libertação. Em contato direto com o sofrimento do povo, espoliado pelo poder econômico, não poucos padres e religiosos optaram por ideologias que lhes pareciam mais eficazes do que a "prudência" da Igreja na solução dos problemas sociais. Infelizmente, o radicalismo de alguns deles também colaborou para a "carranca" da Igreja.

"Tese, antítese e síntese" parece ser o processo normal do amadurecimento cultural e social da humanidade. É o que percebo também na Igreja. Depois de uma época em que alguns agentes de pastoral privilegiavam a salvação da alma, surgiu um período em que a Igreja parecia transformar-se numa "piedosa ONG" – como disse o Papa Francisco aos cardeais no dia 14 de março, logo após a eleição – destinada a resolver os problemas do povo. Graças a Deus, de uns anos para cá voltamos a descobrir a síntese proposta pelo Evangelho: «Se um irmão não tem o que vestir ou comer, e você lhe diz: "Vá em paz, se aqueça e coma bastante", sem lhe dar o necessário, que adianta isso? Sem obras, a fé está morta!» (Tg 2,15-17).

O articulista de Dourados (MS) pede que reservemos a «solenidade para dentro dos templos». De minha parte, penso que também ali convenha sermos simples e fraternos. Um exemplo concreto: anos atrás, quando uma criança traquinava na igreja, havia padres que bradavam: «Essa criança não tem mãe?». Há poucos dias, durante a Missa, um pequerrucho galgou o presbitério, aproximou-se do altar e puxou a túnica do padre. Este o abraçou e lhe perguntou: «O que você quer ser quando grande?». «Padre!», foi a resposta do menino. Se Deus continua falando pela boca das crianças (Mt 21,16), a Igreja do Papa Francisco já começou.

 

Dom Redovino Rizzardo, cs

Bispo de Dourados (MS)

E-mail para contato: redovinorizzardo@gmail.com

23 de abril de 2013

Brasil comemora 200 anos de Ozanam. Em São Paulo, Dom Odillo Scherer enaltece fundador da SSVP

"O nascimento de Ozanam, há 200 anos, trouxe algo importante para a vida da Igreja: a fé que floresce na caridade, produz sinais de esperança e renova o mundo". Este foi o conclame do arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, durante uma missa celebrada na Catedral da Sé na tarde desse sábado (20), em comemoração ao bicentenário de Antonio Frederico Ozanam. A Celebração é uma das atividades que estão acontecendo em todo o Brasil para homenagear o principal fundador da Sociedade de São Vicente de Paulo.
Amanhã, por exemplo, haverá uma concentração na Praça Antonio Frederico Ozanam, no Rio de Janeiro, a partir das 9h. Já em Araraquara (SP), na Diocese de São Carlos, está prevista uma Missa em Ação de Graças na Paróquia Sagrada Família, às 19h30.


EVENTO EM SÃO PAULO

A missa presidida por Dom Odilo Scherer contou com a presença de aproximadamente 900 vicentinos. O Conselho Nacional do Brasil (CNB) foi representado pelos confrades Carlos Henrique David (vice-presidente), Sideny de Oliveira (coordenador de Comunicação) e Antonio Monteiro da Silva (vice-presidente da Região IV).  Também participou o Superior Geral dos Religiosos de São Vicente de Paulo, padre Philippe Mura.
O arcebispo, durante a homilia, lembrou de Ozanam como precursor da Doutrina Social da Igreja por agir em meio aos Pobres. "Ozanam não pegou em armas, não saiu pelas ruas para levantar bandeiras, mas 'arregaçou as mangas' e foi ao encontro de quem precisava da ajuda dele". A COBERTURA COMPLETA, VOCÊ ACOMPANHA NA PRÓXIMA EDIÇÃO DO BOLETIM BRASILEIRO.

DA REDAÇÃO DO SSVPBRASIL
 

 

22 de abril de 2013

Ovelhas e Pastores

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Vocações, sinais da esperança fundada na fé

A Igreja celebra o dia de orações pelas vocações sacerdotais e religiosas, no Domingo do Bom Pastor, com o tema "Vocações, sinais da esperança fundada na fé". O mundo inteiro une-se em oração para implorar de Deus o dom de santas vocações e propor, de novo, à reflexão de todos, a urgência da resposta ao chamado divino.


