10 de abril de 2019

Quanto custa a sua paz interior?

Jesus soube ter paz interior

Hoje, deparei-me com uma passagem bíblica que me pareceu cômica. É a passagem em que Jesus, depois de um tempo fora de sua cidade, volta a Nazaré, onde havia crescido. No sábado, ele ensinou no Templo como de costume, quando as pessoas começaram a duvidar d'Ele, e Jesus soltou: "Um profeta não é admirado em sua pátria". Aquele povo se enfureceu e levou o Senhor ao topo de um monte com a intenção de jogá-Lo dali. O que Jesus fez? Gastou energia com raiva? Ficou maquinando se vingar? Ou preocupado com sua autoimagem? Não! "Jesus, porém, passando no meio deles, continuou seu caminho". Simples assim. De "boaça", na paz interior. Vida que segue!

Quanto custa a sua paz interior?

Foto ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

Jesus sabia qual era o caminho

Ele não estava caminhando como um andarilho, que não sabe para onde vai, que qualquer caminho serve. Ele sabia muito bem onde queria chegar. Havia inteligência, estratégia nas coisas que Ele fazia. Porém, só havia caminho, porque existia meta. E aqui é o ponto mais importante: quando se tem uma meta, as pequenas distrações do caminho não roubam nossa energia nem nossa atenção! Uma pessoa inteligente escolhe por quais causas vale a pena gastar tempo durante o percurso.

Existem pessoas que são ranzinzas consigo e com os outros, e implicam com tudo, mostram-se obcecadas pela lei, exibem uma perfeição vã, uma santidade vazia e autorreferencial. Tem também aquele tipo que coleciona rancores e chateações, que tudo tem de ser do seu jeito, do contrário, não presta! Tudo isso as torna implicantes, julgadoras, maquinadoras, competitivas e petulantes. São pessoas que tem alto consumo de energia e vitalidade; e tudo o que o outro faz de contrário lhe rouba a paz.

Papa Francisco, na  Exortação Apostólica Gaudete et Esultate, diz que se olharmos os defeitos e limites do outro com ternura e mansidão, sem nos sentirmos superiores, podemos dar-lhes uma mão e ainda evitamos gastar energia em lamentações inúteis. Podemos aplicar esse olhar de misericórdia também sobre nós, com os nossos limites. Quantas vezes precisamos dar a mão a nós mesmo e nos dizer: vamos tentar mais uma vez?

Nada vale a nossa paz

Não podemos parar em todos os obstáculos que aparecem à nossa frente. Ainda que o nosso obstáculo sejamos nós mesmos ou o outro com seu modo diferente de fazer as coisas, seus defeitos, sua inveja, seu falar mal de nós, seu desejo de nos matar. Nada disso vale a nossa paz.

Veja a atitude de Jesus diante de quem queria jogá-lo ribanceira abaixo: "passando no meio deles, continuou seu caminho". Às vezes, só precisamos disso, passar, deixar as coisas para trás, não dar valor ao que não merece, parar com as tempestades em copo d'água, pedir perdão, perdoar e nos concentrar no que vale a pena. Naquilo que definimos como meta de vida.


Gente sem meta só empata

Você tem alguma meta de vida? Sem meta empata a própria vida e a vida dos outros. Na exortação aqui já citada, o Papa diz: "Quais são as duas riquezas que não desaparecem? Seguramente duas: o Senhor e o próximo". Veja que não podemos ser uma riqueza para nós mesmos. Portanto, agora sabemos onde devemos ter a coragem de investir a vida.

Se vivermos assim, nada nos tirará a paz!

Rogéria Nair, missionária da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/quanto-custa-sua-paz-interior/

8 de abril de 2019

Busque a verdade no contato com os outros

Como não negar a nossa verdade nem a verdade do outro?

Você costuma dizer sempre 'sim' quando o solicitam, não por uma preocupação com o outro, mas por não saber como se expressar diante daquela pessoa? Sente-se culpado ou irritado depois disso? Quantas vezes você deixou de expressar suas dificuldades, aumentando a pressão sobre você? A verdade é necessária em qualquer relação humana. No entanto, muitas vezes, temos medo de expor nosso ponto de vista, nossa dificuldade.

Por exemplo, será que é possível ser sincero com pais, companheiros ou filhos, em todas as situações? Será que é possível viver uma relação transparente no nosso ambiente de trabalho, de estudo? Mais do que responder a essas perguntas com um 'sim' ou 'não', viver essa proposta é um desafio que pode ser extremamente edificante para qualquer um de nós.

