12 de outubro de 2022

Crianças, pequenos mistérios que revelam quem somos

Pensamos que nós pais somos feitos para os filhos, mas são eles que vêm para nós, para nos ensinar aquilo que ainda não sabemos. Eles vêm curar as nossas feridas mais secretas.

Nascem prontos, "perfeitos". Precisamos apenas cuidar para não os estragar, repreendê-los e trancar essa essência maravilhosa, pequenas dádivas.

As crianças sentem tudo o que se passa. São capazes de perceber, inconscientemente, nossos maiores segredos. Já ouvi crianças dizerem coisas que revelaram o que, de fato, está acontecendo entre o casal em crise.

Foto Ilustrativa: Kalinovskiy by Getty Images / cancaonova.com

Percepção das crianças

"Mamãe não gosta do papai. Ela sempre fica pensando num ex-namorado". "Papai não ama a mamãe. Só casou com ela para me ter. O sonho dele era ser pai, por isso, deixou a outra mulher, que não podia ter filho. Mas ele ainda ama a outra". "Papai é mentiroso, disse que foi trabalhar, mas ele passou aquele perfume. Ele vai se encontrar com aquela amiga". "Papai disse para eu ser honesto, mas eu sei que ele não é muito honesto, não". "Eu sou nada pra eles, sou sozinha. Sou sempre a última a ser pega na escola. Eles são muito ocupados". "Eu só atrapalho, sou um estorvo, sempre deixo mamãe irritada. Ela não queria me ter".

Nesta semana, vamos dar o melhor presente para as nossas crianças

Elas sabem tudo! Sabem além daquilo que nós mesmos conseguimos ver. Parece assustador, não é mesmo? A linda notícia, no entanto, é que, quando nos arrependemos de nossos erros, reconciliamo-nos com nosso passado e nos tornamos pessoas melhores, e eles também sentem.

Sabem que são importantes, que estão cumprindo a sua missão. Quanto mais difícil é o filho, mais eles têm a ensinar. Já vi filhos "rebeldes" que vieram para ensinar a paciência e o equilíbrio. Já vi filhos cheios de "defeitos" que vieram para ensinar aos pais o amor incondicional. Já vi filhos errando para ensinar aos pais o perdão.

Há filhos alegres que vêm para ensinar o sentido da vida. Há filhos muito espirituais que mostram o caminho espiritual para a família. Só precisamos estar abertos para vê-los com nossos olhos da alma, abertos para entender esses mistérios.


O que a vida ensina quando se perde um filho

Em meu livro, conto sobre certa mulher que vive na Itália e perdeu seu filhinho, quando este contraiu meningite poucos dias antes de seu aniversário. As bexigas já estavam compradas.

Ainda no hospital, ela quis "preparar" seu filho para o momento da morte, dizendo que, daqui a pouco tempo, ele acordaria num lugar muito lindo e que Nossa Senhora cuidaria dele até o dia em que a mamãe chegaria também nesse lugar. No velório, junto com as flores, estavam as bexigas.

Dias após a morte, ela escreveu para o Movimento dos Focolares, dizendo que seu filho veio para ensiná-la a viver plenamente o momento presente: "Quando ele me pedia para brincar, eu lhe dizia: 'Depois, filho' (afinal, a louça e as roupas eram mais importantes até então). Se eu pudesse voltar, eu não diria mais: 'depois, filho'".

Padre Christian Shankar fez uma reflexão a respeito da frase: "Não tenho tempo". Temos usado muito essa frase como desculpa por não visitar os amigos, familiares ou pessoas com algum significado para nós. Quando encontramos com essas pessoas, logo dizemos a frase.

"Não tenho tempo" tem sido sinônimo de que você é muito importante e tem muitos compromissos, falamos até com certo orgulho.

Segundo a reflexão do sacerdote, se fôssemos realmente verdadeiros, deveríamos dizer aos amigos: "Você não é minha prioridade". Outras coisas são prioridade, como profissão, status ou simplesmente o ativismo.

As prioridades no dia a dia

Isso me fez refletir sobre os pais e os filhos. Você teria coragem de dizer a verdade para seu filho? Quando ele vier pedir para brincar ou passear, você conseguirá dizer: "Você não é minha prioridade"? Seria cruel demais a verdade para eles, não é mesmo? Não diríamos. Lembre-se de que as crianças sentem tudo, elas sabem que não são a prioridade para aqueles pais.

Nesta semana, vamos dar um presente para nossas crianças? Que tal, como presente, o presente? Sim, simplesmente viver.

Viver só é possível no agora. Se vivo, sinto. Sinto a vida que existe no filho, sinto seu cheiro, seu abraço, seu olhar, sua risada. Se vivo, sei o que é essencial, aquilo que me faz respirar, que me faz ter um sentido. Assim, aprendo tudo o que o meu filho veio me ensinar, corrijo meus erros e percebo que todo o resto que nos ocupa tanto o tempo é insignificante.



Adriana Potexki

Adriana Potexki é escritora e autora dos livros 'A cura dos sentimentos em mim e no mundo' e 'A cura dos sentimentos nos pequeninos'. Com formação em Psicologia, ela é terapeuta certificada pelo EMDR Institute, palestrante internacional e blogueira do site 'Sempre Família', do Grupo GRPCom. Autora do livro "Vencendo os traumas que nos prendem" , pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/pais-e-filhos/criancas-pequenos-misterios-que-revelam-quem-somos/

10 de outubro de 2022

Quem nunca perdeu a paciência?

"Vale mais ter paciência do que ser valente; é melhor saber se controlar do que conquistar cidades inteiras." (Provérbios 16,32).

Um dos sentimentos mais perturbadores da atualidade tem nome: impaciência! A falta de paciência tem feito com que muitas pessoas se desesperem quando entram em contato com essa realidade na vida. Muitos conflitos, raivas e mágoas têm ganhado vida devido à impaciência. Mas o que desencadeia esse sentimento? Como podemos exercitar a parcimônia em nossa vida? Como controlar a falta dessa virtude? Quais os segredos para ser paciente?

Paciência é uma virtude. Poderíamos defini-la como a capacidade de autocontrole diante de inúmeras realidades que ultrapassam os nossos limites emocionais, sociais e espirituais.

