4 de agosto de 2021

O perdão deve ser declarado em todas as circunstâncias


O perdão não pode ser somente uma decisão interior guardada no fundo do coração; o perdão precisa ser exteriorizado. Perdão íntimo e interior são sementes de novas feridas. O perdão precisa ser verbalmente declarado. Assim como um juiz que precisa proclamar a sentença, a pessoa que decide perdoar deve declarar o perdão. Mais do que desejado e pensado, o perdão tem de ser declarado. O perdão exige uma palavra de proclamação. Nem que seja sozinha, no banheiro ou no automóvel, a pessoa, quando se decide pelo perdão, precisa falar em voz alta: "Eu perdoo!". E precisa falar num tom de voz que, ao menos ela mesma possa ouvir. E falar repetidas vezes.

O perdão deve ser declarado em todas as circunstâncias

Foto ilustrativa: Paula Dizaró/cancaonova.com

Perdão íntimo e interior são sementes para novas feridas. O perdão precisa ser verbalmente declarado

O perdão precisa ser gotejado no próprio ouvido. É do ouvido que chega ao coração.

O ideal seria poder proclamar o perdão para quem nos ofendeu, entretanto, nem sempre é possível. A pessoa pode não querer ouvir o perdão ou estar impossibilitada de fazê-lo como, por exemplo, se morar longe ou já tiver morta, porém, mais importante do que a pessoa ouvir é você falar.

O perdão é, em primeiro lugar, um gesto curador para nós mesmos. Portanto, declare o perdão. Fale sobre o perdão. Goteje perdão em seus próprios ouvidos por meio de palavras seguras e decisivas que revelem o desejo da vontade.

O poder da palavra

Nossa palavra tem o poder de ligar e desligar, unir e separar, concretizar nossos sonhos e anseios. A palavra é a grande arma para ferir e para curar o coração. O ser humano se constrói ou se destrói pela palavra. Um amor se constrói ou se destrói pela palavra dita na hora certa, calada na hora necessária.


O perdão deve ser declarado em todas as circunstâncias. Não interessa se a pessoa está perto ou longe, e nem interessa se ela deseja ou não ser perdoada. Pode ser que ela não queira ser perdoada e não peça perdão. Tudo bem! Sua decisão de perdoar tem de ser maior do que o pedido ou a omissão de quem provocou a ofensa. Muitas vezes, aquele que nos ofendeu não se sente culpado. Talvez tenha apenas reagido e se ache perfeitamente justificado. Há casos em que a pessoa que nos ofendeu sente-se injustiçada por ser considerada culpada. Claro que, nesse caso, essa pessoa não nos pedirá perdão. Não importa: é preciso perdoar e declarar o perdão. É preciso gotejar perdão no próprio coração.

Padre Léo, scj

(Trecho do extraído do livro "Gotas de cura interior")


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/o-perdao-deve-ser-declarado-em-todas-as-circunstancias/


2 de agosto de 2021

Como acontece o chamado de Deus?


A Igreja no Brasil tem o costume de dedicar o mês de agosto às vocações. Vocação é chamado, e ocorre no maravilhoso mistério do diálogo de Deus com cada pessoa, contando com os meios habituais para discernir o bem, assim como outros instrumentos inspirados pelo Espírito Santo. Estamos, sim, no horizonte da fé, em que acreditamos na graça de Deus, capaz de vir ao encontro de cada pessoa sem violentar a liberdade com a qual todos fomos criados.

É adequado considerar que a formação cristã começa com o ambiente de amor com o qual fomos gerados. Não existe "berço de ouro", mas regaço de amor dado por Deus, para que se desenvolva plenamente um chamado de filhos e filhas de Deus. O primeiro ato "catequético" ocorre quando um homem e uma mulher geram uma nova vida. Ali, mediado pelo relacionamento de amor, o raio de luz que é o amor de Deus interfere no ato conjugal humano, levando em conta que a fé nos leva a considerar que cada alma humana é criada diretamente por Deus (Cf. Pio XII, Encíclica Humani Generis, número 36). Não somos apenas um fenômeno físico-químico, mas pensados por Deus desde toda a eternidade para a felicidade e a plena realização. É claro que a experiência da fé cristã vivida com intensidade, no decorrer da vida de cada pessoa, pode e deve restaurar as eventuais falhas de amor com as quais pode ter acontecido a geração de uma vida! O mistério do amor de Deus ilumina os recantos de nossa vida, malgrado todas as lacunas descobertas em nossa história!