Busque a verdade no contato com os outros

Foto ilustrativa: by Getty Images: laflor

Postura passiva

Para auxiliar nesse desafio, talvez possamos lançar mão de algumas ferramentas, buscando conhecer nossas dificuldades. Por exemplo, existem situações em que temos dificuldade em contrariar os outros. Aceitamos as imposições, as solicitações dos outros, mas nunca falamos uma parte significativa da verdade, que, nesse caso, se refere àquilo que sentimos, que pensamos. Ignoramos a nós mesmos em função do medo de críticas, de broncas ou por medo de perder o afeto, a admiração, o respeito do outro. Essas são características que definem uma postura passiva.

Uma coisa importante para mudar essa condição é avaliar o que, realmente, valemos: Será que só somos dignos de ser amados se formos perfeitos, se não dermos margem para críticas? Deus tem paciência conosco! Será que, uma vez que temos propósitos firmes, concretos, de buscar viver segundo sua vontade, não podemos também ter paciência conosco e transferir isso para o dia a dia? E a partir daí, não mais nos culpar ou esconder nossas imperfeições, mas lidar com elas de forma clara, transparente, e procurar a correção?

Postura agressiva

Existem outras situações em que apresentamos uma postura agressiva diante de qualquer exigência ou solicitação. Falamos a nossa verdade, aquilo que sentimos ou pensamos, mas desrespeitando o outro, não levando em consideração os sentimentos ou a realidade daquele próximo. Impomos nossa vontade, nossa opinião, nossas necessidades.

Nesse momento, fechamo-nos em nós mesmos, tendo nossa visão de mundo como correta, não ouvimos o outro, e quando fazemos isso, fazemos para desqualificar o que fala ou agredi-lo com seus próprios argumentos. Às vezes, isso acontece por uma certa comodidade, que avança para arrogância, autossuficiência; outras vezes, é apenas uma outra maneira de nos defendermos das críticas. Vale a pena lembrar que não somos obrigados a dar respostas imediatas. Podemos respirar fundo, avaliar o que é dito, encarar a correção (Deus corrige a quem Ele ama), aprender com os mais simples (revelastes aos pequenos, e ocultastes aos sábios).

Postura assertiva

Existe uma terceira forma de agir, que poderíamos chamar de assertiva ou afirmativa. Nessa atitude, não negamos parte nenhuma da verdade: Nem a nossa verdade nem a verdade do outro. Não ignoramos a realidade que vive, mas também não atropelamos aquilo que o outro vive. E mesmo quando essas realidades são incompatíveis, busca-se sempre o acordo; busca-se identificar qual o compromisso viável que cada um dos dois pode firmar para que a relação cresça a partir daquela situação. É a busca por um ponto de equilíbrio.


Se você quiser se observar, a cada situação difícil que enfrentar, pergunte a si mesmo:

– Há alguma forma de falar a verdade?
– Estou respeitando a mim mesmo?
– Estou respeitando ao outro enquanto falo aquilo que é necessário?
– Se calo, faço isso por renúncia, ao invés de fazê-lo por comodidade?
– Estou colocando como prioridade o acordo, a conciliação, o crescimento mútuo, em vez de procurar me autoafirmar, provar que estou certo ou fazer prevalecer minha autoridade?

Se você for capaz de responder 'sim' a todas as perguntas, você está no caminho. Ser assertivo implica buscar viver bem com os outros, falando a verdade, respeitando a sua realidade, suas necessidades, por mais difícil que seja, mas sem jamais perder de vista a necessidade de respeitar o outro. Na maioria das vezes, isso pode ser vivido atento à forma como se fala com o outro. Na entonação de voz, na capacidade de olhar no olho do outro, de olhar para o outro antes de falar algo, na postura. Enfim, é hora de praticar a ternura, a caridade, a compreensão, a bondade, a brandura, a humildade. Vamos viver esse desafio: Por hoje, buscar a forma mais adequada e mais terna de falar a verdade que precisamos dizer.

Cláudia May Philippi – Psicóloga Clínica – CRP 2357/1
Kleuton Izidio Brandão e Silva – Psicólogo Clínico – CRP 6089/1


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/busque-a-verdade-no-contato-com-os-outros/

5 de abril de 2019

A autenticidade e a coerência: armas essenciais na sociedade atual

Autenticidade e coerência são valores que devem marcar o selo de qualidade da conduta cidadã, especialmente neste momento desafiador da história. A ausência desses valores pode explicar a grave crise institucional que tem impactado, negativamente, nos segmentos importantes da sociedade. Situação que exige mudança de rumos e, nesse sentido, reformas nos mais diferentes âmbitos da configuração social e política são necessárias, mas insuficientes. Por si, não possuem a força transformadora capaz de resgatar os tesouros existentes na identidade de cada pessoa – valores indispensáveis para se alcançar o sonho de uma sociedade mais justa e solidária. Sem o devido cuidado com a interioridade humana, permanecerá a lista de prejuízos na esfera governamental, no mundo religioso, na educação, na saúde e no cuidado social.

