4 de fevereiro de 2020

Qual é o rosto mariano da Igreja?

É preciso compreender o que é Igreja. Com base no CIC 751-752, a palavra «Igreja» («ekklesía», do verbo grego «ek-kalein» = «chamar fora») significa «convocação». Designa as assembleias do povo em geral de carácter religioso. É o termo frequentemente utilizado no Antigo Testamento grego para a assembleia do povo eleito diante de Deus, sobretudo para a assembleia do Sinai, onde Israel recebeu a Lei e foi constituído por Deus como Seu povo santo. Ao chamar-se «Igreja», a primeira comunidade dos que acreditaram em Cristo reconhece-se herdeira dessa assembleia. Nela, Deus «convoca» o seu povo de todos os confins da terra.

Na linguagem cristã, a palavra «Igreja» designa a assembleia litúrgica, mas também a comunidade local ou toda a comunidade universal dos crentes. Esses três significados são, de fato, inseparáveis. «A Igreja» é o povo que Deus reúne no mundo inteiro. Ela existe nas comunidades locais e se realiza como assembleia litúrgica, sobretudo eucarística, vive da Palavra e do Corpo de Cristo, e é assim que ela própria se torna Corpo de Cristo.

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Foto Ilustrativa: Arquivo CN/cancaonova.com

Considerando os aspectos teológicos da Igreja, nos seus princípios constitutivos: Petrino – institucional e hierárquica; Paulino – missionárias, dos carismas e das revelações; Joanino – da vida consagrada, do amor e da contemplação; de Tiago (jacobino) – da tradição e da lei. Maria unifica os quatros princípios e a personaliza. Pela Anunciação, gerou o Verbo, de quem a Igreja nasce. Ela é a esposa que colabora com Cristo na redenção de todo gênero humano.

O convite para toda a Igreja

A vocação cristã, onde toda a Igreja é chamada à santidade, Maria é o modelo a seguir em relação a Jesus Cristo, para que Ele se forme em nós por meio do Espírito Santo. O centro da espiritualidade mariana está no seu Sim, livre e puro a Deus, um convite que se estende a todos da Igreja. O Concílio Vaticano II, confirmando o ensinamento de toda a tradição, recordou que, na hierarquia da santidade, precisamente a mulher, Maria de Nazaré, é figura da Igreja. Ela precede todos no caminho rumo à santidade; na sua pessoa, «a Igreja já atingiu a perfeição, pela qual existe sem mácula e sem ruga» (cf. Ef 5, 27). Nesse sentido, pode-se dizer que a Igreja é conjuntamente « mariana » e « apostólico-petrina ». (Mulieris dignitatem 27)


São João Paulo II, numa Alocução aos Cardeais e Prelados da Cúria Romana, diz: "Esse perfil mariano é tão —  senão mais — fundamental e caracterizante para a Igreja quanto o perfil apostólico e petrino, ao qual está profundamente unido (…) A dimensão mariana da Igreja antecede a petrina, embora lhe seja estreitamente unida e complementar. Maria Imaculada precede todos e, obviamente, o próprio Pedro e os apóstolos. "

Inspirar-se em Maria

O rosto mariano da Igreja é impresso ou se caracteriza no mundo quanto mais se inspirar nas atitudes de Maria. E quais são essas atitudes? Escutar, meditar e se alimentar da Palavra de Deus (Lc 2,19); oferecer Jesus às nações; ir ao encontro do outro; anunciar a Boa Nova; ser comunhão com os irmãos; cantar os louvores a Deus (Lc 1, 46-55); viver a prática do amor em particular com os mais necessitados; viver uma vida de oração; servir com prontidão e na doação da vida (Lc 1,39); viver e caminhar na fé; ter sensibilidade ao Espírito de Deus em todos os acontecimentos da vida até aos que parecem imperceptíveis (Lc 1,40-45); na crise, no cansaço, no escondimento, no coração apertado, nos avanços; na humildade, na simplicidade e criatividade; como Mãe de todos, ser sinal na alegria, na resistência e na esperança com os que sofrem; sempre na ternura e profecia. Maria nos faz acreditar na revolução da ternura e do afeto.