A esperança é expectativa de algo positivo para o futuro, a qual deve, ao mesmo tempo, sustentar o nosso presente marcado, frequentemente, por dissabores e insucessos. Onde está fundada a nossa esperança? Na fidelidade de Deus à aliança, com a qual se comprometeu e renovou sempre que o homem a rompeu pela infidelidade, pelo pecado, desde o tempo do dilúvio (cf. Gn 8,21-22) até o êxodo e o caminho no deserto (cf. Dt 9,7); fidelidade de Deus que foi até o ponto de selar a nova e eterna aliança com o homem por meio do sangue de Seu Filho, morto e ressuscitado para a nossa salvação. A fidelidade de Deus é Seu amor que interpela a nossa existência, pedindo a cada qual uma resposta a propósito do que quer fazer da sua vida e quanto está disposto a apostar para realizá-la plenamente. (Cf. Bento XVI, Mensagem para o Dia Mundial de Orações pelas Vocações). 


O cuidado amoroso de Nosso Senhor com seu rebanho se expressa no amor com que dá a vida por nós. Quem tem a chave que abre o livro da vida de cada pessoa (Cf. Ap 5,1-14) e reúne em torno de si uma multidão que ninguém pode contar (Cf. Ap 7,9) é o Cordeiro imolado, Aquele que se entrega inteiramente. O Cordeiro é o Pastor!

O relacionamento do Pastor-Cordeiro com Seu rebanho não é de poder despótico, mas se expressa nos vários passos do Evangelho, nos quais Ele se mostra servidor, atento aos fracos, doentes e pecadores, misericordioso, paciente, atento às demoras daqueles que Ele mesmo chama, pronto a lavar-lhes os pés e dar-lhes a vida em abundância.

Temos a alegria de ver, na Igreja, o multiplicar-se de jovens, rapazes e moças que enxergam um horizonte diferente em suas vidas. Suas perguntas já superam os interesses de posições sociais, riquezas ou reconhecimento social. Quando o novo Papa escolheu o nome Francisco, refloresceu no mundo a admiração pelo pobrezinho de Assis! É que os santos atravessam os séculos com sua ousadia e coragem. Crianças, adolescentes e jovens de nossa época também foram feitos para grande ideais, e o mundo será levado adiante justamente pelos heróis do coração e do serviço desinteressado. Mesmo pessoas afastadas da Igreja exultam ao ouvirem nomes como Beato João Paulo II, Beata Madre Teresa de Calcutá, Santa Edith Stein, Beata Chiara Luce Badano, Dom Helder Câmara, Chiara Lubich e outras personalidades. São pessoas que calibraram suas vidas com a têmpera do céu, dons de Deus oferecidos às gerações atuais.

As vocações para tal forma de vida existem e estão em nossas famílias e comunidades. Um apelo chegue aos pais e mães de família, no clima da Festa do Bom Pastor: comecem a perguntar a seus filhos, em casa, sobre o que Deus quer deles! Não reduzam os horizontes das novas gerações a interesses limitados como "o que você quer?, ou "como você terá maiores salários?", ou ainda apenas a posição social relevante. Tudo isso pode ser e é importante, desde que as perguntas a respeito de plano e vontade de Deus comecem a ocupar os pensamentos e a orientar rumos das novas gerações. Não nos permitamos diminuir o que Deus pode lhes oferecer!

Para ter a coragem de orientar assim os que devem fazer escolhas na vida, três passos emergem como importantes. O primeiro é proporcionar um conhecimento adequado de Jesus Cristo. Anunciar o Cristo, conversar com Ele junto dos filhos, fazê-Lo hóspede, mais ainda, morador de cada casa. Os pais começam a evangelizar e catequizar seus filhos quando estes estão no ventre materno e não podem interromper esta missão!

Só no conhecimento de Jesus Cristo far-se-á luz a respeito da vida de cada pessoa. Olhar no espelho é muito pouco para descobrir o que se é! Só Jesus Cristo revela a cada ser humano o seu próprio ser e seus dons. Há que começar com Ele para, depois, chegar a cada pessoa com sua história. Perde tempo, ilude-se e não suscita vocações autênticas, inclusive para o matrimônio e, é claro, para a especial consagração do sacerdócio, vida religiosa e missionária e outras formas de consagração, quem não deixa Jesus Cristo passar na frente. Será fatal, pois quem quiser ganhar sua vida vai perdê-la, mas quem perder a sua vida vai ganhá-la (Cf. Mt 16,25).

