26 de agosto de 2013

Salve-se quem puder?

Deus vem ao encontro dos anseios humanos
Está inscrito na natureza humana o anseio pela felicidade, a busca da plena realização de todas as suas potencialidades. Ainda bem! É altamente consolador ter a clareza de que não fomos feitos para nivelar pelo rodapé da existência nossos sonhos, mas buscar o que é melhor, mirar as coisas do alto, acolher o chamado de Deus a sermos perfeitos. Entra aqui um dado importante, pois não se trata apenas de construção pessoal, mas resposta, a modo de um diálogo iniciado desde toda a eternidade. Fomos pensados e amados por alguém. Não somos obra do acaso nem estamos perdidos, sem rumo.


Entretanto, a luta renhida do cotidiano pode levar as pessoas a se engajarem numa competição, tantas vezes desigual, pelos melhores lugares na sociedade, oportunidades de trabalho e reconhecimento, num "salve-se quem puder" semelhante à correria que se segue a tragédias, como incêndios ou revoltas populares. Cada um quer receber o seu naco de proveito e, infelizmente, tantas vezes à custa do pescoço do outro a ser pisado. Todas as diversas manifestações que pululam hoje pelo mundo e pelo nosso país têm como pano de fundo o desejo profundo de realização e a busca do espaço de liberdade para a qual fomos feitos. Só que muitos entram de roldão nas ondas de protestos, criando-se um estado de insatisfação em que se perde o sentido do respeito às pessoas e os justos limites da liberdade de cada homem e cada mulher. Também as situações pessoais e os dramas familiares nos deixam estarrecidos, de modo a suscitar um "até quando?" que inquieta a todos pela multiplicação de fatos inusitados. E que dizer da absurda eliminação da vida das pessoas e a violência que se espalha? Podemos até destruir justamente o que mais nos atrai, o sonho de felicidade e dignidade!

Deus vem ao encontro dos anseios humanos; antes, criou a todos com uma sede de eternidade e de felicidade. Ele quer que todos se realizem, mas há uma interrogação, cuja atualidade se revela perene, diante das perspectivas que se abrem para a humanidade de cada tempo: "Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém. Alguém lhe perguntou: 'Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?' Ele respondeu: 'Esforçai-vos por entrar pela porta estreita. Pois eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão'" (Lc 13,22-14). Ao invés de oferecer respostas prontas e aparentemente fáceis de serem absorvidas, Jesus envolve as pessoas numa verdadeira aventura de engajamento na estrada da salvação e da liberdade. De fato, Deus quer o bem de todos e a vida em abundância (Cf. Jo 10,10).

Ninguém se sinta excluído de Seu projeto! No entanto, faz-se necessário, justamente pela liberdade com que as pessoas foram criadas, arriscar-se pela porta estreita do amor ao próprio Deus e ao próximo. Não fomos feitos para ficar assentados, esperando a grande sorte na loteria da vida ou reduzindo a sonhos de consumo o sentido da existência. As soluções aparentemente mágicas não são plenamente humanas. Humano é sair de si para amar e servir! Humano é tecer relações novas entre pessoas e grupos, superar a desconfiança, exercitar a criatividade, inventar soluções novas, acreditar nos pequenos passos.


Daí nasce o convite e o compromisso cristão na construção de um mundo melhor. Começa no alto, no plano de Deus a nosso respeito. "É do amor de Deus por todos os homens que, desde sempre, a Igreja vai buscar a obrigação e o vigor do seu ardor missionário: 'Porque o amor de Cristo nos impele' (2 Cor 5, 14). Com efeito, 'Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade' (1Tm 2,4). Os que obedecem à moção do Espírito da verdade estão já no caminho da salvação. Mas a Igreja, à qual a mesma verdade foi confiada, deve ir ao encontro dos que a procuram. É por acreditar no desígnio universal da salvação que "a Igreja deve ser missionária" (Catecismo da Igreja Católica, 851). O anúncio da "salvação" proclama que a vida tem sentido e que é para a felicidade que Deus nos fez. "Chamado à felicidade, mas ferido pelo pecado, o homem tem necessidade da salvação de Deus. O auxílio divino lhe é dado em Cristo, pela lei que o dirige e na graça que o ampara: 'Trabalhai com temor e tremor na vossa salvação, porque é o Senhor quem opera em vós o querer e o agir, segundo os seus desígnios'" (Fl 2, 12-13 - Catecismo da Igreja Católica 1949).