Como acontece o chamado de Deus

Foto Ilustrativa: Liderina by Getty Images

O chamado de Deus se manifesta nas famílias

O ambiente familiar, no qual nascem as pessoas, é o espaço privilegiado para identificar o chamado de Deus. Trata-se de descobrir que ninguém veio ao mundo por acaso, mas destinado a ser um dom de amor para os outros e receber tudo o que vem das outras pessoas com o mesmo amor. Os gestos com os quais os pais manifestam afeto e carinho aos filhos são canais por onde passa o próprio amor de Deus, fonte e raiz de todo chamado. E, pouco a pouco, começando pelo sorriso lindo das crianças, vai nascendo a reciprocidade ao amor que é oferecido. Este ambiente, talvez considerado demasiadamente idílico por muitos, é projeto de Deus para todos!

Nasce a pergunta sobre os que não tiveram experiências positivas de família, e vem logo à tona a resposta, que são os muitos exemplos de homens e mulheres que encontraram na infância e na adolescência a experiência positiva do amor em pessoas que adotaram, cuidaram, foram exemplos positivos e edificantes. Há muitos que descobriram praticamente sozinhos seu lugar na Igreja e na Sociedade. Se em muita gente podem ter crescido sentimento de revolta, muitos são os exemplos de verdadeiros heróis, na superação de traumas e sofrimentos, tornando-se referência para outros, indicando que onde não se achou amor, o remédio foi colocar amor, para encontrá-lo em abundância, recordando uma feliz expressão de São João da Cruz.

É ainda a família a grande escola e o espaço para o crescimento na capacidade de amar, pois todos somos chamados a encontrar nossa forma de nos doarmos. Isso é vocação! Sabemos que todo homem e toda mulher são uma obra-prima de Deus, seres únicos e irrepetíveis, criados por amor e lançados por amor na divina aventura da vida. Em família há de se desenvolver a capacidade de amar, a prontidão para o serviço e o autocontrole, que ajuda a pessoa a se purificar do egoísmo. Sem este exercício, o máximo que se conseguirá será a escolha de uma profissão, mas não a descoberta maravilhosa do plano de Deus. Quando uma pessoa alcançou certo equilíbrio, ao menos suficiente, e sabe sair do próprio egoísmo para doar-se, então é livre e se encontra nas condições normais para aceitar o chamado de Deus ao matrimônio ou à virgindade, castidade ou celibato. Sim, as duas formas de amar e de entregar a própria vida!

Como fazer um bom discernimento?

Para levar adiante o discernimento, faz-se necessário verificar os dons que as pessoas têm, suas capacidades e o desenvolvimento das mesmas desde a infância, mas sobretudo na adolescência e juventude. Faz-se então necessário que a família se abra aos espaços de socialização em suas respectivas comunidades e especialmente na vida de Igreja. Uma criança que passa pelo processo de iniciação cristã, vindo a receber os sacramentos a ela correspondentes, descobrindo a beleza da Palavra de Deus, a doutrina da Igreja e a graça da participação na Santa Missa terá abertas as possibilidades para fazer a pergunta sobre a vontade de Deus em sua vida, sobre vocação.


Em família e na Comunidade cristã sejam desenvolvidos os valores da retidão, da honestidade, sinceridade, assim como a prática das virtudes. E é fundamental que tal processo seja preventivo, como magistralmente entendeu São João Bosco, para antecipar-se à avalanche de contravalores existentes na sociedade. É bom que as famílias tomem consciência de que, encaminhando seus filhos à vida de Igreja, estão apenas e tão somente oferecendo o que existe de melhor, superando assim a ideia tão difundida quanto negativa de que seria necessário soltar os filhos para fazerem todo tipo de experiência. Com sabedoria e prudência, é necessário inclusive formar as novas gerações para um senso de limite, correspondente ao bem comum, às leis de Deus e, afinal de contas, à vocação para o amor e não para o egoísmo, que Deus plantou no coração humano.

