18 de novembro de 2016

Meu pecado pode diminuir meu valor como pessoa?

O pecado não tira o seu valor, mas sim o restaura

É possível que, alguma vez na vida, você tenha se deparado com alguma situação pessoal de pecado e achado que seu valor como pessoa tenha diminuído ou mesmo acabado. Nessa hora, vem a maldita comparação: fulano é tão bom, nunca fez coisa errada! Eu, pelo contrário, pequei muitas vezes gravemente contra minha sexualidade e afetividade. Acho que não tenho o mesmo valor para Deus que meu colega.

Talvez, eu tenha acabado de narrar algo que acontece com você ou com alguém que você conhece. Vou lhe contar uma história para lhe mostrar que seu valor independe do que você fez ou deixou de fazer:

Um famoso palestrante, conhecido internacionalmente, começou a palestra segurando uma nota de cem reais na mão. Tinha aproximadamente cento e cinquenta pessoas no local da palestra. O palestrante perguntou: "Quem quer esta nota que está em minhas mãos?" Praticamente, a sala inteira levantou as mãos. Ele amassou a nota de cem reais que estava em suas mãos e perguntou novamente: "Quem ainda quer esta nota?". Para sua surpresa, as mesmas mãos permaneceram levantadas. Amassou mais ainda e continuou a perguntar. A sala inteira não mudou de opinião, todos queria aquela nota de cem reais.

O meu pecado pode diminuir meu valor como pessoaFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Não contente, além de amassar a nota, ele a jogou no chão e começou a pisar nela. Depois de pisar várias vezes e a nota ficar toda suja, pegou-a em suas mãos novamente, desamassou-a e falou: "Quem ainda quer esta nota de cem reais, por favor, ponha-se de pé". Foi unanime: as cento e cinquenta pessoas que estavam na sala puseram-se de pé.

Depois desse momento, o palestrante pediu para que todos se sentassem e começou a dizer: espero que vocês tenham compreendido essa dinâmica. Por mais amassado ou mesmo pisado que o dinheiro foi, ele permaneceu possuindo o valor de cem reais. Na nossa vida, também é assim. Muitas vezes, somos amassados, pisoteados, humilhados, esquecidos, mas nada disso diminui o nosso valor, jamais perdemos nossa dignidade de pessoa humana.

Palavras de São João Paulo II

Sua santidade São João Paulo II, na Encíclica Christifideles Laici, nº 37, diz que a dignidade da pessoa é o bem mais precioso que o homem possui. Esse valor transcende todo e qualquer valor material. Jesus diz: "Que serve ao homem ganhar o mundo inteiro, se depois perde a sua alma?" (Cf Mc 8,36). Nessa pergunta, está implícita uma afirmação antropológica, de que o homem vale não por aquilo que tem, mesmo possuindo o mundo inteiro, mas por aquilo que ele é. Os bens materiais podem ser importantes, mas não são eles que contam. O que conta é o bem que é a própria pessoa.


A dignidade humana, sendo ela contemplada do ponto de vista das verdades reveladas, tem uma estima incomparável, pois se trata, com efeito, de pessoas remidas pelo Precioso Sangue de Cristo, as quais, com a graça, tornaram-se filhas e amigas de Deus, herdeiras da glória eterna. Além disso, o homem é chamado a torna-se "filho no Filho", sendo ele templo vivo do Espírito Santo, tendo por destino a comunhão beatífica com Deus, a vida eterna. Por esse motivo, diz São João Paulo II que toda e qualquer violação da dignidade da pessoa, do ser humano, é um clamor por vingança junto de Deus, o Criador do homem.

Somos filhos de Deus

Somos pessoas e possuímos um valor infinito, somos filhos de Deus. Como filhos, somos herdeiros do Céu. Não deixemos que nada nem ninguém roube de nós ou nos faça esquecer o valor que possuímos. Não é o pecado, a decepção, o desprezo ou qualquer outra situação que diminuirá o nosso valor como ser humano, como pessoa. Podemos até estar amassados, pisoteados, mas isso nada interfere em nossa dignidade, em nosso valor como pessoa.

O fato de nossos pecados não diminuírem nosso valor não significa que devemos permanecer no pecado, não! Pelo contrário, reconhecendo nosso valor diante de Deus, o que mais precisamos fazer é evitar o pecado e, por isso mesmo, termos em nosso horizonte uma vida de santidade.

Elenildo da Silva Pereira
Missionário da Comunidade Canção Nova e candidato às Ordens Sacras. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP)


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/o-meu-pecado-pode-diminuir-meu-valor-como-pessoa/

16 de novembro de 2016

A comunicacao eficaz num relacionamento

É pre­ciso encontrar o meio que estabelece uma boa comunicação

Ouvimos, muitas vezes, que a boa comunicação é sinal de um bom relacionamento, mas, por incrível que possa parecer, o fato de conversarmos não necessariamente significa que estamos nos entendendo. O importante, nesses momentos, é encontrarmos uma maneira de estabelecer um bom nível de comunicação.

A comunicacao eficaz num relacionamento
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Canal de comunicação

No cotidiano de uma vida em comum, a mera proximidade física não é suficiente para estabelecermos um bom nível daquela sintonia que desejamos encontrar. A busca desse "canal de comunicação" é uma técnica muito usada pelos vendedores; basta nos lembrarmos daquelas pessoas que batiam à nossa porta para oferecer algum produto.

Elas, de maneira especial, nunca chegavam oferecendo o produto ou aquela famosa enciclopédia sem antes fazer uma sondagem sobre os variados as­suntos que poderiam abrir o canal de comunicação com a possível compradora. Ao mais leve sinal de entrosamento, a conversa era conduzida por mais alguns minutos antes que o vendedor começasse a apresentar seu produto.

Se não há um receptor, em vão transmitiremos as informações. Então, dentro do diálogo entre casais, é pre­ciso também encontrar esse meio que estabelece a conexão entre eles, pois, de que serviria uma estação de rádio, se ela preparasse uma excelente grade de programação para os habitantes de uma cidade, mas a transmitisse numa faixa fora da frequência dos rádios locais?


Por mais que a estação, tentando manter um nível de comunicação com seu ouvintes, aumentasse a potência de seus amplificadores, jamais conseguiria ter uma sintonia eficiente. Da mesma maneira, se desejamos discutir ou convencer alguém de um assunto, é preciso, em primeiro lugar, encontrarmos uma maneira de nos co­nectarmos com a outra pessoa antes mesmo de co­meçarmos a falar daquilo que nos incomoda ou que, simplesmente, queremos partilhar.

Para diminuir o estresse de uma discussão, a dica é começar na escolha do melhor momento para conversar. Façamos como os astutos vendedores, que aplicam muito bem suas técnicas.

Um abraço


14 de novembro de 2016

Não sei perder

É preciso aprender a perder

Quando criança praticava os mais variados tipos de esportes. Sempre gostei de disputar, competir, e claro, de vencer. Isso me trouxe um problema, pois detestava perder. Lembro-me de minha mãe dizendo, várias vezes, quando me via reclamando de uma derrota no jogo de bolinhas de gude, por meu time ter perdido no futebol ou por qualquer outra derrota: – "Menino, você precisa aprender a perder!" É verdade. Eu preciso aprender a perder!

Não sei perder
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

A pior perda

A vida é uma constante de vitórias e de derrotas. Faz parte da dinâmica da nossa existência. E nesse movimento de alegrias e tristezas, de conquistas e de ruínas, em fevereiro de 2007, tive minha pior derrota: perdi meu pai.

Na morte do meu pai senti falta de não ter aprendido a perder. Nessa perda, a maior da minha vida, tive vontade de desistir de tudo, de me revoltar com Deus, de brigar e reclamar, como fazia quando perdia qualquer disputa na minha infância, mas uma situação interessante aconteceu. No momento do enterro tudo foi muito doloroso. Só quem já passou por essa situação sabe como é. Eu estava de braços cruzados e de repente uma mão se enfiou por debaixo do meu braço e segurou a minha mão.

Não olhei para ver de quem era aquela mão. Na verdade, nem sabia ao certo quem eram as pessoas daquela multidão que acompanhava o enterro. O que importava é que alguém me deu a mão, alguém segurava a minha mão no momento em que eu perdi, no momento da derrota. Assim que terminou o enterro aquela mão se soltou e a pessoa voltou-se para trás. Depois fui saber quem me dera o apoio, mas na hora nem pensei em procurar o dono daquela mão, pois sabia que aquela era a mão de Deus.


Ainda não aprendi a perder. Ainda sofro com as derrotas. Mas essa experiência tem me feito buscar nas derrotas a presença de Deus, que não me deixa só. A mão de Deus que me ampara. A presença de Deus que me faz crer que depois da morte vem a ressurreição. E a ressurreição é vida nova. Mudanças positivas acontecem. Novidades aparecem…

De lá para cá continuei perdendo, mas por meio dessas derrotas, tenho tentado permitir que Deus, com sua mão, não somente me ampare, como fez no dia do falecimento do meu pai, mas que também me conduza pelos caminhos que Ele tem para mim. Afinal: "Somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou" (Rm 8,37).


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/nao-sei-perder/

11 de novembro de 2016

Por que os homens pensam mais em sexo que as mulheres?

