7 de julho de 2023

São Tomé Apóstolo: tocou o lado aberto do Senhor e recebeu o choque da ressurreição


Também chamado de Dídimo, foi um dos 12 apóstolos originalmente escolhidos por Cristo. O nome dele está ligado à expressão "ver para crer", pois ele estava ausente e duvidou da ressurreição de Jesus.

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Hoje a Igreja nos recorda a vida e o testemunho de um conhecido e pouco entendido personagem, São Tomé. Este fez parte do grupo especial dos 12 Apóstolos escolhidos por Jesus (cf. Mc 3,18; Mt 10,3). Seu nome, infelizmente, tornou-se objeto de piadas e até de apelidos para pessoas desconfiadas. Vamos aqui, então, fazer um esforço de apresentar traços e outros componentes da personalidade desse grande servo de Deus. Vejamos, desse modo, como a sua noite da fé foi uma oportunidade de, mais uma vez, Jesus Ressuscitado manifestar seu poder e glória.

Origem de Tomé

Tomé era um judeu, natural da região da Galileia e, provavelmente, assim como Pedro, era também um pescador de profissão. Seu nome: Tomé ou Tomás, significa "gêmeo" e, no idioma grego, se escreve: Didymus e aparece onze vezes no Novo Testamento. Esse componente linguístico de seu nome leva os historiadores bíblicos a suporem que ele tinha um irmão gêmeo. Tomé foi um dos importantes servos que estiveram na companhia de Pedro, João e dos outros apóstolos. Por três anos, ouviu e presenciou os discursos e ações de Jesus. Após a paixão e morte do Senhor, ele foi também um dos abençoados pelo derramamento do Espírito Santo na manhã de Pentecostes (cf. Jo 20,19-23).

Ardor missionário

Há indícios e relatos de que, após a Ressurreição, Ascensão de Jesus e de Pentecostes, tenha partido cheio de ardor e parresia para a Índia. Ali, consumiu sua vida, empenhando esforços para que mais corações pudessem, como ele, tocar o lado aberto do Senhor. Tomé, com certeza, representa a cada um de nós quando passamos por momentos de dúvida ou mesmo de provações. Para recordar, leia essa passagem, mergulhe no estado emocional e nas suspeitas de seu coração:

"Tomé, chamado Dídimo, que era um dos 12, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos contaram-lhe depois: 'Vimos o Senhor!' Mas Tomé disse-lhes: 'Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei'. Oito dias depois, encontravam-se os discípulos novamente reunidos em casa e Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: 'A paz esteja convosco'. Depois disse a Tomé: 'Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel'. Tomé respondeu: 'Meu Senhor e meu Deus!' Jesus lhe disse: 'Acreditaste porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!'" (Jo 20,24-29).

Testemunha de vida, onde só havia morte

Viu só? Sua experiência de vacilo na confiança acaba nos ajudando a entender que Deus tem paciência com os mais frágeis. Mas ensina também como devemos ser dóceis e rendidos, quando essa verdade se apresenta. Talvez você que lê essa breve biografia desse servo, viva também como ele, momentos de dúvidas, medos e incertezas. Se junte a mim! Peçamos a Deus por intercessão de São Tomé Apóstolo, um batismo na misericórdia. Que essa graça, possa dissipar toda sombra de dúvidas e suspeitas do poder de Deus, que faz brotar vida, onde, aos olhos do mundo, só existe escuridão e morte.

São Tomé Apóstolo, rogai por nós.


Fonte: https://comshalom.org/sao-tome-apostolo-tocou-o-lado-aberto-do-senhor-e-recebeu-o-choque-da-ressurreicao/


4 de julho de 2023

Férias: uma pausa necessária para ter a força de recomeçar


As férias sempre representam um período desejado e esperado, mas temos, até pela rotina acelerada dos nossos dias, dificuldade para conseguir efetivamente descansar nosso corpo e nossa mente. Então, como viver esse tempo da melhor forma possível?

