1 de maio de 2025

Por que São José Operário?

Queridos irmãos, salve São José!

Em nossa partilha de hoje, quero convidar cada um de vocês a mergulhar comigo nas memórias incríveis da nossa história para conhecer a grandeza e a profundidade do porquê recorrermos à intercessão de São José como Operário e modelo do trabalhador.

Créditos: Imagem Gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

 

A nossa Santa e amada Igreja nunca em vão recorre a São José, e, aqui, neste tema tão profundo e tão rico, que não somente fala do trabalho e sua dignidade, mas abrange e atinge toda família e sociedade cristã, não foi diferente.

Desde os fins do século XVIII, com o advento da indústria, e final do século XIX, com suas terríveis e excessivas jornadas de trabalho, houve vários movimentos de reivindicação de todos os trabalhadores em todo mundo por melhores condições de trabalho, salários e jornadas diárias. Todas essas ações e suas conquistas levaram os trabalhadores de todos os países a esse "Dia de Maio", feriado no calendário civil dedicado a todos os trabalhadores do mundo. Aqui no Brasil, é celebrado no dia 1º de maio.

Em paralelo ao movimento industrial, alastrava-se ainda, em todo mundo, o Movimento Comunista e suas ideias ateias e de classe, vendo nessas realidades dos trabalhadores a oportunidade de lançar sua ideologia.

São José, patrono e defensor da Igreja

A princípio, essa conquista dos trabalhadores não tinha conotação política nem religiosa, mas, infelizmente, os comunistas aproveitaram-se da data e a "rebatizaram" como "Dia dos Trabalhadores Comunistas". Com isso, eles pretendiam enfatizar mais as ideias de Karl Marx e influenciar as massas. Diante de todas essas realidades e tantas outras que, junto com o progresso, aproximavam-se para ir contra os alicerces da sociedade, da família e da religião, alertava-nos o Papa Pio IX, em 1846, o mesmo que, em 1870, convoca São José para se levantar em defesa da Igreja de Cristo, proclamando-o seu Patrono Universal, e como fizera também os que viriam a sucedê-lo:

"A nefasta doutrina do Comunismo, mais avessa à própria lei natural, uma vez admitido, os direitos de tudo, das coisas, das propriedades e até da própria sociedade humana seriam destruídos por baixo. A isso aspiram as armadilhas sombrias daqueles que, vestidos de cordeiros, mas com espírito de lobo, insinuam-se com falsas aparências de piedade mais pura, e virtude e disciplina mais severas: eles surpreendem suavemente, agarram suavemente, matam ocultamente; eles desviam os homens da observância de todas as religiões e destroem o rebanho do Senhor". (Encíclica Qui Pluribus)

São José, o "terror dos demônios"

Seguindo o coração do Evangelho, como fizera Deus Pai na plenitude do tempo recorrendo a Maria e também a São José, O Papa Pio XI, em 1937, recorreu ao seu Patrono, a fim de que o pai terreno de Jesus livrasse a Igreja dos muitos erros do comunismo. Assim escreveu: "Pomos a grande ação da Igreja Católica contra o comunismo ateu mundial sob a égide do poderoso Protetor da Igreja, São José" (Divini Redemptoris, n. 81).

Em resposta às palavras do Santo Padre, os católicos começaram a pedir fervorosamente a intercessão de São José, especificamente sob o título de "Terror dos Demônios", para que ele combatesse as ideias ateias do comunismo. Além disso, também suplicavam sua ajuda na causa dos direitos dos trabalhadores, pois ambos os assuntos eram temas de grande preocupação para a Igreja na primeira metade do século XX. Nesse cenário, qualquer um sentia, naquela época, a ameaça de um comunismo mundial, incluindo o Papa. Em razão disso, o Venerável Pio XII, voltou-se para São José mais uma vez, como recorreram os outros nas maiores tribulações da barca de Pedro, e denunciou as falsidades do comunismo, elevando a dignidade do trabalho de um jeito bem específico, e trazendo o pai nutrício de Jesus como modelo.

Festa de São José Operário: modelo de trabalhador

Então, no dia 1º de maio de 1955, o Papa Pio XII declarou que, dali para frente, a data seria a festa litúrgica de São José Operário. Ele contou a novidade aos operários com estas palavras:

"Amados filhos e filhas, presentes nesta praça sagrada, e vós, trabalhadores de todo o mundo, que abraçamos com ternura e afeição paternal, semelhante àquela com que Jesus trouxe a si as multidões famintas da verdade e da justiça. Tenha a certeza de que, em cada ocorrência, você terá ao seu lado um guia, um defensor, um pai. Diga-nos abertamente sob este céu livre de Roma: Você será capaz de reconhecer, entre as tantas vozes discordantes e enfeitiçantes que se dirigem a você de vários lados, algumas para minar suas almas, outras para humilhá-los como homens, ou para roubá-los os seus legítimos direitos de trabalhador, saberá reconhecer quem é e será sempre o seu guia seguro, quem é o seu fiel defensor, quem é o seu Pai sincero?

