22 de fevereiro de 2021

Conheça os exercícios quaresmais de conversão


A liturgia que abre o tempo da Quaresma manda proclamar o Evangelho em que o Nosso Senhor Jesus fala da esmola, da oração e do jejum, os quais nos conduzem a um caminho de conversão.

Toda nossa vida torna-se um sacrifício espiritual que apresentamos continuamente ao Pai, em união com o sacrifício de Jesus sofredor e pobre; a fim de que, por Ele, com Ele e n'Ele, seja o Pai em tudo louvado e glorificado. Por isso, a Quaresma é um caminho bíblico, pastoral, litúrgico e existencial para cada cristão pessoalmente e para a comunidade cristã em geral, que começa com as cinzas e conclui com a noite da luz, a noite do fogo, a noite santa da Páscoa da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Refletiremos sobre os rumos de nossa espiritualidade até a Páscoa de Nosso Senhor Jesus, ou seja, a vida nova que Ele tem para nós, os exercícios quaresmais de conversão. A liturgia da Quarta-feira de Cinzas, que abre o Tempo da Quaresma, manda proclamar o Evangelho em que Nosso Senhor fala da esmola, da oração e do jejum, conforme Mateus 6,1-8.16-18.

Solidariedade

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Exercícios Quaresmais de conversão

Oração: A oração é a expressão máxima de nossa fé. Não podemos pensar nela como algo que parte somente de nós, pois, quando o homem se põe em oração, a iniciativa é de Deus que atingiu, com a Sua graça, o coração desse homem. Toda a nossa vida deveria ser uma oração, ou seja, uma comunicação com o divino em nós.

Jejum: Jejuar é abster-se de um pouco de comida ou bebida, é estabelecer o correto relacionamento do homem com a natureza criada. A atitude de liberdade e respeito diante do alimento torna-se símbolo de sua liberdade e respeito para com tudo quanto o envolve e o possa escravizar: bens materiais, qualidades, opiniões, ideias, pessoas, apegos e assim por diante. Jejuar significa fazer espaço em si.

Esmola ou caridade: O que significa esmola? Dar esmola significa dar de graça, dar sem interesse de receber de volta, sem egoísmo, sem pedir recompensa, mas em atitude de compaixão. Nisso, o homem imita o próprio Deus, no mistério da criação, e imita a Jesus Cristo, no mistério da redenção.

Celebrar a Eucaristia no tempo da Quaresma significa percorrer com Cristo o itinerário da provação que cabe à Igreja e a todos os homens; é assumir mais decididamente a obediência filial ao Pai, e o dom de si aos irmãos que constituem o sacrifício espiritual. Assim, renovando os compromissos do nosso batismo, na noite pascal, poderemos "passar" para a vida nova de Jesus, Senhor ressuscitado para a glória do Pai na unidade do Espírito.


Para celebrar bem este tempo

1. O Tempo da Quaresma, que é esse tempo de conversão, se estende da Quarta-feira de Cinzas até a Missa da Ceia do Senhor, inclusive, essa Missa vespertina dá início, nos livros litúrgicos, ao Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, o qual tem seu cume na Vigília Pascal e termina com as vésperas do Domingo da Ressurreição. A semana que precede a Páscoa toma o nome de Semana Santa. Ela começa com o Domingo de Ramos.

2. Os domingos desse tempo de conversão chamam-se de 1°, 2°, 3°, 4° e 5° Domingo da Quaresma. O 6° domingo toma o nome de "Domingo de Ramos e da Paixão". Esse dia tem a precedência sobre as festas do Senhor e sobre qualquer solenidade.

3. As solenidades de São José, esposo de Nossa Senhora (19 de março) e da Anunciação do Senhor (25 de março), como outras possíveis solenidades dos calendários particulares, antecipam sua celebração para o sábado, caso coincidam com esses domingos.

4. A liturgia da Quarta-feira de Cinzas abre o tempo da Quaresma. Não se cantam o "Glória" nem o "Credo" nessa Missa.

5. Aos domingos da Quaresma, não se canta o hino Glória; faz-se, porém, sempre a Profissão de Fé e o Creio. Depois da segunda leitura, não se canta o Aleluia; o versículo, antes do Evangelho, é acompanhado de uma aclamação a Cristo Senhor. Omite-se o  Aleluia  também nos outros cantos da Missa.

6. A cor litúrgica do Tempo da Quaresma é a roxa; para o 4° domingo (Laetare – Alegria) é permitido o uso da cor rosa. No Domingo de Ramos e na Sexta-feira Santa, a cor das vestes litúrgicas e do celebrante é a vermelha, por tratar-se da Paixão do Senhor.

7. Sugestão: em oração, colha de Deus uma penitência ou mortificação pessoal que você possa viver neste tempo de retiro. Por exemplo: deixar algo de que gosta muito de fazer ou de comer, falar menos, diminuir o barulho ao seu redor, assistir menos à televisão, reconciliar-se com as pessoas e situações, fazer um bom exame de consciência e confessar-se. Nos dias de jejum: oferecer a quem não tem o que você iria comer e beber.



