16 de junho de 2021

A vocação nasce do encontro


Por que Saulo (Paulo) perseguia a Igreja? Pergunta que nos interroga, sensibiliza e abre uma grande lacuna. Por que Deus escolheu um perseguidor? Tanta gente boa! Contudo, vamos conhecer primeiro Saulo para podermos entender o porquê da pergunta. Saulo, natural de Tarso da Cilícia, filho da tribo de Benjamim, a mesma do rei David, era filho de comerciantes ricos, cidadão romano, ligado à seita dos fariseus, aluno do glorioso rabino Gamaliel, zeloso defensor da Torá. Ele era fariseu, filho de fariseu.

Israelita orgulhoso, alma de fogo e coração íntegro, ainda jovem, era conhecido apenas por seu nome judeu de Saulo. Impulsionado pelo entusiasmo impetuoso da mocidade, abrasado em ânsias de proselitismo próprio do judeu, julgou que tinha missão religiosa para cumprir: combater o Cristianismo até destruí-lo. Por considerá-lo uma traição ao Judaísmo, perseguia os seguidores de Cristo porque eles tinham abandonado a lei mosaica para seguir um tal de Jesus, sobre o qual um monte de fanáticos cristãos pregavam e diziam ter ressuscitado dos mortos.

Ele, como um bom judeu, intelectual e fiel à lei, precisava fazer alguma coisa para acabar com aqueles que estavam destruindo o Judaísmo. Quando Paulo se dirigia pelo caminho a Damasco, seu coração estava cheio de agressividade contra os cristãos, não porque fosse um homem mau, mas por ser fiel às tradições nas quais havia sido formado. Estava cheio de agressividade, pois se sentia ameaçado por essa nova fé que se opunha às suas tradições mais caras. Era pelo amor de Deus que perseguia os inovadores.

A vocação nasce do encontro

Foto llustrativa: Anastasiia Stiahailo by Getty Images

A experiência do encontro entre Paulo e Cristo

Um belo exemplo de experiência de Deus é a do Apóstolo Paulo. O que lhe acontece no caminho de Damasco foi certamente uma experiência de ponta, marcante e indelével. Esse foi um momento muito importante em sua vida. Mas ele esteve certamente também intensamente unido ao Cristo durante todos os anos seguintes de sua vida e não apenas nesse momento particular.

Essa experiência era para Paulo, unicamente para ele. Naquele momento, Jesus o queria, o Senhor se apossou da vida dele, mas sem tirar sua liberdade. Então, Paulo passou a pertencer unicamente a seu Senhor, pelo qual foi convocado. Agora, sua vida se resumia à obediência ao seu Senhor.

Deus foi absolutamente livre no chamado de Paulo, nada foi lhe imposto, sendo ele livre para dar uma resposta responsável ao Altíssimo. O Senhor, quando o chamou, pôs em seu coração a capacidade de resposta, não o amarrou nem o obrigou a nada, mas lhe deu condições de decidir e corresponder ao dom recebido. Deus abriu-se a Paulo em uma condição de diálogo, algo pessoal e íntimo.

O chamado é iniciativa do Pai e a resposta precisa ser livre

O apóstolo dos gentios passou por uma transformação histórica e interior, tornou-se uma nova criatura, porque Deus lhe concedeu o dom da fé e da esperança. Por intermédio de Cristo, ele recebeu de Deus a vida nova.

O chamado é uma pura iniciativa do Pai. Ele, quando vocaciona alguém, já tem um projeto para a vida de quem responde o 'sim', não como uma predestinação, mas como uma resposta de amor. Ninguém veio do ocaso, nem para ficar solto no mundo; todos viemos para livremente dar uma resposta ao projeto de Deus único e irrepetível. Dizer 'sim' é tornar-se um canal de graça para os outros e para o mundo. Nesse sentido, participamos do plano do Pai.


Seguimento de Cristo

O seguimento a Deus é apenas uma "gratidão" espiritual. Acima de tudo, foi Ele quem possibilitou ao homem participar da existência que pertence somente a Ele.

Seguir o Senhor deve ser a expressão máxima da alegria de todo ser humano; deve exalar o perfume de Cristo. Toda vocação deve tornar-se atraente, deve provocar nas pessoas um encontro com Deus, transformar o mundo e os corações.

Por isso, uma vez vivendo e experimentando o amor vocacional, o chamado de Deus não deve ser vivido de forma frustrante, deixando a vocação tornar-se velha; esta deve ser sempre nova, apresentar a cada dia a novidade do Espírito Santo. Os outros precisam ficar fascinados com o efeito da graça na vida de quem é consagrado ao Senhor. É preciso comunicar a vida para os homens que somente Cristo pode dar.


 


Padre Reinaldo Cazumbá

Sacerdote membro da Canção Nova, estudante de psicologia, atua no Instituto Teológico Bento XVI e também exerce a função de diretor espiritual dos futuros sacerdotes da comunidade. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/vida-religiosa/a-vocacao-nasce-do-encontro/


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