Sim, queridos trabalhadores, o Papa e a Igreja não podem escapar à missão divina de guiar, proteger, amar acima de tudo os que sofrem, os mais queridos, os mais necessitados de defesa e ajuda, sejam eles trabalhadores ou outros filhos do povo.

Estamos felizes por anunciar-vos nossa decisão de instituir a festa litúrgica de São José Operário para o dia 1º de maio. Estais satisfeitos com este nosso presente, operários?

Estamos certos de que estais, porque o humilde operário de Nazaré não somente personifica diante de Deus e da Igreja a dignidade de um homem que trabalha com suas mãos, mas é também o guardião providente de vós e vossas famílias". (Alocução a ACTI, 1.º de maio de 1955).

Ele, São José, é modelo de tudo!

Lendo até aqui, certamente você entendeu, com toda clareza e totalidade, a grandeza de termos uma festa litúrgica dedicada a São José Operário.

Ele é o grande defensor dos verdadeiros valores que sustentam a vida, é o defensor da Verdade, das Famílias, dos Trabalhadores e da Igreja. Ele, São José, é modelo de tudo.

Não esqueçamos que foi a ele confiada a mais sublime das famílias. Foi a ele confiado os tesouros divinos, a mais sublime riqueza do mundo: Jesus e Maria. Com sua disposição e diligência, José não deixou faltar nada a sua família, nem mesmo um lugar para seu filho nascer, limpando com suas próprias mãos, o "primeiro quarto do seu Filho", o primeiro tabernáculo construído por mãos humanas.

Homem justo e honrado, serviu a sua família e a sociedade do seu tempo com a dignidade do seu trabalho, da sua disposição em fazer o que era correto e honesto para o sustento e a proteção dos que eram "sua propriedade". Não temos dúvida de que, falando do Pai do Céu, Jesus lembrava de São José quando afirmou "Meu Pai trabalha sempre e eu também trabalho" (Jo 5,17).

O artesão de Nazaré

Foi com José que Jesus aprendeu a trabalhar, a ser um homem completo, dotado de presteza e valor. Foi olhando para seu Pai que Jesus aprendeu a dignidade do trabalho, não importa o tamanho dele, e a ser grato pelo alimento de cada dia que chegava em sua mesa. O artesão de Nazaré, na mais simples e desqualificada das profissões da sua época, alimentou com o pão de cada dia, o Pão Vivo que desceu do céu. (Jo 6,51)


Ora et labora

O trabalho é expressão do Amor, ele santifica a nossa vida cotidiana (São João Paulo II – R. Custos 22). E ainda: "Ore e trabalhe" (São Bento). "Ore ao ritmo da vida" (Dom Bosco). "Santifique o seu trabalho com a oração" (São José Maria Escrivá), assim nos ensina a Igreja e seus santos em todos os tempos da história.

Por fim, um mau trabalhador é um mau cristão. Um operário displicente é um mau cristão. É principalmente com o trabalho bem feito, exemplar, que brilhará a luz do nosso testemunho cristão diante dos colegas, e Deus será glorificado. É do bom trabalhador, do bom cristão, dos bons pais, das boas famílias que São José é modelo, guia e protetor.

Digamos juntos: São José Operário, rogai por nós!

Cleiton Luiz Godeiro
Médico pediatra, empresário, esposo, pai e avô
Comunidade de Casais Vida Nova
Devoto de São José
Natal/RN/Brasil


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/devocao/por-que-sao-jose-operario/

30 de abril de 2025

A televisão e você – o que está mudando?

Um dia sem telas: missão possível?

Não é novidade para ninguém o fato de as pessoas estarem assistindo a menos televisão. Não é novidade também saber que aquele conceito de ficar aguardando o horário do programa favorito ser exibido não existe mais. Para assistir a um conteúdo, que antes era possível somente pela TV, basta ter acesso à internet e, por meio de uma tela (celular, tablet ou computador), assistir ao que quiser, em qualquer lugar e na hora que desejar.

Créditos: Imagem Gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT


A reinvenção da televisão na era digital

A televisão, assim como outros setores da indústria da comunicação, atravessa uma fase de convergência e mutação. Necessita se reinventar, criar novidades e possibilidades para o público. Está instaurada uma verdadeira batalha no mercado entre empresas de televisão e internet. Ainda é cedo para lançar certezas diante de novidades que surgem a cada dia, porém, faz-se necessária uma reflexão aos movimentos e impulsos dos canais frente a um presente tecnológico.

A imagem, que no passado era possível ser encontrada apenas nos televisores e no cinema, atualmente está espalhada em múltiplas telas. Celulares, computadores portáteis, tablets são encontrados com facilidade no mercado, a preços acessíveis. O conteúdo circulante por meio desses mecanismos são vídeos produzidos por emissoras de televisão convencionais, filmes, como também vídeos caseiros criados por indivíduos comuns que desejam compartilhar momentos corriqueiros com outras pessoas.