Padre Luizinho

Padre Luizinho, natural de Feira de Santana (BA), é sacerdote na Comunidade Canção Nova. Ordenado em 22 de dezembro de 2000, cujo lema sacerdotal é "Tudo posso naquele que me dá força". Twitter: @peluizinho



18 de fevereiro de 2021

O que fere e destrói os relacionamentos na família?


A família tem sido alvo de perniciosas ideologias. Os valores não estão sendo vividos e a Palavra de Deus não está sendo observada e praticada, ou seja, a Verdade está sendo relativizada. O relativismo resultou no descrédito dos valores morais, enfraquecimento da família e aumento da infidelidade conjugal. Em nome do "eu tenho o direito de ser feliz", muitos divórcios aconteceram como solução para as uniões em crise.

A infidelidade tem destruído muitos relacionamentos familiares. Quando o adultério é a causa de separação, não são somente os cônjuges os afetados. Os filhos saem profundamente marcados e a traição adquire a força de uma espada que atravessa a alma e fere de modo bem profundo. Tenho visto o grande percentual de crianças e jovens feridos, inseguros, com sentimento de culpa e depressivos que presenciaram a dor da infidelidade dos pais e a separação. Muitos filhos, por não superarem esse trauma, não desejam constituir famílias, não acreditam mais na beleza do casamento e nas pessoas. E o que percebo como uma das causas principais para a infidelidade e algo bem comum entre os casais é a indiferença, propiciada pela rotina diária. O casal vai se afastando um do outro e, pior, vão se afastando das coisas de Deus e não há mais interesse pelas coisas do céu.

O que fere e destrói os relacionamentos na família?

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Deus tem que ser presente na família

Quando não alimentamos a intimidade com Deus pela vida de oração, a busca do conhecimento da Palavra, o forte comprometimento com a Igreja e devoção à Virgem Maria, a pessoa humana começa a ser ferida pelo pecado. E a razão humana ferida em sua capacidade de conhecer a verdade, fica sujeita às trevas do erro, deixando a pessoa centrada em si mesma e escrava das suas paixões desordenadas e sem forças para vencer a tentação da infidelidade. Quantos casais infiéis que se deixaram levar pelo mundo! E quando falo "mundo" é tudo aquilo que compete ao "mundanismo", ou seja, quando se vive num sistema contrário à vontade de Deus. Contudo, Deus em sua Palavra nos orientou: "Não ameis o mundo nem as coisas do mundo. Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai" (1 Jo,2,15).

E até chegar a concretizar a infidelidade, o casal percebe que não foi capaz de encarar os fatos e os problemas não resolvidos, além de não buscar a solução e aproveitar os momentos de crise para crescimento e amadurecimento. Claro que esposo e esposa nunca deverão culpar o outro, mas se não forem capazes de reconhecerem que precisam de ajuda, a infidelidade logo baterá em suas portas. Quantos casais são infiéis por falta de maturidade emocional e porque não sabem lidar com as emoções. O imaturo só sabe querer receber do outro a satisfação de suas carências e o amor, para ele, pode ter o significado de saciar o desejo sexual e pronto.

Pecado da mentira no relacionamento familiar

Outro pecado que fere e destrói os relacionamentos é a mentira. "Por isso, renunciai à mentira. Fale cada um a seu próximo a verdade, pois somos membros uns dos outros" (Ef 4,25). Os relacionamentos familiares que são construídos na verdade são duradouros. Ao contrário, quando existe a mentira também existe a briga. O casal já não é capaz de confiar no outro causando profunda mágoa. Sendo assim, os casais precisam ter a coragem de romper com o pecado da mentira, falar somente a verdade, viver na luz de Deus e ter como princípio de vida partilhar a verdade de modo muito transparente.

Brevemente, tocaremos numa palavrinha bem chata, que se chama "orgulho". O orgulho é a causa de muitas feridas nos relacionamentos familiares, pois a pessoa orgulhosa é de difícil convivência, sempre a última palavra é dela e veste a camisa do ̈eu estou sempre com a razão ̈. Ela também é bastante limitada para aceitar qualquer tipo de correção, por menor que seja, e não é capaz de assumir os seus erros e, de maneira alguma, pede perdão.

O orgulho  e o egoísmo não podem dominar

O orgulhoso não aceita o fato de que precisa mudar e, no ambiente familiar, se um membro não está disposto a sempre melhorar, acontecerão sempre conflitos que ferirão os corações, principalmente, devido a discussões que nunca serão resolvidas. Assim, para que aconteça a harmonia familiar é preciso a graça da humildade. Meditemos, portanto, nesse versículo da Palavra de Deus: "Nada façais por espírito de partido e vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos" (Fl 2,3). E se não nos dispusermos a vivenciar essa Palavra, seremos dominados pelo espírito do orgulho, não saberemos nunca "perder" para o outro e sempre desejaremos nos impor sobre todas as coisas, precisando, a todo momento, de ser o centro das atenções.

