6 de dezembro de 2019

Deus faz o possível para revelar Seu amor por nós

Quando estamos distantes de alguém ou de algum objeto, geralmente pedimos para alguém chamar a pessoa ou alcançar o objeto para nós, isso quando não vamos nós mesmos ao seu encontro. Na história da salvação, podemos dizer que, mesmo estando o homem distante de Deus (cf. Gn 3), Este sempre o alcançava por meio dos profetas, até que o Senhor, pessoalmente, veio ao seu encontro e revelou Seu amor de Pai.

Em Romanos 8,15, Paulo mostra que nossa relação com Deus não pode ser de escravidão, mas de filhos, porque recebemos o espírito de Aba Pai. Podemos contemplar o amor dos pais para com Seus filhos, e percebemos até mesmo o sacrifício de amor que muitos deles fazem para seus filhos e para que a família tenha harmonia. É belo, mas se comparado ao amor de Deus, torna-se pequeno. O Catecismo da Igreja Católica afirma que "a linguagem da fé se inspira, assim, na experiência humana dos pais (genitores), que são, de certo modo, os primeiros representantes de Deus para o homem. Essa experiência humana, no entanto, ensina também que os pais humanos são falíveis e podem desfigurar o rosto da paternidade e da maternidade. Convém, então, lembrar que Deus transcende a distinção humana dos sexos. Ele não é nem homem nem mulher, é Deus. Transcende também a paternidade e a maternidade humanas, embora seja a sua origem e a medida: ninguém é pai como Deus o é." (239)

Deus faz o possível para revelar Seu amor por nós

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

O amor de Deus

Embora supere, podemos pensar para compreendermos que o amor de Deus é paterno e materno. Significa que seu amor paterno nos dá segurança, proteção e nos coloca numa atitude de superação. Já seu amor materno é carinhoso, acolhedor, e sabemos que jamais nos abandona apesar dos nossos erros. Ele sabe a medida certa para cada um de nós, porque Ele é amor e nos precede. Em 1 Jo 4,10, encontramos: "Nisso consiste o amor: não fomos nós que amamos Deus, mas é Ele que nos amou."

O rosto desse Deus, que é Pai das misericórdias, é Jesus. Ele é a voz inteira da Escritura quando diz: o Pai vos ama! (Jo 16,27). Ele veio para salvar o homem do pecado, mas, sobretudo, para revelar o Pai. Santo Afonso Maria de Ligório diz que Cristo podia nos redimir sem passar pela cruz. Por que o fez? Para mostrar seu amor: Amou-nos e se entregou por nós. Ele diz que Cristo não via a hora de dar a última prova do seu amor, morrendo na cruz, consumido de dores. Se olharmos para o filme Paixão de Cristo, podemos perceber a determinação na doação de Jesus. Ele é a manifestação do amor do Pai.

Volte para perto do Senhor

Sendo assim, independentemente dos nossos pecados, o Pai nos alcança; e se temos a coragem de abrir as páginas, Seu amor escreve uma nova história em nossa vida. Quem ama deseja estar perto, e o Pai deseja ser próximo do homem, morar no seu coração. Ele não poupa esforços para nos mostrar Seu amor (Rom 8, 32). Por isso, mesmo como filhos pródigos, se arrependidos, podemos voltar para casa, porque somos alcançados pelo Pai.



Ricardo Cordeiro

Ricardo é membro da Comunidade Canção Nova. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP).  Bacharelando em Teologia pela Faculdade Dehoniana, Taubaté (SP) e pós-graduando em Bioética pela Faculdade Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/deus-faz-o-possivel-para-revelar-o-seu-amor-por-nos/

4 de dezembro de 2019

O plano de Deus não é predestinação

Assim como o homem rico, você pode aderir ou não àquilo que Deus te chama. Deus tem um plano a seu respeito, mas quem determinará sua vida será Ele mesmo. Descobrir o projeto de Deus não significa predestinação, pois, apesar d'Ele ter uma vontade, um plano a seu respeito, isso não significa que todos os eventos da sua vida estão como que "escritos" e que nada poderá mudar esse roteiro. Não! Não é assim que funciona. Você tem livre-arbítrio sobre sua existência e será você quem determinará seu futuro.