A autenticidade e a coerência: armas essenciais na sociedade atual

Foto ilustrativa: by Getty Hydromet

As derrocadas, cada vez mais frequentes, sofridas por toda a sociedade, exigem novas atitudes, sob pena de aumentar o enorme precipício que se interpõe nos caminhos da humanidade. Não se trata aqui de fazer terrorismo, mas alertar para os prejuízos em decorrência da falta de comprometimento com a autenticidade e a coerência. Não se pode permitir que esses princípios cedam lugar à inversão de valores, a exemplo da idolatria do dinheiro, que faz crescer a indiferença entre as pessoas e à Casa Comum. É urgente que todos reconheçam: buscar somente o próprio bem-estar, de modo egoísta, submetendo tudo à lógica do dinheiro, impede o êxito dos esforços para se alcançar a verdadeira paz. Uma atitude, comum e patológica, que torna a vida um pesadelo, contribuindo, paradoxalmente, para alimentar as mazelas que vão atingir, cedo ou tarde, os que se percebem seguros no seu bem-estar, ancorados somente no que possuem.

Espelhemos a autenticidade e coerência de Jesus

A necessária correção de rumos exige, assim, a superação do egoísmo e da indiferença. Nesse sentido, um caminho seguro e aberto a todos é acolher a convocação redentora deste tempo da Quaresma, que vem do coração do Mestre e Salvador Jesus: convertei-vos e crede no Evangelho. Quem acolhe esse convite com humildade consegue engajar-se, verdadeiramente, nas suas comunidades familiar, religiosa, governamental e em tantas outras, de modo autêntico e coerente, indo além do simples investimento no acúmulo de ganhos pessoais, das ações fundamentadas nas futilidades e vaidades.

Acolher, no entanto, o convite de Jesus é também um desafio neste tempo de tantas polarizações comprovadamente perigosas. Quem age de modo coerente com o Evangelho não pode se enrijecer nos estreitamentos de mentalidades e de juízos tendenciosos, distantes da verdade, da justiça e, consequentemente, do amor. Por isso mesmo, o tempo da Quaresma pede a cada pessoa compromisso com a humildade na vivência do jejum, da oração e da caridade – dedicação, principalmente, aos que mais precisam de amparo. Caminho bem diferente do que é trilhado por quem se contenta com o fracasso dos outros ou se dedica a propagar mentiras para conquistar benesses e comodidades.

Lamentavelmente, a mentira é também um mal que se expande velozmente no mundo contemporâneo, contaminando os mais diversos tipos de relações. As pessoas parecem se habituar, cada vez mais, com a mentira e, consequentemente, distanciam-se da verdade. Oportuno é lembrar o que diz Santo Agostinho, quando relata ter visto muitas pessoas que enganam outras, mas jamais ter encontrado alguém que gostasse de ser enganado. Se todos assumissem o propósito de nunca mentir por não apreciar o prejuízo de ser enganado, a realidade mudaria para melhor e a verdade seria reconhecida, de fato, como bem imprescindível. Há, pois, de se tomar consciência sobre a negatividade ética das mais diversas formas da mentira – a que é dita sobre os outros, a que se propaga para arquitetar a corrupção, a que busca assegurar cargos nas instituições e também a que alimenta ilusões sobre si mesmo.


Enfrentar a mentira e as muitas crises que ameaçam a humanidade é uma urgência. A sincera oração a Deus, inspirada pelas palavras de Santo Agostinho, contribui para a superação desse desafio, qualificando a própria interioridade: "Fazei que eu Vos conheça, ó Conhecedor de mim mesmo, sim, que Vos conheça como de Vós sou conhecido. Ó virtude da minha alma, entrai nela, adaptai-a a Vós, para a terdes sem mancha e sem ruga".

Todos tenham, assim, iluminados pela fé, oportunidade de investir mais na autenticidade e na coerência, alicerces imprescindíveis para a edificação da própria interioridade.


Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. No Brasil, é bispo referencial para os fiéis católicos de Rito Oriental. http://www.arquidiocesebh.org.br


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/autenticidade-e-coerencia-armas-essenciais-na-sociedade-atual/

2 de abril de 2019

Como saber se vivo um namoro abusivo?

