27 de junho de 2023

Por que os gestos de fé têm se tornado tão inconvenientes?


Caro internauta, gostaria de fazer-lhe uma provocação por meio de alguns questionamentos que devem ser respondidos de maneira bastante sincera. Você, católico, em algum momento da sua vida já se sentiu envergonhado ou acuado por falar de Deus (ou em Deus)? Refiro-me àquele sentimento que gera no nosso interior pensamentos do tipo: "Se eu falar de Deus, o que ela vai pensar de mim?". Mas você já resistiu em dizer publicamente a frase "Deus abençoe você", "Deus lhe pague" ou "Graças a Deus"? Ou já se sentiu envergonhado por traçar o sinal da cruz em frente a uma Igreja? Essa inibição interior, diante dos sinais e gestos de fé, não é uma questão muito trabalhada por nós, contudo, esse movimento interior acontece muito frequentemente.

Meu propósito com esse artigo não é dizer que a falta da demonstração de fé é errado ou que é pecado nem mesmo afirmar que essa demonstração é algo importantíssimo, embora o seja. Meu objetivo é recuar um passo, olhar com certa distância para essa situação e lançar uma pergunta: você já se perguntou de onde vem essa vergonha?

Em outras palavras, acredito que não seja exagero afirmar que o mais grave não é abster-se dessas belas demonstrações de fé que, por sinal, todo cristão deveria considerar um comportamento natural, o mais grave, porém, é não ter se perguntado, ainda, qual a causa de tal sentimento de timidez. Afinal de contas, um católico esclarecido e, porque não dizer autêntico, não deveria ter constrangimento ou receio em demonstrar a sua crença, seja onde for ou para quem for.

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Foto Ilustrativa: Ridofranz by Getty Images

Por que, então, isso acontece?

Desejo, aqui, ensaiar uma proposição. Isso acontece, mormente, motivado pelo medo de ser julgado! Ora, é julgado aquele que cometeu algum tipo de infração. Demostrar a fé, graças a Deus, ainda não se tornou um crime diante da legislação brasileira, porém, tem se tornado, nos últimos anos, um "crime" diante do pensamento coletivo.

De alguma forma, esse pensamento foi inserido, reforçado e acabou se alastrando em nossa sociedade. Nós, de alguma forma, acabamos por aceitar a ideia de que Deus é ultrapassado, de que a fé é coisa para quem não tem inteligência, de que se torna chato e inconveniente aqueles que falam de Deus, de que é ignorante aquele que acredita n'Ele. Sendo assim, está se cristalizando em nossa cultura a ideia de que as demonstrações de fé devem ser evitadas, principalmente de maneira pública.


Não se engane, essa forma coletiva de pensamento não é um desdobramento natural do comportamento humano, tendo em vista que a religiosidade é intrínseca ao ser humano. Esse comportamento, ao contrário, é artificial, ou seja, trata-se de algo que está sendo forçado e moldado em nossa cultura. Muitos "vírus" foram e ainda continuam sendo lançados nos nossos mais autênticos costumes, e têm se alastrado enormemente. Esse, inequivocamente, é mais um deles! Essa era secularizada é fruto de uma sociedade moribunda.

Remédio para os novos tempos

Para concluir, gostaria de citar uma passagem bíblica, que pode ser encontrada em 2 Tim 4,2-3, que afirma que "virá tempo" e, esse tempo já chegou, em que as pessoas não suportarão a sã doutrina. Nesse tempo, a sã doutrina seria a causa de comichão nos ouvidos, ou seja, seria algo incômodo e inoportuno. Contudo, a palavra de Deus nos dá uma ordem contrária a essa tendência, seria como um antídoto para esse veneno ou o remédio para essa doença: "prega a palavra, insiste oportuna e inoportunamente".

Portanto, sigamos ao pedido do Sumo Pontífice o Papa Francisco "non abbiate paura!", "não tenha medo!" de abrir as portas para Cristo. Sejamos cristãos autênticos a exemplo dos nossos santos.

Deus abençoe você.
Até a próxima!


Gleidson Carvalho

Gleidson de Souza Carvalho é natural de Valença (RJ), mas viveu parte de sua vida em Piraúba (MG). Hoje, ele é missionário da Comunidade Canção Nova, candidato às ordens sacras, licenciado em Filosofia e bacharelando em Teologia, ambos pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP). Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, na Liturgia do Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários. Apresenta, com os demais seminaristas, o "Terço em Família" pela Rádio Canção Nova AM. (Instagram: @cngleidson)


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/por-que-os-gestos-de-fe-tem-se-tornado-tao-inconvenientes/


24 de junho de 2023

São João Batista, o precursor de Jesus


Na missa solene de São João Batista, o prefácio apresenta algumas características significativas: "Proclamamos, hoje, as maravilhas que operastes em São João Batista, precursor de vosso Filho e Senhor nosso, consagrado como o maior entre os nascidos de mulher. Ainda no seio materno, ele exultou com a chegada do Salvador da humanidade, e seu nascimento trouxe grande alegria. Foi o único dos profetas que mostrou o Cordeiro redentor. Batizou o próprio autor do batismo nas águas assim santificadas e, derramando seu sangue, mereceu dar o perfeito testemunho de Cristo (…)".