O papel do público

Percebe-se uma inversão no quesito produção de conteúdo. Não são somente as grandes empresas de comunicação que ditam as regras do que será transmitido. O público – receptor – tem um poder de escolha e de fabricação na era digital. Incentivados a participar, os receptores rompem com os envelhecidos padrões e buscam novas formas de se comunicar com o uso das ferramentas digitais. Há uma tendência entre empresários e pesquisadores na área da radiodifusão em afirmar que a audiência do futuro está nos dispositivos móveis.

Não se pode ignorar o fato de algumas pessoas ainda ficarem perdidas diante das novidades e se confundirem com nomes, técnicas e possibilidades. Além de existir no país uma desigualdade regional de recursos e acessos.

A grande questão a ser debatida é: a tecnologia, por si só, não basta, os hábitos dos brasileiros precisam se enquadrar à era moderna. Por mais ativo que seja o telespectador, ele ainda carece de incentivos para adequar-se às novidades.

Jarles da Silva Pereira
Missionário da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/tecnologia/a-televisao-e-voce-o-que-esta-mudando/

29 de abril de 2025

Maria, caminho para Cristo

A dimensão cristocêntrica da devoção mariana segundo São Luís Maria Grignion de Montfort

No coração da espiritualidade cristã, a figura da Virgem Maria ocupa um lugar privilegiado, não apenas como Mãe de Deus, mas também como modelo de discipulado e mediação.

Entre os grandes mestres da devoção mariana, São Luís Maria Grignion de Montfort (1673-1716) destaca-se pela profundidade teológica e espiritual com que delineou o papel de Maria no mistério de Cristo e da Igreja. A sua obra-prima, Tratado da Verdadeira Devoção a Maria, continua, até os dias de hoje, a servir de guia luminoso para todos os que desejam viver uma fé plenamente cristocêntrica através de uma consagração sincera e total a Maria.

São Luís afirma, com veemência, que a verdadeira devoção a Maria não se detém nela, mas conduz inevitavelmente a Jesus Cristo. Numa época em que a devoção mariana corria o risco de degenerar em sentimentalismo ou superstição, Montfort chama a atenção para o essencial: "Jesus Cristo, que é o nosso Salvador, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, deve ser o fim último de todas as nossas outras devoções. Caso contrário, elas seriam falsas e enganadoras. Jesus Cristo é o alfa e o ômega (Ap 1,18), o princípio e o fim de todas as coisas (Ap 21,6)" (TVDM, n.º 61)

Créditos: Domínio Público

Para Montfort, Maria é o caminho mais seguro, mais curto, mais perfeito e mais certo para alcançar a união com Jesus Cristo. (TVDM, n.º 152 – 168) A consagração "a Jesus por Maria" não é, portanto, um culto paralelo, mas um itinerário espiritual que segue o próprio caminho escolhido por Deus: a Encarnação. Deus veio até nós através de Maria; podemos e devemos voltar a Ele seguindo o mesmo caminho.

O gesto central da espiritualidade de Montfort é a consagração total a Jesus por Maria, também definida como "escravidão de amor". Este ato não tem nada de servil no sentido moderno do termo, mas exprime um amor radical e uma entrega total a Cristo, seguindo o exemplo da Virgem.

Ao entregar a Maria todo o seu ser — corpo, alma, bens interiores e exteriores — os fiéis confiam-se a Ela, que, com perfeita humildade, acolhe e torna fecunda toda a oferta para o Reino de Deus. Maria não guarda nada para si, mas molda-nos como verdadeiros discípulos do seu Filho, moldando-nos à imagem de Cristo. Montfort escreve: "Toda a nossa perfeição consiste em sermos conformes, unidos e consagrados a Jesus Cristo" (TVM, n.º 120).

A mariologia de Montfort é profundamente Cristocêntrica, na medida em que a sua cristologia implícita o é. Todas as afirmações sobre Maria estão enraizadas em Cristo: a sua maternidade, a sua mediação, a sua realeza, tudo deriva da sua união única com o Redentor. Maria é a criatura mais unida a Cristo e, por conseguinte, a mais poderosa intercessora junto d'Ele. Montfort insiste que Maria é a forma de Deus, ou seja, a criatura na qual o Espírito Santo formou Cristo e na qual quer formar também os seus membros. Não se trata de uma devoção paralela, mas de uma dinâmica imersa no mistério da Redenção.

Num tempo marcado pela confusão e pela crescente secularização, a espiritualidade de Montfort oferece uma orientação clara: voltar a Cristo através de uma aliança renovada com Maria. Trata-se de um caminho de humildade, abandono e confiança, que transformou a vida de santos como João Paulo II, que adotou o lema "Totus Tuus", retirado da fórmula de consagração de Montfort.

São Luís Maria Grignion de Montfort convida-nos a viver uma autêntica devoção mariana que não obscurece, mas exalta o primado de Cristo. Numa época em que se corre o risco de separar a fé do coração, ele propõe-nos uma espiritualidade encarnada, afetiva e profundamente teológica: seguir Maria para pertencermos mais plenamente a Jesus.