 O cultivo da paciência é um exercício diário

A falta de paciência nasce na vida em função de inúmeros fatores. Fato é que a paciência faz parte do nosso processo humano. Há dias em que acordamos sem essa virtude. As dificuldades começam a se agravar quando a impaciência começa a ocupar grande parcela de nossos pensamentos e, como consequência disso, desestrutura nossa relação com o próximo, com nós mesmos e também com Deus.

Quando o nível de impaciência adquire espaços indevidos

Quando o nível de impaciência adquire espaços indevidos em nossa vida, entramos em um campo complexo que necessita de reflexão e, que, na maioria das vezes, exige mudança de atitudes em relação ao que nos rouba a paz interior. Muitos dizem que não têm paciência, mas quando são questionados sobre o que lhes tira a paciência não sabem responder; e quando essa resposta não é clara, temos um quadro bastante complexo, que precisa ser analisado tanto na área humana quanto na espiritual. Geralmente, quando não sabemos de onde ele surge, é porque estamos diante de uma realidade que não conhecemos ou, por medo, não queiramos entrar em contato com ela. O medo das próprias sombras nos impede de alcançar a luz que ilumina as nossas mais profundas realidades sombrias.

No namoro ou no Casamento!

Nem sempre é fácil aceitar o diferente. E esta é uma das realidades que mais roubam a paz de muitas pessoas. Na maioria das vezes, desejamos que o outro seja como nós, pense, sinta e veja o mundo a partir dos nossos olhos. As relações interpessoais estão marcadas pela falta de paciência com o diferente. Muitos casais, após um tempo de namoro ou de casamento, acabam descobrindo que o namorado ou marido, a esposa ou a namorada, é uma pessoa diferente daquilo que imaginavam. Quando isso acontece, surgem os conflitos internos que desencadeiam, muitas vezes, sérios desentendimentos conjugais e de relacionamento.

Créditos: by Getty Images / Flashvector/cancaonova


Quais os segredos para ser paciente?

Muitos processos de namoro idealizam o outro como o protótipo da perfeição. Imaginam que estão diante de um ser humano perfeito. Quando este mito da perfeição começa a ser desconstruído, surge a decepção, a tristeza e a desilusão. Nem sempre é fácil aceitar que, durante muito tempo, se conviveu com alguém que não era tão perfeito como antes se havia imaginado. Geralmente, quando isso acontece, muitos casais se defrontam com uma verdade com a qual até o momento não haviam tido contato. Superar a ilusão que foi criada e aceitar que o outro não é tão perfeito como se havia imaginado é um processo, muitas vezes, doloroso, que só é superado com muita compreensão e paciência.

Falta de paciência

Essa falta de paciência se reflete também em muitas famílias. Pais se desentendem com os filhos quando entram em contato com a realidade familiar e descobrem que estes não estão correspondendo ao que um dia lhes fora ensinado. Este fato tem causado muitos desajustes em inúmeras famílias. Durante a infância, os genitores os educaram com a melhor das intenções e procuravam levá-los à igreja; acreditavam sinceramente que estes iriam seguir os passos que,  um dia, lhes fora ensinado. Mas a adolescência chega e os filhos já não querem ir mais à Santa Missa, não obedecem tanto quanto antes obedeciam. Muitos se tornam rebeldes. Como enfrentar esta situação de desajuste nas relações familiares?

O princípio da paciência é fundamental.

O princípio da paciência é fundamental. Nem sempre é fácil para os pais aceitarem que seus filhos, muitas vezes, não vão seguir tudo aquilo que eles ensinaram. Muitos genitores, quando se defrontam com esta realidade, entram em crise e tentam pela força obrigá-los a fazer o que lhes fora ensinado um dia. A experiência mostra que forçar o outro a fazer aquilo que desejamos provoca muitas confusões e desajustes no lar. Na maioria das vezes, a rebeldia dos filhos em não querer ir à igreja é uma maneira camuflada de enfrentarem e dizerem aos pais: "Agora quem manda na minha vida sou eu!".  A oração é fundamental para quem enfrenta situações desse tipo.

Confie em Deus

No diálogo com Deus, encontramos sabedoria para enfrentar situações complicadas e de difícil solução. Contudo, é preciso que os pais procurem conhecer os filhos e o momento que eles estão vivendo. O diálogo em família é fundamental. Mas sempre vale lembrar que a abertura para os filhos começa desde a infância destes. O que não foi construído no tempo dificilmente será construído na pressa. Quem nunca conseguiu se aproximar dos filhos quando estes eram pequenos,  dificilmente vai conseguir fazê-lo na adolescência destes.

Relação de impaciência

Se a relação de impaciência dos pais com os filhos pode ser conflitiva, o mesmo acontece em relação aos filhos com os pais. Nem sempre estes conseguem compreender as "cobranças" dos genitores. Interessante notar que muitos adolescentes querem que seus pais compreendam o mundo no qual estão vivendo atualmente. Essa tentativa nem sempre é frutífera, pois os pais viveram em épocas diferentes das quais os adolescentes e jovens vivem hoje. Tiveram uma educação diferente, de acordo com a época na qual viviam. Os filhos, portanto, precisam desenvolver um olhar compreensivo em relação aos pais. Tudo isso faz parte da bagagem humana e espiritual destes [pais]. Sempre será preciso que haja compreensão e paciência de ambas as partes para que o respeito e o diálogo possam ser exercidos. O olhar de compreensão é fundamental nas relações familiares. Quando este olhar é descuidado, a paciência cede lugar aos conflitos e desentendimentos.

O cultivo da paciência é um exercício diário.

O cultivo da paciência é um exercício diário. Muitas vezes, esse processo em nós é lento, mas nem por isso devemos desanimar. Deus é extremamente paciente com as nossas limitações, com nossos erros, egoísmos e nossas mentiras. Será cultivando a paciência no jardim de nossa alma que colheremos flores de bondade e tolerância. A paciência somente será construída no meio de nós quando Jesus for nosso modelo de amor para com todos.


 

"Vale mais ter paciência do que ser valente; é melhor saber se controlar do que conquistar cidades inteiras" (Provérbios 16,32).

Um dos sentimentos mais perturbadores da atualidade tem nome: impaciência! A falta de paciência tem feito com que muitas pessoas se desesperem quando entram em contato com está realidade na vida. Muitos conflitos, raivas e mágoas tem ganhado vida a partir da impaciência. Mas o que desencadeia a impaciência? Como podemos exercitar a paciência em nossa vida? Como controlar a falta de paciência? Quais os segredos da paciência?