Primeiro, apresenta-o em sua característica de "precursor".  Explicada no dicionário como "que ou o que precede, anuncia, prenuncia, prepara ou indica a vinda ou o acontecimento de; que ou o que vai adiante, anuncia algo de novo ou se antecipa a (alguém ou algo)". E, realmente, viveu em função do seu primo Jesus, anunciando e antecipando a sua chegada. Santificou-se dessa maneira, assim como nos ensina o mesmo ministério de preparar as pessoas para o encontro com Cristo.

São João Batista, o maior no Reino

Por outro lado, foi elogiado pelo próprio Salvador, como o maior no Reino: "Em verdade eu vos digo, dentre os que nasceram de mulher, não surgiu ninguém maior que João, o Batista" (Mateus 11,11). Mas, mesmo assim, destacou-se por sua humildade, como comenta Santo Agostinho: "A 'humildade de João constitui o seu maior mérito; ele poderia enganar os homens, passar por Cristo, ser visto como Cristo, tão grandes eram a sua graça e a sua virtude, e contudo declara abertamente: «Eu não sou Cristo. – És Elias? […] – Não sou Elias» (Jo 1,20-21)'".

Créditos: zoom-zoom by GettyImages.

Reconhecendo sua função, lugar e papel na história da salvação, pôde anunciar com vigor aquele que tirou o pecado do mundo (cf. Jo 1,29). Jesus é reconhecido como "cordeiro", pois ele é a oferenda expiatória por todos os pecados, a oferenda perfeita e única. No rito de perdão dos pecados (Yom Kipur), a comunidade escolhia um cordeiro sem defeito. E lançava sobre ele seus males, para que fosse ofertado a Deus.

O livro de Levítico demonstra essa realidade, e como deveria ser feito (Lv 16), do mesmo modo fizeram com o Senhor. João foi aquele que apontou, ou seja, indicou qual era o Cordeiro a ser oferecido de modo definitivo: "É Ele! Ele é aquele que retira todo e qualquer pecado do mundo".


Que João Batista interceda por nós!

João Batista também "anuncia a chegada dos tempos messiânicos, nos quais a esterilidade se tornará fecundidade e o mutismo, exuberância profética" (cf. Missal Dominical – Missal da Assembleia Cristã), tendo seu ápice no Batismo de Jesus. Mesmo sem precisar ser batizado, Jesus ali revelava a sua filiação divina, que fora confirmada por seu primo que testemunha: "Eu o vi e dou testemunho de que ele é o Filho de Deus" (Jo 1, 34). Esse ato inaugura o tempo da graça e a manifestação divina de Jesus.

Assim encerra a liturgia com a oração do Oremos, sobre O batista: "Ó Deus, que suscitastes São João Batista, a fim de preparar para o Senhor um povo perfeito, concedei à vossa Igreja as alegrias espirituais e dirigi nossos passos no caminho da salvação e da paz. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!".

Que Ele interceda por nós e também nos prepare, de modo perfeito, para fazer, em tudo, a vontade do Pai. Que Deus, nosso Pai, nos inspire a pôr em prática esses ensinamentos.


 


Rafael Vitto

Rafael Vitto, seminarista CN. Graduado em Filosofia e estudante de Teologia. Atuante na paróquia São Sebastião em Cachoeira Paulista.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/sao-joao-batista-o-precursor-de-jesus/


21 de junho de 2023

A ansiedade e o tempo de Deus


Precisamos descer mais profundo em nós, com e em Deus, para nEle darmos sentido a todos os movimentos que existem em nós.

comshalom Foto: Unsplash

Dentro da nossa vida vamos nos deparando com diversas situações que nos fazem esperar, ansiar por uma resolução. No entanto, como será? Tal resolução será como nós queremos ou esperamos? Será que diante de nossa vida em Cristo permitimos que Ele seja senhor do nosso tempo? Que Ele seja aquele em quem confiamos diante das adversidades de nossa vida, tais cruzes que são naturais e necessárias para o nosso crescimento e amadurecimento como seres humanos e como discípulos de Cristo.

