7 de julho de 2017

Solidariedade: é preciso considerar a importância do outro

O valor da solidariedade

Viver a solidariedade é indispensável para possibilitar que as práticas políticas recuperem a sua inteireza. É necessária uma limpeza nos mais variados mecanismos de funcionamento da política, e de forma urgente.

A solidariedade, por ser um valor capaz de requalificar, permite reconstruir o esgarçado tecido da cidadania. Por isso, em todos os momentos, em diferentes sociedades, é indispensável fazer referência, propor iniciativas e refletir sobre a solidariedade. No coração da prática solidária está o princípio fundamental e inegociável da consideração para com o outro.

-Solidariedade:-é-preciso-considerar-a-importância-do-outro-Foto: STILLFX by Getty Images

O apóstolo Paulo faz essa recomendação, estabelecendo esse valor como fundamento da identidade daquele que tem fé. Explica o apóstolo: exemplar é o gesto de Deus ao oferecer à humanidade o que tem de mais precioso, seu filho Jesus, o Salvador. Assim, Deus antecipa-se no gesto de reconciliação com o ser humano, deixando a lição fundamental de que é preciso reconhecer a importância do outro. Esse "outro" é você, eu, cada um de nós. Esse princípio tem força de equilíbrio, pois conduz a civilização na direção humanística que permite superar crises.

Semear a solidariedade

Embora, muitas vezes, reconheça-se o valor da solidariedade, sabe-se que não é tão simples plantar e fazer florescer essa convicção nos corações. Na política, por exemplo, em vez de se investir nos gestos solidários, prevalece a crença de que avanços diversos dependem de conchavos, ideologias partidárias ou simplesmente das promessas nunca cumpridas. Contenta-se assim com ensaios de lucidez, insuficientes para atender aos urgentes anseios do povo, principalmente de quem é mais pobre. Falta, pois, na sociedade brasileira, um tecido solidário de qualidade.

Quase sempre, o que se verifica no Brasil é um discurso de autoelogio sobre certas práticas dedicadas aos outros. Em "alto e bom som", há os que proclamam que a cultura latina e a brasilidade têm na solidariedade um valor inerente. Fazem referências desdenhosas a outras culturas marcadas pela objetividade, interpretando essa característica como "frieza". Mas, na prática, isso serve apenas para aliviar as consciências de pessoas que não se doam ou se contentam em fazer tímidas doações a projetos sociais.

Amar o outro como a si mesmo

Ora, isso é bem diferente do que ensina o princípio apresentado pelo apóstolo Paulo – considerar a importância do outro. O apóstolo adverte que a liberdade, quando se torna pretexto para buscar o que satisfaz, mas não convém, provoca desastres. Incapacita a competência humana e espiritual de amar ao outro como a si mesmo. O resultado é nefasto, diz o apóstolo: "Se vos mordeis e vos devorais uns aos outros, cuidado para não serdes consumidos uns pelos outros!". Paulo indica o caminho a seguir: "Fazei-vos servos uns dos outros, pelo amor".

Ao trilhar esse percurso e reconhecer o valor da solidariedade, colabora-se com a construção de uma cultura que contemple fortes sentidos de pertencimento, patriotismo e apurada sensibilidade humana, que se desdobra em gestos e ofertas mais generosas. Quem se faz servo apura a própria visão da realidade e consegue ouvir os clamores de quem necessita de ajuda.

Vivenciar a solidariedade

Por isso mesmo, urgente e prioritário, neste momento em que a sociedade brasileira precisa sair da crise, é reconhecer que a solidariedade é determinante nas dinâmicas sociais. Isso não é uma simples reflexão teórica, mas indicação de uma exigência moral com força transformadora, pois possibilita o surgimento de atitudes que estão na contramão das violências que dizimam, das corrupções que sucateiam e da perda da percepção de que todos são destinatários, igualmente, de condições dignas.


A solidariedade é, pois, princípio social e virtude moral. Vivenciá-la é investir na edificação de um contexto novo e melhor. Sem esse princípio e virtude, não se conquistam os ordenamentos sociais almejados. As relações pessoais continuarão comprometidas e em processo crescente de deterioração. E um perverso ciclo é alimentado, pois as pessoas se tornam cada vez mais distantes das estruturas dedicadas à solidariedade. Com isso, por ignorância, são perpetuadas regras e leis, que são inumanas e pesadas.