Alguns passos podem ser dados nesse sentido:

  • Escolha algo agradável para fazer nesse tempo: talvez você não possa fazer uma longa viagem, mas existem passeios breves e até mesmo gratuitos que você possa fazer;
  • Reduzir seus acessos ao mundo virtual: o excesso de solicitações pelas redes sociais, WhatsApp e tantos meios ocupam um bom tempo em nossa vida, e a urgência em responder a esses chamados precisa ser revista na vida em geral, mas especialmente, nas férias. Deixe horários específicos para responder mensagens, selecione prioridades, faça avisos de férias e, para o caso de urgências, indique que procurem por ligação.
  • Encontre amigos, familiares, pessoas queridas: muitas vezes, nossa rotina não permite que encontremos pessoalmente quem amamos. Estabelecer contato presencial, tomar um cafezinho, passear, visitar, sempre é uma oportunidade de reestabelecer contatos agradáveis e mudar os ambientes.

Créditos: Daniel de la Hoz by GettyImages/cancaonova.com

Mais dicas:

  • Mantenha sua rotina de atividades físicas: não deixe de fazer aquilo que você faz cotidianamente. Estar em movimento ajuda nosso corpo a descansar e ter experiência com outros estímulos.
  • Se for necessário estar alerta para seu trabalho pela necessidade, combine horários nos quais você verá mensagens e as responderá.
  • Próximo da data de retorno, vá voltando aos horários de acordar e dormir, evite mudanças bruscas, pois essa alteração intensa nos horários até a véspera de voltar das férias pode ser prejudicial para qualquer idade.
  • Evite o hábito de maratonar séries por horas, mudando os estímulos e oferecendo outras coisas para seu descanso, como a música, por exemplo.
  • Se você é casado e tem filhos, dedique um tempo para conviver mais de perto com eles, caso tenha maior dificuldade em tempos de trabalho.
  • Faça artesanato, atividades manuais ou jogos de tabuleiro ou cartas com outras pessoas, dando outras possibilidades para sua mente.
  • Descanso independe de dinheiro, mas da forma como vamos organizar esse tempo de pausa, então, faça um pequeno plano.

Faça uma pausa do dia a dia

Quando temos uma rotina estabelecida, nosso cérebro automaticamente já assume horários, jeitos e formas de trabalhar. Nos primeiros dias de férias, portanto, haverá maior dificuldade para nos desligarmos disso tudo. Nosso cérebro não para nas férias, mas poder ter um ritmo diferente com coisas diferentes, que trarão outros estímulos cognitivos, é muito benéfico.


A vida não para quando saímos de férias, nem nosso cérebro, mas nós precisaremos fazer pequenos planejamentos para que tenhamos uma pausa agradável e reconfortante para nossa saúde física e mental.



Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro dos Santos é Psicóloga Clínica pela Universidade de São Paulo (USP). Colaboradora da Comunidade Canção Nova, reúne 20 anos de experiência profissional, atuando nas cidades de São Paulo, Lorena e Cachoeira Paulista, além do atendimento on-line para o Brasil e o Exterior. Dentre suas especializações estão Terapia Cognitivo-Comportamental, Neuropsicologia e Psicologia Organizacional. Instagram:  @elaineribeiro_psicologa 


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/ferias-uma-pausa-necessaria-para-ter-a-forca-de-recomecar/


27 de junho de 2023

Por que os gestos de fé têm se tornado tão inconvenientes?


Caro internauta, gostaria de fazer-lhe uma provocação por meio de alguns questionamentos que devem ser respondidos de maneira bastante sincera. Você, católico, em algum momento da sua vida já se sentiu envergonhado ou acuado por falar de Deus (ou em Deus)? Refiro-me àquele sentimento que gera no nosso interior pensamentos do tipo: "Se eu falar de Deus, o que ela vai pensar de mim?". Mas você já resistiu em dizer publicamente a frase "Deus abençoe você", "Deus lhe pague" ou "Graças a Deus"? Ou já se sentiu envergonhado por traçar o sinal da cruz em frente a uma Igreja? Essa inibição interior, diante dos sinais e gestos de fé, não é uma questão muito trabalhada por nós, contudo, esse movimento interior acontece muito frequentemente.

Meu propósito com esse artigo não é dizer que a falta da demonstração de fé é errado ou que é pecado nem mesmo afirmar que essa demonstração é algo importantíssimo, embora o seja. Meu objetivo é recuar um passo, olhar com certa distância para essa situação e lançar uma pergunta: você já se perguntou de onde vem essa vergonha?

