17 de setembro de 2025

Quando o sorriso esconde a dor

Era um daqueles sábados de atendimento quando chegou uma família completamente assustada: um adolescente havia tentado contra a própria vida. Dizia não ter mais vontade de viver, não encontrava sentido, embora, nas reuniões familiares e nos encontros com os amigos, parecesse alguém alegre. Recordei do Salmo 25,16-17 que diz: "Olhai para mim e tende piedade de mim, pois estou só e aflito. As angústias do meu coração se multiplicaram; livrai-me da minha aflição". Esta passagem é um pedido de auxílio e misericórdia a Deus, expressa a solidão e sofrimento, e pede a Deus para ser liberto das suas tribulações.

Acolhimento e prevenção, chaves para ajudar ao sofrimento humano

Créditos: PeopleImages by Getty Images / cancaonova.com

Quase sempre, quando acontece isso, as pessoas esperam que o padre faça uma oração, que se "doutrine" quem pensa em suicídio e que isso mude tudo. Mas a oração não é mágica capaz de, num estalar de dedos, arrancar o sentimento de rejeição, a dor ou o desejo de isolamento. Como tudo na vida, isso exige um processo.

A importância da escuta atenta e ativa

Nesses casos, o meu procedimento foi sempre ouvir cada parte separadamente. Uma escuta atenta e ativa. Primeiro, ouvi o adolescente: deixei que falasse tudo o que sentia, sem julgamentos ou pré-conceitos. Em seguida, ouvi os tutores e os avós — atentos ao cuidado que prestavam desde a morte dos pais. No final, perguntei: "Ele nunca demonstrou nada?" Responderam: "Não, padre! Sempre foi uma pessoa maravilhosa, nunca nos deu trabalho; não sai com os amigos, fica no quarto, não nos dá trabalho nenhum".

Foi aí que acendeu o meu alerta. O silêncio e a timidez daquele jovem já eram sinais de algo que precisava ser trabalhado. Penso no termo "desembrulhar": sabe quando um novelo de linha está todo embrulhado? É preciso encontrar a ponta e, com paciência, ir desenrolando até a linha ficar organizada de novo. Assim acontece com muitos que atravessam depressão, síndrome do pânico, sentimento de rejeição — dramas internos que fazem com que não vejam outra saída senão tirar a própria vida. No fundo, não é a vida que desejam matar, mas o sofrimento que ela lhes causa. Em algum momento, perdem a paciência de desenroscar os fios trançados de seus dramas e dizem: "Chega, cansei disso".

Aceitação e confiança em programas pré-estabelecidos

Todo sentimento de impaciência vem acompanhado de sinais sutis, percebidos apenas por quem não se contenta com padrões. E esse é um dos problemas da nossa sociedade: habituamo-nos a aceitar padrões — de beleza, de felicidade — e confiamos em programas pré-estabelecidos, como máquinas. Não por acaso, nossa relação com o mundo tem-se voltado para interações mediadas por tecnologia e inteligência artificial, sistemas que reproduzem padrões e oferecem uma sensação de estabilidade e segurança.

Ao nos apegarmos a esses padrões, perdemos a força das relações humanas. Aceitamos que, se alguém sorri em uma foto, está feliz, sem notar os pequenos sinais do cotidiano — sinais que só vemos quando temos coragem de romper os padrões e olhar além.


Nenhuma máquina substituirá o humano

Enquanto escrevia este texto, pensei se devia alertar sobre os perigos das novas tecnologias ou resgatar a importância das relações humanas, únicas para cada pessoa e fundamentais para a valorização da vida.

Nenhuma máquina substituirá o humano, por mais revolucionárias que sejam as novas tecnologias. Mesmo que a inteligência artificial facilite muitas tarefas de busca e pesquisa, olhar nos olhos, ouvir o silêncio e entender as pausas é o que gera empatia e interação real.

Padre Robson Caramano
Padre da Diocese de São Carlos, Mestre em Linguagens, Mídia e Arte pela PUC Campinas e aluno do Programa de Mestrado em Filosofia com Especialização em Filosofia Prática da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Coordenação do Departamento de Comunicação do Pontifício Colégio Pio Brasileiro.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/quando-o-sorriso-esconde-dor/

15 de setembro de 2025

Pascom e a comunicação a serviço da ação evangelizadora da Igreja

Como implantar a Pastoral da Comunicação na vida das paróquias e comunidades?


Para implantar a Pascom em uma paróquia, precisamos compreender a relevância da comunicação na Igreja e o seu principal objetivo.

A Pascom tem como objetivo anunciar a Palavra de Deus por meio dos instrumentos de comunicação, tendo como base seus quatro pilares: espiritualidade, formação, articulação e produção.

A Igreja reconhece a importância da comunicação, como nos mostra o número 202 do Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil, que considera imprescindível a participação católica na promoção da cultura no âmbito da mídia, com atenção especial aos conteúdos religiosos.

O Guia de Implantação da Pastoral da Comunicação da Pascom Brasil, nos fala que:

"Ela favorece o cultivo do ser humano enquanto pessoa que comunica valores, vivenciados a partir da Palavra de Deus e da Eucaristia, pois o anúncio sempre deve ser acompanhado do testemunho".

O texto ainda afirma que a Pastoral da Comunicação é a pastoral do ser e estar em comunhão com toda a comunidade, cujo instrumento para exercer a missão é trabalhar por meio das mediações que podem proporcionar o fortalecimento dessa comunhão.

E chegamos a um ponto importante da nossa reflexão: quais os passos que devemos seguir para implantar a Pascom na vida paroquial e comunitária?

É o que veremos a seguir.

Desfazendo os mitos da Pastoral da Comunicação
Implantar a Pastoral da Comunicação pode ser um grande desafio, principalmente se os agentes não compreendem o verdadeiro significado da comunicação dentro da comunidade.

Então, vamos desfazer alguns "mitos" que envolvem a Pascom:

Nunca trabalhei com comunicação

Não há problema se você não trabalha na área de comunicação, o importante é ter o desejo de usar os recursos da comunicação para evangelizar. Lembre-se: Jesus não fez exigências para escolher seus Apóstolos.

Não preciso de Pascom porque na minha paróquia tem muitos idosos

Toda forma de comunicação, sejam elas folhetos, cartazes, mural, pode ser articulada pelos agentes da Pascom, pois comunicar vai além da tecnologia e das redes sociais.

 Não tenho tempo para formações ou momentos de oração

É comum que o acúmulo de atividades possa acabar fazendo com que a dinâmica da Pascom se torne mecanizada. Por isso, tenhamos cuidado: se não há espiritualidade e momentos de formação, a vida pastoral perde o sentido e a sua essência.

 Não tenho como saber sobre os eventos da paróquia

A Pascom é responsável por articular as pastorais e movimentos da comunidade. Por isso, é preciso criar canais que liguem a Pascom e as pastorais para que possam ampliar a divulgação dos eventos e, ao mesmo tempo, fortalecer os laços de união entre todos.