No entanto, é sobretudo na importante obra O Amor da Sabedoria Eterna (AES) que ele elabora uma reflexão extensa e sistemática sobre o mistério da cruz, no qual se manifesta a loucura do amor de Deus pelo mundo. Os capítulos 12 a 14 são particularmente interessantes, pois apresentam um programa de vida evangélica baseado na cruz e concluído com uma fórmula singularmente eficaz: "A Sabedoria é a Cruz e a Cruz é a Sabedoria" (AES 180).

Não basta conhecer tal Sabedoria: é necessário experimentá-la, adquiri-la e possuí-la. Por que meios e por que caminhos? Montfort propõe quatro: em primeiro lugar, um desejo ardente, que é um dom de Deus: "É a recompensa pela fiel observância dos mandamentos" (AES 182). O segundo meio é a oração incessante: "Que orações, que trabalhos não exige o dom da Sabedoria, que é o maior de todos os dons de Deus!" (AES 184).  O terceiro é a mortificação universal: "A Sabedoria, para ser comunicada, não requer uma mortificação frívola ou de poucos dias, mas uma mortificação total e contínua, corajosa e discreta" (AES 196). E, finalmente, aqui está "o meio mais maravilhoso de todos os segredos para adquirir e conservar a Sabedoria divina: uma terna e verdadeira devoção a Santíssima Virgem" (AES 203). Ela é a mãe da Sabedoria de Cristo, a árvore que produz frutos tão extraordinários.

"Qualquer que seja o dom que nos conceda, não fica satisfeita se não nos der a Sabedoria encarnada, Jesus, o seu Filho; ocupa-se, todos os dias, em procurar almas dignas dela para lha dar" (AES 207). Maria não é o fim, mas o caminho. Um caminho que nos conduz com suavidade, humildade e segurança ao próprio Coração do Evangelho: Jesus Cristo, nosso único Salvador.

Pe. Carlos Miguel José Vieira
Congregação dos Padres Monfortinos, Superior Delegado dos Monfortinos da Delegação Portuguesa.
Apresentador e colaborador de programas na Rádio e TV Canção Nova – Fatima/PT


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/nossa-senhora/maria-caminho-para-cristo/

27 de abril de 2025

Estão abertas as portas da misericórdia!

As portas da misericórdia estão abertas para todos!

No mesmo dia de sua Ressurreição, Jesus se apressou em manifestar-se aos seus discípulos. O amor toma logo a iniciativa, indo ao encontro daquele grupo de homens muito amados e ao mesmo tempo inseguros, cuja firmeza só poderá vir do grande presente que o Senhor estava para dar-lhes, o sopro do Espírito Santo. Passam-se os séculos e a porta da misericórdia continua aberta para todos. A Oitava da Páscoa se conclui com a Festa da Misericórdia, quando testemunhamos o Senhor soprando sobre seus discípulos, confiando-lhes o serviço da misericórdia e do perdão, a ser exercido no correr dos séculos.

Créditos: Domínio Público

Coincidência? Não! Providência amorosa de Deus!

Muitos séculos depois, São João Paulo II, que escreveu uma excelente Encíclica sobre a misericórdia e instituiu esta festa a ser comemorada a cada ano no segundo Domingo da Páscoa, voou para o Céu no cair da tarde que a precede. Agora, tendo sido chamado para junto de Deus na manhã da segunda-feira de Páscoa, celebram-se os funerais do grande Papa Francisco, no mesmo sábado! Coincidências? Não! Providência amorosa de Deus, no amor ao Papa e à Igreja.

Treze anos de um pontificado que abriu as portas da Igreja

Somos chamados a entregar juntos ao Céu o presente que foram estes quase treze anos de Pontificado do Papa Francisco. Ele deixa marcas preciosas na Igreja e no mundo! Podemos pensar um pouco de longe, na repercussão havida no mundo inteiro! Santo orgulho temos os cristãos católicos ao afirmar, com clareza, que nossa época não possui um outro líder do porte do Papa Francisco. Sua presença corajosa diante das autoridades mundiais, a graça especial que a Providência nos concedeu de o Estado da Cidade do Vaticano ser independente, dando a liberdade para manifestar-se, em primeiro lugar na voz do Papa. Em todas as questões que dizem respeito à paz, à justiça, ao justo equilíbrio entre as nações e, mais ainda, quanto à dignidade humana, especialmente dos mais pobres e de todos os oprimidos da terra.

Seu Pontificado abriu as portas da Igreja e sensibilizou o mundo para a ecologia e o grande desafio das mudanças climáticas. A Encíclica Laudato Si e a Exortação Apostólica Laudate Deum marcaram época e se tornaram referências permanentes para os assuntos que agora são tratados e cujas soluções são buscadas por todo o mundo. Especialmente nos meses que nos separam da COP 30, a ser celebrada em nossa cidade de Belém.