Vemos também o rosto mariano na Igreja diante da perseverança na cruz, ao suportar os sofrimentos que lhe são próprias (Jo 19,25). Porém, um sofrimento redentor que não termina na morte, mas que participa da Ressurreição, do Pentecostes, e culmina na glória dos céus.



Nilza e Gilberto Maia

Nilza e Gilberto Maia são casados, jornalistas e missionários de dedicação integral na Comunidade Canção Nova.

Nilza é membro da comunidade desde 1999; e Gilberto, desde 2000. Nilza é graduada em Comunicação Social pela UFMT e pós-graduada em counseling pelo IATES/Curitiba. Gilberto também é counselor pelo IATES/Curitiba e graduado em Gestão Comercial.

Ambos atuaram em suas próprias paróquias nas pastorais, movimentos e ações sociais. O casal viveu em Portugal por sete anos, onde realizaram a missão diretamente no Santuário de Fátima, através de transmissões diárias, para a TV, da Eucaristia e da Oração do Rosário da Capelinha das Aparições.

O casal é autor dos livros: 'Mística de Fátima e 'Rezar com Mãe'. Atua também no apostolado como anunciadores da Palavra de Deus, e na formação e acompanhamento de casais.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/qual-e-o-rosto-mariano-da-igreja/

27 de janeiro de 2020

Juventude, nunca deixe de lutar

A juventude é a fase em que mais sofremos as investidas do inimigo, enfrentamos as maiores batalhas e temos os sentimentos à flor da pele. É uma guerra em que nos machucamos e ficamos, muitas vezes, mutilados. É difícil, porém, não ir para a guerra, porque significaria não conhecer o sabor da vitória. Quem não luta não tem muitos problemas nem dificuldades, mas também não alcança a vitória.

É assim que acontece com alguém que está em pecado: como um porco, se lambuza todo e se mistura tanto à lama que não quer sair mais. Mesmo sendo lavado, o porco retorna à lama. Quem não luta contra o pecado torna-se semelhante a esse animal, acostumado à vida do chiqueiro. Muitas vezes, permanecemos no pecado e em suas consequências porque não quisemos lutar.

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Foto Ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

Juventude: se abra para Deus e não viva no pecado

Há uma história sobre um homem e seu baú cheio de tesouros que colecionava e comercializava. Além do baú, possuía tecidos, tapetes, terras, gado, cavalos, casas, enfim, era muito rico. Viajava bastante e sempre comprava algo que não possuía. Assim foi ajuntando tesouros, até que, um dia, numa das viagens, deparou-se com uma pérola negra e encantou-se. Era a única no mundo! Não havia visto aquele tesouro em nenhum dos lugares que já tinha passado. Então, ele quis possuí-la e foi até o dono da pérola.

Pelo fato de não haver nada parecido no mundo inteiro, o proprietário tinha todo o direito de pedir o valor que quisesse, e foi o que aconteceu. Ele pediu um preço tão alto que era quase impossível alguém possuir todo o dinheiro.

O comerciante achou o preço exorbitante, mas como um bom negociante, fez o cálculo de todos os seus bens, incluindo a roupa do corpo, e percebeu que teria o dinheiro suficiente para comprar a pérola. Voltou para casa; juntou tudo; vendeu; comprou a pérola e saiu vestido com o mínimo necessário para não estar nu.


Olhava a pérola sem ter para onde ir, pois tinha vendido a casa e tudo o que possuía. Achou, então, uma árvore e sentou-se à sombra, contemplando o seu tesouro. Ninguém era mais rico do que aquele homem, mas também ninguém era mais pobre do que ele. Nada custava mais do que a sua pérola e ele era feliz. Havia encontrado o que sempre buscara. Aquele homem acumulou riquezas por toda vida, achando que nelas seria feliz, até encontrar a pérola. E, quando a encontrou, teve de se desfazer de tudo para comprá-la.

