1 de agosto de 2025

Deus chama o Seu povo a viver a santidade

Desde a Antiga Aliança, realizada por meio dos Patriarcas, Deus chama o povo à santidade: 'Eu sou o Senhor que vos tirou do Egito para ser o vosso Deus. Sereis santos porque Eu sou Santo' (Lv 1,44-45).

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O desígnio de Deus é claro: uma vez que fomos criados à sua "imagem e semelhança" (Gen 1,26), e Ele é Santo, nós temos que ser santos também. O Senhor não deixa por menos. A medida, a essência dessa santidade é o próprio Deus. São Pedro repete essa ordem dada ao povo no deserto, em sua primeira carta, convocando os cristãos para imitar a santidade de Deus: "A exemplo da santidade daquele que vos chamou, sede também vós santos, em todas as vossas ações, pois está escrito: 'Sede santos, porque eu sou santo'" (1Pe 1,15-16).

São Pedro exige dos fiéis que "todas as vossas ações" espelhem esta santidade de Deus, já que "vós sois uma raça escolhida, um sacerdócio régio, uma nação santa, um povo adquirido para Deus, a fim de que publiqueis o poder daquele que das trevas vos chamou à sua luz maravilhosa" (1Pe 2,9). Para São Pedro, a vida de santidade era uma imediata consequência de um povo que ele chamava de "quais outras pedras vivas (…), materiais deste edifício espiritual, um sacerdócio santo" (1Pe 2,5).

O cristão é chamado a viver a santidade

Neste sentido, exortava os cristãos do seu tempo a romper com a vida carnal: "Luxúrias, concupiscências, embriagues, orgias, bebedeiras e criminosas idolatrias" (1Pe 4,3), vivendo na caridade, já que essa "cobre a multidão dos pecados" (1Pe 4,8).

Jesus, no Sermão da Montanha, chama os discípulos à perfeição do Pai: "Sede perfeitos assim como o vosso Pai celeste é perfeito" (Mt 5,48). Essas palavras fazem eco ao que Deus já tinha ordenado ao povo no deserto: "Sede santos, porque eu sou santo" (Lv 11,44). Jesus falava da bondade do Pai, que ama não só os bons, mas também os maus, e que "faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos" (Mt 5,45). Jesus pergunta aos discípulos: "Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis?"(46). Para o Senhor, ser perfeito como o Pai celeste é amar também os inimigos, os que não nos amam. "Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos perseguem e vos maltratam"(44). E mais ainda: "Não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra"(39).

Sem dúvida, não é fácil viver essa grande exigência que Jesus nos faz, mas é por isso mesmo que, ao cumpri-la, vamos nos tornando santos, perfeitos, assim como o Pai celeste.

O caminho de santidade não é fácil

Todo o Sermão da Montanha, que São Mateus relata nos capítulos 5, 6 e 7, apresenta-nos o verdadeiro código da santidade. É como dizem os teólogos, a "Constituição do Reino de Deus". Santo Agostinho nos assegura que: "Aquele que quiser meditar com piedade e perspicácia o Sermão que nosso Senhor pronunciou no Monte, tal como o lemos no Evangelho de São Mateus, aí encontrará, sem sombra de dúvida, a carta magna da vida cristã" (CIC, Nº 1966). Por isso, na festa de todos os santos, a Igreja nos faz ler, no Evangelho as Bem-aventuranças, que são o início, e como que o resumo, de todo o Sermão do Monte.

É importante perceber que São Paulo começa quase todas as suas cartas lembrando os cristãos do seu tempo de que são chamados à santidade. Aos romanos, logo no início, ele se dirige dizendo: "A todos os que estão em Roma, queridos de Deus, chamados a serem santos" (Rom 1,7). Aos coríntios, ele repete: "à Igreja de Deus que está em Corinto, aos fiéis santificados em Cristo Jesus chamados à santidade com todos" (1Cor 1,2). Aos efésios, ele lembra, logo no início, que o Pai nos escolheu em Cristo: "Antes da criação do mundo para sermos santos e irrepreensíveis diante de seus olhos" (Ef 1,5). Aos filipenses, ele pede que "o discernimento das coisas úteis vos torne puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo" (Fil 1,10).

"Fazei todas as coisas sem hesitações e murmurações, a fim de serdes irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus íntegros no meio de uma geração má e perversa" (Fil 2,14) .


Para o Apóstolo, a santidade é a grande vocação do cristão. Ele diz aos efésios: "Exorto-vos, pois (…), que leveis uma vida digna da vocação a qual fostes chamados, com toda humildade, mansidão e paciência" (Ef 4,1). De maneira mais clara ainda, ele fala aos tessalonicenses sobre o que Deus quer de nós: "Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação; que eviteis a impureza; que cada um de vós saiba possuir o seu corpo em santificação e honestidade, sem se deixar levar pelas paixões desregradas como fazem os pagãos que não conhecem a Deus" (1 Tess 4,3-5).

Aos cristãos de Corinto, Paulo volta a insistir na sua segunda carta: "Purifiquemo-nos de toda a imundice da carne e do espírito realizando a obra de nossa santificação no temor de Deus" (2 Cor 7,1). Para o Apóstolo, a santificação de cada um é como a realização de uma obra muito importante.

E também a carta aos Hebreus, escrita por São Paulo ou algum dos seus discípulos, nos manda procurar a santidade: "Procurai a paz com todos e, ao mesmo tempo, a santidade, sem a qual ninguém pode ver o Senhor" (Heb 12,14).

Todas essas passagens da Sagrada Escritura, e muitas outras, deixam claro a nossa vocação para uma vida de santidade. Santa Teresa de Ávila afirma: "O demônio faz tudo para nos parecer um orgulho o querer imitar os santos". A santidade ainda não é um fim, mas o meio de voltarmos a ser "imagem e semelhança" de Deus, conforme saímos de suas mãos.

A imagem e semelhança de Deus

São Paulo ensina, na Carta aos Romanos, que Deus nos quer como autênticas imagens de Jesus: "Os que ele distinguiu de antemão, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que este seja o primogênito entre uma multidão de irmãos" (Rom 8,29).

A santificação, portanto, consiste em cada cristão se transformar numa cópia viva de Jesus, "um outro cristo" como diziam os santos Padres. Quando a imagem de Jesus estiver formada em nossa alma, então teremos chegado à meta que Deus nos propõe. É aquele estado de vida que levou, por exemplo, São Paulo a exclamar: "Eu vivo, mas já não sou mais eu, é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus" (Gal 2,20).

Jesus sofreu toda a Sua Paixão e Morte a fim de que recuperássemos, diante do Pai, a santidade. É o que o apóstolo nos ensina: "Eis que agora Ele vos reconciliou pela morte de seu corpo humano, para que vos possais apresentar santos, imaculados, irrepreensíveis aos olhos do Pai"(Col 1,22).

 



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/deus-chama-o-seu-povo-a-viver-a-santidade/

31 de julho de 2025

Vencer a si mesmo, ordenar a vida e os afetos

O jovem Iñigo, antes de se tornar Inácio de Loyola

O jovem Iñigo (1491), antes de se tornar Inácio de Loyola, viveu intensamente uma vida como a maioria dos jovens rapazes do seu tempo. Iñigo, antes da conversão, arriscou a vida toda por suas paixões e pela meta que ele tinha, ser grande, alcançar a glória do mundo. Mas foi na batalha de Pamplona (1521) que a vida dele deu uma guinada.

Santo Inácio de Loyola.

Uma bala de canhão foi suficiente para redimensionar tudo em sua vida. Acamado e impossibilitado de voltar às batalhas e defender o reino ao qual servia, iniciou uma grande batalha de volta à sua própria vida e história. Pouco a pouco, ele foi sendo conduzido ao que hoje chamamos de primeira conversão a partir da leitura espiritual da vida de Cristo e dos Santos. Percebeu o quão vazia e desprovida de sentido estava a sua vida. Entrou em crise e optou por ir atrás de responder as perguntas que bateram à sua porta naquele momento da vida: qual o sentido da minha vida? O que posso fazer por Cristo? Se alguns santos fizeram tanto, por que eu também não posso? E assim, deixou tudo para trás e saiu meio manco em busca de si mesmo e de Deus.

A profunda experiência mistica de Inácio de Loyola

Em Manresa, à beira do Rio Cardoner, ele fez uma profunda experiência mistica, quando percebeu que tudo vinha de Deus e para ele voltava. Viu, aí, o movimento da sua vida, e que esta deveria voltar para Deus como serviço e amor. Serviu aos pobres, mendigou, mas nunca mais abandonou a sua vida interior.