O matrimônio é uma vocação que exige prontidão

Nos Evangelhos, existe uma forma de vocação, o chamado direto, feito por Jesus. Este pode e deve ser um caminho, graças a Deus presente também em nossas comunidades cristãs, quando alguém olha nos olhos de um jovem ou uma jovem e tem coragem para perguntar se alguma vez o chamado de Deus bateu às portas de seu coração! E os grupos, pastorais e movimentos de Igreja têm sido matriz para excelentes vocações ao matrimônio e para a consagração a Deus. Aliás, não é bom esquecer que o matrimônio exige, sim, vocação, prontidão para permitir que alguém entre na própria vida vinte e quatro horas por dia, a vida inteira! Dentre as realidades humanas, o matrimônio é sem dúvida a mais linda e a maior que Deus criou. Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou. É uma forma de consagrar-se a Deus!

Se vale chamar alguém para uma vocação na Igreja, vale mais apelar para o dono da messe, orando insistentemente a fim de que tenhamos casais operários da messe, religiosos e religiosas operários da messe, membros das novas comunidades que sejam mesmo operários, sacerdotes e diáconos verdadeiramente operários. Que Deus nos conceda ser um povo efetivo de trabalhadores em sua messe, abertos para os desafios do tempo presente, prontos a oferecer o melhor de nós mesmos para que cresça o Reino de Deus e sua Igreja.



Dom Alberto Taveira Corrêa

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/como-acontece-o-chamado-de-deus/


30 de julho de 2021

Como lidar com as opiniões das pessoas a meu respeito?


Quanto mais entendermos nossas reações, tanto melhor poderemos lidar com elas quando passarmos por certas situações. Quando você ouve as pessoas falarem sobre você, qual sua primeira reação? Quais sentimentos surgem em você quando recebe uma crítica, por exemplo?

Ao falar sobre autoestima positiva, ressaltamos como é importante reconhecermos nossas qualidades e pontos fracos, saber bem quem somos, para que, ao ouvir um comentário a nosso respeito, possamos, de fato, amadurecer sobre as situações ocorridas.

Como lidar com as opiniões das pessoas a meu respeito

Foto Ilustrativa: by Getty Images / fizkes

Qual é a sua atitude quando as pessoas falam de você?

Ao ouvir uma crítica a nosso respeito, vale muito a pena pensar: "O que está envolvido naquela crítica?", "Existe alguma verdade naquilo?". Claro que existem pessoas que são especialistas em apenas criticar e, muitas vezes, não estão bem consigo, então disparam comentários a todo momento.

Se falam de mim, posso pensar: "Existe algum aprendizado nisso?". Falo isso especialmente quando um comentário nos irrita, quando nos tira a paz. Certamente, já vivemos essa situação. Por isso, a habilidade de conhecer-se é tão importante! Quanto mais entendermos nossas reações, tanto melhor poderemos lidar com elas quando passarmos por certas situações.

Muitas vezes, somos criticados desde pequenos. Quando isso ocorre, já temos certa sensibilidade ou nos tornamos muito inseguros; e qualquer coisa que se diga a nosso respeito já é motivo para um mal-estar e até mesmo certa dificuldade de questionar os motivos daquela crítica.

Esteja atento ao conteúdo do que lhe foi dito

A força do diálogo e a coragem de perguntar nos aproximam do outro e propiciam uma melhor compreensão das situações que são motivo de insegurança para nós. Imagine se você se sente mal com algo em sua aparência, no modo de falar ou de cuidar dos filhos, por exemplo, e você é alertado por alguém que o conhece. Isso pode lhe dar uma imensa dor de cabeça e preocupação!

Por um momento, deixe o sentimento de lado e observe o conteúdo do que lhe foi dito; a partir daí, entender os motivos será um pouco mais fácil.


Ao formar os filhos, como um ato de amor e cuidado, os pais devem ensiná-los a enfrentar as diferenças, a lidar com os amigos e com aqueles que podem não gostar deles, e claro, com as críticas. Às vezes, os pais protegem tanto os filhos, que não admitem que estes sejam apontados, e que se façam comentários sobre eles. Evita-se, isola-se, estimula-se a competição e não se prepara a criança para lidar com o mundo real.

