26 de março de 2021

As cinco vias de penitência


Podemos viver uma vida intensa de oração e penitência sem mudar o ritmo de nossa vida, que precisa ser de oração constante, uma vida plena com o Senhor. Temos de pegar as coisas ordinárias do dia a dia e transformá-las em extraordinárias. São as pequenas coisas que fazemos que nos santificam. Não precisamos viver em um mosteiro nem ser um religioso para criarmos uma profunda intimidade com Deus.

As cinco vias de penitência

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

São João Crisóstomo nos apresenta cinco vias de penitência

São João Crisóstomo mostra que, na simplicidade de nossa vida, podemos viver a penitência. Assim ele nos apresenta cinco vias de penitência:

1ª) Reprovação do pecado

Todos os dias, precisamos renunciar ao pecado e a tudo o que nos leva a pecar. Precisamos buscar viver o PHN (Por Hoje Não vou mais pecar).

2ª) O perdão das faltas do próximo

Precisamos viver o amor e perdoar os nossos irmãos assim como Deus nos perdoa todos os dias. Precisamos viver o que diz a Palavra: 'Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem! Assim vos tornareis filhos do nosso pai que está nos céus' (Mt 5,44-45).

3ª) A oração

Viver uma vida de oração na simplicidade – em casa, no trabalho, na escola – é estar com a mente e o coração em Deus. "Com toda sorte de preces e súplicas, orai constantemente no Espírito" (Ef 6,18).

4ª) A Esmola

Temos de viver a caridade para com o seu próximo, tanto espiritual como material. 'Tu, porém, quando deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz a direita, de modo que tua esmola fique escondida. E o teu Pai, que vê no escondido, te dará a recompensa' (Mt 6,3-4).

5ª) A Humildade

A humildade eleva o homem a Deus. Reconheçamos que sem Ele não podemos nada, e que, por meio de nossa pequenez, Deus será exaltado. "Quanto mais fores grande, tanto mais é preciso que te humilhes, e encontrarás graça diante do Senhor" (Eclesiástico 2,18).

Seja santo!



Padre Reinaldo Cazumbá

Sacerdote membro da Canção Nova, estudante de psicologia, atua no Instituto Teológico Bento XVI e também exerce a função de diretor espiritual dos futuros sacerdotes da comunidade. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/cinco-vias-de-penitencia/

24 de março de 2021

Como eu posso fazer para ter uma vida unida a Deus?


"Eu quero ter uma vida unida a Deus, mas como faço isso?" É exatamente isso que vínhamos tratando, há duas semanas, nessa série de textos voltados para a meditação sobre o sacramento da confissão. Inclusive, nós não concluímos o assunto dos elementos da confissão. Escrevemos que há um modo de se libertar, de uma vez por todas, do pecado grave. Tem jeito! Só que existem alguns pontos cruciais que devem ser vividos com intensidade e sinceridade para dar certo. No texto anterior, nós já demos algumas chaves para isso, os "pulos do gato". Precisamos terminar esse assunto para seguir adiante.

Nós já tratamos, rapidamente, do exame de consciência, do arrependimento e do propósito para fazer uma boa confissão. Vale a pena dar uma olhada lá, porque colocamos alguns detalhes sobre essas ações cruciais para libertar-se do pecado grave gradativamente e em definitivo. São esclarecedores!

Como eu posso fazer para ter uma vida unida a Deus?

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Reflita, passo a passo, como unir-se a Deus pelo sacramento da confissão

Agora vamos ao quarto passo: A acusação.

Contar os pecados ao sacerdote. É preciso ser específico na acusação das faltas e colocar, ao máximo, a quantidade de vezes que as cometeu. Não precisa contar a história nem os detalhes, basta dizer qual foi a falta e a quantidade de vezes. Se você não se confessa há muito tempo, precisa dar, pelo menos, uma ideia da quantidade de vezes que foi cometido o pecado. Por exemplo: "Passei tantos anos sem ir à missa dominical". Com relação à gravidade do pecado, isso sim é importante especificar ao máximo. Por exemplo: "Cometi adultério uma vez com uma mulher casada". Nesse caso, foram dois adultérios, o próprio e o que foi induzido à mulher casada. Outro exemplo: "Cometi um roubo, e nele houve assassinato ou violência".

Lembrando que você se encontra em um tribunal, onde o réu confessa os pecados; no entanto, será perdoado pelo juiz, na pessoa do sacerdote. Falamos disso no primeiro texto.

"Ah, mais vou me sentir envergonhado, constrangido…" Quando erramos com alguém, e pedimos perdão, o fazemos por quê? Justamente por ser uma pessoa cara a nós, e não quereríamos a ter ofendido. Essa humilhação é já parte do remédio contra o mal, pois é uma pedagogia de autocorreção nossa frente Àquele que deve ser o mais importante em nossa vida, e do qual não queremos nos afastar.