Em outras palavras, acredito que não seja exagero afirmar que o mais grave não é abster-se dessas belas demonstrações de fé que, por sinal, todo cristão deveria considerar um comportamento natural, o mais grave, porém, é não ter se perguntado, ainda, qual a causa de tal sentimento de timidez. Afinal de contas, um católico esclarecido e, porque não dizer autêntico, não deveria ter constrangimento ou receio em demonstrar a sua crença, seja onde for ou para quem for.

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Foto Ilustrativa: Ridofranz by Getty Images

Por que, então, isso acontece?

Desejo, aqui, ensaiar uma proposição. Isso acontece, mormente, motivado pelo medo de ser julgado! Ora, é julgado aquele que cometeu algum tipo de infração. Demostrar a fé, graças a Deus, ainda não se tornou um crime diante da legislação brasileira, porém, tem se tornado, nos últimos anos, um "crime" diante do pensamento coletivo.

De alguma forma, esse pensamento foi inserido, reforçado e acabou se alastrando em nossa sociedade. Nós, de alguma forma, acabamos por aceitar a ideia de que Deus é ultrapassado, de que a fé é coisa para quem não tem inteligência, de que se torna chato e inconveniente aqueles que falam de Deus, de que é ignorante aquele que acredita n'Ele. Sendo assim, está se cristalizando em nossa cultura a ideia de que as demonstrações de fé devem ser evitadas, principalmente de maneira pública.


Não se engane, essa forma coletiva de pensamento não é um desdobramento natural do comportamento humano, tendo em vista que a religiosidade é intrínseca ao ser humano. Esse comportamento, ao contrário, é artificial, ou seja, trata-se de algo que está sendo forçado e moldado em nossa cultura. Muitos "vírus" foram e ainda continuam sendo lançados nos nossos mais autênticos costumes, e têm se alastrado enormemente. Esse, inequivocamente, é mais um deles! Essa era secularizada é fruto de uma sociedade moribunda.

Remédio para os novos tempos

Para concluir, gostaria de citar uma passagem bíblica, que pode ser encontrada em 2 Tim 4,2-3, que afirma que "virá tempo" e, esse tempo já chegou, em que as pessoas não suportarão a sã doutrina. Nesse tempo, a sã doutrina seria a causa de comichão nos ouvidos, ou seja, seria algo incômodo e inoportuno. Contudo, a palavra de Deus nos dá uma ordem contrária a essa tendência, seria como um antídoto para esse veneno ou o remédio para essa doença: "prega a palavra, insiste oportuna e inoportunamente".

Portanto, sigamos ao pedido do Sumo Pontífice o Papa Francisco "non abbiate paura!", "não tenha medo!" de abrir as portas para Cristo. Sejamos cristãos autênticos a exemplo dos nossos santos.

Deus abençoe você.
Até a próxima!


Gleidson Carvalho

Gleidson de Souza Carvalho é natural de Valença (RJ), mas viveu parte de sua vida em Piraúba (MG). Hoje, ele é missionário da Comunidade Canção Nova, candidato às ordens sacras, licenciado em Filosofia e bacharelando em Teologia, ambos pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP). Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, na Liturgia do Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários. Apresenta, com os demais seminaristas, o "Terço em Família" pela Rádio Canção Nova AM. (Instagram: @cngleidson)


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/por-que-os-gestos-de-fe-tem-se-tornado-tao-inconvenientes/


24 de junho de 2023

São João Batista, o precursor de Jesus


Na missa solene de São João Batista, o prefácio apresenta algumas características significativas: "Proclamamos, hoje, as maravilhas que operastes em São João Batista, precursor de vosso Filho e Senhor nosso, consagrado como o maior entre os nascidos de mulher. Ainda no seio materno, ele exultou com a chegada do Salvador da humanidade, e seu nascimento trouxe grande alegria. Foi o único dos profetas que mostrou o Cordeiro redentor. Batizou o próprio autor do batismo nas águas assim santificadas e, derramando seu sangue, mereceu dar o perfeito testemunho de Cristo (…)".

Primeiro, apresenta-o em sua característica de "precursor".  Explicada no dicionário como "que ou o que precede, anuncia, prenuncia, prepara ou indica a vinda ou o acontecimento de; que ou o que vai adiante, anuncia algo de novo ou se antecipa a (alguém ou algo)". E, realmente, viveu em função do seu primo Jesus, anunciando e antecipando a sua chegada. Santificou-se dessa maneira, assim como nos ensina o mesmo ministério de preparar as pessoas para o encontro com Cristo.