Os homens pensam mais em sexo que as mulheres. Será?

É tido como senso comum pensar que sexo é um assunto mais presente no mundo masculino que no feminino, imaginar que os homens falam mais sobre o tema, que pensam mais nisso e, consequentemente, praticam-no mais. Há inclusive algo no imaginário coletivo que funciona como uma proteção desse comportamento entre os homens, afirmando que é da natureza deles precisar mais de sexo, que os hormônios e a biologia masculina estão mais voltados para a prática sexual e que isso deve ser reconhecido. Aliás, muitas mulheres também levantam essa bandeira em defesa da tal natureza masculina, justificando comportamentos inadequados, invasivos, abusivos e até traições.

A realidade é que os homens, por possuírem seu órgão sexual externo, são acostumados, desde cedo, a ver o próprio pênis e identificar que isso é parte da sua constituição natural. Cotidianamente, manipulam seu órgão no momento de urinar, acompanham seu desenvolvimento desde a infância, fazem brincadeiras de comparação de tamanhos com os amiguinhos e até competem para ver quem esguicha o xixi mais longe, como que numa disputa de competência e poder.

Por que os homens pensam mais em sexo que as mulheresCopyright: VladSt

Diferença entre o feminino e o masculino

O universo feminino é completamente oposto, a começar pelo biotipo da mulher. Seu órgão genital é interno, não é necessário manipular-se para o momento de urinar, as meninas não costumam olhar para as vulvas umas das outras e, às vezes, a descoberta de algumas funcionalidades do seu sistema reprodutor acontece apenas quando ocorre a primeira menstruação. Essa descoberta vem acompanhada de cólicas e sangramentos mensais, que são sintomas geralmente desconfortáveis e restritivos.

Assim, se para os meninos os assuntos de ordem sexual eram tidos como interessantes e prazerosos, para as meninas a situação muda um pouco: dores menstruais e desconfortos com os absorventes, impossibilidade de aproveitar a piscina e inúmeros avisos na escola sobre os "riscos de gravidez" passam a fazer parte do universo rosa.

Existe também a questão de como são diferentes as manifestações de excitação para os meninos e as meninas. Para o homem, fica evidente a ereção quando algo o estimula sexualmente, passando a ser exposto e, consequentemente, passível de ser conversado entre os amigos. Para as mulheres, existe a lubrificação, que é interna; consequentemente, ninguém a vê. Percebe como a possibilidade de falar sobre sexo entre os homens é maior que entre as mulheres?

Diferenças biológicas

Dadas as diferenças biológicas, temos também muita interferência cultural na criação de meninas e meninos. Houve uma época em que as mães orientavam suas filhas a, após o banho, não passarem muito a toalha na vulva para não haver estimulação no local. Já na criação masculina havia a prática de pais que levavam os seus filhos para terem a primeira experiência sexual em prostíbulos, acreditando que, assim, fariam de seus filhos homens completos.

Ambos os comportamentos foram permeados por certa dose de medo e falta de informação, que acabavam por apresentar a sexualidade para meninas e meninos de maneira distorcida, superficial e maliciosa, ou até como sendo algo sujo, impuro, que não deveria ser relacionado, de forma alguma, com o prazer.

Com isso, a mulher passou por gerações sendo proibida de permitir-se a entrega e o envolvimento total na relação com o parceiro, crendo que sua função dentro do sexo era restritamente procriativa, e que era reservado apenas ao homem o benefício do prazer e satisfação no ato sexual.


Educação sexual

Com o passar do tempo, o acesso às informações ampliou-se, e assuntos antes tidos como tabus começaram a ser amplamente discutidos, como é o caso do sexo. Assim, referências ao sexo como sendo algo ruim, sujo, demoníaco ou pernicioso começam a mudar aos poucos, possibilitando tratar o sexo como algo bom, saudável, bonito e muito importante na vida de um casal.

Particularmente, acredito que esse processo de mudanças está ocorrendo aos poucos e alguns movimentos estão sendo vistos timidamente, pois vivemos ainda em uma sociedade pouco informada e um tanto machista. De qualquer forma, é de fundamental importância realizar uma educação sexual de qualidade para que mudanças estruturais sejam vistas em todos os âmbitos da sociedade.

A sexualidade na dimensão espiritual

Falando da dimensão espiritual especificamente, temos muitas referências sérias e confiáveis sobre o tema, lembrando que o sexo é algo constituído por Deus e deve ser visto em sua beleza e sacralidade. A questão do prazer no ato sexual é algo tão importante e especial, que o corpo feminino possui um órgão especificamente voltado para o prazer, que é o clitóris. Sim, a única função do clitóris é dar prazer à mulher, e isso deve ser visto com um olhar de beleza e respeito tanto ao corpo feminino como ao ato sexual em si.

É verdade que temos sido expostos a diversos tipos de banalização do corpo humano e do sexo, principalmente do corpo feminino, fazendo com que alguns olhares para o assunto sejam mesmo de julgamentos e restrições. Esse tipo de exposição acaba por reforçar a ideia de que homens pensam mais em sexo; portanto, associar o corpo feminino com a venda de algum produto fará com que o lucro seja maior. Entretanto, o mau uso de algo tão precioso, como vemos na grande mídia, não significa que seja a única forma de enxergar o assunto. Por isso é tão importante uma educação sexual de qualidade: somente com a informação é possível combater a ignorância e os comportamentos desrespeitosos para o ato sexual. É preciso preservar o corpo humano como sendo algo único, que merece ser honrado, protegido de olhares redutivos que enxergam um objeto na pele de um semelhante, entre outras questões como estupros, DSTs, violência doméstica etc.

Pensar sobre sexo é bom, é importante, mas precisa haver qualidade nesse pensamento, tanto para homens como para mulheres. Se a necessidade biológica é de ambos, a responsabilidade para tratar o assunto também é deles. Afinal, somos seres que precisam sentir plenitude em todos os aspectos da nossa vida; e se, por exemplo, pensamos o sexo apenas com a dimensão do corpo e do prazer, estamos agindo como os animais e reduzindo muito algo que é tão amplo, bonito e que merece ser pensado, discutido e praticado com respeito, reverência, seriedade, responsabilidade e, sim, com prazer, no mais amplo sentido da palavra.

7 de novembro de 2016

Os casais de segunda união não devem se afastar da Igreja

Os casais de segunda união podem e devem participar da Igreja

Para a Igreja, no conceito jurídico, a relação de um casal é considerada um segunda união quando um deles ou ambos receberam o sacramento do matrimônio, passaram pela separação e, por conseguinte, pelo divórcio; unindo-se, então, a uma outra pessoa. Já no conceito pastoral, os elementos de uma segunda união para a Igreja são: a vontade firme de formar uma nova e séria união responsável e aberta para a vida e a estabilidade do casal, isto é, um estado permanente, sobretudo, com o elemento mais importante, que é percorrer um caminho de vida cristã.

A Igreja tem um serviço pastoral chamado Tribunal Eclesiástico. O casal, que está nessa situação de unir-se pela segunda vez a outra pessoa, deve procurar o seu pároco, conversar com ele, contar-lhe como aconteceu a sua separação, como era sua vida antes do matrimônio, no dia do casamento e mostrar-lhe os fatos. Ele [o padre], conforme os fatos, poderá orientá-los a consultar esse Tribunal. Esse processo é importante para a tranquilidade e a paz de ambos; é um direito deles, pois se a Igreja declara o matrimônio nulo, as portas podem ser abertas para um outro casamento.

Os casais de segunda união não devem se afastar da IgrejaFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Eu estava numa paróquia, no interior do Rio Grande do Sul, chamada Bandeirantes. Lá, a maioria dos casais vivia nessa situação. Então, ninguém podia comungar. As parábolas da Divina Misericórdia, assim com as do bom samaritano, dizem que, diante de uma pessoa em necessidade (não se duvida disso), deve-se fazer alguma coisa para ajudá-la, assim como Jesus o fez. Essas são as duas preocupações da Igreja: a realidade e o jeito de Jesus. Mas qual o jeito, hoje, da Igreja? Essa é uma realidade nova para ela. Só depois do Concílio Vaticano II é que se começou a refletir sobre esse assunto. Antes, nem se cogitava sobre isso; era um capítulo fechado na Igreja. Mas, após o Concílio, começaram-se os estudos e a abertura para os casais de segunda união.

O sagrado do sacramento do matrimônio

Deus ama o ser humano com um amor indissolúvel, eterno e fiel, e é por meio do sacramento do matrimônio que Ele faz uma aliança indissolúvel e fiel também com o casal. A segunda união rompe essa aliança, e aí está o impedimento: esses casais não podem se confessar nem receber a comunhão.


O Papa João Paulo II fala que eles podem e devem participar da vida da Igreja, porque o divórcio não lhes tira a fé nem o valor do batismo. Eles pertencem à Igreja, por isso têm o direito de fazer dela sua casa, sua tenda, de sentirem-se bem dentro dela como em suas casas e de serem acolhidos como irmãos.

Casais de segunda união

Os casais de segunda união podem e devem participar da Igreja. Eles são incentivados a ter uma vida cristã e, por último, ter grande esperança, consolo, conforto e uma firme confiança nela.