"Deus é misericórdia. Ele não precisa de nos humilhar assim". De fato, ele não precisa mesmo, somos nós que precisamos reconhecer que não somos iguais a Ele, mas sim criaturas limitadas e dependentes da Sua ajuda. Isso só se faz assumindo a humildade como virtude.


Penitência

O quinto passo trata-se da penitência: "A penitência que o confessor impõe deve ter em conta a situação pessoal do penitente e procurar o seu bem espiritual. Deve corresponder, quando possível, à gravidade e natureza dos pecados cometidos. Pode consistir na oração, num donativo, nas obras de misericórdia, no serviço do próximo, em privações voluntárias, sacrifícios e, sobretudo, na aceitação paciente da cruz que temos de levar. Tais penitências ajudam-nos a configurar-nos com Cristo, que, por Si só, expiou os nossos pecados uma vez por todas. Tais penitências fazem com que nos tornemos co-herdeiros de Cristo Ressuscitado, «uma vez que também sofremos com Ele» (Rm 8, 17)" (CIC 1460).

Por obrigação moral, é bom reparar o que for possível da falta cometida: devolver o que foi roubado, desfazer a calúnia proferida, indenizar por ferimentos etc.

A penitência, às vezes, pode parecer leve demais. Ela existe para nos fazer meditar no mal cometido, e nas suas consequências morais. No entanto, quem pagou o preço foi Cristo, com Sua Paixão, Morte e Ressurreição. Não somos capazes de expiar nenhum pecado, nem mesmo o mais leve.

Absolvição

Por fim, a absolvição: Trata-se da oração, feita pelo sacerdote, de absolvição dos pecados confessados e dos esquecidos; não dos omitidos. Lembrando: se houver omissão de pecados, a confissão torna-se inválida. O nível da graça dada por Deus, no ato da absolvição, varia de pessoa para pessoa, pois depende do grau de devoção do penitente. A devoção não produz a graça, mas é como que o caminho para ela. Logo, a pessoa perceberá o seu efeito suavemente: firmeza de propósito, aumento da fé, força gradativa contra o pecado, aumento do horror pelo mal cometido. Vamos ficando mais fortes na luta contra o pecado.

Permanecendo em estado de graça, é possível, por meio da oração, e principalmente da Eucaristia, receber de Deus as virtudes infusas que nos ajudam a permanecer firmes na luta contra o pecado. Também vamos nos tornando pessoas melhores, realizadas, voltadas para as realidades mais essenciais que nos levam a uma união com Deus.

Temos de Deus a ajuda necessária para permanecer perto d'Ele.

Semana que vem, vamos tratar, brevemente, sobre o pecado, justamente para nos ajudar no exame de consciência.



Roger de Carvalho

Roger de Carvalho, natural de Brasília – DF, é membro da Comunidade Canção Nova desde o ano 2000. Casado com Elisangela Brene e pai de dois filhos. É estudante de Teologia e Filosofia.
Autor do blog "Ad Veritaten".


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/series/confissao/como-eu-posso-fazer-para-ter-uma-vida-unida-deus/

22 de março de 2021

Como posso construir boas amizades ao longo da vida?


E se eu perguntasse a você: "O que é amizade?", você saberia me responder? É dessa forma que iniciamos o nosso processo de descoberta de como construir boas amizades, e para isso vamos entendê-la.

Muitas vezes, aquilo que mais falamos é o que menos sabemos de verdade. Por isso, vamos entender a amizade para depois compreendermos qual o caminho para a construção de boas amizades.

Como posso construir boas amizades ao longo da vida

Foto Ilustrativa: by Getty Images / ViewApart

O que é amizade? Como ter boas amizades?

Aristóteles, um dos maiores filósofos gregos, que viveu cerca de 300 anos antes de Cristo, diz que a amizade é uma virtude ou implica uma virtude. E ele continua dizendo que a amizade é necessária à vida. "Porque sem amigos ninguém escolheria viver, ainda que possuísse todos os outros bens". Sim, meus amigos leitores, a amizade, como disse Aristóteles, é necessária à vida. Seria infértil e vazia a nossa vida se não tivéssemos amigos com quem partilhar as alegrias e tristezas próprias do dia a dia. Continua ainda Aristóteles: "A amizade também ajuda os jovens a afastar-se do erro, e aos mais velhos, atendendo-lhes às necessidades e suprindo as atividades que declinam por efeito dos anos. Aos que estão no vigor da idade, ela estimula a prática de nobres ações, pois na companhia de amigos – 'dois que andam juntos' – os homens são mais capazes tanto de agir como de pensar". Para encerrar o pensamento de Aristóteles sobre amizade, ele diz que a amizade é uma alma em dois corpos.

Já para São Tomás de Aquino, santo e doutor da Igreja, a amizade está diretamente relacionada ao comportamento que precisamos ter em relação aos outros. E é também reconhecida como uma virtude. "Ora, é preciso que as relações entre homens se ordenem harmoniosamente num convívio comum, tanto em ações quanto em palavras, ou seja, é necessário que cada um se comporte com relação aos outros de maneira conveniente." E essa virtude se chama amizade ou afabilidade.