O Senhor tem um plano para você e te deu características, personalidade, temperamento, dons e talentos que fazem de você uma pessoa única, com uma identidade exclusiva, que tem algo específico para cumprir e ser nesta terra e por toda a eternidade. Contudo, é você quem deve escolher aderir ou não ao projeto do Senhor a seu respeito.
Assim como um pai deseja, até planeja, algumas coisas para seu filho, contudo, não pode obrigá-lo, o Criador tem um desejo para sua vida, mas Ele aceita que a palavra final sobre sua existência seja sua.

Por isso, não existe predestinação! Se nem mesmo Deus define uma sina à qual você não tenha escolha, imagine se os astros influenciarão em circunstâncias predeterminadas! Será você quem optará por qual caminho andar e qual destino quer chegar. Não existe trajetória, acontecimentos predeterminados, não existe pessoa destinada a se casar com você (explico isso no livro "As cinco fases do namoro", no subcapítulo – "Um amor escrito nas estrelas?") as pessoas têm vocação ao matrimônio, mas não estão destinadas a um único pretendente, você é quem escolherá com quem concretizará a esse seu chamado, assim como também não existem fatos trágicos que o Senhor envie para castigar quem não fez a Sua vontade (o que existe é o nosso afastamento da graça).

O plano de Deus não é predestinação

Foto ilustrativa: Smileus by Getty Images

Podemos dizer, como Maria, nosso "sim" a Deus e ao Seu intento, como podemos dizer "não". Podemos ainda dizer não num primeiro momento e depois reavaliarmos, como podemos também aderir num instante e depois nos afastarmos da vontade de Deus. Sobre a predestinação, vai dizer o Catecismo: "Os anjos e os homens, criaturas inteligentes e livres, devem caminhar para seu destino último por opção livre e amor preferencial. Podem, no
entanto, desviar-se" (CIC 311). E completa que, Deus se comunica com o ser humano, faz Seus apelos encaminhando o homem por meio da Sua Divina Providência: "chamamos Divina Providência as disposições pelas quais Deus conduz a sua criação […] Deus guarda e governa, pela sua Providência, tudo quanto criou […] mesmo aquilo que depende da futura ação livre das criaturas" (CIC 302).

O plano de Deus para a humanidade pode não cumprir-se?

Os planos de Deus para a humanidade, para o cosmos se cumprirão, porque Ele não depende do nosso "sim" e rege o mundo com Seu poder infinito. Ele é maior do que todo o mal que possa ser feito neste mundo e consegue, por Sua força divina, dar curso à Sua vontade, usando-Se até mesmo do mal e dos "nãos" dos homens. Nós é que necessitamos da Sua graça, para darmos curso em qualquer coisa na nossa vida.

O que existe, portanto, é a graça de Deus manifestada como Divina Providência. O Senhor pode nos fazer entender Seu projeto em nossa vida, pela Sua graça, por meio de fatos que nos acontecem, em entendimentos que possamos ter, em palavras ou por pessoas. Ele pode colocar diante de nós, nos encaminhar a alguém que possa ser um amigo, um cônjuge, que nos leve para Ele mesmo. O Altíssimo pode nos dar uma vivência, uma experiência, algo que nos faça abrir o coração e entender o que Ele está dizendo, sinalizando, o que quer de nós. Entretanto, em tudo isso, seremos nós que escolheremos, que teremos que dizer "Sim, eu quero!" ou "Não, eu não quero!".

Quem assume uma vocação, uma profissão, um matrimônio tem que saber que foi ele mesmo quem escolheu. Descobrir e seguir o plano de Deus é alinharmos o nosso querer ao d'Ele. É nesse contexto que deve entrar o nosso livre-arbítrio, ou seja, existe a parte de Deus, porém, deve existir a sua parte e também a sua adesão por livre e espontânea vontade, pois Ele não vai te obrigar ou forçar a querer o mesmo que Ele quer, mas apenas sugestionará e
tentará convencê-lo aos poucos, por amor e com amor.

A culpa é de Deus?