Consequência é nosso olhar positivo, ao mesmo tempo realista, a respeito da realidade. Fomos feitos para o bem e temos a semente plantada por Deus em nossos corações, com todas as possibilidades de nos realizarmos. No entanto, existe em nós o mistério da iniquidade, pelo que, olhando no espelho da vida, reconhecemos as rugas deixadas pelo pecado. Olhamos também para os outros e os acolhemos, sabendo que neles existe esta desafiadora mistura de boa intenção e pecado. Acreditamos que o amor de Deus é maior do que toda a maldade existente, engajando-nos na luta pelo bem e pela verdade. Consequência é o primeiro passo a ser dado. Cabe a cada um de nós começar, sem aguardar que os outros venham ao nosso encontro. Consequência é a construção de novos relacionamentos, certos da Palavra de Jesus: "Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros" (Jo 13,35).

Para tanto, só a graça de Deus nos sustenta, por isso pedimos: "Ó Deus, que unis os corações dos vossos fiéis num só desejo, dai ao vosso povo amar o que ordenais e esperar o que prometeis, para que, na instabilidade deste mundo, fixemos os nossos corações onde se encontram as verdadeira alegrias. Amém."

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.

23 de agosto de 2013

Quando a amizade passa pela prova da paixão

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Não tome decisões prematuras

Na amizade, encantamo-nos com algo que descobrimos no outro. Afinal, se estamos juntos, é porque temos afinidades e escolhemos ser amigos. Por isso, é natural que, por vezes, o companheirismo com o sexo oposto gere mais do que uma simples amizade. O(a) amigo(a) começa a aparecer com mais frequência em nossos pensamentos e o bom sentimento em relação a ele (a) toma tons de atração ou paixão. Mas temos de ficar atentos! Não é porque estamos buscando viver uma vida de santidade, com amizades sadias e santas para, consequentemente, chegar a um namoro santo e cristão, que estamos isentos de sentir carência, sensação de solidão e impulsos, desejos e fantasias. Isso é inerente ao ser humano, portanto, sinal de que o seu físico e o seu psicológico continuam funcionando muito bem, graças a Deus!


Não tome decisões prematuras. Namoricos em grupos de oração, em grupos de jovens e universitários, quando decididos às pressas, prejudicam até o andamento da comunidade em que estão. 

Tudo pode ser muito mais positivo quando cultivamos um pouco de paciência ao tratar esses sinais do coração. Antes de se declarar e talvez estragar o que vocês já têm, deixe a amizade passar pelo filtro, pela prova dos sentimentos. Afinal, que amor é esse? Amigos ou namorados?


Quando perceber que está paquerando seu(sua) amigo(a), vá com calma. Se o sentimento não for resultado de solidão e carência, ele continuará e, provavelmente, crescerá, dando-lhe certeza do que realmente está ocorrendo em seu interior. O amor falará por si e tirará sua dúvida.

No geral, os namoros mais felizes nascem a partir de uma amizade antes cultivada, mas se o sentimento for motivado puramente pela carência, sensação de solidão, impulsos primitivos e naturais do ser humano, logo diminuirá e acabará passando. Você terá, então, a alegria e a certeza de ter uma grande amizade, nada mais que isso.

Note também os sinais que a outra pessoa transmite e seja verdadeiro com você mesmo para não viver numa ilusão; finalmente, pergunte a Deus, pois Ele sabe o motivo real pelo qual essa pessoa entrou na sua vida. O Senhor revela Sua vontade por meio da Palavra e de sinais, autenticando o que as faculdades humanas do coração e da razão nos apontam. Ninguém está ao seu lado à toa, e em cada um de nós existe a beleza do propósito de elevar os outros ao céu.

 

 

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Sandro Ap. Arquejada

Sandro Aparecido Arquejada é missionário da Comunidade Canção Nova. Formado em administração de empresas pela Faculdade Salesiana de Lins (SP). Atualmente trabalha no setor de Novas Tecnologias da TV Canção Nova. É autor do livro "Maria, humana como nós" e "As cinco fases do namoro". Também é colunista do Portal Canção Nova, além de escrever para algumas mídias seculares.

21 de agosto de 2013

Como superar a depressão?

