24 de junho de 2008

Juntar vidas é juntar limitações

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Não existe relacionamento maduro sem renúncia

Quando nos aproximamos de alguém e iniciamos qualquer tipo de relacionamento (amizade, coleguismo, namoro, matrimônio, ideais religiosos, etc...), nos aproximamos também de suas fraquezas e frustrações. Quanto mais próxima for nossa convivência, maior será essa constatação, pois teremos um contato muito maior com as limitações da pessoa. Somente pela experiência do amor verdadeiramente autêntico é possível ao ser humano começar a curar suas enfermidades e construir uma história de vida equilibrada. Só o amor verdadeiro pode curar as feridas que trazemos embutidas em nossa vida.

Ao unir duas pessoas, em qualquer relacionamento, o amor une também seus sofrimentos. Juntar vida é juntar limitações. O sofrimento e o amor são as experiências mais íntimas e pessoais que existem. Se o amor revela o lado bonito da vida, o sofrimento está sempre presente para lembrar um lado menos bonito, mais sério e triste. E aqui não se trata de fazermos uma escolha entre amor e sofrimento. Na verdade, essas duas realidades são a manifestação de uma única existência.

Excluir o amor ou o sofrimento da vida é aniquilar-se. Somos modelados pelo amor e pelo sofrimento. Infelizmente, como estamos vivendo num mundo cada vez mais superficial, em que as pessoas buscam as coisas fáceis, instantâneas e descartáveis, queremos fugir de relacionamentos que exigem sacrifícios, renúncia, garra, perdão, recomeço...

Buscamos coisas mágicas. Queremos emoções momentâneas, súbitas, fugazes. Só é bom aquilo que é imediato e não exige esforços. Acontece que tudo que tem essas características são realidades que se dissolvem rapidamente. Do mesmo jeito que chegam, partem. Temos medo daquilo que exige intensificação de forças físicas, intelectuais ou morais para a sua realização. Fugimos daquilo que exige dificuldade e empenho, trabalho e empreendimento. Falta-nos coragem, destemor e valentia. Com isso, quando deparamos com os sofrimentos que existem no amor, queremos idealizar um amor sem sofrimento, uma vida inconseqüente.

Numa vida superficial, na qual falta coragem para lutar, a pessoa perde a garra para levar adiante os relacionamentos que exigem sacrifício. Por isso, muitos se conformam e acabam por abandonar o barco. Uma coisa é certa: sem esforço, garra e renúncia não existe cura para o ressentimento; do mesmo jeito que sem perdão não existe a possibilidade de amar. Não existe relacionamento maduro e equilibrado sem renúncia, perdão e sacrifício.

Relacionamento é algo que não acontece de uma hora para outra. O verdadeiro relacionamento deve ser cultivado todos os dias e a cada dia. Sem esse cultivo, o menor sentimento negativo vira ressentimento e mata o amor.

Artigo extraído do livro "A cura dos ressentimentos"

Pe. Léo

18 de junho de 2008

Qualidade do ato conjugal

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Tão ou mais importante que o ato sexual é a qualidade

No relacionamento íntimo do casal, tão ou mais importante que o ato sexual é a qualidade. Deve ser realizado não como algo mecânico, meramente impulsivo e resultante do instinto, mas como uma entrega mútua de amor entre marido e mulher. Para que seja tal, carece de uma preparação remota, de expressões de respeito e carinho caracteristicamente humanos, sem igual no acasalamento entre espécies animais.

Alguém já comparou a sexualidade masculina ao fogão a gás e a sexualidade feminina a um fogão a lenha. Descontadas as diferenças da comparação, a realidade é que em questão de minutos o homem passa da excitação física à ereção do pênis, à penetração e ao orgasmo. A esposa necessita de mais tempo e de ternura para atingir o clilmax do ato sexual. Somente neste caso a intimidade sexual lhe trará o prazer que é direito seu e vontade de Deus que o acompanhe.

Acontece frequentemente, o fato de somente o marido atingir o prazer ou orgasmo. Esse clímax da união carnal resulta, no homem, de sua excitação, da ereção e penetração do pênis na vagina da mulher. A menos que seja presidido em seus vários momentos, por manifestações de amor, delicadezas e carinho, o ato conjugal será mais sacrifício e uma humilhação que um momento prazeroso para a esposa, o que é direito seu, uma espécie de compensação, tanto por sua entrega ao marido, quanto pelo ônus de uma possível gestação que sempre acaba pesando mais sobre sua pessoa.