Caso contrário, se existisse a predestinação, poderíamos nos lamuriar e culpar o Senhor pelas nossas escolhas. Já imaginou alguém decepcionado com o cônjuge, atribuindo a Deus o fardo de ter sido "obrigado" a ter contraído matrimônio com tal pessoa? Ou alguém que desejava ser biólogo, mas teve de ingressar na faculdade de administração porque supôs que Deus assim mandou?


Se você reconhece em si um dom, por si mesmo, pode fazer uma escolha livre em como viver esse dom, doar-se, esforçar-se esmerá-lo. E quem nos faz reconhecermos o dom de nós mesmos é somente o Senhor, reconhecendo-nos n'Ele, alinhando a vontade d'Ele à nossa. "O bonito não é realizar o nosso próprio sonho, mas realizar o sonho de Deus" (Monsenhor Jonas Abib).

Todavia, fica aqui para nós que predestinação, assim como todo tipo de previsão de futuro, não condiz com a verdadeira forma do Senhor interagir conosco.

Texto extraído do livro "Entenda o plano de Deus para você", de Sandro Arquejada.



Sandro Arquejada

Missionário da Comunidade Canção Nova, Sandro Arquejada é formado em Administração de Empresas pela Faculdade Salesiana de Lins (SP). Atualmente, trabalha na Editora Canção Nova. Autor de livros pela Editora Canção Nova, ele já publicou três obras: "Maria, humana como nós"; "As cinco fases do namoro"; e "Terço dos Homens e a grande missão masculina".


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/o-plano-de-deus-nao-e-predestinacao/

2 de dezembro de 2019

Advento, tempo de faxina interior

As estações da natureza nos ensinam a reconciliar, em nosso coração, o tempo dos mistérios que abraçam nossa fé. Advento é tempo da espera. Ainda não é Natal, mas antecipa-se a alegria dessa festa. Viver cada tempo litúrgico com o coração é um jeito nobre de não adiantar um tempo que ainda não chegou. Na sobriedade que este tempo litúrgico exige, vamos tecendo a colcha das alegrias do Cristo que vem ao nosso encontro.

Esperar é uma alegria antecipada de algo que ainda não chegou. A mulher grávida vive na alma a felicidade antecipada pela vida que, em seu ventre, vai sendo gerada no tempo que lhe cabe. A natureza cumpre o ritual das estações para que cada tempo seja único. Os casais apaixonados esperam o momento do encontro. As famílias organizam a casa no cuidado da espera dos parentes que vão chegar. Esperar é uma metáfora do cotidiano da vida. No contexto do Advento, a espera ganha tonalidades alegres e sóbrias.

Casa mal arrumada não é adequada para acolher os amigos e familiares que vão chegar. Jardim sujo não pode se tornar um canteiro para novas sementes. Esperar é também tempo de cuidado e organização. No tempo da espera, o tempo do cuidado na vida espiritual. Chegando ao fim de mais um ano, muitos corações se encontram totalmente bagunçados. Raivas armazenadas nos potes da prepotência, mágoas guardadas nas gavetas do rancor, amizades sendo consumidas pelo micro-ondas da inveja, tristezas crescendo no jardim da infelicidade, violência sendo gerada no silêncio do coração.

Advento, tempo de faxina interior

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

No Advento da vida

Enquanto as lojas fazem o balanço [de seu patrimônio], somos convidados a fazer o balanço de nossa situação emocional. No balancete da vida, o amor deve sempre ser o saldo positivo que nos impulsiona a sermos mais humanos a cada dia.

Casa mal arrumada não é local adequado para receber quem nos visita. Coração bagunçado dificilmente tem espaço para acolher quem chega. Neste tempo do Advento, a faxina da espera deve remover as teias de aranha dos sentimentos que estacionaram em nossa alma. O pó que asfixia o amor deve ser varrido. Tempo novo exige coração novo. Jesus, com Seu amor sem limites, adentrava o coração de cada pessoa e fazia uma faxina de amor; abria as janelas da vida, que impediam cada pessoa de ver a luz de um novo tempo chegar; devolvia às flores, já secas pelas dores e tristezas, as alegrias da ressurreição; semeava nos sertões sem vida as sementes do amor e da paz.


