Brasileira casada com um britânico conta como é viver o catolicismo na Inglaterra
  
  Por Alessandra Borges
  Uma família de Londres esteve na sede da Comunidade Canção Nova,   em Cachoeira Paulista (SP) fazendo uma visita. O casal Sean Mansfield   (britânico) e Rebeca Ribeiro Mansfield (brasileira), vieram passar às   férias no Brasil com seus filhos Catherine  e Antonhy Mansfield.
  O casal  veio passar um dia de espiritualidade e reavivamento de sua   fé na Canção Nova. Durante um bate-papo com o casal foi possível   destacar as diferenças entre a forma como vivenciamos o catolicismo no   Brasil e na Europa.
  Rebeca contou que estar no Brasil e realizar uma peregrinação pelo   Santuário de Nossa Senhora Aparecida, localizado em Aparecida -SP e   estar na sede da Canção Nova é uma forma de poder resgatar e alimentar   sua fé para retornar à Londres.
  
Com culturas diferentes casal se une em torno da oração e testemunham a fé aos filhos . Foto: Rogéria Nair/cancaonova.com
Para Rebeca Deus preparou uma grande surpresa por ter colocado Sean   em seu caminho, pois quando se conheceram ela estava prestes à voltar ao   Brasil.
  O casal busca viver o catolicismo, apesar das dificuldade em   professar a fé em um país em que a religião católica não é tão forte.
  A vida em Londres
  
  formacao.cancaononova.com: Quando decidiu ir para Londres e como conheceu seu esposo?
  Rebeca: Fui para Londres para estudar inglês, porque   desejava aprender a língua para poder voltar ao Brasil e conseguir um   emprego melhor.
  Na época, Sean estava no México trabalhando como missionário,   servindo perto do Santuário de Guadalupe. Nós tínhamos uma amiga em   comum, que é a Marta. Um dia Sean conversando com Marta, ele reclamou   que estava difícil encontrar uma mulher para casar, pois faziam 10 anos   que estava rezando pedindo a Deus por uma esposa e nada acontecia. Neste   momento Marta falou para ele que conhecia uma brasileira que morava em   Londres e talvez poderia dar certo, nos apresentou pelo facebook.
  Nós começamos a conversar e um mês depois ele me escreveu dizendo que   estava voltando para Londres, fiquei com um frio na barriga, porque   estava em um período de discernimento da minha vocação. Então eu rezei,   pois sabia que o retorno de Sean à Londres não seria por acaso. Deus foi   preparando tudo de uma forma muito bonita, porque foi algo inesperado,   estava preparando meu coração para voltar ao Brasil e retomar a minha   rotina de trabalho. Acabamos nos conhecendo, em dois meses ficamos   noivos, após sete meses casamos e juntos começamos a construir uma   família.
  Testemunhar a fé cristã na Europa
  formacao.cancaonova.com: Como é ser católica fora do seu país de origem, em que a maioria das pessoas são católicas? Como é testemunhar o Evangelho?
  Rebeca: Sinto muita falta do Brasil, por causa   disso, falta de fazer parte de uma paróquia, que tenha mais missas, que a   comunidade seja mais atuante e que as pessoas se ajudem. Como lá não é   um país católico acaba sendo muito difícil encontrar missas diárias e   quando vamos a missa é algo muito diferente do que estou acostumada no   Brasil, porque é uma missa mais silenciosa, rápida, com cantos mais   tradicionais e é raro encontrar jovens dentro da Igreja.
  Existem algumas comunidades, mas é preciso se deslocar. Por exemplo   existe um grupo de oração no centro de Londres que se encontra uma vez   por semana e você não vai encontrar isso ao lado da sua casa. Se torna   muito mais difícil e é um desafio diário, especialmente, depois que as   crianças nasceram (tenho dois filhos e eles nasceram exatamente com um   ano de diferença) ficou ainda mais difícil ir, porque às vezes a   comunidade não recebe as crianças como deveriam, eu nem culpo eles, mas   as vezes eles querem ir lá para rezar e ter o silêncio e as crianças não   fazem. Muitas vezes saí da Igreja aos prantos e o Sean tentava me   ajudar dizendo para não levar para o lado pessoal. Pois, pensa que de   repente elas estão há 60 anos dentro da Igreja e desejam o silêncio e as   crianças vão lá e perturbam.
  É difícil, por isso nesta nossa peregrinação de férias no Brasil, nós   passamos por Aparecida (SP) e ficamos dois dias na Canção Nova. É um   momento muito importante para eu beber um pouco desta fonte que eu sinto   tanta falta. É uma graça para a nossa família, porque eu me fortaleço   aqui para voltar para as dificuldades de lá.
  Educação de filhos
  formacao.cancaonova.com: Como seu esposo, Sean,   também católico, vê a sua fé e a sua vontade de viver um bom matrimônio e   educar os filhos nas doutrinas da Igreja Católica?
  Rebeca: Digo que Deus foi muito bom comigo, porque   ele é da Renovação Carismática também e sempre ajudou um grupo de oração   de jovens, de Londres, onde era servo. Ele ficou fascinado com a Eliana   Ribeiro, fui explicar para ele quem é a Eliana, aí ele me falou: "eu   sabia que ela era bem conhecida porque quando ela canta sentimos o   fervor, o louvor e a música toca o nosso coração". Eu não poderia pedir   alguém melhor para Deus, porque Sean gosta, mas como ele cresceu neste   meio tradicional de Londres ele também se adapta bem ao meio tradicional   e tem menos dificuldade, ele também tenta me ajudar. Isso que é o bom   do casal, um ajuda o outro, quando um está caindo o outro vai lá e   levanta, mas ele vê o quanto é importante para mim vir ao Brasil e ele   apóia. Estamos felizes por vir e ter a oportunidade de cantar e rezar as   músicas que eu amo e rever os amigos.
  formacao.cancaonova.com: Em Londres, vocês tem   contato com outros casais católicos, grupos de oração ou encontros   religiosos que possam te ajudar a vivenciar sua fé?
  Rebeca: Lá em Londres existe a Capelania Católica   Nossa Senhora Aparecida, é uma bênção enorme na vida dos brasileiros que   moram lá porque temos esta espiritualidade. Temos também o Hosana   Londres e o Aviva Londres e os missionários do Brasil vão para lá nesses   dias de encontro. Nós temos dois grandes encontros em todo o ano, então   ajuda a comunidade também, ajuda bastante. Já tivemos a presença de   Dunga, Emanuel e Ironi Spudaro,  que foram uma bênção para nós lá. Hoje   eu moro com a minha família um pouco mais distante de onde tem as missas   brasileiras, então não conseguimos ir com muita frequência. Tentamos   estar perto de amigos que são católicos e que vivem da mesma forma que a   gente para se ajudar. O Sean, tem vários amigos e alguns deles casados   com brasileiras também e nós vamos nos ajudando no dia a dia, as vezes,   por exemplo eles vem passar o final de semana na nossa casa ou vamos   viajar com eles e sempre temos um momento de oração juntos.
  Educação dos filhos e a ideologia de gênero
  formacao.cancaonova.com: Como vencer estes desafios na educação dos filhos, em um país Europeu, onde as pessoas não querem abraçar o catolicismo?
  Rebeca: Basicamente mudamos de casa por causa da   questão de escola, porque lá existe a ideologia de gênero e eu quero   educar as minhas crianças na fé. Muitas pessoas acham que nós,   católicos, somos preconceituosos e homofóbicos, mas não é bem assim, na   verdade toda a relação sexual fora do casamento para nós é condenável e   quero passar estes valores para as minhas crianças. Não quero que um   professor venha e fale que eles podem ter relação sexual aos 10 ou 12   anos, que podem ter um aborto aos 10 ou 12 anos sem o consentimento dos   pais, porque é o que acontece, não quero que eles cheguem e falem que é   normal o homem dormir com homem e mulher com mulher. Eu quero que os   meus filhos amem e respeitem a todos, mas só que vivam de acordo com   aquilo que acreditamos que não é o mesmo que o mundo prega.
  Meu marido e eu conversamos muito sobre isso e resolvemos sair de   Londres e morar em uma cidade vizinha, ele continua trabalhando em   Londres. Nesta cidade nos mudamos para perto de uma escola católica que é   bem conceituada, conversamos com o padre antes e ele assegurou que   podemos ficar tranquilos e que as crianças vão receber uma boa educação,   mas que a educação sexual vai ficar por nossa conta.
  