Vivemos hoje em um tempo envolto de racionalidade, onde a razão, embora não seja má em si, passa a ter um lugar de destaque que retira a providência de Deus nas nossas vidas. Nossa racionalidade ferida pelo pecado faz com que nós sejamos ou estejamos à mercê de nós mesmos, de nossas vontades e controles, acreditando que somos nós, somente nós que providenciamos tudo em nossas vidas. Que o nosso trabalho depende unicamente de nós, que alcançar nossas metas depende unicamente de nossa própria vontade.

Esquecemos quer, na verdade, tudo vem de Deus, seja a nossa saúde, a nossa capacidade de trabalhar, a nossa inteligência, absolutamente tudo tem princípio naquele que pensou em nós antes mesmo que existíssemos. Quando surgem em nossas vidas situações internas ou externas que não dependem de nós podemos acabar não sabendo administrá-las corretamente e isso nos leva a uma ansiedade patológica, uma vez que a ansiedade em si é o que nos impulsiona a agir diante das realidades da vida, mas quando se torna patológica acabamos reféns de nós mesmos. De nossa mentalidade, de nossa racionalidade ferida pelo pecado em nós que gera em nós uma rachadura que não permite que estejamos completos, mas que nos causa um estranhamento sobre nós mesmos.

A ansiedade patológica

Diante dessa ansiedade patológica em nossas vidas podemos acabar perdendo a confiança em Deus, não só podemos, mas normalmente acabamos nos perdendo nessa esperança e confiança naquele que é a própria Providência de Amor e Misericórdia para nós. Essa desconfiança, essa falta de esperança, nos leva ainda mais fundo em nós mesmos, não em um processo sadio de autoconhecimento que nos faz crescer, mas num processo de fechamento em nós, de negação, de um pessimismo doentio, ao ponto de olhar para tudo e todos como inimigos ou mesmo como ameaças reais e iminentes contra nós.

Ao contrário do que muitos pensam, sair desse processo não é algo fácil ou rápido, que depende unicamente de nós mesmos, mas é um processo doloroso e demorado, onde por diversas vezes ao invés de curar acabamos magoando a ferida que há em nós mesmos. Diversos fatores dificultam ainda mais esse processo de cura e cicatrização: a incompreensão de muitos que convivem conosco, o distanciamento daqueles ao nosso redor por não quererem ter relações com quem sofre, a falta de aceitação pessoal de quem sofre e tem medo do processo de cura, e a falta de confiança em Deus, seja que Ele é capaz de curar tudo em Sua misericórdia, seja por não haver esperança no coração de quem sofre.

Deus faz parte desse processo

Essa desconfiança e falta de esperança em Deus surge porque quando buscamos olhar para Deus é como se estivéssemos olhando Alguém distante, não alguém próximo que podemos tocar e sermos tocados, mas olhamos para Ele como se nada fosse capaz de romper essa distância. Quando buscamos ouvir a Deus é como se tentássemos ouvir o silêncio, pois não conseguimos ouvir a Sua Voz, estamos como que surdos e não conseguimos compreender nada do que Ele nos diz, é como se falássemos com o vazio que não nos responde.

Quando tentamos estar diante de Deus como se estivéssemos nos ferindo novamente, entrar em oração é reabrir as feridas por termos tentado curá-las de formas erradas. Tudo isso nos faz buscar uma cura fora de Deus. Claro que precisamos também buscar unir o auxílio especializado (psicólogos e psiquiatras), mas não podemos de forma alguma excluir Deus deste processo, embora seja difícil se colocar em oração, deixar Deus curar, se aproximar, ouvir, falar, perceber, estar, com Ele.

Os movimentos que existem em nós

O processo de cura não está fora de Deus, mas está em Deus. Precisamos descer mais profundo em nós, sim precisamos, mas não sozinhos com a nossa racionalidade, mas precisamos descer com e em Deus, pois somente com Ele será possível compreender e dar sentido a tudo. Por nossa racionalidade quereríamos nunca ter vivido, interior ou exteriormente, isso ou aquilo, gostaríamos que tudo fosse como nossa racionalidade planejou, porém isso é impossível. Precisamos descer mais profundo em nós, com e em Deus, para nEle darmos sentido a todos os movimentos que existem em nós.

Movimentos e mais movimentos, movimentos desejados, movimentos indesejados, movimentos provocados, movimentos naturais, não importa qual o movimento que possa nos fazer sair de nós e desconfiar desse Amor Misericordioso que se entregou na Cruz e venceu a morte por nós. A Sua Ressurreição deve ser para nós a maior Esperança e a maior confiança que poderíamos ter, pois Ele foi ao extremo por nós. Que em nosso coração, diante de nossas dificuldades, confiemos no Senhor, pois é Ele quem está diante de nós, é Ele que chega a Cafarnaum sem que saibamos como (Jo 6, 24-25), é Ele que faz sinais em nossas vidas e cura as nossas feridas.