Foi sentado à beira do rio da sua vida que ele se abriu à nova etapa da peregrinação interior, a qual chamamos de segunda conversão. Ele percebeu que era necessário sair do centro, sentir e saborear o modo como Deus trabalha sempre e como cuida de tudo e de todos. Percebeu como todas as coisas brotavam do alto, e também que tudo o que tinha e era, assim como os dons particulares, provinha de Deus.

Passo a passo, Inácio de Loyola vai anotando tudo o que vivia internamente e, assim, nasceram os Exercícios Espirituais e o Diário Espiritual. Dois registros fundam então uma escola nova, conduzindo homens e mulheres na direção daquele que tudo habita.

As duas etapas da conversão de Inácio

As duas etapas da conversão de Inácio fizeram brotar para a Igreja um vasto material escrito e, ao mesmo tempo, prático, uma vez que Inácio aplicava o que escrevia na vida de várias pessoas. O seu ministério, primeiro como leigo e depois como padre, foi a escuta profunda e a pregação de Exercícios espirituais.

Inácio inaugurou alguns novos modos de orar a partir da atenção e da respiração, ao mesmo tempo, do encontro com o Senhor "como um amigo fala a outro amigo", fazendo brotar uma oração que criava relação da criatura com o Criador.

Essa nova relação, em silêncio e escuta profunda, ajudou que fossemos em direção àquilo que nos falava dentro, ajudando-nos a perceber que o que sentíamos tinha nomes: consolação e desolação. Essa identificação, silêncios, orações, atenção plena na vida e na palavra, nos ajudariam a tomar decisões e fazer escolhas, "eleições" para a vida, ou mesmo reformá-las, mas sempre a partir da ordenação dos afetos e da vida interior, para que não nos deixássemos decidir por afetos desordenados. Sendo assim, a espiritualidade inaciana é fruto da experiência vivida por Inácio, aplicada por ele na vida de outras pessoas, e que hoje figura como um tesouro cada dia mais atual.

Inácio de Loyola, o santo do discernimento

Inácio de Loyola, o mestre dos desejos, é o santo do discernimento. Ele aponta para esta mais do que nunca necessária vida interior e, ao mesmo tempo, aponta para uma fé acompanhada, ou seja, potencializou o papel fundamental da orientação espiritual, mostrando que Deus fala e se relaciona, mas que é necessária uma terceira escuta, a de uma pessoa que ajuda a discernir as "moções interiores" em busca da tão desejada vontade de Deus. Imaginemos que estamos falando do século XVI, quando tudo estava se abrindo ao mundo moderno e que, ao mesmo tempo, estava a Igreja vivendo um momento de mística profunda com os tão grandes místicos espanhóis, como Teresa e João da Cruz.

Neste caminho, Inácio de Loyola torna-se referência para quem quer entrar neste caminho de peregrinação interior, afinal, ele mesmo se intitulou de o Peregrino em sua autobiografia. Ele tinha muito claro que habitava um momento da história em que era necessário lucidez, discernimento e generosidade para servir e amar a Cristo e a Igreja de Cristo.


Vencer a si mesmo, ordenar a vida e os afetos

A história de Inácio de Loyola é um hino de gratidão ao modo como Deus trabalha em nossa alma, mesmo que não tenhamos a clareza suficiente, mas ele nos revela na história de tal santo que o seu amor nunca nos abandona, e que sempre é tempo de voltar para casa, habitar a sua casa interior e não ter medo de fazer as perguntas fundamentais para a vida e para vencer as batalhas mais profundas: o que fiz por Cristo? O que faço por Cristo? O que devo fazer por Cristo? Com estas perguntas, nunca estaremos longe de conhecer a Sua vontade.

Vencer a si mesmo, ordenar a vida e os afetos será sempre um convite para quem deseja ir na contramão de uma sociedade sem espírito, sem alma e sem eternidade, que valoriza o estético, o tétrico e a falta de empatia com os irmãos e irmãs, de modo especial os preferidos do Reino, os mais pobres.

O Exemplo de Inácio de Loyola nos ajuda, hoje, a entender que sem a oração pessoal, sem o silêncio e sem o discernimento, não estaremos prontos para escutar o Espírito que fala à Igreja, como nos lembrava tanto o Papa Francisco em seu caminho sinodal, sendo hoje, aprofundado pelo Santo Padre Leão XIV. A santidade hoje passa pela vida interior, pelo serviço e pela generosa abertura ao "Espírito que ora em nós", para que aprendamos dele, "pois não sabemos orar como convém".

Santo Inácio, interceda por nós. Amém.

Pe. José Laércio de Lima SJ


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/vencer-a-si-mesmo-ordenar-a-vida-e-os-afetos/

30 de julho de 2025

Como está o barco da sua vida: estacionado ou navegando?

Você já viu algum barco lindo, porém, parado, estacionado? Sempre quando vejo, fico pensando como eles estariam mais "bonitos" se estivessem sendo utilizados. Se eles estivessem transportando pessoas, com certeza, eles alegrariam o coração de todos que estivessem a bordo através de seus passeios em alto mar, trariam a felicidade da descoberta de um local desconhecido.

A paz vinda pelo avanço nas águas, a suavidade interior ocasionada pelo frescor do vento em seus rostos, aquele friozinho gostoso na barriga pelos balanços provocado pelo movimento da água; enfim, muita coisa poderia acontecer se eles estivessem em exercício, e não estacionados.

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Como está o seu barco?

Muitas vezes, nós somos esse barco lindo, mas ancorado, que esqueceu que não foi feito para ficar no porto, mas para navegar. Podemos pensar em nossos dons como esse barco lindo, mas parado. Quantos dons carregamos em nós! Mas, em vez de usá-los, nós os deixamos ali guardados dentro de nós.

Às vezes, algumas pessoas até sabem que temos esses dons, e elas só podem ter uma lembrança ou um "ouvir falar", mas nunca vão vê-los em ação, porque não os colocamos em prática. Por inúmeros motivos, não expomos nossos dons, ora porque não achamos que sejam tão bons quanto deveriam ser, ora por vergonha, ora por não querer assumir as responsabilidades que vêm com eles, e então nos fechamos, não os colocamos a serviço do outro, não beneficiamos alguém com aquilo que nos foi dado pelo próprio Deus.


Como você tem usado seus dons?

Todo dom vem de Deus, e mesmo que tenhamos despejado esforços para que eles fossem aprimorados ou se tornassem naturais em nós, foi o bom Senhor que nos concedeu. E nos deu com um propósito.

Que nunca nos esqueçamos: é dom, mas também é tarefa. É um presente que recebemos para presentear a outros.

Você já sabe quais são os seus dons? Eles estão sendo usados ou estão guardados?



Regiane Calixto

Regiane Calixto é natural de Caxambu (MG). É graduada em Ciência da Computação e pós-graduada em Gestão de Veículos de Comunicação. Encontrou na tecnologia e na comunicação um grande meio para levar às pessoas o Evangelho vivo e vivido. Instagram: @regianecn


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/como-esta-o-barco-da-sua-vida-estacionado-ou-navegando/

28 de julho de 2025

Amor concreto

Amar-nos uns aos outros como Ele nos amou

A revelação do mandamento do amor foi progressiva da parte de Jesus. Valorizou o mandamento do amor ao próximo como a si mesmo, fez com que este fosse considerado semelhante ao primeiro de todos, o amor a Deus, mostrou quem é o próximo com a parábola do bom Samaritano, aquele de quem eu me aproximo, até chegar, já na última Ceia, a abrir totalmente seu coração, dando o que chamou de seu mandamento.

Trata-se de amar-nos uns aos outros como ele nos amou. E a totalidade deste amor foi realizada em sua morte e ressurreição, selada no dom da Eucaristia, com a qual a Igreja se alimenta no correr dos séculos, de modo a se tornar, em todos os seus fiéis, capaz de amar como Jesus amou, com o amor que vem do seio da Santíssima Trindade.

Desarmando o coração, o caminho para a paz e a esperança

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Este leque de manifestações do amor descido da Trindade há de se manifestar no cotidiano da vida dos fiéis cristãos, sendo o seu testemunho o meio mais eficaz para atrair os outros, de forma a que todos possam desejar e experimentar a mesma realidade. É que aprendemos com o Senhor! Aos pecadores, como a Mulher Adúltera, o perdão sem limites. Publicanos e outras espécies de pecadores puderam assentar-se à mesa com o Senhor.