Para que isso aconteça, a natureza do homem e da mulher deve seguir o seu curso. Tudo que seja artificial, como o uso de preservativos masculino ou feminino, do condon ou coito interrompido, além de ser antinatural, impede de todo ou diminuem, indevidamente, o prazer no momento da ejaculação e da união física do casal.

Seguindo a intimidade do casal o seu curso natural, ao jogo amoroso preliminar e ao prazer do ato sexual seguem momentos de uma tranqüila paz e felicidade interior de ambos, marido e mulher. Problemas como a disfunção erétil e do desprazer da esposa aconselham uma consulta a um bom sexólogo e ao ginecologista, no caso da mulher.

Sendo o problema de ambos mais físico que psicológico, não será difícil a superação de que impeça a plenitude do prazer na honesta conjunção carnal do homem e da mulher.

Um bom relacionamento sexual do marido e da esposa será mais um motivo felicitante da vida do casal. Deus o quer!

A abstinência sexual é o mínimo de respeito pela pessoa da esposa, além da fidelidade do marido em casos de enfermidade da mulher, no fim da gestação de mais um filho e durante o dia de resguardo após o parto. São dias em que não se justificam nem a masturbação de um ou de ambos e, muito menos, a procura de uma parceira, mulher da vida ou amante. Volto a lembrar a sábia palavra do apóstolo Paulo: "Mas essas pessoas terão tribulações na carne; eu vo-las desejaria poupar" (1 Cor 7,28)

Artigo extraído do livro O casal humano na Sagrada Escrtitura

Video: Sexo oral é pecado?

Dom Amaury Castanho
Bispo emérito de Jundiaí (SP), falecido em 01/06/2006.

12 de junho de 2008

Namoro, tempo de conhecer

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A escolha do namorado não pode ser feita só por fora

Quando você vai comprar um sapato ou um vestido, não leva para casa o primeiro que experimenta, é claro. Você escolhe, escolhe... até gostar da cor, do modelo, do preço, e servir bem nos seus pés ou no seu corpo. Se você escolhe com tanto cuidado um simples sapato, uma calça, quanto mais cuidado você precisa ter ao "escolher" a pessoa que deve viver ao seu lado para sempre, construir uma vida a dois com você, e dando vida a novas pessoas.

Talvez você possa um dia mudar de casa, mudar de profissão, mudar de cidade, mas não acontece o mesmo no casamento. É claro que você não vai escolher a futura esposa, ou o futuro marido, como se escolhe um sapato. Já dizia o poeta que "com gente é diferente". Mas, no fundo, será também uma criteriosa escolha.

A escolha do namorado não pode ser feita só "por fora"; mas principalmente por dentro. O "Pequeno Príncipe" nos ensinou que "o mais importante é invisível aos olhos". O namoro é este belo tempo de saudável relacionamento entre os jovens, no qual, conhecendo-se mutuamente, vão se descobrindo e fazendo "a grande escolha".

Namorar para quê?

Já ouvi alguém dizer, erroneamente, que "o casamento é um tiro no escuro"; isto é, não se sabe onde vai acertar; não se sabe se vai dar certo. Todo casamento começa em um namoro; por isso não se pode levá-lo na brincadeira; é coisa séria. A preparação para o seu casamento começa no namoro, quando você conhece o outro e verifica se há afinidade dele com você e com os seus valores. Se o seu namoro for sério, seu casamento não será um tiro no escuro nem uma roleta da sorte.

Só comece a namorar quando você souber "por que" vai namorar. A idade em que você deve começar a namorar é aquela na qual você já pensa no casamento, com seriedade, mesmo que este ainda esteja longe de acontecer. Não se faz nada bem feito na vida se nós não temos uma meta a atingir.

Para que você possa fazer bem uma escolha é preciso que saiba antes o que você quer. Sem isso a escolha fica difícil. Que tipo de rapaz você quer? Quais qualidades a sua namorada deve ter? O que você espera dele ou dela? Essa premissa é fundamental. Se você não sabe o que quer, acaba levando qualquer um...