Outra causa das ruínas familiares é o egoísmo. Uma pessoa egoísta é aquela que só pensa em si e dificilmente experimentará a alegria da partilha e de ter relações profundas e edificantes. Aquele que pensa somente em seus interesses, aos poucos, afastará as pessoas do seu convívio. Para nos relacionarmos bem no ambiente familiar será necessária certa dose de altruísmo e disposição para acolher os interesses dos outros, "morrendo", de certo modo, para nós mesmos. Do contrário, nenhuma família subsistirá.


O diálogo é o caminho de todo relacionamento

A falta de diálogo é motivo também para ruir os relacionamentos. Ele acaba por desenvolver o afastamento uns dos outros. Mas lembre-se sempre que dialogar não é somente falar, mas também aprender a escutar de modo afetivo e acolhedor. Através do diálogo abrimos a possibilidade de melhorarmos os relacionamentos. Assim, nós conhecemos e nos damos a conhecer, participando da vida do outro, sempre com a intenção de melhorar o convívio e para o bem comum.

Outra erva daninha nos relacionamentos familiares é a inveja. Quantos casais acabam, por não valorizar aquilo que têm, começam a olhar para a vida de outros casais e acham por bem que deveriam ter aquilo que outros possuem. Que tristeza quando isso acontece! Quantos casais brigam em razão até mesmo a profissão do outro, invejando sua vida e status conquistado. E é pela inveja que as pessoas se acham no direito de matar outras em seus corações, sendo este sentimento a pior causa de todo o tipo de morte. Foi por causa dela que ocorreu o primeiro fratricídio na história da salvação. Foi por inveja que Caim matou Abel, por este ter agradado a Deus com a sua oferta. Foi também por causa da inveja que José foi vendido aos mercadores pelos irmãos. A inveja é o pecado diabólico por excelência, dizia Santo Agostinho.

O ditado popular ̈a inveja mata ̈ é uma frase verdadeira. Não matamos as pessoas com armas, mas as matamos em nossos corações. Eliminamos com a nossa língua, com comentários maldosos sobre os outros ou com o nosso olhar de desprezo e descaso. Fiquemos atentos às nossas atitudes e saibamos discernir quando a inveja chega aos nossos lares. A inveja é como as duas faces de uma moeda: tem o poder de matar os outros e também a nós mesmos. E, assim, precisamos exterminá-la de modo concreto.

Oração

"Senhor, pelo poder do teu sangue precioso, cura e liberta os nossos relacionamentos e toca o nosso coração ferido pela divisão, pela infidelidade, pelo amor próprio e apego às coisas do mundo.

Cura as nossas emoções e as dores causadas pelas ofensas, libertando-nos do vício da mentira, do orgulho, do egoísmo e da inveja.

Dai-nos a graça de não sermos indiferentes à nossa família. Que as nossas famílias sejam repletas do poder do teu Espírito Santo.

Banha-nos, Senhor, com a força do alto para que as nossas famílias sejam santas, restauradas e renovadas no amor."

Trecho extraído do livro "A cura dos relacionamentos familiares" dos missionários da Comunidade Canção Nova, Ricardo Luciana Ida


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/pais-e-filhos/o-que-fere-e-destroi-os-relacionamentos-na-familia/

16 de fevereiro de 2021

O que é a suprema caridade maternal de Maria?


É sempre importante recordarmos do percurso da nossa história de salvação. Maria, uma jovem hebreia de Nazaré, assim como toda mulher judia, praticava a religião hebraica, frequentava a pequena sinagoga onde vivia. Professava a Sua fé no Deus único e a alimentava aprofundando-se no conhecimento das sagradas escrituras, de modo particular na escuta da leitura do livro do profeta Isaías e ao memorizar as orações dos Salmos.

Com a Sua família, Maria aprendeu a viver a fé e o amor a Deus com todo o Seu ser: "Escuta, Israel: 'O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças'" (Cf. Dt 6,5).

Toda a Sua vida cotidiana nutria-se do amor de Deus e, simultaneamente, respondia também a Ele com todo o Seu amor verdadeiro, puro e fiel.

O que é a suprema caridade maternal de Maria?

Foto ilustrativa: sedmak by Getty Images

O amor pleno e supremo de Maria

Foi nesse amor total de Maria a Deus que, n'Ela, o Amor veio habitar entre nós para nos salvar: Jesus Cristo!

Só quem ama verdadeiramente pode oferecer-se com total confiança e abandono. Foi o que Maria fez, ofereceu-se a Si mesma a Deus, para que n'Ela se realizasse a Sua vontade. Cristo, que é O verdadeiro e único amor, foi gerado no ventre de Maria. O amor exclusivo de Maria a Deus a fez gerar O Amor, na sua essência e potência: Jesus Cristo. Foi esse amor que conduziu a vida de Maria com suprema e plena caridade.

Caridade maternal

Uma caridade maternal cuja experiência foi adquirida ao formar e educar o Filho de Deus, o próprio Amor encarnado.

A virtude de Maria da Suprema Caridade Maternal não se trata de sentimentos, e sim de atitudes concretas em favor de alguém. Pois, quem, de fato, ama não se acomoda, mas sai de si para ir ao encontro do outro para se doar. Foi isso que Maria fez ao visitar a Sua prima Isabel para servir: "Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.(cf. Lc 1,39)". O amor é movimento, o amor é doação de vida!