Os doentes e todo tipo de marginalizados puderam aproximar-se dele, ser tocados, curados, reintegrados. Inimigos públicos, segundo a concepção da época, os samaritanos tiveram acesso ao Salvador, naquela mulher do Poço de Jacó. Com os Apóstolos e demais discípulos, uma verdadeira escola ambulante, ensinando as lições do acolhimento e a superação de invejas e ciúmes.

Desejamos, hoje, ater-nos a uma das experiências feitas por Jesus através de uma realidade tão humana quanto importante, a amizade e a hospitalidade (cf. Lc 10,38-42). Tudo indica que a casa de Marta, Maria e Lázaro foi um lugar privilegiado para o Senhor cultivar este sentimento que nos atrai fortemente. Certamente, Jesus visitou, com mais frequência, aquela família peculiar do que os evangelhos relatam.

Marta, a solícita dona de casa, parece ter sido a mais velha. Lázaro deve ter tido os problemas de saúde bem antes de sua morte referida no Evangelho. Não se sabe muito de Maria, mas alguns arriscam compará-la justamente com outra mulher, que também fez gestos de delicadeza com o Senhor. Entretanto, podemos saber que superou normas constantes da prática judaica, fazendo-se discípula, aos pés do Senhor, coisa que era reservada aos homens. De fato, as mulheres aprendiam mais ou menos por tabela, com o que os homens lhes transmitiam. A partir de Maria de Betânia, tudo mudou ou deve mudar! Ela escolheu a melhor parte, o discipulado junto ao Senhor, e esta não lhe pode ser tirada!

Em Betânia há a hospitalidade, representada por Marta, a amizade com Lázaro, a caridade com o amigo enfermo e morto, o discipulado em Maria, além da garantia da presença do grande círculo formado pelos Apóstolos de Jesus. E podemos recolher lições preciosas, que nos fazem ser mais acolhedores, num amor bem realista e concreto, que acolhe, procura, valoriza e envolve os irmãos e irmãs.

A caridade concreta através do amor ao próximo

Um primeiro sinal pode ser a atenção a quem passa perto de nós. Um cumprimento amigo, um bom dia dado de coração, o olhar carinhoso e respeitoso às pessoas de nossas famílias, levantar os olhos daquele quase onipresente celular, quando estivermos num coletivo, o conhecimento das situações de nossos vizinhos, a capacidade de colocar nossos serviços à disposição de quem precisa, a caridade concreta, sem deixar que qualquer pessoa passe em vão ao nosso lado.


Voltando às nossas casas, vale lembrar a Primeira Leitura do Domingo que celebramos (Gn 18,3-10), comentada de forma tão delicada na Carta aos Hebreus: "Perseverai no amor fraterno. Não descuideis da hospitalidade, pois, graças a ela, alguns hospedaram anjos, sem o perceber" (Hb 13,1-2). Abraão recebeu aqueles três peregrinos, oferecendo-lhes o que tinha de melhor, e lhe veio a promessa de uma descendência. E sabemos que esta cena foi entendida por artistas como revelação da Trindade que nos visita!

De fato, hospitalidade é virtude a ser praticada, e nós haveremos de cultivá-la continuamente. É hora de diminuir nossas defesas, nossos alarmes, nossos muros! Sabemos o quanto nossas Paróquias realizam na preparação de suas festividades, com as peregrinações pelas casas, e como portas de casas abertas podem levar a portas de corações que se abrem.

Aliás, esta é uma excelente oportunidade para abrir nossos corações, a fim de encontrar caminhos para visitar pessoas que, por um motivo ou outro, vivem sozinhas, muitas delas tristes e depressivas. E que tal visitar pessoas que vivem em casas de idosos, cuja solidão se torna tantas vezes opressiva?

Novo nível, mais provocante, é a convivência social a ser fecundada com amor ao próximo. Há um desafio a ser enfrentado, a tendência de transformar qualquer dificuldade entre as pessoas em crime. Muitas são as acusações de assédio de qualquer tipo a se multiplicarem, assim como a judicialização das relações entre as pessoas. Vale o antigo princípio de dizia ser melhor um péssimo acordo do que uma ótima demanda. Ocorrem-me dois exemplos igualmente dolorosos. O primeiro é a demanda por heranças de família, cujo resultado, com desagradável frequência, é muitas vezes a inimizade. Outro vem das áreas rurais, em que meio metro de cerca pode suscitar uma briga de proporções incríveis!

Se quisermos, é possível ampliar e encontrar os campos da política, do relacionamento entre as nações, as guerras comerciais de nossos dias, para descobrir o quanto os cristãos têm o dever de se munir de Evangelho, converter-se a ele e ampliar sua presença e capacidade de ser sal, luz e fermento. E não é difícil redescobrir que Marta, serviçal e pronta a ser concreta no amor, só poderá fazer bem a sua parte se seguir Maria, sua irmã, que escolheu a "melhor parte", que não lhe será tirada, o seguimento de Jesus!



Dom Alberto Taveira Corrêa

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/amor-concreto/

26 de julho de 2025

Cuidado espiritual

Negligenciar o cuidado espiritual ocasiona consequências nefastas

O permanente cuidado espiritual é uma exigência, pois o ser humano é morada de Deus – a fé cristã ensina: o corpo humano é templo do Espírito Santo. Negligenciar essa realidade leva a consequências nefastas, conduzindo o viver na direção de depressões tão comuns, de escolhas equivocadas que aprisionam o ser humano na mesquinhez que
valida indiferenças e apegos egoístas, fragilizando a fraternidade universal, bem precioso para a paz mundial. De modo ainda mais avassalador, o descuido com a dimensão espiritual acentua processos destrutivos pelo comprometimento moral de uma sociedade, com prejuízos para a cidadania.

O Sangue de Jesus na Santa Missa: presença real e viva

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Impactos na vida cidadã, em razão de defasagens no cuidado espiritual, incidem fortemente no desempenho daqueles que deveriam estar a serviço do povo. Passam a ser marcados pela mediocridade nas ações e pela consequente submissão aos interesses de pequenos grupos privilegiados. Aqueles que podem mais também sofrem das mesmas consequências, em razão do despreparo no âmbito espiritual. São incapazes de se sensibilizar e contribuir com projetos que promovam o bem de todos.

Reconhecem apenas a meta de ajuntar sempre mais para si, desobrigando-se da "hipoteca social" – responsabilidade cidadã de contribuir para o desenvolvimento integral da sociedade, indo além do próprio bem-estar. É triste a adoção do raciocínio daquele que aumentou seus celeiros e disse a si mesmo, conforme passagem do Evangelho: "Regala-te minha alma", seguido da advertência de Jesus, quando evoca a voz de Deus dizendo: "Hoje
mesmo serás recolhido da vida", lembrando que tudo ficará para outros.

A espiritualidade é o caminho para a consciência cidadã

A espiritualidade é o remédio que o ser humano e a sociedade precisam para se orientar a partir de parâmetros ético-morais. Assim, cuidar da espiritualidade é cuidar de uma fonte essencial do viver humano qualificado, possibilitando mais bem-estar para si e, ao mesmo tempo, capacitação pessoal para participar da construção de uma sociedade justa e solidária. Espiritualidade é fonte que não se esgota. Não se resume a uma jaculatória de vez em quando repetida, ou a uma devoção periodicamente praticada, nem ao cumprimento de alguns ritos, alguns deles vividos supersticiosamente. A espiritualidade é um caminho de modelação, com dinâmicas que forram a alma com um tecido novo e, assim, alavanca uma conduta moral alicerçada em valores perenes, em princípios inegociáveis.

Assim é a espiritualidade cristã: tem a força de produzir o sentido que configura a liberdade interior e garante relacionamentos qualificados, no horizonte da verdade e da justiça, iluminando a consciência cidadã com parâmetros que buscam o bem de todos, particularmente dos pobres. E consciências iluminadas dedicam-se a
projetos sociais, culturais, religiosos que auxiliam a sociedade na promoção da justiça e da paz.

A espiritualidade é caminho marcado pelo silêncio, longe das algazarras que caracterizam as superficialidades costumeiras – com seus excessos de comida, de bebida e de conversas sem força para inspirar escolhas adequadas. O cuidado espiritual diz respeito a uma experiência alimentada pela fé, abrindo mentes e corações, curando ilusões, alargando a consciência de si, edificando homens e mulheres com envergadura moral, social, política e religiosa. O cuidado espiritual deve ser prioridade no cotidiano de cada pessoa, pedra angular na constituição de cada ser humano, com incidências na própria identidade. Cura vários tipos de enfermidades que contaminam e adoecem toda a sociedade.