A coerência dos valores

Os valores do seu namorado devem ser os mesmos valores seus; senão, não haverá encontro de almas. Se você é religiosa – e quer viver segundo a Lei de Deus – como namorar um rapaz que não quer nada disso? É preciso ser coerente com você. O casamento é uma unidade de almas e a religião é muito importante nessa união.

Tenho encontrado muitos casais de namorados e de casados que vivem uma dicotomia nas suas vidas religiosas; e isso é motivo de desentendimento entre eles. Há jovens que pensam assim: "Eu sou religiosa e ele não; mas, com o tempo eu o levo para Deus". Isso não é impossível; e tenho visto acontecer; no entanto, não é fácil. E a conversão da pessoa não basta que seja aparente e superficial; há que ser profunda, para que possa satisfazer os seus anseios religiosos. Não renuncie aos seus autênticos valores na escolha do outro. Se é lícito você tentar adequar-se às exigências do outro; por outro lado, não é lícito você matar os seus valores essenciais para não perdê-lo. Não sacrifique o que você é para conquistar alguém. Há coisas secundárias das quais podemos abdicar sem comprometer a estrutura básica da vida, mas há valores essenciais que não podem ser sacrificados.

Namorar alguém que já foi casado

Algumas moças e rapazes católicos aceitam um namoro com alguém divorciado por medo de ficarem sós. É verdade que o casamento de um divorciado pode ser declarado nulo pela Igreja, mas é um processo que nem sempre é rápido. E não se pode casar sem a declaração de nulidade dada pelo Tribunal da Igreja. É melhor ficar só do que violar a Lei de Deus; pois ninguém pode ser plenamente feliz se não cumpre a vontade d'Ele. Portanto, saiba o que você quer, e saiba conquistá-lo sem se render. Não se faça de cego nem de surdo, tampouco de desentendido.

O conhecimento

Para que você possa chegar um dia ao altar, você terá que escolher a pessoa amada; e para isso é fundamental conhecê-la. O namoro é o tempo de conhecer o outro. Mais por dentro do que por fora. E para conhecer o outro é preciso que ele "se revele" e se mostre. Cada um de nós é um mistério, desconhecido para o outro. E o namoro é o tempo de revelar (= tirar o véu) esse mistério. Cada um veio de uma família diferente, recebeu valores próprios dos pais, foi educado de maneira diferente e viveu experiências próprias, cultivando hábitos e valores distintos. Tudo isso vai ter que ser posto em comum, reciprocamente, para que cada um conheça a "história" do outro. Há que revelar o mistério!

Se você não se revelar, ele não vai conhecê-la, pois este mistério, que é você, é como uma caixa bem fechada e que só tem chave por dentro. É a sua intimidade que vai ser mostrada ao outro, nos limites e na proporção em que o relacionamento for aumentando e se firmando. É claro que você não vai mostrar ao seu namorado, no primeiro dia de namoro, todos os seus defeitos. Isso será feito devagar, na medida em que o amor entre ambos se fortalecer. Mas há algo muito importante nessa revelação própria de cada um ao outro: é a verdade e a autenticidade. Seja autêntico e não minta. Seja aquilo que você é – sem disfarces e fingimentos – mostre ao outro, lentamente, a sua realidade.

A mentira destrói tudo, principalmente, o relacionamento. Não tenha vergonha da sua realidade, dos seus pais, da sua casa, dos seus irmãos, entre outros. Se o outro não aceitar a sua realidade, e deixá-lo por causa dela, fique tranqüilo, esta pessoa não era para você, pois não o ama. Uma qualidade essencial do verdadeiro amor é aceitar a realidade do outro.

Amor à primeira vista

O amor pelo outro cresce à medida que você o conhece melhor. Não existe verdadeiro amor à primeira vista. Não se ama alguém que não se conhece. Não fique cego diante do outro por causa do brilho da sua beleza, da sua posição social ou do seu dinheiro. Isso o impediria de conhecê-lo interior e verdadeiramente. Não esqueça: "O importante é invisível aos olhos". E "Só se vê bem com o coração". São Paulo nos lembra que o que é material é terreno e passageiro, mas o que é espiritual é eterno. Tudo o que você vê e toca pode ser destruído pelo tempo, mas o que é invisível aos olhos está apegado ao ser da pessoa e nada pode destruir. Esse é o seu verdadeiro valor.