Você sabe o que é e como acontece um namoro abusivo?

O namoro é compreendido como um tempo em que os apaixonados se conhecem mutuamente, a fim de alcançar uma maior consciência de si e do outro antes de um compromisso definitivo. Muitas vezes, no entanto, essa paixão pode se transformar numa necessidade de controle e domínio sobre a outra pessoa. É aí que surgem os ciúmes doentios, as brigas intermináveis e, em casos extremos – mas não raros –, a violência física e psicológica.

Em termos gerais, um namoro pode ser considerado abusivo quando o indivíduo perde a sua liberdade e espontaneidade em decorrência da imposição ou intimidação de um dos pares. Por exemplo: se uma moça precisa se distanciar do seu círculo de amigos, porque o namorado simplesmente é ciumento, estamos diante de um mecanismo de controle de um pelo outro. Quando, então, o relacionamento começa a anular a liberdade de um, estamos diante da instrumentalização da pessoa.

-Como-saber-se-vivo-um-namoro-abusivo-Foto: stock-eye

Sinais de um namoro abusivo

O relacionamento abusivo pode apresentar diversos sinais, mas todos eles possuem um padrão comum de manipulação e necessidade de controle. O mais comum nos relacionamentos é o ciúme excessivo.

Por ciúme, entendemos o temor de perder a pessoa amada para um terceiro, tendo como comportamento reativo a esse medo a preocupação constante e exagerada, desconfianças infundadas, comportamentos extravagantes acompanhados de crises de raiva, tristeza, ansiedade e uma compulsividade em checar a vida do parceiro, "bisbilhotando" ou até mesmo invadindo a vida pessoal como checagem de seu perfil nas redes sociais, registro de ligações de celular, conversas no WhatsApp e, em casos extremos, seguir a pessoa para ver se "confirma" uma possível traição.

No fundo, a pessoa ciumenta apresenta um alto grau de baixa autoestima e um sentimento de insegurança emocional, que, na maioria dos casos, têm sua origem na negligência de afeto dos pais na infância.

O abuso pode aparecer sobre forma de imposição de ideias ou pensamento, quando a pessoa se considera sempre certa, nunca cede, não admite erros nem pede perdão, pois isso é visto por ela como sinal de fraqueza; nunca vê as qualidades e virtudes do outro, nunca reconhece, elogia nem motiva o parceiro. Há uma necessidade de ser o centro das atenções no namoro.

Há ainda o tipo manipulador-sarcástico, em que as histórias do parceiro nunca batem, são permeadas de fantasias e discrepâncias. Ele está sempre com uma conversa envolvente para conseguir o que quer.

Violência

Por fim, falamos da violência no namoro, que se manifesta de forma física, verbal ou psicológica. É marcado por troca de agressões, ameaças, xingamentos, constrangimentos (muitas vezes em público) e intimidações. A dinâmica desse relacionamento é em forma de 'montanha russa'. O parceiro tem picos de fúria, seguido de agressões verbais e físicas, mas, depois, se mostra arrependido, faz juras de amor, promete nunca mais fazer novamente; no entanto, infelizmente, volta a fazer.

É muito comum, no atendimento a mulheres casadas que sofrem violência, perceber que já no namoro o parceiro dava claro sinais de agressividade, mas que sempre se mostrava arrependido e prometia mudar. Diante de tais promessas e no medo de permanecer sozinha, muitas seguiram adiante no relacionamento e descobriram, no fundo, um marido perverso e manipulador.


Quais as consequências de um namoro abusivo?

As consequências são diversas, desde um trauma psicológico até uma violência física. No caso de uma pessoa que apresenta comportamento de ciúme doentio, haverá também sofrimento por parte deste abusador, visto que as crises de ciúmes desencadeiam vários fatores de sofrimento emocional e físico, provenientes da ansiedade, como taquicardia, sudorese e palpitações. Nesse caso, é preciso uma ajuda profissional, mas o sofrimento maior ficará por parte da pessoa que está "cativa".

A sensação de aprisionamento, de insegurança e medo aparece como uma violência psicológica. Se a pessoa não tem a maturidade e o apoio necessário para encerrar esse relacionamento, pode desenvolver transtornos psíquicos como pânico, transtorno de ansiedade generalizado, crises de estresse, fadiga e doenças psicossomáticas, além dos prejuízos sociais no trabalho, na escola e o distanciamento da família ou círculo de amigos.

O relacionamento abusivo por si só deixará uma ferida psicológica que deverá ser elaborada para que a pessoa possa adentrar de forma mais saudável em um outro relacionamento.