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A fé dá sentido a nossa existência

Hoje, há uma forte tendência ao aparecimento da depressão. Muitos são os fatores que causam esta patologia. Em qualquer caso, faz-se necessária uma ajuda terapêutica. Em muitos casos, é necessária a ajuda de medicamentos. Depressão é um sintoma do nosso tempo. Pode ser que ela sempre tenha existido em outros tempos, contudo, recebia outros nomes e outros diagnósticos.


Não cabe aqui apresentarmos um relato clínico da depressão. Esta tarefa cabe a um profissional da área médica. Contudo, gostaria de conversar com você sobre a depressão a partir de uma perspectiva espiritual. É preciso que fique claro que não pretendo dizer ou afirmar que a causa do processo depressivo seja a área espiritual, mas a espiritualidade pode colaborar no processo de tratamento do depressivo.

Somos um todo. Sabemos que o ser humano não é visto mais como um ser fragmentado. Tudo aquilo que vivenciamos produz em nosso ser uma resposta positiva ou negativa. Neste totalitário que somos, a espiritualidade está inserida. E a maneira como a vivenciamos afeta todo o nosso ser e, consequentemente, nossa vida.


A fé dá sentido à nossa existência. Hoje, o ser humano tem sede de uma vivência espiritual profunda em sua vida. Na maioria dos casos, quando alguém diz que está com depressão e é questionado sobre a sua vivência espiritual, esta pessoa diz: "Não tenho nenhuma vivência espiritual", "Não participo de nenhuma Igreja", "Faz muito tempo que não faço orações", "Não tenho nenhum relacionamento com Deus". Essas respostas são seguidas das seguintes afirmações: "Estou sentido um vazio em meu coração", "Minha vida não tem sentido", "Não consigo sentir Deus perto de mim", "Ninguém gosta de mim", "Queria morrer, porque não faria falta para ninguém". Outras afirmações ainda presentes: "Não consigo me amar", "Não deveria ter nascido".

Não quero afirmar que essas respostas e afirmações de quem passa por um momento depressivo seja a causa da depressão. A raiz pode estar em outros setores da vida, os quais podemos comentar em outra ocasião.

Esse vazio interior, alegado por um grande número de pessoas depressivas, pode ser desencadeado por inúmeros fatores. Do ponto de vista espiritual, o vazio interior pode ser ocasionado pela falta da presença de Deus. E quando me refiro a essa "falta", não estou afirmando que o Senhor não esteja junto da pessoa. Deus está sempre conosco, mas nós estamos sempre com Ele? Esta é uma grande questão espiritual que necessita de uma resposta clara e verdadeira de quem enfrenta um quadro depressivo.

A oração abre nossa alma para percebermos a presença de Deus em nossa vida. A participação na vida de comunidade nos coloca em contato com outras pessoas que se unem para juntos alimentar-se do Pão da Palavra e da Eucaristia. A Eucaristia, o próprio Cristo, devolve-nos o sentido da vida. O relacionamento com o Senhor só é despertado em nós quando tomamos consciência de que somente Ele pode preencher o vazio que carregamos em nosso coração. Santo Agostinho já afirmava: "Fizeste-nos para ti e inquieto está nosso coração enquanto não repousa em ti".

Superar o processo depressivo depende, em grande parte, da pessoa que sofre essa patologia. No entanto, a espiritualidade é uma forte aliada neste processo de superação. Afinal, no todo que somos Cristo está presente.

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Padre Flávio Sobreiro

Padre Flávio Sobreiro Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP. Teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre - MG. Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Carmo (Cambuí-MG). Padre da Arquidiocese de Pouso Alegre - MG.
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www.padreflaviosobreiro.com

19 de agosto de 2013

Um grande sinal

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Leve consigo Maria para caminhar seguro

Uma pessoa do porte do Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, bate à porta do coração de milhões de pessoas, beija crianças, toma chimarrão no meio da multidão, tem em sua história diálogos com homens e mulheres de convicções diferentes, manda uma mensagem aos muçulmanos pelo final do Ramadã, abrindo portas para uma convivência respeitosa e construtiva; conversa sem rodeios com jornalistas que lhe fazem perguntas aparentemente incômodas, sem ceder em seu compromisso com a verdade e em sua fidelidade à Igreja. É o mesmo Papa que chama por telefone um fiel que perdeu um irmão num assalto, na Itália, ou visita de surpresa os operários do Vaticano em seus postos de trabalho! 