Fonte inesgotável e inigualável do amor

A liberdade, anseio de todo ser humano, somente pode ser encontrada no amor, cuja fonte é Deus. A espiritualidade leva à fonte inesgotável e única do amor, aquele que oferece tudo, e não a mesquinhez de migalhas. A partir do cuidado espiritual, aprende-se uma nova lógica com incidência qualificante em todos os setores da vida. Passa-se a
cuidar mais de si e, ao mesmo tempo, conquista-se a força sapiencial para cuidar dos semelhantes, do meio ambiente. Aqueles que investem na espiritualidade conquistam credibilidade, desenvolvem a habilidade para partilhar palavras que edificam. Distanciam-se dos gestos motivados pela vaidade, por disputas, não se ocupam com a disseminação das insolências que se alastram pela facilidade contemporânea das redes sociais.

O cuidado espiritual é indispensável para que o ser humano conquiste novas virtudes e possa cultivar aquelas que são herança familiar, recebidas também na comunidade de fé e nas relações sociais. A alegria verdadeira e duradoura é um dom que se conquista pelo cuidado espiritual, sobretudo pela possibilidade de evadir-se da prisão do próprio "eu" para entrar, pelo amor, em comunhão com a vida plena que habita e canta na essência de toda criatura. Esta alegria e outros dons vêm pela ação do Espírito Santo, aquele que faz o ser humano clamar a Deus como Pai, alimentando e iluminando a consciência de filiação, alavanca de essencial princípio: "Todos são irmãos e irmãs uns dos outros".

O cultivo espiritual é também uma disciplina, semelhante àquela dedicada ao cuidado com
o corpo. Pede obediência e vivência de dinâmicas e ritos, no âmbito da fé professada, com efeitos e conquistas na interioridade. Enfim, o cultivo espiritual é aprendizagem da humildade que livra o coração do instinto de disputa e ataques, apaziguando a alma para alcançar a paz. A paz de espírito vem de uma vontade maior, não humana, divina, forte, muito além das vicissitudes institucionais e individuais. Cultivo espiritual é o modo como o ser humano pode encontrar o tesouro de sua vida. Vale viver pela busca deste tesouro, fonte de saboroso sentido do viver cotidiano, equilibrando a existência, qualificando singularmente o ser humano, gestando homens e mulheres capazes de bem
conduzir os rumos da sociedade.



Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. No Brasil, é bispo referencial para os fiéis católicos de Rito Oriental. http://www.arquidiocesebh.org.br


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cuidado-espiritual/

25 de julho de 2025

Jovens com dificuldade de concentração: o que pode estar acontecendo?

Uma queixa tem sido constante nos últimos tempos: a dificuldade de concentração entre os adolescentes. Aqui, reside uma interpretação que precisa ser bem avaliada, pois nem sempre a queixa de dificuldade de concentração tem uma causa única ou pode ser um diagnóstico, por exemplo, de Transtorno de Déficit de Atenção, como muitas vezes é divulgado.

Créditos: Imagem Gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

Um aspecto importante a ser levado em consideração é: quando falamos em concentração, temos de compreender que ela é a capacidade de manter o foco de atenção nos estímulos do meio ambiente. Quando este ambiente muda, também muda o foco de atenção.

Já a atenção é uma capacidade neurológica, uma função cognitiva complexa que nos permite, por exemplo, estarmos concentrados numa leitura, falar com alguém num ambiente cheio de ruídos e não perder o foco, assistir a um filme e conseguir compreender sua mensagem, realizar um trabalho de forma direcionada.

Muitas vezes, há uma queixa de memória do tipo "puxa, eu não consigo 'guardar' nada na cabeça", "esqueço de tudo facilmente". A memória está intimamente ligada à capacidade de atenção. Ou seja, se a atenção está falha, logo, teremos dificuldade em memorizar algo.

Memória é o mecanismo que nos permite reter algo e, num tempo breve ou longo, resgatar esse conteúdo, o que chamamos de evocação.

Termos técnicos à parte, é importante compreender que a capacidade para manter a concentração é limitada e depende de fatores como interesse por um assunto, disponibilidade para o tema, depressão, ansiedade, questões emocionais familiares, dificuldade para dormir ou um ciclo de sono alterado, carência vitamínica, anemias e outras patologias.

Quando temos problemas de natureza simples, a nossa capacidade de solução de problemas mais complexos acaba por ser alterada.

Para manter a atenção, vários fatores são importantes, como ânimo, interesse e até dificuldades específicas.

Todo mundo tem algum tipo de dificuldade de atenção, porém, o que faz isso se tornar um problema é o quanto ele afeta nossas atividades

Ao notar essa dificuldade, é muito importante observar o comportamento do jovem e seus hábitos, pois, por exemplo, noites em claro, excesso de estímulos, uso de drogas, enfim, tudo isso pode contribuir para tais dificuldades. É importante que situações emocionais, além de doenças tais como anemia, ansiedade, depressão, disfunções na tireoide, sejam investigadas.

Questões familiares, brigas, desentendimentos entre amigos, namoros rompidos, um bullying na escola e aspectos relacionados à vida familiar e social do jovem também podem contribuir, e a abertura da família ao diálogo e a compreender a vida do jovem também se faz importante.

Outro ponto importante é observar como anda a organização das tarefas e rotinas deste jovem, porque a sobrecarga e a desorganização podem colaborar com a falta de concentração. Ajustar horários, melhorar a alimentação, usar melhor o tempo; tudo isso pode colaborar com a melhora da concentração.


Quanto aos estudos, é importante tirar de perto aquilo que pode desviar a atenção. Jogar, ver TV, usar o celular, ouvir músicas e estudar ao mesmo tempo mostra que uma dessas atividades não será realizada com sucesso.

É importante, no entanto, fazer uma observação dos aspectos sugeridos antes de imaginar uma doença como o TDAH, por exemplo. Não devemos ignorar os sinais quando existem prejuízos na vida de um jovem, mas podemos o ajudar a partir da compreensão desses sinais e sintomas buscando dar suporte ao seu filho.



Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro dos Santos é Psicóloga Clínica pela Universidade de São Paulo (USP). Colaboradora da Comunidade Canção Nova, reúne 20 anos de experiência profissional, atuando nas cidades de São Paulo, Lorena e Cachoeira Paulista, além do atendimento on-line para o Brasil e o Exterior. Dentre suas especializações estão Terapia Cognitivo-Comportamental, Neuropsicologia e Psicologia Organizacional. Instagram:  @elaineribeiro_psicologa 


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/jovens-com-dificuldade-de-concentracao-o-que-pode-estar-acontecendo/

23 de julho de 2025

A Providência Divina não dispensa a previdência humana

Deus proverá! Sim, Ele providencia, todos os dias, muito mais do que possamos imaginar. A luz do sol, nossa respiração, nossas famílias, empregos, renda, o alimento em nossa mesa. Por outro lado, Deus quer contar também com nosso esforço, Ele quer nos ver lutar. O bom Pai não é aquele que dá tudo ao Seu filho, mas coloca diante deste possibilidades e oportunidades, dá-lhe força, coragem, fé, motivação e incentivo. Deus nos quer lutando pelo nosso pão de cada dia; e quando não pudermos lutar, Ele mesmo se encarregará de todas as coisas.

Quando o dinheiro não der para uma necessidade, não duvidemos, pois Deus é quem mais se apressa em estender-nos a mão. Muitas vezes, pelas mãos de pessoas generosas.

A providência divina não dispensa a previdência humana

Foto ilustrativa: Zephyr18 by Getty Images

Mesmo acreditando na Providência Divina, precisamos trabalhar e pensar no nosso futuro

Acredite na Providência Divina e mãos à obra. O seu futuro, quem sabe num futuro breve, passa pelas suas mãos ao economizar com sabedoria cada possibilidade. O tempo passa rápido, e muitos brasileiros já estão na segunda metade da vida, hoje em torno de 45 anos. O agricultor não pode querer colher frutos que não plantou, comer alimentos que não cultivou. É preciso agir hoje, agora, montar uma planilha financeira de longo prazo e colocar as necessidades que ainda não vieram:

  • Reforma da casa ou construção da casa;
  • Aposentadoria com provável diminuição da renda;
  • Plano de saúde ou gastos crescentes com a saúde;
  • Necessidades de filhos e netos;
  • Reserva para lazer e viagens.