Paciência é uma virtude. Poderíamos defini-la como a capacidade de autocontrole diante de inúmeras realidades que ultrapassam os nossos limites emocionais, sociais e espiritualidade.

A falta de paciência nasce na vida a partir de inúmeros fatores. Fato é que a paciência faz parte do nosso processo humano. Há dias em que acordamos sem paciência. As dificuldades começam a se agravar quando a impaciência começa a ocupar grande parcela de nossos pensamentos e como consequência disto desestrutura nossa relação com o próximo, conosco mesmo e também com Deus.

Quando o nível de impaciência adquire espaços indevidos em nossa vida, entramos em um campo complexo que necessita de reflexão e que na maioria das vezes exige mudança de atitudes em relação ao que nos rouba a paz interior. Muitos dizem que não tem paciência, mas quando são questionados acerca do que lhes tira a paciência não sabem responder. Quando está resposta não é clara temos um quadro bastante complexo e que precisa ser analisado tanto na área humana quanto na espiritual. Geralmente quando definimos um sentimento que nos incomoda e não sabemos de onde ele surge, estamos diante de uma realidade que não conhecemos, ou talvez por medo não queiramos entrar em contato. O medo das próprias sombras nos impede de alcançar a luz que ilumina as nossas mais profundas realidades sombrias.

Nem sempre é fácil aceitar o diferente. E está é uma das realidades que mais roubam a paz de muitas pessoas. Na maioria das vezes desejamos que o outro seja como nós, pense, sinta e veja o mundo a partir dos nossos olhares. As relações interpessoais estão marcadas pela falta de paciência com o diferente. Muitos casais após um tempo de namoro ou de casamento acabam descobrindo que o marido, ou a esposa, é uma pessoa diferente daquilo que imaginavam. Quando isto acontece surgem os conflitos internos que desencadeiam muitas vezes em sérios desentendimentos conjugais.

Muitos processos de namoro idealizam o outro como o protótipo da perfeição. Imaginam que estão diante de um ser humano perfeito. Quando este mito da perfeição começa a ser desconstruído surge a decepção, a tristeza e a desilusão. Nem sempre é fácil aceitar que durante muito tempo se conviveu com alguém que não era tão perfeito como antes se havia imaginado. Geralmente quando isso acontece muitos casais se defrontam com uma verdade que até o momento não haviam tido contato. Superar a ilusão que foi criada e aceitar que o outro não é tão perfeito como se havia imaginado é um processo muitas vezes dolorido e que só é superado com muita compreensão e paciência.

Esta falta de paciência se reflete também em muitas famílias. Pais se desentendem com seus filhos quando entram em contato com a realidade familiar e descobrem que seus filhos não estão correspondendo ao que um dia lhes foi ensinado. Este fato tem causado muitos desajustes em inúmeras famílias. Durante a infância, os pais educaram os filhos com a melhor das intenções e procuravam leva-los para a Igreja; e acreditavam sinceramente que seus filhos iriam seguir os passos que um dia lhes fora ensinado. Mas adolescência chega e os filhos já não querem ir mais para a Missa, não obedecem tanto quanto antes obedeciam. Muitos se tornam rebeldes. Como enfrentar esta situação de desajuste nas relações familiares? O princípio da paciência é fundamental. Nem sempre é fácil para os pais aceitarem que seus filhos muitas vezes não irão seguir tudo aquilo que eles ensinaram. Muitos pais quando se defrontam com esta realidade entram em crise, e tentam pela força obrigarem os filhos a fazerem o que lhes foi ensinado um dia. A experiência mostra que forçar o outro a fazer aquilo que desejamos provoca muitas confusões e desajustes no lar. Na maioria das vezes a rebeldia dos filhos em não querer ir a Igreja é uma maneira camuflada de enfrentarem e dizerem aos pais: "Agora quem manda na minha vida sou eu!" A oração é fundamental para quem enfrenta situações neste nível. No diálogo com Deus encontra-se sabedoria para enfrentar situações complicadas e de difícil solução. Contudo, é preciso que os pais procurem conhecer seus filhos e o momento que eles estão vivendo. O diálogo em família é fundamental. Mas sempre vale lembrar que a abertura para os filhos começa desde a infância. O que não foi construído no tempo dificilmente será construído na pressa. Quem nunca conseguiu se aproximar dos seus filhos quando pequenos dificilmente irá conseguir na adolescência.

Se a relação de impaciência dos pais com os filhos pode ser conflitiva, o mesmo acontece em relação aos filhos com os pais. Nem sempre os filhos conseguem compreender as "cobranças" dos pais. Interessante notar que muitos adolescentes querem que seus pais compreendam o mundo no qual estão vivendo atualmente. Está tentativa nem sempre é frutífera, pois os pais viveram em épocas diferentes das quais os adolescentes e jovens vivem hoje. Tiveram uma educação diferenciada, de acordo com a época na qual viviam. Os filhos, portanto, precisam desenvolver este olhar compreensivo em relação a seus pais. Tudo isto faz parte da bagagem humana e espiritual dos pais. Sempre será preciso que haja compreensão e paciência de ambas as partes para que o respeito e o diálogo possam ser exercidos. O olhar de compreensão é fundamental nas relações familiares. Quando este olhar é descuidado a paciência cede lugar aos conflitos e desentendimentos.

Muitos funcionários vivem a beira de um ataque de nervos na empresa em que trabalham. Diante de uma variedade enorme de diferentes formas de pensar, por vezes a falta de paciência acaba roubando a paz do ambiente de trabalho. Nas relações empresariais a falta de paciência pode ser um dos sentimentos que predominam em quase todos aqueles que convivem diariamente e dividem o mesmo espaço durante todo um ano. O jeito de ser do outro pode causar serias irritações em todos ou em alguém especificamente. Geralmente todos desejam que todos sejam iguais. Quando esta postura é adotada pelos funcionários as divergências começam a surgir. O patrão gostaria que o secretario fosse tão ágil no pensamento como ele é. O secretário acredita que o contador deveria ser tão simpático quanto ele é. O contador pensa que a cozinheira deveria ser tão organizada quanto ele é… Na maioria das vezes sempre se exige que o outro seja como somos. Quando esta realidade se apresenta estamos diante de um sério conflito de impaciência nas relações interpessoais que atingem diversos funcionários.