Quando nos abrimos para ouvir o que o outro tem a falar a nosso respeito, ganhamos a oportunidade de olhar para nossa vida, excluir os fatos irreais e ter a grande chance de fazer diferente.



Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro, Psicóloga Clínica pela USP – Universidade de São Paulo, atuando nas cidade de São Paulo  e Cachoeira Paulista. Neuropsicóloga e Psicóloga Organizacional, é colaboradora da Comunidade Canção Nova.



28 de julho de 2021

Realmente tenho que namorar ou posso estar sozinho?


É belíssimo o encontro, o relacionamento afetivo, o conhecimento, a possibilidade de ser melhor, porque encontramos uma pessoa para namorar. Aliás, nunca saímos os mesmos, seja lá que relacionamento for!

Então, pode ser monstruoso ver-se sozinho, como também pode ser um bom momento para estar com si mesmo e, mais ainda, estar com os outros, que, muitas vezes, não percebemos, e com Deus. Muitos, à espera de alguém para namorar, perdem a oportunidade de colher do tempo da "solidão" o valor do momento. A carência afetiva, uma imagem distorcida de si mesmo, sentimentos, visão das pessoas e do mundo podem dificultar à pessoa ver a possibilidade de amar e ser amada.

Realmente tenho que namorar ou posso estar sozinho

Foto Ilustrativa: stock-eye by Getty Images

Namorar não é solução de carência

A situação ainda pode se tornar mais complexa se a pessoa não sabe o que é e o que deseja construir. Perdida, sem direção, sem sentido, é uma vítima da vida e não se coloca em ação, caindo em um vazio existencial, pois a sua vida está toda pautada na possibilidade de ter alguém. O namorado se tornou ou pode se tornar, na cabeça da pessoa, a solução da sua carência, o que, na verdade, é uma mentira, visto que, mais cedo ou mais tarde, mesmo com alguém do lado, muitos se sentem sozinhos.

Resta-nos, então, ficarmos parados, olhando o tempo passar, e ainda reclamando da vida a oportunidade de viver? Tudo isso, com certeza, é muito complicado para aquele ou aquela que se vê sem alguém, principalmente se está vivendo ou percebendo-se com todas as características descritas acima. O mais importante é pensar que se o namoro é um tempo que deve ser vivido da melhor forma possível para que o casamento seja consequência desse tempo e possam-se colher os frutos deste primeiro encontro, então, nada como viver intensamente o tempo de não namorar, pois é, neste período, que experimentamos mais intensamente as amizades, os sorrisos, os projetos e a profissão.

Tudo isso pode trazer a oportunidade de um namoro realmente maduro

O que é um namoro maduro? É um namoro em que as pessoas são maduras, ou seja, já se percebem definidas, podem constatar seus sonhos, podem se conhecer melhor e estar abertas ao conhecimento do outro. Portanto, são dois caminhos. Primeiro: a pessoa para nesse tempo, estando só, e deixa-se envolver no sofrimento a ponto de não ver outra possibilidade, ou então escolhe fazer desse momento o melhor para a sua vida, encontrando-se com ela mesma e realizando o mais importante: propor-se a amar mais do que ser amada.


Existem tantos para serem amados! Os namoros assim serão uma belíssima e profunda consequência de um tempo profundo de encontro consigo mesmo e com os outros.

Ilusão? Não. Opção. Você pode ser melhor hoje. Não pare nos limites que, muitas vezes, a vida lhe impõe.


 


Diácono João Carlos e Maria Luiza

João Carlos Medeiros é membro do segundo elo Comunidade Canção Nova. Psicólogo clínico e familiar, Medeiros também é logoterapeuta, sexólogo e mestre em sexologia humana. Casado com Maria Luiza da Silva Medeiros que também é membro do segundo elo Comunidade Canção Nova, é psicóloga clínica e familiar. Ela é pós-graduada em psicoterapias cognitivas e em neuropsicologia. Autores do livro "Diagnóstico Familiar", pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/namoro/realmente-tenho-que-namorar-ou-posso-estar-sozinho/


26 de julho de 2021

Amor sem dor é fogo de palha


Como escolhidos do Senhor para clamar pelo Avivamento, somos muitas vezes acusados de querer pregar ou viver um Avivamento baseado exclusivamente nos deleites espirituais, na permanente bonança. Também nos acusam de refutar a cruz, de não a propagar por "medo de perder adeptos", o que é mentira!