Em suma, envelhecer é um dom, uma bênção, uma dádiva divina. Os que chegam aos 70, 80, 90 anos são privilegiados. Cabe, agora, planejar quanto tempo há pela frente (hipoteticamente, pois nossa vida está nas mãos do Criador), e enfrentar a situação, procurar ajuda e organizar sua vida financeira. Nunca é tarde para fazer o bem. Pense também que, muitas vezes, o que poupamos pode ser a fonte de ajuda para pessoas com maiores necessidades, afinal, "há mais alegria em dar do que em receber". Os pobres são a riqueza da Igreja Católica. Se pudermos optar, hoje, por não comprar ou consumir, pensando no próximo, estamos nos enriquecendo para o Céu.

Como posso economizar para viver bem minha velhice?

Muito se fala, e talvez quase o ano inteiro, sobre aposentadoria. Não que, necessariamente, envelhecer signifique aposentar-se, mas se espera da maioria de nós chegar até lá e possuir algum conforto ou recurso. Como se pode economizar para viver a "boa idade", tecnicamente, após os 60 anos? Muitos não querem parar de trabalhar, mas, como disse o filósofo, ao menos viver uma vida mais serena.

"O homem sereno busca serenidade para si e para os outros" (Epicuro).


A grande questão da poupança de um salário suado, a cada mês, é poder, no futuro, contar com esse valor acumulado para alguma serenidade ou, talvez, a realização de sonhos. A economia de longo prazo é um exercício e tanto! É preciso disciplina, abrir mão do prazer momentâneo para contar com um futuro mais confortável.

A cultura do consumismo é, exatamente, contrária à cultura da poupança, do sacrifício. Um exercício financeiro de não levar o que está diante dos olhos na vitrine ou no site de e-commerce. Como resistir à tentação de viver um presente gastando mais do que se tem em vista de um futuro incerto?

 



Bruno Nascimento Vieira Cunha

Bruno Nascimento Vieira da Cunha é Brasileiro, nasceu no dia 28/11/1980, em Recife, PE. É Membro da Associação Internacional Privada de Fieis – Comunidade Canção Nova, desde 2007 no modo de compromisso do Núcleo. Economista, Professor e Missionário da Comunidade Canção Nova, Bruno Cunha possui 20 anos de experiência na área de Finanças, Macroeconomia, Mercado Financeiro.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/economia/providencia-divina-nao-dispensa-a-previdencia-humana/

22 de julho de 2025

É preciso aprender a ter paz e serenidade

Diante de tantos tormentos que diariamente enfrentamos em nossa vida, muitas vezes, ter a paz e a serenidade parece algo muito distante. Cada vez mais, entre as pessoas de todas as classes sociais, a falta de paz e serenidade torna-se uma queixa em todas as idades, todos os sexos, todos os níveis de instrução. Algumas pessoas, por vezes, apresentam aquilo que é chamado, no meio médico psiquiátrico e psicoterápico de: síndrome do pânico.

Créditos: Imagem Gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

Esse quadro é caracterizado por uma série de alterações emocionais e físicas, incluindo, por exemplo, taquicardia, falta de ar, sintomas que se mostram incontroláveis. É um tipo de medo, muito intenso e um tanto generalizado e, acima de tudo, é um excelente exemplo do quanto se faz necessária uma reformulação de nossos hábitos, de nossas relações.

Vivemos um tempo corrido, uma vida impessoal, em que já não temos tempo para conversas, convivências. Falta a hora do jantar, do café; faltam os pequenos rituais familiares, em que todos se encontravam e se olhavam. Falta tempo para a intimidade. Às vezes, até existe tempo para essas coisas, mas a competitividade que somos "obrigados" a apresentar, torna nossas relações frias, superficiais. Ficamos receosos quanto a confiar nas pessoas, nos expor, nos apegarmos, amarmos, dependermos.

A vida é composta por desafios diários, por isso precisamos de serenidade

Essa falta de suporte afetivo, sutilmente, acaba por nos incutir um sentimento de desamparo que, muitas vezes, fornece a base para quadros como a síndrome de pânico; a depressão e a ansiedade. Você sabe do que estamos falando? Já sentiu esse desamparo mesmo cercado de pessoas que, de alguma forma, devem nos amar, mas em relação às quais não nos sentimos à vontade para dividirmos o fardo do dia a dia? Você conhece alguém assim? Por vezes, o fardo pesa, os problemas sufocam e nos vemos impossibilitados de dividir, com quem quer que seja, o que vivemos. Alguns não acreditam que o que vivem pode ser importante para alguém; outros até sabem que aquilo que fazem é importante sim, mas só é importante, só é valorizado pelo outro, se a pessoa for bem sucedida naquilo que faz, naquilo que vive.

No caso de fracasso, de dificuldades, a pessoa é levada a "se virar" sozinha. A situação parece tão sem saída, que muitos buscam uma solução externa, um remédio, um conselho mágico. No entanto, a solução pode estar mais perto do que se imagina: pode estar "dentro" de você; na mudança dos seus hábitos, nas suas iniciativas, principalmente nas relações com aqueles que lhe são mais próximos.


O que minha história influência neste processo?

Muitas pessoas que vivem essa situação a qual descrevemos, trazem em sua história uma relação familiar na qual não foram valorizados; várias vezes foram desqualificados, criticados, abandonados, até mesmo violentados. A família, o primeiro suporte afetivo, não esteve presente. Outras pessoas encontram uma estrutura familiar superprotetora, ou seja, cuidam, apoiam, mas não deixam a pessoa aprender a cuidar da vida, não deixam a pessoa experimentar frustrações e aprender a superá-las; assim, não desenvolvem confiança. Tornam-se pessoas inseguras.

Pode ser útil pensar na família da qual saímos, pois fornece o modelo das relações que aprendemos a construir; nos informa sobre a maneira como aprendemos a olhar para os outros: percebemos os outros como inimigos, como avaliadores? Ou (como deveria ser) os percebemos como aliados, cúmplices, na aventura que é a vida? Se não sabemos quem são as pessoas importantes para nós e se não sabemos desfrutar do apoio deles, qualquer coisa passa a ser ameaça.

E, se nos percebemos diante dos outros como rivais, se nos percebemos constantemente sob avaliação, a forma de sairmos dessa condição para a condição de amigos, companheiros, cúmplices é por meio do diálogo. Um diálogo onde possamos assumir nossas fraquezas, pedir ajuda, sermos humildes. Ninguém nasceu pronto, perfeito. E, de que adianta ser amado se não nos deixamos ser amados? De que adianta ser amado se não podemos desfrutar do colo, da amizade, da compreensão daqueles a quem amamos?

É importante aprendermos a receber amor, a pedir ajuda, a solicitar apoio, reconhecer falhas. As relações familiares são o melhor lugar para colocar isso em prática. Fazer é aprender a amar… Amar em via dupla: dar e receber amor; e ensinar o outro a fazê-lo. Assim, é hora de retomar os pequenos hábitos, talvez até os que foram citados no início deste texto e que nos tornam parte de algo maior.

Cláudia May Philippi – Psicóloga Clínica


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/e-preciso-aprender-a-ter-paz-e-serenidade/

21 de julho de 2025

O samaritano, os samaritanos e nós

A vivência da caridade concreta como resposta às feridas do mundo

São Camilo de Lellis, comemorado pela Igreja no dia quatorze de julho, fundador dos Ministros dos enfermos, "Camilianos", foi um homem de tamanha piedade e compaixão pelos doentes e moribundos e por todos os pobres e miseráveis. Em sua atribulada e diversificada vida, experimentou o afeto familiar, a orfandade, as aventuras de um jovem perdido na vida, engajou-se como soldado, sentiu o maravilhoso sabor da conversão, tentou ser capuchinho, descobriu a dor da enfermidade e das feridas que por anos o incomodaram. Em suma, rico percurso de fraquezas, vitórias, ousadia e abertura para Deus. No meio de tudo isso, o maravilhoso fio condutor de sua vida foi a caridade, na força das palavras do Evangelho que se estamparam em seu coração com letras de fogo: "Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!" (Mt 25,40) Várias vezes, cuidando dos doentes, chamava-os com o nome de Jesus, tal a convicção com que esta verdade o havia atraído. E nós todos teremos um exame final, cujas perguntas já nos foram antecipadas pelo Senhor. Todos os homens e mulheres da história serão julgados pelo amor! Realidade provocante e ao mesmo tempo consoladora, que nos oferece a oportunidade para refletir sobre as muitas possibilidades que temos para amar o próximo. De fato, a caridade, que apaga uma multidão de pecados (1Pd 4,8), tem muitas faces e está disponível à boa vontade de todos.