Como afirma o saudoso Pontífice, eles esperam o momento que a Divina Providência reconhece a graça da conversão e da salvação. João Paulo II proclama também, em sua Exortação Apostólica Familiaris Consortio, nº 84: "Com firme confiança, a Igreja crê que, mesmo aqueles que se afastaram dos mandamentos do Senhor e vivem atualmente nesse estado, poderão obter de Deus a graça da conversão e da salvação, se perseverarem na oração, na penitência e na caridade".

Padre Luciano Scampini
Sacerdote da Arquidiocese de Campo Grande


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/familia/segunda-uniao/os-casais-de-segunda-uniao-nao-devem-se-afastar-da-igreja/ 

4 de novembro de 2016

O Ano Santo, por que e para que a Igreja o celebra?

A eficácia do Ano Santo provém da oração da Igreja

Essa reflexão procura responder às seguintes perguntas: por que esse período é chamado de Ano Santo ou Jubileu? Existem tempos favoráveis para a salvação? De onde provém a eficácia espiritual do Ano Santo? Para onde ele nos leva?

1. A origem do termo "Jubileu"

A origem do Jubileu está ligada ao Antigo Testamento. A lei de Moisés tinha fixado para o povo de Israel um ano especial (Lev 25,10-13). Esse ano era anunciado ao som da trombeta (Lev. 25,9), um chifre de carneiro que, em hebraico, se chama jobhel, daí a palavra Jubileu. A celebração desse ano significava, entre outras coisas, a devolução das terras aos seus antigos proprietários, a remissão das dívidas, a libertação dos escravos e o repouso da terra.

O Ano Santo, por que e para que a Igreja o celebra-
Foto: reprodução youtube – CTV

No Novo Testamento, Jesus se apresenta como Aquele que veio levar a termo o antigo Jubileu, pois, citando o profeta Isaías (61,1-2), ele chegou para "proclamar um ano de graça do Senhor" (Lc 4,18-21).

2. Existem tempos favoráveis para a salvação?

O nosso Deus quis manifestar-se ao homem: é o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó, de Jesus Cristo. Esse chamado à salvação insere-nos na história da humanidade e encontra seu ponto mais alto na vinda de Cristo. O tempo todo é tempo de salvação. Mas no arco de toda a história há alguns "segmentos de tempo", uns tempos propícios, nos quais a salvação age com particular intensidade.

Jesus, em Mt 16,2-3, fala do tempo messiânico e diz aos fariseus e aos saduceus: "Olhando o céu, vocês sabem prever o tempo, mas não são capazes de interpretar os sinais dos tempos".

Ressalta-se, seja neste texto citado, como em outros (2 Cor 6,2; Lucas 19,44), a diferença que os antigos gregos faziam quando falavam do "tempo". Os termos usados eram "Chronos" (Χρόνος) e " Kairos" (καιρός), com significados diferentes. "Chronos" é o tempo que chamados de cronológico. É o tempo, diríamos hoje, do relógio, no qual não há nenhuma diferença entre um minuto e outro minuto: é o tempo quantitativo. Mas o termo "Kairos" indica um "tempo favorável", é o tempo qualitativo.

O Evangelista João, várias vezes, coloca na boca de Jesus a expressão "A minha hora" (2,4; 7,30). Durante a última ceia, Jesus diz: "Pai, chegou a hora. Glorifica o teu filho" (17,1).
Portanto, o tempo todo é história da salvação. O tempo da Igreja, que começa com a Encarnação do Filho de Deus e vai até o fim do mundo é, a título especial, tempo de salvação. O tempo da presença de Jesus, nesta terra, é ainda mais tempo de salvação.

Jesus está presente. Mesmo assim, Ele pode afirmar que ainda existe um outro "momento favorável", a sua "hora", que ainda não chegou. É o momento mais alto: o da sua morte-ressurreição.

A partir desses textos do Evangelho conclui-se que existem "momentos favoráveis" mais do que outros em ordem à realização da salvação. Esses momentos podem ser subdivididos por ritmos diários (os momentos de oração durante o dia), semanais (o domingo, dia do Senhor), anuais (Advento e Quaresma; tempo de Natal e tempo Pascal); por ritmos comunitários litúrgicos ou não (exercícios espirituais, encontros de espiritualidade dos vários grupos eclesiais etc.). Há também os ritmos do Ano Santo ordinário (a cada 25 anos) ou extraordinário: este Ano Santo da Misericórdia ou os anteriores (no ano de 1933, Pio XI proclamou o Ano Santo da Redenção, para lembrar os 1900 anos da morte-ressureição de Cristo; e em 1987, João Paulo II, num outro Ano Santo Extraordinário, lembrou os 1950 anos da Redenção).

Nesse sentido, o Papa Francisco escreveu na Bula de Proclamação do Jubileu extraordinário da Misericórdia: "Há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos um sinal eficaz do agir do Pai".

3. A eficácia espiritual do Ano Santo

Por que o Ano Santo é um "momento oportuno"?
A eficácia do Ano Santo provém da oração da Igreja. Isso significa que a Igreja, esposa de Cristo, pede, com a certeza de que sua oração vai ser atendida, para que Ele derrame de maneira abundante seus dons para todos os cristãos. É essa vontade eficaz que torna o Ano Santo um momento oportuno da salvação.

Mais uma pergunta: quais são os elementos do Ano Santo?
São particularmente três: a conversão, a peregrinação e a indulgência.
A conversão acontece por meio da reconciliação com Deus e com os irmãos. Observe-se que a reconciliação é uma iniciativa de Deus: Ele mesmo intervém e, estando em paz com Ele, nós nos tornamos criaturas novas, graças à morte de Cristo (2 Cor 5,17-20).

Jesus Cristo revela a bondade do Pai para com os pecadores. A esse respeito, há uma feliz coincidência entre este "Ano Santo da Misericórdia" e a leitura do evangelista Lucas neste mesmo ano litúrgico. De fato, São Lucas narra parábolas de Jesus, centradas na misericórdia de Jesus e na confiança nele que caminha entre os pobres, doentes, humilhados e sofredores da terra (Lucas 10,25-37; 15,1-32; 16,19-31; 18,1-18; 18,9-14). Narra encontros de amizade e compaixão (7, 36-50, 10,38-42; 19,1-10.28; 23,39-43). Lucas ressalta as atitudes de Jesus que consola e ampara (7,11-17; 13,10-17; 14,1-6; 17,11-19).

4. A peregrinação e a indulgência

A peregrinação faz reviver a experiência da história da salvação: a história de Abraão peregrino de Ur dos Caldeus para a terra que Deus lhe teria mostrado (Gen. 12,1); a peregrinação de Israel rumo à Terra Prometida; a peregrinação de Jesus rumo a Jerusalém. E a vida cristã é uma peregrinação até Deus.

Eis como o Papa Francisco fala da peregrinação na citada Bula de Proclamação deste Ano Santo: "A peregrinação é um sinal peculiar no Ano Santo, enquanto ícone do caminho que cada pessoa realiza na sua existência. A vida é uma peregrinação e o ser humano é viator, um peregrino que percorre uma estrada até a meta anelada. Também para chegar à Porta Santa, tanto em Roma como em cada um dos outros lugares, cada pessoa deverá fazer, segundo as próprias forças, uma peregrinação. Esta será sinal de que a própria misericórdia é uma meta a alcançar que exige empenho e sacrifício. Por isso, a peregrinação há de servir de estímulo à conversão: ao atravessar a Porta Santa, deixar-nos-emos abraçar pela misericórdia de Deus e comprometer-nos-emos a ser misericordiosos com os outros como o Pai o é conosco".

Passa-se agora a refletir sobre a indulgência. Antes de tudo, é necessário esclarecer o significado do termo. "Indulgência" indica, na doutrina católica, a promessa de uma particular intercessão da Igreja para que Deus perdoe a pena temporal dos pecados que já foram perdoados, mas cujas consequências continuam. Em outros termos, o pecador arrependido e perdoado inicia um processo de conversão, ou mudança de vida radical, que exige tempo e perseverança. Nesse processo, a Igreja acompanha o fiel arrependido com sua oração de intercessão. Como se vê, existe para os não esclarecidos a possibilidade de confundir "indulgência" com "perdão dos pecados". Geralmente, para a concessão de uma indulgência, a Igreja pede, além da participação aos sacramentos, como acima lembrado, um gesto que seja sinal de conversão, como uma esmola, uma oração, uma peregrinação etc. A indulgência é considerada "plenária", quando diz respeito ao perdão de toda a pena temporal; nos outros casos, a indulgência é "parcial".

Nosso amor a Deus e ao próximo frequentemente fica misturado com egoísmo, com vaidade, presunção, negligência, falta de delicadeza, instabilidade e pouca fé. Daí a necessidade de uma conversão sempre mais profunda: e a indulgência encontra o espaço nesse contínuo esforço de conversão do cristão, que procura tornar-se "homem novo" e sente-se acompanhado pela oração da Igreja. A indulgência, como diz o Papa Francisco na citada bula, "através da Esposa de Cristo, alcança o pecador perdoado e liberta-o de qualquer resíduo das consequências do pecado, habilitando-o a agir com caridade, a crescer no amor em vez de recair no pecado".