Agostinho de Hipona, outra grande homem de Deus na história da Igreja, fala sobre a amizade a partir da experiência que ele teve com um amigo na qual narra desta forma: "Conheci um amigo, a quem amei em demasia por ser meu companheiro de estudos, de minha idade, e por estarmos ambos na flor da juventude. Juntos fomos criados quando crianças, juntos íamos à escola, juntos havíamos brincado. Mas nessa época não era amigo tão íntimo como o foi depois, embora também não o fosse tanto quanto o exige a verdadeira amizade, uma vez que esta só existe entre os que unem por meio da caridade, derramada em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado". A amizade para Agostinho tem como elo a caridade que nos é dada pelo Espírito de Deus. Ele ainda completa: "Ama-se de tal modo os amigos que a consciência se julga culpada se não é capaz de amar aquele que ama, ou se não procura retribuir o amor com amor, e apenas procura na pessoa do amigo o sinal exterior da sua benevolência". O bispo de Hipona, com essa sentença, alerta sobre o perigo de uma amizade interesseira.

A construção de boas amizades

Depois da contribuição de grandes homens para nos ajudar a entender o que é amizade, vamos agora para o maior Homem que existiu e que nos ensina como construir verdadeiras amizades. Sim, é com Jesus Cristo que daremos passos na compreensão de amizades verdadeiras.

Os nossos amigos são aqueles que nos conhecem de fato. Como falou Lawrence: "O meu nome é pertença dos meus amigos". A amizade permite que o outro adentre na vida do amigo, fazendo com que conheça os sonhos, as alegrias, as dores e também as tristezas. E com isso, além da amizade, surge a virtude da caridade, fazendo com que somente aquele que nos ama é que sabe quem realmente nós somos. O amigo é aquele que deposita constantemente em nós uma centelha de esperança, nem tanto por ele saber o que pode acontecer no futuro, mas pela certeza de que independente do que aconteça, ele estará ao nosso lado.


A verdadeira amizade é fundada na caridade, como disse Agostinho, e essa caridade só pode ser nos dada pelo Espírito Santo, que é derramado em nossos corações. Somente quem me ama pode me trair. Durante a vida pública de Jesus, muitos quiseram prendê-lo, mas ninguém conseguiu pôr a mão nele; apenas um amigo pode traí-lo. Mesmo com a traição, Jesus estava disposto a perdoá-lo, estava desejoso que Judas se arrependesse e voltasse para dentro da amizade, para esse espaço seguro. A verdadeira amizade deve ter sempre à disposição perdoar, dar o passo na direção do outro.

A palavra amigo pode ser entendida na definição de Kristianson: "Nunca se está realmente só quando se tem um amigo. Um amigo ouve o que tu dizes e tenta compreender o que não sabes dizer". O amigo consegue entender o que está em nosso coração, muitas vezes quando nem conseguimos expressar. A amizade exige tempo, o conhecimento do coração exige dedicação, paciência e, acima de tudo, respeito pelo sagrado, que é o coração do outro.

Continuando a narrativa da traição, o evangelista escreve o seguinte: "Ao cair da tarde, ele pôs-se à mesa com os Doze e, enquanto comiam, disse-lhes: 'Em verdade vos digo que um de vós me entregará'" (Mt 26,20). Com esse versículo, notamos que era noite. Assim acontece na amizade, quando não jogamos luzes no relacionamento, não conseguimos perceber com nitidez o que acontece, e erramos, traímos e machucamos aquele que amamos.

Tenha bons amigos ao longo da vida

O caminho de uma amizade é longo e exigente. Que tenhamos a coragem de nos lançar em verdadeiras amizades, que são baseadas na caridade, e que nos levam sempre para Deus. Como disse Tomás de Aquino, o amigo é aquele que quer as mesmas coisas e rejeita as mesmas coisas. Você só é amigo das pessoas que estão indo na mesma direção e têm os mesmos valores que você.

O livro do Eclesiástico (6,14-16) ensina o que é um amigo: "Amigo fiel é poderoso refúgio, quem o descobriu descobriu um tesouro. Amigo fiel não tem preço, é imponderável o seu valor. Amigo fiel é bálsamo vital, e os que temem o Senhor o encontrarão". Meus amigos leitores, o temor do Senhor é o caminho para uma amizade verdadeira.

Referências bibliográficas: 

[1] ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991, L. VIII, 1. 

[2] Ibid.

[3] AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Trad. Aldo Vannucchi et al. 2 ed. São Paulo, 2010. v. VI. Texto bilíngue: latim-português.

[4] AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Paulus, 1984, L. IV, c. IV.

[5] AGOSTINHO, 1984, L. IV, c. IV.