Assim é Maria: entregou-se total e primeiramente a Deus e, consequentemente, essa entrega se estende por toda a humanidade: "Ao ver Sua Mãe e junto d'Ela o discípulo que Ele amava, Jesus disse à Sua mãe: 'Mulher, eis aí o teu filho'. Depois disse ao discípulo: 'Eis aí a tua Mãe'" (cf. Jo.19, 26-27).


Humanidade

Na cruz, Ela recebeu do Seu Filho o legado de ser a Mãe da humanidade e também acolheu a todos com amor, se oferecendo com suprema caridade maternal a todos os filhos, de modo discreto, atenta, orante e paciente, porém, age concretamente. Muitas vezes, embora não vejamos e não percebamos, Ela está a cuidar de nós!

Como Maria que, por amor a Deus e a humanidade, oferece Seu filho na cruz, imitemo-La, conscientes de que amar é exigente oferecer-se a Deus pelo outro, pela via do sofrimento, da dor, da cruz: "A Cruz é a escola do amor" (São Maximiliano Kolbe).

Bondade mariana

Viver essa virtude passa pelas atitudes de bondade; escuta ativa; servir sem esperar recompensa; atenção a começar na família; partilhar do que temos materialmente ou espiritualmente: "Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; era peregrino e não me acolhes­tes; nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me visitastes"( Cf. Mt 2, 42-43).

Porém, o verdadeiro sentido da Suprema Caridade Maternal de Maria é o sentido que se dá a tudo o que se vive e  somos impelidos a fazer: o amor a Deus que, por Ele, se oferece pelo outro.



Nilza e Gilberto Maia

Nilza e Gilberto Maia são casados, jornalistas e missionários de dedicação integral na Comunidade Canção Nova.

Nilza é membro da comunidade desde 1999; e Gilberto, desde 2000. Nilza é graduada em Comunicação Social pela UFMT e pós-graduada em counseling pelo IATES/Curitiba. Gilberto também é counselor pelo IATES/Curitiba e graduado em Gestão Comercial.

Ambos atuaram em suas próprias paróquias nas pastorais, movimentos e ações sociais. O casal viveu em Portugal por sete anos, onde realizaram a missão diretamente no Santuário de Fátima, através de transmissões diárias, para a TV, da Eucaristia e da Oração do Rosário da Capelinha das Aparições.

O casal é autor dos livros publicados pela Editora Canção Nova. Atua também no apostolado como anunciadores da Palavra de Deus, e na formação e acompanhamento de casais.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/nossa-senhora/devocao-nossa-senhora/o-que-e-a-suprema-caridade-maternal-de-maria/

12 de fevereiro de 2021

Como se dividem as festas e os tempos litúrgicos especiais?


Com este artigo, chegamos ao fim de uma série de artigos em que tratamos da Santa Missa, seus vários atributos e significados. Eles nos ajudaram a entendê-la um pouco mais, para que assim possamos viver melhor tão grande mistério. Neste último artigo, vamos tratar das festas e dos tempos especiais durante o Ano Litúrgico.

Os tempos litúrgicos são divididos em Tempo do Advento, Tempo do Natal, Tempo da Quaresma e Tempo Pascal. Para que servem esses tempos e suas divisões? A Igreja divide o ano em tempos litúrgicos, a fim de deixá-los o mais claro possível, para que o povo entre na dinâmica salvífica do mistério pascal, que é celebrado em cada Santa Missa.

Como se dividem as festas e os tempos litúrgicos especiais

Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Se você não sabia, o ano litúrgico começa no Tempo do Advento, que é a preparação para o Natal do Senhor, um dos momentos mais importantes para nós católicos. O documento do Concílio Vaticano II Sacrosanctum Concilium, no número 102, expõe o seguinte sobre o Ano Litúrgico: "A santa mãe Igreja considera seu dever celebrar, em determinados dias do ano, a memória sagrada da obra de salvação do seu divino Esposo. Em cada semana, no dia a que chamou domingo, celebra a da Ressurreição do Senhor, como a celebra também uma vez no ano na Páscoa, a maior das solenidades, unida à memória da sua Paixão".

Reflita sobre os tempos litúrgicos vivenciados pela Igreja

Cada tempo também traz uma graça própria, sendo assim, o Advento é o tempo das alegrias moderadas e preparação para a chegada de Jesus no Natal. Sua espiritualidade é de esperança e purificação da vida. Por esse motivo, o Advento se torna tão importante e distinto dos demais, pois prepara o católico para viver bem o nascimento do Senhor. O Tempo do Natal é comemorado com muita alegria, porque é a natividade do Senhor, sua espiritualidade é de fé, alegria e acolhimento. O Tempo Comum é acompanhado de um espírito de esperança, de escuta da Palavra e vivência do Reino de Deus. A Quaresma é tempo forte de conversão, penitência, jejum, esmola e oração. A Páscoa não se refere apenas ao domingo da Ressurreição, mas vai até Pentecostes , é carregado de uma espiritualidade de alegria, porque Cristo Ressuscitou.