Uma conclusão a partir da vida do Papa Francisco

O tema da misericórdia tocou profundamente a vida do jovem Jorge Mario Bergoglio, acompanhou-o e o acompanha até hoje. Seu lema de bispo é o seguinte: Miserando atque eligendo. A frase é tirada das Homilias de São Beda Venerável (672-735), o qual, comentando o episódio evangélico da vocação de São Mateus, escreve: "Jesus viu um cobrador de impostos e olhando-o com amor o escolheu e disse: Segue-me".

Essa homilia é uma homenagem à misericórdia de Deus e está reproduzida na Liturgia das Horas da festa de São Mateus. Foi justo por ocasião da festa de São Mateus, no dia 21 de setembro de 1953, que, com quase 17 anos, Jorge Mario Bergoglio sentiu, pela primeira vez, a vocação à vida religiosa. Naquele dia, depois de uma confissão, o futuro Papa advertiu a presença no próprio coração da misericórdia de Deus, que o chamava a viver a vida como jesuíta, seguindo o exemplo de Santo Inácio de Loyola.

Considera-se, pois, interessante essa ligação entre o Ano Santo da Misericórdia e o caminho espiritual que o Papa Francisco tinha iniciado quando era ainda adolescente.

Como "discípulos que Jesus ama", possamos acolher neste Ano Santo em nossa casa, a mãe Maria, presente na grande hora da misericórdia (João 19,25-27).

31 de outubro de 2016

Quais são os sinais de que Jesus voltará?

"Antes da vinda de Cristo, a Igreja deverá passar por uma prova final, que abalará a fé de numerosos crentes"

A palavra "escatologia", no grego scatom, significa "últimas" e está relacionada ao céu, ao inferno e ao purgatório. A Igreja, apoiada na Sagrada Escritura, diz que estamos aqui, nesta terra, de passagem, porque fomos feitos para céus novos e uma terra nova.

Jesus está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso. Assim como Cristo ressuscitou, nós também vamos ressuscitar em Cristo. Nós cremos que, um dia, Ele há de julgar os vivos e os mortos. Jesus virá uma segunda vez, quando ressuscitaremos. As pessoas que morreram ressuscitarão e todos nós teremos um corpo glorioso. Precisamos acreditar na Ressurreição, caso contrário, não seremos, de fato, católicos. São Paulo diz que se não acreditarmos nela a nossa fé será vã.

Quais são os sinais de que Jesus voltaráFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Jesus não está de férias

O Senhor virá julgar os vivos e os mortos. Quando pensamos que Jesus está sentado à direita de Deus, podemos acreditar que, talvez, Ele esteja parado. Mas não! Cristo está agindo. Diante de tanta injustiça, podemos pensar: "Parece que Jesus está de férias no céu!". Mas quando Ele voltar, toda a justiça de Deus será em plenitude. Tudo mudará.

Não sabemos ao certo quando o Senhor virá, mas, quando Ele vier, passaremos por uma prova de fé. E mesmo que Cristo não volte amanhã, muitos de nós poderemos ir até Ele. Por isso, o Evangelho nos chama à conversão.

O Catecismo da Igreja Católica afirma: "Antes da vinda de Cristo, a Igreja deverá passar por uma prova final, que abalará a fé de numerosos crentes (639). A perseguição, que acompanha a sua peregrinação na terra (640), porá a descoberto o 'mistério da iniquidade', sob a forma duma impostura religiosa, que trará aos homens uma solução aparente para os seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A suprema impostura religiosa é a do anticristo, isto é, dum pseudomessianismo em que o homem glorifica a si mesmo, substituindo-se a Deus e ao Messias Encarnado (641). 676. Esta impostura anticristã já se esboça no mundo, sempre que se pretende realizar na história a esperança messiânica, que não pode consumar-se senão para além dela, através do juízo escatológico. A Igreja rejeitou esta falsificação do Reino futuro, mesmo na sua forma mitigada, sob o nome de milenarismo (642), e principalmente sob a forma política dum messianismo secularizado, 'intrinsecamente perverso' (643)."

Mas já há muitos lugares onde as pessoas estão sendo perseguidas. Não quero ser o profeta do desespero, como alguns fazem, dizendo que Jesus virá tal dia e que o mundo vai acabar logo. Não! Ninguém sabe quando isso vai acontecer; só o Pai, como nos diz a Palavra. O primeiro sinal, no entanto, como nos diz o Catecismo, será a perseguição.

Já neste primeiro milênio, existem mais mártires do que no primeiro milênio do Cristianismo. Talvez, você nem sabia disso, porque essas notícias não aparecem nos jornais, mas há lugares onde os cristãos estão sendo dizimados. O Papa Francisco, em uma entrevista, emocionou-se ao dizer: "Hoje, há mais mártires que no primeiro século do Cristianismo."


Nós, no Brasil, não sofremos essa perseguição de açoites, mas sofremos a perseguição velada. Nós vivemos tempos tristes, quando até o coroinha questiona o Papa, a Igreja, a verdade da fé. Quando o Santo Padre fala alguma coisa, há pessoas que dizem: "Não, não é bem assim", mas elas estão lá, no domingo, professando o Credo. Hoje, pensamos que tudo é normal, porque fomos nos deixando contaminar pelas mídias.

O Berço do Cristianismo

Na própria Europa, berço do Cristianismo, houve uma perseguição nos locais onde havia crucifixo. Se você ler algumas leis brasileiras, perceberá que aqui não tem sido diferente. Quais sãos os sinais de que Jesus voltará?

Você sabia que, há alguns meses, na Bélgica, foi aprovada a eutanásia infantil? É um absurdo! Eu quero chamar a atenção de vocês para esses sinais dos tempos.

Outro ponto é o avanço da perseguição à Doutrina da Igreja, ao Cristianismo. Nós temos pessoas que dizem 'não' a Deus. A consequência disso é dizermos 'não' ao homem; por isso matar o idoso que está ali, no leito do hospital, sem condições financeiras, "é normal" para eles. Num ano, há mais de 50 milhões de abortos. Quando o demônio quer agir, ele vai na destruição do ser humano. Vivemos um tempo em que a sociedade tem colocado o ser humano sem nada de valia.

Você só poderá suportar essas provações que virão se estiver em uma comunidade, se estiver junto com outros que professam a mesma fé que você. É o que diz Bento XVI. É preciso que tenhamos claro isso diante de nós: Jesus voltará. Se Ele voltasse hoje, como estaria a sua fé?

 


Daniel Machado

Daniel Machado de Assis, natural de São Bernardo do Campo-SP, é membro da Canção Nova desde 2002. Psicólogo formado pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo, também estudou filosofia pelo Instituto Canção Nova. Atualmente é coordenador do Núcleo de Psicologia Canção Nova que tem por objetivo assessorar e auxiliar a formação dos membros desta instituição.


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/quais-sao-os-sinais-de-que-jesus-voltara/

26 de outubro de 2016

Como superar a traição no relacionamento?

Apesar de ser tão doloroso e traumático, será que pode existir vida a dois após a traição?

Essa é realmente uma das situações mais difíceis que encontramos na vida a dois, e cada vez mais comum, seja por homens ou por mulheres. A traição gera marcas de desconfiança e de decepção muito fortes, que para sempre vão estar presentes na vida de toda a família. Quando alguém trai seu cônjuge, está distorcendo também a imagem de homem e mulher na visão de seus filhos, o que pode torná-los pessoas isoladas, com dificuldade para construir laços afetivos ou com tendência à traição posterior.

Mas apesar de ser tão doloroso e traumático, será que existe vida a dois após a traição? Será possível reconstruir o laço de fidelidade após o adultério? Acredito que a melhor resposta seja: depende. Vários fatores vão interferir nisso.

Como superar a traição no relacionamentoFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Traição

O adultério aconteceu várias vezes? A pessoa traiu em seus relacionamentos anteriores? Acontecia desde o namoro? A sexualidade dele/dela está desequilibrada e há vícios sexuais? Existe uma herança familiar muito forte de traição? Se a resposta for afirmativa para algumas dessas perguntas, então essa pessoa provavelmente só irá mudar se experimentar uma grande transformação em sua vida – conversão radical, tratamento terapêutico/psicológico. Se a pessoa se fecha às ações de mudança, fica muito complicado ajudá-la. Em alguns casos extremos, deve-se pensar na possibilidade do afastamento, que pode ser até menos traumático do que o convívio instável. A separação, desde que seguida pela vivência da castidade individual, não é pecado (pode-se inclusive manter a comunhão Eucarística), e tende a garantir um ambiente menos agressivo para a criação dos filhos. Algumas vezes, ao sentir a perda concreta da família, o adúltero acaba encontrando o incentivo para buscar a mudança.

Por outro lado, são muito frequentes os casos de traição isolada, em casais que tinham como conduta moral a fidelidade. Em uma determinada fase da vida, o casamento deixa brecha e espaço para que uma terceira pessoa entre no meio ("a outra" pode ser também o trabalho, o serviço a Deus, os filhos…). A pessoa não tinha a intenção de trair, mas em um momento de fragilidade pessoal e de instabilidade do relacionamento, permitiu-se envolver com alguém externo. Essa traição pode sim ser superada, desde que ambos estejam muito dispostos a reconstruir.