Dicas práticas para implantar a Pascom
  • Conheça a realidade local: converse com o pároco, os paroquianos e os coordenadores pastorais para entender a realidade da paróquia.
  • Forme uma equipe: convide pessoas comprometidas e que tenham o desejo de evangelizar através dos meios de comunicação.
  • Faça um planejamento estratégico: é preciso reunir a equipe para elaborar as atividades da Pascom, de acordo com a realidade da paróquia.
  • Utilize múltiplas plataformas: diversifique os canais de comunicação, como o boletim paroquial, redes sociais, site da paróquia, entre outras ferramentas, pois permite levar a palavra de Deus para mais pessoas.
  • Não se esqueça da vida de oração individual e comunitária: é fundamental cultivar a espiritualidade e a participação ativa na comunidade.

Mãos à obra!

Renan Dantas – Seminarista da Diocese de Juína, Jornalista e Fotógrafo profissional e Redator do GT de Produção da Pascom Brasil

Devolver esperança enxugando lágrimas

O Papa Francisco anunciou que o Jubileu de 2025 terá o tema "Peregrinos da Esperança", com base na passagem "A esperança não decepciona" (2 Cor 6,2) e se concentra em promover a paz, a cura e a fraternidade. Ele será uma oportunidade para os católicos renovarem sua fé e compromisso com os valores cristãos.

Créditos: Delmaine Donson by Getty Images.

Entre as diversas celebrações do Jubileu, no dia 15 de setembro, haverá uma celebração em Roma em que estão convidados todos aqueles que estão vivendo momentos de dor e aflição devido à doença, ao luto, à violência, aos abusos sofridos e outros sofrimentos da vida.

O Jubileu nos dá a oportunidade de reavivar a nossa fé na "esperança que não decepciona", lembrando-nos de que a beleza da vida supera todas as suas dores quando vivemos na fé do Cristo e da Igreja. O tema "Peregrinos da Esperança" é um convite para que os fiéis renovem sua fé, voltem-se para a misericórdia de Deus e encontrem sentido mesmo nos momentos mais difíceis da vida como os citados acima.

O Jubileu é profundamente solidário com os sofrimentos da humanidade

Ao mesmo tempo em que o Jubileu é tempo de festa e renovação espiritual, ele também é profundamente solidário com os sofrimentos da humanidade. A Igreja reconhece que muitos atravessam momentos difíceis que só podem ser superados com a solidariedade humana e com a graça de Deus. O Jubileu quer abraçar os que sofrem com gestos concretos de misericórdia, oração e reconciliação. O Papa Francisco insistia que a Igreja deve ser um "hospital de campanha", especialmente atenta aos feridos da vida.

Neste tempo de graças e de misericórdia, a Igreja nos propõe voltar-se para Deus no silêncio do coração, mesmo na dor; participar dos Sacramentos, em especial a Reconciliação e a Eucaristia, como fontes de cura; acolhimento comunitário; ação misericordiosa no sentido de ajudar os que sofrem; oração pelos que sofrem.

O Jubileu quer ser um tempo de consolo para os aflitos, esperança para os desanimados e renovação para os que caminham com feridas abertas. Ele nos lembra que Deus caminha conosco, não só nos momentos de glória, mas também no vale escuro das lágrimas.

A Palavra de Deus nos fortalece na fé e na esperança

Neste sentido, a Palavra de Deus é valiosíssima para nos fortalecer na fé e na esperança. Vale a pena recordar a todos que passam pelos momentos difíceis da vida algumas passagens bíblicas que fortalecem a nossa fé como em Romanos 8,18 – "Tenho para mim que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que há de ser revelada em nós". O sofrimento é passageiro mas a vida eterna é para sempre.

São Paulo disse aos coríntios: "Em tudo, somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos". (2 Cor 4,8-9). Deus está presente conosco mesmo na dor, que se torna salvífica produzindo a salvação em quem sofre na fé, unindo seu sofrimento com o de Cristo na Cruz. Por isso disse São Tiago: "Considerai como grande alegria, meus irmãos, quando tiverdes de passar por diversas provações. Pois sabeis que a prova da vossa fé produz perseverança. (Tiago 1,2-4).

O sofrimento é caminho de crescimento espiritual, por isso São Paulo diz que "tudo concorre para o bem dos que amam a Deus" (Rom 8,28) e que, portanto, devemos "dar graças a Deus em todas as circunstâncias" (1 Tess 5,17).

Não damos graças pelo mal em si, mas pelo bem que Deus sabe tirar do mal. Santo Agostinho disse que Deus não permitiria o mal entrar no mundo se Ele não soubesse do mal tirar o bem. É bom lembrar que o maior mal cometido pela humanidade – a morte cruenta de Jesus – produziu a salvação da humanidade.

O Jubileu nos faz lembrar que Cristo venceu o mundo

O salmista diz que: "O Senhor está perto dos que têm o coração ferido, e salva os de espírito abatido" (Sl 34,19). O mesmo dizia Deus pelo profeta Isaías (41,10): "Não temas, porque eu estou contigo; não te assustes, porque eu sou teu Deus. Eu te fortaleço, te ajudo e te sustento com minha mão fiel". Deus dá força e sustento, mesmo quando tudo parece perdido.

O Jubileu nos faz lembrar o que disse Jesus aos Apóstolos na Santa Ceia: "No mundo tereis tribulações. Mas tende coragem: eu venci o mundo!" (João 16,33). Cristo não nega os sofrimentos que nos atingem, mas dá esperança e vitória: Ele venceu o mundo. "Ainda que eu atravesse o vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque estás comigo. Teu bastão e teu cajado me confortam" (Salmo 22).

São Pedro nos lembra que: "Depois de terdes sofrido um pouco, o Deus de toda a graça, que vos chamou à sua glória eterna em Cristo, vos restaurará, vos confirmará, vos dará força e vos firmará sobre fundamentos sólidos."(1Pe 5,10). "Tudo posso naquele que me fortalece" (Fil 4,13).

Essas e outras citações nos ajudam a resistir na fé em meio aos sofrimentos. E mais, São Paulo nos garante que: "Não vos sobreveio tentação alguma que ultrapasse as forças humanas. Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas com a tentação, ele vos dará os meios de suportá-la e sairdes dela" (1 Cor 10,13).



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/devolver-esperanca-enxugando-lagrimas/

14 de setembro de 2025

O amor revelado no madeiro

Caminho de vida

Em sua morte de Cruz, Cristo demonstra todo o seu amor por nós: "E quando eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim" (Jo 12,32). Dando-se em Sacrifício por amor, Cristo nos atrai, nos resgata para si. Quando mergulhamos com a alma na riqueza deste gesto de Jesus, entendemos um pouco mais a profundidade da sua doação: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos" (Jo 15,13).

<img src="sua-imagem.png" alt="Cruz de madeira erguida contra um céu nublado">

Foto ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

A mensagem da Cruz é para todos os tempos. É sempre uma novidade para nós olhar para Cristo e, mais do que entender, deixarmo-nos surpreender com o que Ele tem a realizar em nós a partir de sua Cruz. 

A cruz: sinal de amor, confiança e vitória

Para os cristãos, a Cruz — símbolo de humilhação, tortura e objeto de intimidação do Império Romano — é sinal de amor, de confiança e vitória. É a certeza de que a morte foi vencida e de que o pecado não tem o poder de nos aprisionar. Ele foi derrotado na Cruz. Por suas chagas, fomos sarados A crucifixão de Jesus foi um ato solene de redenção que, com sua ressurreição, realiza de uma vez por todas o plano de salvação de Deus.