Sexo

O namoro não é o tempo de viver a vida sexual; ela ainda não pertence ao casal; vocês não colocaram ainda uma aliança na mão esquerda; amanhã ela ou ele poderá se casar com outro... O sexo é o selo da união matrimonial.

A beleza do corpo dela, hoje, embora seja importante, amanhã não existirá mais quando o tempo passar e os filhos crescerem... O amor não é um ato de um momento, mas se constrói "a cada momento". Não se pode conhecer uma pessoa "à primeira vista", é preciso todo um relacionamento. Só o tempo poderá mostrar se um namoro deve continuar ou terminar, quando cada um poderá conhecer o interior do outro, e então, avaliar se há nele as exigências fundamentais que você fixou.

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

11 de junho de 2008

Saudades...

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Sinto saudades de muitas coisas: situações e pessoas

Saudade, sentimento tão falado e cantado em prosa e verso. Que vai nascendo devagarinho no coração daqueles que amam.

Sinto saudades de muitas coisas: situações e pessoas. Mas hoje, vou contar-lhes a minha vivência em relação à saudade de uma filha que saiu de casa para estudar.

Neste momento, passam-se "flashs" de situações que vivemos juntas: a gravidez tranqüila, o nascimento – dor que explode em alegria - , a ansiedade da mãe desajeitada dos primeiros meses, os primeiros passos, as crises de bronquite, o primeiro dia no maternal, o nascimento da irmã, as mudanças de casa e de cidade, as brigas com a irmã, seu carinho com os pais e avós, a 1ª menstruação, as "festas" com os amigos, o primeiro namorado, a orientação vocacional, os vestibulares, a espera do resultado, o enfim... "passei", a "arrumação" das coisas, o dia da partida,....

Como bons pais fomos levá-la, deixamos milhares de recomendações e etc. Já ao entrar no carro para voltar para casa, olhei para trás e cadê ela? Pensei: tudo bem é só por um tempo. A viagem foi calada. Creio que seu pai assim como eu, veio rezando para Deus não desamparar-nos neste momento, para protegê-la e todas aquelas orações que pais que amam sabem fazer.

Cheguei em casa e o mesmo ritmo de vida continuou, isto é, uma "correria". Mas, em alguns momentos, passando por seu quarto, vendo uma peça de roupa sua, à mesa para o almoço, encontrando com suas colegas, a lembrança vinha tão forte que parecia como um soco no estômago, aí eu pensava: como ela está? Será que comeu? Está dormindo bem? Não ficou doente? E a rinite alérgica? Está gostando do curso, da casa, das colegas? Nas conversas pelo telefone tudo era respondido, mas dentro de mim ficava uma tristeza tão grande depois que desligava o telefone; então compreendi que era saudades e que precisava diferenciar as preocupações da saudade. A preocupação sempre existiu e sempre vai existir e só alivia quando se tem confiança em Deus.

Mas, a saudade deixa um buraco no coração, é como se algo faltasse e nada nem ninguém diferente dessa pessoa pode preencher. O lugar dela está ali e é só ela quem cabe naquele espaço.

Compreender isso me ajudou a lidar com a saudade, pois entendi que quem ama sofre e sofre muito mais de saudades. Mas o amor é maior que tudo, maior que a dor da separação a até maior que a morte. Então, se sofro por amor, este próprio amor preenche o espaço deixado pela falta.

Muitas vezes me questiono: "porque deixei que ela fosse?" e penso que esta era a decisão certa, não poderia prender aquela que criei para ser livre, para realizar a missão à ela destina, para ser aquilo que deve ser.

Já se passaram mais de 2 anos. Faço um "balanço": sou mais mãe, ela é mais filha, estamos mais maduras, aprendemos uma com a outra e Deus está realizando uma oração que faço todos os dias para minhas filhas: "que elas sejam felizes!"