Precisamos descer nesse profundo que é nossa vida, lutando contra a racionalidade que nos leva a querer o próprio controle e permitindo que Deus possa, em sua misericórdia, dar sentido a tudo o que nos ocorre, tudo o que trazemos em nossos corações, pois, assim, seremos capazes de abertos à Sua Graça podermos fazer as obras de Deus, mas não nós e sim Ele em nós. Que a Virgem Santíssima nos acompanhe nesse processo de autoconhecimento e cura interior que todos nós, em nossas realidades próprias, percorremos e que ela seja aquela que nos leva nos braços como a mãe leva o filho ao médico, que ela nos leve ao Seu Filho Amado para nEle podermos ser ressignificados em Sua misericórdia.

Padre Expedito Paes
Comunidade de Aliança
Missão Santo Amaro – SP


Fonte: https://comshalom.org/a-ansiedade-e-o-tempo-de-deus/


19 de junho de 2023

O que é oração?


oração consiste em estabelecer uma relação pessoal com Deus, é deixar-se amar por Ele e responder ao seu amor. É permanecer um tempo com o Senhor, em um encontro com Ele, escutando e falando.

"Rezar não consiste em pensar muito, mas em amar muito", dizia Santa Teresa D'ÁvilaRezar – ou orar – não é pensar em Deus, mas descansar nosso coração Nele: não passa pelas inclinações do intelecto, mas pelas do coração. Todo mundo pode rezar: batizado ou não, leigo ou religioso, basta apenas abrir o coração ao Senhor e acolhê-lo!

A vida de oração é, antes de tudo, um dom, uma graça dada por Deus. Não é "fazer sua oração" como se fizéssemos um dever, mas acolher o dom que nos é dado de podermos nos dirigir a Deus como nosso Pai, de nos dirigir a Jesus como nosso irmão, nosso amigo. A oração é uma ação gratuita: ninguém nos obriga a rezar.

Rezar é encontrar alguém e se deixar encontrar por ele, em uma relação que não passa pela inteligência, mas pelo coração. A chama que habita esse encontro consiste em crer, esperar e amar. A oração do coração é também chamada de oração teologal, porque Deus nos dá três virtudes, chamadas teologais, por meio dela, para cultivarmos em toda nossa vida, a fim de avançar no caminho da fé e da oração. São capacidades que Ele nos dá para esperá-lo: são elas a fé, a esperança e o amor.

A fé consiste em confiar no Senhor, acreditar em um Deus maior do que nosso intelecto consegue compreender. Ter esperança é aguardar – as grandes coisas se desenvolvem com o tempo. A esperança também está enraizada na fé – "Senhor, eu creio em tuas promessas, tu me darás muito". Enfim, o amora caridade, a maior dentre essas virtudes, que também é dependente das outras duas. Santa Teresa D'Ávila utiliza a palavra "amizade" para designar nossa relação com Deus – todo encontro de amizade é um encontro de amor. Há, então, uma mudança, uma comunhão com o outro, por menor que seja nossa abertura de coração.

Os frutos da oração

A oração muda os corações dos homens e produz numerosos frutos, os quais são raramente imediatos e nem sempre da forma esperada, mas quanto mais temos a coragem de doar nosso tempo a Deus, mais nós veremos esses frutos a longo prazo em todos os setores da nossa vida.

O primeiro e mais belo fruto da oração é a caridade. Jesus Cristo salvou o mundo, não pelo seu poder, mas pelo humilde amor, que se abaixa até encontrar aquele a ser salvo. A oração conduz à imitação de Jesus Cristo e nos abre ao amor. Quando rezamos, caminhamos com Jesus e procuramos imitá-lo.

Numerosos frutos vêm, por conseguinte:

  • Uma paz profunda no íntimo do nosso coração;
  • Uma verdadeira alegria que ilumina a nossa volta, independente das tempestades exteriores;
  • Um outro modo de trabalhar, mais confiante, sabendo que Deus está conosco;
  • Um olhar diferente sobre o outro, cheio de amor e de respeito;
  • Uma nova forma de reagir às provações cotidianas, reler nossos desafios, edificar projetos;
  • Uma análise da vida, dos obstáculos de nossa caminhada;
  • Um olhar mais lúcido e mais profundo sobre o mundo.
  •  

A oração permite que foquemos novamente no que é essencial e a não ficarmos presos à superfície das coisas. Ela nos convida a não viver mais fora dos nossos corações, mas a ganhar em interiorização e, assim, em sabedoria, em profundidade e em autoconhecimento.