Livre-se do pecado

Nossa situação é parecida: não temos carneiros, tesouros, contas bancárias gordas, cheque especial, muitos não têm carro nem cartão de crédito. Mas, ao longo de nossa vida, adquirimos falsos tesouros, como o pecado, por exemplo. Ele nos impossibilitou de buscar o tesouro da felicidade e da paz, que é o próprio Deus. A mesma paz que Ele fez acontecer, quando se levantou no barco e mandou o mar ficar calmo. Jesus é essa paz na agitação da vida. A alegria verdadeira e plena. Muita gente procura esse tesouro em lugares impróprios e não o encontra.

Sabemos que Jesus está em todas as pessoas, mas não em todas as situações. Existem situações em que somente o diabo está. E nessas situações é que, ao longo da vida, fomos buscar a felicidade: numa zona de prostituição, na boca de fumo, numa butique gastando além do que podíamos e ficando endividados. Buscamos a felicidade na violência, na loucura, na moda, na novela, na traição, em situações onde Deus não está, e acumulamos misérias dentro de nós.

Hoje, alegre-se! Sua busca acabou!

Até mesmo o que temos de material, adquirindo com muito custo e trabalho, passa a ter mais valor, mais sentido e mais gosto, porque encontramos o grande tesouro, que é o próprio Deus.

Trecho extraído do livro "Sementes de uma nova geração"


 

 


Mons. Jonas Abib

Fundador da Comunidade Canção Nova e Presidente da Fundação João Paulo II. É autor de diversos livros, milhares de palestras em audio e vídeo, viajando o Brasil e o mundo em encontros de evangelização. Acesse: http://www.padrejonas.com


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/juventude-nunca-deixe-de-lutar/

23 de janeiro de 2020

Na parábola do filho pródigo, quem é você?

Ao pesquisar a palavra "pródigo", nós encontramos a definição como aquele que esbanja dinheiro, que se desfaz de seus bens de forma irresponsável. A parábola do filho pródigo conta a história do filho mais novo que pede um adiantamento de sua herança e, após esbanjá-la, volta arrependido para a casa do pai e buscando pelo perdão.

Mas, na história, há outro filho, rígido e obediente, que não aceita a misericórdia do pai com o filho mais novo. Em outras palavras, nós temos alguém que errou e pede perdão e outro que não está disposto a perdoar. Apesar de serem posições opostas, não é raro que cada um de nós já tenha interpretado ambos os papéis nos acontecimentos da nossa vida. Você já parou para pensar quem é você?

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Foto Ilustrativa: Pompeo Botrim. / O retorno do filho pródigo – 1763

Embora seja muito conhecida a parábola do filho pródigo, o leitor pode reservar um tempinho para a leitura do texto bíblico, que é curto, porém, tem uma mensagem riquíssima, encontrada no Evangelho de São Lucas, capítulo 15, versículos do 11 ao 32. E como diz o Catecismo da Igreja Católica (nº 1439): "O dinamismo da conversão e da penitência foi maravilhosamente descrito por Jesus na parábola do 'filho pródigo', cujo centro é 'o pai misericordioso' […]".

A narrativa demonstra três perspectivas: do filho mais novo, do pai e do filho mais velho. A história do filho mais novo é a do pecador, que abandona a casa do pai, anda por terras desconhecidas e sem riquezas, onde não há quem seja piedoso com ele. O filho menor é o homem mundano, é o "católico não praticante". Apesar de conhecer o pai e toda sua justiça, prefere seguir uma vida solitária. Entende que não precisa de mais ninguém, vê os bens materiais (herança do pai) como tudo o que precisa para viver.

Reflita com a parábola

É muito comum que, quando deixamos de frequentar a Missa tenhamos o sentimento de desamparo. Também é comum que, quando uma sequência de coisas ruins nos acontece pensamos que é uma punição divina. A tristeza e a falta de esperança são sentimentos que atribuímos às situações externas a nós mesmos. Mas, na verdade, uma vida angustiada é consequência de nossas escolhas, principalmente daquela que nos faz retirar das mãos de Deus os nossos propósitos. Quando rejeitamos as bênçãos e o amor de Deus é como o filho mais novo, que se perde no
mundo porque abandonou a proteção e os cuidados da casa do pai. Esse desemparo que te aflige é o resultado da confiança na imperfeição humana. Põe tuas obras nas mãos de Deus e os frutos surgirão.