Perdão

O primeiro passo da reconstrução é o perdão. Sim, houve um erro concreto. Em determinado momento, o adúltero tomou a decisão errada de se envolver com outra pessoa. É preciso reconhecer o erro e pedir perdão (com muita sinceridade, humilhar-se mesmo). Nessa fase muito dolorosa, é preciso ser verdadeiro e esclarecer todas as dúvidas e perguntas. Acredite: na maioria das vezes, a imaginação do traído é muito pior do que a realidade da traição. Deve haver muita conversa, trazendo sinceridade e realidade ao pedido de perdão.

A segunda etapa é a decisão do perdão. Quem foi traído precisa decidir se vai tentar reconstruir ou se não consegue fazer isso. E a partir do momento que decidir, faça todo esforço para que dê certo. Claro que não é algo que será esquecido, e para sempre será um erro grave cometido pelo outro. Mas perdoar não é esquecer nem dizer que aquilo foi certo. O perdão só significa que você abre mão de ser o acusador daquela pessoa. Há o erro, mas não cabe a você cobrar a culpa e a justiça. Você abre mão de carregar as pedras que "teria o direito" de jogar na pessoa, todos os dias, para o resto da vida. O perdão é um processo, mas a decisão é um degrau indispensável.


O relacionamento

A partir daí, é preciso voltar-se para o relacionamento. Se houve esse tipo de traição (por pessoas que tinham o propósito firme de fidelidade), é muito provável que ambos tenham construído um casamento onde ficou um vazio, uma falta de intimidade, permitindo que uma terceira pessoa tivesse a oportunidade de entrar. Apesar de, na prática, um só ter cometido o erro, esse desequilíbrio no relacionamento foi causado pelos dois, 50-50%. É preciso então, avaliar como cada um estava atuando na vida a dois. Deixo claro que essa avaliação é uma autoavaliação. Não é um julgamento do outro, mas meu. Quais foram as brechas que eu deixei? Em terapia, entendemos que o período mais importante a ser avaliado é o de seis meses que antecederam a traição. Como andava o carinho, o diálogo, o sexo? Dedicava tempo suficiente para o outro? Fazia com que ele/ela se sentisse amado, valorizado e especial? Permiti interferências externas excessivas (parentes, crises financeiras, trabalho)? Tornei nossa casa um ambiente desagradável e áspero – estresse, brigas e agressões? Descuidei do meu corpo, da higiene e da saúde, tornando difícil a intimidade física? Dei abertura excessiva (conversas muito íntimas, contato físico inconveniente) para pessoas externas, colocando-me em situações de risco?

Após o arrependimento, o perdão e a avaliação do relacionamento, ambos estão aptos a melhorar o que perceberam de ruim, e assim fechar as portas para outras pessoas. Ao longo dos anos, podem acontecer flashs na pessoa traída, com "ataques de ciúmes". Mas, com o tempo e com a demonstração de confiança, ambos vão aprendendo a lidar com isso, os episódios se tornam menos frequentes e a convivência pode voltar a ser boa, e até mesmo melhor que antes.

Sim, é possível reconstruir um casamento após uma traição. Decida-se por ser feliz e por lutar por sua família. Todos os longos e bons casamentos passaram por fases difíceis. A diferença é que eles nem pensavam na possibilidade de desistir!

24 de outubro de 2016

Santuário, memória e profecia do Deus vivo

Santuário é memória eficaz da obra de Deus, o sinal visível que proclama como é grande o seu amor

Dentro da grande peregrinação que Cristo, a Igreja e a humanidade cumpriram e devem cumprir na história, cada cristão é convidado a se inserir e participar, a se encontrar com Deus na "Tenda do Encontro", como a Bíblia chama "o Tabernáculo da Aliança".

Um dia, Deus chamou Abraão e disse: "Parte da tua terra, da tua família e da casa de teus pais para a terra que eu te mostrarei…" e Abraão partiu como o Senhor lhe havia dito. E Abraão parte em busca da terra prometida, terra onde corre leite e mel. E inicia a peregrinação da sua vida e do seu povo guiado pelo próprio Deus.

Santuário, memória e profecia do Deus vivo

Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Depois de Abraão vem Moisés. Ele é chamado a conduzir o povo de Deus através do deserto. É o braço poderoso de Deus a fazer passar Israel pelo Mar Vermelho. Mas é o próprio Deus a prová-lo durante quarenta anos no deserto. Ele mesmo conclui: "Se tu não caminhas conosco, eu não me moverei".

Os templos ou santuários são como pedras milenares que orientam o caminho dos filhos de Deus sobre a terra. São, antes de tudo, lugar da memória, da ação poderosa de Deus na história, que é a origem do povo da aliança e da fé de cada um dos que creem.

Na tradição bíblica o santuário não é, portanto, simplesmente o fruto de uma obra humana, carregada de simbolismo cosmológico ou antropológico, mas, testemunha à iniciativa de Deus no seu comunicar-se com o homem para estreitar com ele o pacto de salvação. O significado profundo de cada santuário fez memória na fé da obra salvífica do Senhor.

Santuário assume, portanto, o caráter de memória viva originado do alto para o povo da aliança eleito e amado. Este é o permanente chamado ao fato que não se nasce como povo de Deus pela carne e pelo sangue, mas que a vida de fé nasce da iniciativa admirável de Deus que entrou na história para nos unir a Si e mudar o nosso coração e a nossa vida.

No Santuário, a fidelidade de Deus nos alcança e transforma

Santuário é memória eficaz da obra de Deus, o sinal visível que proclama a todas as gerações como é grande o seu amor, e testemunha como Ele tenha amado primeiro e quis ser Senhor e Salvador do seu povo. É o lugar da divina presença, um sinal, o lugar da sempre nova atualização da aliança dos homens com o Eterno e entre os seus. Cristo é o novo santuário, presença viva no Espírito.

Os templos cristãos são sinais. Sabemos que Deus está sempre vivo e presente entre nós e por nós. O templo é morada santa da Arca da Aliança. O santuário é o lugar do Espírito, porque é o lugar onde a fidelidade de Deus nos alcança e nos transforma.

No santuário vamos antes de tudo para invocar e acolher o Espírito Santo e levá-lo em todas as ações da vida. É sinal do chamado constante da presença viva do Espírito Santo na Igreja. Nos doando Jesus Ressuscitado, a glória do Pai, é um convite visível a atingir a invisível fonte de água viva, do qual se pode fazer sempre uma nova experiência para viver a fidelidade da aliança com o Eterno na Igreja. O santuário é o lugar privilegiado da ação sacramental, especialmente da Reconciliação e da Eucaristia.

O que devemos buscar no interior de um santuário?

O peregrino deve buscar no santuário, particularmente, a graça do perdão que o ajuda a abrir-se ao Pai, rico em misericórdia. Na celebração da Eucaristia, evento de graça que contém e exprime todas as formas de oração, o Santuário – profecia da Pátria Celeste – é um sinal, memória da nossa origem junto ao Senhor e sinal da divina presença, e também profecia da nossa pátria última e definitiva: o Reino de Deus, que se realizará quando: "Eu porei o meu santuário no meio dos homens para sempre", segundo a promessa do Eterno (cf. Ez 37,26).

O sinal do santuário não nos recorda somente de onde viemos e quem somos, mas abre também a nossa visão a discernir para onde vamos na direção da meta de nossa peregrinação na vida e na história. O Santuário, como obra das mãos do homem, nos restitui a Jerusalém Celeste, nossa mãe, a cidade que desce de Deus, toda ornada como esposa, santuário escatológico perfeito onde a divina e gloriosa presença é direta e pessoal.

No santuário ressona constantemente o "Magnificat", no qual a Igreja "viu vencer as raízes do pecado posto no início da história terrena do homem e da mulher, o pecado da incredulidade e da pouca fé em Deus, no qual Maria proclama com força a não ofuscada verdade sobre Deus: O Deus Santo e Onipotente que, desde o início, é a fonte de todo bem, aquele que 'tem feito grandes coisas'". No santuário se testemunha a dimensão escatológica da fé cristã, isto é, nosso caminho na direção da plenitude do Reino de Deus.

A Virgem Maria é o santuário do Deus vivo do Verbo de Deus, a Arca da Aliança nova e eterna. Aproximando-se de Maria, o peregrino deve sentir-se chamado a viver aquela dimensão pascal, que gradualmente transforma a sua vida através da Palavra, da celebração dos sacramentos e do trabalho a favor dos irmãos.


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/santuario-memoria-e-profecia-do-deus-vivo/


20 de outubro de 2016

A graça de recomeçar é uma dádiva de Deus

Descubra quais são os caminhos e a graça de recomeçar

Recomeçar nem sempre é fácil. Após uma queda, leva-se algum tempo para levantar. As escoriações requerem o cuidado necessário e o repouso salutar. Contudo, chegará o tempo de começar novamente. E sempre estamos recomeçando: ao ser demitido de um emprego, é necessário buscar outro. Quando a vida espiritual é descuidada, faz-se necessário retomar a caminhada. Ao mudar-se de cidade, surge o desafio de adaptar-se à nova realidade. Assim vamos recomeçando. A graça de recomeçar é uma dádiva que o Senhor Jesus Cristo nos oferece. Em Seu misericordioso amor, Ele vem ao nosso encontro e, com Sua infinita bondade, anima-nos na caminhada.