No Advento da vida, as estações do coração se tornam tempo propício para limpar os quartos da alma à espera do Cristo que vem. Se o jardim do coração estiver sendo cuidado, as sementes da esperança vão germinar no tempo que lhes cabe, e o Amor nascerá nas alegrias da chegada.



Padre Flávio Sobreiro

Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP e Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre (MG), padre Flávio Sobreiro é vigário paroquial da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Santa Rita do Sapucaí (MG), e padre da Arquidiocese de Pouso Alegre (MG). É autor do livro "Amor Sem Fronteiras" pela Editora Canção Nova. Para saber mais sobre o sacerdote e acompanhar outras reflexões, acesse: @padreflaviosobreiroof


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/advento/advento-tempo-de-faxina-interior/ 

27 de novembro de 2019

As pessoas erram por que querem?

Quanto mais faço a experiência de conhecer as pessoas, mais acredito no ser humano. À medida que vou me descobrindo e descobrindo os outros, mais se torna forte em mim a certeza de que as pessoas são boas. Todos recebemos de Deus muitas capacidades e podemos fazer coisas boas, todos somos capazes de acertar. O homem é uma criatura fantástica, dotada de inteligência, bondade, sensibilidade, entre outras virtudes que, se estimuladas de maneira certa, assumem uma fecundidade surpreendente.

Acredito que ninguém erra porque quer, ninguém é infeliz querendo ser, com consciência disso. Todos querem ser felizes, é impossível que alguém goste de ser frustrado, mas nem todos sabem realmente qual caminho trilhar para alcançar a felicidade.

A mentalidade vigente (paganizada e hedonista) ilude por demais as pessoas. Tem gente vivendo o adultério, os vícios etc., acreditando cegamente que está certo, que está no caminho da felicidade, porque aprendeu, a vida inteira, que o que vale é somente o prazer "a todo custo", e que é somente este que vai lhe trazer a autêntica alegria.

A mídia secularizada (e consequentemente paganizada) nos formou, fazendo-nos acreditar que precisamos viver somente o agora (pragmatismo), buscar o prazer agora, sem pensar no amanhã, criando assim uma geração (em grande parte) irresponsável e frustrada, porque, ao buscar uma alegria num imediatismo inconsistente, só encontrou insatisfação e, evidentemente, colhe hoje os terríveis frutos de sua infeliz busca.

As pessoas são formadas por um conjunto de experiências

Foto ilustrativa: georgeclerko / by Getty Images

As pessoas são um conjunto de experiências

É necessário avaliar a formação familiar de cada indivíduo. É difícil para um pai, que foi educado à base de pancadas, entender que é com amor que se educa um filho, e mesmo quando ele entenda, é necessário um esforço enorme para que consiga traduzir em gestos o amor. Para quem nunca recebeu amor, amar e deixar-se amar é uma violência, ainda mais se tal pessoa não tem uma experiência do amor de Deus.

Pessoas que tiveram histórias duras, de desamor, muitas vezes, até tentam amar, mas não conseguem; tentam externar o amor, mas acabam por encontrar-se encarceradas no território da própria limitação. Pessoas assim amam como podem, como hoje são capazes. Uma resposta dura pode ser uma forma de amar, imperfeita sim, mas pode ser uma manifestação de amor. Muitos dos que hoje são considerados ruins, o são por causa das condições e influências que sofreram, outros também sentem-se como que obrigados a serem assim, por medo de serem massacrados pela vida e pela sociedade.

Há quem acorde de madrugada, trabalhe o dia inteiro, depois enfrente o trânsito estressante de uma grande cidade e, quando chega em casa, à noite, não consegue ser gentil com os seus, como gostaria de ser. Entenda-se bem: nossos problemas não podem servir de justificativas para nossos erros, mas não se pode negar que esses são fatos que influenciam nosso comportamento. Isso nos leva à compressão do ser humano em suas diversas características, não encobrindo suas fraquezas, mas o focando com mais misericórdia e paciência diante de seus limites naturais.