Fonte: https://arquidiocesedebelem.com.br/o-que-e-oracao-2/


16 de junho de 2023

O Coração de Jesus é refrigério para a vida


"Você encontrará refrigério para sua vida."

Essa é a busca de todos nós: encontrar refrigério, repouso para a nossa vida. É o que impulsiona nossa busca pela felicidade em nossos relacionamentos, em nossos compromissos, em nosso trabalho… Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, o Evangelho de hoje. O próprio Senhor nos diz que, para termos refrigério em nossa vida, precisamos aprender com Ele. E, para isso, aponta dois caminhos principais: mansidão e humildade.

Em primeiro lugar, a mansidão. O profeta Zacarias havia anunciado um Messias manso (Zc 9, 9), e o Salmo 37 havia cantado que "os mansos herdarão a terra e gozarão de grande paz". (Sl 37, 11). Jesus, naquele discurso que chamamos de "Sermão da Montanha", ecoando o Salmo, declara que os mansos são bem-aventurados. Em hebraico, o termo usado para se referir a esses "mansos" é o mesmo que "pobres". A mansidão é um aspecto da pobreza. É manso aquele que não faz justiça por si mesmo, mas confia sua defesa a Deus. Ele deixa o julgamento de sua bondade e justiça nas mãos de Deus.

Jesus viveu com mansidão até o fim de sua vida e nos ensina que, se quisermos encontrar descanso para nós mesmos, devemos fazer o mesmo. Em um mundo em que o abuso, a prepotência a lógica do mais forte e a violência parecem determinar o sucesso e a felicidade. O Evangelho nos mostra o caminho da mansidão, que não deve ser confundida com covardia e pusilanimidade.

Trilhar o mesmo caminho que Ele para encontrar o refrigério em sua vida

Para encontrar refrigério em nossa vida, Jesus nos mostra também o caminho da humildade, o termo indica rebaixamento. Deus rebaixa os que se exaltam e exalta os que se humilham, diz Jesus em outra passagem do Evangelho de Mateus. Muitas vezes, a atitude de se exaltar, em oposição à atitude de humildade, está relacionada ao comportamento religioso dos fariseus que buscam obter glória diante de Deus por meio de sua observância. A humildade, por outro lado, é a atitude do publicano no templo, como encontramos no Evangelho de Lucas, que é capaz de reconhecer sua própria condição diante de Deus. Ser humilde é reconhecer-se como um servo. Até mesmo Maria, no Magnificat, associa sua humildade ao fato de ser uma serva, e a ação de Deus é elevar os humildes.

No Evangelho de Mateus, Jesus coloca uma criança no meio e afirma que quem se tornar tão pequeno quanto essa criança, será o maior no reino de Deus. Jesus sempre viveu como um servo — ele não veio para ser servido, mas para servir —, e ensina aos discípulos que, para encontrarem refrigério em suas vidas, devem trilhar o mesmo caminho que Ele. Em um mundo em que o que conta é a imagem, onde a "síndrome do Self" afetou também padres e religiosos, em que a vida espiritual se reduziu ao "devocionismo" superficial e inconsistente (que alimenta as diversas psicopatologias e neuroses), o Evangelho nos ensina que, para ser feliz, é preciso conhecer a própria condição. Somos homens e mulheres frágeis e pecadores, mas amados incondicionalmente por Deus. Somente aqueles que conhecem a si mesmos diante de Deus — Santa Catarina de Siena também nos ensina isso —, são verdadeiramente felizes.

Créditos: Milko by GettyImages.

O Coração de Jesus é um ambiente encantador para os humildes

Quem conhece seus limites e fraquezas não tem necessidade de combatê-las ou reprimi-las, porque sabe que isso só faz adoecer ainda mais a si mesmo. O homem e a mulher humilde acolhe suas fragilidades e as "pronuncia". Verbaliza sua "vergonha" dando nome a cada um de seus pecados, mas o faz dentro do Coração Amoroso de Jesus. Sabe que n'Ele encontrou o verdadeiro repouso. Quem tem medo de si mesmo, quem tem medo de acolher sua própria fraqueza viverá um contínuo "teatro" fingindo uma falsa busca de santidade. Cheio de "arrogância espiritual" e nunca poderá desfrutar da Ternura desse Coração transbordante de amor.

Não podemos confundir "narcisismo recalcado" com santidade. São coisas distintas. O Coração de Jesus é um lugar insuportável para os narcisistas que estão sempre sentados no trono "santidade", apontando o dedo da acusação contra seus irmãos. Mas esse mesmo Coração é um ambiente encantador para os humildes que confessam seus pecados com confiança, porque têm consciência de sua condição e reconhecem o profundo Amor de Deus que não pede outra resposta senão, amor também.