  No mundo ideal não enviaríamos as crianças para a escola, pois o   sonho do meu marido é fazer o que nós chamamos de "homeschooling" que é   ensinar as crianças em casa. Até cheguei a comprar alguns livros, porque   teria que ficar responsável pela educação das crianças, mas na minha   pequenez, não me sinto segura porque toda a minha educação foi no Brasil   e tudo o que eles ensinam vai ser novidade para mim.
  A Catherine vai fazer quatro anos, no ano que vem ela começa a   escola, estamos em um período de discernimento para vermos se vamos   enviar ela para a escola ou não. Pelo menos assim nos dá paz no coração   de saber que o padre da paróquia está dentro da escola e apóia a nossa   decisão e aquilo que acreditamos.
  Perseguição aos cristãos
  formacaocancaonova.com: Como você percebe a questão dos refugiados?
  Rebeca: A Europa está muito fechada. É triste de ver   isto, tantos anos nós acolhemos os europeus e hoje eles não querem   acolher ninguém. Mas o que me deixa muito feliz é ver que o Papa   solicitou que cada paróquia européia receba uma família refugiada,   porque é uma forma concreta de ajudar estas pessoas.
  
  Acontecem coisas que nós nem imaginamos, porque o que vemos no   noticiário não é nada comparado ao que acontece. Algumas pessoas falam   que a Europa se fecha também pelo medo de terroristas se infiltrarem no   meio destas pessoas que estão sofrendo, são de bem e precisam de um lar.   A Europa tem conversado bastante sobre isso e é algo que precisa ser   resolvido ainda mais depois da morte daquele menino* que tocou o coração de todo o mundo, tenho certeza que muitas pessoas vão abrindo o coração para esta realidade.
  * A entrevistada se refere a criança morta na praia, cuja foto repercutiu em todo o mundo.
  Em Londres, por exemplo, é uma grande mistura de pessoas e é muito   raro encontrar um britânico no país, porque são pessoas de todo o mundo e   isso tem acontecido muito ao longo dos últimos anos, são muitos   emigrantes ali, são pessoas do leste europeu, de países mais pobres que   tentam ali ter uma vida melhor. Existem partidos políticos na Inglaterra   que são muito firmes contra a imigração então é preciso mudar a   mentalidade, por caridade e nós seguimos em oração por estes imigrantes   porque é muito sofrimento ver a perseguição que eles sofrem.
  A perseguição aos cristãos nos países islâmicos é muito triste e   muitos muçulmanos são contra isso também porque nós temos uma comunidade   muçulmana muito grande na Inglaterra e nós vemos tantas pessoas que são   boas de coração, querem ajudar e são contra a violência que acontece   nestes países.
Fonte: http://formacao.cancaonova.com/testemunhos/testemunho-de-como-e-ser-catolico-na-europa/