No entanto, não podemos ignorar o sofrimento real de Jesus na Cruz. E aí está a grandeza desse sinal: na dor de Cristo, está a nossa alegria. O capítulo 53 do livro do profeta Isaías nos apresenta a figura do Servo Sofredor, atribuída a Cristo. O profeta fala de um homem de Deus que carregava em si os sofrimentos de outros.

Na Cruz, Jesus carrega todos os nossos sofrimentos 

E que sofrimentos eram estes? Todos os que podemos imaginar! Ele toma nossas doenças, pecados, dores e mazelas para si, ou seja, leva sobre os ombros os sofrimentos que trazemos. Isaías deixa bem claro o que Jesus estava fazendo e qual era o intuito daquele sofrimento: "Fomos sarados com os seus ferimentos" (v.5). De fato, na Cruz não havia seleção. Eram, absolutamente, todos os sofrimentos humanos — de quem veio e de quem virá ao mundo — que estavam na Cruz de Cristo.

Portanto, a sua dor, seja ela qual for, até mesmo aquela que você ainda vai sentir, estava no madeiro. É por isso que não há mal que Jesus não possa vencer. E Ele fez tudo isso voluntariamente. Não foi uma oferta obrigatória. Por isso "não abriu a sua boca" (v.7), não reivindicou defesa. Nisso está o seu triunfo: em se entregar, em dar a vida. Assim, conquistou uma descendência. 

A dor como meio de cura e transformação

A união no sacrifício de Cristo que vivemos, se unido à Cruz de Jesus, pode se tornar, para nós, motivo de alegria, salvação e libertação dos pecados dos quais somos reféns. O que nos cabe é não desperdiçar nenhum sofrimento. Deus quis que a dor fosse um meio de cura e transformação para nós.

Vejamos o Sermão das Bem-aventuranças: "Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus! Bem-aventurados vós que agora tendes fome, porque sereis saciados! Bem-aventurados vós que agora chorais, porque havereis de rir! Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos insultarem e amaldiçoarem o vosso nome por causa do Filho do Homem! Alegrai-vos, nesse dia, e exultai, pois será grande a vossa recompensa no céu (Lc 6,20-23). 

Experimente, hoje, entregar seus sofrimentos ao Crucificado!

Notemos que os bem-aventurados são os que passam por sofrimentos. Eles nos forjam a sermos melhores, configurando-nos a Jesus, dando-nos a capacidade de desejar o Céu e de não nos apegarmos a este mundo. Fazem-nos ver que a vida não se encerra aqui e que o sofrimento acontece na vida de todos, sem distinções, a fim de curar nossas almas, tornando-as mais aptas ao Reino.

Em Colossenses, Paulo afirma: "o que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne" (Cl 1,24). Claro que o sacrifício de Jesus é completo. Mas nossas lidas diárias, se colocadas em Deus, serão para nós e para a Igreja a participação no sacrifício do Senhor e, portanto, benefícios. Experimente hoje entregar seus sofrimentos ao Crucificado!

Elane Gomes
Membro Segundo Elo da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/o-amor-revelado-no-madeiro/

12 de setembro de 2025

Por que a esperança não engana?

A esperança é uma virtude teologal fundamental na fé cristã, profundamente enraizada nas Escrituras e na tradição da Igreja. Mas por que dizemos que a esperança não engana? Vamos explorar este tema à luz da fé católica.

1. Fundamento Bíblico

A esperança cristã é firmemente baseada nas promessas de Deus, que são infalíveis. Em Romanos 5,5, São Paulo afirma: "A esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado". Essa passagem assegura-nos que a esperança é sustentada pelo próprio amor de Deus, que é eterno e imutável.

Desarmando o coração, o caminho para a paz e a esperança

Crédito: jacoblund / GettyImages

2. A fidelidade de Deus

Deus é fiel às Suas promessas. Ao longo da história da salvação, vemos inúmeras vezes como Deus cumpre as Suas promessas ao Seu povo. Desde a Aliança com Abraão até a vinda de Jesus Cristo, Deus mostrou-Se sempre fiel. A esperança cristã, portanto, não é uma expectativa vazia, mas uma confiança segura na fidelidade de Deus.

3. A Ressurreição de Cristo

A Ressurreição de Jesus é o maior fundamento da nossa esperança. Como São Paulo escreve aos Coríntios (1Cor 15,17), "Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé". A vitória de Cristo sobre a morte dá-nos a certeza de que, assim como Ele ressuscitou, também nós ressuscitaremos. Essa esperança na vida eterna é o que nos sustenta nas dificuldades e tribulações da vida.


4. Ação do Espírito Santo

O Espírito Santo é o consolador e o guia que nos fortalece na esperança. Ele nos ajuda a manter os nossos olhos fixos nas promessas de Deus, mesmo quando enfrentamos desafios. A presença do Espírito Santo na nossa vida é um sinal de que Deus está conosco, guiando-nos e sustentando-nos.

5. Testemunho dos santos

Os santos são exemplos vivos de esperança inabalável. Eles enfrentaram perseguições, sofrimentos, doenças e até a morte com uma confiança inabalável nas promessas de Deus. A vida deles são testemunhos poderosos de que a esperança em Deus nunca decepciona.

6. O jubileu da esperança

O Jubileu da Esperança, também conhecido como Ano Santo de 2025, é um período de graça extraordinária promovido pela Igreja Católica. Esse Jubileu foi solenemente inaugurado pelo Papa Francisco em 24 de dezembro de 2024, com a abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro, e termina em 6 de janeiro de 2026, sob o tema "Peregrinos da Esperança".

Este evento simboliza um tempo de renovação espiritual, reconciliação e vivência profunda da Misericórdia Divina. Inspirado no tema "A esperança não confunde" (cf. Rm 5, 5), o Jubileu convida-nos a refletir sobre a essência da esperança cristã: uma confiança inabalável no amor de Deus .1

7. Bula de Proclamação do Ano Jubilar do Papa Francisco sobre a esperança 2

O Papa Francisco enfatizou a importância da esperança em várias das suas catequeses e escritos. Ele descreve a esperança como "a âncora e a vela" que nos guiam para um futuro mais fraterno e harmonioso 3 .  Nas suas catequeses sobre a esperança cristã, o Papa destaca que a esperança não desilude, pois está enraizada no amor de Deus que caminha ao nosso lado 4 . Ele nos encoraja a viver na expectativa da Revelação do Filho de Deus, confiando que, apesar das dificuldades, Deus está sempre conosco.

Conclusão

A esperança não engana porque está enraizada na fidelidade de Deus, na ressurreição de Cristo e na ação do Espírito Santo. É uma virtude que nos sustenta e nos dá força para enfrentar as dificuldades da vida com confiança e alegria: "A esperança cristã não engana nem desilude, porque está fundada na certeza de que nada e ninguém poderá jamais separar-nos do amor divino"5.

Que possamos sempre manter viva essa esperança, certos de que Deus é fiel e cumprirá todas as Suas promessas.