Com santo orgulho, podemos dizer que o Espírito Santo tomou a palavra para os cristãos oferecerem ao nosso tempo o que existe de melhor! Trata-se de um sinal de valores dos quais a humanidade vinha sentindo saudades. Volta à moda a ternura e a bondade, caminhos inigualáveis para a mudança profunda. Não é difícil entender que Deus escolhe o que parece insignificante, gestos simples do cotidiano, para tocar no mais íntimo das pessoas.

Ao lado de muitos gestos que revelam as opções pastorais nas quais deseja envolver a Igreja inteira e têm edificado o mundo, o Papa Francisco tem testemunhado sua profundidade espiritual como bom jesuíta. Chama também atenção sua profunda devoção mariana, expressa em manifestações de religiosidade que tocam no coração de nosso povo. Apenas eleito Papa, seu primeiro ato público foi a visita à Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, para entregar seu pontificado a Nossa Senhora, onde voltou após a Jornada Mundial da Juventude. O Brasil inteiro se viu ali representado quando depositou sobre o Altar nada menos do que uma bola de futebol e uma camiseta da Jornada! No Brasil, quis visitar o Santuário Nacional de Aparecida, confiando à proteção de Nossa Senhora os dias que se seguiram na histórica viagem ao nosso país. No último dia da Jornada, quando lhe entreguei uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré, era como uma criança que ganhava um presente, perguntando-me singelamente: "É para mim?". E beijou a imagem. As alturas do pontificado são pontes que se constroem com a simplicidade de gestos e palavras que não precisam de explicações!

Mais do que as múltiplas formas com que a arte tem retratado a Virgem Maria ou os tantos títulos com que a devoção popular a venera, sua missão há de ser reconhecida pelo lugar que lhe foi reservado na história da salvação. O papel de Maria na Igreja é inseparável de sua união com Cristo, que se manifesta desde a hora da concepção virginal de Cristo até Sua Morte, Ressurreição e Ascensão ao Céu. Maria percorreu sua peregrinação de fé, manteve fielmente sua união com o Filho até a cruz, onde esteve de pé, sofreu intensamente junto com Ele e associou-se ao Seu sacrifício. E foi dada pelo próprio Jesus, aos pés da cruz, como mãe ao discípulo com estas palavras: "Mulher, eis aí teu filho" (Jo 19,26-27). Após a Ascensão de seu Filho, Maria acompanhou com suas orações a Igreja nascente, pedindo e acolhendo o dom do Espírito, que, na Anunciação, a tinha coberto com sua sombra (Cf. Catecismo da Igreja Católica 964-965).


Maria é Mãe da Comunidade que constitui o Corpo místico de Cristo e acompanha os seus primeiros passos. Ao aceitar essa missão, anima a vida da Igreja com a sua presença, grande sinal oferecido a todas as gerações de cristãos. Essa solidariedade vem de sua pertença à comunidade dos remidos. Com efeito, ela teve necessidade de ser remida, pois está associada a todos os homens necessitados de salvação (Lumen Gentium 53). O privilégio da Imaculada Conceição preservou-a da mancha do pecado, em previsão dos méritos de Cristo. Como membro da Igreja, Maria põe ao serviço dos irmãos a sua santidade pessoal, fruto da graça de Deus e da sua fiel colaboração. A Imaculada Conceição é para todos os cristãos apoio na luta contra o pecado e perene encorajamento a viverem como remidos por Cristo, santificados pelo Espírito e filhos do Pai (Cf. João II, Audiência geral do dia 30 de julho).


Verdadeira joia do ensinamento da Igreja a respeito da Virgem Maria, um Sermão do Bem-aventurado Isaac, abade do Mosteiro de Stella, no Século XII, aproxima de forma admirável a Igreja, Nossa Senhora e cada fiel: "Nas Escrituras divinamente inspiradas, o que se atribui de modo geral à Igreja, virgem e mãe, aplica-se particularmente a Maria. E o que se atribui especialmente a Maria, virgem e mãe, pode-se com razão aplicar de modo geral à Igreja, virgem e mãe... Além disso, cada alma fiel é igualmente, a seu modo, esposa do Verbo de Deus, mãe de Cristo, filha e irmã, virgem e mãe fecunda. É a própria Sabedoria de Deus, o Verbo do Pai, que aponta ao mesmo tempo para a Igreja em sentido universal, Maria num sentido especial e cada alma fiel em particular... No tabernáculo do seio de Maria, o Cristo habitou durante nove meses; no tabernáculo da fé da Igreja, habitará até o fim do mundo; e no amor da alma fiel, habitará pelos séculos dos séculos". Não é possível separar Igreja, Maria e os homens e mulheres de fé!