São João Batista, o maior no Reino

Por outro lado, foi elogiado pelo próprio Salvador, como o maior no Reino: "Em verdade eu vos digo, dentre os que nasceram de mulher, não surgiu ninguém maior que João, o Batista" (Mateus 11,11). Mas, mesmo assim, destacou-se por sua humildade, como comenta Santo Agostinho: "A 'humildade de João constitui o seu maior mérito; ele poderia enganar os homens, passar por Cristo, ser visto como Cristo, tão grandes eram a sua graça e a sua virtude, e contudo declara abertamente: «Eu não sou Cristo. – És Elias? […] – Não sou Elias» (Jo 1,20-21)'".

Créditos: zoom-zoom by GettyImages.

Reconhecendo sua função, lugar e papel na história da salvação, pôde anunciar com vigor aquele que tirou o pecado do mundo (cf. Jo 1,29). Jesus é reconhecido como "cordeiro", pois ele é a oferenda expiatória por todos os pecados, a oferenda perfeita e única. No rito de perdão dos pecados (Yom Kipur), a comunidade escolhia um cordeiro sem defeito. E lançava sobre ele seus males, para que fosse ofertado a Deus.

O livro de Levítico demonstra essa realidade, e como deveria ser feito (Lv 16), do mesmo modo fizeram com o Senhor. João foi aquele que apontou, ou seja, indicou qual era o Cordeiro a ser oferecido de modo definitivo: "É Ele! Ele é aquele que retira todo e qualquer pecado do mundo".


Que João Batista interceda por nós!

João Batista também "anuncia a chegada dos tempos messiânicos, nos quais a esterilidade se tornará fecundidade e o mutismo, exuberância profética" (cf. Missal Dominical – Missal da Assembleia Cristã), tendo seu ápice no Batismo de Jesus. Mesmo sem precisar ser batizado, Jesus ali revelava a sua filiação divina, que fora confirmada por seu primo que testemunha: "Eu o vi e dou testemunho de que ele é o Filho de Deus" (Jo 1, 34). Esse ato inaugura o tempo da graça e a manifestação divina de Jesus.

Assim encerra a liturgia com a oração do Oremos, sobre O batista: "Ó Deus, que suscitastes São João Batista, a fim de preparar para o Senhor um povo perfeito, concedei à vossa Igreja as alegrias espirituais e dirigi nossos passos no caminho da salvação e da paz. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!".

Que Ele interceda por nós e também nos prepare, de modo perfeito, para fazer, em tudo, a vontade do Pai. Que Deus, nosso Pai, nos inspire a pôr em prática esses ensinamentos.


 


Rafael Vitto

Rafael Vitto, seminarista CN. Graduado em Filosofia e estudante de Teologia. Atuante na paróquia São Sebastião em Cachoeira Paulista.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/sao-joao-batista-o-precursor-de-jesus/


21 de junho de 2023

A ansiedade e o tempo de Deus


Precisamos descer mais profundo em nós, com e em Deus, para nEle darmos sentido a todos os movimentos que existem em nós.

comshalom Foto: Unsplash

Dentro da nossa vida vamos nos deparando com diversas situações que nos fazem esperar, ansiar por uma resolução. No entanto, como será? Tal resolução será como nós queremos ou esperamos? Será que diante de nossa vida em Cristo permitimos que Ele seja senhor do nosso tempo? Que Ele seja aquele em quem confiamos diante das adversidades de nossa vida, tais cruzes que são naturais e necessárias para o nosso crescimento e amadurecimento como seres humanos e como discípulos de Cristo.

Vivemos hoje em um tempo envolto de racionalidade, onde a razão, embora não seja má em si, passa a ter um lugar de destaque que retira a providência de Deus nas nossas vidas. Nossa racionalidade ferida pelo pecado faz com que nós sejamos ou estejamos à mercê de nós mesmos, de nossas vontades e controles, acreditando que somos nós, somente nós que providenciamos tudo em nossas vidas. Que o nosso trabalho depende unicamente de nós, que alcançar nossas metas depende unicamente de nossa própria vontade.