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT.

A parábola do Bom Samaritano e o chamado à não-violência em tempos de caminhos perigosos

A luz que ilumina hoje nossas descobertas e passos vem da magnífica parábola do Bom Samaritano (Lc 10, 15-37). Os muitos caminhos da humanidade em nossos dias se parecem com estradas que desciam de Jerusalém para Jericó, não muito aconselháveis àquela época. Não é difícil recordar que nossos pais e avós nos alertavam com firmeza sobre o perigo das más companhias e dos maus caminhos. Multiplicam-se, literalmente, a violência, os atentados à vida e as cenas da humanidade caída à beira do caminho.

As notícias de mortes causadas pelas guerras e por tantas outras provocações continuam a povoar nosso imaginário e nossas preocupações. Causa estupor a quantidade de recursos hoje existentes e a multiplicação de atos e iniciativas pensadas para destruir a vida. E até se reforça, em muitas partes do mundo, o incentivo aos armamentos de todo calibre e ao porte e uso de tais equipamentos. Parece natural que todos se sintam no direito de estar armados até os dentes, ou cercados de muros, alarmes e vigilância, porque ameaçados dia e noite em sua integridade. Entretanto, a vida cristã oferece a alternativa da não-violência ativa, expressão tão querida a um dos nomes mais significativos da vida da Igreja no Brasil, Dom Helder Câmara, que mantém sua força e atualidade.

Diante da pergunta sobre o maior mandamento, Jesus não oferece uma resposta teórica, mas conta uma história. Sabemos que o Bom Samaritano, por excelência, é o próprio Senhor Jesus, que desceu do Céu para inclinar-se sobre a humanidade, espalhou a força de seu amor e dos sacramentos, simbolizados no óleo e no vinho derramados sobre as feridas do homem caído, tendo-o levado em sua própria montaria, a Cruz, à hospedaria, a Igreja, para dele cuidar até sua volta no fim dos tempos, assumindo todas as responsabilidades: "No dia seguinte, pegou dois denários e entregou-os ao dono da pensão, recomendando: 'Toma conta dele! Quando eu voltar, pagarei o que tiveres gastado a mais'" (Lc 10,35). "Os dois denários são entendidos como os dois testamentos, a Antiga Lei e os profetas, a Nova Lei do Evangelho e as instituições apostólicas. Os pastores da Igreja farão frutificar estes denários que, quanto mais são dados, mais se multiplicam" (cf. Severo de Antioquia, Hom. 89)

"A base dos dois mandamentos é a caridade, e a ordem é diversa: Deus está no primeiro lugar, e o próximo em segundo lugar. Quem é o Samaritano senão o próprio Salvador? Ou quem exercer maior misericórdia para conosco, feridos pelo medo, as tristezas e os vãos prazeres? Só Jesus é o médico para estas feridas. É ele quem derrama o vinho, o sangue da uva da vinha davídica. É ele que das vísceras do Espírito extrai o óleo da unção e o espalha largamente. É ele que nos envolve com as faixas da salvação, a fé, a esperança e a caridade. É ele que convoca anjos e arcanjos, para que nos assistam com sua presença. É necessário amá-lo, como amamos Deus, pois ele é Deus. Ama Cristo quem faz a sua vontade e observa seus preceitos. 'Nem todo aquele que me diz: 'Senhor! Senhor!', entrará no Reino dos Céus, mas só aquele que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos céus'" (Mt 7,21) (cf. Clemente de Alexandria, Quis dives, 27-29).

E como "quem der, ainda que seja apenas um copo de água fresca, a um desses pequenos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não ficará sem receber sua recompensa" (Mt 10,42), valem todos os gestos de amor feitos em consequência do próprio amor de Deus, derramado em nossos corações. Pode acontecer que nosso fraco julgamento estabeleça comparações injustas entre as coisas que as pessoas podem fazer pelas outras! Há uma infinidade de gestos simples e escondidos, a partir do centavo dado segundo o modelo da viúva pobre do Evangelho. Chame-se esmola ou ato de caridade, nada fica esquecido por Deus!


O exercício da caridade

Muitas pessoas experimentarão o convite a participarem do que podemos chamar de "caridade organizada", quando se comprometem em ações de solidariedade e misericórdia na Igreja e na Sociedade, como aquelas feitas pela Cáritas ou pelas Obras Sociais das Paróquias. Outros serão chamados por vocação a entrar em famílias religiosas dedicadas à caridade. Outra manifestação da caridade é o engajamento em entidades que cuidam da promoção humana e a defesa da dignidade das pessoas, com uma sensibilidade apurada diante das violações dos direitos humanos. A elas cabe a tarefa de serem pontas de lança, ajudando a manter acesa a vigilância cristã, com o anúncio e a denúncia próprias dos servidores do Evangelho, sem desvalorizar os gestos mais simples de pessoas e grupos. Cabe-lhes ainda identificar e estabelecer canais de colaboração com outros grupos da sociedade também especialmente interessados no serviço aos mais pobres.

A Doutrina Social da Igreja abre ainda um vasto campo para o exercício da caridade, quando declara que um de seus princípios é o Bem Comum! Abre-se o horizonte da caridade para o conjunto da sociedade: "As exigências do bem comum derivam das condições sociais de cada época e estão estreitamente conexas com o respeito e com a promoção integral da pessoa e dos seus direitos fundamentais. Essas exigências referem-se ao empenho pela paz, à organização dos poderes do Estado, a uma sólida ordem jurídica, à salvaguarda do ambiente, à prestação dos serviços essenciais às pessoas, alguns dos quais são, ao mesmo tempo, direitos do homem: alimentação, morada, trabalho, educação e acesso à cultura, saúde, transportes, livre circulação das informações e tutela da liberdade religiosa. O bem comum empenha todos os membros da sociedade… O bem comum exige ser servido plenamente, não segundo visões redutivas subordinadas às vantagens de parte que se podem tirar, mas com base em uma lógica que tende à mais ampla responsabilização. O bem comum correspondente às mais elevadas inclinações do homem, mas é um bem árduo de alcançar, porque exige a capacidade e a busca constante do bem de outrem como se fosse próprio" (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 166-167).

Os próximos meses, quando nos preparamos para o evento da COP 30, a se realizar em Belém, pedem de todos nós uma abertura crescente para o largo espectro da caridade, conduzidos pelo Bom Samaritano, sabendo-nos muitas vezes caídos à beira do caminho e estendendo os braços para inclinar-nos e elevar os que estiverem machucados.



Dom Alberto Taveira Corrêa

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/o-samaritano-os-samaritanos-e-nos/

18 de julho de 2025

O vício em eletrônicos pode desenvolver patologias

O que era uma preocupação com os adolescentes, por ficarem horas em jogos virtuais, estende-se, agora, à classe dos adultos; e o pior, até mesmo das crianças.

Muitos pais, na ânsia de ter tempo livre, sem necessidade de dedicação aos filhos, usam o celular, oferecendo o que pode ser o vilão da vida adulta. Por isso gostaria de questionar: será que estamos sabendo utilizar os eletrônicos, em especial os meios de comunicação?

Créditos: Imagem Gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

Essa tem sido a pergunta de muitos estudiosos: quais são as influências e os malefícios que esse vício pode causar?

Muito já se falou dos jogos, mas gostaria de levantar os questionamentos acerca dos meios de comunicação virtual. Pode-se dizer que nunca foi tão fácil acessar a internet como atualmente, são poucos os lugares em que não é possível se conectar. E quando isso não acontece, o caos está instalado. Quem nunca ouviu uma pessoa dizer: "Aqui, não tem nada para fazer, não tem nem internet!" ou "Aqui tem Wi-Fi? Qual é a senha?".

 O que pode ocasionar vícios eletrônicos?

Partindo do princípio de que tudo o que está em exagero pode se tornar uma doença, podemos dizer que o excesso de tempo envolvido com tais eletrônicos é uma patologia, e para tal já existem clínicas de recuperação nos grandes centros.

Já se imaginou internado em uma clínica de recuperação por não conseguir se controlar com uso desses meios? Ainda não se trata de uma realidade comum tais internações, no entanto, o número de pessoas atendidas em consultórios psicológicos sim.

As pessoas não chegam nos consultórios dizendo que possuem dependência de internet, jogo patológico ou nomofobia ("no mobile fobia", ou "fobia de ficar sem celular"), eles chegam se queixando das consequências de tais patologias, que são a baixa autoestima, distúrbios de humor, depressão, fobias e irritabilidade.