Portanto, se você se vê como o filho pródigo, saiba que a misericórdia do Pai para contigo sempre o conduzirá ao abraço e à recepção com amor e alegria.


Já o filho mais velho é o hipócrita, termo que o próprio Cristo usou para definir os escribas e os fariseus (Mt 23, 13). O filho maior representa aquele que cresceu em uma família católica ou que há muito tempo participa ativamente da Igreja. Esse deveria entender a misericórdia do pai e compartilhá-la. Deveria saber que a vida longe do pai é dura e injusta, que o irmão menor sofreu e precisa de perdão. O irmão mais velho deveria ser piedoso, misericordioso e amoroso, à imagem do pai. Mas, ao contrário, o filho maior endurece o coração, julga e condena, demonstrando que, apesar de uma vida toda na casa do pai, não aprendeu nada com ele. Muitos exercem atividades como ministros, leitores, membros de pastorais e, até mesmo, catequistas, mas, na verdade, "eles falam e não praticam" (Mt 23, 3).

Exame de consciência

É preciso muita atenção e cuidado. Se você exerce alguma função na sua paróquia, lembre-se de que seu papel é servir; e sua posição não deve, de forma alguma, colocar o outro em situação de inferioridade. Pense nisto: você "manda" em algo na sua paróquia? Você tem o "seu lugar" nos bancos da Igreja? Você tem algum objeto que chame de "meu" na paróquia? Todos que desejam participar precisam vir até você? Por exercer a função, você acredita ser "mais católico" que o outro? Você comenta os erros e os pecados dos outros? É importante para você ser visto no altar?

Se você respondeu "sim" para qualquer um desses questionamentos, você é o filho mais velho. Então, é importante buscar a parábola dos dois filhos (Mt 21, 28-32) e fazer um sincero exame de consciência. Manter uma atitude autoritária e intolerante, no ambiente da sua paróquia, representa o exato oposto da missão que o Cristo nos deixou, porque, agindo assim, você apenas afasta os que desejam a conversão.

Mas a figura do pai é comum a ambos os filhos e demonstra a misericórdia de Deus para conosco. Não há razão para se manter no pecado. Pouco importa com qual dos filhos você se identificou, se até então foi indiferente à Igreja, se está perdido na vida mundana ou você que, de cima do altar, tem afastado os que buscam amparo. Seja pelas falhas do filho mais velho ou mais novo, o arrependimento e a penitência sempre serão os primeiros passos para "vestir-vos do homem novo" (Ef 4, 24). Que assim seja!

Referências:

BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB, 18 ed. Editora Canção Nova.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Editora Loyola.


 


Luis Gustavo Conde

Advogado com atuação na área de Direito de Família e Direito Bancário. Tecnólogo em Gestão Empresarial. Professor de cursos técnicos-profissionalizantes. Catequista atuante na evangelização de jovens e adultos. Palestrante focado na doutrina cristã. Contato: lg.conde@icloud.com Twitter: @luisguconde


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/biblia/estudo-biblico/na-parabola-do-filho-prodigo-quem-e-voce/

20 de janeiro de 2020

Você tem andado com Cristo ao seu lado?

Hoje cedo, chamou-me à atenção este provérbio já tão conhecido: "Dize-me com quem andas e te direi quem és". Para nós cristãos, relacionamos essa frase à oração, e compreendemos que quem mantém muito contato com Deus torna-se semelhante a Ele. Daí, o valor da oração, tendo em vista que a meta do discípulo é sempre ser semelhante ao Mestre. Diz padre Kentenich que, além de nos assemelharmos a Cristo pela oração, tornamo-nos também possuidores das riquezas divinas, já que a vida dos santos e cristãos piedosos confirma que os tesouros de Deus estão à disposição daqueles que rezam.