Praticar

Para além de um sentimento qualquer de compaixão vaga e superficial, a solidariedade tem o valor de despertar e criar o gosto imperecível pelo bem comum. E todo cidadão, para ser eterno aprendiz do valor da solidariedade, tem de praticá-la, diariamente, permanentemente.

Esse exercício exige considerar a importância do outro, abrir os olhos e os ouvidos para nunca ser indiferente às dores do mundo, lutar para sair das zonas de conforto e deixar-se incomodar pelos sofrimentos da humanidade. Uma postura que requer, inclusive, a disposição para tirar do próprio bolso quantias a serem destinadas a projetos sociais e ações solidárias. Pois, a sociedade estará na direção de superar seus descompassos e a cidadania se qualificará quando prevalecer o inestimável valor da solidariedade.

5 de julho de 2017

Por que devo fazer o sinal da cruz quando passo por uma igreja?

Conheça a importância do sinal da cruz para o cristão

O sacrifício de Jesus Cristo é o sinal maior do amor de Deus por nós. Para que pudéssemos nos ver livres do pecado, Aquele que viveu livre dele foi condenado e crucificado, e, em Seu sacrifício, traçou sobre o mundo o sinal da cruz. Nas Palavras do Papa Francisco, "a cruz de Jesus é a nossa única esperança verdadeira! Eis por que a Igreja 'exalta' a santa cruz, e eis por que nós cristãos abençoamos com o sinal da cruz". Podemos ler, nos Evangelhos de Lucas e Mateus, o convite dirigido a nós por Jesus: "Negue-se a si mesmo, tome a sua cruz" (Mt 16,24 e Lc 9,23). Traçar sobre nosso corpo esse sinal é professar nossa fé sem palavras.

Porque devo fazer o Sinal da Cruz quando passo por uma IgrejaFoto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Em que momentos podemos ou devemos fazer o sinal da cruz?

Na celebração da Santa Missa, em observância ao rito litúrgico, há momentos em que o sinal da cruz se apresenta como obrigatório, como se faz no início e ao fim da celebração. Também é traçado o sinal da cruz em reverência à leitura do Evangelho, com o polegar da mão direita, sobre si mesmo, na testa, na boca e no peito. Nesses momentos, ao traçar sobre o corpo o sinal da cruz, que se faça com a devida devoção, eis que é na sagrada liturgia que se opera a santificação dos homens e na qual, por meio de sinais sensíveis, prestamos o culto público de Deus. E a todo momento, em nosso cotidiano, ao professar a fé pelo sinal da cruz, lembremo-nos das palavras de São Paulo: "De fato, Cristo não me enviou para batizar, mas para anunciar o Evangelho, sem recorrer à sabedoria da linguagem, a fim de que não se torne inútil a cruz de Cristo, pois a linguagem da cruz é louca para aqueles que se perdem. Mas para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus" (1Cor 1,17-18).

Professar a fé sem palavras é expressão sutil e humilde de devoção e não deve ser empregue sem a adequada veneração, sob o risco de fazê-lo de modo supersticioso. Com efeito, não há obrigatoriedade em traçar o sinal da cruz ao passar por uma igreja, o que não diminui seu significado. É que, no Cerimonial dos Bispos, no número 110, verifica-se a citação de uma antiga prática cristã no uso da água benta, que diz: "Seguindo louvável costume, todos, ao entrar na igreja, molham a mão na água benta, contida na respectiva pia, e fazem com ela o sinal da cruz, como recordação do seu próprio batismo". Daí, verifica-se o costume de muitas pessoas em traçar o sinal da cruz ao entrar na igreja, que, em sinal de respeito e devoção, foi se estendendo para o exterior do templo, até que tomou a forma que vemos muitos cristãos praticarem atualmente, de traçar sobre si o sinal da cruz ao passar na frente de uma igreja.


Faça o sinal da cruz

Certos de que a força de Deus nos acompanha em nossas provações diárias, façamos do sinal da cruz um gesto de fortalecimento e profissão de fé, atentos para que sempre que o traçarmos, seja com o coração repleto de devoção. Como nos ensina o Santo Papa João Paulo II: "Quem quer que seja que acolha Deus em Cristo, acolhe-O mediante a cruz. E quem acolheu Deus em Cristo, exprime isso mesmo mediante esse sinal: quem O aceitou, efetivamente, benze-se com o sinal da cruz sobre a fronte, sobre os ombros e sobre o peito, para manifestar e para professar que, na cruz, encontra-se de novo totalmente a si mesmo, alma e corpo, e que com este sinal abraça e aperta ao peito Cristo e o seu reino".