O que leva uma pessoa a permanecer em um relacionamento abusivo?

Infelizmente, muitas pessoas não conseguem sair ou se dar conta de que estão envoltas nesse mecanismo, ainda que esteja lhe causando certo grau de sofrimento. É muito comum encontrarmos homens e mulheres que possuem um histórico de relacionamento marcados por desejo de controle ou serem controlados.

Na maioria dos casos, as pessoas que se deixam controlar por outras também estão comprometidas psicologicamente, seja porque o parceiro lembra uma figura autoritária como o pai ou a mãe, ou por simples medo de permanecer sozinha e não conseguir um companheiro para apresentar ao seu círculo social.

Muitas mulheres, por exemplo, por causa de uma pressão social de que "precisam se casar", acabam se sujeitando a todo tipo de abuso no relacionamento para sustentar uma falsa imagem de que "mulher realizada é mulher casada". Na maioria dos casos, essa pressão social funciona como uma armadilha que atrai homens neuróticos e controladores.

Como sair de um relacionamento abusivo?

Em primeiro lugar, é preciso perguntar: "Você se sente seguro neste relacionamento? Você se sente livre e respeitado já no namoro?". Se a resposta for 'não', procure colocar em uma lista os motivos de sua insegurança neste namoro, verifique o seu grau de sofrimento e não tenha medo de terminar o relacionamento se detectar que você está preso neste mecanismo de controle.

Um forma de perceber se esse relacionamento está no caminho certo é constatar se ele o aproxima ou afasta das pessoas que você ama, como familiares e amigos. Esse é um bom termômetro. Se mesmo assim estiver difícil de terminar ou se, ao menor sinal de término, você sente medo dele(a), das possíveis consequências, procure ajuda de amigos ou familiares.

Tenha em mente que namoro e noivado não são casamento, que você está num período propício de conhecer alguém a quem se entregará para o resto da vida. O namoro saudável é aquele que o deixa livre para fazer suas escolhas e contribui para a sua autonomia e amadurecimento enquanto pessoa, justamente, porque é com essa liberdade que você dirá 'sim' no altar. O amor só pode ser concebido nessa dinâmica da liberdade, caso contrário, estamos mentindo para os outros e para nós mesmos.

Como dizia o psicólogo suíço Carl Gustav Jung: "Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro".


Daniel Machado

Daniel Machado de Assis, natural de São Bernardo do Campo-SP, é membro da Canção Nova desde 2002. Psicólogo formado pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo, também estudou filosofia pelo Instituto Canção Nova. Atualmente é coordenador do Núcleo de Psicologia Canção Nova que tem por objetivo assessorar e auxiliar a formação dos membros desta instituição.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/namoro/como-saber-se-vivo-um-namoro-abusivo/

29 de março de 2019

Por que preciso fazer adoração ao Santíssimo Sacramento?

A pessoa que se coloca em adoração está reconhecendo Jesus como único Senhor e Salvador

Conforme o Catecismo da Igreja Católica, no 2096, "a adoração de Deus é o primeiro ato da virtude da religião". Adorar a Deus é reconhecê-Lo como Deus, como Criador e Salvador, Senhor e dono de tudo o que existe, o Amor infinito e misericordioso. "Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto" (Lc 4,8), diz Jesus, citando o Deuteronômio (Dt 6,13).

E também "a adoração é a primeira atitude do homem que se reconhece criatura diante de seu Criador. Exalta a grandeza do Senhor que nos fez e a onipotência do Salvador que nos liberta do mal. É prosternação do Espírito diante do 'Rei da glória' e o silêncio respeitoso diante do Deus 'sempre maior'. A adoração do Deus três vezes santo e sumamente amável nos enche de humildade e dá garantia a nossas súplicas" (CIC, no 2628).

Por que preciso fazer adoração ao Santíssimo Sacramento?

Foto ilustrativa: Larissa Carvalho/cancaonova.com

A pessoa que se coloca em adoração está reconhecendo Jesus como único Senhor e Salvador. É uma atitude de humildade daquele que se prostra e se entrega a Ele, é ter a mesma atitude e palavras dos reis magos que vão ao encontro do Salvador: "Onde está o Rei (…). Viemos adorá-lo" (Mt 2,2). E, ao encontrarem o Menino Deus na manjedoura, prostram-se diante d'Ele e oferecem seus presentes.