A Semana Santa

É durante a Semana Santa ou como também é conhecida de Semana Maior que a Igreja celebra a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Ela tem início no Domingo de Ramos e se estende até o Domingo de Páscoa. Durante essa semana, celebra-se a Missa do Crisma, onde o Bispo, reunido com os padres que formam o seu presbitério, abençoa os Santos Óleos. Na mesma quinta-feira, acontece a instituição da Eucaristia e a cerimônia do Lava-pés. Na sexta-feira, celebra-se a Paixão e Morte de Jesus, quando a Igreja se dedica ao silêncio, jejum e oração, vivendo com respeito a morte do Senhor. No Sábado Santo, acontece a Vigília Pascal, com a bênção do fogo novo e do Círio Pascal, a proclamação da Páscoa. Nessa celebração, é lida uma série de leituras, passando por toda a história da salvação; e acontece a renovação das promessas do batismo. Por fim, no Domingo de Páscoa, quando se comemora a Ressurreição de Jesus, esse é o ponto central da fé cristã.

O Corpus Christi

A Solenidade de Corpus Christi é a celebração que a Igreja festeja o Sacramento da Eucaristia. É o momento em que o Santíssimo Sacramento sai em procissão pelas ruas. Neste momento, todo o povo de Deus é convidado a adorar o Senhor na Santa Eucaristia e agradecer por tão grande dom. A festa é celebrada desde o século XIII, quando o próprio Jesus aparece em visões, pedindo uma festa litúrgica em honra à Sagrada Eucaristia.

É importante que todo fiel católico participe da procissão de Corpus Christi, pois ela é a mais significativa das procissões, porque é a única que o próprio Senhor sai às ruas. Criou-se o hábito de confeccionar tapetes ornamentados para homenagear o Senhor, assim como enfeites nas casas e oratórios.


A festa do Santíssimo Nome de Jesus

A festa do Santíssimo Nome de Jesus é celebrada oito dias depois do Natal, em 2 de janeiro, pois foi oito dias depois do nascimento de Jesus que São José realizou a circuncisão no Menino, dando-Lhe o nome de Jesus. Nome escolhido pelo próprio Deus e anunciado por anjo Gabriel em sonho a São José.

Conforme o próprio significado do Nome de Jesus, ele exprime toda a sua missão. Em hebraico Yeshua quer dizer "Deus salva", assim, entende-se, desde o momento que foi dado esse nome, que o Senhor seria, de alguma forma, aquele que salvaria o mundo. Dessa forma, o Apóstolo Paulo escreve em Fl 2,9-11: "Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo o nome, para que, em Nome de Jesus, todo o joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda a língua confesse: 'Jesus Cristo é o Senhor', para a glória de Deus Pai".

A festa da Divina Misericórdia

O Domingo da Divina Misericórdia corresponde ao Segundo Domingo de Páscoa. Acordo aprovado por São João Paulo II com um decreto assinado em 2000 pela Congregação do Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos. Nessa data, é celebrada a instituição do Sacramento da Penitência, ou confissão, encontrado no trecho o Evangelho de Jo 20,22-23: "Então, soprou sobre eles e falou: 'recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, lhes serão retidos'".

Mediante a experiência mística de Santa Faustina Kowalska, a Igreja entende que foi desejo do próprio Jesus que acontecesse esta festa. Jesus diz o seguinte a Santa: "Na Minha festa, na Festa da Misericórdia, percorrerás o mundo inteiro e trarás as almas que desfalecem à fonte da Minha misericórdia. Eu as curarei e fortalecerei" (D. 206); "Pede ao Meu servo fiel que, nesse dia, fale ao mundo inteiro desta Minha grande misericórdia, que aquele que, nesse dia, se aproximar da Fonte da Vida, alcançará perdão total das culpas e penas" (D. 300a;). Dessa forma, todo cristão pode e deve celebrar essa festa com a confiança de alcançar as graças específicas que Deus deseja derramar sobre Seu povo.

Que todos os dias possamos tomar cada vez mais consciência da dinâmica litúrgica da nossa Igreja, para que possamos tirar os proveitos que o Senhor tem para nós.



Fábio Nunes

Francisco Fábio Nunes
Natural de Fortaleza (CE), é missionário da Comunidade Canção Nova e candidato às Ordens Sacras. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP), Fábio Nunes é também Bacharelando em Teologia pela Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP) . Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, no Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/como-se-dividem-festas-e-os-tempos-liturgicos-especiais/

10 de fevereiro de 2021

O amor recíproco é o distintivo de todos nós cristãos


"Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 15,12). Certamente, você gostaria de saber quando Jesus disse essas palavras de amor. Foi um pouco antes de iniciar Sua Paixão, quando pronunciou um discurso de despedida que constitui o Seu testamento. Imagine, então, como essas palavras são importantes. Se ninguém jamais esquece as palavras ditas por um pai antes de morrer, quanto mais as que foram pronunciadas por um Deus! Portanto, encare-as com grande seriedade e procure  entendê-las profundamente.

Jesus está prestes a morrer, e tudo o que diz reflete esse acontecimento que se aproxima. Sua partida iminente exige, sobretudo, a solução de um problema: como permanecer entre os seus para dar continuidade à Igreja? Você sabe que Jesus está presente nas ações sacramentais, por exemplo, na Eucaristia da Missa. Pois bem, Jesus também está presente onde se vive o amor recíproco.