REFERÊNCIAS

A BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral. 86 ed. São Paulo: Paulus. 2012.

PAPA FRANCISCO. Angelus. 14 set. 2014. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/angelus/2014/documents/papa-francesco_angelus_20140914.pdf>

PAPA JOÃO PAULO II. Palavras no final da via-sacra. 4 abr. 1980. Disponível em: < http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/speeches/1980/april/documents/hf_jp-ii_spe_19800404_via-crucis.html>

SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Cerimonial dos Bispos. Cerimonial da Igreja.

3 de julho de 2017

Cirurgia plástica é pecado?

Existem muitas dúvidas sobre a cirurgia plástica ser um pecado

A insatisfação com o corpo pode gerar distúrbios; na pressa para emagrecer, muitas mulheres querem fazer cirurgia plástica para resolver o "problema".

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Foto: 12577267,  webphotographeer, Istock by getty images

Estou com autoestima baixa, por isso preciso fazer cirurgia plástica

O verão está chegando e a preocupação com o corpo vai se intensificando. Olhar no espelho e deparar-se com qualquer imperfeição é desesperador. Aprender a conviver com a frustração de não gostar da própria imagem é um desafio. Atualmente, numa sociedade pós-moderna, a busca frenética pelo corpo perfeito tem aumentado. Fazer cirurgia plástica, por exemplo, virou moda pela sua capacidade de construir corpos esculturais. Mas será que a procura desenfreada por esses procedimentos tem sido benéfica?

Quando o assunto é cirurgia plástica, é necessário verificar a necessidade com cuidado e, se possível, com o acompanhamento de um psicólogo, que comprove se tal ato será determinante para sua autoestima. Às vezes, essa realidade é só a ponta do iceberg, a exteriorização de insatisfações muito maiores.

Como ter um corpo saudável e bonito?

A beleza física da mulher engloba boa alimentação, exercícios físicos, hidratação da pele e cuidados exteriores. Isso tudo, de modo geral, é interessante, porque melhora a saúde. Com a saúde melhor, a mulher vai ter uma estética agradável. Mas é necessário tomar cuidado com os exageros, para que não se tornem vícios e, consequentemente, doenças psicológicas. Mulher, esteja atenta para que algo bom não se torne ruim, porque a vida precisa ser vivida com responsabilidade, foco e leveza.

Acordar cedo e enfrentar os exercícios de academia não é algo que gera prazer na maioria das pessoas. A decisão de encarar a malhação após o trabalho tende a ser uma boa alternativa, porém, o desgaste enfrentado durante o dia – reuniões, cuidados com as crianças, almoço e trânsito – pode ser desmotivador. O cansaço, depois dessa maratona, tende a impedir a vontade de malhar. E o que tem se tornado comum é a procura por "dietas milagrosas".


A nutricionista Michelle Barros aconselha as mulheres a procurarem um profissional antes de começar qualquer tipo de dieta. "Hoje, são muito comuns vários tipos de regimes que prometem 'milagres' para a perda de peso, na busca pelo corpo perfeito, esquecendo-se dos efeitos nocivos que essas dietas causam no organismo de mulher como: infertilidade, desmotivação, perda severa de nutrientes, distúrbios alimentares e até depressão."

O que a Igreja diz sobre cirurgia plástica?

A preocupação com o peso ideal e a beleza refletida no corpo tem levado muitas mulheres a terem transtornos alimentares, autoestima baixa e complexo de inferioridade. A Igreja não condena cirurgias estéticas, mas, como mãe, orienta a julgar com liberdade, caso a caso, de maneira que a moralidade da cirurgia plástica deve ser avaliada de acordo com a virtude da temperança, que é a capacidade de moderação.

A vida e a saúde física são bens preciosos doados por Deus. Devemos cuidar delas com equilíbrio, levando em conta as necessidades alheias e o bem comum. […] Se a moral apela para o respeito à vida corporal, não faz dela um valor absoluto, insurgindo-se contra uma concepção neopagã, que tende a promover o culto do corpo. […] A virtude da temperança manda evitar toda espécie de excesso (Catecismo da Igreja Católica 2288, 2289 e 2290).