Ser cristão

Compreendo que viver bem o Cristianismo é lutar, cotidianamente, para entender as pessoas sem fixar-se na superfície, na aparência, procurando compreender o porquê de cada atitude, de cada reação. Mais uma vez, ouso dizer: ninguém é ruim porque quer, existem fatores condicionantes que levam as pessoas a serem o que são, fatores que podem ser desmistificados e até mesmo extirpados com um pouco de paciência e compreensão. Todos são bons, mas nem todos sabem disso.

Eis aí uma bela forma de ser cristão: levar ao ser humano a consciência do valor que se tem, fazendo-o acreditar na vida e nas próprias potencialidades. Assim, daremos à esperança o direito de se estabelecer vitoriosa, dando à vida a oportunidade de ser mais feliz.



Padre Adriano Zandoná

Padre Adriano Zandoná é missionário da Comunidade Canção Nova. Formado em Filosofia e Teologia, tem quatro livros publicados pela Editora Canção Nova e participação em dois CDs de oração e apresenta o programa "Pra ser Feliz"na TV Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/pessoas-erram-por-que-querem/

26 de novembro de 2019

Presunção e água benta

Os ditados populares são sabedorias inscritas na vida do povo, fonte incontestável de referências e têm a força pedagógica necessária para importantes correções. Por isso mesmo, é oportuno lembrar, aqui, um ditado popular recitado, em muitas oportunidades, por velha amiga com longa experiência de vida, o que lhe confere autoridade: "presunção e água benta, cada um pode ter o quanto quiser". Lembrando que, a escolha equivocada é um risco. Certamente, além de afronta à civilidade, agir com presunção pode trazer prejuízos a diferentes processos, com perdas sociais e institucionais. É preciso, pois, buscar o remédio para esse mal, e a receita vem dos evangelhos, nos muitos ensinamentos de Jesus.

Se a presunção não for tratada, ela se agrava e torna-se soberba, a grande responsável pelas indiferenças que enjaulam o ser humano na incompetência para se relacionar. Distancia-o da sensibilidade indispensável para o exercício da solidariedade. Deve-se buscar a humildade, virtude que é o grande antídoto para curar presunções. Por ser virtude, requer dinâmicas existenciais e espirituais para desenvolvê-la. A referência a húmus, na etimologia do vocábulo humildade, remete ao sentido de "pés no chão", à vida em parâmetros de simplicidade. Para se orientar a partir desses parâmetros, torna-se oportuno cada pessoa reconhecer a sua condição frágil e mortal que é própria
de todo ser humano. Assim, se encontram razões para atitudes e hábitos simples, reconhecendo-se humilde servidor.

Desconsiderar a humildade, nas dinâmicas espirituais e existenciais diárias, é um risco. Pode provocar o desvirtuamento de identidades, da personalidade e, consequentemente, desfigurar o caráter, sustentáculo para o exercício da cidadania e da vivência autêntica da fé cristã. Há de se ter presente que a presunção tem força de
perversão; além de enfraquecer o relacionamento humano, indispensável para o desenvolvimento das iniciativas necessárias ao bem de todos.

Este mal distancia e alimenta a perigosa pretensão: se achar melhor, muitas vezes, a partir da desvalorização do outro. Na esfera religiosa, há de se calcular o prejuízo terrível da presunção, causa de práticas tortas que se dizem ligadas à fé cristã. Presunção é o habitat do orgulho e da ganância. Manifesta-se em disputas por privilégios, na busca egoísta completamente oposta à verdade do Evangelho, que tem por princípio fundamental a igualdade, o sentido de pertencimento e a solidariedade.

Presunção e água benta

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

O que a presunção causa?

A presunção propicia a manipulação das razões e sentimentos religiosos, desfigurando a autenticidade evangélica. É um mal que induz as pessoas a buscarem somente arrebanhar mais, conquistar mais seguidores, arrecadar mais. Os resultados são nefastos pelo desvirtuamento da genuinidade do cristianismo, com a consequente perda de seu valor profético e profundamente transformador de mentes e de dinâmicas culturais. No horizonte da religiosidade, a presunção também impõe atrasos, gera entendimentos rígidos, retrógrados, que buscam alimentar certo domínio
das aparências, servindo apenas para camuflar interesses contrários à fé cristã e ao nobre sentido da religiosidade. Esses entendimentos equivocados dão origem às idolatrias que alimentam perspectivas patológicas. E não se pode considerar normal, especialmente no contexto religioso, a idolatria a pessoas.