Paula Ferraz
Missionária do 2º elo, Frente de Missão Fátima – Portugal

Referências:
1 https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2024-12/papa-francisco-missa-natal-porta-santa-jubileu-2025.html.
2 Spes non confundit – Bula de proclamação do Jubileu Ordinário do Ano 2025 (9 de maio de 2024
3 https://formacao.cancaonova.com/igreja/jubileu-2025/jubileu-da-esperanca-o-caminho-para-uma-nova-realidade/.
4 https://www.vatican.va/content/francesco/pt/cotidie/2013/documents/papa-francesco_20131031_meditazioni- 23.html.
5 Spes non confundit – Bula de proclamação do Jubileu Ordinário do Ano 2025 (9 de maio de 2024).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/por-que-esperanca-nao-engana/

10 de setembro de 2025

O suicídio precisa ser visto com atenção

Campanha de prevenção ao suicídio é mais grave do que as pessoas imaginam

O mês de setembro teve início com uma proposta de conscientização trazida por alguns órgãos de promoção da saúde com o tema prevenção do suicídio.

Foto ilustrativa: Panuwat Dangsungnoen by Getty Images

Essa campanha traz o assunto do suicídio para a discussão popular com intuito de prevenir mortes que poderiam ser evitadas. A quantidade de vidas perdidas ultrapassa o número de vítimas da AIDS e de alguns tipos de câncer. Ou seja, tornou-se alvo de preocupação por comprometer tantas pessoas de diversas idades, classes sociais, cores etc. É hoje um assunto de saúde pública.

Dados interessante traz certa perspectiva de sucesso com campanhas, o fato que nove em cada dez casos poderiam ser evitados. De acordo com a Organização Mundial da Saúde. Ou seja, o assunto deve ser amplamente debatido e os preconceitos esclarecidos, para que o maior número de pessoas seja alcançado e indivíduos sejam salvos de um possível suicídio.

Como identificar alguém que tenha ideação suicida? É possível ajudar de algum jeito?

Para iniciar o assunto e já fazer uma boa provocação sobre o tema, vou dizer que qualquer ser humano é passível de pensar sobre a morte e desejá-la em casos específicos da vida. Sim. Eu e você podemos passar por situações fortes na vida ou apresentar alguma disfunção biológica que nos faça, em algum momento, pensar em morrer. Ou simplesmente, podemos achar os dias muito cinzas, perder o encanto pela vida e o sentido no existir.

As dores existenciais, que são aquelas dores na alma, não localizadas por nenhum exame de imagem, podem ser insuportáveis e fazer o indivíduo desejar a morte.

Atentar-se para essas realidades já é um grande passo no combate ao preconceito que existe em relação a doenças como depressão e bipolaridade, por exemplo, e que são estopins para o suicídio.

Os sinais

Existem pessoas que verbalizam suas dores e dão dicas de que pensam no suicídio, dizendo frases como: "preferia estar morta", "não deveria ter nascido", "o mundo seria um lugar melhor sem mim" ou até aquelas frases mais inocentes como "queria sumir" e "desejo dormir e não acordar mais". Esses são alguns sinais de que o indivíduo não está bem e precisa de ajuda.

O mais indicado seria um acompanhamento psicoterapêutico e, se necessário, um psiquiatra, que vai avaliar a necessidade de medicamento. Aos poucos, a população começa a se conscientizar de que os cuidados com a saúde psíquica são tão importantes e necessários quanto os cuidados com a saúde física. Assim, um medicamento para alguns casos pode ser extremamente eficaz no combate às doenças como depressão, que pode levar ao suicídio. Só para aproveitar o assunto, é válido dizer que a informação é o melhor remédio no combate ao preconceito, que ainda persiste quando o assunto é depressão, terapia e medicamentos psiquiátricos.

Voltando a falar sobre como identificar pessoas que tenham ideação suicida, existem também aquelas que não costumam expor o sentimento. Nesses casos, a observação dos comportamentos será mais valiosa que as frases ditas.

Quando alguém apresenta mudanças comportamentais que persistem por muitos dias, o sinal de alerta pode ser acionado, ou seja, se alguém que costuma ser falante, risonho e sociável, passa a ficar mais retraído, isolado e triste, certamente algum tipo de ajuda está precisando.

Setembro Amarelo

Na campanha do Setembro Amarelo, existe uma chamada que diz: "falar é a melhor solução". Então, esteja disposto a dialogar com alguém que parece não enxergar um sentido na vida. O outro apresenta alguma resistência ao diálogo, procure formas de acessar o seu coração. Por mais desafiador que pareça, lembre-se, nessas horas, que nenhum ser humano é inalcançável.

Por algum ou vários motivos, pode acontecer de alguém desenvolver mecanismos de defesa para se proteger de algumas dores, podendo ficar extremamente calado ou agressivo em certos momentos. Se o diálogo parecer impossível num primeiro momento, use a sua criatividade e o seu conhecimento sobre essa pessoa que você ama; inove, surpreenda e descubra diferentes formas de mostrar que você a ama e está ao lado dela nesse momento difícil.


Demonstre afeto

Gestos podem traduzir algumas palavras significativas. Fazer uma comida especial, comprar uma lembrança, escrever bilhetes, ajuda a derreter a geleira que estabeleceu no coração do outro. Ouse. Arrisque-se nas tentativas de alcançar alguém que precisa de ajuda.

É importante também avaliar a profundidade da situação, ou seja, se a pessoa está passando por um sofrimento pontual, alguma tristeza ou frustração, não vá logo achando que ela está pensando em suicídio. As tristezas são tão importantes quanto as alegrias, e podem trazer ensinamentos preciosos, que nem todo sorriso traz.

Então, se são lágrimas que se apresentam nessa hora para o seu amigo, chore junto com ele e, quando possível, ajude-o a enxergar novas perspectivas a partir desse sofrimento. Muitos ignoram ou rejeitam as incríveis possibilidades de crescimento que moram numa dor. Não seja dessas pessoas.

Por fim, é possível encontrar materiais de excelente qualidade que informam sobre o suicídio e algumas formas de prevenção.

Procure ajude

Como cada ser humano é único e cada caso se apresenta de forma muito particular, é importante compreender o que o familiar, o amigo, o parceiro ou até o colega de trabalho está vivenciando nesse momento, como é sua visão de mundo e qual a melhor forma de ajudá-lo. Assim, se encontrar uma oportunidade, pergunte abertamente: o que você gostaria que eu fizesse para ajudá-lo nesse momento?

Lembre-se, antes de qualquer coisa, que você está se propondo a entrar no território precioso e sagrado do outro, portanto, haja com respeito, cautela e evite julgamentos. Muitos podem achar que "dando um chacoalhão", a pessoa irá melhorar. Não é bem assim.

Pensar em tirar a própria vida é algo sério, uma alternativa que muitos escolhem por estarem em desespero. Sem perspectivas de vida, Portanto, recubra-se de amor, compaixão e uma dose extra de compreensão para colocar-se ao lado de alguém que precisa da sua ajuda.

Equipe Formação Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/o-suicidio-precisa-ser-visto-com-atencao/

9 de setembro de 2025

Santa Teresinha e os tempos da modernidade

A simplicidade que salva

Sem dúvida, Santa Teresinha está entre os santos que mais despertam a devoção na Igreja hoje em dia. Mas os santos não são tanto para serem admirados e vistos como milagreiros; mais que isso, eles foram elevados aos altares para serem imitados.

O sentido da vida segundo Santa Teresinha do Menino Jesus

Créditos: Domínio Público.

Nesse mundo secularizado – onde o sagrado tem pouco valor diante das realidades de uma época marcada pela correria de quem não tem tempo a perder e pela superficialidade do homem tecnológico, um mundo que modela no homem uma personalidade sentimentalista, individualista, hedonista e com tanto outros "ismos" –, Santa Teresinha, de dentro de sua clausura do final do século XIX, tem alguma coisa a nos dizer hoje?