Esquecemos quer, na verdade, tudo vem de Deus, seja a nossa saúde, a nossa capacidade de trabalhar, a nossa inteligência, absolutamente tudo tem princípio naquele que pensou em nós antes mesmo que existíssemos. Quando surgem em nossas vidas situações internas ou externas que não dependem de nós podemos acabar não sabendo administrá-las corretamente e isso nos leva a uma ansiedade patológica, uma vez que a ansiedade em si é o que nos impulsiona a agir diante das realidades da vida, mas quando se torna patológica acabamos reféns de nós mesmos. De nossa mentalidade, de nossa racionalidade ferida pelo pecado em nós que gera em nós uma rachadura que não permite que estejamos completos, mas que nos causa um estranhamento sobre nós mesmos.

A ansiedade patológica

Diante dessa ansiedade patológica em nossas vidas podemos acabar perdendo a confiança em Deus, não só podemos, mas normalmente acabamos nos perdendo nessa esperança e confiança naquele que é a própria Providência de Amor e Misericórdia para nós. Essa desconfiança, essa falta de esperança, nos leva ainda mais fundo em nós mesmos, não em um processo sadio de autoconhecimento que nos faz crescer, mas num processo de fechamento em nós, de negação, de um pessimismo doentio, ao ponto de olhar para tudo e todos como inimigos ou mesmo como ameaças reais e iminentes contra nós.

Ao contrário do que muitos pensam, sair desse processo não é algo fácil ou rápido, que depende unicamente de nós mesmos, mas é um processo doloroso e demorado, onde por diversas vezes ao invés de curar acabamos magoando a ferida que há em nós mesmos. Diversos fatores dificultam ainda mais esse processo de cura e cicatrização: a incompreensão de muitos que convivem conosco, o distanciamento daqueles ao nosso redor por não quererem ter relações com quem sofre, a falta de aceitação pessoal de quem sofre e tem medo do processo de cura, e a falta de confiança em Deus, seja que Ele é capaz de curar tudo em Sua misericórdia, seja por não haver esperança no coração de quem sofre.

Deus faz parte desse processo

Essa desconfiança e falta de esperança em Deus surge porque quando buscamos olhar para Deus é como se estivéssemos olhando Alguém distante, não alguém próximo que podemos tocar e sermos tocados, mas olhamos para Ele como se nada fosse capaz de romper essa distância. Quando buscamos ouvir a Deus é como se tentássemos ouvir o silêncio, pois não conseguimos ouvir a Sua Voz, estamos como que surdos e não conseguimos compreender nada do que Ele nos diz, é como se falássemos com o vazio que não nos responde.

Quando tentamos estar diante de Deus como se estivéssemos nos ferindo novamente, entrar em oração é reabrir as feridas por termos tentado curá-las de formas erradas. Tudo isso nos faz buscar uma cura fora de Deus. Claro que precisamos também buscar unir o auxílio especializado (psicólogos e psiquiatras), mas não podemos de forma alguma excluir Deus deste processo, embora seja difícil se colocar em oração, deixar Deus curar, se aproximar, ouvir, falar, perceber, estar, com Ele.

Os movimentos que existem em nós

O processo de cura não está fora de Deus, mas está em Deus. Precisamos descer mais profundo em nós, sim precisamos, mas não sozinhos com a nossa racionalidade, mas precisamos descer com e em Deus, pois somente com Ele será possível compreender e dar sentido a tudo. Por nossa racionalidade quereríamos nunca ter vivido, interior ou exteriormente, isso ou aquilo, gostaríamos que tudo fosse como nossa racionalidade planejou, porém isso é impossível. Precisamos descer mais profundo em nós, com e em Deus, para nEle darmos sentido a todos os movimentos que existem em nós.

Movimentos e mais movimentos, movimentos desejados, movimentos indesejados, movimentos provocados, movimentos naturais, não importa qual o movimento que possa nos fazer sair de nós e desconfiar desse Amor Misericordioso que se entregou na Cruz e venceu a morte por nós. A Sua Ressurreição deve ser para nós a maior Esperança e a maior confiança que poderíamos ter, pois Ele foi ao extremo por nós. Que em nosso coração, diante de nossas dificuldades, confiemos no Senhor, pois é Ele quem está diante de nós, é Ele que chega a Cafarnaum sem que saibamos como (Jo 6, 24-25), é Ele que faz sinais em nossas vidas e cura as nossas feridas.