A oração desperta nossos sentidos para que percebamos os presentes que Deus já nos deu, mas não conseguimos por nós mesmos reconhecê-los como providência divina. Há uma história que nos faz compreender melhor essa realidade:

"Após uma longa viagem, havia-se esgotado a reserva de água potável de um navio. Não queriam tomar água salgada para não intensificar a sede. O capitão não avistava margem nenhuma no horizonte. Avistou, porém, outro veleiro que navegava ao seu encontro. Aos gritos, pediram aos marinheiros dessa nave que se acercassem um pouco e os socorressem com água doce. No entanto, obtiveram, também aos gritos, a resposta: 'Ora, tirai a água do mar e bebei, não vêem que é água doce?'. Experimentaram. E recolhendo a água do mar, notaram que, já havia tempo, navegavam em água doce, no imenso estuário de um rio."

Você tem andado com Cristo ao seu lado?

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Nesse caso, a oração é como o grito daqueles marinheiros, que apontavam a solução tão próxima do problema de seus companheiros. Assim acontece conosco: muitas vezes, nadamos no oceano de graças que o Divino Deus nos oferece todos os dias, mas quase morremos de sede por não ousarmos tirar um pouco da água e experimentar.

Como se assemelhar a Cristo?

Quanto à semelhança a Cristo que adquirimos pela oração, padre Kentenich chega a afirmar: "Somos igrejinhas ambulantes, santuários vivos da Santíssima Trindade."

Quanto mais cultivarmos uma vida de oração e pureza, quanto mais cultivarmos a vida divina em nós, tanto mais semelhantes a Cristo nos tornaremos já aqui na Terra. O brilho da vida divina que está em nós vem do interior, como que transfigurando nosso pobre corpo mortal.

Eis por que pessoas idosas, que levaram sempre uma vida pura e agradável a Deus, muitas vezes, têm aparência tão sobrenatural; e pessoas santas, independente da idade que tenham, às vezes, parecem-nos seres de um outro mundo. Então, se tens andado em contato com Deus, se tens buscado sua companhia e amando-O mais que a outros e a ti mesmo, todos os tesouros do Céu estão a tua disposição, e tua semelhança a Cristo deve ter atingido o grau maior.


O amor é uma potência que tende a unir e a tornar semelhantes os que se amam. É certo que Deus nos ama! Se o amarmos, certamente, seremos como Ele é. Que assim seja!



Dijanira Silva

Missionária da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Djanira reside na missão de São Paulo, onde atua nos meios de comunicação. Diariamente, apresenta programas na Rádio América CN. Às sextas-feiras, está à frente do programa "Florescer", que apresenta às 18h30 na TV Canção Nova. É colunista desde 2000 do portal cancaonova.com. Também é autora do livro "Por onde andam seus sonhos? Descubra e volte a sonhar" pela Editora Canção Nova.

16 de janeiro de 2020

Você tem tempo para amar seus amigos?

Hoje, ao atender o telefone, que insistentemente exigia atenção, meu mundo desabou. Entre soluços e lamentos, a voz do outro lado da linha me dizia que o meu melhor amigo, meu companheiro de jornada, meu ombro camarada, havia sofrido um grave acidente, vindo a falecer quase que instantaneamente. Lembro-me de ter desligado o telefone e caminhado a passos lentos para meu quarto, meu refúgio particular. As imagens de minha juventude vieram quase que instantaneamente à mente. O tempo de faculdade, as bebedeiras, as conversas em volta da lareira até altas horas da noite, os amores não correspondidos, as confidências ao pé do ouvido, as colas, a cumplicidade, os sorrisos… Ah, os sorrisos… Como eram fáceis de surgir naquela época!

Lembrei-me da formatura, de um novo horizonte surgindo, das lágrimas e despedidas e, principalmente, das promessas de novos encontros. Lembro-me perfeitamente de cada feição do melhor amigo que já tive em toda a vida: em seus olhos, a promessa de que eu nunca seria esquecido. E realmente não fui.

Perdi a conta das vezes em que ele carinhosamente me ligava quando eu estava no fundo do poço. Ou das mensagens que nunca respondi que ele constantemente me enviava, enchendo minha caixa postal de esperanças e promessas de um futuro melhor.