A impaciência nas empresas surge muitas vezes de conflitos pessoais mal resolvidos. Muitos projetam suas sombras em outras pessoas. E quando isto acontece o que eles veem de negativo no outro são suas próprias realidades negativas que não foram trabalhadas. Outros passam a vida distribuindo suas sombras interiores para seus colegas de trabalho. Outros ainda nunca tiram férias, pois se ficarem um tempo maior sem suas sombras projetadas, entrarão em desespero, pois terão que enfrentar seu lado sombrio. Sempre será mais fácil projetar no outro aquilo que não se tem coragem de enfrentar.

Outros ao longo da vida desejam que todos caminhem no seu ritmo espiritual. A vida é como um jardim com muitas flores. Algumas estão nascendo, outras começaram a crescer, outras estão com botões, outras já estão florindo. A impaciência no campo espiritual faz com que pensemos que todos estão no mesmo processo que o nosso. E a realidade mostra que não é bem assim. Cada pessoa está em uma etapa no processo de amadurecimento espiritual. Alguns estão bem adiantados na caminhada, outros estão engatinhando, outros ainda estão descobrindo o que é a fé. Cada pessoa exige um ritmo próprio de caminhar. Saber respeitar o tempo de cada um é sabedoria que nasce de um profundo relacionamento com Deus e com o próximo. Corremos o risco de exigir que o outro pule etapas em seu processo de amadurecimento espiritual. Quando isto acontece muitos se sentem sufocados, pois não lhes foi permitido que percorressem o processo necessário de amadurecimento na fé com paciência. Imagine o que seria da primavera se o outono não cumprisse seu tempo? A primavera é um processo de estações. O amadurecimento espiritual é um processo de paciência que nasce de um olhar de respeito diante do tempo de cada ser humano.

Inúmeras comunidades vivem em profundas crises pela impaciência entre seus membros. O diferente sempre é motivo de questionamentos e incompreensões. Diante daquele que pensa de maneira diferente muitos acabam se colocando na defensiva. Talvez, a paciência necessária nas relações comunitárias poderia fazer com que todos aprendessem com quem pensa diferente da maioria. O outro nunca deve ser visto como opositor. Quando o jeito de ser do outro nos questiona e nos retira de nossas seguranças é chegado o momento de refletir e descobrir novos caminhos para criar relações de paz. Não será excluindo quem pensa diferente da maioria que chegaremos a algum lugar. A diferença do outro é motivo para crescer sempre em comunidade de fé. Os discípulos de Cristo não eram iguais entre si. Cada um tinha um estilo de ser. E foram estas diferenças que deram origem as primeiras comunidades cristãs. Jesus sabia que com a paciência seria possível compreender a cada sem excluir ninguém do seu plano de amor.

O excesso de impaciência na vida pode ser fruto da falta de paciência consigo mesmo. Muitas pessoas não conseguem ter paciência com elas mesmas. Muitos vivem reféns do passado. Algemaram em seu coração situações tristes: raiva, mágoas, falta de perdão… Hoje não conseguem ter uma vida de paz. Não se reconciliaram com o que passou e dão vida no presente ao que nunca mais voltará. Quem faz este processo, muitas vezes doentio, perde a oportunidade de reescrever seu presente com tonalidades de esperança. Ter consciência dos processos que aprisionam o presente ao passado pode ser fonte libertadora para dar inicio a uma nova vida. Reconciliar-se com as próprias sombras é apenas o inicio de uma caminhada que não tem data marcada para terminar. Diante de todos aqueles que estavam aprisionados pelos sofrimentos passados, Jesus não condenou, apenas olhou com esperança diante das páginas da vida que cada um deveria escrever. O olhar de possibilidades de Cristo devolveu a cada um a paciência necessária para recomeçar uma nova história.

Em um tempo onde poucos tinham paciência com o pecador, Jesus iluminou com um olhar de acolhida o coração de todos aqueles que faziam da impaciência uma lei para julgar quem era diferente. Enquanto muitos paravam nos erros, Jesus caminhava pela história de cada pessoa e adentrava no coração de cada um. O olhar de Cristo nos ensina hoje o caminho para a prática da paciência no cotidiano da vida. Ver além das aparências, acolher quem pensa diferente é um caminho para descobrirmos os segredos da paciência.

O cultivo da paciência é um exercício diário. Muitas vezes o processo da paciência em nós é lento. Mas nem por isso devemos desanimar. Deus é extremamente paciente com as nossas limitações, erros, egoísmos, mentiras… Será cultivando a paciência no jardim de nossa alma que iremos colher flores de bondade e tolerância. A paciência somente será construída no meio de nós, quando Jesus for nosso modelo de amor para com todos.

Pe. Flávio Sobreiro


Padre Flávio Sobreiro

Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP e Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre (MG), padre Flávio Sobreiro é pároco da Paróquia São José, em Toledo (MG), e padre da Arquidiocese de Pouso Alegre (MG). É autor de livros publicados pela Editora Canção Nova, além disso, desde 2011,  é colunista do Portal Canção Nova. Para saber mais sobre o sacerdote e acompanhar outras reflexões, acesse: @peflaviosobreirodacosta.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/quem-nunca-perdeu-a-paciencia/

7 de outubro de 2022

Mitos e verdades sobre alimentação na gestação


A gestação é um momento precioso que as mulheres vivem, é um verdadeiro milagre e dom de Deus. Seu corpo sofre alterações hormonais, fisiológicas e físicas para adaptar-se e gerar a nova vida que trará ao mundo. Acontecem também algumas mudanças nas necessidades alimentares da mamãe, já que ela terá de consumir alguns nutrientes em maior quantidade para o desenvolvimento saudável do neném.

É importante lembrar também que, quando a mulher descobre a gravidez, muitas perguntas surgem, por isso vamos conversar um pouco sobre aquelas dúvidas mais comuns. Vejamos:

A gestante não deve comer por dois, mas sim consumir pelos dois os nutrientes essenciais para a saúde da mamãe e do bebê. A palavra-chave é qualidade, e não quantidade. É natural que o apetite da mãe aumente, mas os acréscimos de calorias nas refeições só começam a ser feitos no segundo trimestre.