O amor recíproco é o distintivo de todos nós cristãos

Foto Ilustrativa: by Getty Images / Mladen Zivkovic

Ele disse: "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome (e isso é possível onde existe o amor recíproco), eu estou no meio deles" (Mt 18,20). Portanto, ele pode permanecer eficazmente presente na comunidade, cuja vida se fundamenta no amor recíproco. E, por meio da comunidade, pode continuar a revelar-se ao mundo, a influir no mundo. Não é maravilhoso? Você não sente vontade de viver imediatamente este amor, juntamente com os cristãos que lhe estão próximos? João, em cujo Evangelho encontramos esta Palavra de Vida, vê no amor recíproco o mandamento por excelência da Igreja, que tem como vocação justamente ser comunidade, ser unidade.

O mundo, ao ver a unidade, o amor recíproco, acredita em Jesus

De fato, Jesus diz: "Nisto todos reconhecerão que sois meus discípulos: no amor que tiverdes uns para com os outros" (cf. Jo 13,35). Portanto, se você quiser descobrir o verdadeiro sinal de autenticidade dos discípulos de Cristo, se quiser conhecer o distintivo dos cristãos, deve procurá-lo no testemunho do amor recíproco vivido. Os cristãos são reconhecidos por este sinal. E, se ele faltar, o mundo não mais reconhecerá, nos cristãos, os discípulos de Jesus.

O amor recíproco gera a unidade. Mas o que é que a unidade realiza? Jesus também diz: "Que sejam um, (…) a fim de que o mundo creia que tu me enviaste" (Jo 17,21). A unidade, revelando a presença de Cristo, convence o mundo a segui-lo. O mundo, ao ver a unidade, o amor recíproco, acredita em Jesus.

Novo mandamento

No mesmo discurso de despedida, Jesus diz que esse mandamento é "seu". É seu e, portanto, tem para ele uma importância especial. Você não deve encará-lo simplesmente como uma norma, uma regra ou um mandamento como os outros. Com ele, Jesus quer lhe revelar um modo de viver, quer lhe indicar como orientar a sua existência. Os primeiros cristãos colocavam esse mandamento como base da própria vida.

Pedro dizia: "Antes de tudo, tende um constante amor uns para com os outros" (cf. 1Pd 4,8). Antes de trabalhar, antes de estudar, antes de ir à missa, antes de qualquer atividade, verifique se o amor recíproco reina entre você e quem vive com você. Se for assim, sobre essa base, tudo tem valor. Sem esse fundamento, nada agrada a Deus.

"Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 15,12). Jesus lhe diz que esse mandamento é "novo": "Eu vos dou um novo mandamento". O que quer dizer com isso? Que esse mandamento não era conhecido? Não. "Novo" significa feito para os "tempos novos". Então, do que se trata? Veja bem: Jesus morreu por nós. Portanto, amou-nos até a máxima medida. Mas que amor era o seu? Por certo não era como o nosso. O seu amor era e é um amor "divino". Ele disse: "Assim como o Pai me amou, também eu vos amei" (Jo 15,9).


Realidade divina

Portanto, ele nos amou com o mesmo amor que existe entre Ele e o Pai. E é com esse mesmo amor que devemos nos amar reciprocamente para atuar o mandamento "novo". No entanto, você, como ser humano, não possui um amor como esse. Mas alegre-se porque, como cristão, você o recebe. E quem é que lhe dá esse amor? O Espírito Santo, que o infunde no seu coração, no coração de todos os fiéis.

Existe, portanto, uma afinidade entre o Pai, o filho e nós, cristãos, devido ao amor divino que possuímos em comum. É esse amor que nos insere na Trindade. É esse amor de Deus que nos torna filhos seus. É por esse amor que céu e terra estão ligados, como que por uma grande corrente. É por esse amor que a comunidade cristã é conduzida até o âmbito de Deus e a realidade divina vive na terra, onde os fiéis se amam. Você não acha tudo isso divinamente belo? E a vida cristã não lhe parece extremamente fascinante?

Chiara Lubich, Fundadora do Movimento Focolare


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/biblia/estudo-biblico/o-amor-reciproco-e-o-distintivo-de-todos-nos-cristaos/

5 de fevereiro de 2021

Trabalhar para viver ou viver para trabalhar?


Se você prestar atenção no tempo que consegue conversar com seus amigos e familiares sem falar a respeito do trabalho que realiza ou de situações relacionadas a ele, fica fácil perceber se está vivendo para trabalhar ou trabalhando para viver.

A Palavra de Deus, em Eclesiástico 3, afirma que "grande sabedoria é viver bem cada coisa a seu tempo". Com relação ao trabalho, creio que não é diferente. Precisamos ser bons profissionais, cumprir com responsabilidade nossa missão, mas também devemos ter o discernimento e a coragem de separar as coisas, deixando o que é próprio do trabalho no seu setor, e levando para casa somente seus bons frutos. Não que seja proibido falar com quem convivemos a respeito das nossas lutas e vitórias vivenciadas no trabalho, a questão está no equilíbrio com que lidamos com isso.