Foto Mara S. Martins Lourenço
maralourenco@geracaophn.com

A carência de um amor

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Sentir-se amado parece ser a fórmula para resolver nossos problemas

A vida parece ficar mais leve e colorida quando temos o apoio de alguém do nosso lado. Amar e se sentir amado ajuda em nossos trabalhos, melhora nossa qualidade de vida e nossos relacionamentos. Sentir-se amado parece ser a fórmula para resolver nossos problemas; contudo, na contramão da nossa vida poderá surgir a falta desse amor: a carência!

Infelizmente, muitos de nós já sofremos, temos sofrido ou ainda sofreremos os efeitos malévolos desse sentimento. Quem já não presenciou histórias de alguém que – por estar vivendo um período de carência – buscou suprir o amor que não consegue encontrar em si mesmo? Em muitas ocasiões, relacionamentos assim se iniciaram numa noite em que – cansada de estar sozinha, a pessoa sai literalmente à caça de alguém. Animada com a ajuda de algumas doses de bebida alcoólica e com os estímulos de alguns "amigos", ela se atira nos braços daquele cujas verdadeiras intenções poderiam ser questionadas. Não desejando terminar a noite sozinha, inicia-se ali um relacionamento que poderá durar apenas alguns dias; quem sabe alguns meses ou até a alvorada do dia...

O que todos nós procuramos é um relacionamento estável, que nos propicie segurança, amor recíproco e cumplicidade, os quais, juntos, trazem luz para nossas vidas. A pessoa, que desejamos encontrar, certamente não é aquela que nos rouba um beijo ou que tenta preencher o vazio de nossas carências com um prazer efêmero, o qual somente vai aumentar ainda mais o sentimento de dependência.

Em alguns relacionamentos, o carente vive como se quisesse comprar a companhia do outro, colocando-o num pedestal e fazendo dele o "sol" da sua vida.... Doa-se inteiramente a este, abrindo mão de sua própria vida apenas para viver em função da pessoa que julga poder suprir suas necessidades. Família, amigos, trabalho, estudo e outras atividades vêm em segundo plano, simplesmente para se ter mais tempo dedicado à pessoa que acredita ser "a ajuda adequada". Ainda que perceba no "namorado" algum comportamento desagradável, falta-lhe coragem para exigir a mudança de alguns hábitos, satisfazendo-se com a frieza da indiferença.

A baixa auto-estima o ilude, fazendo-o acreditar que pior seria se não tivesse a companhia do outro. Acredita que quanto mais fizer pelo companheiro, tanto mais poderá se sentir amado. No começo, a pessoa – que é objeto da carência – pode até gostar dos carinhos, mimos e tempo dispensados a ela, mas logo se cansará, perdendo o interesse pelo relacionamento. E na tentativa de conseguir escapar dos tentáculos sufocantes de alguém assim começará a maltratar aquele que acabou se anulando.

Com medo de não ter a companhia do outro, a pessoa carente, muitas vezes, se sujeita ao menosprezo e até aos maus-tratos do companheiro. Faltando-lhe coragem para romper com a dependência dispõe-se ao outro até que este se canse e tome a iniciativa de abandonar a relação, a qual jamais deveria ter acontecido sob os efeitos de um coquetel de emoções desordenadas.

Para se evitar cair nas teias da carência é importante ter clareza dos objetivos que almejamos e buscamos viver. Somente dessa forma poderemos dar início à conquista de um relacionamento seguro e sadio. A pessoa – com quem buscamos partilhar nossas vidas – precisa manifestar maturidade e disposição para manter um relacionamento estável – no qual cresçamos juntos. E isso certamente não encontraremos num encontro casual e sem compromisso de uma noite.

Não podemos esquecer que num relacionamento vivemos numa via de mão dupla, ou seja, se podemos nos doar ao parceiro com gestos de carinho e atenção, procurando melhorar a saúde do relacionamento, a recíproca tem de ser verdadeira. Se faltar alguns desses valores em nossos relacionamentos, precisamos nos questionar se não estamos vivendo também às margens de nossa própria carência.

Deus abençoe, um abraço

Foto José Eduardo Moura
webenglish@cancaonova.com

Família, muito mais que um conjunto de pessoas

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O futuro da sociedade e da Igreja passam inexoravelmente por ela

A família é muito mais do que um simples grupo de pessoas, unidas de qualquer jeito, e vivendo juntas na mesma casa. É muito mais do que isso, ela é a "célula mãe" da humanidade. Quando Deus quis que a humanidade existisse, a projetou baseada na família; por isso ela é sagrada. Não foi um Papa, um Bispo ou um Cardeal que a instituiu, mas o próprio Deus, para que ela fosse o berço e o escudo de proteção da vida humana na terra.