Créditos: by Getty Images / halduns / cancaonova.com

Consumo de cafeína

A cafeína é encontrada em alimentos a base de café, nos refrigerantes de Cola, em alguns chás e medicamentos. Estudos mostram que o alto consumo de cafeína pela mulher, durante a gestação, pode aumentar as chances de o bebê nascer antes do tempo, com baixo peso e maior risco de aborto. Porém, não há necessidade de cortá-lo da alimentação, mas apenas controlar seu consumo, já que a digestão da cafeína se faz um pouco mais lenta no organismo da mulher grávida.

Quanto posso consumir?

A grávida pode consumir até 300mg de cafeína por dia, o equivalente a quatro xícaras de café solúvel.


Chocolate

Ele não é um vilão das mamães como muitas imaginam, mesmo possuindo cafeína na composição, pois a porção é aceitável. O cuidado que se deve ter com seu consumo em excesso é que ele pode prejudicar a mulher com um ganho de peso excessivo e também provocar azia. O ideal é consumi-lo com equilíbrio e preferir as versões meio-amargas. De acordo com alguns estudos, esse tipo de chocolate [meio-amargo] pode prevenir complicações na gravidez como a pré-eclâmpsia (pressão elevada durante a gestação).

Carnes malpassadas / Vegetais crus

As carnes bovinas ou suínas consumidas de forma malpassadas devem ser evitadas para prevenir o que chamamos de contaminação cruzada, ou seja, que a mamãe se contamine com alguma bactéria, fungo ou até mesmo uma verminose, trazendo doenças para ela e para o bebê. Essa orientação vale também para os vegetais e ovos consumidos na sua forma crua. É necessário evitar esses hábitos no período de gestação.

Castanhas, nozes e amendoim

Um estudo nos mostra que mulheres que consumiram amendoim durante a gravidez favoreceram seus filhos a não desenvolverem asma. As contraindicações quanto a esses alimentos se voltam, no entanto, para as mulheres que tenham, na família, pessoas alérgicas a esses produtos. Nestes casos, estes alimentos devem ser evitados, para não produzir processos alérgicos e afetar o sistema imunológico da mãe e do bebê.

Cerveja aumenta a produção de leite

Posso dizer que o consumo da cevada é mais um mito que ronda as gestantes. Não existe comprovação científica que indique qualquer alimento que aumente a produção de leite materno. Pelo contrário, o consumo de álcool durante a gestação e durante o aleitamento materno é prejudicial tanto para mãe quanto para o bebê, já que o álcool atravessa a placenta e é metabolizada também por ela.

A grande dica, diante de tudo o que vimos, é ter uma alimentação equilibrada e específica para as gestantes, a fim de evitar excessos e carências tanto para ela quanto para seu filho. Incentivo as futuras mamães a procurarem um nutricionista ou profissionais da área para ter um acompanhamento específico que vá garantir sua saúde e de seu bebê.


Cristiane Zandim

Cristiane Pereira Zandim nasceu em Brasília / DF. É missionária na comunidade Canção Nova desde 2011. Cursou Nutrição na Universidade Universidade Federal Dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/saude-atualidade/mitos-e-verdades-sobre-alimentacao-na-gestacao/


5 de outubro de 2022

Intercedam no poder do Espírito Santo

No Novo Testamento, o ministério de intercessão é centrado em torno de dois advogados supremos – Jesus e o Espírito Santo. A intercessão é a oração ao Pai por meio de Jesus, conduzida e fortalecida pelo Espírito Santo. Aquilo que, normalmente, nós pensamos ser uma oração de intercessão é, na verdade, uma oração de petição. Sou eu dizendo a Deus o que eu gostaria que Ele fizesse. Mas quando intercedemos, nós deveríamos ser conduzidos e dirigidos pelo Espírito Santo quanto ao que rezar e como rezar.

Jesus prometeu aos Seus discípulos que Ele mandaria o Espírito Santo: "E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco" (Jo 14,16). Sendo esse "outro advogado" dado a nós, o Espírito Santo advoga por nós em nossa oração de intercessão. Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza, porque não sabemos o que devemos pedir nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis. E aquele que perscruta os corações sabe o que deseja o Espírito, o qual intercede pelos santos, segundo Deus. (Rm 8,26-27)

Muitas vezes, nós não sabemos como rezar, porque não temos compreensão plena da situação, as causas escondidas, a complexidade do problema etc. Não conseguimos prever o futuro. Não entendemos bem o que é melhor para nós ou qual o plano de Deus para nós. O Espírito Santo é o nosso parceiro orante interior, que vem em nosso auxílio na intercessão.

Créditos: by Getty Images / pra-chid / cancaonova.com

O Espírito nos ajuda a rezar

Precisamos ser abertos ao Espírito Santo em nossa intercessão, porque Ele nos ajuda a rezar estrategicamente. Existem muitas situações complexas na intercessão, que não temos como compreender na totalidade. Deveríamos permitir que o Espírito assuma o processo da intercessão.

Num sentido mais profundo, se nos questionarmos: "O que é a intercessão?", a resposta seria: é a oração pelos outros conduzida e energizada pelo Espírito Santo. O Espírito é o ator principal da intercessão. "Orai em toda circunstância pelo Espírito" (Ef 6,18). Em nossa intercessão, nós precisamos ser conduzidos e dirigidos pelo Espírito Santo.

"Quanto a vós, a unção que dele recebestes permanece em vós. E não tendes necessidade de que alguém vos ensine, mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, assim é ela verdadeira e não mentira. Permanecei nele, como ela vos ensinou." (1Jo 2,27) A nossa intercessão se torna eficiente por meio da força e da direção dada pelo Espírito Santo. Na intercessão, é importante saber para o que Deus quer que rezemos e, ao mesmo tempo, experimentar o poder do Espírito Santo, para que a oração seja efetiva.


A importância dos carismas

Os carismas vêm em nosso auxílio na intercessão. Os carismas, ou dons espirituais, existem para "o perfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do corpo de Cristo" (Ef 4,12). Uma boa maneira de explicar os dons espirituais é dizer que eles são como ferramentas ou recursos que transmitem poder para o nosso ministério. Tem hora que o Senhor revela ao intercessor situações de emergência, como uma tendência suicida de alguém, uma calamidade natural, um acidente, uma doença fatal etc. Essencialmente, a intercessão é um dom do Espírito Santo.