O Avivamento está diretamente ligado à cruz e seu itinerário obrigatoriamente passa pelo calvário. Assim como no calvário foi gerada a Ressurreição, nele será também gerado o Avivamento.

Nosso saudoso Papa São João Paulo II, em sua encíclica Salvifici Doloris, nos ensinou: Se um homem se torna participante dos sofrimentos de Cristo, isso acontece porque Cristo abriu o seu sofrimento ao homem, porque Ele próprio, no seu sofrimento redentor, tornou-se, num certo sentido, participante de todos os sofrimentos humanos.

Amor sem dor é fogo de palha

Foto ilustrativa: Anastasiia Korotkova by Getty Images

Renove o amor pelo sofrimento ao Avivamento

Se você quer ser um facilitador do Avivamento, se você quer um avivamento pessoal, é preciso assumir as dores para gerá-lo e, se isso não estiver ocorrendo na sua vida, é urgente uma correção de rota.

Diante disso, o Espírito nos questiona: Como você tem se relacionado com os seus sofrimentos? Como
você age? Como reage quando o sofrimento se instala? Sendo comprovadamente vítima do sofrimento, eu o tenho usado para gerar autopiedade ou propagado os meus sofrimentos, a fim de angariar irmãos que se sensibilizem comigo?

Lembre-se: "Maria guardava tudo no coração" (Lc 2,19). No caminho de subida espiritual, somos capazes de chegar a um entendimento maduro do sofrimento vivido, a ponto de amarmos o sofrimento, pois a partir dele o Senhor nos concederá muitos frutos, grandes aprendizados e um inquestionável triunfo. Renovemos o amor ao sofrimento em prol do Avivamento.

Aprendendo com quem já está lá

A prova mais segura do Amor é a dor; todos sofrem, mas poucos são aqueles que sabem sofrer bem. Amor sem dor é fogo de palha. (São Pio de Pietrelcina)

Lectio divina: Romanos 8,18-27

Penso que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que será revelada em nós. A humanidade aguarda na expectativa de que se revelem os filhos de Deus. A humanidade foi submetida ao fracasso não por sua vontade, mas por imposição de outro, com a esperança de que essa humanidade se emancipará da escravidão da corrupção, para obter a liberdade gloriosa dos filhos de Deus.


Sabemos que até agora a humanidade inteira geme com dores de parto. E não somente ela, também nós, que possuímos as primícias do Espírito, gememos por dentro aguardando a condição filial, o resgate de nosso corpo. Com essa esperança nos salvaram. Uma esperança que já se vê que não é esperança, pois alguém já o vê, para que esperá-lo? Contudo, se esperamos o que não vemos, aguardamos com paciência. Desse modo, o Espírito socorre nossa fraqueza. Ainda que não saibamos pedir como é devido, o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inarticulados. E aquele que sonda os corações sabe o que o Espírito pretende quando suplica pelos consagrados de acordo com Deus.

Trecho extraído do livro "Do céu pra você", de Evandro Nunes.



Evandro Nunes

Membro da Renovação Carismática Católica na Diocese de Santo Amaro (SP), Evandro Nunes tem se dedicado à vida missionária desde 2010, exercendo o Ministério da Pregação em todo o Brasil e no exterior. Casado, Nunes também é autor dos livros "Do Céu para você" e "Se Tu queres Senhor, eu quero", ambos lançados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/amor-sem-dor-e-fogo-de-palha/


22 de julho de 2021

Perdoar é poder lembrar sem sentir dor


Algumas vezes, o mundo cega nossa visão e a dor toma conta do nosso ser, nosso coração de mulher sangra, pois foi ferido por aqueles que mais amávamos. A decepção e a tristeza invadem nossa alma, perdemos a confiança naqueles que antes nos eram tão caros e já não acreditamos que seja possível resgatar o que foi quebrado. Nesses momentos, experimentamos aquilo que há de pior dentro de nós e nos deparamos com o rancor, a mágoa e o desejo de vingança. Falamos besteiras, acusamos e julgamos. Rompemos vínculos profundos de amor e amizade, porque fomos feridas, brigamos e machucamos. Muitas vezes, porque fomos machucadas, agimos por impulso e egoísmo.