Marcas da solidariedade

Na perspectiva do mandato apostólico que lhe foi entregue, repetiu com insistência que deveríamos ser uma "Igreja em saída". Espalhou-se pelo mundo sua proposta de que a Igreja é como um "Hospital de Campanha", para acolher todos aqueles que de alguma forma estão feridos e machucados. Basta lembrar que nos primeiros meses de seu
Pontificado, visitando Lampedusa, deu o tom de sua atenção às urgências sociais. Como a migração, as periferias das cidades e da sociedade, a superação da chaga da guerra, infelizmente existente em vários pontos da terra. Por onde passou, deixou marcas de solidariedade para com os mais pobres, suscitando a exigência de continuar no mesmo rastro por ele deixado.

Como a Igreja é sempre passível de crescimento e reforma, ficam para todos nós as exigências da fraternidade a ser desenvolvida, como nos ensinou na Encíclica "Fratelli tutti". E podemos penetrar pelos umbrais das portas da Igreja, que desejou estarem sempre abertas! Em seu coração, a participação de todos, homens e mulheres, o espírito
sinodal do qual não podemos mais fugir. Com o envolvimento orante, fiel à Palavra de Deus e decidido a discernir o que o Espírito Santo diz às Igrejas. Se acompanhamos a liturgia por ele presidida, encontraremos fidelidade irretocável, com simplicidade e dignidade, homilias profundas, breves e tocantes.

A paixão acompanhou o seu pontificado

Quantas delas nos serviram de referência para pregar ao Povo de Deus! E uma paixão acompanhou o seu Pontificado, a verdade, buscada e anunciada junto com a caridade, sem passar as mãos na cabeça de ninguém,incomodando e desacomodando positivamente a todos nós cristãos, ao indicar a meta a ser alcançada. Pareceu-nos nos últimos meses aplicadas ao Papa palavras de São Paulo: "A minha expectativa e esperança é de que não vou perder a causa, em qualquer hipótese. Pelo contrário, conservarei toda a minha segurança e, como sempre, também agora Cristo será engrandecido no meu corpo, quer eu escape da morte, quer não. Para mim, de fato, o viver é Cristo e o morrer, lucro. Ora, se, continuando na vida corporal, eu posso produzir um trabalho fecundo, então já não sei o que escolher. Estou num grande dilema: por um lado, desejo ardentemente partir para estar com Cristo – o que para mim é muito melhor –; por outro lado, parece mais necessário para o vosso bem que eu continue a viver neste
mundo. Certo disto, sei que vou permanecer e continuar convosco, para o vosso progresso e alegria da fé" (Fl 1,20-25).

Papa Francisco espalhou misericórdia por onde passou

A diversidade das vocações o levou a propor orientações seguras e firmes para a formação dos ministros da Igreja, com coragem para corrigir e ao mesmo tempo estimular ao crescimento de cada pessoa chamada a uma especial forma de consagração ao Senhor. Os Bispos, os Presbíteros e Diáconos o sentiram como voz potente e exigente,
para serem modelos do rebanho.

Enfim, "Miserando atque eligendo – Olhou-o com misericórdia e o escolheu" foi o seu lema. Espalhou misericórdia por onde passou, desejou ir aos recantos mais desafiadores da humanidade e do coração das pessoas. Nós o vimos declarando-se pecador, como todos o somos, e se deixou fotografar ajoelhado num confessionário da Basílica de São
Pedro, com o também acolheu pecadores para o Sacramento da Reconciliação, anualmente foi a presídios romanos para o lava-pés da Quinta-feira Santa. Proclamou a necessidade de não condenar as pessoas, mas oferecer a todos a riqueza da misericórdia de Deus.


Como sabemos que "todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm descendo do Pai das luzes, que desconhece fases e períodos de sombra, e que de livre vontade ele nos gerou, pela Palavra da verdade, a fim de sermos como que as primícias de suas criaturas" (cf. Tg 1,17-18), de verdade, somos felizes, sabendo que o Céu abriu-lhe as portas na
Segunda-feira de Páscoa e pôde levar a humanidade consigo, amado e respeitado, homem das Dores e das Alegrias, e nós o entregamos com alegria e não com lamentações. Celebrou seu próprio Jubileu, como peregrino de Esperança, chegando à Casa do Pai.

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte; https://formacao.cancaonova.com/igreja/estao-abertas-portas-da-misericordia/

25 de abril de 2025

Pai, perdoa-lhes!

O grito de dor e de amor

O Filho de Deus crucificado, dirigindo-se ao Pai, a quem obedece amorosa e incondicionalmente, rompe, em um brado, o silêncio dos corações enternecidos pela contemplação de seus sofrimentos. Homem das dores, chagado, ensanguentado, vítima da violência cega que algozes lhe impuseram.

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

O grito de Jesus cala a algazarra dos curiosos e dos perversos que acompanhavam os desdobramentos de sua condenação. É grito de dor e de amor, escancarando as portas do coração de Deus pela súplica do Redentor: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem!" Os sofrimentos de Jesus, a sua crucificação, revelam o Seu Amor e a Sua compaixão dedicados à humanidade.