Cada pessoa, em diversas situações e condições, pode se colocar de formas diferentes diante de Jesus Eucarístico: em alguns momentos, nossa atitude é de adoração e contemplação; em outros de súplica ou pedidos para a própria pessoa ou por outras; ou ainda em agradecimento por uma graça alcançada; pedido de perdão; ou momentos de repouso e descanso no Senhor. Deus quer que cada um se apresente diante d'Ele de forma honesta e sincera como se encontra para adorá-Lo: "Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus"! (Mt 21,9).

O Papa João Paulo II, na Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia, escreve: "A Eucaristia é um tesouro inestimável: não só a sua celebração, mas também o permanecer diante dela fora da Missa permite-nos beber na própria fonte da graça. Uma comunidade cristã, que queira contemplar melhor o rosto de Cristo, (…) não pode deixar de desenvolver também esse aspecto do culto eucarístico, no qual perduram e se multiplicam os frutos da comunhão do corpo e sangue do Senhor".1

Já em sua carta apostólica Mane Nobiscum Domine, São João Paulo II nos apresenta o dom da Eucaristia como um grande mistério. Mistério a ser celebrado de maneira digna, que deve ser adorado e contemplado. O que entendemos por adoração a Jesus na Eucaristia? A adoração ao Santíssimo Sacramento é estar unido à Santíssima Eucaristia numa atitude de respeito e comunhão com o Senhor.

Estamos conscientes, sabemos que a Eucaristia é o sacrifício pascal de nosso Senhor e que na Missa se atualiza o mistério da vida, morte e ressurreição de Jesus. Na celebração eucarística, o corpo de Cristo se faz alimento. A Missa é um grande banquete no qual o próprio Deus se faz refeição. Deste mistério surge a necessidade de celebrarmos com respeito, amor e dignidade cada Santa Missa, colocando-nos em atitude de verdadeira comunhão com o mistério de nossa salvação.


A Igreja anima e incentiva estarmos diante do Cristo presente na Eucaristia em atitude de adoração e contemplação. "A presença de Jesus no tabernáculo deve constituir como que um pólo de atração para um número sempre maior de almas apaixonadas por ele, capazes de ficar longo tempo escutando a voz e quase que sentindo o palpitar do coração".2

Adorar o Senhor na Eucaristia é reconhecer a presença real de Cristo no pão consagrado. Deus é presença real: "Isto é o meu corpo", afirma o próprio Cristo. O Papa ainda afirma: "É preciso, em particular, cultivar, quer na celebração da Missa, quer no culto eucarístico fora da Missa, a viva consciência da presença real de Cristo".3

A carta apostólica do santo padre ainda nos anima ao ressaltar que a adoração eucarística fora da Missa deve se tornar um empenho especial para cada comunidade paroquial e religiosa. "Permaneçamos longamente prostrados diante de Jesus presente na Eucaristia, reparando com a nossa fé e o nosso amor os descuidos, os esquecimentos e até os ultrajes que nosso Salvador deve sofrer em tantas partes do mundo".4

Referências:

1 JOÃO PAULO II, Ecclesia de Eucharistia. São Paulo: Paulus/Loyola, 2003, no25.

2 JOÃO PAULO II, Carta apostólica Mane Nobiscum Domine. São Paulo: Pauli-
nas, 2000, no18.

3 Ibidem.

4 Ibidem.

Texto retirado do livro "Respostas simples para perguntas difíceis". 

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Padre Mário Marcelo

Mestre em zootecnia pela Universidade Federal de Lavras (MG), padre Mário é também licenciado em Filosofia pela Fundação Educacional de Brusque (SC) e bacharel em Teologia pela PUC-RJ. Mestre em Teologia Prática pelo Centro Universitário Assunção (SP). Doutor em Teologia Moral pela Academia Alfonsiana de Roma/Itália. O sacerdote é autor e assessor na área de Bioética e Teologia Moral; além de professor da Faculdade Dehoniana em Taubaté (SP). Membro da Sociedade Brasileira de Teologia Moral e da Sociedade Brasileira de Bioética.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/por-que-preciso-fazer-adoracao-ao-santissimo-sacramento/

27 de março de 2019

O perigo de comprar os filhos com presentes

Desde a infância, os pais estão definindo o futuro comportamento  dos filhos

O mundo moderno é exigente. Assim como o marido deseja uma mulher charmosa e atenciosa, o chefe espera por uma profissional competente; a esposa espera por um marido provedor; a empresa espera que o funcionário produza cada vez mais resultados e com menos recurso. Por todas essas cobranças, os pais contemporâneos têm de fazerem um esforço sobre-humano para desempenharem tais atribuições. Portanto, às vezes, tudo isso acaba produzindo, na família, o sentimento de culpa por não ter tempo integral para cuidar deles. Então, o resultado é claro: são pais que deixam de educarem os filhos e passam a "compensá-los" com coisas materiais para tentarem suprir a ausência deles.