[6] MENDONÇA, José Tolentino. Nenhum caminho será longo: para uma teologia da amizade. 5. ed. Prior Velho: Paulinas, 2012, p. 186.

[7] Ibid., p. 191



Fábio Nunes

Francisco Fábio Nunes
Natural de Fortaleza (CE), é missionário da Comunidade Canção Nova e candidato às Ordens Sacras. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP), Fábio Nunes é também Bacharelando em Teologia pela Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP) . Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, no Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/amizade/como-posso-construir-boas-amizades-ao-longo-da-vida/

19 de março de 2021

Será que os santos atendem nossas orações?


Reflita: só Deus pode atender as nossas orações

Nessa sexta-feira, 3 de fevereiro, a Igreja celebra São Brás. Para continuarmos as reflexões sobre a oração, eu o questiono: Por que oramos aos santos? Essa oração tem eficácia? Nossos pedidos são atendidos por eles? Se os santos foram homens ou mulheres como nós, quais "poderes" eles teriam para atender nossa súplica? Se podemos pedir diretamente para Deus, por que "gastar tempo" pedindo para alguém que não seja Ele?

Mais uma vez, quem nos ajuda nessa reflexão é São Tomás de Aquino, por meio da Suma Teológica escrita por ele, para trazer à luz questões sobre a natureza de Deus, a natureza de Jesus e também algumas questões morais.

Os santos atendem nossas orações

Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Reflexão de São Tomás de Aquino

Para esses questionamentos, São Tomás é muito claro em nos apontar a resposta: "De dois modos fazemos oração a alguém: para que esse mesmo a defira ou para que obtenha de outrem o que queremos". Ou seja, no primeiro caso, o único que pode aceitar, conceder o que você pede é Deus. Portanto, é conveniente que você ore ao Senhor, pois é Ele e somente Ele quem vai deferir o seu pedido. É Ele quem tem todos os poderes (por ser Deus, onipotente) para conceder-lhe o que você pede.

São Tomás vai além ao dizer que podemos pedir a alguém que interceda junto Àquele que pode nos conceder. Fazendo uma comparação simples, muitas vezes, quando éramos crianças e queríamos receber alguma coisa que somente o pai podia nos dar, íamos até nossas mães. Por mais que elas não pudessem dar o que estávamos pedindo, sabíamos que elas intercederiam por nós junto a nossos pais. Ou ainda, dentro de uma empresa hierárquica, você deve falar primeiramente com o seu chefe imediato para solicitar alguma coisa. Por mais que ele não possa lhe conceder, é ele quem pode falar com a diretoria para conseguir o que você quer. Você, humildemente, apresenta o seu pedido ao seu chefe, que o leva adiante e pede à diretoria em seu nome.


Súplica aos santos

Essas pequenas comparações podem ilustrar a realidade da oração aos santos. Ao apresentarmos nossas súplicas aos santos, não estamos pedindo para eles "resolverem" o que queremos, mas solicitando que eles intercedam junto de Deus por nós.


Por mais que os santos tenham sido homens ou mulheres como nós, eles têm o mérito de fazer parte da morada celeste e ver Deus face a face. A Igreja acredita e propaga, por meio da vida dos santos, que eles estão com Deus e têm livre acesso a Ele. Pelos méritos próprios de uma vida santa vivida aqui na Terra, eles chegaram ao Céu. Se a Igreja canoniza um santo, é porque ela atesta que essa pessoa está no Céu. Como sabemos, o Céu é a morada de Deus.

Devoção aos santos

Os santos, portanto, além de mostrarem com sua vida e com seu testemunho que é possível viver uma vida repleta de Deus, ainda nos ajudam, intercedendo por nós junto do Pai.

Tenho dois santos de devoção: Dom Bosco e Santa Teresinha do Menino Jesus, além do Beato Pier Giorgio Frassati. Ao olhar para a vida deles, espelho-me e encorajo-me a viver uma vida de santidade. Mas ainda sei que, se em alguma situação eu pedir a intercessão deles, poderão me ajudar do Céu, ao lado de Deus, onde também residem.

Qual é o seu santo de devoção? A quais "amigos do Céu" você tem pedido ajuda? Não nos esqueçamos deles, pois, com seu auxílio, chegaremos também ao Céu.