Tendo escolhido Deus acima de tudo e encontrado sua própria história, vem à tona a terceira etapa, na qual se pergunta o que fazer e como viver, o que a Igreja chama de vocação específica. Descobri-la é uma graça que Deus quer oferecer a todos os seus filhos e filhas. Especialmente o mundo dos adultos tem sobre si imensa responsabilidade, pois lhes cabe oferecer esta visão inovadora da vida a adolescentes e jovens. Sim, vocação cristã, vocação humana e específica! É a estrada maravilhosa para a descoberta do olhar pessoal de Deus!

Se o desafio parece muito alto, a Igreja põe em nossos lábios e em nossos corações a súplica adequada: "Deus eterno e Todo-Poderoso, conduzi-nos à comunhão das alegrias celestes, para que o rebanho possa atingir, apesar de sua fraqueza, a fortaleza do Pastor. Amém."

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

19 de abril de 2013

Síndrome da dispersão

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Faça poucas coisas, mas as faça bem

Encontro muitas pessoas que me perguntam: "E aí, padre, correndo muito?". No começo, eu sentia a obrigação de fazer um relatório completo das mil e uma atividades que me roubavam preciosas horas de sono e ocupavam minha escrivaninha com montes e montes de pastas a considerar e agendas que eu deveria cumprir. Aos poucos, fui percebendo que a sociedade moderna está doente da síndrome da dispersão. Sim, já virou doença. O estresse e a depressão são apenas sintomas dessa causa mais profunda.

Até o que seria um momento de lazer torna-se estressante naquele trânsito parado na descida ou na subida da serra, na padaria que não dá conta dos clientes de fim de semana ou na corrida por aquele pequeno lugar da disputada praia. Estamos doentes. As igrejas multiplicam pastorais e movimentos, nos quais, necessariamente, os cristãos devem estar engajados. Tudo bem. Mas acontece que muitos pertencem a duas, três e até quatro pastorais e simplesmente vivem a semana toda na igreja, muito mais do que com suas próprias famílias. 


Padres resolvem ser políticos e médicos pretendem ser gurus; psicólogos querem ser sacerdotes e políticos imaginam ser "deuses". Todos sentem a obrigação de saber quase nada sobre quase tudo. A superficialidade é filha primogênita da dispersão. Fazemos um amontoado de coisas sem qualidade. Somos obrigados a atingir metas de qualidade total... ou seria de quantidade total?! Nesse caminho, a modernidade enlouquecerá.


Vamos acelerando o carro e, quando percebemos, já passamos, e muito, da velocidade máxima permitida. Reduzir para os 100 quilômetros por hora chega a ser frustrante para aquele que está contaminado pela "síndrome da dispersão". Parar, então, é simplesmente uma tortura. A ausência da adrenalina pode provocar até doenças físicas. Pasme: estamos viciados em trabalho, perigo e violência. O refrão dessa tragédia é sempre o mesmo: não tenho tempo, não tenho tempo, não tenho tempo! Esta é a cantilena que escutam filhos carentes, namoradas com saudades, esposas e maridos, aquela vovó que espera ansiosa a visita de seus filhos e netos.

 

Sei que estou sendo radical, mas também sei que apenas uma surra da vida costuma tornar possível a cura da síndrome da dispersão. Existem os que ficam realmente doentes e procuram um médico. O problema é que muitos profissionais da saúde têm a mesma doença e resolvem seu próprio problema receitando, irresponsavelmente, uma quantidade enorme de medicamentos que irão tapar o sol com a peneira. É o milagre instantâneo provocado por medicações recentes. Mas sabemos que administrar essa medicação exige criar condições para que o paciente mude suas condições de vida. O terapeuta também deverá ser "paciente".

Refleti muito sobre a raiz mais profunda dessa síndrome e percebi que é aquele mesmo desejo humano relatado já nas primeiras páginas da Bíblia e que originou os outros pecados: "Vós sereis deuses".

Deixe Deus ser Deus. Somos apenas humanos, feitos de terra e um sopro; somos frágeis. Os sábios não sabem tudo nem fazem tudo, mas saboreiam aquilo que fazem. Sabedoria é saber com sabor. Faça poucas coisas, mas as faça bem.