Um outro elemento, neste trecho de Mateus, é o fato de Jesus ter sido surpreendido pelo Pai. É uma coisa linda: o Mestre de Nazaré sendo surpreendido por um Deus que é cada vez mais imaginativo e inventivo em seus esquemas e sua lógica, que desinstala todos nós, inclusive seu Filho. De fato, a experiência espiritual nos permite chamar Deus de "Torrente de Engano", pois Ele nos desconcerta em tudo.

O lugar vazio dos grandes é preenchido pelos pequenos

O que aconteceu? O Evangelho acaba de relatar um período de contratempos, um ar ruim está soprando: João é preso, Jesus é duramente desafiado pelos representantes do Templo. Os habitantes das aldeias ao redor do lago, após a primeira onda de entusiasmo e milagres, se afastaram. E aqui, nessa atmosfera de derrota, um inesperado avanço se abre diante de Jesus. Uma súbita reviravolta que o enche de alegria: Pai, eu te bendigo, te louvo, te agradeço, porque te revelaste aos pequeninos.

O lugar vazio dos grandes é preenchido pelos pequenos: pescadores, pobres, doentes, viúvas, crianças, publicanos, os favoritos de Deus. Jesus não esperava por isso e fica surpreso com a novidade; a admiração o invade e ele se sente feliz. Ele descobre a ação de Deus, assim como antes sabia descobrir, no íntimo de cada pessoa, a angústia e a esperança, e para elas sabia inventar palavras e gestos de vida como resposta, aqueles que o amor nos faz chamar de "milagres".

Ele traz aquele pão de amor que todo coração humano cansado precisa

O Senhor revelou essas coisas aos pequeninos… Mas de que coisa se trata? Um pequenino, uma criança, entende imediatamente o essencial: se você o ama ou não. Afinal de contas, esse é o segredo simples da vida. Não há outro mais profundo. Os pequeninos, os pecadores, os últimos da fila, as periferias do mundo entenderam que Jesus veio trazer a Revolução da Ternura: vocês valem mais do que muitos pardais, vocês têm o ninho em suas mãos.

Venham a mim, todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Deus não é difícil: Ele está ao lado daqueles que não conseguem, Ele traz aquele pão de amor que todo coração humano cansado precisa… E todo coração está cansado. Venha, eu lhe darei descanso. E não lhes apresentarei um novo catecismo, com regras superiores, mas com o conforto de viver. Duas mãos nas quais você poderá descansar sua vida cansada e respirar com coragem. Meu jugo é suave e meu fardo é leve: palavras que são música, boas novas. Jesus veio para apagar a antiga imagem de Deus. Não mais um dedo acusador apontado para nós, mas dois braços abertos.

Aprender com Jesus!

Ele veio para tornar a religião leve e fresca, para tirar os fardos de nossas costas e nos dar as asas de uma fé que nos liberta. E fardos que até mesmos a religião coloca sobre nós. Jesus é um libertador de energias criativas e, portanto, é amado pelos pequeninos e pelos oprimidos da Terra. Aprendam de mim, que sou manso e humilde de coração, ou seja, aprendam de meu Coração, de minha maneira gentil e indomável de amar. Com Ele aprendemos o alfabeto da vida; na escola do coração, a sabedoria de viver.
Irmãs e Irmãos, o Coração de Jesus é aventura de um Deus que decidiu amar como homem, como eu e você e, assim nos provocar, por meio da mansidão e humildade, a Revolução da Ternura. A reescrever a história com o Alfabeto da Vida!

Dom Cristiano Sousa OSB Cam – Mosteiro de Fonte Avellana , Itália.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/devocao/o-coracao-de-jesus-e-refrigerio-para-a-vida/


14 de junho de 2023

“Eu sabia que meu Deus não ia me abandonar”

"Comovido por tanto sofrimento, Cristo não só Se deixa tocar pelos doentes, como também faz suas as misérias deles: «Tomou sobre Si as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças» (Mt 8, 17)".

(Catecismo da Igreja Católica, parágrafo 1505)

 

O tratamento do câncer de mama não é algo fácil ou rápido. Esse tipo de câncer é o mais frequente nas mulheres brasileiras que enfrentam essa luta atravessando esse caminho  de cruz que, com a graça de Deus, leva à conversão, transformação de vida, autoconhecimento e esperança.