Lembro que foi o seu rosto preocupado que vi quando acordei de minha cirurgia para retirada do apêndice. Lembro que foi em seu ombro que chorei a perda de meu amado pai. Foi em seu ouvido que derramei as lamentações do noivado desfeito.

Você tem tempo para amar seus amigos?

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Apesar do esforço para vasculhar minha mente, não consegui me lembrar de uma só vez em que tenha pegado o telefone para ligar e dizer a ele o quanto era importante para mim contar com sua amizade. Afinal, eu era um homem muito ocupado.

Eu não tinha tempo

Não me lembro de uma só vez em que me preocupei em procurar um texto edificante e enviar para ele ou para qualquer outro amigo, com o intuito de tornar o seu dia melhor. Eu não tinha tempo. Não me lembro de ter feito qualquer tipo de surpresa, como aparecer de repente com uma garrafa de vinho e um coração aberto disposto a ouvir. Eu não tinha tempo. Não me lembro de qualquer dia em que eu estivesse disposto a ouvir os seus problemas. Eu não tinha tempo. Acho que eu nunca sequer imaginei que ele tivesse problemas.

Não me dignei a reparar que, constantemente, meu amigo passava da conta na bebida. Achava divertido o seu jeito bêbado de ser. Afinal, bêbado ou não, ele era uma ótima companhia para mim.

A clareza do egoísmo

Só agora vejo, com clareza, meu egoísmo. Talvez – e esse talvez vai me acompanhar eternamente –, se eu tivesse saído de meu pedestal egocêntrico e prestado um pouco de atenção e despendido um pouquinho do meu sagrado tempo, meu grande amigo não teria bebido até não aguentar mais, e não teria jogado sua vida fora ao perder o controle de um carro, que, com certeza, ele não tinha a mínima condição de dirigir.

Talvez, ele, que sempre inundou o meu mundo com sua iluminada presença, estivesse se sentindo sozinho. Até mesmo as mensagens engraçadas que ele constantemente deixava em minha secretária eletrônica, poderiam ser seu jeito de pedir ajuda. Aquelas mesmas mensagens que, simplesmente, apaguei da secretária eletrônica, jamais se apagarão da minha consciência.

Essas indagações que inundam agora o meu ser nunca mais terão resposta. A minha falta de tempo me impediu de respondê-las. Agora, lentamente, escolho uma roupa preta digna do meu estado de espírito e pego o telefone. Aviso o meu chefe de que não vou trabalhar hoje e, quem sabe, amanhã nem depois, pois vou tirar o dia para homenagear, com meu pranto, uma das pessoas que mais amei nesta vida.

Ao desligar o telefone, com surpresa, eu vejo, entre lágrimas e remorsos, que para acompanhar, durante um dia inteiro, o seu corpo sem vida eu tive tempo!

As rédeas da vida

Já faz muitos anos que escrevi esse desabafo no diário de minha vida; em parte, para aliviar a dor que açoitava minha alma. Hoje, estou casado, tenho dois filhos e todo o tempo do mundo.

Descobri que se você não toma as rédeas da sua vida, o tempo o engole e escraviza. Trabalho com o mesmo afinco de sempre, mas somente sou o profissional durante o expediente normal. Fora dele, sou um ser humano. Nunca mais uma mensagem ficou sem, pelo menos, um "oi" de retorno. Procuro, constantemente, enviar aos meus amigos mensagens de amizade e dias melhores. Escrevo cartões de aniversário e Natal, sempre lembrando às pessoas do quanto elas são importantes para mim.

Abraço, constantemente, meus irmãos e minha família, pois os laços que nos unem são eternos. Acompanhei cada dentinho que nasceu na boquinha de meus filhos, o primeiro passo, o primeiro sorriso, a primeira palavra. São momentos inesquecíveis. Procuro sempre "fugir' com minha esposa e voltar aos tempos em que éramos namorados e prometíamos desbravar o mundo. Esses momentos costumam desaparecer com o tempo, e todo cuidado é pouco.


Cultivar o relacionamento

É preciso cultivar o relacionamento como uma frágil flor que requer cuidados constantes, mas que o brinda com sua beleza inenarrável. Nunca mais deixei um amigo sem uma palavra de conforto ou um inimigo sem uma oração.