Existem outros carismas que podem ser usados durante o processo de intercessão, tais como: o dom de línguas, o dom de interpretação de línguas, palavra de ciência, palavra de sabedoria, discernimento dos espíritos, dom de profecia etc. Muitas vezes, não sabemos o que rezar nem como rezar. Outras vezes, quando estamos em um grupo, existem situações nas quais não podemos explicar em detalhes tudo a todos. Em todas essas ocasiões, o dom de oração em línguas vem como um poderoso meio de intercessão. O dom de línguas ajuda a pessoa a ficar focada na intenção e a não sair dos trilhos. A intercessão se torna muito mais eficaz quando ela é conduzida pelo poder do Espírito Santo.

Texto extraído do livro "Intercessão profética", de Cyril John.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/intercedam-no-poder-espirito-santo/

3 de outubro de 2022

Jesus vai voltar?

A história da salvação acontece em diversas etapas. Deus criou e organizou o homem na face da Terra, depois, escolheu um povo, a partir de Abraão. Com essa escolha, o Senhor passa a ter um povo sobre a Terra. Logo depois, o Seu povo, por meio de Moisés, recebe a Lei, ou seja, o modo como viver neste lugar. Tudo isso apontava para o dia mais importante da nossa salvação: a chegada de Jesus.

Paulo descreve em Gálatas: "Chegada a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho nascido de uma mulher" (Gl 4,4). Jesus vem, cumpre Seu papel de revelar o Pai, redime a humanidade morrendo na cruz, forma Sua Igreja enviando o Espírito Santo e estabelece um tempo para essa Igreja até que Ele volte.

Portanto, a espera da segunda vinda de Cristo é renovada todos os dias, no mundo inteiro, na liturgia eucarística, pela Igreja, ao dizer "todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto esperamos a vossa vinda".

Créditos: kieferpix by Getty Images/cancaonova.com

Os primeiros cristãos estavam preocupados com a segunda vinda de Jesus

Nenhum teólogo ou Igreja cristã tem dúvida se Jesus vai voltar. Quando os primeiros cristãos perguntaram se era o momento de Jesus restaurar Jerusalém – como encontramos no livro dos Atos dos Apóstolos -, Ele respondeu: "não cabe a vós saber o dia e a hora, não cabe a vós vos preocupardes com este momento" (At 1,7-8). Porém, Jesus não negou esse momento, Ele não disse que a Igreja não deveria se preocupar com esse assunto.

Vejamos: a Igreja acabara de nascer, tinha, agora, a missão de levar o Evangelho até os confins da terra como descrito no versículo 8 de Atos dos Apóstolos: "Descerá sobre vós o Espírito Santo, que lhes dará força e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, na Judeia e na Samaria e até os confins da terra".

A preocupação central da Igreja recém-nascida era levar a mensagem da salvação ao mundo inteiro. Para isso, seria revestida da força do Espírito Santo e não deveria preocupar-se tanto com a segunda vinda do Senhor.

Jesus deu sinais

Mas, apesar dos primeiros cristãos estarem focados em levar o Evangelho até os confins da terra, suas pregações traziam a visão escatológica. O capítulo 3 de Atos dos Apóstolos narra o milagre realizado por Pedro e João a caminho do templo. Esse fato assombrou o povo, que, atônito, acercou-se dos dois. Pedro, então, aproveita o momento para anunciar Jesus e convidá-los a crerem n'Ele, a se arrependerem e a se converterem, a fim de que os pecados lhes fossem apagados. Imediatamente, fala-lhes da segunda vinda do Senhor quando afirma: "Então enviará Ele o Cristo, que vos foi destinado, Jesus, a quem o céu deve acolher até os tempos da restauração de todas as coisas, das quais Deus falou pela boca de seus santos profetas" (At 3,20b-21).

Há um tempo estabelecido para a vinda do Senhor?

Também o apóstolo Paulo, na primeira das diversas cartas que escreveu, no livro mais antigo do Novo Testamento, já demonstrava preocupação com a segunda vinda do Senhor, como podemos constatar no capítulo 5, 23 da primeira epístola aos Tessalonicenses: "O Deus da paz vos conceda santidade perfeita; e que o vosso ser inteiro, o espírito, a alma e o corpo sejam guardados de modo irrepreensível para o dia da Vinda de nosso Senhor Jesus Cristo."

Tanto Pedro, o apóstolo dos judeus, como Paulo, o apóstolo dos gentios, trabalharam esse tema em suas pregações e escritos. Ao lermos Mateus, "e este Evangelho do Reino será proclamado no mundo inteiro como testemunho para todas as nações. E, então, virá o fim" (Mt 24,14), percebemos que há um tempo estabelecido para a vinda do Senhor. Este tempo está compreendido entre o início da propagação do Evangelho e a chegada dessa mensagem ao mundo inteiro.

Os anjos afirmam sobre a volta de Jesus

Em Atos, os anjos afirmam que, do mesmo modo que viram Jesus subir, o verão descer dos céus: "Os anjos disseram: 'Homens da Galileia, por que estais aí a olhar para o céu? Este Jesus que foi arrebatado dentre vós para o céu, assim virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu'" (At 1,11). Também, no final dos Evangelhos, vemos Jesus dizendo de sua segunda vinda gloriosa e dos diversos sinais que antecedem esse evento.

Os primeiros cristãos cumpriram a missão de levar o Evangelho e advertiram a Igreja sobre a vinda gloriosa do Senhor. Cabe à Igreja dos dias atuais, ao identificar os diversos sinais precursores e constatar que o Evangelho está chegando aos confins da terra, se deter sobre este assunto com mais profundidade.

(Conteúdo extraído do livro "A Segunda Vinda de Cristo" da autoria de Miguel Martini)

Autor Miguel Martini é Fundador da Com. Renovada Santo Antônio de Pádua em Belo Horizonte (MG).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/jesus-vai-voltar/

30 de setembro de 2022

Virgem Maria, a toda pequena


Um dos conselhos deste ano para a Comunidade é entrarmos na procissão com Nossa Senhora que na pequenez mostra o caminho seguro que é o próprio filho, Jesus Cristo.

comshalomIMAGEM COMSHALOM

Todos os anos o Conselho Geral da Comunidade Católica Shalom reúne-se em retiro para ouvir o Senhor e assim discernir a sua vontade para a Comunidade e, por meio de inspirações proféticas, Deus instrui, santifica, direciona e alimenta os membros da Comunidade no caminho missionário.