Eles não se sentem no direito de desempenharem autoridade parental e passam a satisfazer as vontades dos filhos, tendo em vista o pouco tempo para passar com eles. Optam por não "brigar", apenas proporcionar momentos de alegria. Ignoram algumas coisas erradas e abrem mão de corrigir os filhos, porque já se sentem culpados.

O perigo de comprar os filhos com presentes

Foto ilustrativa: Andréia Britta/cancaonova.com

Culpa, frustração e amor

É possível amar e corrigir. A culpa não é necessária. Inevitavelmente, os filhos passarão por frustrações que a vida os proporcionará. É preciso trabalhar as limitações e as impossibilidades que são grandes passos que os  preparam para lidarem com situações de difícil aceitação e, também, fazem parte do ciclo de amadurecimento emocional, tanto dos pais quanto dos filhos.

É papel dos pais incutir nos filhos o sentimento de gratidão, de conquista e de valorização das coisas da vida. Uma forma disso é controlar os presentes, porque aprendem a valorizarem e a gostarem daquilo que ganham. Observando as crianças atuais, percebemos que se desinteressam pelo presente num curto espaço de tempo e já estão de olho no próximo anúncio de brinquedo ou alguma moda lançada pelo mercado.

Os pais que ensinam o valor do dinheiro, a dificuldade para obtê-lo e os custos que o mundo consumista exige nos dias atuais, propiciam às crianças um entendimento da importância de poupar e, principalmente, a entenderem que o dinheiro não nasce em um "pé de árvore" e que cartão de crédito precisa ser pago. A falta desse ensinamento tem gerado adultos irresponsáveis que compram sem avaliar seu poder de pagamento. A cada ano crescem o número de pessoas inadimplentes, porque não aprenderam a usar corretamente seu dinheiro.

Dicas

Para pais cristãos, uma grande oportunidade é o Natal. Pois é quando podemos ensinar quem é o verdadeiro aniversariante, e é Ele quem merece receber presentes. Porque as crianças estão sendo criadas como se fossem merecedoras de tudo, pelo simples fato de existirem. Esse modelo educacional traz repercussões na vida adulta, quando não querem "batalhar" pois acreditam que merecem uma carreira rápida e coroada de elogios.

Um mecanismo usado é a mesada, que tem um papel educador, pois ensina o valor do dinheiro e, principalmente, o valor da escolha, pois as crianças terão de escolherem como e em no que usar o seu recurso. Esse entendimento de que os recursos são finitos precisam ser bem alocados para render soluções e não futuros problemas ou desperdícios.


Outra consequência do excesso de presentes, assim como de comida e outros falsos mecanismos de redução de ansiedade, podem gerar pessoas que não enfrentam os seus sentimentos, e sim os camuflam usando "coisas" que preenchem o vazio emocional. Também, o excesso produz pessoas materialistas que enxergam apenas o consumo ou acúmulo como compensação de sentimentos não trabalhados adequadamente.

Portanto, desde a infância, os pais estão definindo o futuro comportamento dos filhos: se serão bons ou ruins. E uma grande parte da escolha do comportamento deles, será de acordo como foi aprendido por cada um.


Ângela Abdo

Ângela Abdo é coordenadora do grupo de mães que oram pelos filhos da Paróquia São Camilo de Léllis (ES) e assessora no Estudo das Diretrizes para a RCC Nacional. Atua como curadora da Fundação Nossa Senhora da Penha e conduz workshops de planejamento estratégico e gestão de pessoas para lideranças pastorais.

Abdo é graduada em Serviço Social pela UFES e pós-graduada em Administração de Recursos Humanos e em Gestão Empresarial. Possui mestrado em Ciências Contábeis pela Fucape. Atua como consultora em pequenas, médias e grandes empresas do setor privado e público como assessora de qualidade e recursos humanos e como assistente social do CST (Centro de Solidariedade ao Trabalhador). É atual presidente da ABRH (Associação Brasileira de Recursos Humanos) do Espírito Santo e diretora, gerente e conselheira do Vitória Apart Hospital.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/educacao-de-filhos/o-perigo-de-comprar-os-filhos-com-presentes/

25 de março de 2019

Pecado é ser infiel a um trato de amor

Deus nos criou por amor e nos busca como ovelhas perdidas

A Palavra de Deus é luz para o nosso caminho quando apresenta figuras ricas de detalhes, cujas personalidades nos dão a possibilidade de penetrar no mais profundo de nós mesmos, reconhecendo os horizontes que se abrem mesmo a partir dos eventuais limites que nos caracterizam.