A espiritualidade de Teresinha é um caminho cotidiano de salvação. Ela propõe que todos os gestos, por mais simples que sejam, se forem feitos com amor, têm valor redentor: "Apanhar um alfinete por amor pode converter uma alma. Que grande mistério!". Só Jesus pode dar um valor tão grande às nossas ações.

 Amor no dia a dia

Por isso sua proposta é perfeita para nós hoje: a santidade não se resume a gestos de piedade e longos tempos dedicados ao sagrado, mas pode ser encontrada na correria da vida do mundo. Perfeito! Sim, na correria do dia a dia, se cada coisa for feita com amor, tem valor de eternidade, porque traz a presença de Deus para aquela situação.

Aliás, é um remédio para o mal da pós-modernidade: a depressão, porque, se cada coisa da vida ganha significado pelo amor, nada será mera repetição maçante de atos, mas tudo será sempre novidade, porque o amor traz o brilho do novo para as coisas da vida.


O último lugar que se transforma em vitória

Individualismo, solidão e competitividade são tendências que atraem o homem de hoje. Estamos ligados no mundo, mas sempre isolados numa telinha de celular ou telona de TV. E quando saímos daí, é para competir em lucro, poder, beleza física; enfim, todos querem o sucesso.

Nisso Teresinha era muito diferente de nós, não porque não tinha a telinha ou a telona, e sim porque vivia de amor, e o amor é sempre atual. Amante do último lugar, o único pódio pelo qual competia, e vivendo sob a leveza do escondimento, Teresinha em tudo queria fazer o bem: "Só o amor me atrai".

Nem o sucesso da santidade ela queria: "Não se deve trabalhar para tornar-se santa, mas para dar prazer ao Senhor". Sua meta era realmente partilhar o bem, e por isso surpreendeu até os santos, que querem o céu como seu troféu, ao dizer que queria passar o céu fazendo o bem na terra.

Alegria das irmãs durante os recreios, ela sabia ser agradável, viver em comunidade e partilhar de tal maneira que podemos aplicar a ela a frase do místico alemão Johann Tauler (séc. XIV): "Se eu amar o bem que está no meu próximo, mais do que ele mesmo o ama, esse bem me pertence mais do que a ele".

Mas Teresinha não seria hoje uma mestra somente através de seus bons exemplos. Por meio de sua doutrina da pequena via, ela daria duros remédios a nós, que gostamos de conforto e guloseimas. Ela diz que "um dia sem sofrimento é um dia perdido". Sem dúvida, Santa Teresinha tem muito a nos ensinar no caminho necessário da ascese e penitência.

Valores perenes para tempos voláteis

Ela não nos convida a fazer coisas exorbitantes, tão distantes do nosso padrão de bem-estar, mas coisas simples, como ela mesma fazia: durante as refeições, não se recostar ao encosto confortável da cadeira. Coisas realmente tão simples quanto possíveis.

Mas talvez a lição mais dura que ela tem a nos dar seja sua convicção de que o amor não é sentimento ou emoção, mas decisão da vontade. Verdade difícil num mundo em que os relacionamentos são tão superficiais e a capacidade de se comprometer tão volátil, que casamento se faz por união afetiva e religião se escolhe pela medida de boas sensações e retribuições divinas.

Teresinha é um daqueles santos que ultrapassam o seu tempo, porque sua vida e seus ensinamentos comunicam valores perenes. Especialmente ela, que soube reconhecer os sinais dos tempos e, com consistência e profundidade, tem uma profecia atual, merece realmente o título de "a maior santa dos tempos modernos", como a chamou São Pio X (1835-1914).



André Botelho

André L. Botelho de Andrade é casado e pai de três filhos. Com formação em Teologia e Filosofia Tomista, Andrade é fundador e moderador geral da comunidade católica Pantokrator, à qual se dedica integralmente.
http://www.pantokrator.org.br

Contato: http://facebook.com/andreluisbotelhodeandrade


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/santa-teresinha-e-os-tempos-da-modernidade/

8 de setembro de 2025

Evangelização na Internet: Do SMS à IA: Testemunho de Adailton Batista

Minha jornada de fé

Sou Adailton Batista, e minha história com a evangelização começa muito antes de eu tocar em um computador. Nasci na zona rural do município de Porteirinha, em Minas Gerais, em uma vida simples e, por graça de Deus, rica em conhecimento.

Foto Ilustrativa: Paula Dizaró/cancaonova.com

Desde pequeno, gostava de ler as revistas e jornais que chegavam até mim e, mesmo antes de ir para a pré-escola, minha mãe, com sua dedicação, já havia me ensinado a ler o alfabeto, a escrever meu nome, o de meus pais e irmãos, e até parte da tabuada.

Minha infância e adolescência foram distantes da tecnologia. O contato com mais livros se intensificou no quinto ano, mas foi apenas no Ensino Médio que acessei um computador pela primeira vez e criei meu primeiro e-mail. Fui o primeiro de meus cinco irmãos a fazer um curso de digitação, embora a tecnologia não fosse meu forte. O que já trazia em mim era um dom natural para aprender e compartilhar.

Minha família sempre foi católica e, após a minha crisma, mergulhei nos grupos de jovens e retiros espirituais na diocese de Janaúba, onde fui atuante; e tudo o que eu vivia, sentia um forte desejo de que outros também experimentassem aquela graça de Deus, a experiência com Cristo.

Além dos limites: do SMS à evangelização digital 

A semente do evangelizador digital nasceu de uma forma inusitada. Por volta de 2001, adquiri um celular com um plano que oferecia SMS ilimitado. Tive uma ideia ou inspiração divina: comecei a inventar combinações de DDDs com números de telefone e a enviar mensagens da Bíblia, retiradas do folheto do culto dominical, para pessoas que eu nem conhecia. Lembro-me de ter enviado mais de cem mensagens em um único mês.


Era a minha forma de usar o pouco que tinha para levar a Palavra adiante. Recordo de receber muitos retornos: "Obrigado pela mensagem! Era o que eu precisava ler hoje. Não sei como achou meu número, mas não importa, essa mensagem foi voz de Deus para mim", retornos como esse me motivavam a continuar. 

Em 2009, o trabalho com a missão evangelizadora na internet tomou outras proporções. Ao ingressar na Comunidade Canção Nova, por providência divina, fui designado para trabalhar no setor de "Novas Tecnologias" da TV.

Ali, passei a gerenciar blogs, o site oficial da TV, as mídias sociais e a trabalhar com o envio de SMS com conteúdos do Papa, de nosso fundador  – Monsenhor Jonas Abib – e dos santos. Fui identificando, em minha vocação, um chamado claro: usar a internet para propagar a Boa Nova do Evangelho.

Como a fé se conecta ao futuro 

Como nos ensina meu fundador, Monsenhor Jonas Abib, devemos e precisamos usar de todos os meios possíveis já criados para evangelizar. Penso também em São Paulo, o apóstolo, e nas viagens que ele fez para anunciar o Evangelho. Imagine o que ele faria em nosso tempo, tendo em mãos as ferramentas que temos!

Movido por esse ideal, mergulhei nos estudos. Muita coisa aprendi sozinho, "fuçando", mas a Comunidade me deu a oportunidade de fazer o curso de Técnico em Rádio e TV; depois, a graduação em Jornalismo, que expandiu meu conhecimento.