No ano de 2021 fomos visitados por uma imagem que muito nos impressionou:

"A imagem era a do Esposo Eucarístico saindo da capela da Diaconia (…) e formando atrás Dele uma grande procissão (…) Atrás de Jesus Eucarístico, Nossa Senhora toda pequena – continuamente essa imagem foi nos acompanhando durante o retiro de escuta -, com o seu manto cobrindo toda aquela procissão, todo aquele povo, uma multidão cheia de alegria e de júbilo."

Neste artigo desejamos dar algumas luzes para a meditação e aprofundamento desta imagem e de forma especial da maneira a qual Nossa Senhora apresentou-se a nós: a toda pequena!

A Pequena que conhece o caminho do Céu

Na imagem da procissão Maria está a um passo atrás de Jesus Eucarístico e o povo numeroso, composto por celibatários, sacerdotes, famílias, jovens, crianças, feridos, sãos … O seguem, rumo ao Pai. Um detalhe importante é que Maria, a toda pequena, a menor, está à frente de todo o povo. Podemos pensar: como é possível uma criatura tão pequena, até escondida estar nesse lugar? Ela não poderia "desaparecer" entre a multidão? Ela não tornaria imperceptível diante de tanto movimento?

Detalhe: Nossa Senhora "Toda Pequena"

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Para entendermos essa aparente contradição é preciso entrar na mentalidade evangélica. Da boa nova ministrada aos pobres, que retira do lixo o indigente e faz o pobre assentar-se entre os nobres (cf. Sl 113,8), que não se preocupa com o amanhã, mas confia inteiramente no Pai (cf. Mt 6, 36), que com alegria não se apega a sua condição, mas despoja-se de si (cf. Fl 2, 7), que exulta em saber que os grandes segredos do Pai foram revelados aos menores (cf. Lc 10, 21).

Essa procissão tem uma rota clara e bem definida: Jesus passa pelo mundo redimindo toda a humanidade e caminha em direção ao Céu, para o Pai e com Ele estamos nós:

"O Filho (…) está saindo deste mundo e redimindo toda a humanidade e erguendo-a ao Pai, levando-a para o Pai, introduzindo todo o povo que participa da procissão aos quatro cantos da terra."

Somos levados para o Pai, para o seu Reino, para a Vida Eterna mas, para adentrar na casa do Pai, Jesus dá orientações bem concretas, às vezes é bem enfático: "Filhos, como é difícil entrar no Reino dos Céus! É mais fácil um camelo passar pelo fundo da agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!" (Mc 10, 25). Neste caminho árduo da porta estreita é necessário empobrecer-se, pois se é impossível ao rico entrar no Reino dos Céu, Deus precisa fazê-lo pobre e pequeno.

"Bem- aventurados os pobres em espírito porque deles é o Reino dos Céus" (Mt 5,3), aos pequeninos, aos últimos, às crianças (cf. Mt 19, 14) pertence o Reino do Céu. A muitos santos o Senhor revelou esse caminho, que é capaz de conquistar o seu amoroso coração. Maria, a toda pequena e a mãe dos pequenos, caminha à frente nessa procissão, pois ela por excelência conheceu, experimentou e encarnou esse caminho de pequenez, que conduz ao Pai e lhe dá a posse do Reino dos Céus.

Seguindo os passos da Pequena

Vamos! Vamos! Rumo ao Céu seguindo os passos da Pequena, que como aurora aponta o Dia que vai chegando! Como São Bernando queremos invocar a proteção de Maria e aproveitar bem o benefício da sua oração. Para isso, é preciso "que não esqueças que tu deves caminhar sobre os passos de Maria".

Maria, jovem de uma pequena aldeia, de uma vida simples, na sua humildade atraiu o olhar do Todo Poderoso, Santa Elisabeth da Trindade ao falar de Maria no mistério da Encarnação afirma: "Conservava-se tão pequena, tão recolhida diante de Deus, no segredo do Templo, que atraiu sobre si as complacências da Santíssima Trindade". Ela toda escondida em Deus, na sua felicidade de criatura amada, pacificada em sua condição limitada, iluminada pela Verdade, inflamada pela Caridade, que é a face da humildade, foi olhada pelo Pai que "ao inclinar-se sobre esta criatura tão bela e tão indiferente à própria beleza" a fez mãe do seu próprio Filho.

A cheia de graça, Aquela que encontrou graça junto de Deus, admirada pelos anjos, amada de forma única por Deus, casa de ouro, de honras e elogios incalculáveis, mas que encontrou-se a humildade tão perfeita que nunca teve que reprimir o menor movimento de orgulho ou de vaidade. Na Encarnação disse ser a serva do Senhor e no Magnificat dá graças ao Altíssimo que se dignou olhar para a sua ínfima condição, trabalhou de maneira escondida e simples, na perfeita modéstia, na submissão à Lei.

Como é um disparate a humildade de Maria e o orgulho devastador dos degredados filhos de Eva. Quantas vezes somos capazes de perder tempo, como os discípulos discutindo quem é o maior? Fazemos exigência e às vezes pedimos até a quem amamos as glórias, podemos até perder o tempo da nossa oração e pedir a nossa Mãe que escolhamos o nosso lugar na glória (cf. Mt 20, 20-28). Quando a Virgem Maria escolheu de forma feliz os últimos lugares tão logo foi convidada para se aproximar do Rei, como na parábola da festa de casamento (Lc 14, 8 -9).

A via da humildade

Que Maria nos ensine a andar sob os passos da sua humildade, escolhendo o último lugar, aquele que não há disputa e que o Pai, no segredo, dá a recompensa que não passa. "O que Maria não pôde encontrar em si mesma, encontra naquele que é a soberana riqueza".

Maria consciente de sua pequenez e pobreza soube confiar em Deus, a sua soberania e grandeza não foi capaz de assustá-la, porque Ela não conservava no seu coração nenhuma glória mundana, somente a Glória de Deus! Por isso que um canto antigo elogia a Maria como aquela que para o homem clemência de Deus e do homem confiança em Deus.

Se no princípio "o homem preferiu a si mesmo a Deus" (Cf. Gn 3, 1-11) gerando a marca da desconfiança e do medo de Deus do pecado original, pelo caminho de abaixamento e humildade vivido por Cristo e seguido por Maria, é possível assumir a liberdade de confiar, sem restrições, em Alguém que é infinitamente maior que a si mesmo!