Precisamos descer nesse profundo que é nossa vida, lutando contra a racionalidade que nos leva a querer o próprio controle e permitindo que Deus possa, em sua misericórdia, dar sentido a tudo o que nos ocorre, tudo o que trazemos em nossos corações, pois, assim, seremos capazes de abertos à Sua Graça podermos fazer as obras de Deus, mas não nós e sim Ele em nós. Que a Virgem Santíssima nos acompanhe nesse processo de autoconhecimento e cura interior que todos nós, em nossas realidades próprias, percorremos e que ela seja aquela que nos leva nos braços como a mãe leva o filho ao médico, que ela nos leve ao Seu Filho Amado para nEle podermos ser ressignificados em Sua misericórdia.

Padre Expedito Paes
Comunidade de Aliança
Missão Santo Amaro – SP


Fonte: https://comshalom.org/a-ansiedade-e-o-tempo-de-deus/


19 de junho de 2023

O que é oração?


oração consiste em estabelecer uma relação pessoal com Deus, é deixar-se amar por Ele e responder ao seu amor. É permanecer um tempo com o Senhor, em um encontro com Ele, escutando e falando.

"Rezar não consiste em pensar muito, mas em amar muito", dizia Santa Teresa D'ÁvilaRezar – ou orar – não é pensar em Deus, mas descansar nosso coração Nele: não passa pelas inclinações do intelecto, mas pelas do coração. Todo mundo pode rezar: batizado ou não, leigo ou religioso, basta apenas abrir o coração ao Senhor e acolhê-lo!

A vida de oração é, antes de tudo, um dom, uma graça dada por Deus. Não é "fazer sua oração" como se fizéssemos um dever, mas acolher o dom que nos é dado de podermos nos dirigir a Deus como nosso Pai, de nos dirigir a Jesus como nosso irmão, nosso amigo. A oração é uma ação gratuita: ninguém nos obriga a rezar.

Rezar é encontrar alguém e se deixar encontrar por ele, em uma relação que não passa pela inteligência, mas pelo coração. A chama que habita esse encontro consiste em crer, esperar e amar. A oração do coração é também chamada de oração teologal, porque Deus nos dá três virtudes, chamadas teologais, por meio dela, para cultivarmos em toda nossa vida, a fim de avançar no caminho da fé e da oração. São capacidades que Ele nos dá para esperá-lo: são elas a fé, a esperança e o amor.

A fé consiste em confiar no Senhor, acreditar em um Deus maior do que nosso intelecto consegue compreender. Ter esperança é aguardar – as grandes coisas se desenvolvem com o tempo. A esperança também está enraizada na fé – "Senhor, eu creio em tuas promessas, tu me darás muito". Enfim, o amora caridade, a maior dentre essas virtudes, que também é dependente das outras duas. Santa Teresa D'Ávila utiliza a palavra "amizade" para designar nossa relação com Deus – todo encontro de amizade é um encontro de amor. Há, então, uma mudança, uma comunhão com o outro, por menor que seja nossa abertura de coração.

Os frutos da oração

A oração muda os corações dos homens e produz numerosos frutos, os quais são raramente imediatos e nem sempre da forma esperada, mas quanto mais temos a coragem de doar nosso tempo a Deus, mais nós veremos esses frutos a longo prazo em todos os setores da nossa vida.

O primeiro e mais belo fruto da oração é a caridade. Jesus Cristo salvou o mundo, não pelo seu poder, mas pelo humilde amor, que se abaixa até encontrar aquele a ser salvo. A oração conduz à imitação de Jesus Cristo e nos abre ao amor. Quando rezamos, caminhamos com Jesus e procuramos imitá-lo.

Numerosos frutos vêm, por conseguinte:

  • Uma paz profunda no íntimo do nosso coração;
  • Uma verdadeira alegria que ilumina a nossa volta, independente das tempestades exteriores;
  • Um outro modo de trabalhar, mais confiante, sabendo que Deus está conosco;
  • Um olhar diferente sobre o outro, cheio de amor e de respeito;
  • Uma nova forma de reagir às provações cotidianas, reler nossos desafios, edificar projetos;
  • Uma análise da vida, dos obstáculos de nossa caminhada;
  • Um olhar mais lúcido e mais profundo sobre o mundo.
  •  

A oração permite que foquemos novamente no que é essencial e a não ficarmos presos à superfície das coisas. Ela nos convida a não viver mais fora dos nossos corações, mas a ganhar em interiorização e, assim, em sabedoria, em profundidade e em autoconhecimento.