Distribuo sorrisos e abraços a todos que me rodeiam; afinal, para que os guardar? Pelo menos, uma vez por mês, levo minha família à praia. A nossa praia, meu amigo querido, a mesma praia onde, tantas vezes, você me levou para recuperar minha energia. Nós a chamávamos de nossa bateria natural.

Carrego a certeza de que sempre terei tempo para o amor e suas formas mais variadas. E, sabe de uma coisa, meu amigo eterno: eu sou muito, muito mais feliz!

Comunidade Shalom


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/amizade/voce-tem-tempo-para-amar-seus-amigos/

14 de janeiro de 2020

Sou responsável pelo meu próximo

Certa vez, eu estava à frente da organização litúrgica de uma Celebração Eucarística que contava com a presença de dois bispos, mais alguns sacerdotes e diáconos. Ao iniciar a celebração, minha atenção se voltou quase que exclusivamente para todo o movimento principal que acontecia no presbitério. Quanto aos demais movimentos, os secundários, deixei-os na responsabilidade daqueles que foram incumbidos dos tais.

Porém, ao iniciar o canto de Aclamação ao Evangelho, percebi que algo não estava saindo conforme havíamos combinado. Fiquei aguardando a entrada dos que estavam responsáveis por se dirigirem ao ambão da proclamação da Palavra com as velas acesas, mas eles não apareceram. Para quem lida com as atividades próprias do rito litúrgico sabe que imprevistos sempre podem acontecer, por mais que se estude ou que se esteja acostumado com eles.

Assim, logo que o Evangelho foi proclamado (sem as velas), eu me dirigi até aos que estavam escalados para esta tarefa e os questionei sobre o que havia acontecido. O primeiro me respondeu que havia se preparado para entrar com a vela, porém, o seu companheiro não havia aparecido. Dirigi-me, então, ao segundo para saber o porquê de ele não ter aparecido. A resposta foi um simples e assustado "esqueci!".

Sou responsável pelo meu próximo

Foto ilustrativa: fizkes by Getty Images

Tirei dessa situação um aprendizado muito importante sobre ajuda o próximo

Em meio àquele simples acontecimento, recordei-me de um importantíssimo ensinamento que o padre Jonas já havia nos dado aqui na Comunidade Canção Nova. Ensinamento que, a propósito, serve para todos os cristãos. Ei-lo: "a nossa essência [a do Carisma Canção Nova] é 'viver com'. É viver juntos. Nós somos um corpo". Ele ainda completa: "tentando compreender aquilo que Ele [Deus] me inspirava, percebi que sozinho eu não poderia realizar essa obra, eis o porquê do nascimento da Canção Nova".

De fato, padre Jonas estava com a razão, e eu pude constatar por meio desse imprevisto que narrei acima. Vou explicar melhor! Por mais simples que fosse a tarefa de levar a vela até o ambão da proclamação da Palavra, havia uma missão a ser cumprida. O primeiro se preparou para cumprir a sua missão, porém, o segundo havia se esquecido. O primeiro fez a sua parte, o segundo, não. Mesmo que o primeiro estivesse preparado, a missão não pôde ser realizada na sua completude. O que faltou? Faltou, talvez, a iniciativa de ir até o irmão esquecido para lembrá-lo da escala.


Posso concluir que a cumplicidade, a ligação, a comunicação e o entrosamento mínimo que deveria existir entre aqueles dois seminaristas precedia o ato de levar a vela até o ambão, afinal, a falta dessa cumplicidade impediu que a missão fosse bem sucedida.

Proponho dar mais um passo nessa reflexão

Acredito que posso afirmar, sem correr muitos riscos de me enganar, que aquele ato de levar as velas até o ambão não era o ato principal, por mais que poderia parecer naquele momento litúrgico tão importante e solene. No fundo, o grande ato era a maravilhosa possibilidade da vivência de uma verdadeira comunhão de sentido entre aqueles dois seminaristas. A ação de levar a vela até o ambão, portanto, seria apenas o coroamento dessa cumplicidade entre os dois.