Uma delas é o rei Davi. Num misto de jovem chamado na mais tenra idade a servir ao Senhor, ele foi guerreiro intrépido, amigo sincero, cantor das obras de Deus, dançarino ridicularizado por uma esposa, adúltero, penitente, governante capaz de unir tribos dispersas, até chegar ao idoso previdente. Nuances profundamente humanas em que o pano de fundo era o amor eterno de Deus que dele cuidava. Ele era muito parecido com os homens e mulheres de nossa magnífica e, ao mesmo tempo, complexa geração.

Pecado é ser infiel a um trato de amor

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Nossos primeiros pais se viram nus nas primeiras páginas do livro do Gênesis (Gn 3,10) e esconderam-se do Senhor, quem sabe prefigurando todas as pessoas que dele fogem com medo da luz. O Davi adúltero, instado pela palavra profética de Natan (II Sm 12,7-13), reconheceu seu crime: "Pequei contra o Senhor". Ele deixou em herança o segredo da conversão, quando qualquer homem ou mulher podem ver queimadas suas misérias no fogo ardente de amor do coração de Deus.

Conversão

Como Deus condena o pecado, mas quer salvar o pecador, a luz sempre entra pela porta do arrependimento sincero. Contudo, se fecham quando o orgulho bloqueia a gratuidade do amor de Deus. É que pecado não significa burlar uma lei externa, como se Deus fosse um guarda de trânsito a vigiar nossos passos. Também não entendeu o que é pecado quem apenas considera errado o que "dói" dentro de si.

Há muita consciência relaxada praticando horrores por não sentir nada! Pecado é ser infiel a um trato de amor, aliança estabelecida entre Deus que nos criou por amor e que nos busca como ovelhas perdidas, quase mendigando nossa resposta de amor, incrível gratuidade que Ele diz ao Davi arrependido: "Tu não morrerás!".

Os encontros das pessoas com Jesus foram reveladores dos meandros mais profundos da alma humana. Um dia (Lc 7,36-8,3) vem uma pecadora, irrompe em casa de certo Simão, cujos gestos de delicadeza e hospitalidade foram parcos, por não ter oferecido, ao hóspede divino, a água, o perfume e o beijo. A mulher, quem sabe uma prostituta, prostra-se aos pés do Senhor – gesto da pessoa que descobriu seu caminho de libertação -, lava os pés de Jesus com as próprias lágrimas. Humilhando-se, solta os cabelos com os quais enxuga os pés de Jesus, derrama sobre eles um perfume raro e caro, sinal de alegria, abundância, amor e consagração, e os beija na festa da acolhida encontrada. Nenhuma justificação e tanta gratidão! Ela pronuncia o 'amém' da fé no perdão de Jesus e em seu amor que se deixa amar. Personalidade misteriosa e rica!

A estrada da conversão foi percorrida por outras personalidades igualmente provocantes. Paulo, fulgurado pelo amor de Cristo (Gl 2,16-21), descobriu o amor do Senhor e, perseguidor implacável que era anteriormente, veio a se tornar imagem viva e transparente de seu Senhor: "Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim". Depois dele, muitos perseguidores já se transformaram em discípulos ardorosos!

Que ninguém passe em vão ao nosso lado

A história de Davi ou da pecadora do Evangelho; de Paulo ou de todos os homens e mulheres que se empreenderam à santa viagem da conversão é muito parecida. A Palavra de Deus ressoa como farol luminoso, convidando-nos a percorrê-la!

Deus não nos olha de fora, mas conhece as profundezas do nosso ser. Lá dentro, identifica a mais tênue réstia de luz, prodigalizando misericórdia a mancheia. E para todos os que acolhem Sua bondade infinita, Ele os transforma em apóstolos do perdão, para visitarem em Seu nome corações e casas.


Não há desculpas! De Davi a Paulo, passando por todos os pecadores e pecadoras, cada um de nós encontra seu lugar.

É relativamente fácil denunciar os erros das pessoas, sem apontar saídas possíveis! Difícil é olhar lá dentro do mistério de cada ser humano, descobrindo que nenhuma pessoa foi feita "no rascunho", e sim destinada à felicidade e à salvação. O olhar da misericórdia descobre caminhos e soluções. Que ninguém passe em vão ao nosso lado!

Equipe de Colunistas do Formação


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/pecado-e-ser-infiel-a-um-trato-de-amor/