Foi assim com os discípulos que regressavam a Emaús (cf. Lc 24,13-35). Após a crucifixão e morte de Jesus Cristo, eles voltavam para o povoado de onde haviam saído. Podemos imaginar que levavam na alma a dor da decepção. Aquele no qual haviam depositado toda confiança fora morto. E eis que, enquanto caminhavam, o próprio Ressuscitado aproximou-se e pôs-se a caminhar com eles.

A graça de recomeçar é uma dádiva de DeusFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Tenha esperança

Diante da decepção que determinada situação provoca, ficamos com o rosto e o coração sombrios. Olhamos e não vemos possibilidade de futuro. Há momentos em que a derrota ofusca a esperança. Diante de tal realidade frustrante, o desânimo pode aprisionar nosso ânimo e ficarmos presos ao que não deu certo.

Os discípulos reconheceram o Senhor ao partir o pão com eles. No gesto da partilha, seus olhos se abriram, e a dor que outrora carregavam no peito tornou-se alegria revigorante. Voltaram e recomeçaram a caminhada de seguir o Mestre. Na dor e mediante as derrotas da vida, o Senhor Jesus Cristo também caminha conosco.


Não estamos sozinhos. Contudo, é necessário não nos deixarmos abater, embora tal sentimento surja involuntariamente em nossa alma. Somos humanos, mas é a divindade de Jesus Cristo que nos dá a graça de recomeçarmos sempre.

Confie na graça

Na vida, não caminhamos sozinhos, pois o Senhor vai conosco. Em meio às quedas, ferimentos e dores, Ele nos estende Sua mão misericordiosa, derrama o bálsamo do amor, revigora nossa alma já desfalecida pelo desânimo e ilumina nosso caminho com a esperança de um novo tempo. Não desanimemos. Nas quedas, confiemos n'Aquele que nos levanta e refaz nossas forças.

Sempre é possível recomeçar. Mesmo que seja necessário um período de recuperação, cultivemos a certeza de que não estamos sozinhos. A graça, o amor e a misericórdia de Cristo estão conosco. No desânimo, oremos. Na angústia, abandonemo-nos nas mãos do Senhor.


18 de outubro de 2016

Por que preciso de direção espiritual?

A direção espiritual nos instrui e nos ilumina nas decisões

Buscar uma direção espiritual é importante, porque, desde que nascemos, precisamos da ajuda do outro. No nascimento, precisamos dos cuidados de nossos pais, precisamos do alimento, do leite materno que não pode ser descartado ou substituído por outro, pois este tem sua riqueza em vitaminas. Para a criança recém-nascida, não tem jeito, ela precisa do leite humano.

Deve ser por isso que Deus quis criar o ser humano. O Senhor quis que as pessoas se relacionassem; então, criou a mulher, a fim de que ela fosse companheira, uma "auxiliar que correspondesse a ele" (Gn 2,20).

Isso também se aplica à vida espiritual. Por mais que já tenhamos um bom tempo de caminhada ao lado de Deus – sejam cinco, dez, vinte anos servindo num grupo, numa pastoral –, para que possamos dar algo precisamos também receber, precisamos de alguém que nos instrua, que nos ilumine nas decisões. Por isso, há a necessidade não só de formação, mas de alguém que caminhe conosco e nos ajude a discernir quais passos devem ser dados.

Vamos usar alguns termos para que essa reflexão fique clara: "acompanhador" e "acompanhado". Acompanhador é o diretor espiritual; acompanhado aquele que é dirigido.

Por que preciso de direção espiritual
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

No acompanhamento espiritual, pode haver um momento de "tirar as dúvidas"; contudo, nesse sentido, o acompanhado deve buscar formação, por isso o acompanhamento trata-se de um diálogo, uma partilha entre acompanhado e acompanhador, para que tal situação seja iluminada. Por essa razão, a vida de oração é imprescindível. Atenção! A vida de oração precisa ser vivida pelo acompanhador e pelo acompanhado; senão, fica muito fácil cobrar o acompanhador e jogar a responsabilidade sobre ele.

Por que preciso de um acompanhador espiritual? Porque preciso dos outros não só nas realidades básicas, humanas e profissionais, mas também na realidade espiritual. Muitas vezes, erramos, porque não temos alguém ao nosso lado para nos escutar, para dar uma luz sobre esse ou aquele assunto.


Preciso de direção espiritual, porque necessito de ajuda, porque sou falho, porque não sou perfeito. A busca por um acompanhador espiritual é também uma atitude de humildade, um remédio contra a autossuficiência, contra o orgulho. Preciso de um acompanhador, porque nem sempre estou certo. Se precisei de alguém quando criança, quando adolescente e até adulto para realizar algumas tarefas, mesmo com alguma autonomia e autoridade, preciso do outro para continuar acertando ou para errar menos.

Por fim, o acompanhador é uma boa ajuda para que se viva bem a vida espiritual e, consequentemente, para que se viva bem as outras realidades da vida, pois estão estreitamente ligadas. Quando eu estiver bem com Deus, estarei bem com o outro, estarei bem com a vida profissional e todas as outras coisas deslancharão. E mesmo que as outras realidades não estejam bem, o fato de estar bem espiritualmente, de estar sendo acompanhado, faz com que eu tenha paciência, sobriedade e calma com as confusões ao meu redor, "mesmo que a figueira não renove seus brotos, a parreira deixe de produzir, se as ovelhas desaparecerem dos pastos, estarei feliz no Senhor (Hab 3,17-18). Não significa ser passivo, mas, sendo acompanhado, terei calma para ver tal situação como um desafio a ser vencido à luz do Espírito Santo com diálogo e esperança.

13 de outubro de 2016

Armadilhas de um relacionamento conjugal

Não caia nas armadilhas do relacionamento; aprenda com elas

Quando falamos das armadilhas na vida conjugal, logo podemos pensar no quanto o outro está armando para nós ciladas ou o quanto é perigoso relacionar-se. Ainda pior é pensar o quanto podemos estar "pisando em ovos" pelo simples fato de estarmos em um relacionamento.

Acredito que a primeira coisa que precisamos ter em mente, quando se entra em um relacionamento conjugal, é que se trata de uma aventura. E como boa aventura, há inúmeras possibilidades e riscos a se viver, e é preciso ter disposição para tal empreitada.

Armadilhas de um relacionamento conjugalFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Por se tratar de pessoas humanas, logo preciso afirmar que não há determinismos a se colocar em pauta quando se trata de relacionamento. O que quero dizer? Quero dizer que, aqui, coloco algumas situações que podem ser armadilhas no relacionamento ou talvez não; talvez você as viverá ou não; pois se trata de sua humanidade que é única, e nunca numa visão determinista de que "será assim".

Armadilha da idealização

A primeira armadilha que gostaria de falar é a da idealização

Sabe aquela mulher ideal, perfeita, dos seus sonhos? Aquela que você sonhou desde sempre, que era perfeitinha para você? De voz doce e fala mansa? Ou, no caso da mulher, sabe aquele príncipe encantado, montado em um cavalo branco, que chega a tirar seu fôlego? Que bom que você traz essa idealização de "mulher" e "homem" dentro de si! É isso que o levará a se apaixonar. Mas quero dizer que isso pode ser uma armadilha, caso não seja capaz de deixar o ideal para viver e construir junto o real. É a armadilha de sempre ficar projetando no outro o que você espera dele, nunca permitindo que Ele seja o que de fato é. O pior é que muitas pessoas vivem uma vida inteira assim, com eternas cobranças! Vivem o conto de fadas e se esquecem de encarar a realidade.

Armadilha da história pessoal

Uma segunda armadilha, que pode ser encarada em um relacionamento conjugal, é a "história pessoal". Como assim? Minha história pessoal pode ser uma armadilha? Sim e não. Sim, se essa história não estiver em processo de integração. O que quero dizer é que quando entramos em um relacionamento, trazemos conosco, em nossa bagagem existencial, um arsenal de vivências afetivas. Situações que nos fizeram quem somos, marcando positiva e negativamente nossa identidade. E é com essa bagagem existencial que vamos nos relacionar com o outro. Nessa hora, é preciso muita paciência e vontade de entender cada um a si mesmo, e entender o outro como um outro.

Por exemplo: talvez a menina tenha, em sua história, um relacionamento com figuras masculinas (pai, irmão, avó e amigo) mais rígidas, de desafetos, de palavras inexistentes ou duras. Essas figuras masculinas moldaram a identidade dessa menina, e na hora de se relacionar com o rapaz, inevitavelmente sua história (de maneira talvez inconsciente) dará "cor" ao relacionamento. Talvez, essa cor seja a de uma identificação e até repetição na forma de olhar para o rapaz com o qual se relaciona e ver nele como que um reflexo das "figuras masculinas" que a formou. Tais reações podem ser de cobrança, insatisfação, frustração etc.