Recentemente, concluí um MBA em Digital Business, e minha visão se abriu para as incontáveis possibilidades que temos hoje, incluindo o uso de Inteligência Artificial para continuar esse trabalho.

Nessa jornada, compreendi algo fundamental:

"Rede Social sempre existiu. As plataformas só vieram ampliar a comunicação das redes."

A missão como consagrado Canção Nova é evangelizar

A escola, a família, a comunidade… onde há gente, há uma rede social. Por trás de cada perfil e cada plataforma, existem pessoas. E, como vivemos aqui na Canção Nova, "a pessoa é o mais importante". É por isso que não podemos estar nas redes apenas por estar. É preciso ter um objetivo concreto.

Lembro-me de um fato que partilhei em meu blog em 2011, após participar de um evento em São Paulo. Em uma das palestras, perguntaram quem ainda usava o Orkut, que já havia "morrido" em muitos países, mas que, no Brasil, ainda era muito popular. Eu, na minha euforia, respondi que sim, e fui até um pouco "zoado", mas aquilo me levou a uma profunda reflexão: eu não usava a rede por usar, mas porque tinha um objetivo.

Minha missão como consagrado Canção Nova é evangelizar. Enquanto o Orkut não morresse no Brasil, eu o usaria, pois sei do alcance que um vídeo, um post ou um comentário pode ter na vida de muitas pessoas que usam essa ferramenta. Como já disse: a pessoa é o mais importante.

As redes sociais e as novas tecnologias não teriam sentido para a escolha de vida que fiz se eu não as colocasse em função da minha missão. De palavras, o mundo está cheio; a sociedade anseia por veracidade, por autenticidade.

Usar as redes sociais para construir um mundo novo e formar na fé

Por isso, deixo aqui meu apelo: não use as redes sociais por usar. Use com um objetivo. Use para colaborar com algo concreto, para construir um mundo mais justo, para ser um formador de opiniões pautado no bem.

Ao ver a canonização do beato Carlo Acutis, um jovem que usou a internet para o céu, eu me identifico profundamente com sua missão. Peço sua intercessão para que eu nunca me perca neste vasto universo digital e continue a usar bem os meios de comunicação para o único fim que importa: evangelizar.

Espero que você, que lê esse breve testemunho,  possa também usar, de alguma forma, os dos que o próprio Deus lhe deu para levar a mensagem de fé e esperança a tantos corações. Deus mesmo lhe mostrará quais meios. Abra-se à vontade d'Ele.

Deus o abençoe!



Adailton

Adailton Batista é natural de Janaúba (MG) e membro da Comunidade Canção Nova desde 2009. Casado com a missionária Elcka Torres e pai de uma filha. Possui MBA em Digital Business pela USP/ESALQ, graduação em Jornalismo pela Faculdade Canção Nova (FCN), formação em Rádio e TV pelo Instituto Canção Nova e formação técnica em Administração pela Faculdade NetWork. É autor do blog.cancaonova.com/metanoia e colunista do Portal Canção Nova. Apaixonado pela evangelização, ele utiliza todos os meios digitais possíveis para promover uma experiência pessoal com Cristo.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/evangelizacao-na-internet-sms-ia-testemunho-de-adailton-batista/

7 de setembro de 2025

O futuro da santidade passa por aqui

A identidade e missão de Carlo Acutis

Termino esta série de três artigos sobre a identidade e missão de Carlo Acutis para a Igreja do século XXI, querendo mostrar como ele, apesar de ter vivido apenas 15 anos, é um mestre de vida espiritual para os nossos dias.

No centro da sua vida espiritual, encontramos o sacramento da Eucaristia. Sabemos que o sacramento mais necessário para a salvação é o batismo e, depois deste, a reconciliação, para quem perdeu o estado de graça por algum pecado grave. Mas, tradicionalmente, o sacramento mais importante é a Eucaristia, porque enquanto nos outros sacramentos há uma ação de Deus que gera um efeito e essa presença sacramental desaparece depois de realizado o sacramento, na Eucaristia, Jesus permanece. Na Eucaristia, enquanto celebração litúrgica, e nas espécies eucarísticas do pão e do vinho consagrados, encontramos a realização plena daquela promessa do Senhor na Sua Ascensão de que estaria, todos os dias, com os seus discípulos até ao fim do mundo (cf. Mt 28,20).

Carlo Acutis: a missão que nasce do amor a Jesus

O beato Carlo Acutis / Foto: Nicola Gori – CNA

O centro da vida e espiritualidade de Carlo Acutis

A Eucaristia ocupava o centro da vida e espiritualidade de Carlo Acutis. Desde logo, porque sempre intuiu de forma especial a presença de Jesus Cristo, mas sobretudo porque, recebida a Primeira Comunhão, procurou nunca faltar a nenhum dia da celebração eucarística. Ali, encontrava-se com o Senhor e recebia a graça particular deste sacramento, que é um dom particular de união a Jesus, de tal modo que a nossa própria vida se transforma para sermos mais semelhantes a Ele. Nisso, o exemplo de Carlo é muito pertinente para os nossos dias: é necessário redescobrir a importância e centralidade do sacramento da Eucaristia, que não é outra coisa senão redescobrir a unicidade de Cristo como fundamento da vida cristã.

O sacramento da Eucaristia também exercia a força dominante da ação evangelizadora de Carlo, que, nos diversos diálogos, procurava mostrar às pessoas o que estavam a perder por não irem à Missa. No entanto, essa força propulsora de evangelização o Carlo encontrou contando a história dos milagres eucarísticos, acontecidos por todo o mundo ao longo dos séculos. Nestes, viu como Deus realizava sinais prodigiosos para mover a fé das pessoas para a realidade do sacramento. No pão e no vinho consagrados, não se encontra somente uma bênção ou um sinal da presença de Jesus, nem apenas uma repetição mecânica de um gesto que tem dois mil anos, mas a realização permanente da mesma entrega de Jesus, que antecipou para a Última Ceia a entrega da própria vida que foi realizada na obediência da Cruz.

Desse modo, o Carlo procurava mostrar que o grande milagre é cada Eucaristia, em que o pão e o vinho se transformam realmente – substancialmente, como afirma a doutrina clássica – no Corpo e no Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo: Corpo, Sangue, Alma e Divindade.


Como Carlo Acutis, ser Santo hoje e fazer diferença no mundo

Pelo menos em Portugal, têm surgido várias capelas de Adoração Eucarística perpétua, garantidas dia e noite por leigos que se voluntariam com uma hora por semana para estar em adoração diante do Senhor. Este é um grande sinal da renovação da devoção eucarística nos dias de hoje. Em cada momento de adoração, estamos diante do nosso Deus e Senhor, e aprofundamos a consciência de que somos criaturas e pedimos a graça de sermos cada vez mais à imagem do próprio Senhor Jesus.

Carlo Acutis foi, deste modo, profético da renovação da Igreja, hoje tão necessária. A esse respeito, podemos recordar o que escrevia o teólogo Hans Urs von Balthasar a respeito dos desafios da Igreja dos nossos dias: ««Mas, para estar à altura de uma tarefa tão sobre-humana [a tarefa que se apresenta hoje à Igreja Católica], terá necessidade não só de teólogos (também deles), mas sobretudo de santos. Não só de decretos e ainda menos de novas comissões de estudo, mas de figuras pelas quais, como faróis, nos possamos orientar. Era justamente este o sentido último do alarme de Córdula.