Garantia de resgate e de redenção

Pela cruz, o desígnio do Pai, com a anuência amorosa do Filho Amado, vem a salvação para os que creem em Cristo. Sob o olhar dos místicos, a cruz é a nova arca que carrega os seres humanos de todas as origens, em referência simbólica à arca de Noé, na travessia do dilúvio que impõe ao mundo os horrores da morte. A cruz possibilita essa passagem para a paz eterna.

O sacrifício de Cristo, assim, é garantia de resgate e de redenção. Oportunidade concedida pelo Redentor a todos os que nele creem. Conta o olhar voltado ao mistério de Sua Paixão e Morte, momento singular desta Sexta-feira Santa, pelo rito de sua celebração na ação litúrgica, vivido na mesma hora da morte redentora.

Exemplares nesse olhar são as mulheres que desceram com o Mestre, da Galileia à Judeia, corajosas e coerentes nas lágrimas derramadas. Elas, apesar das violências ameaçadoras, testemunharam, sem medo, que eram discípulas de Jesus, pela disposição física e espiritual de acompanhá-lo onde quer que fosse. Ouvem de Cristo a recomendação para que não chorassem por Ele, mas pelos seus filhos – aqueles que, conforme profetizou Jesus, chegariam a praticar horrores.

A fragilidade humana que leva ao posicionamento ao lado da mentira e os preconceitos que alimentam o ódio

O coração de uma mãe dói quando vê a covardia e a fragilidade de um filho, como aquelas cometidas por Pedro, que não conseguiu responder à simples interrogação curiosa e despretensiosa a respeito de ser ele um dos discípulos do mestre. A mesquinhez que nasce do medo leva Pedro a dizer que não conhece Jesus. Uma fragilidade humana que o leva a negociar a verdade, posicionando-se do lado da mentira, sem força para responder sinceramente àquela gente simples.

Já os poderosos, reduzem o interesse de ver Jesus ao anseio por assistir a um milagre, conforme mostra a conduta de Herodes, de compreensão estreita, que acaba por tratar o Mestre com desdém e zombarias. Outro fraco e sem pulso, que negociou a verdade, é Pôncio Pilatos, cedendo à condenação de Cristo, conivente com a escolha cega e irracional de um homicida e salteador, Barrabás. Uma atitude que comprova os riscos dos preconceitos que alimentam o ódio, ameaçando a razoabilidade nas escolhas que poderiam levar à liberdade.

Inspiradora é a atitude do centurião romano, no exercício de seu ofício e do seu dever, tendo acompanhado, silenciosamente, as cenas da condenação e da crucificação, com um olhar que o leva, embora pagão, a captar a verdade de Cristo. Ele conclui que Jesus é verdadeiramente o Filho de Deus. Uma confissão experimentada como convicção, desenhando o caminho que pode curar as covardias, as discriminações, as indiferenças em relação aos sofrimentos alheios.

Uma humanidade que compromete a sacralidade da dignidade humana

Pode curar ainda a soberba que leva à manipulação da verdade em favor do exercício de poderes que escravizam, justificam privilégios oligárquicos e um estilo de vida que dizima os bens da Criação, impondo à parcela maior da humanidade um viver em regime de escravidão econômica, social, cultural e ambiental. Uma humanidade de gente que não sabe o que faz, convencida de verdades enjauladas na mesquinhez da ganância comprometendo a sacralidade da dignidade humana. Um verdadeiro e perverso deboche, distanciado da humildade consciente daquele malfeitor que repreende seu companheiro de suplício, os dois ao lado de Jesus, no Calvário.

O convite para mergulhar na profundeza do amor de Deus

O humilde malfeitor, na contramão das insolências contra Jesus, compreendeu que a Cruz de Cristo, no centro do Calvário, é altar de redenção. Pede ao verdadeiro sumo-sacerdote, vítima imolada por amor: "Lembra-te de mim quando estiveres no paraíso". De dentro de seu suplício, brotou a lucidez amorosa da presença de Deus, para ouvir, em sequência, a promessa do Redentor: "Hoje mesmo estarás comigo no paraíso". E a prece do crucificado – "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem" – é o convite a cada ser humano a mergulhar na profundeza do amor de Deus para encontrar a fonte inesgotável de alegrias que duram, assimilar valores e posturas que sustentam
qualificada envergadura moral, fazendo com que a conduta humana busque sempre promover a solidariedade e a fraternidade universal.


O silêncio que emoldura a algazarra do mundo contemporâneo, com guerras de todo tipo, é o caminho oferecido pela Sexta-feira da Paixão, para fecundar o deserto da interioridade, encharcando a terra seca dos corações, e fazer florir jardins com a semeadura do amor. Ecoe na condição frágil de cada um a prece do Senhor: "Pai, perdoa-lhes"- oportunidade para se sensibilizar e se reconhecer destinatário da salvação conquistada por Cristo, com a Sua Paixão, Morte e Ressurreição.