Aqui não se trata de querer fundamentar uma lição de moral em detrimento de um imprevisto, contudo, também não se pode deixar de tirar desse imprevisto um aprendizado. Onde reina o individualismo, o egoísmo e o orgulho, o Reino de Deus não acontece.

Deus abençoe você.
Até a próxima!



Gleidson Carvalho

Gleidson de Souza Carvalho é natural de Valença (RJ), mas viveu parte de sua vida em Piraúba (MG). Hoje, ele é missionário da Comunidade Canção Nova, candidato às ordens sacras, licenciado em Filosofia e bacharelando em Teologia, ambos pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP). Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, na Liturgia do Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários. Apresenta, com os demais seminaristas, o "Terço em Família" pela Rádio Canção Nova AM. (Instagram: @cngleidson)


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/sou-responsavel-pelo-meu-proximo/

10 de janeiro de 2020

Você sabia que o descanso deve ser santificado?

Não é apenas o trabalho que deve ser santificado, o descanso também precisa. No cumprimento dos nossos deveres, ao realizar fielmente o nosso trabalho, qualquer que seja ou quando nos dedicamos ao apostolado e ao serviço dos outros é natural que apareça o cansaço. Longe de exorcizá-lo aproveitaremos o descanso como um dom de Deus.

Jesus também se cansou. Quando esteve cansado da caminhada sentou-se à beira do poço de Jacó. E convidou os Apóstolos: 'Vinde vós, sozinhos, a um lugar deserto e descansai um pouco' (Mc 6,31). Certa vez, Ele adormeceu na barca durante uma tempestade; tinha passado o dia todo pregando e o cansaço d'Ele foi tão grande que não acordou apesar do vento e das ondas.

O cansaço deve ser oferecido a Deus. Ele nos ensina a praticar muitas virtudes: a sermos humildes, a nos deixarmos ser ajudados, a nos desprendermos de muitas coisas que gostaríamos de fazer. O cansaço nos ensina a sermos prudentes. A vida é um bem imenso que não nos pertence e devemos a proteger. Por isso, temos obrigação de cuidar da saúde.

Você sabia que o descanso deve ser santificado?

Foto ilustrativa: Andréia Britta/cancaonova.com

O Concílio Vaticano II menciona "os lazeres para o descanso do espírito e para consolidar a saúde da alma e do corpo". Cita ainda as viagens, os exercícios esportivos, as atividades culturais (GS 61). Uma pessoa organizada encontra sempre o modo de viver habitualmente um prudente descanso no meio de uma atividade exigente e cansativa.

Santificar o descanso é, ainda, aproveitá-lo para o apostolado

São Jerônimo faz uma confissão: "A experiência ensinou-me que: quando o burro caminha cansado, ele apoia-se em todas as esquinas".

Porém, já foi dito que descansar não é não fazer nada; e sim distrair-se com atividades que exigem menos esforço. Li no Diretório dos Jesuítas a recomendação de não estudar mais de duas horas seguidas; pois é preciso fazer um intervalo para o descanso da mente porque uma mente cansada não consegue raciocinar como é necessário. Além disso, é uma boa prática mudar de atividade.

Santificar o descanso é, ainda, aproveitá-lo para o apostolado: preocupar-nos com os outros, atendê-los e nos interessarmos pelos gostos deles. Nesses momentos de folga estamos também junto de Deus, sendo assim, não deixemos a oração nem o cuidado com a nossa vida espiritual.


Jesus, ao descansar junto ao poço de Jacó, fez uma grande obra de apostolado com a samaritana, apostolado que logo frutificou em muitas conversões. Se Ele convidou os apóstolos ao descanso, também dá a nós o exemplo de aproveitar o descanso para fazer o bem.

O Concílio diz que as viagens e a prática de esportes, além de ajudar a manter o equilíbrio do espírito, servem para estabelecer relações fraternas entre pessoas de diversas condições e raças (cf GS 61).

Dom Frei Daniel Tomasella
Fonte: Jornal 'No Meio de Nós'


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/voce-sabia-que-o-descanso-deve-ser-santificado/