Em outubro, com o objetivo de partilhar com centenas de pessoas que vivem a doença ou conhecem alguém que vivem na mesma situação, o Portal da RCCBRASIL vai apresentar alguns testemunhos de mulheres carismáticas que passaram pela doença firmadas na Palavra de Deus e na confiança do amor do Senhor. Confira:

 

"Eu sabia que meu Deus não ia me abandonar"

Eu bem feliz, prestes a realizar o grande sonho da minha vida… Faltava apenas  um mês e meio para o meu casamento na Igreja e eu, como de costume, fui fazer meus exames de rotina onde eu trabalho. Brinquei com o médico ao entrar na sala, falei que não queria surpresas e que não era pra achar nada errado. O exame começou e para o meu desespero estavam lá linfonodos no meu abdome e pescoço… Então, começou aí a correria com outros exames e biópsia.

Eu não conseguia acreditar. Eu só tinha 29 anos de idade. Ninguém na família nunca teve nada. Aí, veio a bomba: Linfoma Hodgkin estágio IV, o mais avançado (pescoço, tórax, abdômen, pulmão, baço, fígado, atrás do intestino e ossos). Eu pensei: vou morrer!

Na primeira consulta com o oncologista eu ouvi "50% da cura é na sua cabeça, precisamos começar as sessões de quimioterapia já"!Desabei porque queria casar linda, com cabelos longos… Resolvemos então adiantar nosso casamento. Dez dias depois estava eu, realizada e forte para iniciar a luta. Resolvi então fazer um gesto de amor e doar meus cabelos antes que começassem a cair, mudei o visual e fiz alguém feliz.

Na metade do tratamento e ninguém acreditava, pois levantei minha cabeça e disse: eu não estou doente! Creio que Deus tem propósitos maravilhosos para minha vida. Eu melhorei 100%, eu aprendi a ver a vida com outros olhos. Encarei o câncer como encaro uma dor de garganta. Aparência e o que os outros vão dizer é o de menos. A beleza vem de dentro!

Ninguém é de ferro. Tive dias que acordei com vontade de chorar, e chorava sim, colocava tudo pra fora e falava: "Chega! Passou… Nada de deprimir!".

 

20/12/2016

Recebo a melhor notícia da minha vida. Fui ao médico levar os exames para ver se tínhamos eliminado o câncer em 50% que era o esperado com as sessões de quimioterapia que havia realizado até o momento. Como meu Deus é maravilhoso! Não eliminamos 50% e sim 100%.

Continuei com o sorriso no rosto e a Fé em Deus, porque o tratamento continuou. As sessões de quimioterapia deviam ser concluídas e os cuidados eram os mesmos. Tive que tomar alguns remédios para repor a falta de vitaminas mas, independente de qualquer coisa, eu já me sentia vitoriosa! Eu sabia que meu Deus não ia me abandonar.

 

15/03/2017

Depois da última quimioterapia, fiz exames para confirmar se teria alta ou não. Para minha alegria, era zero célula cancerígena. ACABOU! Eu estava curada, venci um câncer em último estágio! Porque Deus é o médico dos médicos.

 

31/08/2017

Primeiro acompanhamento. Depois de 6 meses sem quimioterapia, aquele frio na barriga, aquele medinho. Mas, para honra e glória do Senhor, os exames foram um sucesso. Zero célula cancerígenas mais uma vez!

 

03/09/2018

Terceiro acompanhamento. Depois de 1 ano e 6 meses sem quimioterapia, já com os cabelos compridos, zero célula cancerígena. Milagres existem!!

 

Danielli Lilian de Souza Mafra

Grupo de Oração Magnificat- Araucária (PR)


Fonte: https://novoportal.rccbrasil.org.br/blog/qeu-sabia-que-meu-deus-nao-ia-me-abandonarq/

12 de junho de 2023

Como rezar em família?


A oração da família deve frutificar nas relações E no testemunho familiar.

comshalom

A vida espiritual em família é fundamental para a mesma e para a sociedade. O catecismo afirma que "a família cristã  é o primeiro lugar de oração. Fundada sobre o sacramento do matrimônio, ela é 'a Igreja Doméstica', onde os filhos de Deus aprendem a orar 'como Igreja' e a perseverar na oração." (CIC 2685). Mas, afinal, como rezar em família?

É nesta Igreja Doméstica que os cristãos aprendem a amar e honrar a Deus, entram na escola de virtudes e de amor fraterno, características que definem o ser e o agir cristão no mundo desde os tempos antigos.

Igreja Doméstica

A carta a Diogneto já apontava o agir familiar como algo que destacava o cristianismo:

"Casam como todos e geram filhos, mas não abandonam à violência os recém-nascidos. Servem-se da mesma mesa, mas não do mesmo leito. Encontram-se na carne, mas não vivem segundo a carne. Moram na terra e são regidos pelo céu".

Ainda hoje, enquanto Igreja, somos convidados a, como família, embasados na vida de oração, encarnando-a, sermos testemunhas de pessoas regidas pelo céu, pela espiritualidade.