Armadilha da negação

Uma terceira armadilha é a negação de si em prol do outro. Primeiro quero deixar claro que, quando nos relacionamos com alguém, há uma necessária negação de algumas realidades em prol do bem comum do relacionamento. Essa negação é feita por acordos tácitos entre as partes. Exemplo: se você é extremamente pontual e sua namorada não, talvez terão de entrar em acordos, e ela terá de negar "sua vida de atrasos" em prol de seu sorriso; ou talvez você tenha de negar sua rigidez com horários em prol do sorriso dela. Exemplo tosco, mas que diz de pequenas negações.

Quando falo da armadilha da negação de si em prol do outro, falo de uma negação existencial, falo da negação do que em você é essencial, e isso não é amor. Quando você nega a essência de si mesmo, trilha um caminho de morte de sentido da vida. E muitos relacionamentos, em vez de trazer vida, trazem morte para aqueles que se relacionam. Por isso, não entre nesse caminho de negação de si mesmo, pois se perde com isso sua definição como mulher/homem de Deus.

Poderia gastar aqui muitas páginas falando de armadilhas no relacionamento conjugal, mas dessas três você pode ir pensando nas armadilhas que tem vivido em seu relacionamento particular. Não tenha medo de se aventurar e superar tais armadilhas, pois o que está em jogo é sua felicidade.



Adriano Gonçalves

Mineiro de Contagem (MG), Adriano Gonçalves dos Santos é membro da Comunidade Canção Nova. Cursou Filosofia no Instituto da Comunidade e é acadêmico de Psicologia na Unisal (Lorena). Atua na TV Canção Nova como apresentador do programa Revolução Jesus. Mais que um programa, o Revolução Jesus é uma missão que desafia o jovem a ser santo sem deixar de ser jovem. Dessa forma, propõe uma nova geração: a geração dos Santos de Calça Jeans. É autor dos seguintes livros: "Santos de Calça Jeans", "Nasci pra Dar Certo!" e "Quero um Amor Maior"


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/relacionamento/casamento/armadilhas-de-um-relacionamento-conjugal/

10 de outubro de 2016

Sexualidade humana: verdade e significado

Como explicar o verdadeiro significado da sexualidade

Entre as múltiplas dificuldades que os pais encontram, hoje, mesmo tendo em devida conta os diversos contextos culturais, está certamente a de poder oferecer aos filhos uma adequada preparação para a vida adulta, em particular no que se refere à educação para o verdadeiro significado da sexualidade. As razões dessa dificuldade, que aliás não é de todo nova, são diversas.

No passado, mesmo quando da parte da família, não se dava uma explícita educação sexual, todavia, a cultura geral, marcada pelo respeito dos valores fundamentais, servia objetivamente para os proteger e conservar.

Sexualidade Humana Verdade e SignificadoFoto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Valores fundamentais

A falta dos modelos tradicionais, em grande parte da sociedade, tanto nos países desenvolvidos como naqueles em vias de desenvolvimento, deixou os filhos privados de indicações unívocas e positivas, enquanto os pais se acharam impreparados para dar as respostas adequadas. Este novo contexto é ainda agravado por um obscurecimento da verdade sobre o homem a que assistimos e em que age, entre outras coisas, uma pressão em direção à banalização do sexo.

Há, portanto, uma cultura em que a sociedade e os meios de comunicação, a maior parte das vezes, oferecem a esse respeito uma informação despersonalizada, lúdica, muitas vezes pessimista; além disso, sem consideração pelas diversas etapas de formação e de evolução das crianças e dos jovens, sob o influxo de um distorcido conceito individualista da liberdade e num contexto privado de valores fundamentais sobre a vida, sobre o amor humano e a família.

Então, a escola, que se tornou disponível a desenvolver programas de educação sexual, fê-lo, muitas vezes, substituindo-se a família e o mais das vezes com intenções puramente informativas. Às vezes, chega-se a uma verdadeira deformação das consciências. Os próprios pais, por causa da dificuldade e da falta de preparação, renunciaram, em muitos casos, a sua tarefa neste campo ou resolveram delegá-la noutra pessoa.

Nessa situação, muitos pais católicos voltam-se para a Igreja, a fim de que essa se encarregue de dar uma orientação e sugestões para a educação dos filhos, sobretudo na fase da infância e da adolescência. Em particular, os próprios pais manifestam, às vezes, a sua dificuldade diante ao ensino, que é dispensado na escola e, portanto, trazido para casa pelos filhos. O Conselho Pontifício para a Família tem, por isso, recebido repetidos e prementes pedidos para que se possa dar uma direção de apoio aos pais neste delicado setor educativo.

Educação para o amor

O nosso Dicastério, consciente dessa dimensão familiar da educação para o amor e a reta vivência da própria sexualidade, deseja propor algumas linhas de orientação de caráter pastoral, tiradas da sabedoria que provém da Palavra do Senhor e dos valores que iluminaram o ensino da Igreja, consciente da "experiência de humanidade" que é própria da comunidade dos crentes.

Queremos, portanto, antes de mais nada, ligar esse subsídio com o conteúdo fundamental relativo à verdade e ao significado do sexo, no quadro de uma antropologia genuína e rica. Oferecendo essa verdade, sabemos que "todo aquele que é da verdade" (Jo 18, 37) escuta a Palavra d'Aquele que é a própria verdade em pessoa (cf. Jo 14,6).

Esse guia não quer ser nem um tratado de teologia moral nem um compêndio de psicologia, mas quer ter em devida conta as aquisições da ciência, as condições socio-culturais da família e a proposta dos valores evangélicos que conservam para cada idade frescura nascente e possibilidade de encarnação concreta.

Algumas certezas indiscutíveis sustêm a Igreja neste campo e guiaram também a elaboração deste documento.

O amor, que se alimenta e se exprime no encontro do homem e da mulher, é dom de Deus; é, por isso, força positiva, orientada à sua maturação enquanto pessoas; é também uma preciosa reserva para o dom de si que todos, homens e mulheres, são chamados a realizar para a sua própria realização e felicidade, num plano de vida que representa a vocação de todos. O ser humano, com efeito, é chamado ao amor como espírito encarnado, isto é, alma e corpo na unidade da pessoa. O amor humano abarca também o corpo e o corpo exprime também o amor espiritual.


A sexualidade, portanto, não é qualquer coisa de puramente biológico, mas se refere antes ao núcleo íntimo da pessoa. O uso da sexualidade como doação física tem a sua verdade e atinge o seu pleno significado quando é expressão da doação pessoal do homem e da mulher até a morte. Esse amor está exposto, assim como toda a vida da pessoa, à fragilidade devida ao pecado original e ressente-se, em muitos contextos socio-culturais, de condicionamentos negativos e, às vezes, desviantes e traumáticos. A redenção do Senhor, contudo, tornou uma realidade possível, e um motivo de alegria, a prática positiva da castidade, tanto para aqueles que têm vocação matrimonial — seja antes, durante a preparação, seja depois, no decurso da vida conjugal como também para aqueles que têm o dom de um chamamento especial à vida consagrada.

Na ótica da redenção e no caminho formativo dos adolescentes e dos jovens, a virtude da castidade, que se coloca no interior da temperança,— virtude cardeal que no batismo foi elevada e impregnada pela graça,— não é entendida como uma virtude repressiva, mas, pelo contrário, como a transparência e, ao mesmo tempo, a guarda de um dom recebido, precioso e rico, o dom do amor, em vista do dom de si que se realiza na vocação específica de cada um. A castidade é, portanto, aquela "energia espiritual que sabe defender o amor dos perigos do egoísmo e da agressividade e sabe promovê-lo para a sua plena realização".

O que diz o Catecismo da Igreja Católica?

O Catecismo da Igreja Católica assim descreve e, em certo sentido, define a castidade: a castidade significa a integração conseguida da sexualidade na pessoa, e daí a unidade interior do homem no seu ser corporal e espiritual".

A formação para a castidade, no quadro da educação do jovem para a realização e o dom de si, implica a colaboração prioritária dos pais também na formação para outras virtudes, como a temperança, a fortaleza, a prudência. A castidade como virtude não pode existir sem a capacidade de renúncia, de sacrifício e espera.

Ao dar a vida, os pais cooperam com o poder criador de Deus e recebem o dom de uma nova responsabilidade: a responsabilidade não só de alimentar e satisfazer as necessidades materiais e culturais dos seus filhos, sobretudo de lhes transmitir a verdade da fé vivida e de os educar no amor de Deus e do próximo. Tal é o seu primeiro dever no seio da "igreja doméstica".

A Igreja sempre afirmou que os pais têm o dever e o direito de serem os primeiros e os principais educadores dos seus filhos.

Retomando o Concílio Vaticano II, o Catecismo da Igreja Católica recorda: os jovens devem ser conveniente e oportunamente instruídos, sobretudo no seio da própria família, acerca da dignidade, missão e exercício do amor conjugal".