Segundo padre Wagner Ferreira, doutor em Teologia Moral, a intervenção cirúrgica depende de cada caso, sobretudo quando se fala da saúde física e psíquica. "Se a pessoa quer fazer uma cirurgia após outra apenas por questões estéticas, para atender a essa ideologia do 'culto ao corpo', é claro que é imoral. No entanto, às vezes, a pessoa está com a autoestima baixa e a saúde psíquica comprometida, sentindo-se inferiorizada por causa de determinada parte do corpo; neste caso, pode-se fazer a intervenção, mas, antes de tudo, é preciso um caminho que mostre a essa pessoa que a sua beleza está acima da estética. A pessoa deve ter consciência de que ela não é escrava de uma cultura de beleza, a qual, muitas vezes apresentada como padrão determinado por uma economia, quer vender cosméticos, cirurgias, um corpo bonito e assim por diante", diz o sacerdote.

A Igreja orienta seus fiéis a cuidarem do corpo com zelo e equilíbrio. Portanto, você que enfrenta a insatisfação com si mesma e deseja passar por procedimentos cirúrgicos, esteja atenta para não se deixar levar pelo culto ao corpo, lute para alcançar a virtude da temperança, que o ajudará no discernimento e nas escolhas a serem feitas. A Palavra de Deus diz: "Não vos conformeis com este mundo, mas transforma-vos, renovando vossa maneira de pensar e julgar, para que possais distinguir o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito" (Rm 12,2).

Rezemos juntas: "Senhor Jesus, eis-me aqui, suplicando a Tua misericórdia. Submeto ao Teu domínio as insatisfações físicas que trago comigo e que me aprisionam. Eu quero ser livre e me sentir linda como eu sou. Amém".

 


29 de junho de 2017

Um fenômeno chamado Papa Francisco

Francisco, o Papa de todos

"O primeiro Papa latino-americano e primeiro religioso jesuíta escolhido para o ministério petrino já visitou 27 países e inaugurou um novo contato com os fiéis pelas redes sociais"

"O Papa Francisco é um fenômeno!" A frase dita por Bento XVI, na ocasião em que encontrou alguns cardeais da Cúria Romana, em 2014, ilustra a força da presença de Francisco nestes quatro anos e três meses de pontificado. O Papa argentino deu início ao ministério petrino, no dia 19 de março de 2013, ao receber o Pálio e o anel de pescador. E lá se foram mais de 1550 dias intensos, seguidos por gente do mundo inteiro, simpatizantes ou não.

-Um-fenômeno-chamado-Papa-Francisco-Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Um Pontífice da era digital, que sabe navegar e levar a voz da Igreja aos cinco continentes por meio do Instagram, Twitter e sites vaticanos. Sua conta no Instagram, Franciscus, em cinco idiomas, por exemplo, conta com 5 milhões de seguidores. Ele também inaugurou uma forma nova de falar com os fiéis gravando vídeos no celular, que são viralizados nas redes.

"Igreja pobre para os pobres"

Uma Igreja missionária, de portas abertas, que vá às periferias reais e existenciais é a maior insistência de Francisco. "Como gostaria de uma Igreja pobre para os pobres!", já exclamou em diversas ocasiões. Um "plano de pontificado"2, que desponta em seus discursos e atitudes.

Exemplo são as viagens internacionais que já somam 19, sendo a 27 países. Dentro da Itália, Francisco visitou 16 cidades e se encontrou com milhares de fiéis. Todas permanecerão para a história. Um destaque certo, no entanto, tem a viagem ao Brasil, por ser a primeira de seu pontificado, por ocasião da XXVIII Jornada Mundial da Juventude, em julho de 2013. A visita a Cuba e aos Estados Unidos, em setembro de 2015, ocorreu dois meses após restabelecimento das relações diplomáticas, processo que Francisco participou.

União e paz

Antes de chegar ao México, em fevereiro de 2016, o Papa se encontrou com o Patriarca russo ortodoxo Kirill (no aeroporto de Havana), sendo o primeiro encontro entre os líderes das duas igrejas após o cisma de 1054. A visita relâmpago à ilha Grega de Lesbos, onde se encontrou com refugiados de países em guerra como a Síria, também desponta em seu pontificado. O Papa levou para morar em residencias cedidas pelo Vaticano 12 desses refugiados.

Em visita à Armênia, Francisco gerou polêmica reconhecendo como "genocídio", a morte de cerca de 1,5 milhões de armênios que viviam no império otomano durante a 1ª Guerra Mundial. Afirmação que trouxe admiração dos armênios e duras críticas da Turquia.