Contudo, como rezar em família? É importante iniciarmos deixando claro que a oração é um trato de amizade, como nos ensina Santa Teresa d'Ávila, assim sendo, as práticas de oração devem favorecer essa amizade de todos os membros da família para com o nosso Deus. Além disso, assim como na caminhada espiritual individual não se tem o mesmo ritmo, intensidade e padrão ao longo do tempo, também na vida familiar a oração não será do mesmo jeito com o passar dos anos.

A vivência oracional

A dinamicidade da vida em família, nas diferentes fases promove mudanças no formato da vivência oracional. Uma coisa é rezarmos enquanto casal sem filhos, outra é a oração com a chegada deles e a sua ampliação, outra ainda é a vida de oração da família com filhos amadurecendo ou amadurecidos e, por fim, com o "ninho vazio" após a saída deles para construírem seus lares. Cada fase traz as suas novidades e desafios, mas também deixam marcas na nossa alma.

Nossas primeiras lembranças de prática da virtude da religião remetem-nos aos lares de nossos pais, onde eram ensinadas as orações mais comuns da fé católica, o "Sinal da Cruz", o "Santo Anjo", "Ave Maria", "Pai Nosso" entre outras, bem como os momentos em que a família se reunia para juntos rezar o Santo Terço ao menos uma vez por semana. Nisso vemos que, de fato, "para as crianças, particularmente, a oração familiar cotidiana é o primeiro testemunho da memória viva da Igreja reavivada pacientemente pelo Espírito Santo" (CIC 2685).

O que não pode acontecer é que as famílias cristãs negligenciem sua missão e a grande graça que é a vida de oração. Sem a vida de oração, a família é lançada à mercê do mundo, fecha-se a experiência amorosa de cuidado, condução e misericórdia do Pai.

Fruto dos relacionamentos

A oração da família deve frutificar nas relações, no testemunho familiar. O Papa Francisco, na exortação apostólica Amoris Laetitia ,nos mostra que "os cuidados familiares não devem ser alheios ao seu estilo de vida espiritual" e nos convida à espiritualidade da comunhão a partir de gestos reais e concretos no ordinário da vida, mesmo diante dos problemas e sofrimentos, buscando nesses casos força e fé pascal a partir da oração familiar, no cuidado recíproco, no apoio e estímulo mútuo, na vivência do perdão e saída do núcleo familiar para a abertura aos outros, em especial, pela hospitalidade e cuidado com os pobres.

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Em nossa experiência particular enquanto família, fomos e vamos vivendo mudanças de fase e formato da vida de oração. Iniciamos, quando recém-casados, a oração carismática conforme o Beraká orientado pela Comunidade Católica Shalom. Com a chegada dos filhos na 1ª infância, visando sua inserção na vida de oração, fomos continuando a vivenciar o momento do Beraká. Contudo, tivemos que nos adaptar a realidade das crianças e fomos buscando sabedoria para a reflexão sobre a Palavra de Deus de forma mais lúdica.

O próprio ritmo de oração se tornou mais fraterno, com momentos de louvor, arrependimento, preces e intercessão, culminando com atividades e partilhas sobre a oração e registro no caderno de oração da família e deles, além dos momentos marianos em que fomos cultivando o amor à Nossa Senhora através da recitação do terço, o qual neste tempo de pandemia se tornou umas das mais recorrentes vias de intercessão da nossa família pela humanidade que padece nesse período. Com a nossa filha primogênita adentrando a segunda infância, e os outros dois permanecendo na 1ª infância, estamos discernindo outras maneiras de rezarmos em família de modo a adequá-las a todos eles. Afinal, é missão nossa, enquanto pais, sermos mestres de oração para os nossos filhos, favorecendo a sua vivência.

Deus nos acumula de graças

Deus em sua fidelidade, concede a todos os pais, pelo sacramento do matrimônio, todas as graças que necessitamos para exercer tão bela missão de sermos mestres de oração para nossos filhos. Ele envia sobre nós o seu Espírito e conduz-nos. Compreendemos que não existe um formato engessado de oração, pois o Espírito sopra onde quer. Ele traz as suas novidades e nos dá sabedoria, enquanto pais, para vivenciarmos a oração em família.

A vida de oração em família é dom de Deus, e precisa ser cultivada desde o momento da sua geração, deve ser um lugar de mergulho na experiência do amor de Deus que transborda na vida de cada membro fortalecendo os laços, bem como gerando cada um para a comunhão e oferta de vida a começar dentro do próprio lar e transbordando para a humanidade.

Juan Carlo da Cruz Silva e Paula Lorena C. Albano da Cruz
 Casal da Comunidade de Aliança Shalom


Fonte: https://comshalom.org/como-rezar-em-familia/