No mundo político não é diferente. A presunção também alimenta a inconsciência a respeito dos próprios limites, o que leva à lamentável perda do sentido de realidade. Gera, assim, incapacidade para solucionar, com a necessária urgência, os graves problemas da atualidade. A representatividade no mundo da política, contaminada pelo veneno da presunção, limita-se a agir em favor de oligarquias e na busca por privilégios. A presunção cega a indispensável e saudável capacidade para a autocrítica. Em vez desse necessário exercício, grupos e segmentos se pautam por pretensões inconsistentes, completamente desconectadas da realidade. Contexto que favorece a projeção de ídolos políticos revestidos de feições religiosas. Indivíduos que fazem da política o que ela não deveria ser, com atrasos na promoção da participação cidadã, inviabilizando, inclusive, a renovação dos nomes no exercício da representatividade e a rapidez na solução dos muitos problemas sociais.


Vale avançar no horizonte deste ditado popular – "presunção e água benta, cada um pode ter o quanto quiser"- a fim de se reconhecer patologias que levam aos atrasos civilizatórios, com a incapacidade para se enxergar novos rumos e nomes, novas práticas e respostas para as demandas da sociedade. Quem precisa sair de cena não sai, por não reconhecer que é necessário fechar um ciclo para a abertura de um novo. Alimentar a presunção é permanecer no parâmetro da mediocridade, escondida por muitas roupagens, que apenas enganam para não ter de mudar o que precisa sofrer rápidas e urgentes intervenções. Tudo se justifica pela deliberada falta de consciência clarividente e de autocrítica, porque, "presunção e água benta, cada um pode ter o quanto quiser".


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/presuncao-e-agua-benta/

23 de novembro de 2019

Namoro é tempo de revelar o mistério

O namoro é o tempo de conhecer o outro. Conhecê-lo mais por dentro do que por fora. E para conhecer o outro é preciso que ele "se revele", se mostre. A recíproca é verdadeira.

Saiba que cada um de vocês é um "mistério" desconhecido para o outro. E o namoro é o tempo de revelar (=tirar o véu) esse mistério. Cada um veio de uma família diferente, recebeu valores próprios dos pais, foi educado de maneira diferente e viveu experiências próprias, cultivando hábitos e valores distintos. Então, tudo isso vai ter que ser posto em comum e reciprocamente, para que cada um conheça a história do outro. Há de revelar o mistério!

Se você não revelar, ele(a) não vai conhecê-la(o), pois esse mistério (que é você) é como uma caixa bem fechada que só tem chave por dentro.

É claro que, você não vai mostrar ao seu namorado, no primeiro dia de namoro, todos os seus defeitos. Isso será feito devagar, na medida que o amor entre ambos se fortalecer. Mas há algo muito importante nessa revelação própria de cada um ao outro: é a verdade e a autenticidade. Seja autêntico e não minta. Seja aquilo que você é, sem disfarces e fingimentos mostre ao outro, lentamente, a sua realidade.

Namoro é tempo de revelar o mistério

Foto ilustrativa: Peoplelmages by Getty Images

A mentira destrói o namoro

Não faça jamais como aquele rapaz que, querendo conquistar uma bela garota, garantiu-lhe que o pai tinha um belo carro importado; mas quando ela foi conferir havia só um velho fusca na garagem. A mentira destrói tudo, principalmente o relacionamento. Mas para que você faça uma comunicação de você mesmo é preciso que tenha autocrítica e autoaceitação. Só depois é que você pode se revelar claramente. É preciso coragem para fazer esta autoanálise e se conhecer para, então, se revelar.

Não tenha vergonha da sua realidade, dos seus pais, da sua casa, dos seus irmãos etc.; se o outro não aceitar a sua realidade e deixá-lo por causa dela, fique tranquilo, pois essa pessoa não era para você, não o amava. Uma qualidade essencial do verdadeiro amor é aceitar a realidade do outro. O amor pelo outro cresce na medida que você o conhece melhor. Não se ama alguém que não se conhece.