Marcada pelo sinete divino, a família, em todos os povos, atravessou os tempos e chegou até nós no século XXI. Só uma instituição de Deus tem esta força. Ninguém jamais destruirá a força da família por ser ela uma instituição divina. Para vislumbrar bem a sua importância basta lembrar que o Filho de Deus, quando desceu do céu para salvar o homem, ao assumir a natureza humana, quis nascer numa família.

O Papa João Paulo II, na "Carta às Famílias", chamou a família de "Santuário da vida" (CF, 11). Santuário quer dizer "lugar sagrado". É ali que a vida humana surge como de uma nascente sagrada e é cultivada e formada. É missão sagrada da família guardar, revelar e comunicar ao mundo o amor e a vida.

Na visão bíblica, homem e mulher são chamados a – juntos – continuar a ação criadora de Deus e a construção mútua de ambos, gerando os seus filhos amados.

Este é o desígnio de Deus para o homem e para a mulher: juntos, em família: "crescer", "multiplicar", "encher a terra", "submetê-la". Vemos aí também a dignidade, baseada no amor mútuo, a qual leva o homem e a mulher a deixar a própria casa paterna, para se dedicarem um ao outro totalmente. Este amor é tão profundo, que dos dois faz um só, "uma só carne", para que possam juntos realizar um grande projeto comum: a família.

Daí podemos ver que sem o matrimônio forte e santo, não é possível termos uma família forte, segundo o desejo do coração de Deus. Isso nos faz entender também que a celebração do sacramento do matrimônio é a garantia da presença de Jesus na família que ali começa, como nas Bodas de Caná.

Como é doloroso perceber hoje que muitos jovens, nascidos em famílias católicas, já não valorizam mais esse sacramento e acham, por ignorância religiosa, que já não é importante subir ao altar para começar uma família!

Ao falar da família no plano de Deus, o Catecismo da Igreja Católica (CIC) diz que ela é "vestígio e imagem da comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Sua atividade procriadora e educadora é o reflexo da obra criadora do Pai" (CIC §2205).

Essas palavras indicam que a família é, na terra, a marca ("vestígio e imagem") do próprio Deus, que, através dela continua a sua obra criadora. É muito mais que um mero grupo de pessoas.

O futuro da sociedade e da Igreja passam inexoravelmente por ela. É ali que os filhos e os pais devem ser felizes. Quem não experimentou o amor no seio do lar, terá dificuldade para conhecê-lo fora dele. Os psicólogos mostram quantos problemas surgem com as pessoas que não experimentaram o amor do pai, da mãe e dos irmãos.

"A família é a comunidade na qual, desde a infância, se podem assimilar os valores morais, em que se pode começar a honrar a Deus e a usar corretamente da liberdade. A vida em família é iniciação para a vida em sociedade" (CIC §2207). Ela é a "íntima comunidade de vida e de amor" (GS, 48).

Toda essa reflexão nos leva a concluir que cada homem e cada mulher que deixam o pai e a mãe para se unir em matrimônio e constituir uma nova família, não podem fazer isso levianamente, mas devem fazê-lo somente por um autêntico amor, que não é uma entrega passageira, mas uma doação definitiva, absoluta, total, fiel, madura, responsável, até a morte... Se destruirmos a família, destruiremos a sociedade. Por isso, é fácil perceber, cada vez mais claramente, que os sofrimentos das crianças, dos jovens, dos adultos e dos velhos, têm a sua razão na destruição dos lares.

Cabe aqui uma pergunta: Como será possível, num contexto de grande imoralidade de hoje, insegurança, ausência de pai ou mãe, garantir aos filhos as bases de uma personalidade firme e equilibrada, e uma vida digna, com esperança?

Fruto da permissividade moral e do relativismo religioso de nosso tempo, é enorme a porcentagem de famílias destruídas e de pseudofamílias, gerando toda sorte de sofrimentos para os filhos. Muitos crescem sem o calor amoroso do pai e da mãe, carregando consigo essa carência afetiva que se desdobra em tantos problemas e frustrações.