Guilherme Zapparoli

Guilherme Zapparoli. Formado em Ciências Biológicas e pós-graduando em Bioética.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/sera-que-os-santos-atendem-nossas-oracoes/

17 de março de 2021

Não tenha medo de se reconhecer como miserável


Costumamos dizer que a vida às vezes nos prega peças. Um desses casos são aquelas ocasiões inesperadas que despertam em nós uma espécie de monstro interior que preferiríamos que permanecesse dormindo. Aquele senhor aparentemente calmo e comedido que bebeu demais na confraternização do condomínio e escandalizou a todos fazendo um discurso no qual dizia a sua opinião mais sincera (e extremamente negativa) a respeito de seus vizinhos, do síndico e até da mãe do síndico. Ou o pai que foi levar o filho pequeno para vacinar e aparentemente surtou porque imaginou que alguém furou a fila, dirigindo uma ira desproporcional a outro pai que ali estava com um bebê nos braços. Não faltam exemplos, e em tempo de vídeos virais, todos nós já devemos ter visto cenas como essas circulando em nossos celulares, a maioria delas de pessoas comuns que tiveram reações imprevisivelmente ruins a eventos aparentemente simples (Nem sempre essas reações se resumem à ira, frise-se. Em alguns casos é uma mentira grave "contada no susto", uma trapaça numa competição familiar que nem valia nada, só para não passar pelo vexame da derrota, ou mesmo um troco que veio a mais e você, num impulso, não devolveu). Normalmente, a pessoa se sente afogada na vergonha quando o episódio passa e tem grande dificuldade de encarar aqueles que presenciaram o "espetáculo", mas uma dificuldade ainda maior de encarar a si mesmo, de aceitar que aquele monstro saiu de dentro de si.

Não tenha medo de se reconhecer como miserável

Foto ilustrativa: triocean by Getty Images

Você tem medo de agir assim?

Dorian Gray, um dos mais famosos personagens da literatura, permanecia belo e jovem, com rosto angelical e puro, apesar de se deixar levar cada vez mais pelos vícios. Um dia, movido pela curiosidade, decidiu olhar o quadro com a sua imagem, justamente o quadro que ele tanto invejara pela beleza e pelo qual vendera a sua alma com o juramento imprudente de que daria qualquer coisa para permanecer eternamente belo e jovem como aquela imagem no quadro. Ele ficou então sumamente escandalizado quando viu que o quadro havia envelhecido e não ele, e que o quadro assumira as feições perversas e eivadas de vícios, enquanto ele mantinha a máscara de bondade que encantava as pessoas ao seu redor. O quadro claramente simbolizava o seu interior, sujo e mau, mas ele não podia suportar essa dura verdade, por isso escondeu a obra de arte onde nem mesmo ele fosse capaz de ver. É o que muitos de nós fazemos quando nos deparamos com nossas misérias. Negamos toda a situação, como se isso apagasse o fato  corrido: "Isso nunca me aconteceu antes!" ou "Eu sou incapaz de fazer isso, foi a bebida, a situação tal que eu estou vivendo, um surto etc., porque eu sei que sou incapaz de fazer mal a uma mosca". Aqui, preciso fazer algumas correções: sim, você é capaz de fazer isso. Sim, você é capaz de fazer mal a uma mosca. Não, não foi a bebida, não foi a tensão ou o nervosismo. Essas coisas apenas tornaram mais difícil controlar o que já estava dentro de você: o homem velho, dominado pelo pecado, inclinado para o mal, avesso ao bem. Essas "peças" que a vida nos prega são ocasiões privilegiadas de conversão e não deveríamos fingir que elas não aconteceram, não deveríamos ser covardes como Dorian Gray e esconder o quadro do nosso interior, mas refletir bastante sobre nossa conduta, à luz do Espírito Santo. Por meio desses momentos catárticos, entramos em contato direto com as nossas misérias, sem filtros, sem máscaras. Podemos ver de que barro somos feitos e o que somos realmente quando agimos guiados apenas por nossos instintos.

Há uma semana, envolvi-me num acidente de carro. Eu, minha esposa, dois dos meus filhos e um sobrinho voltávamos à noite do cinema em uma cidade próxima. Estávamos numa rodovia estadual e quando passávamos pelos quebra-molas, na área de um posto de gasolina, um motociclista bêbado, sem capacete e com o farol da moto desligado perdeu o controle e cruzou a pista diretamente na nossa direção, batendo frontalmente no nosso carro. Como eu havia passado por um quebra-molas e estava me aproximando de outro, o carro vinha bem devagar e o impacto não foi tão grande. Minha família e eu não nos machucamos, mas o motociclista fraturou a perna direita. Desci com a minha esposa do carro, vimos que o rapaz estava consciente, não estava sangrando, acalmamos as crianças e eu liguei para o SAMU e para a polícia. Ficamos aguardando e enquanto isso apareceram muitas pessoas que moravam ali na área, curiosas com o acidente. Após alguns minutos, o efeito do choque deve ter passado, assim como o torpor da bebida, e o motociclista começou a reclamar de dor. Mais do que reclamar, ele começou a gritar a plenos pulmões, intercalando os gritos com palavrões. O SAMU já tinha sido chamado há cerca de meia hora e não chegava, e o rapaz no chão, sem poder ser removido, por conta da fratura, gritando, sofrendo em agonia. Minha esposa estava inquieta, perturbada com o sofrimento do rapaz. A todo instante ela vinha me perguntar da ambulância que não chegava, enquanto rezava silenciosamente por ele.

É isso mesmo, produção?