Entende-se assim porque cada discípulo verdadeiro de Cristo levará consigo Maria entre aquilo que lhe pertence de mais precioso, para caminhar seguro, certo de que a mãe bendita entre todas as mulheres já chegou à realização de todas as esperanças. Profeticamente, a própria Virgem Maria anunciou que todas as gerações a chamariam bem-aventurada (Lc 1,48). E ela é honrada com um culto especial pela Igreja. Este culto de veneração é essencialmente diferente do culto de adoração que se presta ao Verbo encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo. Ele se expressa nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus, na Oração Mariana, no Santo Rosário, resumo de todo o Evangelho (Cf. Catecismo da Igreja Católica 971), e em tantas outras e importantes formas que o Espírito Santo suscita por toda parte.

A partir da segunda quinzena de agosto, o olhar de fé dos paraenses se volta para o Círio de Nazaré, nossa grande Festa Mariana. Sem a presença de Maria, falta-nos a água que nos sacia! (Cf. Nm 20,1) Com ela, já sairemos jubilosos pelas ruas, percorrendo as casas e peregrinando pelos corações, sabedores de que o melhor da festa é esperar por ela e prepará-la. As pessoas que coordenarão as peregrinações levem a Palavra de Deus a todos. Nenhum ambiente se feche para as visitas da Imagem Peregrina. Celebrem-se Círios nas mais variadas instituições da Sociedade. Ganhem espaço os cartazes do Círio, saiam a público berlindas, cordas, flores e procissões. Nossos sentimentos e gestos de devoção foram reforçados e estimulados pelo Papa Francisco, ninguém menos do que o Papa!

Ao celebrar com a Igreja, neste final de semana, a Assunção de Nossa Senhora, renove-se em nós a esperança, na certeza de que a última palavra da história da humanidade pertence e pertencerá a Deus. Nenhum problema ou crise, ou mesmo os pecados pessoais ou sociais de quem quer que seja, poderão vencer aquele que é primeiro e o último, princípio e fim, Nosso Senhor Jesus Cristo.

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.

16 de agosto de 2013

Dons na vida

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Os jovens são potencializados com dons extraordinários

Como é bonita a riqueza de possibilidades e dons na vida de cada uma das pessoas. Dons que se manifestam a partir das inclinações afloradas nos gestos e atitudes que acompanham a vida de todos os indivíduos. São fatos que identificam o perfil dos cidadãos, que podem ser canalizados para o bem, mas também para fins escusos e perversos.


Podemos entender como dom, a vocação para o estado de vida vivenciado no trajeto de realização das pessoas, no contexto de sua convivência. Isto tem sido refletido no transcorrer do mês de agosto, chamado de "Mês Vocacional". Os destaques são dados para a vida sacerdotal, a missão de ser pai, da vida religiosa, dos catequistas e dos cristãos leigos.

Na visão do Papa Francisco, revelado por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, os jovens são potencializados com dons extraordinários. Com isto, estão habilitados para um processo de transformação radical da sociedade. Eles não são o futuro, mas um presente promissor e cheio de esperança para construir um mundo diferente e saudável. 

Sentimos o entusiasmo e a garra da juventude, na JMJ 2013, no Rio de Janeiro. Nos dizeres do Papa Francisco, os jovens mostraram o rosto jovem do ser cristão e de ser comprometidos com a fé. Viu neles o protagonismo da nova sociedade e de uma Igreja mais testemunha da fé no mundo, exigência para novas transformações.


Falar de dons e de vocação significa olhar para a pessoa humana, principalmente para os jovens, como porta de entrada para a cultura da "pós-modernidade". Tempo de muita diversidade, de criatividade e de possibilidades sempre novas. Mas é preciso ir contra um individualismo que aliena e subtrai a pessoa do contexto comunitário e a isola.

Celebramos a vocação dos religiosos, daqueles que fazem uma opção de vida numa Congregação Religiosa, colocando-se à disponibilidade para um trabalho específico na vida da Igreja e da sociedade. Isto faz parte da fertilidade do Espírito Santo no dinamismo da vida da comunidade Igreja, vitalizando áreas de ação para o bem do povo. 

Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)

14 de agosto de 2013

São Maximiliano Kolbe, mártir da caridade

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Quero ser reduzi
do a pó pela Imaculada e espalhado pelo vento do mundo



Maksymilian Maria Kolbe (8 de Janeiro de 1894 – 14 de Agosto de 1941), nascido em Zdunska Wola, como Rajmund Kolbe, foi um frade franciscano da Polónia que se voluntariou para morrer de fome em lugar de um pai de família no campo de concentração nazi de Auschwitz, como castigo pela fuga de um prisioneiro. É venerado pela Igreja.

Filho de uma família de operários profundamente religiosos, que lhe deram pouco conforto material, mas proporcionaram-lhe um ambiente de fé e acolhida da vontade de Deus.

Aos 13 anos, entrou no seminário dos Frades Menores Conventuais e, emitindo sua profissão religiosa, recebeu o nome de Maximiliano Maria. Concluindo os estudos preliminares, foi enviado a Roma para obter doutorado em filosofia e teologia.

Em 1917, movido por um incondicional amor a Maria, fundou o movimento de apostolado mariano "Milícia da Imaculada". A milícia seria uma ferramenta nas mãos da Medianeira Imaculada para a conversão e santificação de muitos. No ano seguinte, 1918, foi ordenado sacerdote e voltou à sua pátria, onde foi designado para lecionar no Seminário Franciscano, em Cracóvia. Então, organizou o primeiro grupo da milícia fora da Itália.

Durante a Segunda Guerra Mundial deu abrigo a muitos refugiados, incluindo cerca de 2000 judeus. Em 17 de Fevereiro de 1941 é preso pela Gestap e transferido para Auschwitz em 25 de Maio como prisioneiro #16670.

Em Julho de 1941, um homem do bunker de Kolbe foge e como represália, os nazis enviam para uma cela isolada 10 outros prisioneiros para morrer de fome e sede (o prisioneiro fugitivo é mais tarde encontrado morto, afogado numa latrina).

Um dos dez lamenta-se pela família que deixa, dizendo que tinha mulher e filhos, e Kolbe pede para tomar o seu lugar. O pedido é aceite.

Na realidade, o Padre Kolbe aceitava o martírio para praticar heroicamente seu múnus sacerdotal, dando assistência religiosa e ajudando a morrer virtuosamente aqueles pobres condenados. Duas semanas depois, só quatro dos dez homens sobrevivem, incluindo Kolbe. Os nazis decidem então executá-los com uma injeção de ácido carbólico.

O corpo de Maximiliano Kolbe foi cremado e suas cinzas atiradas ao vento. Numa carta, quase prevendo seu fim, escrevera: "Quero ser reduzido a pó pela Imaculada e espalhado pelo vento do mundo".

Ao final da Guerra, começou um movimento pela beatificação do Frei Maximiliano Maria Kolbe, que ocorreu em 17 de outubro de 1971, pelo Papa Paulo VI.

Em 1982, na presença de Franciszek Gajowniczek, homem cujo lugar tomou e que sobreviveu aos horrores de Auschwitz, São Maximiliano foi canonizado pelo Papa João Paulo II, como mártir da caridade.

Em Julho de 1998 a Igreja de Inglaterra ergueu uma estátua de Kolbe em frente à Abadia de Westminster em Londres, como parte de um conjunto monumental dedicado à memória de dez mártires do século XX.

13 de agosto de 2013

Assunção de Maria

Este dogma foi proclamado pelo papa Pio XII, que assim o definiu na Constituição Munificentissimus Deus: "a imaculada sempre Virgem Maria, Mãe de Deus, encerrado o curso de sua vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste". Com esta afirmação de fé, o Santo Padre tinha em vista tão somente enfatizar a dignidade do corpo humano e de sua vocação transcendental numa época de desprezo do corpo: as guerras sucessivas, com seus flagelos físicos e morais, a libertinagem e a depravação exigiam que se realçasse a nobreza do corpo humano, cuja sorte final é apresentada na figura de Maria glorificada.
A Liturgia da Palavra revela o mistério celebrado nesta solenidade. A primeira leitura, retirada do livro do Apocalipse, apresenta a cena da batalha entre a mulher e o dragão. Especificamente sobre os versículos 1-2, a misteriosa figura da mulher tem sido interpretada desde o tempo dos Padres da Igreja como referida ao antigo povo de Israel, à Igreja de Jesus Cristo, ou à Santíssima Virgem. Qualquer destas interpretações tem apoio no texto, mas nenhuma delas é coincidente em todos os pormenores.