Podemos resumir toda a grandeza, importância e beleza da família, nas palavras do saudoso Papa João Paulo II, na Encíclica Evangelium Vitae: "No seio do 'povo da vida e pela vida', resulta decisiva a responsabilidade da família: é uma responsabilidade que brota da própria natureza dela - uma comunidade de vida e de amor, fundada sobre o matrimônio - e da sua missão que é 'guardar, revelar e comunicar o amor'" ( FC,17).

Muito mais do que um simples grupo de pessoas, unidas de qualquer forma e vivendo juntas, a família, o berço da humanidade segundo o desejo de Deus; é o fruto da união de um homem e de uma mulher, unidos pelo matrimônio e pelo amor para sempre, vivendo a fidelidade, indissolubilidade e gerando os filhos de Deus.

9 de junho de 2008

O Amor caminha pela Verdade

Como é interessante notar que o processo do Cristianismo em nossas vidas é o tempo todo um convite pra contemplar o Deus que é Amor, que é Verdade, e que criou os homens a fim de fazê-los comungar desse mistério. Um convite que dobra as esquinas da vida e se desdobra na fantástica história do coração de Deus que desce ao encontro do coração do homem por meio do Amor e da Verdade. Duas vias e um único fim. Dois rios que fluem e que se encontram num único e mesmo mar.

A vida humana pautada pelo Cristianismo é o resultado dessa constante experiência de conjugação do Ágape, isto é, do Amor com a o exercício da Alétheia, da verdade. Já me explico: ao contemplarmos, por exemplo, o mistério da Comunhão Trinitária, somos levados a perceber que o Amor é a linguagem que os envolve. O Ágape faz cada um dispor de si sem, no entanto deixar de ser o que é. Devolve a cada um aquilo que lhe é próprio. Ele é o ponto mais alto do amor, que mais profundamente anelamos. O Ágape não deseja nada do outro, ama o outro por causa dele mesmo. E é tão sagrado o processo, que nos ensina desta forma que a construção de nossa humanidade deve ter o Amor como viga de sustentação.

E porque o Amor neste sentido comunga da experiência da Verdade? Alétheia é um vocábulo grego cujo sentido é não estar escondido, não estar velado. A imagem sugerida para esta palavra é a de um véu que tudo encobre. Muitas vezes temos a impressão de não vermos a realidade tal como ela é; está tudo debaixo de um véu. Outras vezes não queremos ver as coisas do jeito que são. Torcemos a realidade do jeito que a queremos. O tema da mística da verdade é levantar o véu e enxergar o que há por trás de tudo, reconhecendo a essência das coisas. Na linguagem do Amor o Cristo dá testemunha da Verdade. Ele se traduz na Verdade. Ele é a Verdade. É pela lente da Verdade que Deus se faz enxergar no Cristo aos homens. A Verdade é aquilo que dá sentido, é tudo aquilo que atribui coerência, liga, orienta. É a partir deste horizonte de sentido que somos e estamos significando algo e avançamos nos territórios da nossa existência.

Tenho aprendido que na vida prática do âmbito de nossos relacionamentos, o Amor e a Verdade devem ser vistos não apenas como caminhos ao longe, distantes. Ao contrário, devem ser traduzidos constantemente em vias que nos possibilite a fazer o êxodo, a travessia para o mais profundo de nossa natureza, para o mais profundo encantamento de nossa relação com o Divino. Um deslocamento que nos faça sair das margens, das regiões periféricas de nossas relações interpessoais e que nos faça amar ao outro de mim na verdade e através dela.

A vida inteira é, pois esse universo de possibilidades de ter que passar pelo processo de atribuir coerência, sabor, beleza e significado real às realidades que vivemos, aos amores que nutrimos, aos amigos que geramos... Portanto, quando a verdade é aí estabelecida, logo o Amor é traduzido na sua mais ínfima essência. Não porque ele careça, mas porque queira que ela o revele tal como aconteceu com Deus e sua história de Amor pela humanidade.

Grato, Sem. Jerônimo Lauricio.

Sem. Jerônimo Lauricio
www.jeronimolauricio.com