Trabalhar para viver ou viver para trabalhar

Foto Ilustrativa: martin-dm by Getty Images

Tempo para trabalhar e tempo para descansar

Na Comunidade Canção Nova, da qual faço parte, vivemos algo que considero interessante nesse sentido. Naturalmente, também nós missionários, quando voltamos para casa depois de um dia de atividades, temos a tendência de continuar falando a respeito do que vivemos em cada setor da missão. Porém, monsenhor Jonas [fundador da comunidade] nos ensina que, quando agimos assim, é como se não nos desligássemos do trabalho e não conseguíssemos descansar nem viver tantas outras coisas boas que a vida fraterna tem a nos oferecer.

Com isso, quando percebemos que o centro de nossas conversas está sendo o trabalho, alguém do grupo deve ter a iniciativa de mudar de assunto até que os demais o acompanhe. É que existe um tempo para cada coisa: "tempo para trabalhar e tempo para descansar". Se continuarmos, no tempo de descanso, a nos referir ao trabalho, poderemos até ser refeitos no físico, mas a cabeça continuará trabalhando e, consequentemente, virá o degaste geral. Será que não é essa a razão pela qual temos encontrado tantas pessoas cansadas?

Admiro quem trabalha com dedicação e ama o que faz. Eu mesma sinto-me privilegiada por fazer o que gosto, mas uma coisa é certa: preciso estar atenta para separar o que faço do que sou, pois sei que quando nos identificamos demais com o que fazemos podemos facilmente nos esquecer de quem somos, e isso é um sério problema.

Se nos esquecermos da nossa real identidade de filhos amados de Deus, passaremos a nos autoidentificar e valorizar por aquilo que fazemos e possuímos; muitas vezes, dessa atitude nascerá o desequilíbrio com relação ao "viver para trabalhar". A pessoa foca seu esforço em 'ter cada vez mais', pensa que aí está o seu valor, por isso trabalha, cada vez mais, sem nem mesmo perceber que está vivendo cada vez menos.

Descobrir o que vale a pena

Muitos de nós já descobrimos que as coisas que realmente valem a pena nesta vida não têm preço.

Outro dia, li um relato que me fez pensar. A história falava de um menino que sentia a falta do pai, pois este estava trabalhando cada vez mais e ficando cada vez menos em casa. O pai pensava estar fazendo o bem para sua família, dando-lhe um melhor "padrão" de vida com sua exigente profissão, mas era um grande engano.

O filho mais novo sentia tanto sua falta que, certa noite, quando ele voltara tarde para casa, perguntou-lhe: "Papai, quanto você ganha por hora no trabalho?". O pai ficou aborrecido com a pergunta, mas, enfim, respondeu. A partir daquele dia, o menino começou a guardar todo dinheiro que ganhava até chegar ao valor equiparado a um hora de serviço de seu pai.


Depois, o chamou para brincar e foi logo avisando: "não se preocupe com o tempo papai, eu lhe pagarei o valor de uma hora para brincar comigo". Abrindo uma pequena caixa, na qual havia guardado as moedas, entregou o dinheiro ao pai, que, já em lágrimas, pediu que explicasse como o havia conseguido.

O garoto explicou que estava juntado todo o dinheiro que ganhou por várias semanas, inclusive o doado pelo próprio pai. Não sei se a história é real, mas fico imaginando como ficou o coração daquele homem e qual foi atitude dele a partir daquele dia.

O trabalho merece ser valorizado

Na Carta Encíclica Laborem exercens, São João Paulo II esclarece que o trabalho é uma das características que distinguem o homem do resto das criaturas, pois somente ele tem a capacidade para realizá-lo, preenchendo, ao mesmo tempo, a sua existência sobre a Terra. Este é o meio pelo qual o homem deve procurar o pão cotidiano, ou seja, o trabalho é sinal de bênção e merece ser valorizado.

Todos nós sabemos que é graças ao empenho e dedicação de tantos homens e mulheres trabalhadores, ao longo dos tempos, que, hoje, temos condições de vida bem melhores do que nossos antepassados. O que não nos convém é permitirmos que a cultura do consumismo nos domine e nos leve a fazer de nossa atividade profissional o centro de nossa vida.

Acredito que seja oportuno, hoje, pensar a respeito do lugar que o trabalho tem ocupado em sua vida e quais são os frutos que ele tem lhe proporcionado. Considerando que vai permanecer, no fim de tudo, o amor que damos e recebemos, não tenhamos medo de fazer escolhas que irão nos proporcionar viver bem para trabalhar melhor, deixando nossa marca de sucesso não apenas no mercado, mas, principalmente, no coração que Deus lhe confiar, por onde passar, inclusive dentro de sua própria casa.