A Mulher representa o povo de Israel, visto que dele procede o Messias, e Isaías comparava-o à "mulher grávida, quando chega o parto e se retorce e grita nas suas dores" (Is 26,17). Também pode representar a Igreja, cujos filhos se debatem em luta contra o mal, por dar testemunho de Jesus (v. 17). Neste sentido escrevia São Gregório: "O sol representa a luz da verdade, e a lua a mutabilidade do temporal; a Igreja santa está como revestida de sol porque é protegida pelo esplendor da verdade sobrenatural, e tem a lua debaixo dos seus pés, porque está em cima dos bens temporais" (Moralia 34,12). E pode referir-se também à Virgem Maria, enquanto ela deu real e historicamente à luz o Messias, nosso Senhor Jesus Cristo (v. 5). Assim escreve São Bernardo: "No sol há cor e esplendor estáveis; na lua só resplendor completamente incerto e mutável, pois nunca permanece no mesmo estado. Com razão, pois, Maria é apresentada vestida de sol, já que ela penetrou o profundo abismo da sabedoria divina para além de quanto pudesse crer-se" (De B. Virgine, 2). 

A figura da mulher reflete, portanto, traços próprios da Santíssima Virgem, da Igreja e do antigo Israel, pelo que podemos ver nela incluídas as três realidades. Fato é que, as três são 'Arcas': Israel trouxe ao mundo as Leis do Senhor Deus, sintetizadas nas tábuas entregues a Moisés; Maria carregou em seu ventre, na qualidade de Arca da Nova Aliança, Seu filho, Jesus Cristo, o qual se identifica como a nova e eterna Aliança. E a Igreja, que é portadora da Verdade e da fé, é detentora e difusora dos frutos do mistério Pascal de Cristo.

Portanto, como figura feminina, as três possíveis realidades da mulher do Apocalipse, identificam-se com a maternidade. Ao celebrar esta solenidade de Maria, afirmamos também sua maternidade divina, pois as razões do privilégio de sua Assunção encontram-se no fato que ela não esteve sujeita ao império do pecado para poder ser a santa Mãe de Deus (Jesus é Deus), não podia ficar sob o domínio da morte (que entrou no mundo através do pecado - Rm 5,12). Por isto não conheceu a deterioração da sepultura, mas foi glorificada não somente em sua alma, mas também em seu corpo; bem como que a carne da mãe e a carne do filho são uma só carne. Por isto a carne de Maria devia ter a mesma sorte que a carne de Cristo: ambas foram glorificadas no fim desta caminhada terrestre.

O Salmo responsorial faz eco à figura de Maria, colocando-a num trono, à semelhança de uma rainha com vestes esplendentes em ouro (note-se o paralelo com as vestes radiosas da mulher do Apocalipse), conotando glória e poder vindos não dela mesma, porém tributados pelo grande Rei, que no salmo é o próprio Deus. Aliás, Maria, como figura importante da história salvífica, é prenunciada nas Santas mulheres do Antigo Israel. Este salmo apresenta fortes ligações com a dignidade a qual Deus elevou a rainha Ester, como se lê "Três dias depois Ester se revestiu de seus trajes reais e se apresentou na câmara interior do palácio, diante do aposento real, onde estava o rei sentado sobre seu trono, diante da porta de entrada do edifício. Logo que o rei viu a rainha Ester no átrio, esta conquistou suas boas graças, de sorte que ele estendeu o cetro de ouro que tinha na mão. E Ester se aproximou para tocá-lo" (Est 5,1ss). Assim como acontecera com Ester, Maria achou graça diante de Deus (Lc 1,30), o Rei do universo, e foi colocada em lugar privilegiado em seu Reino, com a missão de mãe do Redentor. Daí depreende-se o lugar de destaque assumido pela Virgem Maria no Céu e na terra, como Ela mesma louva no Cântico do 'Magnificat': "Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos" (Lc 1,56s.52s).