Não fique cego diante do outro por causa do brilho da sua beleza, da sua posição social ou do seu dinheiro. Isso impedirá você de conhecê-lo interiormente e verdadeiramente. O carro que ele tem hoje, amanhã pode não ter mais. A beleza do corpo dela hoje, amanhã não existirá quando o tempo passar, os filhos crescerem… Mas aquilo que está no ser dele ou dela ficará sempre e, ainda, é isso que dará estabilidade ao casamento e garantirá a felicidade duradoura sua, da família e dos filhos.


Quando alguém lhe abre o coração…

Portanto, conheça a história e o coração da pessoa que está hoje ao seu lado. Quem ele(a) é? É, por isso, que o namoro não pode ser uma brincadeira sem qualquer responsabilidade. Você precisa saber guardar as confidências do outro, mesmo se amanhã o namoro terminar. Há coisas que temos de ter a grandeza de levar para o túmulo conosco, sem revelar a ninguém. Quando alguém lhe abre o coração, está depositando toda a confiança em você e espera não ser traído. Portanto, cuidado com o que você conta a terceiros sobre o seu namoro; nem tudo poderá ser contado aos outros.

Eis uma questão importante: você não pode criar uma esperança vazia no outro, levá-lo às alturas nos seus sonhos e, depois, de repente, jogar tudo no chão. Seria uma covardia! Não brinque com os sentimentos e com a vida do outro, da mesma forma que você não quer que faça assim com a sua. Não alimente no outro uma esperança falsa.

Texto retirado do livro "Jovem, levanta-te", do professor Felipe Aquino.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/namoro/namoro-e-tempo-de-revelar-o-misterio/

21 de novembro de 2019

Quem é Jesus?

Constantemente, essa pergunta sobre a identidade de Jesus deve ser feita pelo cristão. Pois quem se declara ser de Jesus, automaticamente se diz seguidor d'Ele, então, deve sempre conhecer mais sobre aqu'Ele a quem se diz seguir. O evangelista São Marcos também se preocupou com essa questão, afinal de contas, o seu Evangelho foi o primeiro a ser redigido. Ele precisava falar de Jesus para as pessoas, e o grande objetivo do seu Evangelho é o de apresentar a identidade de Jesus, ou seja, responder à pergunta: "Quem é Jesus?".

O Evangelho segundo São Marcos é um texto objetivo, além disso, é o mais curto dos quatro Evangelhos. Nele sequer é apresentada a infância de Jesus. Primeiro, aparece João Batista e, em seguida, Jesus já adulto. E, logo no primeiro versículo, apresenta o tema central do Evangelho que é a identidade de Jesus: "Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, filho de Deus" (Mc 1,1).

Quem é Jesus?

Foto ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

Nessa frase, cada palavra ou expressão revela um pouco daquilo que São Marcos quer apresentar. E, no desenrolar do seu Evangelho, o leitor que se colocar como um dos discípulos de Jesus, será conduzido a conhecer, mais profundamente, a identidade de Jesus Cristo, filho de Deus.

Trata-se de viver a aventura que viveram os discípulos. Por isso, é importante ler e estudar, calmamente, dia após dia, todos os textos – do primeiro ao último capítulo – desse Evangelho. Experimentando com os discípulos momentos de poder (como na expulsão de demônios); momentos de glória (como nas curas e milagres); momentos de êxtase (como na transfiguração); momentos de aprendizagem (como nos ensinamentos sobre a lei) – mas
também, momentos de ameaça (como nas violações do sábado); momentos de medo (como nas tempestades na barca); momentos de angústia (quando Jesus foi preso); momentos de sofrimento (quando Jesus foi crucificado).


Experimentando a tudo isso, e muito mais, a partir do estudo do Evangelho segundo São Marcos, será possível conhecer melhor a identidade de Jesus e repetir o que disse o soldado romano:

"Verdadeiramente, este homem era filho de Deus" (Mc 15,39).



Denis Duarte

Denis Duarte especialista em Bíblia e Cientista da Religião. Professor universitário, pesquisador e escritor.

Site: www.denisduarte.com
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Fonte: https://formacao.cancaonova.com/biblia/estudo-biblico/quem-e-jesus-2/