É a vida nova pela vitória sobre a morte para que ninguém pereça. Pela amorosa e contemplativa consideração das dores e sofrimentos da humanidade, os que verdadeiramente seguem Jesus tornam-se instrumento para construir um novo tempo, marcado pelos valores do Evangelho. O primeiro passo é reconhecer-se na lista dos que "não sabem o que fazem", humildemente percebendo-se presente na súplica do crucificado – "Pai, perdoa-lhes"!

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/liturgia/grito-de-jesus-na-cruz-redencao-e-esperanca/

23 de abril de 2025

Papa Francisco: um latino-americano que falou ao mundo

A passagem de uma Igreja autorreferencial para uma Igreja de referência na sociedade contemporânea

Pela primeira vez na História, um Latino-Americano é eleito para governar a Igreja Católica Apostólica Romana. No dia 17 de dezembro de 1939, nascia em Buenos Aires, Argentina, o homem que seria, anos mais tarde, o Sucessor de Pedro, Vigário de Cristo. Dados históricos que ganham força ao olharmos para o que significou para o mundo o Hemisfério Sul desde o processo denominado colonização espanhola e portuguesa.

Crédito: Jeffrey Bruno

Lembro-me que, em meados de 2010, eu escutava atento, nas aulas de Teologia Pastoral, a necessidade que a Europa tinha de ser reevangelizada e que isso poderia acontecer através da América Latina, afinal, os desafios pastorais e eclesiológicos que as terras da América possuíam faziam dela um grande laboratório de produção teológica e doutrinal. Haja vista os documentos como Medelín, Puebla e Aparecida, que trouxeram para a Igreja reflexões necessárias para que ela pudesse enfrentar momentos difíceis e páginas dolorosas de sua história mais recente.

Pensamentos, escritos, produções, encontros e reuniões que proporcionaram à sociedade uma Igreja presente na América Latina, filha legítima do Concílio Vaticano II que trazia como pano de fundo o desejo da Igreja em diálogo com o mundo. Foi um homem inserido neste contexto que os Cardeais, reunidos em Conclave no ano de 2013, elegeram para suceder o pontificado de Bento XVI.

"Vós sabeis que o dever do Conclave era dar um Bispo a Roma. Parece que os meus irmãos cardeais tenham ido buscá-lo quase ao fim do mundo… Eis-me aqui!" Com essa frase, em seu primeiro discurso ao mundo, Francisco demonstra a consciência de um momento novo para História da Igreja. Em minha análise, um momento no qual a sociedade e a Igreja queriam ouvir a América Latina. Por isso foram "buscá-lo" tão longe.

O que tinha a América Latina para dizer?

"E, agora, iniciamos este caminho, Bispo e povo…" – A importância do caminhar junto. A Igreja protagonizada pelo Papa Francisco tinha o desejo de romper com as distâncias estabelecidas pelas burocracias hierárquicas. Bem por isso pedia ele que padres, bispos pudessem ser pastores com o cheiro das ovelhas. Uma Igreja viva e renovada, dia a dia, pelos desafios a ela impostos.

Sem medo de enfrentá-los, sem medo de estar nas "periferias humanas", ainda como ele mesmo expressou: "Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças" – uma compreensão de que a Instituição não podia ser autorreferencial, mas jamais deveria deixar de ser a referência. Era isso que a América Latina tinha a dizer ao mundo, partindo das experiências humanas mais sensíveis vivenciadas em cada realidade de carência ou de riqueza presente nas terras das Américas.

Não poucas vezes, ouvi de padres italianos: "Somente daqui alguns anos a Igreja entenderá Francisco" – tão logo se vê, Francisco não foi apenas um homem latino-americano que chegou ao mais alto grau de hierarquia de uma instituição universal, mas, na pessoa dele está catalisada uma Igreja que é escola para o mundo.


Não é mais sobre as contatações das navegações de outrora que fez o Ocidente conhecer as terras do hemisfério sul, e, por um momento, pensar que poderia dominá-lo, mas é sobre o que aprendemos juntos.

Para mim é claro que toda a proposta de Diálogo com o mundo, presente na vida e no pontificado de Francisco, era a síntese de uma relação milenar da Igreja com a Sociedade. Ele foi um marco, que referencia a passagem de uma Igreja que dialoga com o mundo, para uma Igreja que se apresenta, novamente, tal como nos primórdios do cristianismo, uma opção ao mundo.

Opção de quê? De convergência em meio tantas divergências; de escuta em meio a tantos que desejam impor suas vozes; de silêncio em meio aos barulhos causados pelos ruídos da avalanche de informações e fake news; de paz em meio a tantas guerras.

Os últimos dias do Papa Francisco foram vividos com a intensidade de um pastor atento, sua voz já cansada, seu modo despojado em que apareceu em uma visita na basílica vaticana há alguns dias, seu desejo de estar no meio do povo, de tocar as crianças, era um ecoar apostólico daquele "combati o bom combate… guardei a fé".