Teresinha do Menino Jesus, santa das pequenas coisas, rogai por nós!

 

(Extraído do livro "Pronto, falei!")

 

18 de abril de 2013

Não deixe Jesus sozinho!

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Enquanto houver um sacrário, não haverá solidão

Uma das nossas maiores ingratidões para com Jesus é o abandono em que O deixamos em muitos dos nossos sacrários.


A Igreja o chama de "prisioneiro dos sacrários".

Jesus Eucarístico é o "amor dos amores". Ele faz, continuamente, este milagre para poder cumprir a Sua promessa: "Eis que estarei convosco todos os dias até o fim do mundo" (Mt 20,20).

Do sacrário, Ele nos chama continuamente: "Vinde a mim vós todos que estais cansados e Eu vos aliviarei" (Mt 11,28).

Ali, Ele está como no céu, com os braços abertos e as mãos repletas de graças para aqueles que forem buscá-las com o coração aberto. São João Bosco dizia:


"Quereis que o Senhor vos dê muitas graças? Visitai-o muitas vezes. Quereis que Ele vos dê poucas graças? Visitai-o raramente. Quereis que o demônio vos assalte? Visitai raramente a Jesus Sacramentado. Quereis que o demônio fuja de vós? Visitai a Jesus muitas vezes. Não omitais nunca a visita ao Santíssimo Sacramento, ainda que seja muito breve, mas contanto que seja constante".

Santo Afonso de Ligório disse:

"Os soberanos desta terra nem sempre, nem com facilidade, concedem audiência; mas o Rei do céu, ao contrário, escondido debaixo dos véus eucarísticos, está pronto a receber qualquer um. Ficai certos de que todos os instantes da vossa vida, o tempo que passardes diante do Divino Sacramento será o que vos dará mais força durante a vida, mais consolação na hora da morte e durante a eternidade".

Diante do Senhor, no sacrário, podemos repetir aquela oração reparadora que o anjo, em pessoa, ensinou às crianças, em Fátima, nas aparições de Nossa Senhora, em 1917:

"Ó Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos adoro profundamente e vos ofereço o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido; e pelos méritos infinitos do seu Santíssimo Coração Imaculado de Maria, peço-vos a conversão dos pobres pecadores. Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos; peço-Vos perdão pelos que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam. Amém!"

Não deixe Jesus sozinho no sacrário da igreja de sua comunidade ou paróquia. Organize uma adoração, a mais constante possível, ao Santíssimo. Chame as pessoas, faça uma escala, divida o tempo para cada um: meia hora, uma hora, o quanto for possível. Podemos ter certeza que as chuvas de bênçãos descerão sobre a comunidade! Os jovens serão preservados do mau caminho, os pecadores serão convertidos, o demônio afastado, as calamidades afugentadas. Não é disto que estamos precisando?

A Igreja, desde o seu início, quis manter Jesus nos sacrários da terra para, ali, Ele ser amado e louvado, derramar sobre nós as suas bênçãos, e ser levado aos doentes.

Sempre foi ao pé do sacrário que os homens e mulheres de Deus buscaram forças e luzes para a sua caminhada. Foi, ali, que São João Vianney conquistou o coração dos seus fiéis e se tornou o grande "Cura D'Ars". Quando, recém-ordenado padre, ele chegou a Ars e encontrou, ali, uma paróquia sem padre há muitos anos, e as pessoas longe de Deus; a primeira coisa que fez foi ajoelhar-se diante do Santíssimo durante horas, rezando o rosário. Assim, ele revolucionou aquele pequeno lugar e fez tantos prodígios.

No livro das suas "Confissões", Santo Agostinho dá um testemunho marcante. Ele afirma que se converteu, porque sua mãe, Santa Mônica, entrava na igreja, três vezes por dia, e pedia a sua conversão a Jesus sacramentado.

Não há problema, qualquer que seja, que não possa ser resolvido diante do sacrário. Deus está ali. O que mais desejar?

Chiara Lubich disse certa vez que, enquanto houver a Eucaristia, o homem não caminhará sozinho, e enquanto houver um sacrário, não haverá solidão.

Que grande riqueza a nossa de podermos viver em um país católico, no qual se pode encontrar com facilidade uma igreja, com as suas portas abertas, guardando no seu interior o Rei da Glória, que nos espera com as mãos cheias de graças!

(Extraído do livro "Entrai pela porta estreita")