Esse lugar privilegiado não foi reservado somente para Maria. A honra e glória estão também destinadas, como herança, a todos os crentes, ou seja, a nós, filhos de Deus, como está escrito: "E, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, contanto que soframos com ele, para que também com ele sejamos glorificados. (Rm 8,17). A Teologia paulina, como evidencia a segunda leitura, quer incutir no coração do ser humano, a riqueza da graça do Senhor, que se expressa já nesta vida e na vida do mundo que há de vir. Situamo-nos no coração da realidade escatológica: como herdeiros de Cristo, tudo o que lhe aconteceu, será assumido por nós, seus irmão, membros da Igreja. Ora, se Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram (1 Cor 15,20ss), nós também ressuscitaremos nos últimos tempos (parusia) e seremos glorificados em corpo e alma. Isto foi o que aconteceu com Maria, em sua Assunção, de forma antecipada. Devemos lembrar que a Virgem Maria é membro ativo e ícone da Igreja.  Ela é apresentada desde as origens como discípula do seu filho, unida aos outros discípulos no testemunho da glória que se manifestou em Cristo e pela fé nele (Jo 2,11s). Nos primórdios da Igreja nascente, Maria aparece como membro significativo da comunidade assídua e concorde na oração (At 1,14): a experiência de Pentecostes não lhe é certamente estranha, levando-se em conta especialmente as analogias dessa cena com a da anunciação (At 2,1-4; Lc 1, 35).

As razões pelas quais Maria é considerada membro eminente do corpo eclesial está na direção do mistério de Deus, que de sua parte elege a Maria e faz culminar a obra reconciliadora do Filho; e na direção da criatura, pois Maria é solidária, em Adão, com todos ser humano, e esta solidariedade é a "porta" através da qual o próprio Filho de Deus quis fazer-se solidário conosco, tomando dela a carne de nossa condição humana. Em virtude dessa solidariedade, ela é ordenada providencialmente, como todo ser humano, para o encontro com a vinda divina, que se realiza na encarnação do Verbo, do qual nasce em raiz a Igreja. Por isso Maria não pode, de forma alguma, ser separada do povo de Deus ou situada fora dele.

Em resumo, é o sim radical a Deus que torna a Virgem Maria, envolta no mistério preveniente da Graça, tipo, isto é, ícone e arquétipo da Igreja, realização antecipada daquilo que a Igreja (todos os batizados) é chamada a ser no mais profundo de sua verdade, diante do Senhor. E é esse mesmo sim radical que torna a Virgem modelo a imitar, para que a Igreja (irmã de Maria, em Cristo), atinja a meta que lhe é proposta antecipadamente na Assunção de Maria.

O Concílio Vaticano II ensinou solenemente que Maria é tipo ou figura da Igreja, pois "no mistério da Igreja, que com razão é chamada também mãe e virgem, precedeu a Santíssima Virgem, apresentando-se de forma eminente e singular como modelo tanto da virgem como da mãe. Crendo e obedecendo, gerou na terra o próprio Filho do Pai, sem conhecer varão, sob a sombra do Espírito Santo, como uma nova Eva, que presta a sua fé isenta de toda a dúvida, não à antiga serpente, mas ao mensageiro de Deus. Deu à luz o Filho, a quem Deus constituiu primogênito entre muitos irmãos (Rm 8,29), isto é, os fiéis, para cuja geração e educação, coopera com amor materno" (Lumen Gentium, n. 63). 

Os traços com que aparece a Mulher do Apocalipse, representam a glória celeste com que foi revestida, assim como o seu triunfo ao ser coroada com doze estrelas, símbolo do povo de Deus – dos doze Patriarcas (Gn 37,9) e dos doze Apóstolos; daí que, prescindindo de aspectos cronológicos só aparentes no texto, a Igreja tenha visto nesta mulher gloriosa a Santíssima Virgem, "assunta em corpo e alma à glória celestial, exaltada pelo Senhor como rainha universal com o fim de que se assemelhasse de forma mais plena a seu Filho, Senhor dos senhores (Ap 19,16) e vencedor do pecado e da morte" (Lumen Gentium, n. 59).

A Santíssima Virgem é certamente o grande sinal, pois, como escreve São Boaventura, "Deus não teria podido fazê-la maior. Deus teria podido fazer um mundo mais vasto e um céu maior; mas não uma mãe maior que a própria Mãe" (Speculum, capo 8).

BIBLIOGRAFIA

BETTENCOURT, Estevão Tavares. Curso de Iniciação Teológica. Rio de Janeiro:    Escola 'Mater Ecclesiae'.

FORTE, Bruno. Maria, a mulher ícone do mistério. São Paulo: Ed. Paulinas, 1991.

SAGRADA ESCRITURA. Ed. Ave-Maria eletrônica. (www.bibliacatolica.com.br).

SITE: http://afeexplicada.wordpress.com/2011/05/18/a-mulher-de-apocalipse-12/


Fonte: http://www.catequisar.com.br/texto/colunas/victor/014.htm