Foi então que me dei conta de algo que acontecia em meu interior, ou, melhor dizendo, não acontecia: eu não sentia compaixão ou pena por aquele rapaz acidentado. Na verdade, eu não sentia nada. No melhor estilo "é isso mesmo, produção?", eu me questionei interiormente a respeito disso. "Não é verdade", eu dizia a mim mesmo, "eu não posso ser tão insensível". Não é que eu estivesse com raiva dele e por isso não sentia compaixão. Não, não era esse o caso. Eu simplesmente não conseguia me compadecer de uma pessoa que estava há meia hora agonizando de dor no chão com uma perna fraturada. Compartilhei essa descoberta com a minha esposa e continuei refletindo. Pedi a Deus a graça de sentir compaixão dele, esforcei-me para isso, mas era algo que vinha do intelecto, não do coração. Algumas pessoas vinham puxar conversa comigo, por exemplo, dizendo que aquele bêbado desgraçado só complicava a vida de gente de bem, que não tinha nada a ver com a cachaça dele, como eu. Eu dizia que não era bem assim, que o coitado estava sofrendo muito mais do que eu e o que nós passamos ali era só um pequeno transtorno perto do que ele iria enfrentar até se recuperar do acidente. Eu me esforçava vivamente para manifestar compaixão, mas me sentia como Arnold Schwarzenegger em O Exterminador do Futuro 2, quando o garoto John Connor tenta ensiná-lo a ser descolado, a falar gírias e dizer frases de efeito, mas tudo que o Exterminador fala é artificial, mecânico, sem o calor próprio de quem tira as coisas do coração.

Passei dias e dias refletindo sobre isso e parte de mim queria negar tudo aquilo, buscando argumentos e razões que explicassem a minha "aparente" insensibilidade, como algum possível choque diante do acidente, mas eu sabia que isso não era verdade. Foram dias de um longo diálogo com Deus e comigo mesmo, e, ainda assustado, assumi que aquela minha reação me dizia algo importante sobre mim mesmo, mostrava quem eu sou. E quem eu sou? Um homem com quase vinte e cinco anos de vivência intensa na Igreja, catorze deles como membro da Canção Nova. Um homem que busca a santidade de vida, que prega essa santidade, que participa da missa diariamente, confessa-se com regularidade, esforça-se para permanecer na Graça de Deus. Um homem que busca ser em tudo guiado pelo Espírito Santo, que reflete diariamente sobre a Cruz de Cristo e a cruz nossa de cada dia… Ainda assim, um homem que depois de tudo isso tem tão pouco amor no coração que foi incapaz de se compadecer de uma pessoa acidentada no chão, gritando de dor com os ossos quebrados. Esse sou eu. Sem enfeites, sem máscaras, sem exageros nem autocondescendência, esse sou eu. Após um quarto de década de vida na Igreja, eu já aprendi sobre virtudes e sobre vida dos santos, sobre graça santificante e sobre a história da Igreja, sobre tantas coisas, mas ainda não aprendi a ver Cristo no próximo, amando-o. Essa descoberta me desanimou, me fez ter a impressão de que perdi meu tempo? Não. Pelo contrário, o pensamento que me veio foi: se andando com Cristo esses anos todos eu ainda sou assim, imagine quem eu seria se não fosse a Graça de Deus agindo sobre mim.


Fonte de conversão

Tirei desse episódio duas grandes conclusões, que posso chamar de dois frutos espirituais para a minha conversão. "Onde estaria eu se não fosse o seu amor, Senhor?", parafraseando a bela canção, é o primeiro. Deus tem feito uma obra belíssima em mim e se não fosse isso, que tipo de coração ainda mais duro e cruel eu não teria! Entra então o segundo fruto: baixe a sua bola, Leonardo. Você não é isso tudo que às vezes tenta se convencer que é. O que quer que exista de bom dentro de você vem exclusivamente de Deus. Os talentos, as boas inspirações, os gestos, os sentimentos, tudo vem de Deus. Quando você age movido pelos seus próprios impulsos, acontece isso que você
experimentou: miséria, desamor, falta de compaixão, insensibilidade… Por isso, esvazie-se de si mesmo como o próprio Cristo esvaziou-se. Ele, que é Deus, não fez questão disso, mas aniquilou-se a si mesmo, viveu a obediência até o último instante e humilhou-se até a morte de Cruz. Esvazie-se das suas pretensões de bondade, das suas certezas, das suas vaidades. Quando tudo estiver vazio dentro de você, sobrarão as misérias, a fraqueza, a vulnerabilidade. Então você ouvirá de Deus o que São Paulo ouviu: "Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força".