Nesta hora, Deus nos acolhe e nos convida a exercitar o perdão. Quem não perdoa atrofia sua capacidade de amar, e isso é terrível para o coração de uma mulher. Mas por que é tão difícil perdoar?

Bem sabemos que o rancor, a mágoa e o ressentimento, antes de atingir quem nos feriu, causa em nós um mal ainda maior. Perdoar não é a ausência de sentimentos, não é esquecer o que houve, mas uma decisão, uma escolha que devemos fazer pelo bem da nossa alma e da alma daquele que nos feriu. Quando decidimos perdoar, Deus nos dá Sua graça e cumula nossa vida de bênçãos.

Perdoar é poder lembrar sem sentir dor

Foto ilustrativa: fizkes by Getty Images

A falta de perdão causa dor

Se pagar o bem com o mal é algo diabólico, pagar o bem com o bem é mera obrigação, mas pagar o mal com o bem é algo divino e é nosso dever com filhas de Deus. Não é uma escolha fácil, mas necessária, pois o perdão vence o mal com o bem, e sua graça é muito maior que o ódio que carregamos no peito. O perdão é muito maior que qualquer desejo de vingança que possamos nutrir contra quem nos feriu.

Não podemos ter uma vida saudável sem o exercício do perdão. Não podemos ter uma vida espiritual frutífera sem a prática desse ato. Perdoar é fazer a assepsia da alma, fazer faxina na mente e no coração.

Quem decide perdoar não quer mais se vingar, não remói o problema, não desacredita no outro pelo erro cometido, não "joga na cara". Se não perdoarmos, viveremos escravas da mágoa, não conseguiremos orar, adorar, ofertar nem mesmo ser perdoadas. E quem nunca precisou de perdão?

Prova de amor

Perdoar pode ser uma tarefa árdua e longa, e desistir de tudo pode parecer mais fácil. Mas não é o mais correto. Somos todos humanos e suscetíveis ao erro, devemos sempre nos colocar na posição do outro: "O quanto eu gostaria de ser perdoada se cometesse o mesmo erro que cometeram comigo?". Talvez para conseguir perdoar, tenhamos, primeiro, que abrir mão do nosso orgulho ferido.

O perdão tem a capacidade de restaurar os sentimentos bons que foram esquecidos no passado, ele é a maior prova de amor e o caminho para o arrependimento do outro. Constrói pontes onde a mágoa cavou abismos, estreita o relacionamento onde o ressentimento provocou o afastamento. Perdoar é poder lembrar sem sentir dor, é uma graça que Deus dá a todos que a buscam de coração sincero.

Se a vingança está de acordo com nossa natureza humana decaída, nada nos assemelha tanto a Deus quanto estarmos dispostas a perdoar aqueles que nos ofenderam. O coração de uma mulher possui uma capacidade única dada pelo próprio Deus de amar, de ser capaz de acolher o ser humano e lhe conceder o perdão. Não é na riqueza nem no poder, mas na capacidade de perdoar que uma mulher manifesta a verdadeira grandeza de sua alma.


O perdão traz muita paz consigo. O alívio gerado por ele carrega um sentimento tão suave e profundo que as palavras não conseguem descrever sua totalidade. O perdão liberta, é a expressão máxima da graça e o triunfo do amor, daquele mesmo amor que Cristo teve na cruz ao dizer: "Pai, perdoa-os, porque não sabem o que fazem".

"Naquele tempo, Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: 'Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?' Jesus respondeu: 'Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete'" (Mt 18, 21-23).

Peçamos a Nossa Senhora a graça de obtermos um coração manso e humilde, semelhante ao de Jesus, alcançando assim o pleno exercício do dom de perdoar.