Dijanira Silva

Missionária da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Djanira reside na missão de São Paulo, onde atua nos meios de comunicação. Diariamente, apresenta programas na Rádio América CN. Às sextas-feiras, está à frente do programa "Florescer", que apresenta às 18h30 na TV Canção Nova. É colunista desde 2000 do portal cancaonova.com. Também é autora de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/profissao/trabalhar-para-viver-ou-viver-para-trabalhar/

3 de fevereiro de 2021

A humanidade e a divindade de Jesus


Caro leitor, gostaria de lançar dois questionamentos logo no início deste artigo: Jesus, por ser Deus, é mais divino que humano? O que é mais importante, afinal, sua divindade ou sua humanidade? No início do cristianismo, os grandes pais da Igreja, dentre eles Irineu de Lyon, Inácio de Antioquia, Clemente Romano, além dos ensinamentos de alguns Concílios como, por exemplo, o de Niceia, o de Éfeso e o de Calcedônia, tiveram que responder a estas questões de maneira bem precisa. Isso se deu porque foram surgindo diversas heresias que colocavam em cheque pontos importantes da nossa fé, especialmente com relação à humanidade e a divindade de Jesus.

Apenas a título de exemplo, surgiram grupos que reduziam ou negavam completamente a condição divina de Jesus, é o caso das correntes ebionitas e adocionistas. Por outro lado, havia grupos como os docetas, que colocavam em prejuízo a humanidade de Jesus. Nota-se, portanto, uma tendência de se querer separar a divindade da humanidade de Jesus como se elas fossem opostas ou se uma pudesse causar prejuízo à outra.

A humanidade e a divindade de Jesus

Foto ilustrativa: THEPALMER by Getty Images

Humanidade e divindade, as duas naturezas de Jesus

Desde os primeiros séculos, a Igreja percebeu o grandíssimo problema que essas heresias poderiam causar à fé, uma vez que elas estavam ligadas diretamente às questões soteriológicas, ou seja, à salvação humana. Depois de alguns séculos de muitas discussões, a Igreja compreendeu e passou a confessar que Jesus, embora fosse uma única pessoa, possuía duas naturezas (a divina e a humana). Assim, Jesus é inseparavelmente verdadeiro Deus e verdadeiro homem. É verdadeiramente o Filho de Deus feito homem sem deixar de ser Deus, nosso Senhor (cf. CIC 469).

Uma vez que chegamos até aqui, já teríamos condições de respondermos às duas perguntas que abriram o artigo. As respostas, portanto, seriam: Jesus, por ser Deus, não é mais divino que humano, já que Ele é ao mesmo tempo totalmente divino e totalmente humano. Uma coisa não exclui nem diminui a outra. Assim, não existe grau de importância entre estas duas naturezas de Jesus. Aliás, as duas são essenciais para que a salvação tenha ocorrido. Sua vontade humana não faz resistência nem oposição à sua vontade divina.

Diante disso, temos toda a tranquilidade para entendermos que Jesus, enquanto ser humano, precisou experimentar todas as realidades dessa natureza. Por isso, o Filho de Deus trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano (CIC 470). Tudo isso significa que, embora fosse Deus, Jesus precisou aprender com os seus pais a falar seu idioma, a andar, a adquirir conhecimento, a trabalhar no seu ofício. Em suma, Ele precisou crescer no conhecimento, na estatura e na graça.

Jesus era semelhante a nós em tudo, menos no pecado

Não se poderia esperar de Jesus, aos dois anos de idade, todo o conhecimento de um adulto. Até mesmo a consciência de que Ele era Deus esteve sujeita ao seu amadurecimento humano dotado de um corpo que precisava passar pelo processo natural de desenvolvimento. Logicamente, a natureza humana do Filho de Deus, pela sua união com o Verbo, conhecia e manifestava em si tudo o que é próprio de Deus (cf. CIC 473).


Da mesma maneira que todos os seres humanos sofrem, Jesus também sofreu. Ele sentiu dor, câimbras, frio, calor e sono. Precisou dormir, descansar, comer e beber. Fazia todas as necessidades fisiológicas que um ser humano comum está sujeito. Jesus amou, se alegrou, se entristeceu, sorriu e se aborreceu. Nascido da Virgem Maria, tornou-se verdadeiramente semelhante a nós em tudo, exceto no pecado.

Portanto, Ele entende o nosso sofrimento e a nossa dor; mas também se alegra conosco. Em outras palavras, nós temos um Deus que não está alheio às necessidades humanas. Ele não precisava, porém, seu amor por cada um de nós é tão grande a ponto d'Ele ter se apequenado tornando-Se limitado e sujeito às vicissitudes da matéria como nós o somos. Ao se tornar homem, Deus continuou sendo Deus. Deus não se enfraqueceu sendo homem, pelo contrário, nossa humanidade é que foi fortalecida por Ele.

Deus abençoe você e até a próxima!



Gleidson Carvalho

Gleidson de Souza Carvalho é natural de Valença (RJ), mas viveu parte de sua vida em Piraúba (MG). Hoje, ele é missionário da Comunidade Canção Nova, candidato às ordens sacras, licenciado em Filosofia e bacharelando em Teologia, ambos pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP). Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, na Liturgia do Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários. Apresenta, com os demais seminaristas, o "Terço em Família" pela Rádio Canção Nova AM. (Instagram: @cngleidson)


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/a-humanidade-e-a-divindade-de-jesus/