Em comunhão com os pontificados precedentes, é um incansável propagador da paz. A jornada de oração pela paz, ocorrida no Vaticano em junho de 2014, com presença do então presidente de Israel, Shimon Peres, e o líder palestino, Mahmoud Abbas, significa um marco neste campo. O Pontífice acompanhou de perto, por exemplo, as negociações de paz entre o Governo da Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias (Farc), e em setembro deste ano visitará o país.

Reforma

A palavra mais dita nos últimos anos pela mídia a respeito de Francisco é reforma. Embora não seja novidade, mas sim um processo de continuidade com o pontificado anterior, Francisco ganha o mérito de mudanças significativas no campo administrativo da Cúria Romana.

Para esse fim, criou o Conselho de Cardeais, chamado popularmente de C9, um grupo de purpurados que se reúne para analisar e propor as mudanças necessárias. Nesse contexto, seguem também as medidas de máxima transparência as ações do "Banco Vaticano", o Instituto para as Obras de Religião (IOR). Aliás, transparência também é um empenho do Papa nos últimos tempos, para evitar informações errôneas e manipuladas pela mídia.

Espaço às mulheres e entrevistas

Em questão de novidade, Francisco trouxe uma séria reflexão sobre o papel das mulheres na Igreja. Criou uma comissão oficial para estudar a questão do diaconato das mulheres. Autorizou também a criação de uma comissão, abrigada pelo Pontifício Conselho para a Cultura, composta por 37 mulheres, que têm o papel de propor reflexões e mudanças.

Unindo novidade à transparência, Francisco lida com facilidade com os meios de comunicação, falando de assuntos polêmicos de modo franco e aberto. Acessível aos jornalistas, durante os voos papais, ele responde a perguntas livres. Em 4 anos de pontificado, já é recordista no número de entrevistas concedidas a TVs, jornais, rádios e até meios de comunicação universitários.

Um Papa de acentuado bom humor

Por fim, uma característica que faz recordar o grande Papa São João XXIII: o bom humor. Um sorriso largo e fácil recebe sempre os peregrinos que se encontram com Francisco. Os telefonemas "surpresa", que faz muitos desligarem "na cara do Papa" por não acreditar ser verdade, são momentos hilários.

As histórias engraçadas da infância e situações vividas durante o serviço à Igreja argentina já renderam muitas risadas. Em uma ocasião, uma senhora, que acreditava ser afligida por uma grande provação, perguntou-lhe o que fazer para que seu filho de 33 anos arrumasse emprego, se casasse e construísse a própria vida. Sem exitar, Francisco respondeu: "Isso é fácil, e só a senhora deixar de lavar e passar a roupa dele".

Contato com o povo

Há e haverá, certamente, muito o que dizer de Francisco, mas, assim como o Papa emérito Bento XVI deu o tom do início do texto, é dele também a ideia final. Segundo Ratzinger3, o que mais caracteriza o Pontífice argentino é o tempo e a atenção que dispensa ao povo, a maneira como se relaciona com a multidão, aperta as mãos, olha nos olhos e anuncia um Deus misericordioso.

1 https://noticias.cancaonova.com/especiais/pontificado/bento-xvi/papa-francisco-e-um-fenomeno-diz-bento-xvi/

2 http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2013/march/documents/papafrancesco_20130316_rappresentanti-media.html

3 Livro "Bento XVI: As últimas conversas" de Peter Seewald

Para aprofundar os temas tratados neste artigo, acesse a página especial Francisco, no noticias.cancaonova.com

Liliane Borges
Jornalista e Missionária da Comunidade Canção Nova, trabalhou na cobertura de dois conclaves em Roma. Ela também acompanhou o funeral do Papa João Paulo II e o pontificado de Bento XVI. Atualmente, trabalha no Departamento de Jornalismo Canção Nova, onde é responsável pela cobertura dos eventos com o Papa Francisco e a Igreja no Brasil.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/um-fenomeno-chamado-papa-francisco/

26 de junho de 2017

A esperança é o combustível da vida

Entenda por que a esperança é o combustível da vida

A esperança corresponde à aspiração de felicidade existente no coração de cada pessoa. Interessante observar que quem perde a esperança mais profunda perde o sentido de sua vida; sem esperança, viver não tem sentido. O próprio antônimo dessa palavra é desespero, ou melhor, a perda quase que em estado definitivo da esperança. E esse desespero é capaz de corroer o coração.