Referências:
CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO. Documento conclusivo de Medellín. Medellín: CELAM, 1968. Disponível em: https://www.celam.org/documentos/Documento_Conclusivo_Medellin.pdf
CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO. Documento conclusivo de Puebla. Puebla: CELAM, 1979. Disponível em: https://www.celam.org/doc_conferencias/Documento_Conclusivo_Puebla.pdf
CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO. Aparecida Document: V General Conference of the Latin American and Caribbean Bishops. Aparecida: CELAM, 2007.  Disponível em: https://www.celam.org/aparecida/Ingles.pdf
IGREJA CATÓLICA. Concílio Vaticano II: Documentos. Vaticano: Santa Sé, [s.d.]. Disponível em: https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/index_po.htm.
FRANCISCO, Papa. Bênção Urbi et Orbi. Vaticano: Santa Sé, 2013. Disponível em:
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2013/march/documents/papa-francesco_20130313_benedizione-urbi-et-orbi.html
FRANCISCO, Papa. Bênção Urbi et Orbi. Vaticano: Santa Sé, 2013. Disponível em:
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FRANCISCO, Papa. Santa Missa Crismal. Vaticano: Santa Sé, 2013. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2013/documents/papa-francesco_20130328_messa-crismale.html
FRANCISCO, Papa. Evangelii Gaudium: Exortação Apostólica sobre o anúncio do Evangelho no
mundo atual. Vaticano: Santa Sé, 2013. Disponível em:
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20131124_evangelii-gaudium.html

Padre Robson Caramano
Padre da Diocese de São Carlos, Mestre em Linguagens, Mídia e Arte pela PUC Campinas e aluno do Programa de Mestrado em Filosofia com Especialização em Filosofia Prática da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Coordenação do Departamento de Comunicação do Pontifício Colégio Pio Brasileiro


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/papa-francisco-um-latino-americano-que-falou-ao-mundo/

22 de abril de 2025

Os olhos que falam!

Cuidar dos pequenos, um chamado de fé

A espiritualidade católica enfatiza a proteção das crianças como um dever sagrado, reconhecendo sinais de sofrimento silencioso como "olhos que comunicam" – expressões apagadas que podem indicar um pedido de socorro. A fé católica, fundamentada na dignidade humana e na proteção dos vulneráveis, oferece uma perspectiva crucial para entender e combater o abuso infantil, uma realidade sombria que contradiz o ideal de uma infância protegida e amorosa. A tradição católica considera a proteção das crianças uma responsabilidade coletiva, convocando os fiéis a estarem atentos aos sinais de sofrimento e a agirem em defesa da integridade física, emocional e espiritual dos pequenos.

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

Identificar o abuso infantil é desafiador porque crianças, frequentemente, não conseguem expressar verbalmente seu sofrimento, exigindo vigilância constante de todos ao seu redor quanto a sinais físicos (hematomas inexplicáveis, lesões, queimaduras, dores persistentes, distúrbios de sono e alimentação), comportamentais (mudanças bruscas de humor, agressividade ou retraimento, medos específicos, regressão comportamental, dificuldade de concentração, isolamento social, comportamentos sexuais inapropriados) e emocionais (ansiedade, depressão, baixa autoestima, culpa, vergonha, alterações de humor, choro excessivo, pesadelos). Embora a presença desses sinais não confirme definitivamente o abuso, eles servem como alerta para uma observação mais atenta e possível intervenção profissional.


Ver com os olhos de Cristo, cuidar e proteger

Na perspectiva católica, identificar sinais de abuso infantil transcende a simples vigilância, constituindo um ato de amor cristão e cumprimento do mandamento de cuidar do próximo. Essa abordagem espiritual nos convida a "enxergar com os olhos de Cristo", reconhecendo a vulnerabilidade das crianças e respondendo com empatia e ação concreta, reminiscente da parábola do Bom Samaritano (Lucas 10,25-37), que nos ensina a não ignorar o sofrimento alheio. A Igreja Católica enfatiza sua responsabilidade na proteção infantil, promovendo educação e conscientização sobre abuso em todos os níveis da comunidade, enquanto a espiritualidade cristã nos chama a criar ambientes seguros onde as crianças se sintam amadas, respeitadas e encorajadas a se expressar quando em sofrimento. Práticas como oração, meditação bíblica e participação nos sacramentos podem aguçar nossa sensibilidade ao sofrimento dos outros e fortalecer nossa coragem para defender os mais vulneráveis.

Os "olhos que falam" das crianças abusadas clamam por nossa atenção e ação concreta; a tradição católica nos convoca a ir além da simples observação, desenvolvendo uma escuta atenta e um olhar compassivo capaz de identificar sinais de sofrimento. Nossa fé deve nos impulsionar a sermos agentes de cura e proteção, construindo comunidades onde a dignidade infantil seja respeitada e o amor divino se manifeste através de nosso cuidado e justiça, permitindo que as vozes silenciadas das crianças encontrem eco em nossa resposta protetora.

Alex Garcia Costa
CRP 06/108306
Psicólogo e Filosofo
Especialista em Neuropsicologia, Avaliação Psicológica Clínica, Direito Canônico para Vida
Religiosa e Estudante de Sexualidade Humana.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/os-olhos-que-falam/