Normalmente, esses comportamentos dificultam as relações sociais feitas na vida real, sendo então um "refúgio" para aqueles que são retraídos, tímidos, inseguros, complexados, pois, nesse mundo imaginário, posso me refugiar, distrair, ser quem eu desejo ser, porque hoje é muito comum criar um fake (pessoa imaginária) e fazer tudo aquilo que gostaria de fazer e não "consigo".


Distúrbios atencionais

No entanto, não são apenas alterações emocionais que podem gerar essas dependências. Estudiosos da mente humana têm buscado estudar quais implicações neurológicas tais dependências têm causado. A princípio, o que se pode dizer é que esses tais excessos podem causar distúrbios atencionais. Uma vez que, durante as atividades virtuais – sejam elas jogos, trabalho, estudo, lazer, dentre outros – estimula-se mais o campo da atenção alternada, gerando, no cérebro, uma necessidade de receber esse estímulo.

Em contrapartida, o campo da atenção concentrada (capacidade de desconectar-se de um campo mais amplo de atração, seja visual ou auditivo, a fim de isolar-se ou focar-se em um número reduzido de estímulos), um outro tipo de atenção humana, não menos inferior que a atenção alternada, fica "atrofiada", pois não tem recebido estímulo suficiente.

Esse desequilíbrio prejudica a aprendizagem e a memória do ser humano, uma vez que auxilia a transição de informações novas da área da memória de trabalho para a memória de longo prazo.

Se, contudo, você acha que não depende tanto da internet para relacionar-se, distrair-se e manter-se informado (jornais impressos e televisionados também oferecem informações), lanço um desafio: desligue sua internet por um período do dia, observe suas reações e veja até onde você depende emocionalmente dessa ferramenta.


 


Aline Rodrigues

Aline Rodrigues Silva dos Santos é Brasileira, nasceu no dia 14/03/1983, em Ipatinga, MG. É Membro da Associação Internacional Privada de Fieis – Comunidade Canção Nova, desde 2010 no modo de compromisso do Segundo Elo.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/o-vicio-em-eletronicos-pode-desenvolver-patologias/

17 de julho de 2025

Sete dicas para trilhar um caminho de cura interior

Se, por algum motivo, você se interessou em ler este artigo, convido você a parar por uns instantes e iniciar um outro artigo: A cura interior gera um ambiente familiar saudável. Para trilhar um itinerário de cura, é necessário tomar consciência de sua necessidade, entrar nos processos interiores, os quais, muitas vezes, são exigentes e até podem doer um pouco. Para sarar, em algumas situações, tem de abrir a ferida, mexer nela e identificar o tratamento certo. Acredite: tomar consciência da necessidade da cura interior já é iniciar a cura. E quando você a conhece, compromete-se com ela.

Créditos: Imagem Gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

Após essa reflexão, vamos a algumas dicas de como trilhar uma caminho de cura interior. Claro que existem muitas outras orientações a esse respeito, mas eu lhe apresento algumas.

Dicas para trilhar o caminho de cura interior

1) Sacramentos:

Recorrer aos sacramentos como fonte de cura e libertação (sacramento do batismo, se acaso você não foi batizado; sacramento da reconciliação, de reconciliar-se com si mesmo, com Deus e com o próximo; sacramento da Eucaristia, alimento solido espiritual).

2) Autoconhecimento:

Deus trabalha com o seu real para alcançar o ideal. Quando você se conhece, compromete-se e não permite que todos deem palpite sobre como você deve ser. Seja quem você é, sem trair sua consciência, pois é nela que Deus habita.

3) Buscar ajuda adequada:

Diretor espiritual, psicoterapia, pessoas com ministério de cura interior. Se ainda você não encontrou essa ajuda, reze e peça a Deus que possa lhe conceder Sua providência, pois Ele é o maior interessado em sua cura.

4) Saborear e admirar a vida:

Enxergar a beleza oculta em si mesmo, nas pessoas, nas coisas mais simples e complexas. Dizer, muitas vezes, "eu sou belo", porque essa é uma frase tão natural como emocionante.

5) Possuir atitudes de louvor:

Ter o coração grato pelos pequenos e grandes milagres diários, louvar pelo dom da vida, louvar pelo sol, pela lua, pelo vento, louvar pelo passado, pelo presente e futuro.

6) Dar novo sentido ao sofrimento:

Não sofrer em vão, aprender com sabedoria o que o sofrimento pode lhe ensinar e assim fazer novas escolhas.

7) Amar como fonte de cura para si mesmo:

Sair da condição acomodada e egoísta. Uma espiritualidade saudável, com os pés na terra, contribui para que as pessoas sejam capazes de amar verdadeiramente, e em suas relações e encontros possam passar pela experiência de serem amadas.

É preciso compreender que o caminho de cura vai até contemplarmos a Deus na eternidade. E quanto mais curados, mais santos e prontos para seguirmos a Deus com generosidade.

Um coração curado é capaz de agradecer a Deus pelo o que se é e o que se tem. Não possui inveja nem comparação. Um coração curado reconhece que é capaz de compartilhar e aceitar o que não possui. Um coração curado é feliz e alargado para o amor.

Deus abençoe seu caminho de cura interior. Estamos juntos nessa!

Leticia Cavalli Gonçalves
Missionária Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/sete-dicas-para-trilhar-um-caminho-de-cura-interior/

16 de julho de 2025

Anjos, criaturas de Deus

"A existência dos seres espirituais, não corporais, que a Sagrada Escritura chama habitualmente de anjos é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura a respeito é tão claro quanto a unanimidade da Tradição" (CIC 328).

Créditos: Getty Images

Anjos são seres divinos criados por Deus

Cristo é o centro do mundo angélico. Os anjos pertencem a Cristo porque são criados por Ele e para Ele, conforme nos ensina o Catecismo da Igreja Católica (cf. CIC 331): "Pois foi n'Ele que foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis: Tronos, Dominações, Principados, Potestades; tudo foi criado por Ele e para Ele" (Cl 1,16).

"Ainda aqui na terra, a vida cristã participa na fé da sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus" (CIC 336).


Santo Anjo da Guarda, meu poderoso protetor,
guardai-me sempre na paz de vosso amor.

Dos perigos, livrai-me;
do mal, libertai-me;
e nos momentos de angústia, consolai-me!

Durante o sono, velai sobre meu descanso,
não deixais o mal de mim se aproximar.
Sob as asas do seu amor,
possa nos meus sonhos habitar!

Nesta noite de luz, afugentai as trevas do medo,
afastai também as tentações,
para que minha alma tranquila
descanse sem aflições.

E que no alvorecer de um novo dia,
eu acorde feliz e restaurado,
e seja para o mundo
testemunha de ser sempre por vós amado!

Amém.

Formação Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/devocao/anjos-criaturas-de-deus/

15 de julho de 2025

A postura do jovem católico na universidade

Todo jovem pensa no seu futuro e na profissão que melhor o realizará. Hoje, o mercado de trabalho é bem concorrido e os que conseguem um futuro promissor são os mais capacitados. Por isso, o número de jovens nas universidades tem aumentado. Mas não são todas as universidades que possuem uma busca sincera pela verdade; o católico, nesse contexto, sente comprometida sua postura. O que fazer?

Créditos: Imagem Gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

É possível assumir a postura de católico dentro da universidade

A Igreja aprecia a contribuição da ciência para a humanidade. Papa Francisco diz que "a Igreja não pretende deter o progresso admirável das ciências. Pelo contrário, alegra-se e inclusivamente desfruta reconhecendo o enorme potencial que Deus deu à mente humana. Portanto, é preciso ser humilde e ouvir o que as diversas ciências têm para ensinar nas universidades. Certa vez, ouvi que sábio não é aquele que sabe tudo, mas aquele que se coloca sempre como aprendiz".

Santo Tomás de Aquino afirmava: "A luz da razão e a luz da fé provêm ambas de Deus". É preciso não criar preconceitos, pois, uma vez que este se estabelece, torna-se mais difícil o diálogo. Não é o desprezo, mas o diálogo que abre novos horizontes enriquecedores para a sociedade.

Postura autêntica do católico

Existe o medo de os jovens católicos nas universidades perderem a , porém, alimentá-la pela oração é um meio de mantê-la viva. Os estudos devem proporcionar que o jovem busque mais as razões da sua fé. Ainda que seja difícil, a ciência questionar sua fé é saudável, desde que ela não tenha a pretensão de ser absoluta. Nesse caso, "não é a razão que se propõe, mas uma determinada ideologia que fecha o caminho a um diálogo autêntico, pacífico e frutuoso", afirma o Papa Francisco.