A-esperança-é-o-combustível-da-vidaFoto: Wesley Almeida/cancaonova.com

A esperança é a vacina contra o desânimo e contra a possibilidade de invasão do egoísmo, porque, apoiados nela, dedicamo-nos à construção de um mundo melhor. A perda da esperança endurece nossos sentimentos, enfraquece nossos relacionamentos, deixa a vida cinza, fazendo-a perder parte do seu sabor. Porém, todos os dias, somos atingidos por inúmeras situações que podem nos desesperar.

A esperança é o combustível da vida, e a forma de mantê-la viva é não prender os olhos nas tragédias, pois, a cada desgraça que contemplamos, corremos o risco de perder o combustível. Existe, na mitologia grega, a presença de uma figura interessante: uma ave chamada fênix, que, quando morria, entrava em autocombustão; passado algum tempo, renascia das próprias cinzas. A fênix, o mais belo de todos os animais fabulosos, simbolizava a esperança e a continuidade da vida após a morte. Revestida de penas vermelhas e douradas, as cores do sol nascente, possuía uma voz melodiosa, que se tornava triste quando a morte se aproximava.

A impressão causada em outros animais por sua beleza e tristeza chegava a lhes provocar a morte. Nossa vida passa por esse processo várias vezes num único dia, ou seja, sair das tragédias para contemplar a beleza que não morreu, a vida que existe ainda, como fazia essa ave mitológica. Alguns historiadores dizem que o que traria a fênix de volta à vida seria somente o seu desejo de continuar viva. Depois de completar quinhentos anos, elas perdiam o desejo de viver e aí, se morressem, não mais reviviam. O desejo de continuar a viver era sua paixão pela beleza, que é a vida.

Vida sem esperança perde o sabor

Vida sem sabor é vida sem perspectivas. Quem cansou de tentar, cansou de lutar e desistiu de tudo, uma vida que apenas espera o seu fim, por pensar que nada que se faça pode mudar coisa alguma. Quem perdeu a capacidade de sonhar, viu o desejo de felicidade confundiu-se com a utopia. Felizmente, não existe motivo para desanimar, lembrando as palavras de São Paulo: "A esperança não decepciona" (Rm 5,5). Não falamos aqui de qualquer esperança, mas da autêntica esperança, que não se apoia em ilusões, em falsas promessas, que não segue uma ilusão popular em que tudo se explica.

A esperança verdadeira, vinda de Deus, é uma atitude muito realista, que não tem medo de dar às situações seu verdadeiro nome e tem sempre Deus como fator principal. Não tem medo de rever as próprias posições e mudar o que deve ser mudado.

À medida que perdermos ilusões e incompreensões, temos o espaço real no qual pode crescer a esperança, que nada mais é do que a certeza de que tudo pode ser melhor do que aquilo que já vemos. O desejo de caminhar na direção da vida, atraídos pela sua beleza, que no momento pode somente ser sonhada, é contemplada pelo coração.


O homem pode ser resistente às palavras, forte nas argumentações, mas não sobrevive sem esperança. Ninguém vive se não espera por algo bom, que seja bem melhor do que aquilo que já conhece, já possui ou já experimentou. Deus alimenta nossa vida por meio da esperança!

23 de junho de 2017

Como fazer com que a espiritualidade se torne parte do nosso dia?

A espiritualidade precisar ser um exercício diário de fé e reconhecimento da presença de Jesus

Cultivar a espiritualidade ainda não faz parte do cotidiano de muitas pessoas. Pouco se compreende que esse exercício é um pilar determinante na sustentação da interioridade e de uma qualificada participação na vida social. Por isso, muitas dinâmicas estão comprometidas. Ilusoriamente, pensa-se – talvez por forças de secularismos, excesso de racionalizações ou imediatismos – que a espiritualidade é opcional, mais apropriada para alguns mais devotos. Na verdade, a espiritualidade é indispensável para sustentar a vida de todos em parâmetros qualificados. Assim, um permanente desafio é estar em sintonia com o que diz o salmista nas Sagradas Escrituras: "Desde a minha concepção me conduzistes, e no seio maternal me agasalhastes. Desde quando vim à luz vos fui entregue, desde o ventre de minha mãe sois o meu Deus".