Não é verdade que nada podemos fazer para ter santos. Devemos, por exemplo, tentar uma vez, embora com algum atraso, tornar-nos como Córdula. "Mais vale tarde do que nunca"» (Hans Urs von Balthasar, Córdula, p. 119). Com o exemplo de Carlos, que nos é proposto pela Igreja com a sua canonização, sintamo-nos todos impelidos nesta missão de sermos santos hoje, alimentados e fortalecidos com o sacramento da Eucaristia, e façamos a diferença neste mundo.

Pe. Ricardo Figueiredo, Patriarcado de Lisboa


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/o-futuro-da-santidade-passa-por-aqui/

5 de setembro de 2025

Um jovem normal com um segredo extraordinário

Hoje é possível ser santo

Nos últimos anos, a vida e a espiritualidade de Carlo Acutis têm suscitado um grande interesse em várias partes do mundo. Ele é realmente visto como um santo dos nossos dias e, por isso, tem uma mensagem de certo modo profética: também hoje é possível ser santo.

Beato Carlo Acutis /Foto: carloacutis.com

No entanto, em Carlo, o que popularmente se espera da santidade não encontramos: ele não é alguém separado do mundo, distante e abstraído da realidade. Muito pelo contrário: o vemos como um adolescente normal, igual aos outros, vestido de calças jeans, jogando videogame, com gosto e talento para a informática, no meio dos amigos, como aquela fotografia no final de uma partida de futebol em que ele foi goleiro. É um jovem em tudo normal, mas precisamente nessa normalidade ele soube viver uma vida sobrenatural.

Virtude heroica

Ficamos assustados porque, muitas vezes, temos uma ideia errada do que significa a santidade. Quando nos processos de beatificação e de canonização ouvimos falar em «virtude heroica», com facilidade podemos achar que isso é algo que não se destina a todos os cristãos, a todos aqueles que são chamados a uma «vida média» no quotidiano mais ou menos turbulento da sociedade em que vivemos. No entanto, falar em virtude heroica não significa falar no «Super-homem cristão». Como escreveu Joseph Ratzinger em 2002: «Virtude heroica não significa que o santo faz uma espécie de "ginástica", de santidade, algo que as pessoas normais não conseguem fazer». Antes pelo contrário, e continua mais à frente: «Virtude heroica propriamente não significa que alguém fez grandes coisas sozinho, mas que, na sua vida, aparecem realidades que ele não fez, porque foi transparente e disponível para a obra de Deus. Ou, por outras palavras, ser santo não é mais do que falar com Deus como um amigo fala com outro amigo. Eis a santidade».

Carlo nasceu no dia 2 de maio de 1991 e faleceu no dia 12 de outubro de 2006, apenas com 15 anos de idade. Neste percurso, vemos como Deus o guiou, tantas vezes de forma silenciosa e misteriosa. Por exemplo, quando tudo indicava que poderia não ter uma educação cristã profunda, os pais contrataram uma babá católica de origem polonesa, que desde cedo ensinou àquela criança quem era Jesus e que devia rezar muito. Desde cedo, Carlo sentiu-se chamado a procurar Deus, o que o levou a aprofundar a fé e a viver com a presença de Deus mais constante. Corajoso, não tinha medo de testemunhar a fé nos mais variados ambientes, quer fosse com amigos dos pais, quer fosse na escola.


Carlo nos desafia a não fugir ao desafio da santidade!

Em tudo isto, vemos o que é o extraordinário da vida de Carlo: se por um lado foi um jovem totalmente normal, ao mesmo tempo foi profundamente extraordinário. Melhor: soube fazer de modo extraordinário aquilo que é mais habitual e corriqueiro. Por exemplo, quando ia de bicicleta de casa para a escola, podia simplesmente fazer esse percurso. Contudo, usava essa oportunidade como forma de ir cumprimentar e falar com os porteiros dos vários condomínios, muitos deles migrantes, e assim mostrar amizade, simpatia e proximidade. Também conseguiu ajudar na conversão de algumas pessoas.

Outra coisa que é normal num jovem é receber a mesada, confiada pelos pais. Como outros adolescentes, Carlo esperava receber esse valor para administrar, contudo, não para comprar chocolates ou um jogo de videogame, mas para ir comprar um saco de dormir para um morador de rua ou dar o dinheiro a alguma instituição que dava comida aos pobres de Milão. Também nisto, Carlo soube transfigurar algo que era normal em algo sobrenatural.

Finalmente, até a morte, Carlo soube transformar em algo sobrenatural. «Estou contente por morrer, porque na minha vida não estraguei nem um instante em coisas que não agradassem a Deus»: esta frase é o grande testamento que Carlo deixou a todos nós, para que também na nossa vida possa sempre resplandecer a vida divina. Como modelo de santidade, este jovem milanês indica que o caminho de santidade não é um caminho que nos faz fugir dos outros, mas um caminho que nos leva a abraçar as múltiplas realidades e a encontrar os caminhos sempre novos que Deus abre diante de nós. Cada um é chamado a ser santo na sua realidade própria: com os talentos e características pessoais, com cada história pessoal e familiar, nesta época histórica concreta. Carlo nos desafia a não fugir ao desafio da santidade!

Padre Ricardo Figueiredo
Presbítero do Patriarcado de Lisboa. Doutorado em Teologia sistemática. Vigário Paroquial (coadjutor): Algés e da Cruz Quebrada-Dafundo. Diretor do Departamento de Comunicação do Patriarcado de Lisboa. Autor de diversos livros, como: Não Eu, mas Deus – Biografia espiritual de Carlo Acutis


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/jovem-normal-com-um-segredo-extraordinario/

4 de setembro de 2025

Qual é o verdadeiro propósito da Bíblia para os cristãos?

A Bíblia não é um livro comum, mas de grandes ensinamentos deixados por Cristo

O fator mais importante que classifica a Bíblia como o livro mais singular é a influência que ela tem sobre a vida dos homens. Embora a Sagrada Escritura seja um grande tesouro devido à sua contribuição para a humanidade em literatura, filosofia e história, o maior valor desse livro se encontra na grande influência que exerce sobre as pessoas.

Foto Ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

Por meio de suas páginas, o homem se vê exposto à sua verdadeira condição diante de Deus; a Palavra é como uma espada que penetra até os pensamentos e propósitos do homem e o convence de seus pecados diante do Todo-poderoso (cf. Hb 4,12): "Porque a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração".

O encontro com a Palavra gera vida

Santo Agostinho era um homem indisciplinado e libertino em sua juventude, porém, sua mãe orava por ele enquanto ele crescia. Depois de levar uma vida dissoluta por muitos anos, certo dia, com trinta e um anos de idade, ao ler a Bíblia debaixo de uma figueira, chegou ao trecho que diz "Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes, mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e nada disponhais para a carne, no tocante às suas concupiscências" (Rm 13,13-14). Essas palavras o convenceram dos seus pecados e ele se arrependeu diante do Senhor e se tornou um servo de Cristo.