Fonte: https://arquidiocesedebelem.com.br/o-que-e-oracao-2/


16 de junho de 2023

O Coração de Jesus é refrigério para a vida


"Você encontrará refrigério para sua vida."

Essa é a busca de todos nós: encontrar refrigério, repouso para a nossa vida. É o que impulsiona nossa busca pela felicidade em nossos relacionamentos, em nossos compromissos, em nosso trabalho… Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, o Evangelho de hoje. O próprio Senhor nos diz que, para termos refrigério em nossa vida, precisamos aprender com Ele. E, para isso, aponta dois caminhos principais: mansidão e humildade.

Em primeiro lugar, a mansidão. O profeta Zacarias havia anunciado um Messias manso (Zc 9, 9), e o Salmo 37 havia cantado que "os mansos herdarão a terra e gozarão de grande paz". (Sl 37, 11). Jesus, naquele discurso que chamamos de "Sermão da Montanha", ecoando o Salmo, declara que os mansos são bem-aventurados. Em hebraico, o termo usado para se referir a esses "mansos" é o mesmo que "pobres". A mansidão é um aspecto da pobreza. É manso aquele que não faz justiça por si mesmo, mas confia sua defesa a Deus. Ele deixa o julgamento de sua bondade e justiça nas mãos de Deus.

Jesus viveu com mansidão até o fim de sua vida e nos ensina que, se quisermos encontrar descanso para nós mesmos, devemos fazer o mesmo. Em um mundo em que o abuso, a prepotência a lógica do mais forte e a violência parecem determinar o sucesso e a felicidade. O Evangelho nos mostra o caminho da mansidão, que não deve ser confundida com covardia e pusilanimidade.

Trilhar o mesmo caminho que Ele para encontrar o refrigério em sua vida

Para encontrar refrigério em nossa vida, Jesus nos mostra também o caminho da humildade, o termo indica rebaixamento. Deus rebaixa os que se exaltam e exalta os que se humilham, diz Jesus em outra passagem do Evangelho de Mateus. Muitas vezes, a atitude de se exaltar, em oposição à atitude de humildade, está relacionada ao comportamento religioso dos fariseus que buscam obter glória diante de Deus por meio de sua observância. A humildade, por outro lado, é a atitude do publicano no templo, como encontramos no Evangelho de Lucas, que é capaz de reconhecer sua própria condição diante de Deus. Ser humilde é reconhecer-se como um servo. Até mesmo Maria, no Magnificat, associa sua humildade ao fato de ser uma serva, e a ação de Deus é elevar os humildes.

No Evangelho de Mateus, Jesus coloca uma criança no meio e afirma que quem se tornar tão pequeno quanto essa criança, será o maior no reino de Deus. Jesus sempre viveu como um servo — ele não veio para ser servido, mas para servir —, e ensina aos discípulos que, para encontrarem refrigério em suas vidas, devem trilhar o mesmo caminho que Ele. Em um mundo em que o que conta é a imagem, onde a "síndrome do Self" afetou também padres e religiosos, em que a vida espiritual se reduziu ao "devocionismo" superficial e inconsistente (que alimenta as diversas psicopatologias e neuroses), o Evangelho nos ensina que, para ser feliz, é preciso conhecer a própria condição. Somos homens e mulheres frágeis e pecadores, mas amados incondicionalmente por Deus. Somente aqueles que conhecem a si mesmos diante de Deus — Santa Catarina de Siena também nos ensina isso —, são verdadeiramente felizes.

Créditos: Milko by GettyImages.

O Coração de Jesus é um ambiente encantador para os humildes

Quem conhece seus limites e fraquezas não tem necessidade de combatê-las ou reprimi-las, porque sabe que isso só faz adoecer ainda mais a si mesmo. O homem e a mulher humilde acolhe suas fragilidades e as "pronuncia". Verbaliza sua "vergonha" dando nome a cada um de seus pecados, mas o faz dentro do Coração Amoroso de Jesus. Sabe que n'Ele encontrou o verdadeiro repouso. Quem tem medo de si mesmo, quem tem medo de acolher sua própria fraqueza viverá um contínuo "teatro" fingindo uma falsa busca de santidade. Cheio de "arrogância espiritual" e nunca poderá desfrutar da Ternura desse Coração transbordante de amor.