A humanidade, mesmo emoldurada por diferentes manifestações confessionais e religiosas, não prioriza o hábito de cultivar a espiritualidade. As consequências são o comprometimento da vida, com equívocos nos critérios que regem discernimentos e escolhas, a prevalência da mediocridade na emissão de juízos e nas iniciativas que deveriam corresponder à dignidade própria do ser humano, na sua inteireza. A cultura da dimensão espiritual no cotidiano significa reconhecer a presença de Deus no lugar que Lhe é próprio, conforme ensina o salmista, em oração: "Porque sois, ó Senhor Deus, minha esperança, em vós confio desde a minha juventude. Sois meu apoio desde antes que eu nascesse, desde o seio maternal, o meu amparo. Vosso louvor transborda nos meus lábios, cantam eles vossa glória o dia inteiro. Não me deixeis quando chegar minha velhice, não me falteis quando faltarem minhas forças. Eu, porém, sempre em vós confiarei, sempre mais aumentarei vosso louvor".

Como-fazer-com-que-a-espiritualidade-se-torne-parte-do-nosso-diaFoto: Wesley Almeida/cancaonova.com

O exercício da espiritualidade

O lado espiritual não é apenas uma parte da existência. Trata-se de alicerce para a vida, cultivado pelo desenvolvimento da competência de se contemplar, isto é, tornar-se capaz de mergulhar no sentido mais profundo de cada ser, de cada criatura, superando superficialidades. E a oração é, por excelência, a experiência do exercício da espiritualidade. Causa empobrecimento considerar a oração como um recurso de poucos, para momentos passageiros de aflições maiores. As preces possibilitam o enraizamento de si mesmo na verdade e na fonte do amor que é Deus. Tertuliano, reconhecido escritor dos primeiros anos da era cristã, destaca a força da oração, ao comentar: "nos tempos passados, a oração livrava do fogo, das feras e da fome. Agora, a oração cristã não faz descer o orvalho sobre as chamas, ou fechar a boca de leões, nem impede o sofrimento. Mas, certamente vem em auxílio dos que suportam a dor com paciência, afasta as tentações, faz cessar as perseguições, reconforta os de ânimo abatido, enche de alegria os generosos, acalma tempestades, detém ladrões, levanta os que caíram, sustenta os que vacilam e confirma os que estão de pé".

A oração possibilita ao humano experimentar o deserto de seu próprio ser. Leva-o a reconhecer sua condição solitária e pobre, para explicitar sua dependência de Deus. O lado espiritual de cada pessoa é que lhe permite assumir e conquistar a humanidade verdadeira e integral. Na espiritualidade, cultiva-se o silêncio que faz da própria vida um ouvir determinante, gera-se a competência para o diálogo que promove a cultura do encontro e quebra, com propriedade, a rigidez da mesquinhez.  A experiência espiritual qualificada é que nos permite cultivar e aproveitar os nossos dons, edificando a unidade interior básica, que permite a inteireza moral e existencial. Quando se compromete essa unidade, a conduta pessoal sofre com reflexos negativos. E o caminho da espiritualidade, que possibilita uma condição humana qualificada, não pode ser trilhado apenas com a própria força, nem mesmo unicamente com a luz da razão. Trata-se de percurso impulsionado pelo Espírito Santo, que está presente em cada um dos que cultivam a abertura para receber seus dons.


A humanidade carrega um fardo pesado por não compreender a importância de cultivar a espiritualidade. Por isso, o cidadão contemporâneo fica moralmente enfraquecido gerando os descompassos que degradam o mundo. Assim, o investimento para transformar a realidade exige, de cada um, cultivar o lado espiritual. Eis o caminho que é fonte de soluções para os muitos problemas enfrentados pela humanidade.

21 de junho de 2017

Por que devo estudar o Catecismo da Igreja Católica?

O Catecismo da Igreja Católica é o instrumento da missão que Jesus Cristo nos deixou

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) é o texto que a Igreja Católica Apostólica Romana apresenta a seus fiéis, a fim de que conheçam a doutrina católica e, com base nesta fonte segura e fiel, possam elaborar os catecismos locais. De modo mais particular, o texto permite aos cristãos que se adentrem profundamente na riqueza da fé, para que assim possam conhecer a verdade, "e a verdade os libertará" (cf. Jo 8, 32). O CIC, desejado e sugerido pelo Sínodo dos Bispos de 1985, foi elaborado por uma comissão de doze Cardeais e Bispos em um trabalho que durou seis anos, e foi presidido pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, o qual, em 2005, se tornaria Papa Bento XVI.