José Leonardo Nascimento

José Leonardo Ribeiro Nascimento é casado, pai de quatro filhos e membro do segundo elo da Comunidade Canção Nova desde 2007. Natural de Paripiranga (BA), cursou Ciências Contábeis na Universidade Federal de Sergipe e fez pós-graduação em economia por meio do Minerva Program, na George Washington University, nos Estados Unidos. Trabalha, há 18 anos, como Auditor Federal na Controladoria-Geral da União em Aracaju (SE). Ele e sua esposa trabalham, há muitos anos, com a evangelização de casais e de famílias, coordenando grupos e pregando em retiros e encontros.
Instagram: @leonardonascimentocn | Facebook: @leonardonascimentocn


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/nao-tenha-medo-de-se-reconhecer-como-miseravel/

15 de março de 2021

Como combater o pecado da impureza e viver a castidade?


Dando continuação a nossa série de estudos sobre os pecados capitais, tomemos conhecimento, agora, do pecado da impureza e o remédio para combatê-la: a castidade.

Diz São Paulo aos Coríntios: "Ora, vós sois o corpo de Cristo e cada um de sua parte, é um dos seus membros" (ICor 12,27). Diz ainda: "Fugi da fornicação. Qualquer outro pecado que o homem comete é fora do corpo, mas o impuro peca contra o seu próprio corpo" (ICor 6,18). Com isso, podemos dizer que o pecado da impureza é grave, porque faz mal não só para quem o pratica, como também para todo o corpo místico de Cristo.

O apóstolo ainda diz: "Tomarei, então, os membros de Cristo, e os farei membros de uma prostituta? Ou não sabeis que o que se ajunta a uma prostituta se torna um só corpo com ela? Está escrito: 'Os dois serão uma só carne' (Gen 2,24)" (ICor 6,16). Vemos que, para Paulo, entregar-se à prostituição é o mesmo que prostituir o Corpo de Cristo. Diz professor Felipe Aquino, em seu livro 'Os Pecados e as Virtudes Capitais', que "essa é uma realidade religiosa da qual ainda não tomamos ciência plena, isto é, toda vez que eu peco, o meu pecado atinge todo o Corpo de Cristo. Essa é uma das razões pela qual nos confessamos com o ministro da Igreja, para nos reconciliarmos com ela, que foi manchada pela nossa falta".

Como combater o pecado da impureza e viver a castidade?

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

O remédio para combater a impureza é a castidade

Jesus levou muito a sério o pecado da impureza. No Sermão da Montanha, quando ensinava ao povo, Ele disse: "Todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração." (Mt 5,27-28). Com essas palavras, Jesus quer ensinar que o pecado da impureza necessariamente deve ser cortado pela raiz, isto é, já nos pensamentos e imaginações. "É do coração que provém os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias." (Mt 15,19). Se o pecado da impureza não for cortado nos pensamentos, não tardará em se transformar em ato.

O pecado da impureza é vivido, muitas vezes, entre os casais de namorados e noivos. Começam a viver uma vida marital antes do sacramento do matrimônio. Não compreenderam que a "união dos corpos só tem sentido quando existe a união prévia dos corações e das almas, de maneira sólida e permanente, como se dá no casamento" (Felipe Aquino).

Como bem ensina professor Felipe Aquino, "o sexo é belo, mas fora do plano de Deus é um desastre, explode como uma bomba atômica. Desgraçadamente, a nossa sociedade promove o sexo acintoso, sujo, sem responsabilidade nem compromisso, e depois se assusta com as milhões de meninas grávidas, estupros, separações, adultérios etc".


Castidade

Papa João Paulo II: "A educação sexual, direito e dever fundamental dos pais, deve fazer-se sempre sob a sua solícita guia, quer em casa, quer nos centros educativos escolhidos (…). Nesse contexto, é absolutamente irrenunciável a 'educação para a castidade' como virtude que desenvolve a autêntica maturidade da pessoa, e a torna capaz de respeitar e promover o 'significado nupcial' do corpo." (Familiaris Consortio, n. 37).

Vale recordar o emocionante momento de São João Paulo II quando esteve nas Filipinas em janeiro de 1995. Haviam ali mais de 4 milhões de jovens para participar da Santa Missa celebrada em Manila. Para surpresa e, ao mesmo tempo, alegria do Papa, um grupo de aproximadamente cinquenta mil jovens entregou para Sua Santidade um abaixo-assinado contendo o compromisso deles em viver a castidade. O Papa ficou emocionado.

Em suma, "a castidade é a virtude que mais forma homens e mulheres de verdade, de acordo com o desejo de Deus, e os prepara para constituir famílias sólidas, indissolúveis e férteis. Mas, infelizmente, também nós católicos, por terrível omissão, permitimos que fosse arriada a bela bandeira da castidade. Ficamos mudos e calados diante abaixo, os horrores de um "sexo-livre", devasso e pervertido" (Felipe Aquino).

O remédio contra a impureza é a castidade. Devemos fugir de toda e qualquer ocasião de pecado. Diz o ditado popular: "a ocasião faz o ladrão". Não podemos abrir brechas para o pecado em nossa vida. Se abrirmos, ele entrará e destruirá nossa vida. Por isso mesmo, devemos dizer não a tudo que nos leva a pecar: filmes, livros, revistas, músicas etc. Uma coisa é certa: jamais viverá a castidade quem não vigiar o olhar, os pensamentos e as imaginações. Acima de tudo, evitar as ocasiões que podem levar ao pecado.