Não podemos confundir "narcisismo recalcado" com santidade. São coisas distintas. O Coração de Jesus é um lugar insuportável para os narcisistas que estão sempre sentados no trono "santidade", apontando o dedo da acusação contra seus irmãos. Mas esse mesmo Coração é um ambiente encantador para os humildes que confessam seus pecados com confiança, porque têm consciência de sua condição e reconhecem o profundo Amor de Deus que não pede outra resposta senão, amor também.


Um outro elemento, neste trecho de Mateus, é o fato de Jesus ter sido surpreendido pelo Pai. É uma coisa linda: o Mestre de Nazaré sendo surpreendido por um Deus que é cada vez mais imaginativo e inventivo em seus esquemas e sua lógica, que desinstala todos nós, inclusive seu Filho. De fato, a experiência espiritual nos permite chamar Deus de "Torrente de Engano", pois Ele nos desconcerta em tudo.

O lugar vazio dos grandes é preenchido pelos pequenos

O que aconteceu? O Evangelho acaba de relatar um período de contratempos, um ar ruim está soprando: João é preso, Jesus é duramente desafiado pelos representantes do Templo. Os habitantes das aldeias ao redor do lago, após a primeira onda de entusiasmo e milagres, se afastaram. E aqui, nessa atmosfera de derrota, um inesperado avanço se abre diante de Jesus. Uma súbita reviravolta que o enche de alegria: Pai, eu te bendigo, te louvo, te agradeço, porque te revelaste aos pequeninos.

O lugar vazio dos grandes é preenchido pelos pequenos: pescadores, pobres, doentes, viúvas, crianças, publicanos, os favoritos de Deus. Jesus não esperava por isso e fica surpreso com a novidade; a admiração o invade e ele se sente feliz. Ele descobre a ação de Deus, assim como antes sabia descobrir, no íntimo de cada pessoa, a angústia e a esperança, e para elas sabia inventar palavras e gestos de vida como resposta, aqueles que o amor nos faz chamar de "milagres".

Ele traz aquele pão de amor que todo coração humano cansado precisa

O Senhor revelou essas coisas aos pequeninos… Mas de que coisa se trata? Um pequenino, uma criança, entende imediatamente o essencial: se você o ama ou não. Afinal de contas, esse é o segredo simples da vida. Não há outro mais profundo. Os pequeninos, os pecadores, os últimos da fila, as periferias do mundo entenderam que Jesus veio trazer a Revolução da Ternura: vocês valem mais do que muitos pardais, vocês têm o ninho em suas mãos.

Venham a mim, todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Deus não é difícil: Ele está ao lado daqueles que não conseguem, Ele traz aquele pão de amor que todo coração humano cansado precisa… E todo coração está cansado. Venha, eu lhe darei descanso. E não lhes apresentarei um novo catecismo, com regras superiores, mas com o conforto de viver. Duas mãos nas quais você poderá descansar sua vida cansada e respirar com coragem. Meu jugo é suave e meu fardo é leve: palavras que são música, boas novas. Jesus veio para apagar a antiga imagem de Deus. Não mais um dedo acusador apontado para nós, mas dois braços abertos.

Aprender com Jesus!

Ele veio para tornar a religião leve e fresca, para tirar os fardos de nossas costas e nos dar as asas de uma fé que nos liberta. E fardos que até mesmos a religião coloca sobre nós. Jesus é um libertador de energias criativas e, portanto, é amado pelos pequeninos e pelos oprimidos da Terra. Aprendam de mim, que sou manso e humilde de coração, ou seja, aprendam de meu Coração, de minha maneira gentil e indomável de amar. Com Ele aprendemos o alfabeto da vida; na escola do coração, a sabedoria de viver.
Irmãs e Irmãos, o Coração de Jesus é aventura de um Deus que decidiu amar como homem, como eu e você e, assim nos provocar, por meio da mansidão e humildade, a Revolução da Ternura. A reescrever a história com o Alfabeto da Vida!

Dom Cristiano Sousa OSB Cam – Mosteiro de Fonte Avellana , Itália.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/devocao/o-coracao-de-jesus-e-refrigerio-para-a-vida/