A catequese representa o esforço cristão para dar cumprimento à missão que Jesus Cristo nos deixou: fazer discípulos em seu nome, transmitindo seus ensinamentos e a doutrina cristã (Mt 28,19-20). Para tanto, o CIC se apresenta como instrumento para o desempenho da missão de ensinar o povo de Deus, destinando-se, primeiramente, aos responsáveis pela catequese, que são, em primeiro lugar, os bispos, enquanto doutores da fé e pastores da Igreja; e, por meio dos bispos, aos sacerdotes e catequistas.

Por que devo estudar o catecismo da Igreja CatólicaFoto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Quais são os conteúdos do CIC?

No prólogo do Catecismo da Igreja Católica, lemos que sua finalidade é apresentar uma exposição organizada e resumida dos conteúdos essenciais e fundamentais da doutrina católica, tanto sobre a fé como sobre a moral, à luz do Concílio Vaticano II e do conjunto da Tradição da Igreja. É que o XXI Concílio Ecumênico da Igreja Católica, conhecido como Concílio Vaticano II, teve como objetivo principal a defesa e difusão da doutrina cristã. No discurso de abertura do Concílio, o Santo Papa João XXIII deixou claro que "o que mais importa ao Concílio Ecumênico é o seguinte: que o depósito sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz".

Ainda em observância ao Concílio Vaticano II, em outubro de 2002, o Papa João Paulo II convocou o Congresso Catequético Internacional para comemorar o décimo aniversário da promulgação do Catecismo da Igreja Católica, no qual foi considerada a urgência de um Catecismo breve para todos os fiéis, com a redação de uma síntese autorizada, segura e completa. Certamente, era necessário que esse texto refletisse fielmente o Catecismo da Igreja Católica, no que diz respeito aos aspectos essenciais da fé e da moral cristãs.


Desta forma, mais uma vez foi confiada ao Cardeal Joseph Ratzinger a missão de presidir os trabalhados dos quais resultaria o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. Pouco mais de dois anos depois, agora o já Papa Bento XVI apresentava o Compêndio em um discurso no qual ensinava que o texto reflete fielmente o Catecismo da Igreja Católica, que permanece tanto a fonte em que se inspira para compreender melhor o próprio Compêndio, como o modelo para o qual olha incessantemente, em vista de encontrar a exposição harmoniosa e autêntica da fé e da moral católica, e como o ponto de referência, para a elaboração dos catecismos locais.

Compreensão da doutrina cristã

Atualmente, tanto o Catecismo da Igreja Católica, que mantém sua autoridade e importância, quanto o Compêndio, no qual se encontra uma síntese fundamental de educação na fé, estão disponíveis, íntegra e gratuitamente, no site oficial da Santa Sé, no qual se reforça seu caráter de texto confiável e fiel à doutrina cristã. Devemos estar atentos para que dúvidas superficiais não enfraqueçam nossa fé. Por mais que os questionamentos em nosso coração possam soar ao longe de início, o desconhecido é um obstáculo incômodo no caminho da salvação. Não há mal em questionar. A busca pelo conhecimento, de coração aberto e humilde, aproxima-nos da verdade da fé e, esteja certo, que encontrará resposta. Cremos na Igreja de Jesus Cristo.

Referências

A BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral. 86 ed. São Paulo: Paulus. 2012.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. In textos fundamentais. Arquivo do Vaticano. Disponível em: <http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p1s1c3_142-184_po.html>

JOÃO PAULO II. Constituição Apostólica Fidei Depositum para a publicação do Catecismo da Igreja Católica redigido depois do Concílio Vaticano II. 11 out. 1992. Disponível em: < http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_constitutions/documents/hf_jp-ii_apc_19921011_fidei-depositum.html>

PAPA JOÃO XXIII. Discurso na abertura solene do ss. Concílio Vaticano II. 11 out. 1962. Disponível em: < http://w2.vatican.va/content/john-xxiii/pt/speeches/1962/documents/hf_j-xxiii_spe_19621011_opening-council.html>

JOÃO PAULO II. Carta ao prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé pela elaboração do "Compêndio do Catecismo da Igreja Católica". 2 fev. 2003. Disponível em: < http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/letters/2003/documents/hf_jp-ii_let_20030307_ratzinger.html>

PAPA BENTO XVI. Apresentação do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. 28 jun. 2005. Disponível em: < http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2005/june/documents/hf_ben-xvi_spe_20050628_compendium.html>