A Pequena que nos socorre

O Padre Garrigou-Lagrange define que Maria, em sua pequenez torna-se uma criatura ao mesmo tempo tão elevada e tão acessível a todos, tão eficaz e tão doce para levantar a todos. Em muitas orações é dirigida a ela o título de aurora da manhã, pois como a luz que dissipa as trevas e orienta os pobres no caminho.

Na imagem da Revista Escuta ainda há um sinal muito importante: Maria, a toda pequena, um passo atrás de Jesus, traz um manto desproporcional, muito grande, dinâmico que cobre a humanidade toda. Ela que sabe o caminho da procissão nos auxilia e protege em vista da conversão e da santificação.

Detalhe – Esposo Eucarístico, o mesmo que se encontra na Capela da Diaconia Geral

Neste caminho rumo ao Pai, Maria vem ao nosso socorro como a saúde dos enfermos, quantos testemunhos podemos dar das inumeráveis e providenciais curas ao longo da história obtidas por sua intercessão, e não somente para a cura dos corpos, mas também para trazer remédio às enfermidades da alma. Também a invocamos como refúgio dos pecadores, porque é sua mãe santíssima que detesta o pecado, mas acolhe e exorta seus filhos ao arrependimento, ajuda a libertar-se dos maus hábitos e a ter a reconciliação com Deus, como nas suas aparições (Fátima, Lourdes) ela insiste ao mundo o caminho da a conversão.

Maria, a pequena, é também a consoladora dos aflitos, pois "Não somente consola os pobres pelo exemplo de sua pobreza e pelo seu socorro, mas é particularmente atenta à nossa pobreza oculta; compreende a penúria secreta de nosso coração e assiste-nos". A Virgem Maria é também o auxílio dos cristãos, quantos testemunhos podemos dar que uma simples e pequena oração da Ave-Maria capaz de salvar, uma oração dos pequenos que cabe em qualquer lugar, que pode sair de quaisquer lábios e transformar qualquer situação.

Peçamos junto com Santo Ambrósio "Que a alma de Maria esteja em nós para glorificar o Senhor; que o espírito de Maria esteja em nós para exultar de alegria em Deus, nosso Salvador, para que seu reina venha a nós pelo cumprimento da sua vontade".

Vamos conhecer mais sobre a Mãe de Deus? 

A Virgem Maria" é o novo volume da Série Philippos. De autoria de Ana Paula Gomes, missionária da Comunidade de Vida Shalom, a obra pode ser considerada um pequeno manual de doutrina sobre a Mãe de Deus.  



Mariana Daros
Consagrada Comunidade de Vida
Assistência de Formação/ Pastoreio


Fonte: https://comshalom.org/virgem-maria-a-toda-pequena/


26 de setembro de 2022

Quando nos calamos, Deus se mostra e fala conosco

Estamos em um mundo marcado por muitos avanços científicos e tecnológicos, em que o ser humano tem ficado esquecido. As pessoas nunca têm tempo; mesmo os que não têm grandes responsabilidades sobre suas costas estão sempre entretidos com alguma coisa, todo mundo corre, quase ninguém para, e as pessoas já não sabem mais ouvir Deus.

Com a imprensa, o rádio, a televisão e a internet, a quantidade de informações descarregadas sobre cada um de nós é alucinante; em toda parte, há muito barulho, todo mundo fala, e o ouvido vai ficar calejado. Fala-se muito de coisas que nos cercam e muito pouco do que está dentro do nosso coração. A verdade é que "desaprendemos" a arte de escutar. Se não conseguimos dar ouvidos à pessoa que está perto de nós, a quem vemos e tocamos, como poderemos escutar Deus, cuja voz não impressiona os tímpanos?

Se um homem deixa o barulho e a agitação do mundo para procurar, no silêncio, o seu descanso, Deus se manifesta para ele. O Senhor prefere mostrar-se na suavidade da brisa a mostrar-se no estardalhaço do trovão.

O silêncio na oração

Na oração, Deus fala, escuta, Ele tem o que dizer a nós. Ele é o Absoluto, e, quando se manifesta, a melhor oração que podemos fazer é nos calar. Quando o homem cala, Deus fala.

Crédito: Pra-chid by GettyImages / cancaonova.com


Assim, em nossa oração, devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance, para nos colocarmos na presença de Deus, que já estava ali à nossa espera. Quando percebemos que nos aproximamos do Senhor e estamos diante d'Ele, devemos calar, porque as palavras já não são necessárias; então, podemos contemplar e ser contemplados.

Não temos ideia do quanto Deus nos cura e liberta, neste momento de silêncio, quando só o amor transita.

Exemplo de Nossa Senhora

Ninguém mais que Nossa Senhora ouviu Deus, porque ninguém tanto quanto Ela se calou. Muitos acham que a Virgem Maria não é importante, pois as Sagradas Escrituras mostram que Ela quase não se pronunciou. Não percebem que é justamente aí que reside a importância dela. Quando ninguém deu lugar a seu Filho para nascer, Ela se calou; entre os doutores e diante da cruz, Ela também se calou. Ela sabia que a vitória que temos sobre o sofrimento está no silêncio.

Quem se cala ante o sofrimento, guarda-se só para Deus o perfume desse sacrifício; quem fala, dissipa-o. Nossa Senhora falou pouco, mas, quando abriu a boca, a criação estremeceu.

Que o Espírito Santo nos coloque no coração o desejo de guardar o silêncio sagrado, o mesmo que Maria honrou e guardou, tornando-se a mestra, a educadora de todos os que, de longe, perceberam a profundidade desse mistério, e agora anseiam por penetrá-lo!

Dê-nos, ó Senhor, um anjo para nos guardar nesse bom propósito.

Artigo extraído do livro: 'Quando só Deus é a resposta'



Márcio Mendes

Nascido em Brasília, em 1974, Márcio Mendes é casado e pai de dois filhos. Ex-cadete da Academia da Força Área Brasileira, Mendes é missionário da Comunidade Canção Nova, desde 1994, onde atua em áreas ligadas à comunicação. Teólogo, é autor de vários livros publicados pela Editora Canção Nova, dentre eles '30 minutos para mudar o seu dia', um poderoso instrumento de Deus na vida de centenas de milhares de pessoas.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/quando-nos-calamos-deus-se-mostra-e-fala-conosco/