As provocações, hoje provenientes da mentalidade e do ambiente, não podem desencorajar os pais. Por um lado, de fato, é preciso recordar que os cristãos, desde a primeira evangelização, tiveram de afrontar desafios semelhantes do hedonismo materialista. Além disso, "a nossa civilização, que aliás registra tantos aspectos positivos no plano material e cultural, deveria dar-se conta de ser, em diversos pontos de vista, uma civilização doente, que gera profundas alterações no ser humano. Por que se verifica isso? A razão está no fato de que a nossa sociedade se distancia da plena verdade sobre o ser humano, da verdade sobre o que o homem e a mulher são como pessoas. Por conseguinte, não sabe compreender de maneira adequada o que sejam verdadeiramente o dom das pessoas no matrimônio, o amor responsável e ao serviço da paternidade e da maternidade, a autêntica grandeza da geração e da educação".

É por isso indispensável a obra educativa dos pais, os quais se "ao darem a vida tomam parte na obra criadora de Deus, pela educação tornam-se participantes da sua pedagogia conjuntamente paterna e materna. Por meio de Cristo, toda a educação, na família e fora dela, é inserida na dimensão salvífica da pedagogia divina, que se dirige aos homens e às famílias e culmina no mistério pascal da morte e ressurreição do Senhor".

Os pais, no seu dever, às vezes delicado e árduo, não devem desanimar, mas confiar no apoio de Deus Criador e de Cristo Redentor, recordando que a Igreja reza por eles com as palavras que o Papa Clemente I dirigia ao Senhor por todos aqueles que exercem em seu nome a autoridade: ""Dai-lhes, Senhor, a saúde, a paz, a concórdia, a estabilidade para que exerçam, sem obstáculos, a soberania que lhes confiastes. Sois Vós, ó Mestre, celeste rei dos séculos, que dá aos filhos dos homens glória, honra e poder sobre as coisas da terra. Dirigi, Senhor, o seu conselho segundo o que é bem, segundo o que é agradável aos vossos olhos, para que exercendo com piedade, na paz e na mansidão, o poder que lhes destes, vos encontrem propício".

Por outro lado, os pais, tendo dado a vida e tendo-a acolhido num clima de amor, são ricos de um potencial educativo que nenhum outro detém: conhecem de um modo único os próprios filhos, a sua irrepetível singularidade e, por experiência, possuem os segredos e os recursos do amor verdadeiro.

Fonte: vatican


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/afetividade-e-sexualidade/vida-sexual/sexualidade-humana-verdade-e-significado/

7 de outubro de 2016

Por que algumas mulheres sofrem de depressão pós-parto?

Pós-parto: o que acontece no organismo para gerar a depressão? Conheça os sintomas e tratamentos

Quando olhamos um comercial com bebês lindos e mães felizes e realizadas na maternidade, amamentando, cuidando com tranquilidade de seus filhos, isso nos passa a sensação de que gerar uma criança é uma das coisas mais naturais e fáceis do mundo! Bom, quem passou por isso sabe que, na verdade, esse é um dos maiores desafios na vida de um casal.

O período pós-parto é extremamente exigente, com muita carga de aprendizado, imenso cansaço devido ao sono acumulado, dificuldades de adaptação à amamentação e fortes expectativas sobre a capacidade de cuidar do bebê.

Por que algumas mulheres sofrem de depressão pós-partoFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Além disso, as alterações no corpo da mulher são muito intensas, abalando-a física e emocionalmente. Em torno do quinto dia pós-parto, acontece uma queda hormonal importante, causando vontade de chorar e tristeza (Chamado Baby Blues). Tudo isso acaba gerando uma sensação de incapacidade, instabilidade emocional, que é comum a quase todas as novas mães. Mas, em cerca de 15% delas, esses sintomas podem se tornar mais fortes e duradouros, gerando também uma certa rejeição ao bebê e falta de desejo de interação com ele. Nesses casos, chamamos esse abalo psíquico-emocional de depressão pós-parto.

É difícil determinar os fatores que propiciam essa evolução do processo natural de esgotamento e adaptação à nova realidade para a depressão pós-parto. Já se sabe que as fortes expectativas durante a gravidez, a falta de suporte e de ajuda por parte do marido, e a própria tendência emocional da paciente são fatores importantes. Mas acho necessário mostrar que praticamente todas as mães passam por um período de abalo importante. A diferença está no grau e no tempo. O natural é que esses sentimentos se amenizem em duas semanas. E que, mesmo esgotada, a mãe sinta carinho e tenha capacidade de dar afeto ao bebê. Se os sentimentos ruins se prolongarem por mais tempo, e se isso estiver afetando o desejo de estar com o bebê, e até mesmo gerando sentimentos ruins em relação a ele (pensamentos de morte, de abandono, desejo de afastamento), é indispensável que se converse com o obstetra e, se possível, com o psiquiatra.

Depressão pós-parto é uma doença

É uma doença, precisa de diagnóstico e tem tratamento (feito à base de antidepressivos por um período). O atraso nesse acompanhamento pode trazer repercussões para o bebê, para a mãe e para toda a família. Aliás, o papel dos familiares é muito importante. A mãe precisa se sentir segura, entendida. Enquanto se espera que o tratamento dê resultados, os outros familiares precisam suprir as necessidades do recém-nascido, também emocionalmente, até que a mãe possa se restabelecer. Essa ajuda dos que estão próximos pode adiantar o processo de melhora. Se você está passando por esse período, eu a convido a ter a coragem de pedir ajuda. Seu médico e sua família podem ajudá-la. Fale com eles sobre seus sentimentos, e você verá que o tratamento pode aliviar essa grande dificuldade.


Existe um tabu sobre a maternidade, como se toda mulher tivesse que nascer sabendo como cuidar de uma criança (além de muitos outros, como tipo de parto, amamentação…). Eu lhe digo, porém, que você não precisa saber tudo. Se Deus lhe confiou um filho, é porque Ele sabe que você é capaz de aprender a se relacionar com ele. É uma construção!

Uma mãe de verdade é feita no dia a dia, a cada interação com sua criança, a cada desafio enfrentado. Não se cobre tanto. É uma nova fase, onde tudo é novo e sua estrutura antiga foi jogada pelos ares. Não é fácil. Mas eu tenho a certeza de que Deus não nos dá nada que não seja o melhor. Se você se abrir e focar no que realmente é importante, verá que esse momento é um dos mais belos e ricos da sua vida. Você está aprendendo a amar como nunca antes, e terá a chance de entender um pouco mais o amor que Deus Pai tem por você.

Lembro que, quando meu filho nasceu, fiquei muito cansada e sem saber o que fazer. Tive o apoio do meu marido e da família. Mas quando eu, realmente, chegava ao limite, minha Mãe do Céu, Maria, sempre se tornava próxima, e eu via nela o exemplo de superação. Afinal, ela passou por isso, sendo uma jovem de 14-15 anos, longe de casa e da pouca estrutura que eles tinham preparado.

5 de outubro de 2016

Fui para fora. E agora?

Agora que fui para fora do país e deixei o conforto do lar, o que fazer?

Você já teve vontade de pegar uma mala e conhecer outras culturas, pessoas e ter novas oportunidades? Esse sonho pode se tornar realidade, desde que você tenha a coragem de enfrentar os desafios próprios de uma vida fora do seu país.

fuiparaforaeagora.jpg Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

O cancaonova.com traz para você a série 'Do Brasil para o Mundo', que apresenta a história de cinco jovens brasileiros que se aventuraram para realizar o sonho de morar no exterior.

Existem vários tipo de intercâmbio que proporcionam às pessoas oportunidades de sair do Brasil e fazer experiências no exterior. Seja a trabalho, estudo ou até mesmo lazer, é possível conhecer outras partes do mundo. O intercambista precisa ter flexibilidade para vivenciar essa realidade, porque, ao sair da sua comodidade para enfrentar uma outra realidade fora do país, ele sai do domínio do seu espaço, horários e planos. Em um outro local, com uma nova cultura, é preciso adaptar as suas necessidades externas e viver um amadurecimento.

A psicóloga Karina Luz afirma: "A pessoa passa a compreender que nem tudo é na sua hora, no seu exato momento, não é da forma que deseja, mas pode ser como o outro planejou. Então, é preciso ter flexibilidade de lidar com as diferenças de pensamentos e cultura".

São diversos os benefícios de uma pessoa que sai da zona de conforto da família e do país para enfrentar o desconhecido. Entretanto, é preciso tomar cuidado para que o sonho não se torne um pesadelo no qual a pessoa perde os seus valores e sua fé. O autoconhecimento é essencial, como explica Karina Luz: "Se a pessoa não sabe de si mesma, existe a grande abertura para a influência negativa. Existem pessoas que, ao se encontrarem em um outro cenário, num outro grupo, vão realmente se moldando nesse outro grupo, distorcendo os seus valores, e isso é extremamente prejudicial, porque simplesmente afasta o ser humano de si mesmo".



Fernanda Soares

Fernanda Soares é missionária da Canção Nova. Foi apresentadora do programa Revolução Jesus e Vitrine da TV Canção Nova. Jornalista. Foi uma das apresentadoras no palco principal da Jornada Mundial da Juventude Rio 2013. Autora dos livros "A mulher segundo o coração de Deus" e "A beleza da mulher a ser revelada". Hoje trabalha como produtora de conteúdo no setor de Internet da Canção Nova.


Fonte: http://formacao.cancaonova.com/series/do-brasil-para-o-mundo/fui-para-fora-e-agora/