No curso da história, muitas pessoas famosas foram movidas a crer em Cristo e a ler a Sagrada Escritura. O imperador francês Napoleão, após ter sido derrotado e exilado na ilha de Santa Helena, confessou que, embora ele e outros grandes líderes tivessem fundado seus impérios com uso da força, Jesus Cristo edificou Seu Reino com amor. E também confessou que, embora pudesse reunir seus homens em torno dele em prol de sua própria causa, ele teria de fazê-lo falando-lhes face a face, enquanto, por dezoito séculos [na época], incontáveis homens e mulheres se dispuseram a sacrificar, com alegria, a própria vida por amor a Jesus Cristo, sem tê-Lo visto sequer uma vez.

O Cristo revelado na Bíblia

A razão pela qual muitos se dispuseram a deixar tudo para seguir Cristo e serem martirizados por causa d'Ele, é que eles O viram revelado na Bíblia. Esse Livro Sagrado tem sido a fonte de inspiração para que muitos creiam em Nosso Senhor Jesus Cristo. Embora muitos reis, imperadores e governantes tenham tentado erradicar a Bíblia, nos últimos dois mil anos, a começar pelos imperadores romanos do primeiro século até os governos ateus deste século, nenhum poder sobre a terra tem conseguido abalar a atração do homem por esse Livro Sagrado e pela Pessoa maravilhosa que ele revela. O Cristo revelado na Bíblia continua, hoje, tão vivo como há dois mil anos.

A Bíblia existe para que possamos compreender, temer, respeitar e amar Deus sobre todas as coisas, assim ela se denomina como a Sagrada Escritura: "E desde a infância conheces as Sagradas Escrituras e sabes que elas têm o condão de te proporcionar a sabedoria que conduz à salvação, pela fé em Jesus Cristo. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra" (cf. II Tm 3,15-17).

Principal revelação

A revelação principal da Bíblia é a vida. "O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância" (João 10,10). Por isso, quando lemos a Bíblia, devemos entrar em contato com o Senhor Jesus, orando para que Ele nos dê revelação da palavra lida.

"Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos" (Ef 6,17-18). Orando também para que sejamos capacitados pelo Espírito Santo, para viver a Palavra de Deus, e não apenas conhecê-la em nossa mente, pois o simples fato de conhecermos a Bíblia não nos faz cristãos; os judeus cometeram esse erro, pois eles examinavam as Escrituras, mas não conheciam a Pessoa de Cristo.


"Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida" (Jo 5,39-40). Isso pode ser mais bem compreendido ao analisarmos o versículo de II Coríntios, 3,6: "O qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica".

Livro da vida

Não devemos tomar a Bíblia como um livro comum, apenas para trazer algum conhecimento a nossa mente, mas devemos tomá-la como um livro de vida, contatando o Senhor Jesus por meio da oração, para que Ele nos conceda algo vivo em Sua Palavra, ou seja, algo que traga uma lição prática para o nosso viver no dia a dia, pois a intenção de Deus, revelada na Sagrada Escritura, não é apenas a salvação do nosso espírito, como também a salvação de todo o nosso ser, para que consigamos viver coletivamente na Igreja, que é comparada ao Corpo e à Esposa de Cristo: "O qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade" (I Tm 2,4).

"O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (I Ts 5,23). "Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo" (I Cor 12,27). "Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou" (Ap 19,7).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/series/especial-biblia/qual-e-o-verdadeiro-proposito-da-biblia-para-os-cristaos/

2 de setembro de 2025

A esperança não decepciona

A Carta aos Romanos e a esperança no Espírito Santo

O Apóstolo Paulo assegura à comunidade cristã de Roma que existe uma esperança que é certa e segura. Essa carta foi escrita em torno do ano 60 d.C., e é a carta mais profunda em reflexão feita pelo Apóstolo Paulo. Essa comunidade destoa das outras às quais Paulo destina cartas: a comunidade de Roma não foi Paulo que "plantou", porém, tocará a ele "regá-la" para que cresça.

Foto Ilustrativa: nicoletaionescu by Getty Images

A comunidade cristã de Roma, no ano 60 d.C., não é tão grande, talvez algumas centenas de pessoas se reunissem para fazer Memória de Jesus, da Sua Páscoa. Fazer a memória de Jesus é o oásis desses nossos irmãos que passaram os dias como estranhos entre pessoas que organizavam suas vidas a partir de expectativas de amizades com o imperador, com senadores romanos ou algum nobre que pudesse oferecer a eles uma pequena esperança

Uma esperança segura

Mas como indicar uma esperança segura, que não dependesse das mudanças próprias do homem? 

Em lugar central da carta, depois de falar da condição da humanidade sem Cristo e de sua salvação gratuita, Paulo diz que há uma esperança que não está ligada aos poderes dos que mandam no império. Ela depende do dom de Deus, do Espírito Santo derramado no coração dos crentes (Rm 5,5).


O elemento verificador dessa esperança é olhar dentro de si e perceber esse Espírito que move e tudo renova. Esse Espírito é de tal maneira ativo, que o cristão não poderia duvidar que a promessa já estava se cumprindo.

Havia uma tal esperança de totalidade, na experiência desse Dom que haveria de se cumprir como salvação,  que o desfecho seria positivo, pleno e feliz de uma promessa cujo herdeiro é Jesus, e todos que estejam n'Ele se tornam coerdeiros. Essa certeza não é ensinada, ele precisa ser experimentada no coração do crente

 O modo novo de viver as tribulações, as angústias e perseguições

Ademais, o crente tinha à sua disposição o modo novo de viver as tribulações, as angústias e perseguições. Ele experimenta que há uma reserva de alegria em viver essa condição de ser rejeitado por causa de Jesus, por não ter aceitado que a vida consistia no que os mais fortes poderiam oferecer-lhe, que viveria de esperanças em pessoas e coisas que o deixam decepcionado. 

O cristão ergue a cabeça, vive com altivez que brota da fé na cruz redentora de Cristo. Esse novo ser nascido da fé em Jesus possui um destemor, uma coragem que não volta atrás. Essa coragem não é aquela grega, da ousadia que confia nos próprios braços; a coragem do cristão nasce da confiança no dom do Espírito, na vitória já conquistada por Jesus Cristo e participada por ele, pela fé. A isso Paulo chama Parresia (coragem que nasce da confiança).

Não há motivos para sentir vergonha, medo, insegurança

Outro elemento de credibilidade da esperança que não decepciona é o fruto que esse Espírito produz na alma do crente: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5,22s). Ele sabe que não há mais condenação para ele, se ele permanecer em Cristo Jesus (Rm 8,1). Daqui nasce a certeza da salvação que não é pretensão, mas gratidão por algo não merecido, mas guardado com zelo e temor. 

Tudo isso leva aquela experiência de leveza que é marca do cristão amadurecido no Espírito. Ele vive a Lei, mas sem ser escravo dela; é livre, inclusive, de obedecer aos próprios impulsos.

Tudo nesse cristão é tensão evangélica, é a busca de viver em Cristo, viver a vida como dom para suscitar a ação de graças no coração de outros, querendo que todos experimentem que não há motivos para sentir vergonha, medo, insegurança, pois o fim foi definido: tudo concorre para o bem dos que amam a Deus. Essa ousada segurança se deve ao dom do Espírito Santo, que é "arrabon", é garantia do cumprimento da esperança.

Dom José Otácio Oliveira Guedes
Bispo Auxiliar de Belo Horizonte 


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/esperanca-nao-decepciona/