 


Judith Dipp

Formada em Psicologia, Judith foi cofundadora da Comunidade de Aliança Mãe da Ternura e voluntária num Centro de Atendimento e Aconselhamento para Mulheres ( Montgomery County Counselling and Carreer Center), em Washington, nos Estados Unidos.

Atualmente, é psicóloga da Escola Internacional Everest, do Lar Antônia e da Congregação dos Seminaristas Redentoristas, todos com sede em Curitiba (PR), cidade onde reside.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/afetividade-e-sexualidade/afetividade-feminina/perdoar-e-poder-lembrar-sem-sentir-dor/


19 de julho de 2021

Como gotejar o perdão?


Não existe a menor possibilidade de cura interior sem a efetiva experiência do perdão. Sem perdão
não podemos nem mesmo falar em cura interior. Por mais difícil e exigente que seja, o perdão é absolutamente fundamental. É condição sem a qual não existe cura. O perdão é absolutamente excludente: ou se perdoa e se recebe a cura, ou não se perdoa e a cura estará cada vez mais longe do
coração ferido.

Como perdoar com o coração ferido? Aí está um segredo fabuloso. O perdão não é um sentimento, mas uma decisão. Logo, é preciso que a compreensão do perdão seja deslocada do campo das emoções, sobre as quais não temos controle, e assim chegar ao campo da vontade, que é dominada pela razão e não pela emoção. É preciso clarear também a diferença entre vontade e desejo. O desejo é emocional, a vontade é racional. O perdão, portanto, é racional. É fruto de decisão. É possível mesmo quando o desejo é
contrário. O perdão é um ato da vontade.

Como-gotejar-o-perdão

Foto Ilustrativa: AntonioGuillem by Getty Images

O que gotejar perdão e como perdoar?

Perdoar não é deixar de sentir, não é aniquilar os sentimentos e as emoções, mas canalizá-los para a meta de nossa vida. É possível perdoar uma pessoa e continuar sentindo raiva ou tristeza no coração. Aliás, se espero a raiva e a tristeza passarem, isso é sinal de que o problema já foi esquecido, e então o perdão não é mais necessário. Perdoar não é deixar de sentir amargura interior. Perdoar é gotejar amor no próprio coração e, a partir daí, chegar a gotejar amor no coração de quem nos feriu e magoou.

Não devemos pensar que, quando perdoamos e continuamos sentindo a ferida, o perdão tenha sido falso ou mentiroso. O perdão só tem sentido quando nos sentimos feridos e machucados, e isso gera amargura e tristeza interior. O perdão só pode ser exercido quando temos o coração ferido. Sem a ferida, o que
vamos perdoar? Como perdoar se não nos sentimos ofendidos? Logo, a amargura interior é a indicação de que algo negativo aconteceu e que precisa ser perdoado. O sentimento tem de ser revestido pela inteligência e pelo Espírito Santo, sem o qual é impossível perdoar.


Vencer as emoções

Quando confundimos perdão com sentimento, acabamos deixando que as emoções negativas dominem nossa vontade. É preciso sair do campo do desejo para chegar ao autodomínio da vontade. Perdão é uma decisão. Para gotejar perdão em nosso coração temos de nos decidir a vencer as emoções. Apesar do que sentimos, nos decidimos pelo perdão. Esse é o passo fundamental.

Gotejar perdão é decidir não se deixar dominar pelos sentimentos estragados que a ofensa, a traição, os abusos e as agressões imprimiram em nosso coração. Nesse sentido, estou frisando a necessidade de gotejar perdão. Ninguém perdoa uma ofensa grave de uma hora para outra. O perdão não é um ato mágico que produz esquecimento da ofensa recebida. O perdão é um ato voluntário, uma decisão da inteligência, que supõe manter-se perseverante na decisão – ou melhor, nas decisões, já que não basta uma única decisão. Ele precisa ser gotejado, de maneira lenta e constante. Perdão é convicção firmemente mantida e expressamente manifesta.

Trecho extraído do livro "Gotas de cura interior", do padre Léo, SCJ


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/como-gotejar-o-perdao/