É difícil assumir a postura de católico dentro das universidades. Muitos têm medo da perseguição e assumem uma postura relativista. Mas a postura do cristão deve ser autêntica, pois, mesmo sem perceber, a evangelização acontece, porque há um compromisso com a verdade. Não existe verdadeiro cristão ausente da perseguição.

O encontro com Cristo deve se manifestar no testemunho

Vale a pena recordar o interessante diálogo autêntico entre o filósofo Jürgen Habermas e o Papa emérito Bento XVI, quando ainda era cardeal. Dentre os vários pontos abordados, Ratzinger afirma que o encontro com Cristo é redenção por ser performativa e não informativa, isto é, conhecer Cristo leva à transformação, pois se tem esperança. A partir da compreensão performativa da fé, expressa-se na própria fé uma razão, que se manifesta no testemunho do cristão e que pode ser apreendida pelo ateu. Além do mais, afirma Ratzinger, a razão e a fé são chamadas a se purificarem e curarem mutuamente de suas patologias, é necessário que reconheçam o fato de que uma precisa da outra.

A Igreja pede, na Exortação Apostólica Chistifideles Laici, a presença do católico na universidade, pois tal "presença tem como finalidade não só o reconhecimento e a eventual purificação dos elementos da cultura existente, criticamente avaliados, mas também a sua elevação, graças ao contributo das originais riquezas do Evangelho e da fé cristã".


Jovem, viva a sua fé

Enfim, o jovem católico deve ser capaz de assumir e viver sua fé mesmo em ambientes diversos, como na universidade. Para isso, pode ser grande suporte os Grupos de Oração Universitário (GOU). Hoje, é mais inteligente o diálogo através do testemunho acompanhado de uma honesta abertura ao outro. A fé e a ciência dialogam por intermédio da razão, referência comum para as duas. Vale a célebre frase de São Paulo para o jovem católico universitário: "Examinai tudo e guardai o que for bom" (1 Tes 5, 21).

Equipe de Formação da Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/a-postura-do-jovem-catolico-na-universidade/

14 de julho de 2025

Santos ou nada: a busca pela santidade na vida cotidiana

"Sede Santos porque Eu sou Santo"! (1Pd 1,16)

Muitos já perguntaram para alguém: "É fácil ser santo?" ou, quem sabe, muitos já se perguntaram: "Será que eu consigo ser santo?". Para respondermos essas perguntas, a primeira carta de Pedro nos ensina duas coisas, a saber. Primeiro: todos somos convocados à santidade; Segundo: claro que não é fácil ser santo. E se fosse fácil, não seria santidade. A santidade supõe um exercício diário de renúncias e pequenos sacrifícios.

Créditos: Imagem Gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

É preciso morrer para as más inclinações. É necessário morrer para a vaidade, para a prepotência, para o orgulho e para a concupiscência. É necessário morrer para a mentira! Isso nos custa muito e exige de nós fé na graça de Deus.

Necessitamos da luz do Divino Espírito Santo, da intercessão maternal de Nossa Senhora, do testemunho dos Santos e da proteção dos Santos Anjos da Guarda. Precisamos da presença da Igreja, da ajuda da família e dos amigos. A santidade é fruto da graça de Deus e do esforço de cada um. É buscando a santidade que nos tornamos verdadeiramente felizes e realizados! Vale a pena dizer ainda mais uma palavra.

É difícil ser santo, mas não é impossível! Se fosse impossível, Jesus não teria nos deixado este pedido. O Senhor só nos pede o possível, pois o impossível cabe a Ele. Nós fazemos o possível. Deus realiza o impossível. É diante dessa certeza que nós acreditamos que o maior pecador pode se tornar um grande santo.

Santidade não é para poucos!

São Vicente Pallotti nasceu em Roma no ano de 1795, partindo para a eternidade em 1850. Viveu 55 anos. De certa maneira, podemos dizer que viveu pouco. Mas, olhando para a sua história, podemos dizer que ele fez muito. Uma das coisas que ele fez foi fundar uma família, chamada União do Apostolado Católico.

Nessa família, há lugar para todos os batizados. O grande desejo de São Vicente Pallotti era que cada batizado ajudasse "a reavivar a fé e a reacender a caridade". Ele disse e deixou por escrito que nós somos "nada e pecado" por conta de nossas misérias e de nossa indignidade. Contudo, porque Deus é Amor, nós podemos e devemos buscar a santidade.

Quanto mais buscamos a santidade e nos tornamos santos pela graça de Deus, mais e mais o nosso apostolado se torna fecundo. A nossa santidade inclui a busca da salvação dos nossos irmãos. Além de sermos santos, precisamos também ajudar os outros a se santificarem.


Neste tempo, busquemos mais a santidade. Ser santo não é somente privilégio de alguns, mas uma vocação para todos: casados, solteiros, consagrados, religiosos, sacerdotes e bispos. Ao longo das semanas e, sobretudo dos domingos, a Liturgia da Palavra nos instrui e nos mostra o caminho da santificação.

Santificamo-nos à medida que oferecemos os "primeiros e melhores" frutos das nossas colheitas. Quem oferece o que de melhor tem para Deus, para a Igreja e para os irmãos, além de tornar o seu coração bom e generoso, torna-se uma pessoa semelhante a Deus Amor, pois o amor é sempre generoso. Quando oferecemos o pior, o resto, o que é ruim, tornamo-nos mesquinhos.

A graça de Deus nos sustenta na caminhada

Um outro meio de santificação é acreditar em Deus de coração, professá-Lo sem nenhum medo e invocá-Lo em todos os momentos da nossa vida. A nossa fé não pode ser mais ou menos; nem apenas racional ou superficial. A nossa fé precisa ser de coração. É pela fé convicta que teremos forças para enfrentar e vencer as tentações que aparecem no nosso caminho.

A santidade é fruto da adoração. Adorando a Deus, como nosso único Senhor e Salvador, o nosso coração vai sendo purificado de todo "fermento podre", de todas as más inclinações e de todos os pecados. Quem adora a Deus, ouve a Sua voz e se esforça para fazer a Sua vontade. E quem faz a Vontade de Deus se torna Santo!

Na Bíblia e para o povo israelita, o deserto é o lugar para o despojamento que leva ao encontro com Deus e o lugar da "metanoia", ou seja, da mudança, transformação e conversão da vida. Façamos a experiência do deserto espiritual. Com Jesus e com Maria, percorramos este deserto com o desejo de um profundo encontro com Deus e uma verdadeira transformação de vida. Por melhor que seja uma pessoa, sempre tem algo para melhorar.

É preciso ter fé e coragem para ser santo. Ser santo significa ser de Deus e caminhar com Ele. Quem não caminha com Deus e quem não pertence a Ele, não é nada. Por isso, ou Santos ou nada!  Que fique no nosso coração este desejo: "Eu quero ser santo!".

Equipe Formação Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/santos-ou-nada-a-busca-pela-santidade-na-vida-cotidiana/

13 de julho de 2025

Como regar a esperança?

Você já teve a experiência de cuidar de uma planta? Se ainda não o fez, eu quero convidá-lo a fazer, pois, com certeza, ela lhe ensinará muitas coisas. A essa plantinha eu dei o nome de Esperança, porque, muitas vezes, eu cheguei em casa e ela estava "murchinha", praticamente morta, mas ainda assim eu a regava e, no outro dia, ela estava erguida novamente.

Créditos: Imagem Gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT

Não deixe a esperança morrer

Por isso eu resolvi dar a ela o nome da Esperança, não porque eu tivesse a esperança de ela não morrer, mas eu vi, ali, quantas vezes a minha esperança estava assim murchinha, quase morrendo, e bastava que eu desse a ela um pouco de água, para ela voltar a viver.

Vocês não imaginam a minha alegria quando vi os brotinhos de flores! Quando elas se abriram, então… Era como se eu ouvisse um grito dentro de mim: "Não deixe que a sua esperança morra. Regue-a! Deixe ela brotar, deixe ela florescer!


Não sei o que você está vivendo, mas se a sua esperança está quase acabando, peça para o Espírito Santo regá-la, e permita que ela cresça, desenvolva-se e floresça.



Regiane Calixto

Regiane Calixto é natural de Caxambu (MG). É graduada em Ciência da Computação e pós-graduada em Gestão de Veículos de Comunicação. Encontrou na tecnologia e na comunicação um grande meio para levar às pessoas o Evangelho vivo e vivido. Instagram: @regianecn


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/como-regar-esperanca/