Padre Elenildo Pereira

Padre Elenildo Pereira é membro da Comunidade Canção Nova. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP).  Bacharelando em Teologia pela Faculdade Dehoniana, Taubaté (SP) e pós-graduando em Bioética pela Faculdade Canção Nova. Atua no Departamento de TV da Canção Nova, no Santuário Pai das Misericórdias e Confessionários. Autor do livro "Ser humano, obra prima das mãos de Deus", pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/como-combater-o-pecado-da-impureza-e-viver-a-castidade/

12 de março de 2021

Qual é o seu projeto de santidade?


Deus reserva para o pecador as Suas delicadezas de Pai de misericórdia, que ama e perdoa sempre. Regenera-o totalmente para que possa retornar o caminho e trabalhar para o Reino d'Ele, pela justiça e pela paz. "Misericórdia" é uma das palavras que mais aparecem na Bíblia, sobretudo, no Evangelho de Lucas, que é chamado "o evangelista da misericórdia". A prática de Jesus confirma a atitude de um Pai misericordioso. Cuidar e cuidar-se são atitudes que geram qualidade de vida. Tudo na vida requer cuidado. Um projeto de santidade requer uma atitude contínua de vigilância e de cuidados diários. Devemos cuidar diariamente de nosso corpo e de nossa alma, assim como quem tem flores precisa cuidar delas todos os dias para não perdê-las.

A Igreja oferece a seus fiéis um sacramento especial: rito do perdão. O sacramento da confissão é o lugar privilegiado do perdão de Deus para recuperar e cuidar da vida decaída dos cristãos.

Você se sente fraco e pecador? Deus lhe diz: "Faça sua parte e eu farei o resto. Tende confiança. Eu venci o mundo" (cf. Jo 16,33).

Qual é o seu projeto de santidade?

Foto ilustrativa: Anastasiia Stiahailo by Getty Images

Almeje a santidade!

Diga com vontade: "Quero ser santo", "quero continuar a caminhada", e isso vai acontecer. Quem persegue um sonho precisa ter obstinação e uma santa teimosia, além de um otimismo repleto de esperança, que confia em Deus e em Seu poder. Deixe o resto por conta d'Ele. Deus ama a todos como são. Aliás, ama os pecadores mais que os "santos". É a lógica do amor. O Senhor entende profundamente o coração humano, que é inconstante.

Deus Pai perdoa não apenas pelo sacramento da confissão. Sempre que alguém se arrepender de algo e pedir perdão será perdoado. A Bíblia diz que a caridade cobre uma multidão de pecados. Então quem tem o amor no coração não deve ter medo do pecado. O Altíssimo não só perdoa, mas se alegra com o retorno do filho, com sua conversão e faz festa, assim como o pai do filho pródigo, que abraçou e beijou o filho que retornava para a casa, preparando uma grande festa para comemorar a sua volta.

O tratamento que Jesus dispensava aos publicanos e aos pecadores era tão especial que escandalizava os fariseus, que se julgavam os "melhores". Cristo agia bem diferente: perdoava e esquecia os pecados cometidos pelos homens.

A alegria do perdão

Há pessoas muito boas, bem intencionadas, que carregam certos "pecados" como uma verdadeira cruz, às vezes, pela vida inteira. Só Deus conhece o sofrimento terrível dessas pessoas que querem seguir a Jesus, mas não conseguem porque cometem sempre a mesma falta, a qual, muitas vezes, nem pecado é, e sim hábito. Qualquer texto de moral cristã ensina que o hábito diminui a culpabilidade e até cancela a culpa. Embora, muitas vezes, não sejam pecados, criam, no entanto, um "sentimento de culpa" causando sofrimento às pessoas. Deus não quer isso para os Seus filhos queridos.


É preciso ter paciência também consigo mesmo e perdoar-se, sentir a alegria do perdão. O Salmo 50 nos ajuda a rezar: "Devolve-me a alegria de ser salvo" (Sl 50,14). Quem se perdoa, perdoa aos outros também.

O grande recurso criado por Cristo para restituir a paz e o perdão ao pecador e permite-lhe continuar, sem remorsos inúteis, o caminho da santidade é o sacramento da reconciliação ou penitência. Com ele, sela-se a paz. Sentir-se perdoado, poder "deixar para trás" um passado que, muitas vezes, nos incomoda e envergonha, para recomeçar uma vida nova, é certamente um grande dom de Cristo a cada cristão e à Sua Igreja.

(Trecho extraído do livro "Cristãos de atitude – O caminho espiritual proposto por Dom Bosco" de padre Mário Bonatti)


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/qual-e-o-seu-projeto-de-santidade/